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Hélio em grego significa Sol. Heliografia, portanto, é a escrita com o sol.
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História da Fotografia
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importante para o processo fotográfico. Mas Niépce não foi o único. Há um grande número de
relatos de experiências similares e simultâneas em diversos países.
Em Paris, Louis-Jacques-Mandé Daguerre (1787 - 1851) se torna conhecido com sua invenção,
o “diorama” - painéis translúcidos, pintados por intermédio da câmera escura, que produziam
efeitos visuais (fusão, tridimensionalidade) mediante iluminação controlada por trás deles.
Quando tomam conhecimento um do outro Niépce e Daguerre passam a manter
correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmam acordo para compartilhar seus
conhecimentos secretos e aperfeiçoar a heliografia, mas a sociedade não funciona.
Após a morte de Niépce, Daguerre descobre que uma imagem latente (quase invisível), que
podia ser revelada com o vapor de mercúrio, reduzindo o tempo de exposição para 10 a 20
minutos.
Em 19 de agosto de 1839, Daguerre apresenta na Academia de Ciências e Belas Artes de Paris
seu processo, chamado de daguerreotipia. O governo francês compra o processo e o doa ao
mundo, com restrição de uso na Inglaterra. Marca oficialmente o início do processo
fotográfico, porém não é o primeiro nem o único.
Em 1932 o francês Hércules Florence, radicado no Brasil, já imprimia diplomas maçônicos e
rótulos de farmácia expondo-os ao sol em contato com papéis sensibilizados com cloreto de
ouro, processo que batizou de Photographie.
Na Inglaterra, Willian Henry Fox-Talbot usava a câmera escura para desenhos em viagens. Com
o daguerreótipo proibido em seu país busca impressionar quimicamente o papel. Obtém uma
imagem negativa, fixada em sal de cozinha e submetida a contato com outro papel sensível.
Assim a cópia apresentava-se positiva sem inversão lateral.
As imagens de Talbot eram pequenas (2,50cm²) e sem detalhes se comparadas com a
heliografia de Niépce (25x55cm), obtida nove anos antes. A lentidão, o pequeno tamanho e a
falta de detalhes não atraem o público que prefere o daguerreótipo. Mas sua invenção é de
grande importância, por inaugurar o processo negativo/positivo, que permite a realização de
cópias idênticas, impossíveis no daguerreótipo.
A falta de detalhes deve-se à falta de transparência do papel, utilizado porque não era ainda
possível “grudar” a substância fotossensível a uma superfície com mais transparência, o vidro.
Em 1847 Abel Niépce da Saint-Victor (primo de Nicéphore Niépce), descobre que a clara de
ovo, ou albumina, era adequada para fazer o material fotossensível aderir ao vidro. O método
proporciona grande precisão de detalhes, mas com exposição de cerca de 15 minutos. As
placas podiam ser guardadas durante 15 dias.Em 1848 o inglês Frederick Scott Archer (1813-
1857) inventa o processo de colódio úmido, difundido a partir de 1851. O colódio (éter e álcool
numa solução de nitrato de celulose) é a substância ligante que faz o nitrato de prata
fotossensível aderir à chapa de vidro, gerando a base de um negativo. A exposição deve ser
realizada com o negativo ainda úmido que é revelado imediatamente. O processo dominou a
segunda metade do século XIX, produzindo negativos bem mais nítidos e com maior gradação
tonal do que os negativos de papel.
Em 1871 surgem as placas secas criadas por Richard Leach Maddox (1816-1902), de manuseio
muito mais fácil. A partir da década de 1880 as placas secas substituem definitivamente o
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colódio úmido. O novo processo permite que o fotógrafo compre as placas prontas e impõe a
necessidade do obturador, já que a velocidade da emulsão deste processo permite exposições
curtas, de 1/25 seg.
Assim, chega ao fim o processo artesanal e a fotografia entra na era industrial, que será
definitiva a partir da invenção da câmera Kodak, que veremos.
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Como foi visto, a pobreza de detalhes das fotografias de Talbot devia-se à falta de
transparência do papel, utilizado porque não era ainda possível “grudar” a substância
fotossensível a uma superfície com mais transparência, o vidro.
Em 1847 Abel Niépce de Saint-Victor (primo de Nicéphore Niépce), descobriu que a clara de
ovo, ou albumina, era adequada para fazer o material fotossensível aderir ao vidro. O método
proporcionava grande precisão de detalhes, mas com exposição de cerca de 15 minutos. As
placas podiam ser guardadas durante 15 dias.
Em 1848 o inglês Frederick Scott Archer (1813-1857) inventou o processo de colódio úmido,
difundido a partir de 1851. O colódio (éter e álcool numa solução de nitrato de celulose) é a
substância ligante que faz o nitrato de prata fotossensível aderir à chapa de vidro, gerando a
base de um negativo. A exposição deve ser realizada com o negativo ainda úmido que é
revelado imediatamente. O processo dominou a segunda metade do século XIX, produzindo
negativos bem mais nítidos e com maior gradação tonal do que os negativos de papel.
Em 1871 surgiram as placas secas criadas por Richard Leach Maddox (1816-1902), de manuseio
muito mais fácil. A partir da década de 1880 as placas secas substituíram definitivamente o
colódio úmido. O novo processo permitia que o fotógrafo comprasse as placas prontas e impôs
a necessidade do obturador, já que a velocidade da emulsão deste processo permitia
exposições curtas, de 1/25 seg.
A fotografia entrava na era industrial.
