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PRODUÇÃO

AUDIOVISUAL

Adriano Miranda Vasconcellos de Jesus


Fotografia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a história da fotografia.


 Listar os tipos de fotografia.
 Relacionar a fotografia à comunicação.

Introdução
O advento da fotografia resultou de insistentes pesquisas científicas. Para
que ela surgisse, foram necessários conhecimentos de química e física,
aliados a muita criatividade e ao anseio por registrar imagens. Neste
capítulo, você vai conhecer os pioneiros da fotografia e verificar como
as suas invenções modificaram a forma de as pessoas verem e obterem
conhecimento por meio da imagem.
Além disso, para que você se familiarize com o universo fotográfico e
as diversas possibilidades de atuação e expressão que ele oferece, você vai
conferir diferentes tipos e usos da fotografia no mundo contemporâneo.
Por fim, você vai estudar a relação da fotografia com duas importantes
áreas da comunicação: o jornalismo e a publicidade.

A história da fotografia
A invenção da fotografia alterou a percepção das pessoas sobre o seu próprio
tempo, sobre lugares longínquos, sobre elementos distantes no espaço e tam-
bém sobre a imagem microscópica. Assim, conhecer a história da fotografia
é compreender como uma tecnologia foi capaz de modificar a estética e a
percepção humanas. A história da fotografia é a base para futuras invenções,
como o cinema, a televisão e os meios digitais atuais.
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Câmara escura
A origem da câmara escura é desconhecida. Alguns dizem que os chineses
foram os primeiros a usar uma projeção em uma sala escura. Há também quem
diga que o filósofo Aristóteles teria observado o efeito da câmara escura no
apogeu do pensamento grego, ainda na Antiguidade Clássica.
O primeiro registro da câmara escura é datado do século XVI e foi descrito
pelo cientista italiano Giambattista della Porta. Em seu estudo, ele descreve
a utilização de uma câmara escura com uma lente. A ideia logo foi absorvida
por pintores italianos em sua busca por potencializar o realismo; a projeção
das imagens poderia ir além das habilidades e do talento do artista. O efeito
da projeção interna em ambientes gerado pela câmara escura foi retomado
recentemente no trabalho do fotógrafo Abelardo Morell. Na Figura 1, a seguir,
você pode ver os componentes de uma câmara escura.

Figura 1. Câmara escura.


Fonte: Adaptado de Designua/Shutterstock.

Os inventores da fotografia
Em 1727, o professor de anatomia alemão Johann Heinrich Schulze apresentou
evidências científicas de que o escurecimento do sal de prata era causado pela
luz, não pelo calor. O escurecimento da prata era um fenômeno conhecido
desde o século XVI, porém, ao utilizar a luz solar para fixar a imagem, Schulze
deu um primeiro e importante passo para a invenção da fotografia. Devido a
ele, constatou-se que os átomos da prata geram a formação de compostos e
cristais que reagem de forma sensível e controlável à energia luminosa.
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Mais avanços foram feitos por um jovem inventor francês chamado Ni-
céphore Niépce, interessado em experiências ópticas e químicas. Niépce
buscava em suas pesquisas um método automático (sem intervenção humana)
de copiar um desenho a traço nas pedras de litografia. Niépce utilizava uma
solução química denominada “betume da Judeia”, que possui a propriedade
de endurecer com a exposição à luz. Assim, as partes protegidas pelo traço do
desenho ainda continuavam solúveis; ao lavar a chapa, era possível remover o
betume solúvel, criando uma imagem em negativo. Dessa forma, uma espécie
de carimbo era feito a partir de um desenho. Niépce chamou esse novo processo
de heliogravura (o termo grego helios significa “sol”).
Na sequência, o jovem inventor decidiu implementar a câmara escura nesse
mesmo processo, substituindo a reprodução de um desenho pela realidade.
Assim, ao final de 1826, colocou uma de suas chapas revestidas de betume no
interior de uma câmara escura. Em 1827, Niépce apontou a sua câmera para o
quintal de sua casa em Gras, no sul da França. A exposição durou oito horas,
registrando toda a movimentação do Sol. Essa foi a primeira imagem registrada
sem a intervenção mecânica; o resultado foi uma imagem impossível de ser
vista. Porém, era apenas o início do trabalho. Niépce tentou utilizar diversos
outros materiais sensíveis à luz e divulgou as suas descobertas nos circuitos
científicos franceses.
Em outro lugar da França, trabalhava Louis-Jacques-Mandé Daguerre, um
empresário do entretenimento e criador de espetáculos de ilusão. Ele criou, por
exemplo, o diorama, que reunía grandes audiências ávidas por experiências visu-
ais em pequenos salões parisienses. O diorama era um espetáculo moderno, com
pouca necessidade de material humano, em que se exibiam pinturas em grandes
proporções de cenas históricas e lugares famosos. Com uma troca de iluminação,
um efeito de alteração da imagem era acompanhado de sons e intensificado por
atores propositalmente posicionados para dar a ilusão de movimento.
Ao ter conhecimento da invenção de Niépce, Daguerre enviou a ele uma
carta mostrando interesse em gravar imagens. No mesmo ano, eles se encon-
traram pela primeira vez: Niépce, com 64 anos, e Daguerre, 22 anos mais
jovem, sem conhecimento algum em ciência, mas um pintor e cenógrafo
talentoso. Os dois trocaram correspondências nos quatro anos seguintes,
compartilhando experiências. Niépce faleceu em 1833 e Daguerre continuou
o desenvolvimento do novo processo fotográfico. Em 7 de janeiro de 1839, ele
apresentou na Academia Francesa de Ciências o daguerreótipo, recebido com
espanto. Esse momento marcou o início do que você conhece por fotografia.
Daguerre havia solucionado um dos maiores desafios da ciência, que era
fixar uma imagem de maneira permanente e com a qualidade de uma pintura
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realista. O sistema do daguerreótipo é muito diferente do utilizado atualmente,


porém conhecê-lo dá ideia do longo processo químico e físico envolvido na
invenção. O daguerreótipo tem como base uma chapa de cobre que é revestida
com uma fina camada de prata, polida até ficar como uma espécie de espelho.
A sensibilização da chapa é obtida ao se colocar a face de prata voltada para
baixo sobre um recipiente com cristais de iodo. Nesse recipiente fechado, o
vapor do iodo reage com a prata e assim forma o iodeto de prata, que é um
elemento controlável e com sensibilidade à luz.
Essa chapa era inserida na câmara escura e permanecia sem nenhum
contato com a luz. Ao se abrir o controle de entrada de luz (obturador), a placa
gravava a imagem, uma alteração invisível para o olho humano. A chapa era
retirada da câmara escura e colocava-se a placa, com a face de prata para
baixo, em outro recipiente, agora com um fundo com vapor de mercúrio, que,
ao ser aquecido, reagia com os grãos expostos de iodeto de prata. Assim, em
todas as áreas atingidas pela luz, o mercúrio formava um amálgama (uma
liga) com a prata. As junções nas ligas de prata produziam áreas de brilho
intenso. Nas áreas não atingidas pela luz, não se gerava o amálgama; assim,
o iodeto permanecia inalterado, passível de ser eliminado com um fixador
de tiossulfato, com aparência preta, formando as áreas escuras da imagem.
Observe, na Figura 2, Daguerre e a sua invenção.

