“EXPRESSO SER”

HOJE, GRÁTIS
“JORNAL EUROPEU DO ANO” 2º MANUAL

23 de setembro de 2022
2604 €4,50

www.expresso.pt
PUBLICIDADE

SABE QUEM É RESPONSÁVEL PELA

RECICLAGEM DE 100%
DAS EMBALAGENS
EM PORTUGAL?

VOCÊ!
QUE SEPARA E RECICLA AS SUAS EMBALAGENS!

OBRIGADO

CAIXA INVEST TRANSFORMA Saiba mais em cgd.pt

Apoiamos a transformação
e adaptação dos seus negócios.
Caixa. Para todos e para cada um.
Caixa Geral de Depósitos, S.A., registada junto do Banco de Portugal sob o n.o 35.
PUBLICIDADE

A RECICLAGEM DE EMBALAGENS EM PORTUGAL

Qual a quantidade de embalagens

que consumimos em Portugal?
Em 2021, foram colocadas TONELADAS

806.153 toneladas de 838.039 806.153

embalagens no mercado 754.346 768.343 768.492

nacional, o que equivale a um

consumo aproximado de

76
de embalagens
per capita
KG
2017 2018 2019 2020 2021

E quanto estamos a
separar e a recolher?
TONELADAS

437.901 473.974
387.641 423.720
356.391
LS
EXE
OP
FOT

2017 2018 2019 2020 2021

Em 2021, foram
Com o seu esforço e com
o trabalho de todas as
recolhidas e tratadas
entidades que operam no 473.974 toneladas de
mercado desde 2017, a resíduos de embalagens,
quantidade de embalagens que equivalem a
recolhida aumentou todos
os anos a uma média de 7%. UMA
TAXA DE
RETOMA
45 Kg/per capita DE 59%
(quantidade
recolhida em
função da
um aumento de 33% quantidade
face a 2017 colocada no
mercado)
 AV. DA LIBERDADE 129 & 194C • AMOREIRAS • COLOMBO
CASCAIS • ALIADOS • NORTESHOPPING • QUINTASHOPPING

+351 213 430 076

WWW.BOUTIQUEDOSRELOGIOS.PT

Fundador: Francisco Pinto Balsemão 23 de setembro de 2022

2604 €4,50

Diretor: João Vieira Pereira

Diretores-Adjuntos: David Dinis,
Martim Silva, Miguel Cadete e Paula Santos
Diretor de Arte: Marco Grieco

www.expresso.pt

SONDAGEM ICS/ISCTE António Costa,

24h Portugueses mais diretores do
SIS e da GNR
e deputados
Marcelo nos EUA
e em Malta
O Presidente da República
atingidos pela com dados
expostos

parte sábado para uma visita
à Costa Leste dos EUA, onde
vai estar até dia 29. Marcelo
vai passar por Los Angeles,
San Diego, Vale de San Joa-
quin, San José e São Francis-
co, visitando as comunidades
portuguesas. A 6 de outubro
vai a Malta para uma reunião
do Grupo de Arraiolos.
Santos Silva
com autarcas
O PS tem este sábado a sua
primeira Academia do Poder
Local, com a apresentação
de um estudo sobre o poder
local com prefácio do presi-
dente do Parlamento.
crise já querem
Em agosto, após
o ciberataque, a TAP “Infelizmente,
há coisas nos
cedências à Rússia
garantia que não tinha
havido acesso indevido
a dados de clientes socialistas
Informações sobre núme-
ros de telemóveis, moradas
que não
e e-mails de políticos como
António Costa ou André
mudam”
Ventura e dos líderes de for-
> Maioria já corta no lazer, na luz e no gás > Metade ças e serviços de segurança,
Passos Coelho de volta:
não receia perder o emprego, mas maioria teme deixar como Neiva da Cruz (SIS) e
Rui Clero (GNR), constam em prefácio de livro,
de poder pagar contas > Medidas do Governo: um na lista publicada na dark
web pelos hackers que ata-
recorda demissão
“irrevogável” de Portas
terço está descontente, mas pensionistas não tanto P8 caram a TAP. P7 e atira farpas ao PS P14