Em 1877, o americano George Eastman lançou no mercado a película emulsionada em rolo,
fina e transparente, feita com nitrato de celulose, com capacidade para 100 fotografias.
Em 1888, fundou a empresa Kodak e lançou também uma câmera portátil, a Kodak nº 1. Ao
terminar o filme ele era mandado para a fábrica onde era revelado e copiado. O cliente recebia
de volta a câmera carregada com um novo filme e as 100 fotografias montadas em papel-
cartão.
A fotografia, que era exclusividade dos profissionais, foi popularizada. A invenção de Eastmam
mudou totalmente a forma de se praticar fotografia, o público que dela fazia uso e a
desfrutava.
Com a Kodak número 1 surgiu também a fotografia amadora. As famílias podiam fazer seus
próprios retratos, o fluxo de imagens e a sua circulação se transformou. O cidadão comum
podia criar sua própria narrativa visual do mundo. A prática da fotografia amadora no âmbito
familiar possibilitou transformações no regime de visualidade.
No campo profissional também aconteceram importantes transformações na década de 1880.
Em 1882 Georg Meisenbach patenteou a autotipia, processo em que a figura é reproduzida
através de uma retícula ou malha de vidro, fragmentada em pontos de vários tamanhos, de
acordo com as diversas tonalidades da imagem. Grava-se então o clichê, composto de pontos
em alto relevo, correspondentes às áreas escuras da imagem. A técnica permite a publicação
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na mesma página de texto e fotografia, ou seja, a montagem dos clichês juntamente com os
blocos de texto, provocando uma verdadeira revolução na imprensa.
Antes a foto tinha que ser publicada separada do texto ou reproduzida por meio de gravura em
pedra (litogravura) ou em madeira (xilogravura). O gravador podia interferir modificando a
foto.
O processo é conhecido como meio-tom ou halftone.
Como na fotografia, diversos foram os prováveis inventores do processo. Alguns dos nomes
relacionados ao invento são Carl Carleman e Frederic Eugene Ives. Mais importante do que
saber quem inventou a técnica é perceber a década de 1880 como momento singular de
esforços no sentido de transpor a fotografia para a página impressa juntamente com o texto.
Quatro décadas depois do anúncio da invenção da fotografia foi finalmente possível reproduzi-
la de forma direta na imprensa.
Para parte dos historiadores da fotografia a primeira foto publicada por autotipia que se tem
notícia é “Shantytown, o bairro de lata”, em 4 de março de 1880 no Daily Graphic de Nova
Iorque. Outros situam a publicação inaugural nove anos antes, em junho de 1871, no jornal
sueco Nordisk Boktryckeri-Tidning.
Esse pode ser considerado o início do fotojornalismo, onde a publicação conjunta de foto e
texto dá mais credibilidade e dinâmica aos periódicos.
A fotografia experimentou nas últimas décadas do século XIX mudanças significativas
tecnológicas e na sua veiculação, além de atingir um público que até então não tinha pleno
acesso ao consumo e produção da imagem.
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Como não tinha espelho, a Leica M podia ser utilizada em baixa velocidade, de até 1/15s, sem
perigo de tremer a foto. Também não havia o barulho que este componente faz ao se deslocar.
Com essas novas câmeras o fotógrafo se livrava do equipamento pesado, podendo se colocar
em qualquer lugar carregando apenas o compacto equipamento.
A liberdade não se restringia aos inéditos pontos de vista conquistados.
Com o filme de 36 poses, a claridade e variedade das lentes recambiáveis, era possível realizar
mais fotografias e captar situações antes impossíveis, invisíveis para o olho humano.
A partir do momento em que foi possível captar um instantâneo a capacidade visual foi
ampliada. O que a câmera vê vai além do que o olho humano enxerga e o ponto de vista do
fotógrafo muitas vezes é inédito.
O instantâneo fotográfico é uma aquisição tecnológica, uma fração de tempo não perceptível
para o olhar humano. A visão humana tem uma capacidade relativamente baixa de “separação
temporal” já que para a mente é impossível distinguir o encadeamento de imagens que se
movem numa velocidade superior a 1/10 segundos
Para congelar a imagem é preciso aumentar a velocidade do obturador de uma forma
proporcional ao movimento do objeto.
Por isso o instantâneo captado pela câmera fotográfica é invisível para o olho humano. Ao
tornar o invisível visível, a fotografia engendra uma nova visualidade.
O instantâneo fotográfico inseriu a fotografia na modernidade, possibilitou o rompimento com
a tradição imagética anterior e influenciou a visualidade comunicacional e artística.
As diversas expressões fotográficas do século XX que veremos nos próximos capítulos são
tributárias da liberdade proporcionada pelas câmeras compactas e rápidas.
Câmera Leica
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invisíveis. O negativo de vidro foi riscado para criar a impressão de chuva. A concepção desta
foto é avançada para a época.
Beato documentou o cotidiano e realizou imagens impressionantes como o de um homem
crucificado e a encenação de uma decapitação.
A limitação tecnológica não impossibilitava mostrar o horror da guerra. O fotógrafo veiculava
as imagens através de gravuras e vendia álbuns e fotografias soltas.
O quarto conflito documentado por uma câmera foi a Guerra de Secessão Norte-americana,
outro importante marco no registro sensacional dos conflitos.
Fotógrafos dos dois lados viram no conflito a oportunidade de ampliar seu mercado.
As primeiras imagens são de George S. Cook (1819-1902), mas apenas um fotógrafo, Andrew J.
Russel (1830-1902) foi pago pelo governo dos EUA.
