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Descolonizando o Cavaquinho: Uma Nova Narrativa *

Nuno Cristo © 2019


*
Versão em português (tradução do autor) do original publicado em inglês com a referência:
Cristo, Nuno (2019). Decolonizing the Cavaquinho: A New Narrative. Studia Instrumentorum Musicae
Popularis VI (New Series). Edited by Gisa Jähnichen. Berlin: Logos, [22pp.].

Resumo
Enquanto objectos culturais, os instrumentos musicais têm sido por vezes mal
interpretados, as suas origens reivindicadas, o seu impacto socio-musical exagerado, e a
sua essência distorcida. Tal poderá ter resultado de uma falta de informação e uma
imaginação fértil, ou talvez para dar voz a agendas ideologicamente motivadas.
Este é um estudo sobre uma viola de mão pequenina com quatro cordas metálicas
tocada actualmente em Portugal continental, e que tem sido entendida como de
primordial importância na disseminação de instrumentos do mesmo tipo em todo o
mundo, desde a época da expansão marítima europeia: o “cavaquinho minhoto”, de
acordo com o seu hipotético local de origem/partida, a região do Minho.
Ao revisitar a evidência histórica associada ao cavaquinho, proponho uma nova
narrativa tendo em vista uma melhor e mais precisa compreensão do popular instrumento.
A minha investigação tem por base fontes de arquivo tais como textos e iconografia
encontrados em periódicos, obras literárias, trabalhos específicos de
etnografia/organologia e exemplares sobreviventes em museus e colecções particulares.
Após definir o “cavaquinho minhoto” em termos das suas características físicas,
sistema construtivo, e técnica de execução, apresento os conceitos que dão forma ao
enquadramento do meu estudo, e exponho os equívocos de autores lusocêntricos.

Palavras chave: Cavaquinho Minhoto, Violaria, Cultura Portuguesa, Emigração

1
Introdução
O pequeno cavaquinho português tem a reputação de ser um globetrotter
organológico, viajando há séculos pelo mundo, deixando um rasto de descendentes bem
conhecidos. No entanto, a minha investigação conta-me uma história muito diferente. O
instrumento musical a que me refiro é o cordofone de mão em forma de diminuta viola
com quatro cordas metálicas, comumente chamado “cavaquinho minhoto”.

Fig. 1 “Cavaquinho minhoto” por Nuno Cristo, Toronto, 2016. Feito por encomenda com elementos
decorativos/funcionais diaspóricos. Colecção particular (Fotografia por Nuno Cristo © 2017).

A noção romantizada, repleta de conotações colonialistas, de que este instrumento


foi transportado nas caravelas da expansão marítima e nas mãos de emigrantes, carece de
evidência histórica e é tipicamente anacrónica. No centro deste debate está um grande
equívoco; o “cavaquinho minhoto” como o conhecemos hoje data apenas da viragem para
o século XX, e portanto não pode ser responsável pela disseminação de outros pequenos
cordofones de mão, encontrados a nível global em geografias historicamente ligadas aos
portugueses. Além disso, a mais antiga referência conhecida a um “cavaquinho” musical,
situa o instrumento e a sua “invenção” no Rio de Janeiro, Brasil algum tempo antes de
1822.1
Neste estudo, demonstro como o actual “cavaquinho minhoto” pode ser explicado
como resultante de um processo de fusão envolvendo três outros instrumentos que

1
Balbi, Adrien. 1822. Essai Statistique sur Le Royaume de Portugal et D’Algarve. Vol. II Paris: ccxviii.
https://books.google.ca/books?id=b4X2aoLrciYC&printsec=frontcover&dq=Essai+Statistique+sur+Le+Ro
yaume+de+Portugal+et+D%E2%80%99Algarve.&hl=en&sa=X&ei=Mu9MVYqlN8mDyQSl94DIBg&ved
=0CCEQ6AEwAA#v=onepage&q=cavaquinho&f=false Acessado 2 de Maio, 2019.

2
coexistiram em Portugal no final do século XIX, num clima político-ideológico sequioso
de “autencidades” regionais.

Fig. 2 “Cavaquinho minhoto” por Venâncio Pinto Machado (1931-2013), Braga início dos anos 1980.
Colecção particular (fotografia por Nuno Cristo © 2019).

Definindo o “cavaquinho minhoto”


Nome:
O pequeno cordofone de mão em forma de violinha de quatro cordas metálicas
que constitui o objecto do meu estudo, tem sido designado de várias maneiras:
“cavaquinho tipo minhoto”; “cavaquinho rural”; “cavaquinho de Braga”; etc. Para o
propósito deste trabalho e para simplificar questões, decidi chamá-lo “cavaquinho
minhoto”.

Características:
As características físicas fundamentais do “cavaquinho minhoto” são: a sua forma
geral segue o padrão da chamada “viola braguesa” reproduzindo o desenho de elementos
tais como o cravelhal, boca, cavalete e estética decorativa; a escala é sempre rasa ao nível
do tampo e curta com 12 trastos; a sua tessitura situa-se uma oitava acima da referida
viola; e as suas cordas de baixa tensão são sempre feitas de metal.

3
Construção:
O fabrico do “cavaquinho minhoto” segue um sistema de construção datável do
século XVI na Península Ibérica, no qual o braço e o taco superior são integrais com o
corpo do instrumento, recebendo as ilhargas directamente em duas ranhuras laterais pré-
cortadas. Este método contrasta com o italo-francês no qual o corpo é construído em
separado do braço e as duas partes são depois assembladas através de um malhete.

Técnica de execução:
A técnica de execução típica usada no “cavaquinho minhoto” é o rasgado, em que
a mão que o produz golpeia todas as cordas em simultâneo seguindo vários padrões
rítmicos. Isto é normalmente conseguido usando o dedo indicador e o polegar em
combinações para “baixo/cima” enquanto a mão que trasteia fixa formas de acordes e
notas melódicas. O modo de tocar rasgado em oposição ao ponteado (belisco melódico),
tem sido praticado desde o século XVI e no caso do “cavaquinho minhoto”, foi muito
provavelmente adaptado da viola (via machinho?).2

Enquadramento metodológico
Será o cavaquinho uma tipologia?
Alguns autores têm recentemente proposto o termo “cavaquinho” em referência a
uma tipologia de pequenos cordofones pertencentes à família alargada da viola, para
justificar uma ascendência mais distante do “cavaquinho original”.3 Tal parece-me
bastante enganoso pois existem muitos exemplos de violas agudas que não estão
relacionadas com instrumentos chamados “cavaquinho”, e todos eles podem ser descritos
como reduções da viola de tamanho inteiro, segundo os diversos períodos da evolução do

2
Quando o nome “cavaquinho” surgiu no Brasil ainda antes de 1822, duas outras designações eram usadas
na língua portugesa para descrever pequenos cordofones do tipo viola; machinho e machete (ou maxinho e
maxete). Estes parecem ter sido rótulos genéricos aplicados a instrumentos de diferente tamanho, qualidade
e atributo social. O machinho a que me refiro, é uma redução do tipo viola em uso durante o século XIX na
região noroeste de Portugal continental.
3
Bastos, Paulo Jorge Rodrigues. 2018. “Cavaquinho Português em Performance Solo”. Tese de Mestrado,
Departmento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro: 12, 15.
https://paulobastos.com/Up/PauloBastosDAP_MestradoMusicaPerformance_20180706Final.pdf Acessado
2 de Maio, 2019.

4
instrumento. De notar que o que é essencial para a compreensão do cavaquinho, é o
conceito de redução à oitava.