Figura 2. Louis Daguerre e uma ilustração do daguerreótipo.


Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.
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A qualidade do daguerreótipo é notável até os dias de hoje (Figura 3).


A impressão que se tem ao observá-lo é de que se trata de um espelho que
preservou a imagem reproduzida, pois as áreas do iodeto mantêm a sua pro-
priedade reflexiva. Outra percepção é a de que a imagem fica literalmente em
baixo-relevo, gerado pelo mercúrio. São várias graduações do mercúrio que
geram amálgama com a prata, criando uma escala de cinza quase infinita.
Os tons de preto de um daguerreótipo são intensos, pois é apenas a placa de
prata polida que, vista de determinado ângulo, não reflete luz.

Figura 3. Imagem de um daguerreótipo de 1840.


Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.

Na Inglaterra, 18 dias depois de o daguerreótipo ser levado a público,


William Henry Fox Talbot (Figura 4) apresentou, na Royal Institution of
Great Britain, um sistema fotográfico que permitia realizar cópias a partir
de um negativo. Talbot utilizava há muito tempo a câmara escura em seus
croquis e ilustrações. A sua experiência consistia em sensibilizar um papel (de
gramatura fina) em uma solução de água e sal de cozinha. Após o papel secar,
ele distribuía sobre a superfície uma solução com nitrato de prata e repetia
várias vezes esse processo. Ele utilizava o mesmo fixador que Daguerre, o
tiossulfato de sódio.
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Após vários testes com silhuetas humanas e folhas, Talbot resolveu inserir
essa folha com emulsão em uma câmara escura. Assim, ele gerou uma ima-
gem em negativo, que, pelo processo de cópia-contato, gerou uma imagem
positiva. Esse processo poderia ser repetido criando cópias a partir de um
mesmo negativo. Em junho 1840, Talbot anunciou esse avanço revolucionário
da reprodutibilidade da imagem a partir de uma técnica. Chamou-o de
calotipia (kalos, termo grego, significa “beleza”, enquanto typos significa
“impressão”).

Figura 4. Fotografia de William Henry Fox Talbot.


Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.

A questão da opção entre o daguerreótipo e o calótipo se manteve durante


toda a evolução da imagem fotográfica. A diferença está na escolha entre a
qualidade extraordinária da imagem do daguerreótipo e a possibilidade de
reprodução do calótipo. Ou seja, está em jogo a escolha entre a qualidade e
o poder de alcance da imagem. Esse duelo iria ser pauta novamente com o
surgimento da imagem digital: câmeras com qualidade inferior, ou nas versões
mobile (celular), são as mais vendidas pela possibilidade de compartilhamento
e reprodução, em detrimento da busca da qualidade.
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A partir de 1880, duas inovações na área da fotografia permitiram produzir


uma chapa seca com alta sensibilidade à luz. Elas eliminaram as chapas de
vidros, os papéis com emulsão, os materiais com ovo, entre outros recursos
rudimentares. A primeira emulsão com base gelatinosa que mantinha a sua
sensibilidade mesmo após secar e ser aplicada em um suporte flexível pos-
sibilitou o surgimento do filme fotográfico em rolo, que revolucionou o
processo fotográfico.
O grande inventor que teve como mérito inserir a fotografia no cotidiano
das pessoas e, portanto, popularizar o seu uso foi George Eastman. A sua
invenção se baseou no uso do equipamento fotográfico, que deveria deixar de
ser artesanal, com processos complicados. Assim, ele criou o rolo de filme,
baseado na emulsão de gelatina e brometo de prata. Mas a inovação não foi
apenas o rolo de filme. O interessante foi a produção desse material em escala
industrial, tornando-se comercializável e acessível aos fotógrafos amadores
ou inexperientes. Para dar suporte ao filme, Eastman produziu uma câmera
barata, simples de operar e leve para carregar. Com isso, em junho de 1888,
criou a Kodak, inaugurando uma nova e revolucionária fase da fotografia.
Observe a Figura 5, a seguir.

Figura 5. Câmera Brownie da Kodak, de 1900.


Fonte: Margoe Edwards/Shutterstock.com.

A Brownie foi uma câmera cuja propaganda era voltada para o público
infantil: um menino ou uma menina em idade escolar poderia operá-la. O
icônico slogan da Kodak dizia assim: “Você aperta o botão, nós fazemos o
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resto”. A ideia era que o fotógrafo amador, após utilizar o filme, retirasse-o da
câmera como uma espécie de cartucho e o enviasse para a cidade de Rochester,
um distrito industrial no estado de Nova Iorque. Ali, os filmes eram revelados
e enviados para o fotógrafo junto com um novo rolo de fotos.
Na história da fotografia, destaca-se ainda o fotógrafo francês Hercules
Florence, que conduziu uma série de experimentos de registros de imagens
no Brasil em 1833. A ele é creditada a criação do termo “fotografia” (pho-
tographie). Em 1833, Florence trabalhou com papel sensibilizado com sais
de prata para produzir impressões de desenhos; ele chamou esse processo de
“fotografia”. No entanto, desde que conduziu seus experimentos no Brasil e
em grandes centros científicos da época, suas contribuições foram perdidas;
elas só foram redescobertas em 1973. O processo de Florence era, a princípio,
semelhante ao de Talbot, e o seu uso consistia em copiar documentos e criar
um papel inimitável, com o intuito de evitar fraudes e falsificações.