Alguns dos mais importantes fotógrafos foram Mathew Brady (1823-1896), Alexander Gardner
(1821-1882), Timothy O`Sullivan (1840- 1882) e George N. Barnard (1814-1902).
As imagens da guerra que circulavam em cartões e eram reproduzidas por gravuras em vários
periódicos criando uma crônica visual do conflito.
Fotografias de líderes como Abraham Lincoln e outros eram populares. As famílias
encomendavam fotos dos soldados que também levavam as fotografias de seus parentes para
o campo de batalha. Mais de 1400 fotógrafos fizeram imagens de soldados individualmente,
das tropas, instalações militares e campos de batalha. Os negativos eram revelados no campo
e depois enviados para os estúdios para serem feitas as impressões. Estúdios fotográficos eram
montados no campo de batalha.
Mathew Brady é o mais conhecido fotógrafo da Guerra de Secessão. Fotografou soldados
individualmente ou em grupos. Tinha tradição de retratista: Em 1850 publicou The Gallery of
Illustrious Americans, com fotografias de políticos que militavam em lados opostos, o que lhe
deu fama.
Antes do início da Guerra Civil já tinha mais de 10 mil fotografias de celebridades, inclusive
presidentes como a do presidente norte-americano Abraham Lincoln, tirada em 1860. Vendeu
cópia das fotos de Lincoln para vários periódicos. A maior parte das pessoas jamais vira Lincoln,
e durante a campanha presidencial corriam boatos de uma suposta doença. A foto disfarça a
aparência debilitada do futuro presidente. Posteriormente foi usada em moedas e na nota de 5
dólares.
George N. Barnard, que trabalhou com Brady, publicou Photographic Views with Sherman’s
Campaign (1866) mostrando a destruição metódica das ferrovias sulistas pelas tropas do norte.
Neste momento começa a colocar-se a questão do reconhecimento autoral: Timothy
O’Sullivan (1840-1882) deixou o estúdio de Brady em 1862 para trabalhar com Alexander
Gardner (1831-1882) porque ali tinha crédito em suas fotos. O’Sullivan assinou The Harvest of
Death no album Photographic Sketchbook of the Civil War, de Gardner.
A fotografia transformou profundamente a percepção da guerra, que cada vez mais será
retratada em todo seu horror, estabelecendo um fluxo de imagens sensacionais que marca
profundamente as gerações posteriores.
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fotografar o cavalo com as quatro patas no ar, o que era motivo de controvérsia, uma vez que
o olho humano não tem capacidade de perceber movimentos tão rápidos.
O fisiologista francês Étienne-Jules Marey (1830-1904) estudava o movimento dos corpos e, ao
tomar conhecimento dos experimentos de Muybridge, passou a utilizar a fotografia nas suas
pesquisas. Utilizava uma única câmera e inventou o fuzil fotográfico em 1882 –
aperfeiçoamento do revólver fotográfico criado em 1876 pelo astrônomo Janssen. Era capaz
de captar 12 quadros por segundo em uma mesma película.
Desenvolveu a cronofotografia de placa fixa, passando a utilizar placas móveis, e depois rolos
de película Kodak. Registrava 60 imagens por segundo.
A fotografia percorreu no século XIX caminhos que foram do distante oriente até os astros,
passando pelo registro da subjetividade humana e figurando imagens que são não apenas
distantes, mas até impossíveis de serem vistas pelo ser humano.
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Fotografia foi usada no século XIX para fins topográficos, científicos (geologia, biologia
astronomia, química) e nas ciências sociais. Contribuiu para o ambiente positivista.
Também foi utilizada para fins policiais, tanto para identificação como para evidências
criminais. A partir de 1870 serviu para a polícia identificar os membros da Comuna de Paris.
Tinha o estatuto de prova, o senso de autenticidade não apenas na guerra, nas ciências e
terras exóticas, mas também nos retratos do dia a dia.
Eventos e personalidades passam a ser figurados para o público.
As pessoas comuns também podem ser figuradas: retrato, antes exclusividade dos nobres, se
torna acessível à burguesia. Os principiais retratistas atendiam aos endinheirados e também
são das classes mais favorecidas, como Félix Nadar, Étienne Carjat, Gustave Le Gray, David
Octavius Hill, Robert Adamson e Julia Margaret Cameron. Um retrato de Nadar custava 100
francos.
Em 1854 o fotógrafo André-Adolphe Disdéri (1819-1889) começou a fazer retratos no formato
cartão de visita, conhecidos como carte-de-visite. Inventou uma câmera com quatro objetivas
que produziam oito fotografias que depois eram recortadas e montadas sobre um cartão. Os
carte-de-visite eram vendidos a cinco francos, muito menos do que era cobrado por qualquer
outro fotógrafo.
O carte-de-visite colocava a fotografia ao alcance de camadas mais baixas. A fotografia se
transformou em produto industrial, barato e popular. Surgiu uma indústria de cartões de
pessoas famosas, vendidos a preços populares.
Ao contrário dos retratos que se concentravam no rosto, Disdéri fotografava o corpo inteiro
em cenários que definiam status, longe do cotidiano do indivíduo e perto da máscara social,
numa paródia da auto-representação em que se fundiam o realismo essencial da fotografia e a
idealização intelectual do modelo.
A partir de 1855 Disdéri começou a retocar as fotografias, eliminando imperfeições. Foi um dos
primeiros a fazer fotografias de nus eróticos e teve êxito comercial. A fotografia atingiu um
novo patamar, popularizada e acessível.
Na segunda metade do século XIX houve um aumento de demanda de fotos de lugares e
culturas exóticas juntamente com a busca de tornar as cenas mais reais, através de efeitos
visuais. A estereografia se popularizou, assim como as panorâmicas de até 360º.
