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Em 1604 d.C., o químico italiano Ângelo Sala, observou que a prata escurecia quando exposta ao Sol. E
em 1725 d.C. o médico alemão, Johan Heindrich Schulze concluiu que era a ação da luz e não o calor
que fazia a prata escurecer (EMANIA, 2019).
O químico Thomas Wedgwood (1771 -1805), em 1806 d.C., realizou experimentos com nitrato de prata
para copiar imagens pintadas em vidro. Seu processo só permitia reproduzir silhuetas que desapareciam
com o tempo (BUSSELLE, 1993).
No século XIX, o francês Joseph Nicéphore Niepce (1765-1833) iniciou seus experimentos para a
obtenção de imagens por meio da ação direta do sol utilizando os aletos de prata. Em 1822, abandonou
esse processo e passou a utilizar o betume da Judéia como material sensível. Após untar placas de
metal com esse componente, a expôs a ação da luz do sol por oito horas, dentro de uma câmera escura.
Quatro anos depois, Niepce realizou a primeira fotografia permanente, batizando-a de heliografia, em que
hélio corresponde ao sol e grafia diz respeito à escrita (BUSSELLE, 1993).
1829 d.C., Louis-Jacques Mandé Daguerre. (1757-1851), propôs uma parceria a Niepce para o
desenvolvimento da heliografia. A parceria durou até 1833, ano da morte de Niepce. Após adquirir
muitos conhecimentos com a parceria, Daguerre seguiu seu próprio caminho e passou a utilizar sais de
prata no lugar do betume para revela-lo com vapor de mercúrio, fixando-o com água salgada. Essa busca
levou 10 anos e resultou na diminuição do tempo inicial de 8 horas de exposição para 30 minutos
(BUSSELLE, 1993).
Daguerre, em 1839, patenteia seu invento e começa a comercializar sua invenção, expondo-a em seu
Diorama em Paris, batizando-a de Daguerreótipo. No mesmo ano, vendeu a patente ao governo francês e
publicou um folheto, de 79 páginas, intitulado “Histoire et description du procédé nommé le
daguerréotype”. Em pouco tempo, a invenção estava disseminada por toda a Europa e Américas
(VASQUEZ, 2002).
VOCÊ SABIA?
Em 1833, um francês, radicado no Brasil na cidade Campinas-SP, já produzia e
comercializava imagens fotográficas. Ele era
Antoine Hercule Romuald Florence (1804 -1879). Contudo, ele não registrou a
sua patente e abandonou sua invenção ao saber que outro francês, Daguerre,
havia anunciado a descoberta do processo fotográfico. Foi Florence que
cunhou em 1834 o termo “fotografia” que só viria a ser utilizado anos depois de
sua morte.
Ainda no século XIX, o químico inglês Willian Fox Talbot (1800-1877), desenvolve um processo em duas
etapas para a obtenção de imagens. O processo de Talbot consistia em banhar uma folha de papel em
uma solução de cloreto de prata, expô-la a luz do sol através da câmera escura e, revela-la em uma
solução de cloreto de sódio, fixando a imagem. Ao final do processo, o físico inglês percebeu que tinha
em suas mãos uma imagem invertida que denominou “negativo”. Como o papel era transparente, Talbot
o posicionou sobre outro papel também sensibilizado com cloreto de prata, e expos novamente a luz.
Com isso, obteve a primeira fotografia pelo processo negativo-positivo. Em 1841, o químico obtém a
patente de sua invenção e a batiza de Talbótipo. Em 1844 publica livro “The pencil of nature”, contendo
fotografias, e o relato de sua descoberta (BUSSELLE, 1993).
Frederick Scott Archer (1813 -1857), um escultor inglês, contribui para a história da fotografia, quando
desenvolve o processo “emulsão de colódio úmido”, em 1849. Essa nova tecnologia consistia em
preparar uma placa de vidro com piroxilina diluída em éter e álcool, adicionando iodeto e brometo.
