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Fundamentos da Fotografia

Aula 1: A invenção da fotografia

Apresentação
Desde os primórdios da civilização, o homem registra o mundo à sua volta, com, por exemplo, a arte rupestre, depois com
a pintura, o desenho e a escultura.

Com o objetivo de registrar mais rapidamente o que via, muitos empregaram tempo em pesquisas para formação e
fixação da imagem, com a utilização da câmara escura, já utilizada por pintores como auxílio nos esboços de suas artes.

O século XIX foi marcado por avanços na área e o surgimento da fotografia em 1839. Nesta aula, conheceremos os
precursores e seus inventos que tornaram possível a captura de imagem através da câmara escura, em uma superfície
sensível à luz.

Objetivos
Identificar os precursores do processo de visualização de imagens na câmara escura;

Reconhecer os primeiros pesquisadores e criadores dos processos de captura e fixação da imagem em superfície
fotossensível.

Um pouco de História

Você já deve ter ouvido falar em arte rupestre.

São pinturas do período pré- histórico encontradas em


cavernas.

As mais famosas estão em: Altamira, na Espanha; Lascaux,


na França e no Parque Nacional da Serra da Capivara, no
Brasil.

Essas imagens mostram a necessidade do homem registrar


o mundo ao redor. Com a fotografia não foi diferente.

A câmara fotográfica é um aperfeiçoamento da câmara escura da Antiguidade, usada por Aristóteles para observar eclipses.
No período Renascentista, século XIV, foi aperfeiçoada por Leonardo Da Vinci em seus esboços de pintura.

A câmara era uma caixa vedada, apenas com um orifício em uma das extremidades, que projetava a imagem invertida em sua
parede oposta (processo semelhante ao da visão humana). Quanto menor o orifício, mais nitidez na formação da imagem.

Câmara escura

Partindo desse ponto, muitos tentaram fixar diretamente a imagem em alguma superfície.

Se os pintores usavam a imagem, que era formada dentro da caixa, como esboço para ser pintada posteriormente, o desafio
era fixá-la diretamente em uma superfície, com a ação da luz.

No século XVII, as caixas já possuíam um sistema ótico, que ajudava na qualidade da imagem.

Quando essa caixa era colocada em um ambiente, a luz que atravessava o orifício refletia, de forma invertida (cabeça para
baixo), a imagem na parede oposta que servia de molde para o pintor. Esse é o mesmo princípio usado nas câmaras
fotográficas nos dias atuais.

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A descoberta da fotografia

Um dos primeiros a conseguir a fixação da imagem pela


ação da luz em uma superfície fotossensível foi o francês
Joseph Nicéphore Niépce, em 1826.

É atribuída a ele a primeira fotografia feita no mundo, que


mostra a vista da janela de seu ateliê. Essa imagem levou
oito horas para ser fixada em uma placa de estanho, coberta
de betume da Judeia.

Paralelamente a ele, outros homens no mundo tentavam


reproduzir as mesmas experiências, como o francês Louis
Jacques Mandé Daguerre, bem como Fox Talbot, Frederick
Scott Archer e Hércules Florence.

Daguerre e Niépce começaram a trocar correspondências e


informações sobre o processo de fixação de imagens em
placa de metal sensibilizada com produtos químicos.

Primeira fotografia feita no mundo
Com a morte de Niépce, em 1833, Daguerre
continuou a pesquisa, chegando, em 1837, a
resultados muito melhores em termos de
qualidade de imagem e tempo de exposição
(reduzido de 8 horas para 20 minutos).

Como havia outros inventores fazendo


pesquisas sobre esse tipo de processamento,
Daguerre expôs sua descoberta à Academia
de Ciências e Belas Artes da França e vendeu
ao governo a invenção da fotografia, em troca
de uma pensão vitalícia. Em 19 de agosto de
1839, na França, a descoberta foi anunciada.

Desse modo, surgiu o daguerreótipo, nome


dado à câmara e à placa de cobre
sensibilizada com prata e fixada com vapor
de mercúrio.

Esse processo levou cerca de 20 minutos


para fixar a imagem, tempo muito menor do
que no início das pesquisas de Niépce.