A “viola de ordens de cordas múltiplas” (viola) vs a “viola francesa” (violão):


Existe evidência material de que a viola tem sido construída em Portugal desde
pelo menos 1581.4 Este tipo de viola tardo-renascentista evoluiu para se tornar na
chamada “viola barroca” que sobreviveu em Portugal e Brasil; tipicamente uma viola de
5 ordens de cordas metálicas (pelo menos desde os finais do século XVIII), feita numa
variedade de formas regionais.
No início dos anos 1800, um outro tipo de viola apareceu em Portugal e Brasil
onde se tornaria conhecida como “viola (também guitarra) francesa”. Esta era uma viola
muito diferente, com um desenho e método de construção específicos, e montada com
cinco a seis cordas singelas de tripa e seda (bordões), desenvolvida em Nápoles durante
os anos de 1770.5
Embora seja possível que a “viola francesa” fosse já conhecida em Portugal antes
da segunda década de 1800, a mais remota referência textual ao instrumento que consegui
encontrar, é um anúncio de 1815 mencionando uma “guitarra franceza”.6 No Brasil, a
“viola/guitarra francesa” tornou-se rapidamente em “violão”.7

O conceito de “oitava de viola”:


Embora vários tamanhos de viola (também chamada vihuela) existam desde o
século XV, parece que a preocupação em produzir uma redução à oitava só apareceu em
finais dos anos 1700, quando o instrumento começou a ser montado com cordas singelas
em vez de ordens de cordas múltiplas como acontecia até então.

4
A viola de Belchior Dias (Lisboa, 1581) é a mais antiga sobrevivente do seu tipo com data.
http://minim.ac.uk/index.php/explore/?instrument=9284 Acessado 2 de Maio, 2019.
5
Heck, Thomas F. 1999 [1972]. Stalking the Oldest Six-String Guitar [versão original em inglês do artigo
até então apenas publicado em japonês em Gendai Guitar 9, no. 3, 1975, (64-71)].
http://www3.uakron.edu/gfaa/stalking.html Acessado 2 de Maio, 2019.
6
Gazeta de Lisboa N. 90, 18 de Abril, 1815: 4.
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=njp.32101080468844;view=1up;seq=398 Acessado 2 de Maio, 2019.
7
O Sabinopolis N. 9, 22 de Julho, 1821: 2.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=849944&pesq=Viol%C3%A3o&pasta=ano%20182
Acessado 2 de Maio, 2019.

5
Evidência histórica sugere que o “cavaquinho original” era uma destas “oitavas de
viola”, que viria mais tarde a influenciar a criação do “cavaquinho minhoto” no início do
século XX, como redução de “viola braguesa”.

Émica versus ética:


Vital para o enquadramento do meu estudo são os conceitos de abordagens émica
e ética na designação de pequenos cordofones de mão no contexto das tradições musicais
portuguesas.8 À medida que se vai recolhendo evidência relacionada com o fabrico,
comércio e prática de um instrumento designado por “cavaquinho”, logo se torna
aparente que, dependendo do período histórico, contexto sócio-político e ambiente
cultural, o termo pode ser usado para referir entidades organológicas diferentes. Em
muitos casos, este processo de baptizar resulta de uma perspectiva vinda de fora, a
abordagem ética, sendo esta específico-cultural. No entanto, alguns autores têm o
cuidado de usar designações locais (abordagem émica) ao referir pequenos cordofones de
mão em contextos aos quais não pertencem, tanto por serem estrangeiros ou
simplesmente urbanitas.

Equívocos e a sobreposição de designações


Autores lusocêntricos:
Autores portugueses tais como Jorge Dias (1952, 1963) e Ernesto Veiga de
Oliveira (1966) ajudaram a transmitir a ideia de um ponto de partida na região de Braga e
uma disseminação a nível global através de processos de emigração, promovendo assim
uma visão etnocêntrica romantizada no que respeita ao “cavaquinho minhoto”.9 Antes

8
Uma noção simplificada com base em:
Rice, Timothy. 1994. May it Fill Your Soul: Experiencing Bulgarian Music. Chicago: The University of
Chicago Press.
https://books.google.ca/books?id=ECtMhZ226FYC&pg=PA88&lpg=PA88&dq=emic+etic+tim+rice&sour
ce=bl&ots=o71qRFTBPA&sig=au9cHuxnpHGxs5Pc9eVZ81bXMwo&hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwiai5L
DzubdAhXsy4MKHQlSDfcQ6AEwA3oECAYQAQ#v=onepage&q=emic&f=false Acessado 2 de Maio,
2019.
9
Dias, Jorge. 1952. “Nótulas de Etnografia madeirense”, Biblios, 1 de Janeiro, 1952, Coimbra, (179-201).
https://search.proquest.com/openview/042bcef6b62a3f5328ce90b9e366d04f/1?pq-
origsite=gscholar&cbl=1821873 Acessado 15 de Março, 2019.
Dias, Jorge. 1963. “O Cavaquinho. Estudo de difusão de um instrumento musical popular”, Actas do
Congresso Internacional de Etnografia - Santo Tirso, Vol. IV, Porto, (93-116).

6
deles, Luís da Câmara Cascudo (1939), Mário de Andrade (1942), Renato Almeida
(1942), Oneyda Alvarenga (1950), já tinham defendido a origem portuguesa do
instrumento, numa surpreendente demonstração de lusocêntrismo por autores
brasileiros.10
São de facto muitos os autores que têm contribuído para uma ideia construída de
que o cavaquinho é do Minho e que já existia antes do século XIX. Esta noção
preconcebida parece ser baseada apenas no facto de um pequeno cordofone de mão
chamado “cavaquinho” ser praticado no contexto popular naquela região de Portugal
continental no século XX, o que é pelo menos irónico. De um modo geral, os autores que
assumem esta posição algo débil não distinguem entre machinho, machete, braguinha,
‘ukulele, nem cavaquinho, embora estes nomes se provem historicalmente como
descrevendo diferentes tipos de violas agudas.
Tanto quanto sei, não existe evidência convincente de que o cavaquinho existisse
em Portugal antes de ter surgido no Brasil no início do século XIX. Além disso, o
“cavaquinho original” pretence à família da “viola francesa” (violão), que também inclui
exemplos do machete madeirense e “cavaquinho urbano”, enquanto que o “cavaquinho
minhoto” é um representante mais recente do clã “viola braguesa/(machinho?)”.

O “cavaquinho original”:
Como já foi mencionado, o primeiro sinal de um instrumento apelidado
“cavaquinho” apareceu em 1822 em referência ao Rio de Janeiro, Brasil.11 Além disso,
existem dois testemunhos anteriores de um tal instrumento na mesma geografia e

Oliveira, Ernesto Veiga de. 1982 [1966]. Instrumentos musicais populares portugueses.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
10
Cascudo, Luís da Câmara. 1939. “O Cavaquinho é Brasileiro?”, Som Nº 12, 16 de Outubro, 1939.
Cascudo, Luís da Câmara. 1939. “O Cavaquinho é Brasileiro?”, Fronteiras Nº 12, 11/1939, Recife: 5.
Citado em Galvão, Claudio Augusto Pinto. 2011. “Alguns Compassos. Câmara Cascudo e a Música (1920-
1960)” Tese de doutoramento em História Social. Universidade de São Paulo: 105.
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-20062011-111223/pt-br.php Acessado 2 de Maio,
2019.
Andrade, Mário de. 1942. Pequena História da Música. Livraria Martins, S. Paulo: 25.
Almeida, Renato. 1942. História da Música Brasileira. Ed. F. Briguite Comp. Rio de Janeiro: 114, 310.
Alvarenga, Oneyda. 1950. Música Popular Brasileira. Ed. Globo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, S. Paulo:
25, 307.
Citado em Dias (1963), ibid.: 340-341.
11
Ver n.1.