Aimé Civiale (1821-1893) fez panorâmicas da Itália, França, Áustria e Alpes suíços.
Também o rosto humano era objeto dos fotógrafos. Com a popularização da fotografia e o
avanço tecnológico foi possível registrar expressões e se acreditava que poderiam revelar o
interior do ser humano.
Guillaume Benjamin Duchenne de Boulogne (1806-1875) foi um médico francês que tratava
epilépticos, pessoas com problemas neurológicos e mentais. Publicou em 1862 Mecanisme de
la physionomie humaine acompanhado de 84 fotos de rostos estimulados por choques
elétricos. Comparava as fotografias com retratos e esculturas artísticas, como os trabalhos dos
artistas plásticos Gustave Courbet e Jean-Auguste-Dominique Ingres.
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Charles Darwin publicou em 1872 The Expression of the Emotion in Man and Animal onde
defendia que as expressões de emoção eram inerentes a todos os humanos. Vendeu nove mil
cópias em quatro meses. Fotografava bebês por acreditar que exibiam pureza.
Jean-Marie Charcot trabalhava com mulheres histéricas, as apresentava em público e
fotografava.
No século XIX a fotografia era utilizada por várias ciências: geologia, biologia, botânica,
medicina, astronomia e química e pelas Ciências Sociais.
Louis Agassiz, contrário à miscigenação racial, fotografou na Amazônia. Carl Dammann
publicou em 1875 um álbum com 600 imagens intitulado Ethnological Photographic Gallery of
the Various Races of Man. Em 1867 a Mostra Etnográfica de Moscou exibiu maquetes em
tamanho real de interiores de habitações regionais com pessoas posando ao vivo com as
roupas típicas. O governador geral britânico na Índia publicou oito volumes entre 1868 e 1875
com texto e fotografias das diversas castas.
A exploração do exótico incluía fotografias de mulheres do Oriente Médio e Ásia em poses
sensuais.
O orientalismo mostrava não-europeus e norte-americanos passivos, infantilizados,
afeminados e distantes do progresso histórico “ocidental”.
Circulavam fotos sensuais com marcas de identidade étnica oriental e cartes-de-visite, postais
e albumens de atos sexuais entre homens “ocidentais” e mulheres orientais. Bruno
Braquehais, que fotografou a Comuna de Paris, fez algumas dessas imagens.
Em 1847 C. A. Woolley (1834-1922) fotografou os últimos 46 remanescentes dos aborígines
australianos.
John K. Hillers (1843-1925) realizou mais de 3 mil imagens do Grand Canyon e 20 mil negativos
de nativos norte-americanos.
William Carrick (1827-1878) fotografou os vendedores de rua de São Petersburgo. No final do
século cartes-de-visite de trabalhadores maltrapilhos foram realizados em estúdios, o que
consistia na exploração imagética da pobreza. Henry Mayhew (1812-1887) publicou em 1851 o
álbum de gravuras London Labour and London Poor e teve boa vendagem.
Fotografias de greves eram raras porque os jornais não publicavam e os pobres não
compravam.
Thomas Annan (1829-1887) fotografou as favelas ao redor das fábricas de Glasgow antes de
serem demolidas a pedido do governo escocês.
Charles Marville (1816-1879) fotografou Paris antes das reformas do Barão Haussmann.
John Thomson também registrou os pobres de Londres com o ativista Adolphe Smith, o que
resultou na publicação do livro Street Life in London.
Thomas Barnardo (1845-1905) administrava casas de acolhimento de crianças e as fotografava
“antes e depois”, exagerando na pobreza do antes.
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CAPÍTULO 8: As Vanguardas
Para entender a fotografia abstrata é preciso lembrar que a representação imagética no século
XIX era a continuação do olhar renascentista. O pictorialismo é o maior exemplo da ligação da
fotografia com a pintura, como foi visto no capítulo anterior.
Uma das tentativas de fugir da representação fiel da realidade foi o construtivismo, que surgiu
na Rússia no início do século XX, momento em que também nascia a pintura abstrata.
A revolução de 1917 teve profundo impacto nos artistas, especialmente na vanguarda. El
Lissitzky (1890-1941) arquiteto que trabalhava com várias manifestações artísticas, inclusive
fotografia, foi um dos artistas mais comprometidos. Renunciou à auto-expressão na arte e
acreditava que o papel do artista estaria ligado à indústria e ao redesenho do cotidiano. The
Constructor (1924) mostra o artista em sua nova função. Trabalhava a geometria austera da
vanguarda russa em contraposição à perspectiva renascentista.
Alexander Rodchenko era artista plástico, escultor, fotógrafo e designer gráfico. Um dos
fundadores do construtivismo e design moderno russo, inovou nos campos da pintura,
escultura, colagem, fotografia e design. Usou o termo não-figurativismo e fez desenhos
utilizando exclusivamente compasso e régua. Trabalhou características construtivistas também
em suas fotografias.
Influenciado pela fotomontagem dos dadaístas alemães, começou suas próprias experiências
em 1923. A primeira ilustrava o poema de Vladimir Mayakovsky “About this”. Entre 1923 e
1928, Rodchenko colaborou com o poeta Mayakovsky e concebeu layouts e capas para revistas
de vanguarda Kino-fot (1922), Lef (1923-5) e Novy Lef (1927-8), criou cartazes de cinema e
imagens de propaganda geralmente com fotomontagens combinadas com tipografia
expressiva e elementos geométricos e abstratos.
