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Introdução
O advento da fotografia resultou de insistentes pesquisas científicas. Para
que ela surgisse, foram necessários conhecimentos de química e física,
aliados a muita criatividade e ao anseio por registrar imagens. Neste
capítulo, você vai conhecer os pioneiros da fotografia e verificar como
as suas invenções modificaram a forma de as pessoas verem e obterem
conhecimento por meio da imagem.
Além disso, para que você se familiarize com o universo fotográfico e
as diversas possibilidades de atuação e expressão que ele oferece, você vai
conferir diferentes tipos e usos da fotografia no mundo contemporâneo.
Por fim, você vai estudar a relação da fotografia com duas importantes
áreas da comunicação: o jornalismo e a publicidade.
A história da fotografia
A invenção da fotografia alterou a percepção das pessoas sobre o seu próprio
tempo, sobre lugares longínquos, sobre elementos distantes no espaço e tam-
bém sobre a imagem microscópica. Assim, conhecer a história da fotografia
é compreender como uma tecnologia foi capaz de modificar a estética e a
percepção humanas. A história da fotografia é a base para futuras invenções,
como o cinema, a televisão e os meios digitais atuais.
2 Fotografia
Câmara escura
A origem da câmara escura é desconhecida. Alguns dizem que os chineses
foram os primeiros a usar uma projeção em uma sala escura. Há também quem
diga que o filósofo Aristóteles teria observado o efeito da câmara escura no
apogeu do pensamento grego, ainda na Antiguidade Clássica.
O primeiro registro da câmara escura é datado do século XVI e foi descrito
pelo cientista italiano Giambattista della Porta. Em seu estudo, ele descreve
a utilização de uma câmara escura com uma lente. A ideia logo foi absorvida
por pintores italianos em sua busca por potencializar o realismo; a projeção
das imagens poderia ir além das habilidades e do talento do artista. O efeito
da projeção interna em ambientes gerado pela câmara escura foi retomado
recentemente no trabalho do fotógrafo Abelardo Morell. Na Figura 1, a seguir,
você pode ver os componentes de uma câmara escura.
Os inventores da fotografia
Em 1727, o professor de anatomia alemão Johann Heinrich Schulze apresentou
evidências científicas de que o escurecimento do sal de prata era causado pela
luz, não pelo calor. O escurecimento da prata era um fenômeno conhecido
desde o século XVI, porém, ao utilizar a luz solar para fixar a imagem, Schulze
deu um primeiro e importante passo para a invenção da fotografia. Devido a
ele, constatou-se que os átomos da prata geram a formação de compostos e
cristais que reagem de forma sensível e controlável à energia luminosa.
Fotografia 3
Mais avanços foram feitos por um jovem inventor francês chamado Ni-
céphore Niépce, interessado em experiências ópticas e químicas. Niépce
buscava em suas pesquisas um método automático (sem intervenção humana)
de copiar um desenho a traço nas pedras de litografia. Niépce utilizava uma
solução química denominada “betume da Judeia”, que possui a propriedade
de endurecer com a exposição à luz. Assim, as partes protegidas pelo traço do
desenho ainda continuavam solúveis; ao lavar a chapa, era possível remover o
betume solúvel, criando uma imagem em negativo. Dessa forma, uma espécie
de carimbo era feito a partir de um desenho. Niépce chamou esse novo processo
de heliogravura (o termo grego helios significa “sol”).
Na sequência, o jovem inventor decidiu implementar a câmara escura nesse
mesmo processo, substituindo a reprodução de um desenho pela realidade.
Assim, ao final de 1826, colocou uma de suas chapas revestidas de betume no
interior de uma câmara escura. Em 1827, Niépce apontou a sua câmera para o
quintal de sua casa em Gras, no sul da França. A exposição durou oito horas,
registrando toda a movimentação do Sol. Essa foi a primeira imagem registrada
sem a intervenção mecânica; o resultado foi uma imagem impossível de ser
vista. Porém, era apenas o início do trabalho. Niépce tentou utilizar diversos
outros materiais sensíveis à luz e divulgou as suas descobertas nos circuitos
científicos franceses.
Em outro lugar da França, trabalhava Louis-Jacques-Mandé Daguerre, um
empresário do entretenimento e criador de espetáculos de ilusão. Ele criou, por
exemplo, o diorama, que reunía grandes audiências ávidas por experiências visu-
ais em pequenos salões parisienses. O diorama era um espetáculo moderno, com
pouca necessidade de material humano, em que se exibiam pinturas em grandes
proporções de cenas históricas e lugares famosos. Com uma troca de iluminação,
um efeito de alteração da imagem era acompanhado de sons e intensificado por
atores propositalmente posicionados para dar a ilusão de movimento.