7
ambiente social.12 Em Portugal, o nome “cavaquinho” só é detectável a partir de 1840,
numa referência incerta a c. 1827.13
O “cavaquinho original” foi descrito pela primeira vez como uma “petite viole
française” tocada por um “mulâtre” no contexto aristocrático/burguês do Rio de Janeiro.
A noção de que o instrumento era uma redução à oitava com 6 cordas de tripa/seda
parece ser apoiada por evidência recolhida em várias fontes mais tardias nesse mesmo
século, incluindo exemplares sobreviventes feitos em Lisboa e Ponta Delgada (Açores),14
a afinação descrita em manuscritos de música do Funchal (1843 to 1845),15 um
“cavaquinho” de 6 cordas do Porto tocado no Funchal em 1854,16 o anúncio de venda de
“cavaquinhos de 6 cordas” em Coimbra em 1864,17 a notícia de “A small guitar of six

12
Freycinet, Louis Claude Desaulses de. 1827-39. Voyage autour du monde. Vol. 1. Paris: Pillet: 216.
Rivière, Marc Serge (tradução e edição). 1996. A Woman of Courage: The Journal of Rose de Freycinet on
her Voyage around the World 1817-1820. Canberra: National Library of Australia: 168.
Citado em Budasz, Rogério. 2001. “The Five-course Guitar (Viola) in Portugal and Brazil in the Late
Seventeenth and Early Eighteenth Centuries” Dissertação de Doutoramento, Faculty of the Graduate
School, University of Southern California: 72, n. 34-35.
http://digitallibrary.usc.edu/cdm/ref/collection/p15799coll16/id/144442 Acessado 2 de Maio, 2019.
13
Centazzi, Guilherme. 1840. O Estudante de Coimbra ou Relampago da Historia Portugueza desde 1826
a 1838. Tomo I. Lisboa: Typographia de Antonio José da Rocha: 38.
https://archive.org/stream/oestudantedecoim00cent#page/n5/mode/2up/search/cavaquinho Acessado 2 de
Maio, 2019.
14
“cavaquinho” de seis cordas por João José de Sousa, Lisboa c. 1850 (Museu Nacional de Etnologia,
Lisboa [BB361]) http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=85574
Acessado 2 de Maio, 2019.
“cavaco” por Manuel Pereira, Lisboa c. 1865 (Museu Nacional de Etnologia, Lisboa)
http://cavaquinhos.pt/pt/CAVAQUINHO/Cavaquinho%20PT%202.htm Acessado 2 de Maio, 2019.
“cavaquinho” de seis cordas por Luiz José Nunes & F.os, Ponta Delgada, Açores c. 1850. Museu de Vila
Franca do Campo, São Miguel, Açores.
15
Princípios do Machete [compilações de música manuscrita; duas de 1843 e quatro de 1844 e 1845]
Citado em Morais, Manuel. 2016. “Folhetim 3: As Afinações do Machete Madeirense/Braguinha” [artigo
não publicado, colocado no facebook a 14 de Julho, 2016].
https://www.facebook.com/1208323142524077/posts/as-afina%C3%A7%C3%B5es-do-machete-
madeirense-oitocentista-vulgo-braguinhafoi-gra%C3%A7as-%C3%A0-rece/1208362922520099/
Acessado 19 de Agosto, 2019.
16
França, Isabella de. 1970 [1854]. Journal of a Visit to Madeira and Portugal (1853-1854) / Jornal de
uma visita à Madeira e a Portugal (1853-1854). Tradução de Cabral do Nascimento. Notas e comentários
por Santos Simões. Funchal: Junta Geral do Distrito Autónomo da Madeira, 1970 (2 vols), vol. 1: 138.
Citado em Morais, Manuel. 2008. “Os Instrumentos Populares de Corda Dedilhada na Madeira”, A
Madeira e a Música: Estudos (c. 1508-c.1974). Funchal 500 Anos, (23-98): 43, 59-60.
http://en.calameo.com/read/000019422bebb33e32c47 Acessado 2 de Maio, 2019.
Morais, Manuel. 2011. O Machete Madeirense: 3. [versão pdf não publicada]
17
O Conimbricense, 4 de Novembro, 1864.
Citado em Taborda, Marcia. 2016. “De Coimbra ao Rio de Janeiro: Os violeiros da família Couceiro e sua
participação nas exposições regionais e internacionais.” Trabalho de pós-doutoramento, UFRJ. In Boletim
do Arquivo da Universidade de Coimbra XXIX [2016], (291-321): 296.

8
strings” feita por Sanhudo do Porto no catálogo da Exposição Internacional de Filadélfia
(1876),18 o verbete “Cavaquinho (ki) sm. violinha de quatro ou seis cordas de tripa” num
dicionário de 1877,19 e um rótulo antigo de António Duarte, Porto.20
A conexão “cavaquinho original”/violão pode ser atestada em vários anúncios de
jornais oferecendo aulas para ambos os instrumentos no Rio de Janeiro desde pelo menos
1842, e referências à sua execução conjunta tanto no Brasil como em Portugal.21
Primeiro chamado “cavaquinho” no Brasil, o pequeno cordofone de mão foi ali
introduzido provavelmente ao mesmo tempo que a “viola francesa”, logo após o
estabelecimento da corte portuguesa no Rio de Janeiro em 1808, e seria de fabrico
francês ou austríaco. Um instrumento duplo feito c. 1820 em Viena de Áustria parece
materializar a íntima afinidade do “cavaquinho original” e o violão.22
Outras versões de cavaquinho começaram a ser construídas tanto no Brasil como
em Portugal, com quatro ou, mais raramente, cinco cordas.23 No Brasil, estas poderão ter

https://digitalis.uc.pt/en/artigo/de_coimbra_ao_rio_de_janeiro_os_violeiros_da_fam%C3%ADlia_couceiro
_e_sua_participa%C3%A7%C3%A3o_nas Acessado 2 de Maio, 2019.
18
International Exhibition, 1876 at Philadelphia. Portuguese Special Catalogue: 80.
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=nyp.33433034658181;view=1up;seq=254 Acessado 2 de Maio, 2019.
19
Deus, João de, e António José de Carvalho. 1877. Diccionario Prosodico de Portugal e Brazil, Lisboa:
Pacheco & Barbosa; Rio de Janeiro: A. A. Lopes do Couto: 157.
https://books.google.com.tj/books?id=tm0wAQAAMAAJ&q=cavaquinho#v=onepage&q=Cavaquinho&f=
false Acessado 2 de Maio, 2019.
20
Bastos, ibid.: 189-190.
A fotografia deste rótulo foi gentilmente partilhada por Pedro Caldeira Cabral.
21
Diario do Rio de Janeiro, Anno XXI, 16 de Fevereiro, 1842: 4.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=094170_01&pasta=ano%20184&pesq=cavaquinho
Acessado 2 de Maio, 2019.
Diario do Rio de Janeiro, Anno XXX, 2 de Janeiro, 1851: 4.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=094170_01&pasta=ano%20185&pesq=cavaquinho
Acessado 2 de Maio, 2019.
Correio Mercantil, e Instructivo, Politico e Universal Anno VIII, N. 171, 20/21 de Julho, 1851: 3.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217280&pesq=cavaquinho&pasta=ano%20185
Acessado 2 de Maio, 2019.
Diario do Rio de Janeiro, Anno XXXVI, N. 179, 28 de Junho, 1856: 3.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=094170_01&pasta=ano%201856&pesq=cavaquinho
Acessado 2 de Maio, 2019.
22
Desde 2016 no Museum of Fine Arts, Boston [2016.46].
http://www.mfa.org/collections/object/double-necked-guitar-627738 Acessado 2 de Maio, 2019.
23
Constancio, Francisco Solano. 1858 [1836?]. Novo diccionario critico e etymologico da lingua
portugueza Precedido de una introducção grammatical. Sexta edição, Paris: Angelo Francisco Carneiro
Filho. Typogª de Rignoux: 240.
http://bdh-rd.bne.es/viewer.vm?id=0000207770&page=1 Acessado 2 de Maio, 2019.
Esta é a menção mais recuada que consegui encontrar de um cavaquinho de 4 cordas em Portugal.

