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Maloca do Saber
Além das peças rikbaktsa adquiridas antes do incêndio, a Maloca do Saber vai
apresentar aos visitantes as peças reunidas no processo de reconstrução do
Museu Nacional, fruto de uma parceria histórica com os povos indígenas.
Depois do incêndio, a equipe do SEE e representantes indígenas do Brasil se
articularam e passaram a discutir o que significa, para os indígenas e para o
Museu Nacional, a reconstrução das coleções etnográficas. Essa articulação é
importante para que o novo acervo da instituição seja constituído em diálogo
com as comunidades no seu tempo presente. Segundo o curador das coleções
etnográficas, João Pacheco de Oliveira, o colecionamento está sendo operado
a partir de uma perspectiva dialógica, nos termos colocados pelos indígenas
com a mediação do SEE, diferentemente das práticas coloniais que marcaram
o Museu Nacional do século XIX e de parte do XX, quando a formação das
coleções não levava em conta os valores de quem produziu os objetos, que
eram os detentores dos saberes a eles associados. Para Oliveira, “os museus
não podem de forma alguma pensar-se como praticantes de qualquer
modalidade de extrativismo cultural. Ao contrário, eles precisam envolver-se
intensamente com as coletividades ali representadas, apoiando suas políticas
de memória e seus projetos de bem-estar, trazendo informações atualizadas
sobre os produtores dos artefatos que expõem e as condições de uso e coleta.”
Exemplo desta prática curatorial dialógica é a boneca karajá, que será a peça
central da exposição. Ela foi doada por Kaimote Kamaiurá Karajá que,
sensibilizada com a tragédia do incêndio e solidária à perda do acervo,
comunica a doação de uma nova boneca para substituir a que fora perdida no
desastre. Foi a primeira doação feita ao SEE após o incêndio.
A arte cerâmica karajá apresenta os mais variados tipos e motivos, desde utensílios
domésticos até as bonecas, com temas mitológicos, rituais e da vida cotidiana. A
confecção das Ritxòkò, bonecas karajá, é uma atividade exclusiva das mulheres e o
seu comércio é uma importante fonte de renda. O modo de fazê-las envolve técnicas
tradicionais que são transmitidas de geração em geração. A experiência da ceramista,
sua habilidade técnica e preferência estética influenciam na produção, que consiste
nas seguintes etapas: extração e preparação do barro; modelagem das figuras;
queima e pintura. Em 2012, a ritxòkò foi registrada pelo IPHAN como Patrimônio
Cultural do Brasil.
Por fim, um último conjunto a ser exposto na mostra são itens da Coleção
Anton Lukesch. Eles foram doados em 2021 pelo museu austríaco
Universalmuseum Joanneum. A doação foi resultado da aproximação e diálogo
que o Museu Nacional vem estabelecendo com museus internacionais.
Referências
LENHARO, Mariana and RODRIGUES, Meghie. Can a National Museum Rebuild Its Collection
Without Colonialism? New York Times, 2022. Disponível em
https://www.nytimes.com/2022/11/09/magazine/brazil-national-museum-indigenous.html
OLIVEIRA, João Pacheco. Perda e Superação. In: Rita de Cássia Melo Santos. No Coração do
Brasil. A Expedição de Edgard Roquette-Pinto à Serra do Norte (1912). Rio de Janeiro: Museu
Nacional, Setor de Etnologia e Etnografia, 2020. Disponível em
https://www.museunacional.ufrj.br/see/publicacoes.html
______. O retrato de um menino Bororo: narrativas sobre o destino dos índios e o horizonte
político dos museus, séculos XIX e XXI. Tempo, v. 12, n. 23, jul-dez. 2007.
https://www.museunacional.ufrj.br/see/index.html
https://osbrasisesuasmemorias.com.br/
https://pib.socioambiental.org