Rodchenko fotografou a construção do Canal do Mar Branco (1931-33) e essas são suas fotos
menos inventivas. Fez cerca de 3 mil fotografias, algumas publicadas na edição especial de
“URSS em Construção” de 1933. Ignorou os trabalhos forçados e as centenas de mortes de
trabalhadores na construção do Canal.
A fotografia se adequava perfeitamente às preocupações construtivistas com a tecnologia e
era a ponte ideal para a preferência do Partido Comunista Soviético por conta de suas imagens
realistas, legíveis e acessíveis às massas. A partir de 1930 as vanguardas perderam a sansão
oficial e o Partido Comunista Soviético promoveu o Realismo Socialista.
A perseguição stalinista levou muitos artistas de vanguarda a deixar a URSS, o que ajudou a
disseminar suas idéias e influenciou movimentos como o De Stijl e a Bauhaus.
László Moholy-Nagy (1895 – 1946), pintor, escritor e fotógrafo. Como o grupo Dadá,
privilegiava o uso de materiais e conceitos industriais e abraçou a noção soviética de faktura –
criação de uma nova visualidade quando a fotografia fosse praticada por suas qualidades
inerentes e não como imitação da pintura. Acreditava que a produção cultural massiva,
especialmente a grande circulação de imagens, mudaria a percepção das massas e engendraria
o desejo de transformação social. Propunha a aplicação do rigor geométrico. Foi professor na
Bauhaus em Weimar (1923).
Fugindo do nazismo (1935) Moholy-Nagy foi para Londres e depois para os EUA (1937), onde
fundou em Chicago a Nova Bauhaus. Suas pinturas a óleo sobre superfícies transparentes ou
polidas para produzirem efeitos luminosos móveis foram precursoras da arte cinética.
Defendia que a principal característica da fotografia é a luz e que os artistas deveriam
experimentar padrões de luz e sombra.
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Dali Atômico
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São Francisco. Trabalhando com o ativista-economista Paul Taylor, focou sua atenção nos
problemas dos trabalhadores do campo. Para a FSA produziu a foto que se transformou no
ícone da Depressão: Mãe Migrante, uma da série de cinco fotografias de uma mulher de 32
anos e seus filhos num campo de plantação de ervilhas na Califórnia. Apesar do poder da
imagem, uma das mais publicadas do mundo, esta não é uma típica foto de Lange.
Publicou com texto de Taylor American Exodus: a Record of Human Erosion (1939), nome que
é referência aos estragos causados pela mecanização do campo e a consequente migração,
com fotos acompanhadas de legendas.
Ao sair da FSA continuou fazendo fotos engajadas. Militou contra os Campos de Recolocação
(American Relocation Authoritdy) onde americanos de origem japonesa eram internados à
força na II Guerra, fotografou o Manzanar Relocation Center na Califórnia e os últimos dias de
comunidades agrícolas no Vale Berrysea em São Francisco.
Outro pioneiro da RA foi Arthur Rothstein (1915-1985) que fez as fotos do fenômeno climático
Dust Bowl, mas suas fotos mais famosas foram as da série dos desolados campos Badlands de
Dakota do Sul no verão de 1936. Foi acusado de armar uma cena movendo uma caveira de boi.
A agência temia perder credibilidade e, consequentemente, verbas, se as fotos fossem
manipuladas.
Outros fotógrafos da FSA: Gordon Parks, Esther Bubley, Russell Lee, Gordon Parks, Jack Delano,
Behn Shan, Jack Delano, John Vachon, Marion Post Wolcott,
Recentemente foram descobertas cerca de 1600 fotografias em Kodachrome arquivadas na
Biblioteca do Congresso. Em 2004, foi editado o livro Bound for Glory, America in Color 1939-
1943. Transforma-se assim a irraigada percepção da ligação compulsória da fotografia de
documentação social com o preto e branco
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A fotografia foi usada como libelo contra a guerra. Em 1924 Ernest Friedrich publicou Guerra
contra Guerra, livro com 180 fotografias chocantes e legendas sarcásticas. Eram imagens de
mortos nos campos de batalhas, construções destruídas, civis famintos, execuções, cemitérios
e closes de soldados desfigurados.
O embate ideológico que teve lugar na Europa após a I Guerra logo se transformaria em um
conflito de fato. A Guerra Civil Espanhola atraiu e despertou a solidariedade de artistas e
intelectuais em todo o mundo. Refletia as tensões ideológicas que deram origem à II Guerra e
foi também o balão de ensaio para as tecnologias bélicas, além de ter inaugurado o
bombardeio aéreo a cidades européias. A cobertura fotográfica também foi inovadora, graças
ao avanço tecnológico, especialmente a câmera Leica 35 mm.
Muitos fotógrafos registraram a guerra entre eles dois dos futuros fundadores da agência
Magnum, David Seymour (Chim) (1911-1956) e Robert Capa (1913-1954), além de sua
companheira Gerda Taro (1910 - 1937), morta no conflito. Também se destacaram Agustí
Centelles i Osso (1909-1985), Juan Guzmán Hans Namuth (1915 –1990), Georg Reisner (1911-
1940), Walter Reuter (1906 – 2005) e os Irmãos Mayo, coletivo mexicano composto por 5
fotógrafos.
A foto de Chim: “Assembléia para distribuição de terras, Extremadura, Espanha, 1936” mostra
uma mulher amamentando e olhando para o alto, e ficou associada aos bombardeios aéreos.
No entanto foi feita quatro meses antes do início da guerra.