9
sido adaptações da nova forma francesa do “cavaquinho original” ao antigo conceito do
machete popular ou simplesmente a sua renomeação (Bates 1864: 211).24 O mesmo se
aplicou ao machinho e ao machete em Portugal.

Fig. 3 “Cavaquinho urbano” por Nuno Cristo, Toronto 2015.


Colecção particular (fotografia por Nuno Cristo © 2019).

De acordo com a evidência disponível, a cultura do cavaquinho no Brasil,


envolvendo execução (1822, 1830), sátira política (1833) e aulas de música (1842),
antecede a sua transplantação em Portugal. Chegando como instrumento burguês, o
cavaquinho logo (início da década de 1840) se tornou popular entre as classes média-
baixa no ambiente urbano de Portugal continental, daí a designação tipológica
“cavaquinho urbano” de uso frequente hoje em dia.25

Baines, Anthony. 1983 [1966]. European and American Musical Instruments. London: Chancellor Press:
47.
A “Treble guitar (cavaquinho)”de 5 cordas em Baines é o “Machete” aqui:
http://minim.ac.uk/index.php/explore/?instrument=9256 Acessado 2 de Maio, 2019.
24
Bates, Henry Walter. 1864 [2ª ed.]. The naturalist on the river Amazons. A record of adventures, habits
of animals, sketches of Brazilian and Indian life, and aspects of nature under the equator, during eleven
years of travel. London: J. Murray: 211.
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015031055869;view=1up;seq=9 Acessado 2 de Maio, 2019.
Esta é a menção mais recuada que consegui encontrar de um cavaquinho de 4 cordas no Brasil, relativa ao
ano de 1851.
25
O caso específico do “machete madeirense” durante este período merece uma atenção que vai além deste
estudo.

10
Porquê o nome “cavaquinho”?
A palavra “cavaquinho” utilizada como nome de um cordofone de mão é
geralmente interpretada como referente a um pedaço de madeira, no entanto não
encontrei disso qualquer evidência histórica. Contrariamente, uma explicação mais
provável seria o diminutivo de “cavaco” indicando conversação informal, discurso
público, resposta ou comentário; nas mãos de um virtuoso o instrumento “cavaquinho”
seria capaz de enunciar um discurso musical de versatilidade melódica.26 Esta noção
parece ressoar com a tradição de sátira política relacionada com o cavaquinho que se
desenvolveu no Brasil desde pelo menos 1833; uma prática só detectada em Portugal a
partir de c. 1847.27

O uso do nome “cavaquinho” e a sua interpretação:


Uma vez popularizado em todo o mundo de língua portuguesa, talvez mesmo
antes do retorno da corte real a Lisboa em 1821, a designação “cavaquinho” parece ter
sido usada por vezes como substituto de nomes de cordofones de mão mais antigos ainda
praticados tais como o machete e o machinho, ou apenas como uma interpretação urbana
actualizada desses mesmos instrumentos (a abordagem ética). Por exemplo, a mais antiga
referência conhecida ao cavaquinho em Portugal continental após Balbi (1822), publicada
em 1840 mas reportando-se a c. 1827,28 parece simplesmente substituir “machinho” por
“cavaquinho” ao descrever o ambiente instrumental entre os estudantes de Coimbra, já
mencionado na celebrada Macarronea em 1765.29 Ou estaria o antigo cordofone a ser
ultrapassado pela novidade chegada do Brasil?

26
A palavra “cavaco” aparece já em 1815 em periódicos brasileiros nas expressões: “dar cavaco” (ficar
melindrado); “não dar cavaco” (não prestar atenção); ou como título de um comentário escrito. Quando
significa um pedaço de lenha, aparece como “cavacos” pelo menos desde 1819.
Correio Braziliense ou Armazem Literario Vol. XIV, 1815. London: W. Lewis: 137, 392.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=700142&pesq=cavaco&pasta=ano%20181
Acessado 2 de Maio, 2019.
Idade D’Ouro do Brazil, N. 2, 5 de Janeiro, 1819: 2.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=749940&pesq=cavacos&pasta=ano%20181
Acessado 2 de Maio, 2019.
27
“O Cavaquinho”, O Rabecão, Escripto do Povo N. 41. [RC-27-8]. Embora sem data, o texto menciona o
periódico O Estandarte, publicado pela primeira vez em Lisboa no ano de1847.
28
Centazzi, ibid.: 38.
29
Ferram, Antonio Duarte. 1765. Macarronea Latino-Portugueza [...] Lisboa: Officina Patriarcal de
Francisco Luiz Amen: 49, 104, 113, 115.

11
Muitos outros exemplos potencialmente enganadores se seguiriam, mas talvez o
mais óbvio que encontrei é uma referência de 1890, descrevendo acontecimentos não
longe de Lisboa (Carnide) no ano de 1719, mencionando cavaquinhos nas mãos do povo,
enquanto violas ou banzas de Braga eram usadas pela aristocracia rural tocando fado.30 O
texto está repleto de segmentos apócrifos; pois sabe-se que não existiam cavaquinhos
nem fado em 1719, os pequenos cordofones de mão eram então chamados machinhos ou
machetes. Uma outra narrativa totalmente anacrónica publicada em 1924 mas em
referência ao ano de 1578, revela talvez uma ocorrência comum nos bairros urbanos da
classe baixa no início do século XX, “cavaquinhos de tripa” tocados com “violas de
arame”.31

O cavaquinho e a emigração:
Embora exista evidência histórica de que vários tipos de cordofones de mão com
designações específicas, foram dispersos a nível global a partir de Portugal desde o
século XV, através de trabalho missionário, estabelecimento colonial e comércio, data de
1884 a mais antiga referência que consegui encontrar a um cavaquinho a ser transportado
por emigrantes portugueses rumo ao Brasil, e julgando pela presença conjunta da
“chitarra spagnola” (violão) e Lisboa, o porto de embarque, aquele seria um “cavaquinho

https://books.google.ca/books?id=V7kGAAAAQAAJ&printsec=frontcover&dq=Macarronea+1765&hl=en
&sa=X&ved=0ahUKEwixqOn3oezOAhVEORoKHUMcCkkQuwUIGDAA#v=onepage&q&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
https://archive.org/stream/1765macarroneala00ferr#page/26/mode/2up/search/machinho Acessado 2 de
Maio, 2019.
30
Castilho, Júlio de. 1890-1891. “Francisco Vieira Lusitano”, O Instituto, Revista Scientifica e Litteraria.
Vol. XXXVIII. Junho 1890 - Junho 1891. Coimbra: Imprensa da Universidade: 157-159, 368.
https://books.google.ca/books?id=9bEDAAAAYAAJ&pg=PA158&dq=cavaquinhos&hl=en&sa=X&ved=
0ahUKEwiWsKCDlcvOAhXElR4KHT3EBXo4ChC7BQgfMAA#v=onepage&q=cavaquinhos&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
31
Figueiredo, Antero de. 1924. D. Sebastião Rei de Portugal. [3ª ed.]. Paris: Aillaud; Lisboa: Bertrand:
283. https://books.google.ca/books?id=6B9LAAAAMAAJ&focus=searchwithinvolume&q=tripa Acessado
2 de Maio, 2019.

12
urbano”.32 No entanto, existe evidência de que dois irmãos de Coimbra já faziam
cavaquinhos no Rio de Janeiro em 1878.33
Mais importante na história do cavaquinho, é o regresso de um grande número
dos chamados “brasileiros” (portugueses emigrados no Brasil) entre 1830 e 1850, período
em que o instrumento urbano se tornou popular em diversas áreas de Portugal
continental.