Eutanásia apertada
em Portugal Governo
PS, IL, BE e PAN garantem
que a futura lei da eutaná- recusa
sia não permitirá uma morte
como a do cineasta Jean-Luc
Godard. Segundo os partidos,
alarmismo
o texto será “claro” quanto às
circunstâncias “restritas” em
de Marcelo
que a morte medicamente
assistida será legal.
Presidente faz avaliação
da legislatura em 2024.
Diretor do MNAA Descida do IRC só foi
ameaça sair debatida em reuniões
Quase a renegociar os con- técnicas e não políticas P10
tratos de mecenato, a direção
de um dos principais museus
nacionais pode bater com a
porta e critica Governo. P6
Estudo do
aeroporto
feito sem
“JORNAL EUROPEU DO ANO”
concurso
ALDEIAS SEM ESPERANÇA
FOTO RUI DUARTE SILVA

Costa e Montenegro As três aldeias portuguesas onde

acordam avançar com só vive uma criança. Reportagem
Integram esta edição
semanal, além deste corpo avaliação estratégica. de um interior abandonado R30
principal, os seguintes
cadernos: ECONOMIA,
Estudo alargado a
REVISTA E e Guia ‘SER’ Nº 2 várias localizações ÚLTIMA

Quem é Pedro Novos professores Trânsito

Correia, o juiz sem formação em Lisboa
que vai decidir para dar aulas
o futuro e no Porto
de Ricardo 80% dos horários vagos vão para
pior do que
www.mantovani.pt Salgado P16 docentes sem curso de ensino P18 em 2019 P18

CAIXA INVEST TRANSFORMA Saiba mais em cgd.pt

Apoiamos a transformação
e adaptação dos seus negócios.
Caixa. Para todos e para cada um.
Caixa Geral de Depósitos, S.A., registada junto do Banco de Portugal sob o n.o 35.
4 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de setembro de 2022

João Vieira Duelo O ministro da Economia, António Costa Silva, anunciou a intenção
do Executivo de descer o imposto sobre a atividade empresarial
Pereira
António João
A magia está no bolso Saraiva Taborda
de cada um de nós Presidente da Confederação
da Gama
Empresarial de Portugal Advogado

“A política fiscal não é dade económica mas pela diminuição

A redução transversal do IRC para

seguramente a solução mágica da tendência de fugir aos impostos
para todos os problemas quando as taxas são muito altas. Mas
de política económica que temos” devia ter sido tomada há anos. Repa-
todas as empresas é uma boa ideia?

A
re-se que qualquer mexida nas taxas
frase aqui citada é do no próximo Orçamento do Estado só
secretário de Estado teria efeitos sobre os lucros do ano se-

