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Faculdade de Belas Artes da Universidade

de Lisboa

Curso de Arte Multimédia 3º Ano 2010/2011

História e Teoria
da Fotografia Síntese Histórica
Professor José dos Processos
Ramos Fotográficos
Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

Figura 1: Le Pavillon de Flore et la Pont-Royal, Luis-Jacques-Mandé Daguerre,

Daguerreótipo, Musée des Arts et Métiers, Paris

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa


Curso de Arte Multimédia 3º Ano 2010/2011

Título: Síntese Histórica dos Processos Fotográficos


Disciplina: História e Teoria da Fotografia
Docente: Professor José Ramos
Aluno: Tiago Couto Nº 4577

Índice
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.............................................1

Curso de Arte Multimédia 3º Ano 2010/2011.........................................................1

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.............................................2

Título: Síntese Histórica dos Processos Fotográficos..............................................2

Índice...................................................................................................................... 2

.............................................................................................................................. 4

Introdução.............................................................................................................. 4

O Principio da Fotografia .......................................................................................5

A Câmara Escura ou Pin-Hole..............................................................................5

A Luz................................................................................................................... 7

O Segredo da Química............................................................................................8

De Daguerre a Fox Talbot..................................................................................9

O contributo de Ascher: o Colódio e as placas húmidas....................................10

A Gelatina e a Celulóide....................................................................................11

Referências:......................................................................................................... 12

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

Introdução

A intenção deste trabalho é de compreender o processo fotográfico e um pouco das suas raízes
históricas, de forma a comparar a evolução dos processos até a actualidade.

O processo fotográfico é antes de mais um método de captar luz e fixar a imagem por ela “escrita” ou
reproduzida. A fotografia, tal como a conhecemos hoje, não é o resultado de um único inventor.É uma
síntese de várias descobertas individuais e colectivas ao longo de vários séculos, umas vezes
totalmente por acaso, outras fruto de muita persistência e dedicação.

A criação da fotografia é o resultado de dois fenómenos diferentes: um de carácter óptico e outro de


natureza química. O fenómeno químico será explicado, neste trabalho, enquadrada no seu contexto
histórico.

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

O Principio da Fotografia

A Câmara Escura ou Pin-Hole


A primeira descoberta importante foi a câmara obscura, cuja autoria não é conclusiva, alguns
historiadores apontam o chinês Mo Tzu no século V a.C., outros dizem que Aristóteles (384-322) é o
responsável pelos primeiros esquemas da câmara obscura.

A câmara Obscura torna-se cada vez mais comum a partir do século XI, entre os sábios, para observar
os eclipses solares. Entre eles, Levi ben Gershon (1288-1344) ou Roger Bacon (1214-1294) e o
erudito árabe Ibn al Haitam (935-1038)

Em 1545, surge a primeira ilustração da câmara obscura na obra do matemático holandês Reiner
Frisius1. No século XIV já era usada nas grandes escolas de artes como auxilio ao desenho. Giovanni
Baptista della Porta (1541- 1615), publica em 1558 o livro Magia Naturalis sive de Miraculis Rerum
Naturalium, em que aparece uma descrição mais detalhada da câmara escura (fig.5). Consistia num
quarto estanque à luz, com um orifício numa das paredes e uma parede branca na face oposta. Em
1620, Johannes Kepler, utilizou a câmara escura para desenhos topográficos. Em 1646, o jesuíta
Athanasius Kircher, ilustra o esquema de uma câmara escura portátil para possibilitar aos artistas,
desenhar em vários locais. Só em 1685, 39 anos depois, Johan Zahn descreve a utilização de um
espelho para possibilitar a projecção da imagem num plano horizontal.

Figura 2: Câmara Obscura, Frisius. 1545

1
Frisius, Reiner (1545). Camera Obscura. In The Art of Photography [Consult. 2011-01-06]
Disponivel na www: <URL : http://theartofphotography1.blogspot.com/2009/07/camera-obscura-pre-
history-of.html

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

in The Art of Photography

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

Figura 3: A projecção da luz na câmara escura

in Wickipedia, domínio público.