Made in Braga:
Só consegui encontrar duas referências do século XIX a cavaquinhos
especificamente construídos em Braga; a mais antiga aparece num periódico brasileiro
datando de 1858 mencionando igualmente machetes,34 a outra é de um romance de 1876
indicando a exportação de cavaquinhos de Braga para França.35 Além disso, existe uma
notícia de um cavaquinho do século XIX por Francisco António Teixeira de Carvalho,
Braga, pertencente à colecção Keil.36
Não há dúvida que cavaquinhos eram fabricados em Braga desde pelo menos
1858, no entanto esses seriam do tipo urbano com quatro a seis cordas de tripa/seda.

32
Foresta, Alberto de. 1884. Attraverso L’Atlantico e in Brasile. Roma: Casa Editrice A. Sommaruga e C.:
64, 206.
https://books.google.ca/books?id=TgxQAAAAYAAJ&printsec=frontcover&dq=%22attraverso+l%27+atla
ntico%22&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwiBtur9l_HZAhVJ9IMKHUY3CyAQ6AEIKzAA#v=onepage&q=
cavaquinho&f=false Acessado 2 de Maio, 2019.
33
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro 1878: 68.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=313394x&pesq=cavaquinhos&pasta=ano%201878
Acessado 2 de Maio, 2019.
Citado em Taborda, ibid.: 294.
34
Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal Anno XV, N. 58; 2 de Março, 1858: 3.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217280&pesq=cavaquinhos&pasta=ano%201858
Acessado 2 de Maio, 2019.
35
Castelo Branco, Camilo. 1876. “O Commendador”, Novellas do Minho: publicação mensal. Vol. II.
Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & C.a.: xix.
https://books.google.ca/books?id=QXYPAAAAYAAJ&pg=PR7&dq=minho&hl=en&sa=X&ved=0ahUKE
wj20b77w47SAhVH5oMKHUxUDPYQuwUIHjAA%20-
%20v=onepage&q=cavaquinho&f=false#v=snippet&q=cavaquinhos&f=false Acessado 2 de Maio, 2019.
36
Keil, Alfredo. 1904. Breve Noticia dos Instrumentos de Musica Antigos e Modernos da Collecção Keil.
Lisboa: Typographia do Annuario Commercial: 43.
https://archive.org/stream/brevenoticiadosi00keil#page/n3/mode/2up/search/cavaquinho Acessado 2 de
Maio, 2019.
De acordo com os arquivos do Museu da Música, Lisboa este cavaquinho já não faz parte da colecção
embora a sua informação continue no registo como pertencendo à segunda metade do século XIX (email de
Helena Miranda a 19 de Julho, 2018).

13
A prática remota de cavaquinho no Minho:
A primeira menção que consegui encontrar de cavaquinhos tocados pelas gentes
do Minho, foi publicada em 1844 por um estudante da Universidade de Coimbra e situa
essa prática em Braga junto a “clarinetas, violas, rabecas,” descrevendo todos como os
instrumentos favoritos na região.37 Ao investigar o último quarto do século XIX, comecei
a deparar-me com recriações literárias de ruralismo romantizado mencionando a
execução de cavaquinho.38

37
Sampaio Pimentel, Diogo Pereira Forjaz de. 1844. Memorias do Bom Jesus do Monte. Coimbra:
Imprensa da Universidade: 58.
https://archive.org/stream/memoriasdobomjes00samp_0#page/n5/mode/2up/search/cavaquinhos Acessado
2 de Maio, 2019.
38
Exemplos podem ser encontrados nestes autores:
Castelo Branco (1876), ibid.: 33.
Oliveira Lemos, F. J. de. 1875. Livro do romeiro ao sumptuoso sanctuario da Senhora do Porto d'Ave, no
districto de Braga: 114, 137.
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt/search?q1=cavaquinho;id=hvd.32044081040347;view=1up;seq=7;start=1
;sz=10;page=search;orient=0 Acessado 2 de Maio, 2019.
Campos, Alfredo. 1878. Serões na Caserna, contos de um soldado, Museu Illustrado, Album Litterario.
Vol. 1. Primeiro Anno. 1878. Porto: Typographia Commercial Portuense: 7.
https://books.google.ca/books?id=__89AQAAMAAJ&pg=PA7&dq=tocar+machinho&hl=en&sa=X&ved=
0ahUKEwjgq6mKo8vOAhVBlR4KHZHpC58QuwUINTAD#v=onepage&q=tocar%20machinho&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
Moreno, Bento [Teixeira de Queirós]. 1878. Comedia do Campo: scenas do Minho. Vol. I (2ª ed.). Lisboa:
Typographia Editora de Mattos Moreira & C.ª: 146-147.
https://books.google.ca/books?id=6cMQAAAAIAAJ&pg=PA147&dq=cavaquinho&hl=en&sa=X&ved=0a
hUKEwj069zgpbzOAhWF1RQKHSOxCi4QuwUIajAJ#v=onepage&q&f=false Acessado 2 de Maio, 2019.
Castelo Branco, Camilo. 1880. Echos humoristicos do Minho, carta ao <<Cruzeiro>>, publicação
quinzenal N. 3. Porto e Braga: Ernesto Chardron – Editor: 27.
https://books.google.ca/books?id=eQo-
AQAAMAAJ&pg=PA27&dq=cavaquinhos&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwjy-
YTLpabRAhXLx4MKHRkBAUMQuwUIHjAA#v=onepage&q=cavaquinhos&f=false Acessado 2 de
Maio, 2019.
Clot, Jose Luis. 1882. “Fragments d’impressions de voyage en Gallice et Portugal”, Club Alpin Français,
Section du Sud-Ouest/ Bordeaux. Bulletin Nº 11, Juillet 1882. Bordeaux: Imprimerie Central A. de
Lanefranque, (41-45) [traduzido do castelhano por M. de Saint-Saud]: 43.
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k9627585t/f515.item.r=fragments.zoom Acessado 2 de Maio, 2019.
Sanches de Frias, David Correia. 1886. Notas A Lapis, Passeios e Digressões Peninsulares. Lisboa:
Livraria de Antonio Maria Pereira, Editor: 213, 225.
https://books.google.ca/books?id=5p8DAAAAYAAJ&pg=PA46&dq=fado+no+cavaquinho&hl=en&sa=X
&ved=0ahUKEwjygYOw-srOAhUFXB4KHbwMD2cQuwUIRTAE#v=onepage&q=gerez&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
Castro, D. João de. 1892. O Morgadinho. Porto: S. A. Ribeiro Amoêdo: 9.
https://archive.org/stream/omorgadinho00castgoog#page/n3/mode/2up/search/cavaquinho Acessado 2 de
Maio, 2019.
Queiroz, Teixeira de. 1894. “A Senhora da Agonia (Do Paiz)”, Jornal do Recife 8 de Outubro, 1894,
XXXVII Anno, N. 230: 2.

14
Destas primeiras referências no Minho é impossível concluir que tipo de
instrumento seria usado, mesmo assim estou convencido que algumas são interpretações
éticas de machinhos em ambiente rural, outras estão provavelmente relacionadas com o
tipo urbano.39 Consolidando esta ideia, encontrei duas referências que nem sequer
mencionam cavaquinho mas apenas machinho. Uma é da edição de 1883 do Grove
Dictionary, descrevendo os instrumentos que acompanhavam danças populares na região
noroeste de Portugal, 40 e a outra aparece numa obra de José Augusto Vieira celebrando o
pitoresco do Minho em 1887. 41
Muita outra evidência sugere fortemente que o “cavaquinho urbano” era o único
tipo em uso em finais do século XIX de ambos os lados do Atlântico.

Primeira evidência do “cavaquinho minhoto”


Não consegui encontrar qualquer evidência confiável da existência de um
instrumento com as características do “cavaquinho minhoto” anterior à primeira década
dos anos 1900.42
Razões que indicam a sua criação na viragem para o século XX:
• Não existe evidência iconográfica segura antes 1913.43
• Não existem exemplares sobreviventes dos anos 1800.
• Nunca apareceu em qualquer geografia do império português no século XIX.