Ao ter conhecimento da invenção de Niépce, Daguerre enviou a ele uma
carta mostrando interesse em gravar imagens. No mesmo ano, eles se encon-
traram pela primeira vez: Niépce, com 64 anos, e Daguerre, 22 anos mais
jovem, sem conhecimento algum em ciência, mas um pintor e cenógrafo
talentoso. Os dois trocaram correspondências nos quatro anos seguintes,
compartilhando experiências. Niépce faleceu em 1833 e Daguerre continuou
o desenvolvimento do novo processo fotográfico. Em 7 de janeiro de 1839, ele
apresentou na Academia Francesa de Ciências o daguerreótipo, recebido com
espanto. Esse momento marcou o início do que você conhece por fotografia.
Daguerre havia solucionado um dos maiores desafios da ciência, que era
fixar uma imagem de maneira permanente e com a qualidade de uma pintura
4 Fotografia
Após vários testes com silhuetas humanas e folhas, Talbot resolveu inserir
essa folha com emulsão em uma câmara escura. Assim, ele gerou uma ima-
gem em negativo, que, pelo processo de cópia-contato, gerou uma imagem
positiva. Esse processo poderia ser repetido criando cópias a partir de um
mesmo negativo. Em junho 1840, Talbot anunciou esse avanço revolucionário
da reprodutibilidade da imagem a partir de uma técnica. Chamou-o de
calotipia (kalos, termo grego, significa “beleza”, enquanto typos significa
“impressão”).
A Brownie foi uma câmera cuja propaganda era voltada para o público
infantil: um menino ou uma menina em idade escolar poderia operá-la. O
icônico slogan da Kodak dizia assim: “Você aperta o botão, nós fazemos o
8 Fotografia
resto”. A ideia era que o fotógrafo amador, após utilizar o filme, retirasse-o da
câmera como uma espécie de cartucho e o enviasse para a cidade de Rochester,
um distrito industrial no estado de Nova Iorque. Ali, os filmes eram revelados
e enviados para o fotógrafo junto com um novo rolo de fotos.
Na história da fotografia, destaca-se ainda o fotógrafo francês Hercules
Florence, que conduziu uma série de experimentos de registros de imagens
no Brasil em 1833. A ele é creditada a criação do termo “fotografia” (pho-
tographie). Em 1833, Florence trabalhou com papel sensibilizado com sais
de prata para produzir impressões de desenhos; ele chamou esse processo de
“fotografia”. No entanto, desde que conduziu seus experimentos no Brasil e
em grandes centros científicos da época, suas contribuições foram perdidas;
elas só foram redescobertas em 1973. O processo de Florence era, a princípio,
semelhante ao de Talbot, e o seu uso consistia em copiar documentos e criar
um papel inimitável, com o intuito de evitar fraudes e falsificações.
redes sociais. Porém, as lentes dos telefones com câmera melhoram a cada
lançamento e, em alguns casos, rivalizam com câmeras Digital Single-Lens
Reflex (DSLR) ou mirrorless.
Científica: pesquisadores utilizam a imagem para obter resultados cien-
tíficos. Há diversos concursos de fotografia científica para a divulgação da
ciência. A imagem é utilizada nas áreas biológica, médica, farmacêutica,
sociológica, entre outras.
Cityscape: é uma fotografia de paisagem urbana que realça as formas
arquitetônicas e urbanísticas. São imagens utilizadas para contextualizar e
apresentar cidades. Geralmente, são imagens áreas ou de pontos altos, de onde
seja possível se orientar pelo horizonte. Visões noturnas da cidade são muito
utilizadas, especialmente as que valorizam os efeitos da luz.
Comida/alimentos: a fotografia de alimentos é uma tendência nas re-
des sociais. Afinal, a área gastronômica está em alta, com a valorização de
restaurantes e chefes de cozinha. Assim, a imagem é estratégica para esses
profissionais. O fotógrafo deve garantir que o prato pareça saboroso, pensar
em uma luz que crie um clima, inserir adereços externos, cuidar de talheres
e acessórios. Além disso, precisa manter o alimento sem derreter, esfriar, etc.
Decoração e design de interiores: a decoração e o design de interiores
dependem de imagens para apresentar aos clientes o resultado do trabalho. O
fotógrafo deve ter sensibilidade para criar ambientes bem iluminados e que
valorizem o trabalho do decorador. Em muitos casos, o fotógrafo trabalha em
conjunto com o decorador para criar os ambientes e pensar na imagem final.
Editorial: um ensaio editorial geralmente é utilizado no segmento da
moda, buscando destacar um conjunto de peças a partir de um tema único. No
ensaio editorial, o destaque não deve ser nem o fotógrafo, nem a modelo, mas
os produtos e o seu contexto. Essas fotografias são utilizads em publicações
e diversos contextos editoriais.
Espetáculos (teatro, dança, música): para trabalhar nessa área, o fotógrafo
deve ter familiariedade com a arte, conhecer música, teatro e espetáculos de
dança, a fim de compreender o que é importante retratar. O momento exato
de um salto de uma bailarina, um solo de trompete em uma orquestra e um
monólogo de um ator são eventos importantes aos quais o fotógrafo deve
estar atento.