Tipos e usos da fotografia contemporânea


A seguir, você vai conhecer diversas possibilidades de uso da fotografia no
mundo contemporâneo, além de diferentes tipos de imagens.
Abstrata: é um método de fotografia considerado uma forma artística de
criar imagens. Expressa ideias, conceitos e emoções com uma imagem foto-
gráfica. A intenção do fotógrafo não é criar uma foto tradicional ou realista.
O espectador vê apenas representações de um objeto, cena, uma combinação
de coisas ou elementos. O objetivo é instigar a sua imaginação.
Aérea/drone: desde 1840, fotógrafos como Félix Nadar realizavam fotos
aéreas e impressionavam o público com a visão de um pássaro. Com o advento
dos drones, as imagens aéreas tornaram-se populares e criaram um segmento
comercial próprio, sendo utilizadas por empresas, gestores públicos, urbanistas,
entre outros.
Analógica: a utilização de filme fotográfico em fotos tornou-se um tipo
de fotografia a partir da revolução do mercado digital. No entanto, trabalhar
com filmes não é apenas uma excelente maneira de se certificar de que você
conhece as exposições por dentro e por fora; é também um modo de se assegurar
de que cada imagem seja pensada e contada. Você não vê as imagens até mais
tarde, o que o força a se tornar mais confiante e a fazer escolhas para as suas
composições considerando cada momento e cada exposição.
Arquitetura: é um ramo da fotografia com fins comerciais, editoriais
e artísticos. A imagem de prédios, casas e outras estruturas arquitetônicas
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deve considerar um planejamento visual. Nesse sentido, você deve pensar se


utilizará lentes para corrigir distorções de perspectivas ou se fará ajustes de
profundidade. O conceito deve ser coerente com a proposta arquitetônica e
realçar os aspectos essenciais da obra.
Astronômica: esse tipo de fotografia tem como tema os objetos astro-
nômicos. A ideia é capturar imagens para além da Terra. Os fotógrafos de
astronomia geralmente usam um telescópio e técnicas que lhes permitem
fotografar temas como a Lua, os planetas, as estrelas e a Via Láctea. Esse tipo
de fotografia é usado para prazer pessoal, ciência e mídia.
Aventura: a fotografia de aventura ou ação é criada por seus participantes.
É o ponto de vista subjetivo que torna as imagens interessantes. Esse tipo de
fotografia normalmente mostra a emoção da aventura com momentos de tirar o
fôlego. São imagens de escalada, snowboard, rafting, ciclismo ou caminhadas
radicais. Esse tipo de fotografia é usado em blogs, publicidade, revistas de
aventura e vida selvagem, além de ser disponibilizado em bancos de imagens.
Banco de imagens: fotógrafos de bancos de imagens vendem e cedem os
direitos de suas fotografias para empresas publicitárias e de conteúdo, que
criam seus materiais a partir delas. Geralmente, são fotógrafos freelancers
que gerenciam suas vendas e criam imagens conforme a demanda.
Books: as imagens produzidas para um book devem realçar a modelo
retratada e o seu comportamento. Os books são amplamente utilizados no
mercado da moda, porém o seu uso foi ampliado para a fotografia social,
com variações de books de 15 anos, infantis, entre outros. O fotógrafo deve
compreender qual é a intenção do retratado e produzir imagens que sugiram
um editorial de moda ou um comportamento.
Boudoir: o termo boudoir é originário do francês e refere-se a um quarto
para se arrumar e vestir-se. No contexto da fotografia, boudoir é um ensaio
fotográfico que valoriza a beleza feminina em modelos profissionais ou ama-
doras. A ambientação geralmente é intimista, visando ao conforto das modelos.
Casamento: o casamento ainda é uma das principais fontes de ganho para
os fotógrafos no Brasil. Atualmente, a fotografia é um elemento orçado em
conjunto com a festa, o buffet e o vestido; ou seja, é um elemento indispensável
para os noivos. Por isso, o mercado é concorrido e os fotógrafos devem buscar
elementos inovadores para surpreender os clientes. É possível apostar, por
exemplo, em ensaios na água, no topo de montanhas, entre várias estratégias
para obter uma imagem memorável para o casal.
Celular/mobile: atualmente, há fotógrafos especializados em criar imagens
usando o telefone e os aplicativos de criação (apps) disponíveis. Na maioria
dos casos, a fotografia por telefone com câmera serve para uso pessoal ou em
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redes sociais. Porém, as lentes dos telefones com câmera melhoram a cada
lançamento e, em alguns casos, rivalizam com câmeras Digital Single-Lens
Reflex (DSLR) ou mirrorless.
Científica: pesquisadores utilizam a imagem para obter resultados cien-
tíficos. Há diversos concursos de fotografia científica para a divulgação da
ciência. A imagem é utilizada nas áreas biológica, médica, farmacêutica,
sociológica, entre outras.
Cityscape: é uma fotografia de paisagem urbana que realça as formas
arquitetônicas e urbanísticas. São imagens utilizadas para contextualizar e
apresentar cidades. Geralmente, são imagens áreas ou de pontos altos, de onde
seja possível se orientar pelo horizonte. Visões noturnas da cidade são muito
utilizadas, especialmente as que valorizam os efeitos da luz.
Comida/alimentos: a fotografia de alimentos é uma tendência nas re-
des sociais. Afinal, a área gastronômica está em alta, com a valorização de
restaurantes e chefes de cozinha. Assim, a imagem é estratégica para esses
profissionais. O fotógrafo deve garantir que o prato pareça saboroso, pensar
em uma luz que crie um clima, inserir adereços externos, cuidar de talheres
e acessórios. Além disso, precisa manter o alimento sem derreter, esfriar, etc.
Decoração e design de interiores: a decoração e o design de interiores
dependem de imagens para apresentar aos clientes o resultado do trabalho. O
fotógrafo deve ter sensibilidade para criar ambientes bem iluminados e que
valorizem o trabalho do decorador. Em muitos casos, o fotógrafo trabalha em
conjunto com o decorador para criar os ambientes e pensar na imagem final.
Editorial: um ensaio editorial geralmente é utilizado no segmento da
moda, buscando destacar um conjunto de peças a partir de um tema único. No
ensaio editorial, o destaque não deve ser nem o fotógrafo, nem a modelo, mas
os produtos e o seu contexto. Essas fotografias são utilizads em publicações
e diversos contextos editoriais.
Espetáculos (teatro, dança, música): para trabalhar nessa área, o fotógrafo
deve ter familiariedade com a arte, conhecer música, teatro e espetáculos de
dança, a fim de compreender o que é importante retratar. O momento exato
de um salto de uma bailarina, um solo de trompete em uma orquestra e um
monólogo de um ator são eventos importantes aos quais o fotógrafo deve
estar atento.
Esportes: a fotografia esportiva é uma imagem de ação inserida na área
do fotojornalismo. Porém, existem trabalhos esportivos voltados à área de
marketing e ao setor documental. Conforme o esporte, exige-se um equipa-
mento que consiga capturar e congelar a imagem utilizando altas velocidades
do obturador.
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Etnográfica: a princípio, a fotografia etnográfica é uma metodologia