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=705110&PagFis=123055&Pesq=cavaquinhos
Acessado 2 de Maio, 2019.
39
O mesmo se aplicaria a referências à prática do cavaquinho entre os portugueses nesse período no Brasil.
40
Grove, George (editor). 1883. A Dictionary of Music and Musicians (A.D. 1450-1883). Vol. III. 1883.
London: MacMillian and Co.: 600.
https://books.google.ca/books?id=buG2AAAAIAAJ&pg=PA53&dq=Dictionary+of+music+and+musicians
+:+%28A.D.+1450-1889%29+/+edited+by+Sir+George+Grove&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwio_OeS-
d3OAhVKIsAKHVj8A4w4WhC7BQgZMAA#v=onepage&q=fandango&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
41
Vieira, José Augusto. 1887. O Minho Pittoresco. Tomo II. Lisboa: Editor Antonio Maria Pereira: 67.
https://archive.org/stream/ominhopittoresco02viei_0#page/n7/mode/2up/search/viola
Acessado 2 de Maio, 2019.
42
Esta noção parece ser partilhada por Pedro Caldeira Cabral (emails 11 de Abril, 2016; 13 de Janeiro,
2018). Infelizmente, não tive acesso ao seu mais recente trabalho sobre o cavaquinho, pois continua à
espera de ser publicado.
43
Ver n. 45 e imagem na p. 17.

15
Além disso, os desenhos de cordofones de mão portugueses reproduzidos por Lambertini
em 1914 e publicados em 1920 incluem a “viola braguesa” e o “cavaquinho [urbano]”
(em versão machete madeirense), mas não o “minhoto”.44

A iconografia mais antiga:


Desde a primeira década do século XX, algumas fotografias parecem retratar o
que hoje identificamos como “cavaquinho minhoto”. As mais antigas que consegui
encontrar, ambas tiradas na região do Porto, são de certo modo inconclusivas; numa
dupla estereoscópica de 1907 o instrumento é visto de costas, no entanto é possível
apreciar o seu típico cravelhal em forma de lira, e na imagem de grupo de 1908, a
resolução não é suficiente para determinar o tipo de cavaquinho, mas a presença das
violas sugere um “minhoto”. Também questionável é a fotografia encenada de 1910 com
um menino a tocar um cavaquinho no contexto rural algures no Minho. Não obstante, a
pose de um grupo de excursionistas em 1913, claramente revela a prática do “cavaquinho
minhoto”.45

44
Lambertini, Michel’Angelo. 1914. Portugal, Encyclopédie de la Musique & Dictionaire du
Conservatoire, Paris: Libraire Delagrave, fascicle 76, Vol. IV, 1914 [publicado 1920], (2401-2469): 2410,
figs. 353, 352. https://archive.org/stream/encyclopdiedel04lavi#page/2410/mode/2up/search/cavaquinho
Acessado 2 de Maio, 2019.
45
Fotografia estereoscópica por Aurélio da Paz dos Reis, 1907. Centro Português de Fotografia – Fundo
Aurélio da Paz dos Reis [PT/CPF/APR/001-001/001893] https://digitarq.cpf.arquivos.pt/viewer?id=62320
Acessado 2 de Maio, 2019.
Esta imagem foi gentilmente partilhada por Rafael Carvalho, São Miguel, Açores.
1908 Fotografia de grupo por Pereira Cardozo http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1908/N133/N133_item1/P24.html Acessado 2 de Maio, 2019.
1910 Fotografia com menino por Emilio Biel & C.a http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1910/N216/N216_item1/P10.html Acessado 2 de Maio, 2019.
1913 Fotografia do grupo Madrugadas por Teixeira Mendes in Ilustração Portuguesa 2a série N. 397, 29 de
Setembro, 1913: 363. http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1913/N397/N397_master/JPG/N397_0031_branca_t0.jpg Acessado 2 de
Maio, 2019. Ver fig. 4.
Esta imagem foi gentilmente partilhada por Rafael Carvalho, São Miguel, Açores.

16
Fig. 4 O grupo Madrugadas durante um passeio a Rio Tinto, Porto.
Fotografia por Teixeira Mendes, 1913.

Exemplares sobreviventes:
Os mais antigos exemplares conhecidos de “cavaquinho minhoto” datam das
primeiras décadas do século XX e foram construídos pela casa António Duarte, Porto;
todos exibem o desenho de “boca de raia”.

O processo de fusão e a sua cristalização


Reduzindo a viola via machinho?
Para se obter o “cavaquinho minhoto”, a viola teve de ser reduzida a um tamanho
comparável à do “cavaquinho urbano”, enquanto mantendo o seu aspecto geral.46 Embora
não se saiba se o machinho tocado na região noroeste de Portugal continental no século
XIX seria idêntico em forma à existente viola, esse poderá ter sido o ponto de partida
para a criação do “cavaquinho minhoto”, devido à sua já abreviada dimensão e possível
semelhança formal com a viola.
Existem várias referências ao machinho (também maxinho) no século XIX tanto
em Portugal continental como no Brasil, mas muito pouco se conhece a seu respeito para
além de ser mais pequeno do que a viola, maior que o cavaquinho e socialmente

46
O comprimento de corda vibrante típico da chamada “viola braguesa” é de cerca 50,5 cm, logo a sua
redução à oitava seria teoricamente mais próxima de 25 cm.

17
desvalorizado num cenário urbano.47 Além do mais, não existem sinais iconográficos
seguros do machinho dos anos 1800. No entanto, existe pelo menos uma imagem que
poderá conter a representação de um machinho; “A Tasca do Tio Patusco”, retratando
uma cena de taberna na Lisboa de 1848.48

Fig. 5 “A Tasca do Tio Patusco” cromo-litografia anónima, 1891? 49

47
Azevedo, António Xavier d’.1839. Os Doudos, ou o Doudo por Amor. Lisboa: Typ. de A. J. da Rocha: 3.
https://books.google.ca/books?id=fyVXAAAAcAAJ&pg=PA3&dq=machinho&hl=en&sa=X&ved=0ahU
KEwiLicvFrrzOAhVKGsAKHbYgA4Q4ChC7BQhaMAg#v=onepage&q&f=false Acessado 2 de Maio,
2019.
Constancio, F. S.[olano]. 1847. Novo Diccionario Portatil das lingoas Portugueza e Franceza. Sétima
edição / Segunda Parte / Portuguez –Francez. Paris: Rey: 341.
https://archive.org/stream/novodiccionariop00solauoft#page/340/mode/2up/search/machinho Acessado 2
de Maio, 2019.
Constancio (1858 [1836?]), ibid.: 240.
Faria, Eduardo de. 1851. Novo Diccionario da Lingua Portugueza. [2ª ed.] Vol. II. Lisboa: Typographia
Lisbonense de José Carlos D’Aguiar Vianna: 206.
https://archive.org/stream/novodiccionariod02fariuoft#page/206/mode/2up/search/machinho Acessado 2 de
Maio, 2019.
48
Carvalho, João Cândido de. 1891. Os Mysterios do Limoeiro. Vol. I (Nova Edição). Lisboa: Typ. da
Companhia Nacional Editora: 7-10, 18.
https://books.google.ca/books?id=VIHuAAAAMAAJ&pg=PA10&dq=fado+no+cavaquinho&hl=en&sa=X
&ved=0ahUKEwjygYOw-srOAhUFXB4KHbwMD2cQuwUIKTAA#v=onepage&q=cavaquinho&f=false
Acessado 2 de Maio, 2019.
49
Também aparece em:

18
A maioria destas referências e possíveis representações não situam o machinho a
ser tocado com a viola, e pelo menos uma na realidade menciona aquele com alternativa a
esta no acompanhamento de danças.50 Isto sugere que o machinho tinha uma vida musical
bastante independente da viola.
Na vizinha Espanha os tamanhos pequenos da guitarra tradicionalmente
chamados guitarro, guitarrico ou guitarrillo, não são tipicamente reduções à oitava. Tal
reforça a ideia de que a prática de reduzir a viola à oitava poderá ser relativamente
recente e algo “estranha” a uma tradição ibérica datando já do século XVI.
De acordo com as medidas que consegui recolher de várias fontes, o “cavaquinho
minhoto” tem um comprimento de corda vibrante de 31cm a 33,5cm que iguala as
dimensões usadas no “cavaquinho urbano”.51 Isto parece sugerir que os criadores do
“cavaquinho minhoto” recorreram a uma régua (bitola) pré-existente para fazer a escala
do novo instrumento.