Saiba mais

Leia os textos sobre:

O Dia mundial da fotografia.


Daguerreótipo.

A fotografia fez sucesso, mas havia um problema: a imagem era única, não havia a possibilidade de cópias.

Para realizá-las, era necessário Fox Talbot, na Inglaterra, inventou Em 1851, Frederick Scott Archer
que a pessoa ficasse sentada em o calótipo, em 1841. Era uma demonstrou na Grã-Bretanha o
uma cadeira especial, imóvel, base de papel emulsionada com colódio úmido, conhecido como
quantas vezes fosse o número de sais de prata, que registrava uma negativo de vidro, cujo processo
imagens desejadas, por um matriz em negativo, a partir da era 20 vezes mais rápido do que
período de 20 minutos para cada qual era possível fazer cópias os anteriores, e os negativos
foto. Com o desenvolvimento das positivas. tinham uma qualidade de
pesquisas, logo a possibilidade imagem semelhantes a do
de cópias surgiu. daguerreótipo, mas com a
vantagem de se fazer cópias.

Passou-se, então, da cópia única em uma placa de metal, depois ao papel emulsionado e ao negativo de vidro, tornando
possível a reprodução das imagens.


A fotografia no Brasil

Em nosso país, assim como na Europa, desde 1830 havia pesquisas para tentar fixar a imagem em papel com

 produtos químicos. É o caso de Hércules Florence, francês radicado no Brasil que fazia pesquisas pioneiras na Vila
São Carlos (hoje Campinas/SP), com o processo fotográfico.

Em seus experimentos, ele chegou a um tipo de impressão que denominou de poligrafia, processo semelhante ao
do mimeógrafo. Ele estudava o efeito da luz na pintura e ocupava-se com a construção de uma câmara escura,
 com a qual conseguiu fixar algumas imagens.

 No orifício de abertura, a câmara escura tinha a lente de seus óculos, e, no interior, colocou acoplados um espelho e
um pedaço de papel com solução de nitrato de prata (MAGALHÃES, 2004).

 Florence registrou com sua câmara escura a cadeia de Campinas, o telhado da casa vizinha à sua e uma parte do
céu. Essas imagens foram preservadas durante 15 anos, mas nunca foram localizadas.

Em suas constantes experiências, o francês usou substâncias como a própria urina (pois a dificuldade de acesso

 aos produtos era bem difícil no Brasil naquela época) e amônia para o processamento de imagens, para dissolução
do cloreto de prata não atingido pela luz na exposição. Essas pesquisas o fizeram experimentar a impressão direta
pela ação da luz solar, deixando um pouco de lado a câmara escura.

Hércules chegou a resultados bem expressivos em 1833, ano que marcou a descoberta da fotografia no Brasil, quando houve a
divulgação de sua pesquisa pelo Instituto de Tecnologia de Rochester (EUA).

Florence foi um homem bem à frente de seu tempo. Em 1834, cinco anos antes do inglês John Herschel, já utilizava o termo
fotografia em suas pesquisas de fixação da imagem pela luz.

Insatisfeito com a qualidade das cópias e sabendo do anúncio e reconhecimento da descoberta de Daguerre, na França,
Florence interrompeu seus experimentos, deixando registrado em seus manuscritos a seguinte observação:

"A bela descoberta de Daguerre não me surpreendeu: eu a tinha previsto aqui neste
deserto, oito anos antes."
- (KOSSOY, 2006)

Hércules Florence só viria a ser reconhecido em 1976, quando o historiador e fotógrafo Boris Kossoy apresentou ao Instituto de
Tecnologia de Rochester (EUA) anotações de suas experiências e os rótulos de farmácia produzidos com a técnica utilizada em
papéis fotossensíveis.

Com a realização de testes, ficou definitivamente comprovado o pioneirismo de Hércules Florence, no Brasil, como inventor da
fotografia.

Saiba mais

Leia o texto O francês Hercule Florence (1804 – 1877), inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo.