É de Robert Capa a mais marcante foto da guerra, Morte de um Miliciano, publicada pela
primeira vez em setembro de 1936 na Vu e em julho de 1937 na Life. Mostra o exato momento
da queda de um soldado republicano, morto com um tiro na cabeça. Alguns consideravam a
fotografia forjada até que em janeiro de 2008 foram descobertos no México 127 rolos de
negativos de Capa, Taro e Chim, dados como perdidos. Entre eles está a sequencia da morte
do miliciano.
A guerra civil espanhola foi fotografada por equipamentos leves, como a Leica, e filmada com
equipamentos cinematográficos mais flexíveis como a Éclair. Foram produzidas mais de cem
películas de longa e curta-metragem do lado republicano. Outro fundador da Magnum, Henri
Cartier-Bresson, realizou dois filmes para os republicanos.
A fotografia passou a ser vista como uma ameaça ao poder instituído e em 1933 Hitler mandou
registrar todos os fotógrafos alemães, um baque para o ativo movimento de fotografia
trabalhista alemã. A revista AIZ – Revista Ilustrada Trabalhista, criada em 1921 e dedicada a
causas liberais e humanitárias se transferiu para Praga.
Neste ano Alfred Eisenstaedt (1898-1995), trabalhando para a Associated Press fotografou
Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista na Assembléia da Liga das Nações em Genebra.
A expressão do nazista na fotografia é premonitória do comportamento futuro do mais íntimo
e influente colaborador de Hitler.
A chegada de Hitler ao poder foi orquestrada pela imprensa ilustrada alemã, controlada pelo
Ministro da Propaganda. As fotografias eram cuidadosamente arranjadas para mostrar uma
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imagem favorável e poderosa do Fuher. Seu fotógrafo favorito Heinrich Hoffmann (1885-1957)
o fotografou não apenas como uma figura política, mas também como um simples homem do
povo, lendo o jornal e conversando com fazendeiros
Quando estourou a II Guerra vários fotógrafos estavam envolvidos na cobertura de guerra.
Alguns dos mais importantes foram Robert Capa, W. Eugene Smith, Alfred Eisenstaedt,
Margareth Bourke-White, Peter Stackpole, David Douglas Duncan, David Seymour – Chim,
George Rodger – (primeiro fotógrafo a entrar no campo de concentração Bergen-Belsen),
George Silk (primeiro a fotografar Nagasaki depois do lançamento da bomba atômica), Carl
Mydans, Bob Landry, entre outros.
Toda a crônica visual da guerra e o trabalho dessa constelação de fotógrafos foi publicada na
mais importante revista ilustrada do século XX, a Life que chegou a vender 13,5 milhões de
cópias semanais. É importante destacar que a Life era uma revista dedicada a temas gerais,
para toda a família. Não era voltada para a guerra, mas sua enorme circulação e a utilização
massiva de fotografias de qualidade a transformaram num importante instrumento de
divulgação das imagens de conflitos
A primeira capa de Life trazia uma foto de Margaret Bourke-White do Fort Peck Dam. Seu
formato tornou-se clássico: cerca de 50 páginas cobertas de fotografias e com textos curtos.
De uma tiragem inicial de 380 mil cópias passou a 1 milhão por semana em 4 meses.
A fotografia mais conhecida publicada por Life foi da vitória dos EUA sobre o Japão em 1945
(V-J Day) de Alfred Eisenstaedt em que um marinheiro beija uma enfermeira.
As mais memoráveis fotografias de guerra foram publicadas na Life, como as do desembarque
das tropas aliadas na Normandia. Sob fogo cerrado Robert Capa desembarcou com os soldados
norte-americanos em Omaha Beach, fotografando sob o mesmo ponto-de-vista das tropas. Fez
72 imagens, mas apenas 11 não foram destruídas pelo super-aquecimento da secadora de
filmes no laboratório londrino. As que sobreviveram ficaram granuladas e tremidas. Estas fotos
exemplificam a filosofia de Capa: “Se suas fotos não são boas o suficiente, você não está perto
o suficiente”. Capa se tornou o mais celebrado fotógrafo de guerra. Fotografou a Guerra Civil
Espanhola (1936-39), a invasão japonesa na China (1938), a Segunda Guerra Mundial (1939-45)
e a guerra da independência de Israel (1948), e em 1954 cobriu para a Life a Guerra da
Indochina. Em 25 de maio acompanhava uma escolta francesa numa missão no delta do Rio
Vermelho, no Vietnã, quando morreu ao pisar numa mina.
Uma importante consequência da guerra para a fotografia foi a transformação do estatuto do
fotógrafo, que assumiu a condução do seu trabalho com um viés engajado. Em 1947 os
fotógrafos Robert Capa, George Rodger, David Seymour (Chim), Bill Vandivert e Henri Cartier-
Bresson (1908-2004) fundaram a agência Magnum que visava representar fotógrafos
autônomos junto às revistas que os contratavam.
O mais famoso fundador da Magnum foi Henri Cartier-Bresson que ingressou na Unidade de
Filme e Foto do exército francês quando a II Guerra estourou e foi capturado pelos nazistas.
Ficou 35 meses preso submetido a trabalhos forçados, tendo tentado 2 fugas e conseguindo na
terceira. Atuou na Resistência e fotografou secretamente. No fim da guerra circularam
rumores nos EUA de HCB havia morrido e foi organizada uma retrospectiva “póstuma” de sua
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obra no MoMA. A exposição foi inaugurada em 1947 juntamente com a publicação de seu
primeiro livro The Photographs of Henri Cartier-Bresson.