Instantes antes de se fotografar, a placa era banhada em prata e exposta a luz do sol. Imediatamente
após a exposição era preciso revelar. Esse processo veio a substituir os processos utilizados nos
daguerreótipos.
Outra invenção importante no século XIX, foi a introdução das placas secas inventadas, por Richard
Leach Maddox (1816 -1902). Além disso, George Eastman (1854-1932) criou a empresa Kodak, lançando
máquinas fotográficas de baixo custo e fácil operação. Seu slogan era: “você pressiona o botão, nós
fazemos o resto”.
A estratégia de vendas era fornecer uma câmera fotográfica já carregada com um filme para 100 poses,
por um baixo preço de aquisição. Após fotografar, a câmera deveria ser enviada para a sede da Kodak na
qual o filme era revelado e as fotografias impressas e todo o conjunto: máquina; novo filme; fotografias
impressas, eram devolvidas a um preço muito maior que o valor de aquisição da primeira máquina.
Figura 2 - Kodak Brownie foi lançada em 1900 e foi um marco na simplificação do processo fotográfico
Fonte: Universal History, Shutterstock, 2020.
Já no século XX, houve um marco importante para a indústria fotografia, houve a introdução da
fotografia colorida no mercado com o processo autocromo. Esse processo dominaria o mercado até
meados da década de 1930. Além de que lançaram o filme colorido “pancromático” em formato de
35mm para a indústria cinematográfica.
Em 1942, a Kodak lança o filme Kodacolor que se tornaria a referência no mercado. E 30 anos depois, a
empresa apresenta ao mercado o primeiro Charge-Coupled Device (CCD) que, em português, significa
“dispositivo de carga acoplada”. Esse novo dispositivo produzia imagens com 100x100 pixels
(TECMUNDO, 2013).
Finalmente, no século XXI, foi comercializado o primeiro telefone com câmera fotográfica, o modelo era
o J-SH04, da Sharp. E a partir disso o ramo da fotografia cresceu em uma velocidade absurda e se
popularizou rapidamente.
Com o passar dos anos, a fotografia de paisagem libertou-se do literal e passou a incorporar novas
formas de composição e significação, adicionando volumes e texturas em sua linguagem. Dentro deste
gênero podem-se agrupar os subgêneros: fotografia de viagem; : fotografia de arquitetura; e fotografia de
natureza.
Vejamos, a seguir, as categorias propostas por Ang (2010).
A fotografia de viagem é muito mais que uma selfie, trata-se de um registro da realidade social, das
alterações do meio ambiente e dos lugares visitados. Muito do que sabemos sobre o passado da
humanidade é fruto de fotografias tomadas por viajantes anônimos que deixaram suas observações,
sobre os lugares que visitaram, registradas em imagens fotográficas.
Dentro do seguimento fotojornalismo, Sousa (2004), classifica da fotografia de notícia em: spot news,
notícias em geral, esportes, retrato. Vejamos a definição de cada uma delas, a seguir.
• Spot news (fotografia de notícias): fotografias tomadas de forma
espontânea, únicas, feitas no momento da ação, onde os
personagens são retratados sem poses pré-definidas ou
ensaiadas.
• Notícias em geral: seguem uma pauta pré-definida, dando ao
fotojornalista a possibilidade de pensar a fotografia previamente.
Tipicamente estão relacionadas a coberturas agendadas como
coletivas de imprensa, conferências e desfiles.
• Esportes: busca a ação, o momento impactante que mais
simboliza a prática esportiva. Ex.: no futebol, o gol, no tênis, o
saque.
• Retrato: tem por objetivo identificar as pessoas/grupos objeto da
notícia. A imagem de retrato pode ser posada ou não, individual
ou em grupo, contudo, necessita que a pessoa/grupo possa ser
identificada na imagem.
• Contudo, preferimos uma classificação mais abrangente que
subdivide a fotografia de notícia em: informativa; ilustrativa;
ensaio/fotorreportagem. Vejamos, a seguir.