utilizada pelos antropólogos para registrar um estilo de vida de um povo e
os aspectos essenciais de uma cultura visual. É uma ferramenta de estudo
científico que serve para o registro e a documentação cultural, visando prio-
ritariamente à definição e à proteção de hábitos e costumes.
Eventos/fotografia social: os fotógrafos sociais são responsáveis pela
cobertura de eventos como casamentos, inaugurações e festas sociais. Se houver
uma reunião de pessoas por um motivo especial, então um fotógrafo de even-
tos é frequentemente designado ou contratado para capturar as festividades.
Empresas usam fotógrafos de eventos para relações públicas, documentação
e comunicações internas.
Família: as imagens de família são geralmente registradas por seus mem-
bros. Porém, um ramo fotográfico em expansão é o do fotógrafo de família,
que retrata o estilo de vida da família, acompanha a evolução dos bebês ou da
gravidez. Esse tipo de fotografia é utilizado em conjunto com a fotografia social.
Fine art/artística/conceitual: a fine art é uma fotografia que valoriza a
visão criativa do fotógrafo. A fotografia artística muitas vezes não captura
o mundo como ele é: o artista cria imagens que primeiro se formam em sua
mente. Assim, ele usa fotografias ou elementos da fotografia para demonstrar ou
exibir a sua visão. Os artistas criativos criam imagens com e sem manipulação
para contar uma história, evocar um sentimento ou fazer uma declaração. A
fotografia artística é criada para o prazer pessoal, a exibição e/ou a venda.
Fotodocumentário: um projeto de fotodocumentário difere do fotojornalismo
pois parte de um planejamento antecipado e de um estudo sobre como contar
uma história. A intenção de um documentarista fotográfico é revelar um lado
invisível de dada história. As imagens documentais fornecem uma melhor com-
preensão de um fato e são mais aprofundadas do que o fotojornalismo cotidiano.
Golden hour/pôr do Sol e nascer do Sol: fotografar o Sol é um desafio de
fotometria, pois o ambiente está escuro e o Sol começa a brilhar. O truque geral
para esse tipo de fotografia é definir o seu ISO para pouca luz e estabilizar a
sua câmera. Depois de verificar e decidir a sua localização, certifique-se de
bloquear o seu ponto focal e ajustar o tempo da sua foto (antes, durante ou
depois do nascer do Sol).
Guerra: é um ramo do fotojornalismo e do fotodocumentário. Os fotó-
grafos são frequentemente fotojornalistas enviados para contar a história de
um conflito para uma ou algumas publicações ou meios de comunicação.
Essa é uma das formas mais perigosas de fotografia; é utilizada para mídia,
livros históricos, documentação e arquivos do governo. Robert Capa é um dos
icônicos fotógrafos de guerra.
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High Dynamic Rage (HDR): as imagens em HDR combinam a diferença


de iluminação de várias imagens, utilizando versões mais claras e mais escu-
ras da mesma foto para criar uma imagem esteticamente agradável e de alto
contraste. A foto HDR depende de várias fotografias do mesmo objeto e do
seu enquadramento em diferentes exposições; em seguida, as imagens são
mescladas por meio de um software.
High key: a técnica de utilizar uma grande quantidade de luz “estourando”
o objeto principal é comum em importantes revistas de moda e em editoriais.
Na técnica de high key, a grande massa luminosa torna o tema fotografado
nítido e com contornos definidos, eliminando todas as sombras com aparência
de ilustração.
Imobiliária: é um ramo da fotografia em expansão. As imagens de imóveis
são utilizadas para comercialização e finalidades editoriais. Para produzir
imagens que mostram o interior de imóveis a serem comercializados são neces-
sários equipamentos de iluminação e, em muitos casos, lentes grande-angulares.
Industrial: as imagens dos ambientes industriais, o registro do processo
de produção e a documentação do trabalho constituem uma área da fotografia
com diversas utilidades. Há uma preocupação com a segurança do fotógrafo,
pois geralmente ele fotografa em ambientes com risco, daí a utilização de
drones atualmente. Há um desafio quanto à iluminação: para mostrar grandes
espaços de trabalho, o fotógrafo deve utilizar diversas técnicas combinadas
com uma variedade de lentes.
Infravermelha: a luz infravermelha é uma luz que fica além do espectro
visível humano. Em outras palavras, é uma luz que o olho humano não pode
ver. Por isso, fotografá-la requer filmes ou câmeras equipados com dispositivo
de captura de imagens em infravermelho. Cores, texturas, folhas, peles e outros
elementos refletem essa luz de maneira única. A tecnologia de fotografias
infravermelhas foi desenvolvida para usos militares, mas é utilizada por
artistas que deram novos significados às alterações de cores. Fotógrafos como
Bradley G. Munkowitz e Tracy Arm recorem a essa técnica.
Light painting: a fotografia de pintura de luz (light painting) é frequente-
mente descrita como faixas de luz captadas por meio de uma longa exposição.
No entanto, a pintura de luz inclui a técnica de capturar várias imagens indivi-
duais de um mesmo tema usando fontes de luz singulares em cada configuração
e, em seguida, agrupando cada imagem em uma foto com iluminação artística.
Lomo/lomografia: esse é um gênero especial de fotografia em que as
imagens são produzidas em equipamentos simples, geralmente câmeras au-
tomáticas analógicas de baixo custo. O nome é originário das câmeras russas
Lomo Kompakt, dos anos 1980. Elas eram conhecidas pela sua lente desfocada
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e suas aberrações cromáticas. A partir dos anos 1990, jovens começaram a