Afinando o “cavaquinho minhoto”:


As primeiras referências disponíveis das afinações do “cavaquinho minhoto”
podem ser encontradas na celebrada obra de Veiga de Oliveira, revelando informação
recolhida no início dos anos 1960 de construtores e tocadores no Minho.52 Duas das
afinações, a «Moda Velha» “lá4-mi4-ré4-sol4” [A5 E5 D5 G5] e da «Maia» “lá4-mi4-dó4-
sol4” [A5 E5 C5 G5] parecem ser demasiado agudas; talvez um erro na numeração das
oitavas? Se tal for o caso, poderão estas ser afinações do antigo machinho, um
instrumento maior afinado uma quarta acima da “viola braguesa”? A afinação re-entrante

Pinto, Manoel Sousa. 1931. “O Lundum Avô do Fado”, Ilustração N. 141, 1 de Novembro, 1931: 17-19.
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ilustracao/1931/N141/N141_item1/P19.html Acessado 2 de
Outubro, 2018.
50
Grove, ibid.: 600. Ver também p. 15.
51
Oliveira, ibid.: 201.
Morais, Domingos. 1986. Os Instrumentos Musicais e as Viagens dos Portugueses. Instituto de
Investigação Científica Tropical – Museu de Etnologia, Lisboa: 68.
A informação técnica relativa ao cavaquinho AA020 incluída no catálogo do Museu da Música Popular,
Estoril, indica um comprimento de corda vibrante de 31 cm (pp. 164-165).
52
Oliveira, ibid.: 203.
O autor adopta a ordem das cordas da primeira para a quarta, e um sistema de notação em que dó 3 =
middle C = C4 (261.63 Hz). Entre parênteses rectos figuram as notas em “Scientific Pitch Notation”.

19
da «Maia» corresponde de facto à do rajão (sem a quinta corda) mas uma oitava acima.53
Seria o machinho semelhante a um rajão? 54

A enigmática “boca de raia”:


Na criação do “cavaquinho minhoto” era necessário um retoque final para
legitimizar a sua emergência, algo visual em conexão com a viola que pudesse ser
compreendido como uma ligação regional a um passado comum imaginário, a “boca de
raia”; elemento decorativo-funcional distinto que durante o século XX se tornou cada vez
mais associado com a região do Minho.

Fig. 7 Exemplos de “boca de raia” actual por Nuno Cristo, Toronto, 2009/2015.
Fotografias por Nuno Cristo © 2015.

Ausente dos padrões geométricos da arquitectura e formas de arte popular do


Minho, fui encontrar a “boca de raia” em algumas pinturas dos finais do século XIX por
dois artistas italianos retratando um bandolim do tipo lombardo de seis cordas singelas de

53
O rajão é um tipo de pequena viola actualmente apenas encontrado no arquipélago da Madeira, maior
que o machete/“cavaquinho urbano” com a afinação duplamente re-entrante: D4 G4 C4 E4 A4 (da quinta para
a primeira).
54
Manuel Morais (2008: 88) sugeriu uma possível conexão entre o actual rajão e o machinho de 5 cordas
feito em Guimarães, Braga em 1719. Citado em Caldas, Padre António Ferreira. 1881. Guimarães:
Apontamentos para a sua história. Vol. I. Porto: Typographia de A. J. da Silva Teixeira: 111-112.
https://archive.org/stream/guimaresaponta01ferr#page/n5/mode/2up/search/machinhos Acessado 2 de
Maio, 2019.

20
tripa. Logo se tornou evidente que este desenho é na realidade a adaptação de um
“ouvido” lateral em forma de C de um instrumento de arco muito mais antigo, a viola da
gamba, à pré-existente boca elíptica de um bandolim. Algumas destas imagens italianas
poderão ter sido a inspiração para a “boca de raia” uma vez que circularam como postais
ilustrados no início dos anos 1900. Este primeiro tipo de “boca de raia” pode ser
identificado numa fotografia de uma viola portuguesa em 1907.55

Fig. 8 Pintura por Eugenio Zampighi, Fig. 9 Pintura por Vittorio Reggianini,
Florença, finais de 1800 (detalhe). Florença, finais de 1800 (detalhe).

O “cavaquinho minhoto” combina a forma geral da viola numa concepção de


redução à oitava (via machinho?), as quatro cordas do urbano alteradas para metal, e uma
escala rasa de 12 trastos. Parece que a ascensão do “cavaquinho minhoto” resultou na
extinção do velho machinho, no entanto o seu nome sobreviveu até aos anos 1960 em
certas áreas do Minho.56

Contextos músico-ideológicos
Um novo instrumento para música antiga, feito para mas não pelo “povo”, o
“cavaquinho minhoto” estava bem destinado a uma vida no domínio da folclorização de
Portugal durante a primeira metade do século XX.

55
Ver n. 45. Esta é a mais remota representação de uma “boca de raia” portuguesa que consegui encontrar.
Não obstante, um duvidoso preçário elaborado por Armando Leça (1957: 184) para o período de 1900 a
1957, inclui a “Viola braguesa (com olhos)” o que poderá ser uma referência à dita “boca de raia”.
56
Braga, Alberto Vieira. 1948. “Curiosidades de Guimarães XI: Os votos de Santiago, Artes e artistas”,
Revista de Guimarães, 58 (1-2) Tipografia Minerva Vimarenense, (50-58): 52.
http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG058_02.pdf Acessado 2 de Maio, 2019.
Oliveira, ibid.: 202.

21
No seguimento da já mencionada vaga literária de ruralismo romântico nos finais
dos anos 1800, os últimos anos da monarquia viram o desenvolvimento de um fascínio
entre as classes privilegiadas de Portugal continental para com os modos e costumes do
campesinato do Minho, em especial a exuberante indumentária feminina conhecida por
“traje à vianesa”.57
A região do Minho, com a sua histórica ligação à fundação da nação tornou-se um
foco na procura da portugalidade “genuína” num período de profundas transformações no
mundo rural e progressiva industrialização, vistos por muitos como contribuindo para a
perda da nacionalidade. É neste ambiente que o “cavaquinho minhoto” é criado como
mais uma peça de cultura regional determinada a participar na construção de um orgulho
nacional. No entanto, a sua jornada até à popularidade não seria fácil.
Evidência iconográfica situa os primórdios do “cavaquinho minhoto” em
pequenas reuniões de amigos músicos e tocatas instrumentais no Minho, entre membros
excursionistas na região do Porto, e parte de uma tuna de estudantes em Coimbra.58 A
maioria dos tocadores retratados são rapazes ou homens jovens.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a prática do “cavaquinho minhoto” parece ter
diminuído e manteve-se geograficamente constrangida à região do Minho. Não consegui
encontrar qualquer evidência de soldados portugueses levando ou tocando “cavaquinho
minhoto” durante o seu tempo de guerra, no entanto outros instrumentos (acordeão,
bandolim, viola) podem ser vistos em fotograficas contextuais desse período. Além disso,
vários textos da época por autores nascidos no Minho não mencionam cavaquinho ao
descreverem romarias e feiras na região, no entanto referem muitos outros instrumentos
tipicamente tocados em tais ocasiões.59

57
Tornei-me consciente deste curioso fenómeno via Pedro Caldeira Cabral (email 23 de Fevereiro, 2018).
58
Imagens acessíveis via:
http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-88/
http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-3494/
http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-2157/
http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1913/N397/N397_master/JPG/N397_0031_branca_t0.jpg
http://virtualandmemories.blogspot.com/2009/07/tuna-do-liceu-de-coimbra-alem-da-tauc.html Acessado 2
de Maio, 2019.
59
Guimarães, Alfredo. 1907. “As Romarias do Minho”, Ilustração Portuguesa 2ª série, N. 69, 17 de Julho,
1907: 745-749. http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1907/N69/N69_item1/P12.html Acessado 2 de Maio, 2019.