A Luz

Para compreender melhor este fenómeno torna-se necessário compreender algumas das propriedades
físicas da luz. A luz propaga-se em linha recta, a partir de uma fonte luminosa. Quando um desses
raios luminosos incide sobre um objecto opaco, é reflectido em todas as direcções. Quando um objecto
é colocado diante do orifício da câmara escura, os raios reflectido pelo objecto vão entrar para o
interior da câmara e ficam projectados sobre o fundo branco oposto ao do furo. Como cada ponto
iluminado do objecto, reflecte os raios de luz, então deste modo, a projecção da sua imagem vai
aparecer de forma invertida nos dois eixos.

Quanto mais pequeno for orifício mais nitidez, mas quando mais pequeno menos quantidade de luz
entra. Em 1550 o físico Girolano Cardano, sugeriu o uso de uma lente biconvexa no exterior da
câmara, junto ao orifício. Os raios luminosos reflectidos pelo objecto são tornados convergentes,
devido á capacidade de refracção do vidro aumentando a quantidade de luz sem perder a nitidez. No
entanto ao colocar a lente, verificaram que não conseguiam manter todos os objectos focados. Em
1568, Danielo Barbaro, menciona no seu livro “ A prática da Perspectiva”, que ajustando o diâmetro
do orifício, se podia focar melhor. Quando mais fechado orifício fosse, maior a possibilidade de se
focar dois objectos a distancias diferentes. Era o princípio do estudo do campo de profundidade. O
campo de profundidade é o intervalo de espaço que dista da lente em que se consegue manter os
objectos focados nitidamente.

Com o passar do tempo vão surgindo novas melhorias, como a colocação de espelhos convexos ou
combinando várias lentes ou ainda melhorando o seu design de forma a facilitar o seu transporte. Por
volta do século XVII já existem condições para conseguir formar, de forma controlada, imagens
nítidas, contudo não era possível gravar essa imagem sem o intermédio do desenhador.

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

O Segredo da Química

Em 1604, o cientista Ângelo Sala, descobre que uma solução composta por vários elementos, entre
eles cristais de prata, escurecem quando exposto ao sol, acredita-se que esta acção era devida ao calor.
Em 1727, Johann Schulze, professor universitário na cidade alemã de Altdorf, descobre, por acaso,
que a acção se deve à luz e não ao calor. Como não vê utilidade, Schulze, informa a Academia
Imperial de Aldorf desta descoberta, porque poderia ter utilidade noutras áreas. Em 1802, Thomas
Ewdgwood, que conhecia o processo de Schulze, consegue a silhueta de uma folha sobre uma tira de
couro branco, embebido em nitrato de prata, mas não consegue evitar que o processo de oxidação do
nitrato de prata e as imagens escureciam totalmente assim que eram expostas à luz. Em 1777, o
químico Karl Scheele descobre que amoníaco parava a reacção de oxidação do nitrato de prata. Em
1793, Nicéphore Niepce (1765-1833) tenta captar imagens com a sua câmara escura e fixar
quimicamente as imagens com ácido nítrico. Essas imagens eram negativas, mas Niepce queria
imagens positivas que pudessem ser directamente usadas como placas de impressão. Em 1822, após
anos de tentativas, Niepce cobre uma placa metálica com um betume branco da Judeia que tinha a
característica fundamental de endurecer quando exposta à luz. Expõe essa placa durante
aproximadamente 8 horas e retira as partes não endurecidas cuidadosamente com uma solução de
alfazema. Apesar de a imagem não apresentar meios-tons, surge oficialmente a primeira fotografia
permanente2 (fig.3). Niepce baptiza este processo como Heliografia (1882), gravura escrita com a luz
solar.

Figura 4: Primeira fotografia, Niepce, cerca de 1822 Figura 5: A mesa


posta, Niepce, cerca de 1822

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Niepce, Nicéphore (1822) Fotografias. Musée Nicéphore Niepce. Chalon sur Saône