Dom Pedro II, futuro rei, sempre foi um apaixonado pela


fotografia, desde que viu a primeira, em daguerreótipo do
Brasil, feita no Largo do Paço Imperial, atual Praça XV, no Rio
de Janeiro. Adquiriu seu primeiro equipamento em 1840, e,
dois anos depois, aprendeu a utilizá-lo, tornando-se o
fotógrafo mais novo da América, aos 14 anos de idade.

Dom Pedro II, ao longo da vida, tornou-se um defensor da


fotografia e o maior colecionador particular de fotografias
do Brasil. Gostava de retratar pessoas e paisagens.

Seu pioneirismo inspirou historiadores, como Gilberto


Ferrez, que assinaram os primeiros capítulos da história da
fotografia em nosso país. Desde então, o tema ganhou o
Brasil, e surgiram muitos fotoclubes, escolas de fotografia,
associações, além de milhares de fotógrafos, entre
profissionais e amadores, que não perdem a oportunidade
de realizar um belo clique.

D. Pedro II

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A popularização da fotografia: o pioneirismo da Kodak
A fotografia despontou mesmo no mundo com a Kodak. Em 1888, a empresa lançou uma câmara portátil de película (o filme
de negativo, pois os outros modelos eram grandes e pesados, além das placas de metal ou vidro, que deveriam ser levadas
para fazer as fotos), capaz de produzir 100 imagens, com o slogan: “Aperte o botão que nós fazemos o resto!”.

Bastava comprar a câmara com filme para 100 imagens nas lojas de George Eastman, fotografar, e depois dos cliques, levar a
máquina de volta à loja para pegar suas fotos e a câmara com um novo rolo de filme com outras 100 fotos prontas para clicar.
Foi o boom da fotografia no mundo.

A era digital
Hoje não utilizamos mais daguerreótipo (placa de metal), calótipo (papel), colódio úmido (placa de vidro), filmes (película), mas
um chip (sensor).

Nossas câmaras, por meio de pulsos elétricos, formam a imagem e a armazenam, e, dependendo da capacidade do cartão de
memória, fazem mais de mil imagens. Essas fotografias ainda podem ser enviadas em minutos através da internet.

A revolução digital veio aumentar, e muito, a popularidade da


fotografia e fez crescer, também, o número de fotos
produzidas individualmente, já que antes o filme ficava
limitado ao número de chapas por rolo. Aumentar o número
de fotos acarretaria em custos mais altos com filmes e
revelação, e esse problema foi resolvido com a tecnologia.

A fotografia evoluiu muito desde sua invenção. Não duvide


que novas coisas possam surgir ainda. A cada dia aparece
uma nova câmara no mercado. A fotografia digital ainda não
atingiu a perfeição da imagem como a película, apesar de
ser muito boa.

O mais interessante de tudo é que a fotografia tornou-se


popular, hoje em dia todo mundo tem uma câmara, a mais
popular é a do celular. Repare bem: onde quer que você
esteja, há alguém fazendo um registro fotográfico do
momento. É como diz o ditado — uma imagem vale mais
que mil palavras!

Dica

Mobigrafia é o termo utilizado para quem fotografa com celular.


A era digital mudou toda a história fotográfica, agilizando processos de captura sem necessidade da troca de filmes e
eliminando etapas, como da revelação de negativos, e fazendo surgir outros recursos como a visualização da imagem na hora,
armazenamento das fotos em HDs externos, no sistema de nuvem, na memória do celular e principalmente nas redes sociais.

O envio de fotografias para várias pessoas ao mesmo tempo sem a necessidade de várias cópias, fez
aumentar a produção de fotografias.

Entretanto, o processo digital não é algo novo. O desenvolvimento das câmaras digitais tem sua origem nas pesquisas militares
durante a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos. As comunicações digitalizadas por meio de mensagens
criptografadas foram testadas e utilizadas como tática de guerra.

Década de 1960
A evolução da tecnologia fotográfica digital foi responsabilidade do programa espacial americano.

Em 1965, a sonda Mariner 4 fez as primeiras imagens digitais captadas sem filme que registravam a superfície de Marte.

Foram criados os primeiros sensores digitais CMOS (Complementary Metal-Oxide Semi-conductor) e o CCD (Charge
Coupled Device).

Década de 1970
O CCD teve sua primeira versão comercial, capturando imagens com 0,01 megapixel.