• Informativa: apresenta o fato da melhor forma possível,
procurando responder as perguntas: quem fez? O que fez? Como
fez? Onde fez? Isso permite ao leitor formar uma ideia mais ampla
sobre o acontecimento de forma rápida e intuitiva. Quanto maior a
carga de informação na fotografia, menos ela dependerá do texto
que lhe acompanha para gerar sentido. Nesta categoria se
enquadram as spot news e esportes.
• Ilustrativa: baixa carga informativa, necessitando do texto para
dar-lhe sentido. Serve muito mais como testemunho da presença
do fotojornalista ao evento. Dentro desta categoria se encaixa o
retrato e notícias em geral.
• Ensaio/fotorreportagem: o ensaio fotográfico, na sua
modalidade jornalística, está relacionado a grandes reportagens,
onde o fotojornalista tem tempo para realizar uma sequência de
imagens de forma a compor uma história dentro da reportagem.
Em muitos casos é apresentada como livros, sessões ou edições
inteiras de uma revista. As revistas National Geografic, Life, O
Cruzeiro e Manchete, foram expoentes deste gênero fotográfico.
A fotografia de notícias deve cumprir o seu principal papel que é de informar, de trazer aos olhos dos
leitores a realidade dos fatos presenciada pelo fotojornalista presente ao evento. Sua credibilidade está
baseada na confiança da presença do fotojornalista no local dos acontecimentos e que estamos vendo
apenas o que o fotojornalista presenciou, sem inclusões ou exclusões posteriores. Portanto, a fotografia
jornalística, por princípio, deve ser o “retrato” fiel da cena, um testemunho pessoal do fotojornalista sobre
a realidade dos fatos.
A fotografia documental tem como proposta narrar uma história por meio de uma sequência de
imagens. Com sua especificidade centrada na aliança do registro documental com a estética,
ela assume a função de fazer a mediação entre o homem e o seu entorno. É, portanto,
problematizadora da realidade social, e ao mesmo tempo, reivindicadora de um modo próprio de
expressão.
VOCÊ O CONHECE?
Araquém Alcântara (1951), jornalista e fotógrafo, trabalhou como repórter nos
jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. Especializou-se em fotografia de
natureza, tornando-se fotodocumentarista. Foi o primeiro fotógrafo brasileiro a
desenvolver uma sistemática de documentação dos Parques Nacionais de
Proteção Ambiental. Seu trabalho é reconhecido internacionalmente, sendo exposto
nas principais galerias das Américas e Europa. Para saber mais:
https://araquemalcantara.com/ (https://araquemalcantara.com/).
O fotodocumentarista não só tem consciência de sua intencionalidade como se prepara para a captação
das imagens, sua organização e utilização. Está preocupado com a objetividade, a verdade e a
credibilidade. Caracteriza-se por ser um projeto de longa duração, de forma a registar a continuidade de
um determinado evento social e não somente um instante deslocado de seu contexto.
O resultado desse processo é um conjunto de imagens que assume a condição de um relato social
contundente e, em certa medida, poético. Na fotografia documental “[...] temas sociais, impressões
sobre o mundo, vida cotidiana, cenas de guerra, registros de viagens, os mais diferentes tipos de
fotografias podem ser classificados como documentais” (LOMBARD, 2008, p. 42). Como nos outros
gêneros já estudados, a fotografia também divide-se em três subgêneros, conforme Lombard (2008).
A liberdade de expressão e produção do ensaio fotográfico, é um dos fatores que mais atraem
fotógrafos ao longo do tempo. Este gênero o tem ampla utilização no jornalismo, na publicidade e na
fotografia social/comercial. No campo da fotografia social-comercial, os ensaios de newborn (recém-
nascido), pets (animais de estimação) e casamentos estão em alta. Para a execução de um bom ensaio
fotográfico é necessário seguir alguns procedimentos mínimos tais como: pesquisa sobre o tema,
linguagem, iluminação, locações, formato, roteiro e pós-produção.
As dicas anteriores são boas para os profissionais da fotografia para desenvolver um trabalho
diferenciado, com uma base teórica, que auxilia no processo misturando teoria e prática.