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

De Daguerre a Fox Talbot

Niépce entusiasmado com os seus resultados, entra em contacto com Louis Daguerre (1787-1851),
através dos irmãos Chevalier, que eram ópticos famosos em Paris. Daguerre era conhecido em Paris
pelos seus “dioramas”, enormes painéis transparentes, pintados por intermédio da câmara escura. Estes
dioramas eram apresentados em salões com uma iluminação na parte de trás para criar um efeito visual
com grande impacto no observador. Niépce e Daguerre tentam criar uma sociedade, mas para
Daguerre, o betume branco da Judei tinha muitas limitações e prossegue sozinho as suas pesquisas
com a prata. Após a morte de Niépce, Daguerre faz, novamente por acaso, uma nova descoberta. Uma
imagem latente quase invisivél, pode ser revelada com vapor de mercúrio reduzindo o tempo de
exposição (de horas) para minutos. Daguerre conta que tinha coberto placas com prata polida e
sensibilizadas com vapor de iodo para as sensibilizar à luz, mas que aparentemente não tinha
resultado, assim guardou a placa dentro de uma gaveta, onde estava um termómetro de mercúrio
partido recentemente. No dia seguinte uma imagem visível tinha aparecido na placa. Nas áreas onde a
luz tinha atingido a placa, o vapor de mercúrio tinha criado áreas de tons claros. Após este fenómeno,
Daguerre submete a placa a um banho com cloreto de sódio para fixar os cristais de iodeto de prata
oxidados, mais tarde verifica-se que o tiossulfato de sódio garante maior durabilidade à imagem.

Daguerre divulga o seu processo em 19 de Agosto de 1839, e baptiza-o com o nome de


Daguerreotipia, tornando a fotografia acessível ao público.

Apesar do sucesso da Daguerreotipia, de conseguir finalmente tornar a fotografia acessível ao grande


público, este processo tinha algumas limitações que motivaram a utilização da fotografia sobre papel.
Neste contexto surge William Henry Fox-Talbot, que na intenção de solucionar as limitações técnicas
do daguerreótipo, faz experiências para impressionar papel com soluções fotosensiveis. Sensibiliza
papel com cloreto de prata e usa sal de cozinha como fixador, desta forma obtinha um negativo, depois
usava o mesmo processo com outra folha de papel, por contacto directo. Em 1839, Talbot apresenta o
seu trabalho à Royal Institution, onde conclui que o tiossulfato de sódio é um fixador eficaz e são
sugeridos os termos: fotografia, negativo e positivo.

Em termos de definição, as imagens de Talbot, não apresentavam nenhuma novidade, os


daguerreótipos eram superiores nesse aspecto. Mais tarde, o cloreto de prata foi substituído por iodeto
de prata e usado acido gálico como revelador. Mas na passagem para o positivo continuava-se a perder
muitos detalhes devido às fibras do papel.

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

O contributo de Ascher: o Colódio e as placas húmidas.

A possibilidade de melhorar a qualidade da imagem utilizando como suporte o vidro, era pensada
pelos primeiros fotógrafos que usavam a técnica de Talbot. A dificuldade estava em conseguir que os
sais de prata se mantivessem uniformes nas placas sem que se dissolvessem no processo químico da
revelação. Em 1847, o primo de Niépce, Abel da Saint-Victor, descobre que a albumina, presente na
clara de ovo, cumpria essa função para o iodeto de prata. Cobre uma placa de vidro com clara de ovo,
sensibilizada previamente com iodeto de potássio. Depois submete a placa a um banho de nitrato de
prata, que será revelada com ácido gálico. Para fixar usa o familiar: tiossulfato de sódio.

As vantagens deste processo são que as placas podiam ser guardadas durante 15 dias sem que
compromete-se o resultado final, e tinha uma definição bastante superior comparativamente com o
suporte de papel. No entanto este processo requeria uma preparação bastante complexa, e tempos de
exposição não inferiores a 10 minutos. Pelo que se tornava complicado para captar certas situações
com movimento.

Em 1851, Frederick Scott Archer, sugere no seu livro: The Chemist, um novo processo composto por
uma base álcool e éter misturado com um finíssimo algodão de pólvora, como meio para suster os
cristais de prata nas placas de vidro, a que baptizou de colódio.

O processo consistia em espalhar mistura de de iodeto de potássio com o colódio, sobre a placa de
vidro, para criar uma camada uniforme. Depois submergia a placa numa solução de nitrato de prata e
estava pronta para expor. O resultado principal é a definição melhor, e o tempo médio de exposição, a
descer para os 30 segundos e um processo mais simples. As placas de colódio eram cerca de 10 vezes
mais sensíveis que as de albumina. A desvantagem é que a placa tinha que ser exposta de imediato,
enquanto o colódio não evaporava, caso contrário perdia toda a sensibilidade. Estas placas revelavam-
se com ácido pirogálico ou sulfato ferroso. Para fixar o negativo, continua-se a usar o tiossulfato de
sódio ou o cianeto de potássio.