Esportes: a fotografia esportiva é uma imagem de ação inserida na área
do fotojornalismo. Porém, existem trabalhos esportivos voltados à área de
marketing e ao setor documental. Conforme o esporte, exige-se um equipa-
mento que consiga capturar e congelar a imagem utilizando altas velocidades
do obturador.
Fotografia 11
Desde 2014, tramita no Brasil um projeto de lei que visa a regulamentar a profissão do
fotógrafo. Há um intenso debate sobre a exigência de diploma e de cursos técnicos.
Outro ponto muito discutido no projeto e polêmico para os fotógrafos é delimitar o
que compreende a atividade do profissional da fotografia. Os repórteres fotográficos
a serviço de empresas jornalísticas já possuem regulamentação (BRASIL, 1969).
Fotojornalismo
A principal função da imagem no fotojornalismo é informar o público e, con-
sequentemente, “[...] mostrar, revelar, expor, denunciar e opinar [...]” (SOUSA,
2004, p. 22). O fotojornalista lida com a imagem do acaso e do instante como
sua matéria-prima. Assim, a sua habilidade técnica deve ser coerente com
essa função. O fotojornalista deve ser capaz de avaliar situações e aconteci-
mentos e pensar na melhor forma de registrar uma imagem, ora por instinto,
ora por reflexo. O olhar de um fotojornalista é seletivo, sempre em busca da
oportunidades de registrar um acontecimento.
A inserção da fotografia nos jornais e revistas do século XIX não foi
pacífica e tranquila. Os editores da época argumentavam que as imagens não
se adaptariam aos costumes e padrões de credibilidade. Porém, em pouco
tempo, a imagem utilizada em veículos de imprensa como jornais e revistas
passou a ter um papel fundamental na cultura ocidental.
Sousa (2004) divide o fotojornalismo em duas vertentes. Veja a seguir.
revistas como Visão, fundada pelo grupo estadunidense Vision Inc., que,
com uma ideologia liberal, criticava o estatismo, o intervencionismo
econômico e os movimentos sindicais da época.
Estética publicitária ou cinematográfica: nas produções jornalís-
ticas dos anos 1990, a estética se sobressaiu em detrimento do valor
noticioso. Não havia mais a imagem-choque, mas a história a partir
de um conceito estético, criticado por esvaziar o valor jornalístico. As
imagens apresentam dramas de pessoas, comovem, mas não trazem
nenhuma notícia.
Imagem digital: nos anos 2000, as imagens feitas por meio de dispo-
sitivos digitais como câmeras de celulares de amadores e câmeras de
segurança passam a apresentar a realidade vivida diretamente, sem um
intermediário. Questiona-se o papel do repórter fotográfico e destaca-
-se a participação dos leitores. A imprensa busca uma saída com as
imagens posadas, esteticamente bem elaboradas, porém sem ação. São
chamadas de imagens-espetáculo, em uma referência aos conceitos de
Sociedade do Espetáculo, de Debord (1997, p. 14): “[...] o espetáculo
não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
mediatizada por imagens [...]”.
Fotografia publicitária
“Ver uma vez é melhor do que ouvir cem vezes”: esse provérbio, atribuído ao
filósofo chinês Confúcio, visa a demonstrar o poder de impacto de uma imagem.
À imagem é atribuído o caráter da instantaneidade e a possibilidade de atrair o
olhar. É nesses pilares que se apoia a utilização da imagem na área publicitária.
A imagem como um discurso de persuasão, de convencimento de uma
ideia, é utilizada desde a Idade Média, período em que as igrejas possuíam
Fotografia 21
As pessoas buscam nas imagens algo que lhes falta em seu ambiente físico, em seu
grupo social. Além disso, interpretar imagens faz parte da natureza humana. Os seres
humanos vivem mediados por imagens, e as mensagens publicitárias são formas
expressivas que demonstram desejos, necessidades e funcionalidades contemporâneas,
traduzindo visualmente a cultura.
Acesse o link a seguir para conhecer o Clube de Criação, uma entidade sem fins lucrativos
cuja proposta é valorizar e preservar o acervo da criatividade da propaganda brasileira.
https://www.clubedecriacao.com.br/
Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto-lei nº 972, de 17 de outubro de 1969. Dispõe sôbre o exercício da profissão
de jornalista. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0972.
htm. Acesso em: 18 jul. 2019.
CLUBE DE CRIAÇÃO. c2019. Disponível em: https://www.clubedecriacao.com.br/. Acesso
em: 18 jul. 2019.
EDGAR-HUNT, R.; MARLAND, J.; RAWLE, S. A linguagem do cinema. Porto Alegre: Book-
man, 2013.
FRIZOT, M. (ed.). A new history of photography. Köln: Könemann, 1988.
MARINOVITCH, G.; SILVA, J. O clube do bangue bangue. São Paulo: Cia das Letras, 2003.