dos Assuntos Fiscais.
Foi usada para destruir
a pretensão do ministro
da Economia de baixar
a taxa de imposto sobre
os lucros das empresas (já vamos a
este ponto). Pouco tempo depois foi
o próprio ministro das Finanças que
sentiu necessidade de dizer que Antó-
nio Costa Silva estava enganado e que
o Governo, em matéria de IRC, tem
uma só voz, a do primeiro-ministro.
Quando o ministro das Finanças
manda calar o ministro da Economia
fica claro não só onde está o verda-
deiro poder de decisão como ficamos
esclarecidos que o Governo não tem
qualquer vontade de aliviar a carga fis-
cal sobre a economia como um todo.
Podemos justificar mais este caso de
falta de coordenação do Governo com
a inexperiência política de Costa Silva.
É sempre fácil acusar um ministro de
alguma ingenuidade. Mas de ingénuo
Costa Silva terá pouco. Numa entre-
vista que deu ao Expresso enquanto
coordenador do plano de retoma da
economia que fez em 2020 antecipava
já que o seu trabalho tinha grandes
hipóteses de “nunca sair da gaveta”.
“Temo que haja sempre uma reativida-
de ao presente e nunca um olhar para
o futuro.” A realidade veio ao encontro
das suas previsões, com estrondo.
Ao contrário de muitos dos mem-
bros do Governo cuja experiência se
limita a gastar o dinheiro dos outros
(leia-se contribuintes), Costa Silva
tem experiência em gerir empresas.
Sabe o que é ter de enfrentar ciclos
económicos e ainda conseguir pagar
salários, manter custos controlados
e gerar lucros. E sabe a importância
do enquadramento fiscal para atingir
estes objetivos.
Quando avançou com a sua proposta
sabia perfeitamente que a sua ideia
não era consensual, que reunia todas
as condições para nunca sair daquela
gaveta onde as medidas estruturais
e de longo prazo têm tendência para
ficar esquecidas. A pergunta que se
coloca é, então, porque o fez?
A sua proposta deve ser vista como um
alerta lúcido e brutal sobre o que as em-
presas estão a enfrentar. E sobre como
está de mãos atadas para poder fazer
algo mais do que abrir linhas de crédito
que, ajudando, vão encher as empresas
com aquilo que lhes sobra: dívida.
Dito isto, a ideia de redução do IRC
para as empresas é uma medida que
fazia sentido. Até porque está pro-
vado que quando se trata de taxar
lucros das empresas uma descida de
impostos leva a um aumento da re-
ceita. Não só pela melhoria da ativi-
guinte, ou seja, em 2024. As empresas
não podem esperar tanto.
Uma das características que faz esta
crise única é a rapidez com que os
preços estão a subir. A inflação não
só é elevada como se está a espalhar
com uma velocidade impressionante.
A começar pelos custos da energia,
principalmente na indústria. Deixo
apenas um exemplo. Uma empresa do
Norte que produz porcelanas gastava
por ano 800 mil euros em gás. Agora a
fatura vai passar para 8 milhões.
O próximo ano vai ser marcado por
dificuldades crescentes de tesouraria,
pelo que, a atuar na fiscalidade, devia
ser em medidas que contribuíssem
para injetar mais dinheiro nas empre-
sas. Suspendam o pagamento especial
por conta, abandonem projetos de
obras públicas e injetem esse dinhei-
ro nas empresas e, acima de tudo,
pensem em como as empresas podem
reduzir os seus custos. A alternativa a
isto tudo será sempre uma destruição
de emprego.
Voltemos à frase que abre este ar-
tigo. “A política fiscal não é segura-
mente a solução mágica para todos
os problemas de política económica
que temos.” Talvez, só que a política
fiscal tem sido a solução mágica para
engordar o Estado e vender a ideia
das contas certas dos sucessivos orça-
mentos. Basta olhar para o gráfico de
evolução da carga fiscal ao longo dos
últimos anos.
EVOLUÇÃO DA CARGA FISCAL
Em percentagem do PIB
35,8
35
30
25
20
2000 2005 2010 2015 2020
FONTE: INE
O sucesso das passadas políticas or-
çamentais tem sido conseguido pela
imposição de um garrote fiscal — só
para alguns, já que os estrangeiros a
residir em Portugal continuam a po-
der pagar menos impostos —, e se há
magia ela está apenas na capacidade
de fazer os portugueses pagar cada
vez mais impostos. Política que, infe-
lizmente, não vai mudar agora que se
se aproxima uma crise de dimensões
imprevisíveis. A descida de impostos
devia ter sido feita quando a economia
estava a crescer.
jvpereira@expresso.impresa.pt
SIM NÃO
A diminuição da taxa de IRC e Entre os liberais e fiscalistas pertenço
a eliminação das derramas são a uma subespécie cada vez mais rara:
medidas fundamentais para tor- os que gostam de impostos e não per-
nar o nosso sistema fiscal mais competitivo. cebem a obsessão com a descida da taxa de IRC. Sempre
Foram, aliás, identificadas como peças fulcrais me pareceu uma ideia simplista e demagógica, ineficaz
da reforma fiscal de 2013. A comissão encarregue e injusta.
da preparação dessa reforma concluiu que, na Fruto da propaganda política neoliberal norte-ameri-
fiscalidade direta sobre as empresas, o nível de cana baseada na Curva de Laffer — epítome da pseudo-