utilizar esses equipamentos de forma intuitiva e espontânea, sem se preocupar
com regras de composição e com a valorização do objeto fotografado.
Longa exposição: imagens que representem a dimensão do tempo são
obtidas com o ajuste de velocidade lenta do obturador. É necessário que a
câmera esteja estável, de preferência em um tripé. A foto exibe um borrão
consistente (por exemplo, um risco dos faróis de um carro), criando uma
sensação de movimento e de passagem de tempo.
Low key: trata-se de uma técnica de iluminação fotográfica que se trans-
formou em um estilo. Utilizando apenas uma luz, como chave, e um alto
contraste, as imagens em low key valorizam as sombras nítidas e dão destaque
às formas. Esse tipo de fotografia é amplamente utilizado em publicidade,
especialmente em campanhas de produtos do segmento de luxo, como per-
fumes, joias e acessórios.
Macro: a fotografia macro consiste em imagens microscópicas fotografadas
com uma lente macroangular, ou seja, de ampliação. Há uma série de equipa-
mentos voltados para essa área. A utilização pode envolver desde uma imagem
de um inseto para uma pesquisa até imagens para ilustrar livros e revistas.
Medicina/odontologia: o registro fotográfico de procedimentos médicos
e hospitalares é geralmente realizado por médicos ou fotógrafos com conheci-
mento especializado. As imagens são utilizadas para estudos, para determinar
padrões procedimentais ou até um padrão de qualidade.
Minimalista: é o segmento da fotografia que utiliza o mínimo de elementos
em uma imagem. É uma técnica que se tornou um estilo fotográfico muito
utilizado em capas de revistas e livros, bem como em embalagens e outros
segmentos comerciais. Pode-se dizer que é um estilo que induz a atenção
visual aos detalhes apresentados sem distrações.
Moda: a fotografia de moda se concentra em roupas, estilo e acessórios.
Os fotógrafos de moda criam imagens usando modelos ou conjuntos comer-
ciais. As imagens são utilizadas por designers, corporações, revistas, para
marketing e publicidade.
Montagem: as montagens ganharam aceitação como uma área da fotografia
desde as fotomontagens da Bauhaus, escola de arte de vanguarda alemã. Atu-
almente, o processo é digital e utiliza softwares de manipulação de imagens,
de modo que é possível processar centenas de fotografias, fundi-las, alterá-las
e compor montagens criativas.
Motion blur: as imagens tiradas com o desfoque de movimento exibem
traços, pistas e marcas de um objeto em movimento capturado durante uma
única exposição, devido ao movimento rápido do objeto ou à exposição pro-
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longada. Outro método para criar uma impressão de movimento é mover a


câmera em velocidades de obturador variadas. Outras técnicas incluem girar
a câmera e movê-la para frente ou para trás.
Newborn: trata-se de um ensaio fotográfico dos primeiros dias de um bebê,
normalmente até o 15º dia. Esse tipo de fotografia depende de uma produção de
cenários, roupinhas e acessórios. Normalmente, o bebê é colocado em poses,
dormindo ou acordado. Trabalhar nessa área depende de uma habilidade de
lidar com recém-nascidos. Esse estilo fotográfico ficou famoso pela fotógrafa
Anne Geddes, que fotografa crianças em cenários inusitados.
Panorâmica: a fotografia panorâmica captura imagens de formato amplo,
juntando diversas imagens fotografadas em sequência. As fotografias panorâ-
micas não são limitadas a paisagens. Elas dependem de configurar a câmera
em um tripé e travá-la em uma posição horizontal ou vertical nivelada antes de
inclinar ou efetuar o movimento panorâmico para capturar as várias exposições
que mais tarde precisarão se sobrepor. Caso você utilize um smartphone, há
uma guia de auxílio do movimento da imagem panorâmica.
Paisagem: a paisagem sempre foi um tema presente na fotografia. O fo-
tógrafo Ansel Adams consolidou sua carreira com paisagens de parques
ecológicos norte-americanos, por exemplo. São recorrentes as imagens de
montanhas, rios, florestas, entre outros elementos naturais. É necessário um
grande conhecimento de fotometria e iluminação natural.
Passado e presente: o recurso de comparar uma imagem do passado com
uma imagem do presente se potencializou com o uso da manipulação digital e
das redes sociais. A ideia é que o fotógrafo recrie uma fotografia antiga usando
elementos-chave de localização para mostrar as diferenças entre o presente e
o passado. Esse é um recurso fotográfico que pode ter usos no fotojornalismo,
em fotodocumentários, entre outros.
Pássaros: o desafio de capturar pássaros é humanizá-los, tornando os
seus olhos visíveis e capturando-os em pleno voo. Trata-se de um exercício
de paciência. Os equipamentos devem ter lentes teleobjetivas (zoom) de 90
até 600 mm. É necessário conhecer as aves e as possibilidades da região.
Além disso, o fotógrafo deve antecipar o comportamento das aves e escolher
o horário certo, além de pensar na composição.
Paparazzi: é o nome que se utiliza para designar fotógrafos independentes
que buscam flagrantes e imagens de celebridades como atores, políticos e
atletas. Tais imagens alimentam sites, portais de notícias e fofocas. Geral-
mente, os paparazzi são conhecidos por buscar cenas inusitadas e registrar
momentos incomuns das pessoas. O nome desse tipo de fotógrafo é originário
do personagem de Walter Santesso no filme A Doce Vida, de Federico Fellini.
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Perspectiva falsa: a fotografia de perspectiva forçada (ou falsa) utiliza


uma ilusão de óptica para enganar o olho humano, que percebe que algo está
mais próximo, maior ou menor do que na realidade. Um exemplo dessa téc-
nica é quando um turista parece estar encostado na Torre inclinada de Pisa.
A distância entre o objeto e o turista é ajustada para que ambos pareçam ter
a mesma altura.
Pericial: essa é a documentação fotográfica de acidentes e cenas de crimes
para o trabalho legal ou policial. Esse tipo de fotografia requer procedimentos
adequados e a capacidade de explicar as imagens e a cena claramente em um
processo legal. A fotografia forense é usada principalmente por advogados
e governos.
Pet/animais de estimação: os animais de estimação são, atualmente,
componentes da família. Fotógrafos de pets são capazes de capturar a essência
e a personalidade do animal. Alguns fotógrafos se concentram no retrato, en-
quanto outros criam fotografias de ação. A fotografia de animais de estimação
é solicitada por indivíduos, famílias, clínicas veterinárias e pet shops, embora
existam alguns usos mais comerciais.
Pinhole: trata-se da imagem produzida por uma câmera rudimentar feita
com lata, caixa de fósforo ou caixa de sapato (entre outros objetos). A câmera
não tem lentes nem diafragma, apenas uma câmara escura, o material fotos-
sensível e a abertura por onde a luz entra. O tempo de exposição depende
de o fotógrafo abrir e fechar o orifício de entrada de luz. Essa ferramenta é
utilizada no aprendizado de fotografia e necessita de grande quantidade de
luz para gerar a imagem. O efeito impressiona pela originalidade.
Preto e branco: imagens em preto e branco remetem à tradição mais antiga
da fotografia. O uso da escala de cinza é um limitador, mas ao mesmo tempo
realça a percepção de formas. Destaca-se a utilização de contrastes e brilhos,
as formas em destaque e a distinção da realidade.
Redes sociais: a produção de fotografias para alimentar páginas de Ins-
tagram, Facebook e Twitter se tornou uma área promissora. Conforme as
exigências do público, surge a necessidade de um fotógrafo profissional,
utilizando equipamentos e lentes apropriadas. Há a estratégia de conhecer
quais imagens angariam mais seguidores e cliques.
Retratos: na fotografia de retratos, o aspecto mais importante é o foco e
a qualidade no registro da pessoa e de seu comportamento. A fotografia de
rosto depende da escolha da iluminação (natural ou artificial). A direção da
posição das pessoas é algo que deve refletir a personalidade do fotografado, e
não resultar em uma pose artificial. Você deve evitar elementos que chamem
a atenção e não informem sobre a pessoa na foto, como acessórios, camisetas
16 Fotografia