Cartier-Bresson inspirou várias gerações de fotógrafos com seu estilo intimista. Usava uma
Leica, não fazia fotos arranjadas registrando sua imagem de uma forma rápida e precisa. Seu
conceito de fotografia baseava-se no momento decisivo. Fotografou a morte de Gandhi, a
China nos últimos meses do Kuomitang, o início da República Popular da China e a luta pela
independência na Indonésia. Foi o primeiro fotógrafo europeu a fotografar a Rússia comunista
após a morte de Stalin. Fotografou o 10º aniversário da Revolução Popular Chinesa. Tornou-se
conhecido mundialmente por trabalhos publicados nas revistas Life e Paris-Match. Apesar de
seu trabalho como fotojornalista consolidou sua reputação como fotógrafo do cotidiano.
A Guerra Civil Espanhola e a II Guerra contribuíram para forjar o novo fotógrafo que chegaria
amadurecido na Guerra do Vietnã onde a fotografia teve papel decisivo. Life mostrava pessoas
comuns atingidas pelo conflito, uma visão que W. Eugene Smith inaugurara na II Guerra. Em 27
de junho de 1969 Life publicou The Faces of the American Dead in Vietnam diagramado como
um anuário estudantil com o rosto dos mortos. A idéia era mostrar os soldados como
indivíduos. Em 16 de abril de 1965 a revista publicou 22 fotos p&b do fotógrafo britânico Larry
Burrows (1926 - 1971) que acompanhava as experiências de um soldado de 22 anos. Burrows
montou a câmera na metralhadora aérea que o soldado usou durante uma batalha para captar
suas expressões faciais. Mas foi a força de seu trabalho colorido que transformou o retrato do
campo de batalha. Burrows morreu em abril de 1971 na queda de um helicóptero no Laos
onde também estava o fotógrafo Henri Huet.
O Vietnã foi também coberto em vídeo, mas as fotografias estáticas ficaram na história. Foi a
guerra da fotografia por excelência, especialmente da colorida. Entretanto as três fotos mais
importantes relacionadas ao conflito, responsáveis por colocar a opinião pública contra a
guerra foram feitas em p&b.
Em 1968 Eddie Adams fotografou o coronel Nguyen Ngoc Loam, chefe da Polícia Nacional da
República do Vietnam executando na rua um oficial vietcong com um tiro na cabeça. O câmera
da NBC, Vo Suu, filmou a sequência que passou inúmeras vezes nas televisões e chocou os
EUA. Quando a foto de Adams foi publicada na primeira página dos jornais americanos, mudou
a forma como o povo americano encarava a guerra.
A imagem sempre ligada aos horrores dessa guerra foi feita por Nick Ut. A menina de 9 anos
Kim Phuc, nua, fugindo de seu povoado que estava sofrendo um bombardeio de napalm.
A foto que selou definitivamente o fim da guerra não foi tomada por um profissional nem feita
em solo asiático. Em 4 de Maio de 1970 John Filo, estudante de fotografia, fotografa Jeffrey
Miller, 20 anos, também estudante, morto pela Guarda Nacional durante um protesto não-
autorizado contra a decisão de Nixon de enviar tropas para o Cambodja que deixou três
estudantes mortos e nove feridos. O ângulo da foto não mostra o rosto desfigurado de Miller,
atingido na boca. Mas a expressão de Mary Ann Vecchio horrorizada com o que vê completa a
foto. Depois se sabe que a menina não é estudante na Universidade, tem apenas 14 anos e
fugiu de casa dos pais em Miami. Depois de publicada a foto o Governador da Florida, Claude
Kirk, afirmou que Mary Ann era uma “dissidente comunista”.
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Uma das escolas de fotografia, se alinha ao trabalho de Henri Cartier-Bresson e sua teoria do
“momento decisivo”, como foi visto no capítulo anterior. A fotografia de acontecimentos,
sejam conflitos armados, sejam outras situações fugidias, estão mais de acordo com a filosofia
fotográfica do grande fotógrafo francês.
August Sander (1876-1963) pode ser considerado precursor de um outro tipo de registro, em
que o fotógrafo se dedica a um tema e o aprofunda, às vezes por toda a vida. Durante toda a
sua carreira trabalhou no projeto Man in the Twentieth Century, fotografando o povo alemão,
sem distinção de classes. Diversas vezes teve seu material perdido, apreendido e destruído,
mas em 1951 exibiu seu trabalho na primeira edição da exposição Photokina e em 1955
integrou a exposição de Edward Steichen, The Family of Man.
Por outro lado, Walker Evans, que foi considerado o bad boy da FSA, inspirou diversos
fotógrafos que buscavam a liberdade para fotografar, sem as limitações de agências ou
revistas.
São abordagens que preconizam um mergulho no assunto.
W. Eugene Smith cobriu a II Guerra, foi ferido, e passou dois anos em tratamento. Sua primeira
foto depois da hospitalização A Walk to Paradise Garden é uma de suas imagens memoráveis e
foi escolhida para fechar a exposição Family of Man organizada por Edward Steichen em 1955.
Entre 1947 e 1954 produziu ensaios fotográficos que redefiniram a fotografia documental:
Country Doctor, Hard Times on Broadway, Spanish Village, Southern Midwife, and Man of
Mercy sobre o Dr. Albert Schweitzer na Africa. A edição que Life deu a esse ensaio fez com que
Smith se demitisse, pois a considerou superficial. Assumiu a responsabilidade ética de
fotógrafo, defendia o controle de todas as fases da reportagem. Estudava profundamente o
tema antes de ir a campo e geralmente levava um mínimo de 3 meses para realizar uma
documentação, produzindo documentários densos e aprofundados.