tributação em Portugal era muito elevado face à ciência fiscal — esta ideia de que baixando os impostos
realidade europeia. sobre os lucros das empresas a economia cresce é muito
Concluiu também que esta medida constituiria apelativa. E falsa. E ultrapassada. Nunca foi provada
uma das componentes de maior visibilidade de qualquer causalidade e nas últimas décadas a tendência
uma reforma dirigida à atração de investimento mundial tem sido de uma constante descida das taxas
(nacional e estrangeiro), à criação de emprego e nominais de tributação, conjugada com uma crescente
à dinamização da economia. preocupação com a descida da tributação efetiva das
Na altura, valorizei, sobretudo, o estabeleci- grandes empresas.
mento de um calendário para o desagravamento E nessas décadas assistimos ao aumento do peso da
das taxas. De facto, as decisões de tributação sobre o trabalho (im-
investimento dependem das pers- postos sobre as pessoas singulares
petivas futuras sobre a fiscalidade, A eficácia da redução e as contribuições para a seguran-
por isso, a incerteza gerada pelas da taxa decorrerá, ça social) e do IVA. Se o IVA e a su-
frequentes alterações neste domí- sobretudo, bida do IRS atingem os pobres e a
nio prejudica significativamente a imensa classe média, a tributação
atratividade da economia. do importante sinal sobre o trabalho por via das con-
Acentuei, na altura, a importân- dado aos investidores tribuições para a Segurança Social
cia de garantir aos potenciais in- é o verdadeiro entrave transversal
vestidores que a reforma do IRC se Leis laborais a uma economia mais competitiva,
realizaria, perduraria no tempo e impedindo uma maior aproxima-
não seria pervertida por posterio- equilibradas, ção entre o dinheiro pago pelas
res alterações. Só assim poderia tribunais rápidos empresas e o dinheiro recebido
ter um impacto significativo na e justos, instituições pelos trabalhadores. Mas, mexer
economia. públicas na Segurança Social é um tema
Em dois anos seguidos, a taxa complexo, como o PS percebeu
do IRC foi reduzida, segundo o transparentes nas últimas semanas (tendo tor-
calendário estabelecido. Depois, e modernas: é isso nado muito real uma candidatu-
o Governo decidiu abandonar esse que o bom capital ra vitoriosa de Passos Coelho nas
calendário alimentando a imprevi- presidenciais de 2026).
sibilidade do sistema fiscal que se
estrangeiro procura Apesar de anunciada como
pretendia contrariar. transversal, uma descida do IRC
Com o aumento da derrama estadual introduzida nunca é um apoio a todas as empresas. Só cerca de 40%
em 2018, e tendo em conta as reduções efetuadas das empresas portuguesas pagam IRC. Mas 0,3% des-
em França e na Bélgica, Portugal passou a ter a sas empresas pagam 50% do total do IRC arrecadado.
taxa máxima de IRC (acrescida das derramas) Se juntarmos a isto o facto de mais de metade do IRC
mais elevada, não só da União Europeia, mas de arrecadado ser pago por empresas do distrito de Lisboa,
toda a OCDE — Organização para a Cooperação e não é uma generalização muito abusiva dizer que uma
Desenvolvimento Económico: 31,5%. Andámos em descida do IRC é sobretudo um apoio às empresas de
contracorrente. Países com um produto interno Lisboa com grandes lucros — aos incumbentes, portan-
bruto per capita próximo do nosso apresentam, to. Ser liberal é querer medidas fiscais que apoiam o
em alguns casos, taxas correspondentes a metade crescimento rápido de empresas novas, não que juntem
da nossa, como sucede com a Lituânia (15%), ou umas migalhas aos lucros gordos de velhas empresas.
mesmo inferiores a metade, como a Hungria (9%). E a atração de investimento? A ideia de que o capital
Portugal, ao aplicar taxas de tributação dos internacional escolhe o seu destino de investimento ten-
lucros das empresas tão elevadas, distancia-se do em conta a taxa de IRC não tem aderência à realida-
claramente dos seus concorrentes no que diz de. Leis laborais equilibradas, tribunais rápidos e justos,
respeito à captação de investimento direto es- instituições públicas transparentes e modernas, é isso
trangeiro. que o bom capital estrangeiro procura. Uma empresa
Não está apenas em causa um mero efeito que escolha Portugal porque o IRC é 19% e não 21% é
matemático. uma empresa que não devíamos querer em Portugal.
A eficácia da redução da taxa de IRC decorrerá, O crescimento tímido da economia resolve-se com
sobretudo, do importante sinal dado aos investi- mais investimento e melhores salários (por isso me pa-
dores. Aparece, assim, como uma decisão racio- recem mais certeiras as visões que defendem incentivos
nal face ao que a realidade nos tem demonstrado fiscais que premeiem determinados comportamentos
e face à necessidade imperiosa de reconquistar a das empresas), com melhores gestores, com menos
confiança dos investidores, nacionais e interna- dependências dos PRR e outros acrónimos. Dois por
cionais. Defendê-la é, para mim, uma questão de cento de IRC é apenas pouco mais, ainda por cima para
coerência. os mesmos.