estampadas e outras formas de desviar o olhar. Atualmente, os retratos são


muito utilizados em publicações e em redes sociais. Um bom retratista deve
observar como o retratado aceita a sua imagem. Fotógrafos como Steve Mc-
Curry e Richard Avedon possuem estilos diferentes de retratos, por exemplo.
Rua: a fotografia de rua é um estilo de fotografia documental que captura
momentos cotidianos. É um estilo fotográfico fortemente influenciado por
fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Roberto Doisneau e Elliott Erwitt.
Geralmente, é uma cena flagrante ou natural de fotografia vista de forma
a criar uma sensação estética. As pessoas são os assuntos mais comuns na
fotografia de rua. Esse tipo de imagem é mais usual para fotografia artística
e publicações.
Subaquática: capturar a vida e a beleza do mundo subaquático é uma
forma de arte rara e depende de muita técnica de mergulho, equipamento e
tratamento de imagens. Além de ter uma variedade regular de iluminação
e lentes, você vai precisar de caixas e anéis para manter o seu equipamento
seguro e estanque.
Still life/produtos: a fotografia still life é melhor definida como a arte
de clicar fotos de objetos imóveis. São imagens que remetem aos retratos de
natureza-morta, com um arranjo estético e uma luz apurada. Isso forma um
amplo espectro, pois inclui vários outros gêneros de fotografia, como fotogra-
fias de flores e alimentos, além de fotos de animais e pessoas. Na publicidade,
esse estilo fotográfico é utilizado em larga escala para fotografar produtos.
Tilt-shift: é a técnica que consiste no deslocamento da objetiva para alterar a
profundidade de campo. O efeito visual produzido nas fotografias transformam
paisagens em “miniaturas”; essa é outra técnica que muda a perspectiva do
espectador e cria a ilusão de profundidade de campo. Muitas vezes, usando
fotos aéreas, uma profundidade de campo é aplicada a um único ponto, o que
cria o efeito de que tudo na imagem é muito menor do que parece.
Time-lapse: a fotografia time-lapse é obtida por meio de várias imagens
feitas ao longo do tempo. A ideia é registrar ou demonstrar as mudanças de
um local ou o crescimento de uma planta, por exemplo. Esse tipo de fotografia
é comum para imagens estáticas e de vídeo. A fotografia com lapso de tempo
é usada para vídeo, marketing, ciência e documentação.
Veículos: a fotografia de carros e veículos é um estilo popular que pode ser
utilizado por hobbie ou profissionalmente. É importante definir a velocidade
do obturador no intervalo recomendado de 1/125 de segundo para fotografar
veículos em movimento. Também é importante evitar reflexos e evitar foto-
grafar com a luz intensa do meio-dia. Se o carro for o seu tema, lembre-se
de considerar como o ambiente o enquadra e acrescenta interesse à sua foto.
Fotografia 17

Viagem: mostrar lugares nunca antes vistos é a essência do fotógrafo


desde o início da portabilidade das câmeras e dos laboratórios fotográficos,
no século XIX. Esses fotógrafos geralmente fotografam a sua localização
para documentar ou contar uma história visual de suas viagens. Fotógrafos
de viagens fotografam a paisagem, as pessoas, os animais, os aspectos cul-
turais, os eventos e os costumes. Eles vendem as suas imagens para agências
de estoque, revistas, empresas associadas ao local e para o mercado da arte.
Vida selvagem/animais: esse tipo de fotografia implica a criação de ima-
gens de animais na natureza. O foco é a exibição de animais em seu ambiente
natural, sem a intervenção humana. Capturar imagens de alta qualidade em
ambientes naturais requer muita paciência e uma sensibilidade que permita
que você identifique o momento certo de clicar.

Desde 2014, tramita no Brasil um projeto de lei que visa a regulamentar a profissão do
fotógrafo. Há um intenso debate sobre a exigência de diploma e de cursos técnicos.
Outro ponto muito discutido no projeto e polêmico para os fotógrafos é delimitar o
que compreende a atividade do profissional da fotografia. Os repórteres fotográficos
a serviço de empresas jornalísticas já possuem regulamentação (BRASIL, 1969).

Comunicação por meio de imagens:


o fotojornalismo e a fotografia publicitária
A comunicação é o processo de partilhar algo, tornar algo comum. Nesse
sentido, é um fenômeno inerente à vida. Por meio da comunicação, o ser
humano sobrevive no mundo, cria imaginários, conta histórias e desenvolve
crenças que partilha. A princípio, para haver comunicação, são necessários
um emissor e um receptor da mensagem, capaz de decodificá-la e reconstruir
o que o emissor pensou ao comunicar. Na linguagem cotidiana, há o suporte
verbal (palavras e estruturas lexicais) e o não verbal (gestos, símbolos, ima-
gens, entre outros).
Ao considerar o uso da fotografia na comunicação, você deve compreender a
função desse meio, bem como os efeitos perceptivos e cognitivos que ele causa
no receptor. A fotografia não é meramente uma ilustração de algo, mas possui
um papel fundamental na comunicação; ela informa, registra, documenta,
18 Fotografia

explicita e gera percepções. Por isso, não se deve compreendê-la como um


“espelho do real”, como era tendência no final do século XIX. A fotografia
também não é simplesmente a alteração do real, uma simplificação e uma
distorção da realidade. Na verdade, ao mesmo tempo em que apresenta a sua
imagem, a fotografia possui um vínculo com o objeto real (DUBOIS, 1993).
Duas áreas são prioritárias para você conhecer a aplicação da fotografia
na comunicação: o fotojornalismo e a fotografia publicitária. A seguir, você
vai conhecer melhor cada área e ver como a fotografia se insere nelas.