Diante de uma imagem, o observador irá extrair os elementos comunicacionais que lhe interessa,
deixando em segundo plano as demais informações. Desse modo,
[...] a imagem, pela especificidade de sua linguagem, é mais flexível do que o texto, no sentido de
acomodar, em sua estrutura narrativa, múltiplos significados, sendo, portanto, um elemento
essencial para que se possa analisar como estes significados são construídos, incutidos, e
veiculados pelo meio social. (NOVAES, 2005, p. 117)
A educação do olhar fotográfico permite ao produtor da imagem elaborar mensagens mais adequadas à
proposta comunicacional.
CASO
Aristides Pedro da Silva (1921-2013), mais conhecido como V8, nascido na
periferia de Campinas, em São Paulo, em 1921, tinha o desejo de se tornar pintor.
Contudo, as condições sociais e financeiras não permitiram a realização de seu
desejo. Faltavam-lhe os recursos para comprar pinceis e tintas.
Aos sete anos de idade, mudou-se com a família para a Hotel Fazenda Fonte
Sônia-Campinas, onde trabalharam como colonos. Nesse período, um pintor
francês que estava hospedado no local o contratou como carregador dos
apetrechos de pintura. Com ele aprendeu e desenvolveu seu olhar para a pintura.
Ao final da estadia, o casal francês se dispôs a adotá-lo, contudo sua família não
permitiu. Aristides e sua família permaneceram como colonos na fazenda até o
ano de 1937. Mudou-se para uma casa no centro da cidade de Campinas, montou
uma lavanderia e, no tempo livre, exercitava a fotografia, cobrindo partidas de
futebol amador. Nessa época, conheceu o fotógrafo Mario de Oliveira que o
ensinou as artes fotográficas.
De posse desse novo conhecimento, fechou a lavanderia e abriu um estúdio
fotográfico em 1952. Iniciou com fotos 3x4, passando para fotografia de
casamentos e posteriormente eventos. Com o decorrer dos anos, V8 tornou-se
referência em sua profissão em Campinas e um dos maiores colecionadores de
imagens da cidade. O fruto de seu trabalho, um acervo com mais de 4.500
fotografias, foi adquirido pelo Centro de Memória da Unicamp em 2001 e está a
disposição de pesquisadores e entusiastas da fotografia (FANTINATTI, 2008).
Devemos lembrar que as imagens, tais como os textos, são artefatos culturais e seguem uma estrutura
discursiva normatizada por regras rígidas, não se pode dizer tudo, de qualquer forma. Como uma
criança, aprendemos a falar observando o mundo a nossa volta, aprendendo os sons antes de formar
uma palavra, posteriormente, dar-lhe sentido dentro de uma frase. Para poder dizer algo, antes
precisamos aprender a falar.
VAMOS PRATICAR?
Convido-o a visitar suas redes sociais e observar as imagens que l
expostas, indagando: que mundo é mostrado nestas fotos? O que essa
pensa? O que ela faz? Onde esteve? Oque ela veste? O que ela co
principalmente, o que está ausente nessas imagens? Qual aspecto da re
social não está contemplado neste conjunto de imagens? O que não
Após realizar esse exercício, ponha-se a descrever “que pessoa
retratada pelas imagens”? Quais são suas preferências e hábitos de co
Esses questionamentos, antes de serem aleatórios e circunscritos à fo
das mídias sociais, são perguntas realizadas por historiadores, antrop
sociólogos quando se debruçam sobre as pinturas nas paredes das ca
pirâmides, templos antigos, ou álbuns de família do século XVIII. P
fotografia transcende o seu momento de produção, alcança os
interpretações que ela pode assumir na história.
Conclusão
Concluímos a unidade introdutória relativa à disciplina Fotografia. Agora, você já sabe a origem do
processo fotográfico, seus principais gêneros e subgêneros, conhece sua linguagem e forma de pensar
a imagem na sociedade.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
Bibliografia
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BUSSELLE, M. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Pioneira, 1997.
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