A Semana as eleições e governar uma das

Por Martim Silva
mgsilva@expresso.impresa.pt
PREÇO DO PÃO
Num ano, o preço do pão em
Portugal aumentou qualquer
coisa como 15% face ao mesmo
período do ano passado, um
número ainda assim abaixo do
registado na União Europeia, de 18%.
ITÁLIA
O que vai acontecer este fim de
semana? A questão é importante
para quem lá vive, mas também
centra os olhares na UE,
sobretudo perante a iminência de
a extrema-direita, de Giorgia
Meloni (Irmãos de Itália), vencer
grandes economias europeias.
ONU
Semana dedicada à habitual
anual Assembleia-Geral da
Organização. Naturalmente,
muito marcada este ano pela
guerra no Leste europeu.
Destaque para a intervenção por
vídeo de Zelensky, respondendo
ao anúncio de escalada que Putin
tinha feito nessa mesma manhã.
VIOLÊNCIA
Depois de uma criança ser
obrigada a tirar a camisola num
estádio, por estar numa bancada
com adeptos da outra equipa, eis
que um pai e uma filha ao colo
foram insultados, noutro estádio.
Como sempre, muitas palavras e
promessas, com o Governo a
garantir que vai rever as leis
sobre violência no desporto.
ISABEL II
Terminaram no início da semana
as longas cerimónias fúnebres da
Rainha Isabel II, com grande
pompa e dignidade. Agora, o
Reino Unido conta com dois
novos líderes ao leme: o Rei
Carlos III e a primeira-ministra
Liz Truss.
SEMANA DA MOBILIDADE
Assinalou-se a semana da
mobilidade e o dia europeu sem
carros. Ao mesmo tempo,
sabemos, como se pode ler na
página 18 deste jornal, que o nível
do trânsito nas estradas já está
acima do registado na
pré-pandemia.
IRC
O IRC é para baixar, e para todas
as empresas, como anunciou no
início da semana o ministro da
Economia, ou afinal não é bem
assim e o Governo fala a uma só
voz, como veio Fernando Medina
corrigir? O que fica é a evidente
descoordenação do Governo
(António Costa estava em Nova
Iorque, na ONU).
FORMIGAS
Faz ideia de quantas formigas
há no planeta? Até pode nunca
ter pensado nisso, e se pensou
deve ter concluído que o
número não é possível de
calcular. Mas tudo parece
possível e um grupo de
cientistas da Universidade de
Hong Kong revelou um estudo
em que apresentou uma
conclusão: existem 20
quatriliões de formigas
na Terra. Isso são
20.000.000.000.000.000.
JOÃO LEÃO
O Governo português tinha
decidido apresentar a
candidatura de João Leão,
ex-ministro das Finanças, ao
Mecanismo Europeu de
Estabilidade. Mas a candidatura
foi retirada, por manifesta falta
de apoios para poder sair
vencedora.
RAFA
O regresso da seleção, que joga
com a República Checa e com a
Espanha para a Liga das Nações,
ficou muito marcado pelo
anúncio de Rafa, que abdicou de
representar as cores nacionais
para se centrar na sua carreira
no clube.
IGUALDADE NA DEFESA
O Ministério da Defesa vai ter
um Gabinete da Igualdade.
Pretende-se com isso aumentar
a participação de mulheres
em operações e missões
internacionais, anunciou
a ministra da Defesa,
Helena Carreiras.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Miguel Sousa Tavares
A caminho dos “territórios desconhecidos de destruição”
C
onheço uma casa no
Alentejo que foi cons-
truída em frente a um
lago que nunca seca,
mesmo nos anos mais
secos como este de
2022, pois que, além
de recolher a água das
chuvas, é alimentado
por duas nascentes. Até há uns anos,
aquele lago parecia uma Arca de Noé
ou um filme ao vivo da “National Geo-
graphic Magazine”: não havia quase
animal algum autóctone que não vivesse
ou não parasse por ali, em terra, no ar
ou na água. Havia perdizes, lebres, ra-
posas e uma tal abundância de coelhos
que mais parecia uma invasão; no ar
voavam constantemente bandos de pa-
tos-bravos e cordas de pombos-bravos,
que, de tantos, às vezes até assustavam;
mais carraceiras, rabilongos, águias em
voos de rapina circulares, e ao longe