Fotojornalismo
A principal função da imagem no fotojornalismo é informar o público e, con-
sequentemente, “[...] mostrar, revelar, expor, denunciar e opinar [...]” (SOUSA,
2004, p. 22). O fotojornalista lida com a imagem do acaso e do instante como
sua matéria-prima. Assim, a sua habilidade técnica deve ser coerente com
essa função. O fotojornalista deve ser capaz de avaliar situações e aconteci-
mentos e pensar na melhor forma de registrar uma imagem, ora por instinto,
ora por reflexo. O olhar de um fotojornalista é seletivo, sempre em busca da
oportunidades de registrar um acontecimento.
A inserção da fotografia nos jornais e revistas do século XIX não foi
pacífica e tranquila. Os editores da época argumentavam que as imagens não
se adaptariam aos costumes e padrões de credibilidade. Porém, em pouco
tempo, a imagem utilizada em veículos de imprensa como jornais e revistas
passou a ter um papel fundamental na cultura ocidental.
Sousa (2004) divide o fotojornalismo em duas vertentes. Veja a seguir.

 Sentido amplo: o fotojornalismo é a atividade de produção fotográfica


informativa, interpretativa, documental e ilustrativa que dá suporte ao
fato noticioso e atual narrado pela imprensa. Assim, toda fotografia
utilizada intencionalmente para noticiar algo pode se tornar um registro
de um acontecimento, independentemente do produto editorial (revista,
fotodocumentário, etc.).
 Sentido restrito: o fotojornalismo é a atividade que visa a informar,
contextualizar, esclarecer e definir pontos de vista por meio do registro
fotográfico de acontecimentos.

Há, nesse sentido, uma diferença prática entre o fotojornalista e o docu-


mentarista fotográfico. Enquanto o fotojornalista raramente sabe o que vai
fotografar, utilizando a pauta fornecida por repórteres e editores, o fotodo-
Fotografia 19

cumentarista se organiza em projetos temáticos e planeja as suas imagens


para contar uma história e/ou documentar algo. A imagem fotográfica, no
fotojornalismo, pode ser utilizada como fotografia de notícias, registrando o
momento e o fato. Além disso, podem-se utilizar imagens atemporais, como
no caso do fotodocumentarismo.
Atualmente, o fotojornalismo tem se transformado devido às tecnologias
de captura de imagem presentes em celulares, câmeras de seguranças, drones,
etc. Dois questionamentos permeiam o debate acerca do fotojornalismo atual:

 quanto à forma — a importância da estética fotográfica em detrimento


da informação;
 quanto ao conteúdo — o valor da notícia ou o espetáculo das imagens.

Para compreender esse debate, considere o slogan da revista Paris Match,


criada em 1949, que se tornou icônica para o fotojornalismo: “o peso das pa-
lavras, o choque das imagens”. Seguiram esse lema os fotógrafos de revistas
nacionais como O Cruzeiro, especificamente Jean Mazon, Manchete (anos
1950 a 1980) e Realidade (anos 1960 a 1980). Nas reportagens ilustradas, a
imagem contribuía para criar o acontecimento, e não mais servia como um
suporte para o texto. Isso valorizava o fotojornalista, que passava a pensar
nas imagens como uma história sequencial.
Nesse mesmo raciocínio, a Revista Life, criada em 1936, reafirmava a ideia
do repórter fotográfico como um cronista de imagens, cuja experiência no
local dos acontecimentos trazia um testemunho real dos fatos. Nesse contexto,
a famosa frase de Robert Capa desafiava os fotojornalistas: “se sua foto não
ficou boa é porque você não chegou perto o suficiente”.
Chamadas por teóricos como Roland Barthes de fotografias-choque, as
imagens do fotojornalismo desse período produziam um impacto que atraía
o público. Essas imagens são carregadas de sentido e “[...] consiste[m] menos
em traumatizar do que em revelar aquilo que estava oculto [...]” (BARTHES,
1984, p. 55–56).
A partir dos anos 1980, surgem novas formas de utilização da imagem no
fotojornalismo, como você pode ver a seguir.

 Fotojornalismo ideológico e engajado: o fotógrafo toma um ponto de


vista e define o seu posicionamento ideológico por meio das imagens.
São muito comuns nesse período matérias cujo conteúdo é ponderado
e imparcial, e as imagens condenam e julgam o objeto da revista. Essa
característica é marcante no fotojornalismo do início dos anos 1980 em
20 Fotografia

revistas como Visão, fundada pelo grupo estadunidense Vision Inc., que,
com uma ideologia liberal, criticava o estatismo, o intervencionismo
econômico e os movimentos sindicais da época.
 Estética publicitária ou cinematográfica: nas produções jornalís-
ticas dos anos 1990, a estética se sobressaiu em detrimento do valor
noticioso. Não havia mais a imagem-choque, mas a história a partir
de um conceito estético, criticado por esvaziar o valor jornalístico. As
imagens apresentam dramas de pessoas, comovem, mas não trazem
nenhuma notícia.
 Imagem digital: nos anos 2000, as imagens feitas por meio de dispo-
sitivos digitais como câmeras de celulares de amadores e câmeras de
segurança passam a apresentar a realidade vivida diretamente, sem um
intermediário. Questiona-se o papel do repórter fotográfico e destaca-
-se a participação dos leitores. A imprensa busca uma saída com as
imagens posadas, esteticamente bem elaboradas, porém sem ação. São
chamadas de imagens-espetáculo, em uma referência aos conceitos de
Sociedade do Espetáculo, de Debord (1997, p. 14): “[...] o espetáculo
não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
mediatizada por imagens [...]”.

Para aprender mais sobre fotojornalismo, assista ao documentário franco-ítalo-brasileiro


O Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Salgado. O filme discorre sobre a vida e a
obra do fotodocumentarista brasileiro Sebastião Salgado. Lançado em 2015, o longa
é essencial para se compreender o papel do fotógrafo de conflitos e guerras e o seu
ponto de vista.

Fotografia publicitária
“Ver uma vez é melhor do que ouvir cem vezes”: esse provérbio, atribuído ao
filósofo chinês Confúcio, visa a demonstrar o poder de impacto de uma imagem.
À imagem é atribuído o caráter da instantaneidade e a possibilidade de atrair o
olhar. É nesses pilares que se apoia a utilização da imagem na área publicitária.
A imagem como um discurso de persuasão, de convencimento de uma
ideia, é utilizada desde a Idade Média, período em que as igrejas possuíam
Fotografia 21

pinturas e afrescos que narravam vidas dedicadas à fé e passagens bíblicas.


Sem dúvida, essa era uma forma de impactar fiéis que não compreendiam o
latim (língua em que eram celebradas as missas) e não sabiam ler.

