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Há registro de que as primeiras manufaturas artísticas com asas de lepidópteros foram exibidas
no Rio de Janeiro na grande Exposição do Centenário da Independência, ocorrida entre 1922 e
1923, certamente trazidas para representar o estado de Santa Catarina. Esse foi um dos
primeiros eventos atratores de turistas estrangeiros na cidade, porta de entrada para o Brasil,
que chegaram aos milhares através de grandes paquetes. Consecutivamente, alguns
estrangeiros recém-estabelecidos in loco, como Wenceslau Vanatko, de origem tcheca,
estabeleceram diretrizes para a sua adaptação como souvenirs turísticos, associando a eles
imagens de pontos turísticos com o uso da pintura reversa em vidro, técnica artística muito
popular nas primeiras décadas do século XX, fotografias ou, mesmo, cartões postais.
Com a aplicação das leis ambientais desenvolvidas, em especial, nas décadas de 1940
(Decreto-lei nº 5.894, de 20 de outubro de 1943; Portaria nº 75 de 27 de março de 1946, da
Divisão de Caça e Pesca do Departamento Nacional da Produção Animal) e 1960 (Lei nº 5.197,
de 3 de janeiro de 1967), que passaram a regular a caça e a exploração comercial de animais
silvestres, a manufatura de artesanato com asas de lepidópteros foi se tornando cada vez mais
onerosa e inviável. Paralelamente, a produção industrial de itens de plástico e metal, bem mais
práticos e baratos, cresceu e passou a substituir a de muitos dos produtos artesanais em todo o
mundo, movimento que chegou também ao comércio turístico. Assim, sob o ponto de vista
estético e comercial, as bandejas de borboletas pararam no tempo, e tornaram-se itens cada
vez mais anacrônicos ao longo da segunda metade do século XX.
SOUVENIR ALADO
1. Objeto principal (mostruário central / horizontal): Bandeja “Pão de Açúcar” produzida em São
Bento do Sul por Carlos Zipperer Sobrinho no final dos anos de 1930 e vendida no Rio de Janeiro
por Max Neugart. Adquirida na zona portuária por um turista norte-americano, ela foi levada
para os Estados Unidos (Nova Iorque), possivelmente a bordo do transatlântico S.S. Normandie,
em um de seus cruzeiros que teve a cidade como destino, em 1938 ou 1939. No início da
pesquisa, em 2021, mais de oitenta anos depois, essa é encontrada à venda na plataforma de
comércio eletrônico eBay, localizada em um pequeno antiquário na cidade de Papillion, no
Estado de Nebrasca. Após ser adquirida, essa segue para Turlock, na Califórnia, onde fica por
alguns meses até retornar à cidade do Rio de Janeiro, para fazer parte do novo acervo do Museu
Nacional. Esse objeto icônico apresenta asas azuis iridescentes de Morpho aega (Nymphalidae)
em substituição às áreas de céu e mar de uma paisagem do Pão de Açúcar pintada reversamente
em vidro.