ouvia-se o som do cuco e do pica-pau;
nas margens do lago passeavam entre
os tufos de erva toda a espécie de aves
aquáticas, desde as galinhas-d’água até
às garças, brancas e cinzentas, e mesmo,
de quando em vez, flamingos; e na água
viviam lagostins-de-água-doce e peixes
— carpas, bogas, achigãs — que nasci-
am na Primavera e saltavam de alegria
fora da água no Verão. Mas, acima de
tudo, o que mais impressionava era o
inacreditável concerto de rãs à beira do
lago nos finais de tarde, que chegava a
ser ensurdecedor, até o sol se pôr e ser
então substituído pelo canto dos grilos
e o piar das aves nocturnas, mochos e
corujas, chamando-se uns aos outros
através das sombras dos sobreiros e das
azinheiras.
Primeiro, desapareceram os coelhos,
devastados por uma doença de que não
se descobre nem a origem nem a cura.
Depois, desapareceram todos os habi-
tantes aquáticos do lago, a começar pe-
las rãs, ao que se conta dizimados pelas
cegonhas, que, entretanto, surgiram
do nada para se transformarem numa
praga protegida. Mas, estranhamente
também, desapareceram os mosquitos,
que incomodavam as noites, e as ves-
pas, que faziam o mesmo aos dias: aos
poucos, foram desaparecendo todos
os insectos. E todas as aves do ar e na
margem do lago. Nunca mais se ouviu
o pica-pau a furar a sua árvore, nunca
mais se escutou o cuco ou o piar do mo-
cho, nunca mais se avistou um pombo
no céu ou um pato na água. Nem sequer
as cegonhas, cumprida a sua missão.
Agora, só javalis, aliás indiferentes à
presença humana. Se eu não soubesse
ainda que alguma coisa de estranho e
grave se está a passar com o planeta
onde vivemos, bastava-me ter voltado
àquele lago agora para não me restarem
dúvidas. E ali não se faz agricultura as-
sassina e subsidiada pelo Governo, não
se plantam espécies exóticas e bêbadas
de água, como o abacate do México ou o
amendoal intensivo expulso da Califór-
nia e acolhido de braços abertos no Al-
queva, não se cultivam frutos vermelhos
em estufas de escravos asiáticos, não se
usam herbicidas nem insecticidas, há
anos convencionalmente proibidos mas
nunca banidos na prática. Ali era a natu-
reza em estado puro e agora é a morte
da natureza em estado visível. Eu ouvi
e li. Mas, acima de tudo, vi. Ninguém
me contou, eu fui vendo. Fui vendo ali
e noutros lados, em Trás-os-Montes, na
Beira, no Alentejo, no Algarve. Onde
antes havia ribeiros, agora há riachos ou
apenas ouedes, como no Norte de África
se chama à memória das linhas de água;
onde antes havia paisagens ainda ver-
des, agora há cinzas e árvores queima-
das e sempre os horrendos eucaliptos a
renasceram para alimentarem o próxi-
mo fogo; onde outrora havia rebanhos,
caça, aves e sinais de vida, agora há um
deserto silencioso e assustador, e onde
antes ainda havia gente, aldeias, casais
e hortas, agora há ruínas e silêncio e,
de repente, como num filme de ficção
científica, ilhas de um verde intenso,
onde se produz intensamente olival,
amendoal, laranjal, abacate, regado até
à loucura com a água que hoje falta nas
ribeiras e nas barragens e que amanhã
faltará nas torneiras.
Este Verão, Portugal e a Europa ba-
teram recordes de temperatura nunca
antes atingidos. Todos os rios de refe-
rência da Europa — o Danúbio, o Ebro,
o Tibre, o Loire, o Tamisa — e todas as
grandes barragens esvaziaram-se até
ao esqueleto, numa antevisão tenebro-
sa daquilo que nos espera no futuro
próximo. Num relatório apresentado
há dias pela Organização Metereoló-
gica Mundial, estima-se que num dos
próximos cinco anos viveremos o ano
mais quente de que há memória, com
as temperaturas a subirem, em média,
1,5 graus — exactamente aquilo que se
queria evitar que acontecesse antes de
2050 e que mais de 150 países se tinham
comprometido em Paris a tudo fazer