Saiba mais

Leia o texto Qual a diferença entre CMOS e CCD?

O primeiro protótipo de câmara digital foi criado pela Kodak


(mais uma vez pioneira na história), em 1975.

Pesava 4kg e gravava imagens em uma fita cassete.

Saiba mais

Leia o texto A primeira câmera digital do mundo.

Em 1981, a Sony causou uma grande revolução ao colocar no mercado de consumo a primeira câmara digital, a Mavica, que
capturava imagens de 0,3 megapixels e custava em torno de 12 mil dólares. Armazenava 50 fotos nos Mavipaks, que eram
disquetes de 2 polegadas.

Saiba mais

Leia o texto Máquina do tempo: Sony Mavica.

A primeira cobertura fotográfica com imagens digitais aconteceu durante as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. A Canon
utilizou um protótipo de câmara de vídeo estático e fez parceria com o jornal japonês Yomiuri Shimbun, que transmitia as
imagens de fotos de 0,4 MP, via telefone, para o Japão. As imagens levavam meia hora para chegar, dando uma enorme
vantagem na cobertura dos Jogos sobre os outros jornais, que dependiam de aviões para levar os filmes.

Saiba mais

Leia o texto A Olimpíada das câmeras-robô.

A partir de então, a fotografia digital começou a ser


desenvolvida rapidamente e os primeiros modelos
populares chegaram ao mercado em 1990, e não pararam
até hoje. A cada ano, novos modelos são lançados no
mercado.

Com certeza, muitas novidades ainda surgirão no mercado


digital.
Atenção! Aqui existe uma
videoaula, acesso pelo conteúdo online


Atividade
1) A câmara fotográfica tem seu princípio básico de formação da imagem baseado na:

a) Escultura
b) Câmara escura
c) A tela de pintura
d) Arte rupestre
e) Nenhuma das respostas acima

2) Qual o nome dado à primeira câmara fotográfica, anunciada pela Academia de Ciência Francesa, em 1839?

a) Daguerreótipo
b) Filme Cromo
c) Sensor CCD
d) Negativo de vidro
e) Nenhuma das respostas acima

3) O Brasil tem dois personagens importantes na história da fotografia. Um reconhecido em 1976, por invenção do processo, e
o outro por incentivar e divulgar essa arte em nosso país. Quem são eles?

a) Dom João VI e Aristóteles


b) Dom Pedro II e Niépce
c) Hércules Florence e Dom Pedro II
d) Hércules Florence e Daguerre
e) Dom João VI e Dom Pedro II

4) Em todo o processo de invenção e aperfeiçoamento da fotografia, vários suportes foram utilizados para formação da
imagem, até os dias atuais. Quais são eles, em ordem cronológica?

a) Sensor, vidro, filme, madeira e película


b) Placa de metal, vidro, papel, madeira e sensor
c) Placa de metal, papel, vidro, película e sensor
d) Vidro, placa de metal, sensor, papel e vidro
e) Nenhuma das respostas acima

5) Que benefícios a era digital trouxe para fotografia?

6) Quando e onde foi realizada a primeira cobertura fotográfica digital da história?

a) Copa do Mundo Japão e Coreia do Sul, 2002


b) Casamento Príncipe Charles e Daiana, 1981
c) Jogos Olímpicos de Los Angeles, 1984
d) Copa do Mundo no México, 1970
e) Jogos Olímpicos Rio 2016

Referências
Notas

ANG, Tom. Fotografia Digital Master Class. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010.

HEDGECOE, John. O novo manual da fotografia: Guia completo para todos os formatos. São Paulo: Senac, 2005.

KOSSOY, Boris. Hércules Florence: a descoberta isolada da fotografia no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2006.

MAGALHÃES, Angela; PEREGRINO, Nadja. Fotografia no Brasil: um olhar das origens ao contemporâneo. Rio de Janeiro:
Funarte, 2004.
Próxima aula

Tipos e modelos de câmaras;

Megapixel, tipos de arquivos e sensores digitais;

Câmaras mais indicadas para cada tipo de trabalho fotográfico.

Explore mais

Assista ao vídeo A história da Kodak.

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