As pessoas buscam nas imagens algo que lhes falta em seu ambiente físico, em seu
grupo social. Além disso, interpretar imagens faz parte da natureza humana. Os seres
humanos vivem mediados por imagens, e as mensagens publicitárias são formas
expressivas que demonstram desejos, necessidades e funcionalidades contemporâneas,
traduzindo visualmente a cultura.

O teórico de cinema Aumont (2001), em seu livro A Imagem, questiona:


“Por que se olha uma imagem?”. Com essa questão, ele indica um caminho
para se estudar a aplicação das imagens na publicidade. Primeiro, é preciso
considerar a imagem um produto pensado e elaborado para gerar um sentido
e atingir uma finalidade; uma imagem nunca é aleatória e sem sentido. As
imagens são produzidas na publicidade visando a atingir usos, costumes,
crenças individuais e coletivas.
A princípio, as pessoas olham as imagens porque querem que elas sirvam
para algo, que as orientem, que as confortem, que as choquem e que as façam
se esquecer de algo. Aumont (2001), ao pensar do ponto de vista do espectador,
define que as razões para se observar uma imagem derivam de uma noção
simbólica criada pelas pessoas para intermediar (ou, melhor, mediar) a relação
entre elas próprias, a realidade e a imagem. Com isso, Aumont (2001), baseado
na obra de Rudolf Arheim, sugere três formas de a imagem se relacionar com
o real. Veja a seguir.

 A imagem como representação: a representação implica que uma


coisa esteja no lugar de outra, ou seja, uma imagem representaria algo
concreto. Essa forma de representação baseia-se no pressuposto de
quem observar a imagem terá uma referência direta de algo concreto
e vivenciado.
 A imagem como símbolo: nesse sentido, a imagem simbólica representa
algo abstrato. Ou seja, algo externo à experiência vivida no mundo
concreto; ao se observar a imagem, o elemento abstrato é evocado
22 Fotografia

imediatamente. Há certo vínculo da imagem com algo que o elemento


abstrato evoca. Como exemplo, considere uma imagem que evoca o
sentimento da maternidade, do amor ou do ódio.
 A imagem com valor de signo: a imagem, nesse caso, representa
algo que não possui nenhum vínculo, ou seja, é uma imagem à qual
se atribui um significado. Tome como exemplo uma placa de trânsito
circular vermelha com uma seta para cima cortada por uma linha; você
sabe que significa “proibido ir em frente”, mas a imagem em si contém
nenhum ou poucos vínculos com a experiência real.

As situações em que a publicidade utiliza as imagens são mais complexas


do que as definições de Aumont (2001). Porém, essas três funções podem au-
xiliar você a compreender as estratégias mais simples e usuais de utilização de
imagens. A imagem como representação é utilizada nos anúncios no momento
em que se apresenta um produto em sua forma de consumo. Por exemplo: a
foto de um prato de comida pressupõe alguém que irá comer; além disso,
ao mostrar um refrigerante, uma imagem apresenta também a sua forma de
consumo. Quanto ao símbolo, a publicidade o utiliza ao oferecer resultados
intangíveis para produtos e serviços. Considere, por exemplo, a alegria gerada
por um sabão em pó, a satisfação de ter a casa cheirosa e a realização de possuir
um carro: são formas alegóricas de atribuir elementos abstratos aos produtos.
Por fim, o valor de signo é fortemente utilizado nos anúncios nos logos, na
identidade visual, na identidade sonora e em outros elementos.
A imagem publicitária tem, ao mesmo tempo, de ser percebida, atrair a
atenção da audiência e ser inteligível. Com isso, há um desafio, pois nem sempre
o que causa atenção visual é uma imagem inteligível. Elementos que possam
distrair o espectador devem ser evitados para não causar ruído na mensagem
publicitária. Na construção da imagem publicitária, o padrão visual é a defi-
nição visual. Todas as informações necessárias do produto devem aparecer,
as cores devem ter o máximo de coerência com o produto real. Muitas vezes,
a manipulação de imagens é utilizada para realçar formas, tonalidades, cores
e outros atributos de um produto.
A imagem publicitária evidencia a relação entre o registro verbal e o visual.
Eco (1997), em seu livro A Estrutura Ausente, demonstra uma metodologia de
análise de uma publicidade a partir de um sistema de códigos visuais (triádica
do signo de Pierce). Ele decompõe uma imagem publicitária em camadas.
Para essa análise, Eco (1997) divide em cinco níveis a imagem publicitária.
Aqui, interessam os três primeiros itens, pois os dois últimos referem-se à
argumentação. Veja a seguir.
Fotografia 23

 Nível icônico: inclui os elementos concretos da imagem e representa-os


de forma semelhante ao objeto de referência.
 Nível iconográfico: utiliza dois tipos de código, um histórico e outro
publicitário. A publicidade utiliza símbolos convencionais e de conheci-
mento geral (por exemplo, a auréola como elemento da santidade). Além
disso, a publicidade sempre cita a si mesma, ou seja, utiliza convenções
simbólicas criadas no próprio campo publicitário.
 Nível tropológico: são imagens geradas por figuras de retóricas clás-
sicas, ou seja, são metáforas visuais, hipérboles, antonomásias, entre
outras. Assim, no nível tropológico, reproduz-se o que se faz verbal-
mente, porém com imagens.

Acesse o link a seguir para conhecer o Clube de Criação, uma entidade sem fins lucrativos
cuja proposta é valorizar e preservar o acervo da criatividade da propaganda brasileira.

https://www.clubedecriacao.com.br/

AUMONT, J. A imagem. 6. ed. Campinas: Papirus, 2001.


BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre fotografia. Rio Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
DEBORD, G. Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
DUBOIS, P. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus, 1993.
ECO, U. A estrutura ausente. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
SOUSA, J. P. Fotojornalismo: introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia
na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004.
24 Fotografia

Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto-lei nº 972, de 17 de outubro de 1969. Dispõe sôbre o exercício da profissão
de jornalista. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0972.
htm. Acesso em: 18 jul. 2019.
CLUBE DE CRIAÇÃO. c2019. Disponível em: https://www.clubedecriacao.com.br/. Acesso
em: 18 jul. 2019.
EDGAR-HUNT, R.; MARLAND, J.; RAWLE, S. A linguagem do cinema. Porto Alegre: Book-
man, 2013.
FRIZOT, M. (ed.). A new history of photography. Köln: Könemann, 1988.
MARINOVITCH, G.; SILVA, J. O clube do bangue bangue. São Paulo: Cia das Letras, 2003.

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