No final dos anos 1950 dedicou-se ao monumental ensaio sobre a cidade de Pittsburgh, o mais
complexo e ambicioso feito por um único fotógrafo. Para o trabalho recebeu duas vezes a
bolsa Guggenheim Fellowship (1956-57 e 1958-59).
Seu projeto documental mais importante foi na pequena vila de pescadores japoneses
Minamata, uma pequena baía no Japão contaminada por mercúrio e que provocou um
enorme desastre ambiental. Smith fotografou os efeitos da contaminação por mercúrio nas
pessoas, as crianças deformadas e a luta da população local por justiça. No total, mais de 900
pessoas morreram com dores terríveis devido ao envenenamento. Oficialmente foi
reconhecido que 2.955 pessoas sofreram da doença de Minamata. A exemplo de seus
antecessores Riis e Hine, Smith usava a fotografia para mobilização e prova nos tribunais. Suas
fotos têm um acurado senso estético e são trabalhadas em laboratório, usava lentes olho de
peixe imprimindo uma visão destorcida e angustiante da realidade, numa direta relação entre
recursos técnicos e estéticos.
O japonês Shisei Kuwabara (1936) também fotografou os trágicos resultados e publicou o livro
Minamata.
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O norte-americano Robert Frank (1924) tinha uma abordagem documental diferente. Iniciou
sua carreira fazendo fotografia de moda para o Harper’s Bazaar e produziu editoriais na rua
durante um ano, quando passou a viajar por vários países, trabalhando como free lancer.
Odiava as histórias da Life com começo, meio e fim. Produziu Black, White and Things um livro
diferente dos foto-ensaios da Life e dos livros fotográficos da época. Sem narrativa sem ordem
cronológica como em A night in London de Bill Brandt (1938) e Day of Paris de André Kertész
(1945), sem tema social como The English at Home, de Brandt (1936). Frank representa a
Fotografia Contemporânea Crítica. Também participou da exposição de Steichen, Family of
Man. Frank não procurava nenhuma justificativa moral, não havia princípio meio e fim nos
seus ensaios e não compactuava com a idéia de que a fotografia é uma linguagem universal.
Não pretendia registrar fatos importantes. Numa viagem pelos EUA Frank fez cerca de 20 mil
fotos das quais selecionou 83. Em 1958 publicou o trabalho Les Americanes na França que mais
tarde saiu nos EUA com o título The Americans e foi alvo de fortes controvérsias.
Companheira de Frank no Family of Man Diane Arbus (1923-1971) também se dedicou a um
“outro lado” da sociedade americana, os outsiders e freaks, marginais na sociedade. Ao
contrário dos seus contemporâneos adotou a câmera de médio formato Rolleiflex em
detrimento das já tão populares 35 mm. Fotografando de Rolleiflex não perdia jamais o
contato com o objeto fotografado, além de explorar o maior tamanho do negativo. Usava flash
com luz do dia.
Assim como Frank, Arbus usava a câmera para denunciar a insatisfação com frivolidade da
sociedade, mas não visava mudanças sociais. Essa atitude cética influenciará as próximas
gerações de fotógrafos documentais.
Outros destacados documentaristas influenciados por Frank e the Americans são Lee
Friedlander (1934) e Garry Winogrand (1928-1984), ambos participantes juntamente com
Diane Arbus e William Klein (1928) da exposição New Documents de 1967.
As fotos de Friedlander são um retrato impiedoso da sociedade americana, mas menos
emocional que as de Frank. Seu trabalho era realizado em séries: ruas, flores, árvores, jardins,
paisagens, nus, retratos e auto retratos. Em meados dos anos 1960 inicia o seu trabalho sobre
monumentos americanos esquecidos American Monument – 1976 com forte influência Walker
Evans.
Também influenciado por Evans e Frank, além de Cartier-Bresson, Garry Winogrand
fotografava com Leica e grande angular fazendo inúmeras fotos que mal conseguia revelar,
deixando cerca de 300 mil negativos. Seu primeiro livro The Animals foi feito no zoológico do
Bronx e no aquário de Coney Island. Em Public Relations, de 1977, fotografou eventos públicos,
vernissages, entrevistas de imprensa, esportes e manifestações políticas.
De uma geração posterior o tcheco Josef Koudelka (1938) começou a carreira como fotógrafo
de teatro. A partir de 1967 se dedicou exclusivamente à fotografia, começando a registrar os
ciganos europeus. Em agosto de 1968, depois de fotografar ciganos na Romênia, voltava para
Praga, capital da então Tchecoslováquia, quando ocorreu a invasão das tropas soviéticas. Suas
fotografias da invasão que massacrou a Primavera de Praga e pôs fim às reformas Tchecas
saíram clandestinamente do país e chegaram à agência Magnum, tendo sido publicadas com a
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Sua temática pode incluir desde retratos de integrantes da Ku Klux Klan, fotos de cadáveres e
vítimas de queimaduras.
Fotografou os sem teto nos subterrâneos de Nova Iorque com equipamento de estúdio, como
se fossem obras de arte e casais abraçados.
Muitos de seus trabalhos envolvem fluídos corporais como sangue (inclusive menstrual),
sêmen (Blood and Semen II - 1990) e mesmo leite materno.
Piss Christ foi vendido em Londres em 1999por US$ 162 mil, muito acima do estimado, que
era entre US$ 20 e 30 mil. Blood and Semem III foi capa do álbum Load e Piss and Blood da
ReLoad da Metallica.
Recentemente tem trabalhado com fezes.
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