22
A década de 1920 é ainda mais pobre em termos de evidência relacionada com a
prática de “cavaquinho minhoto”; só consegui encontrar uma imagem xilogravada de um
tocador solitário em traje tradicional na capa de um livro de poesia publicado em Braga
em 1928.60 E conheço um exemplar desse mesmo ano feito por António Duarte, Suc.or ,
Porto.61 De facto, o “cavaquinho minhoto” não era ainda reconhecido no mainstream
português como marca distinctiva de cultura regional, tal aconteceu mais tarde.

Folclore:
Desde pelo menos os anos 1930, o “cavaquinho minhoto” começou a participar
em grupos de música e dança (ranchos) das regiões noroestinas do Minho, Porto e
Aveiro, exibidos em cortejos, festivais, feiras e exposições patrocinadas pelo estado.62
Muitos destes eventos de grandeza nacional foram objecto de documentários
propangandistas que registaram, em filme, a execução do “cavaquinho minhoto” numa
atmosfera de vigorosa exaltação nacionalista, celebração colonial, e saudação fascista.
Não obstante, a sua presença nesses grupos regimentados não era abundante; de facto as
mais antigas versões de celebrados ranchos não incluiam o “cavaquinho minhoto” no seu
elenco instrumental.63

Queirós, Teixeira de. 1915. “Campos da minha terra”, Atlântida, N. 1, 15 de Novembro, 1915: 45-61.
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Atlantida/N1/N1_item1/P47.html Acessado 2 de Maio,
2019.
Guimarães, Alfredo. 1916. “A mulher do Minho”, Atlântida, N. 6, Julho, 1916: 184-191.
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/TerraPortuguesa/1916/N06/N06_item1/P35.html
Acessado 2 de Maio, 2019.
Guimarães, Alfredo. 1918. “A Feira de Guimarães”, Terra Portuguesa A. 3, Ns. 29-30. Dezembro
1918/Janeiro 1919: 83-89. http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/TerraPortuguesa/1918/N29-
30/N29-30_item1/P28.html Acessado 2 de Maio, 2019.
60
Amaral, Vergílio. 1928. Ao Som do Cavaquinho, Braga: Livraria Cruz.
Imagem da capa (impressão de xilogravura pelo autor).
http://www.livrariaferreira.pt/10020/Minho/AO+SOM+DO+CAVAQUINHO
https://livrosusadosantigosraros.files.wordpress.com/2014/12/img_1988-e1419626704938.jpg Acessado 2
de Maio, 2019.
61
Pertencente a colecção particular. Obrigado a Francisco Caldas por partilhar esta informação.
62
[Batalha 1936] Diário de Notícias, 19 de Agosto, 1936 (B-22/24). Fotografia: Mocidades das Escolas
Agrícolas. Citado em Santos, Carlos M. 1937. Tocares e Cantares da Ilha: Estudo do Folclore da Madeira.
Funchal: M. Romer: 42.
[Lisboa 1947] http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/RevMunicipal/N33/N33_item1/P66.html
Acessado 2 de Maio, 2019.
63
Rancho de Areosa (1919), Rancho de Carreço (1932), Rancho de Varinas de Estarreja (1933), Rancho de
Estarreja (1934).

23
É neste período que o “cavaquinho minhoto” aparece pela primeira vez conectado
com o poder imperial português, como um instrumento pseudo-rural nas mãos de
colonizadores latentes, de acordo com a ideologia da época. Não por acaso, é nos finais
dos anos 1930 que começam a surgir as primeiras narrativas da origem portuguesa do
cavaquinho.64
Pelo início dos anos 1940, o uso do “cavaquinho minhoto” tinha-se propagado
pela Beira Litoral, área costeira já familiarizada com o cavaquinho de tipo urbano desde
há pelo menos um século. É então que o “cavaquinho minhoto” começa a fazer parte de
um “pacote folclórico” que é exportado em representação de “autenticidade”
regional/nacional, e implementado nas décadas seguintes entre as diásporas portuguesas a
nível global.65 No entanto, a sua prática estava longe de ser afluente; em 1948 um artigo
num jornal local apelava por mais tocadores de cavaquinho no universo dos ranchos na
região de Viana do Castelo.66 Nas décadas que se seguiram (anos 1950 até ao início dos
1970), a prática do “cavaquinho minhoto” desfrutou de um impulso considerável da
indústria do turismo do Estado Novo e da progressiva folclorização da cultura popular.
Embora fadado para actuar nos encenados ambientes “rurais” do folclore português, o
“cavaquinho minhoto” encontrou a sua fama urbanizada no início dos anos 1880,
gravando uma marca no movimento de revivalismo da música “tradicional” da época. É
com o disco Cavaquinho de Júlio Pereira em 1981(LP Diapasão 1981, DIAP 20001) que
o instrumento revela o seu potencial em diversos géneros musicais, ainda que endossando
a visão expansionista romantizada de Ernesto Veiga de Oliveira no texto inserido. Desde
então, muito esforço tem sido feito para dignificar o pequeno cordofone de mão

64
Luís da Câmara Cascudo relacionou o instrumento e a sua introdução no Brasil a emigrantes madeirenses
(Cascudo 1939 via Santos 1937).
Parece ter sido Jorge Dias (1952, 1963) o primeiro autor a afirmar que o cavaquinho foi disseminado por
todo o mundo a partir do Minho (Braga). Dias reforçou a noção apresentada por Cascudo, mas foi um passo
adiante, relocalizando o ponto de partida do instrumento para a região berço da nacionalidade portuguesa.
65
Uma rara fotografia tirada em Moçambique algum tempo após 1955, encontra-se acessível via:
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/antiga-casa-do-minho-de-lourenco-2317194 Acessado 2 de Maio,
2019.
66
Aurora do Lima 15 de Agosto, 1948.
Citado em Martins, Moisés de Lemos. 2000. “A Folclorização das Festas”, Vida e Memória da Cidade de
Viana. Grupo Desportivo e Cultural dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, (73-113): 99.
http://hdl.handle.net/1822/25352 Acessado 2 de Maio, 2019.

24
normalmente pensado como uma importante peça na demarche histórica da expansão
marítima e poder colonial dos portugueses.
Criado na viragem para o século XX como um instrumento regionalizado
imitando a viola já tipificada como “braguesa”, o “cavaquinho minhoto” transformou-se
numa das histórias organológicas de maior sucesso a nível nacional. Hoje em dia, o
“cavaquinho minhoto” ocupa um lugar especial no imaginário de um grande número de
portugueses. A sua popularidade como instrumento social tem crescido de maneira
constante desde o início dos anos 1980, sendo actualmente tocado por milhares de
entusiastas em todo Portugal e além.
Contrariamente à crença popular, o “cavaquinho minhoto” não viajou pelo mundo
nas mãos de colonizadores ou emigrantes nem é responsável pela disseminação de
pequenos tipos de viola de mão através dos séculos; a sua associação ao poder colonial
português é meramente circunstancial à matrix ideológica do Estado Novo desde os anos
1930.

25
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