Mais tarde descobre uma variante do processo do colódio, chamada ambrotipia, que possibilitava a
criação directa de um positivo.

Ascher acaba por falecer quase desconhecido e na miséria, sem patentear este processo, pelo que podia
ser usado livremente pelo grande público.

Em 1860, surge nos Estados Unidos uma variante o ferrótipo, nada mais que uma variante do colódio,
mas mais rápido e simples.

A desvantagem das placas húmidas mantinha-se, o colódio secava, as placas eram frafeis e pesadas e
era preciso algum tempo para substituir as placas, na câmara escura. Foram feitas várias experiencias
para manter o colódio activo durante mais tempo mas rapidamente surge um processo novo: a gelatina.

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

A Gelatina e a Celulóide

Em 1871, Richard Maddox (1816-1902), um fotógrafo e físico, sugere num artigo no British Journal
of Photography, que se pode sensibilizar uma placa com uma mistura de brometo de cadmio e nitrato
de prata numa solução de gelatina, uma substancia transparente usada para fazer doces. Este processo
é depois aperfeiçoado e desenvolvido por Charles Bennett, John Burgess e Richard Kennet. Que
comercializam as placas de gelatina seca, em grande escala.

Antes de 1871, na Grande Exposição de Londres de 1862, é divulgada a Parkesine, a primeira versão
do plástico. Desenvolvida pelo inventor e químico Alexander Parkes que já era conhecido pelas suas
inovações e pesquisas na borracha. A Parkesine foi a base para o primeiro plástico, que se obteve
quimicamente, através da mistura do óleo de rícino com clorofórmio. Este primeiro material conduziu
passados alguns anos, ao desenvolvimento do primeiro plástico sintético: a celulóide que serviria de
suporte para a gelatina.

John Carbutt, um fotógrafo inglês a viver nos Estados Unidos, convenceu a Eastman & Co., uma
fabricante de celulóide, a fabricar uma película suficientemente fina para receber uma solução de
gelatina e capaz de se conseguir enrolar num rolo sem partir.

Em 1888 a Eastman & Co. Produz uma película feita com nitrato de celulóide, mais fina e transparente
e comercializa-a em grande escala. Em 1902 a Eastman & Co, produzia 85% da produção mundial de
celulóide.

Em 1888 a Kodak produz a primeira máquina fotográfica de rolo. Que depois era mandado revelar na
fábrica em Rochester.

Entre 1873 e 1906 consegue-se aumentar a sensibilidade para captar gamas maiores de radiações
actínicas, submetendo a película a um banho de anilina, mais tarde as emulsões ganham sensiblidade a
todas as cores.

O processo fotográfico de película actual, teve poucas alterações no seu processo base. A fotografia
analógica foi a impulsionadora do cinema além da importância para outras áreas como a topografia, a
medicina, as aplicações militares etc.

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Síntese Histórica dos Processos Fotográficos

Referências:

Bauret, Gabriel (2010). A Fotografia – História, Estilos, Tendências, Aplicações. Setenta: Lisboa
Borges, M. Eliza (2003). História & Fotografia. Autentica: Belo Horizonte
Crawford, William (1979). The Keepers of Light – A history and working guide to early photographic
processes. Morgan & Morgan: New York
Fotografia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-01-18].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$fotografia-(tecnica)>.
Frisius, Reiner (1545). Camera Obscura. In The Art of Photography [Consult. 2011-01-06] Disponivel
na www: <URL: http://theartofphotography1.blogspot.com/2009/07/camera-
obscura-pre-history-of.html
Kossoy, Boris(2001). Fotografía e Historia. La Marca: Buenos Aires
Niepce, Nicéphore (1822) Fotografias. Musée Nicéphore Niepce. Chalon sur Saône

Parkes, Alexander. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-01-17].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$alexander-parkes>.
Sontag, Susan (1979). La Photographie. Seril: Paris

Wickipedia [Consult. 2011-01-06] Disponivel na www: < URL: http://www.wickipedia.com/pt>.

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