para o evitar. Hoje, porém, sabemos que
tudo andou para trás, com a desculpa da
guerra da Ucrânia: o regresso em força
às energias fósseis (incluindo as cen-
trais a carvão) fez com que as emissões
de dióxido de carbono, responsáveis
pelo aquecimento global, tenham já
regressado a valores anteriores à pande-
mia, e sabemos que, mesmo que todos
conseguissem imediatamente inverter
o rumo e assegurar os compromissos
estabelecidos para serem cumpridos
até 2030, os danos são já irreversíveis
— em 2050 já não será possível evitar
que a temperatura do planeta se tenha
fixado em pelo menos mais 1,5 graus
do que hoje. E daí para a frente entra-
mos naquilo a que António Guterres
chamou “territórios desconhecidos de
destruição”, num processo de “suicídio
colectivo” absolutamente irresponsável
e demencial: aquecimento dos oceanos,
degelo da calote polar, dos icebergues
e dos Himalaias (com as inundações
apocalípticas a que já estamos a assistir
no Paquistão), secas extremas e pro-
SOLUÇÕES AUTOMÁTICAS
PARA ARMAZÉNS INTELIGENTES
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO
Nada disto, infelizmente, é uma visão
Décadas de catastrofista. Tudo é hoje matematica-
mente documentado e pacificamente
passividade perante aceite pela comunidade científica, ex-
os avisos que o cepção feita a alguns avatares que cir-
planeta foi dando culam à volta de Donald Trump ou Jair
Bolsonaro. Já tenho, todavia, escutado
conduziram ao que algumas teses que, não podendo negar
de repente parece o caminho para a catástrofe, julgam des-
uma súbita aceleração cortinar alternativas. São essencialmen-
dos indicadores te de dois tipos: o tipo optimista e o tipo
conformista. O primeiro pretende que,
do desastre in extremis, à 25ª hora, a ciência encon-
trará maneira de evitar o desastre, como
já o fez tantas vezes antes, ou o próprio
longadas, começando pelos países sub- planeta se encarregará de se regene-
-saarianos (onde o número de pessoas rar por si mesmo: não sei como é que
atingidas pela fome extrema duplicou isso possa ser feito e, sobretudo, não sei
nos últimos três anos), rios e barragens como possa ser feito a tempo. Já a tese
vazios ou reduzidos a caudais mínimos, conformista parece-me mais do domínio
culturas e animais em extinção, incên- do possível, embora sinistra: dizem eles
dios cada vez maiores e mais incontro- que o que estamos a viver é resultado
láveis, água cada vez mais escassa para da exaustão dos recursos naturais por
abastecer os humanos. excesso de exploração humana. E, assim
PRIMEIRO CADERNO 5
sendo, vamos viver uma crise “regene-
radora”: milhares de milhões de seres
humanos vão morrer para que os outros
possam sobreviver e, com a experiência
adquirida e a ajuda da ciência, possam
retomar a vida num planeta mais limpo
e liberto da pressão sufocante de hoje.
Um darwinismo planetário em que já
se adivinha quem serão os milhares de
milhões sacrificados à cabeça.
Seja como for, o que é evidente é que já
não estamos a falar de um cenário para
as próximas gerações, nem sequer para
a próxima. Décadas de passividade pe-
rante os avisos que o planeta foi dando
conduziram ao que de repente parece
uma súbita aceleração dos indicadores
do desastre, mas que é apenas a res-
posta da doença à falta de tratamento:
a catástrofe é agora iminente. E se já
pouco me espanta numa geração de
líderes mundiais que prefere continuar
irresponsavelmente a ocupar-se dos
seus jogos de guerra, negócios de armas
e de energia enquanto o mundo que
habitamos se desintegra à vista de todos,
espanta-me, sim, a indiferença com que
a geração jovem assiste a isto, comoda-
mente instalada no seu mundo virtual e
hedonista à espera que a Greta Thun-
berg resolva o assunto por eles. Pegue-
mos, por exemplo, no caso português,
um dos países mais ameaçados pelas
alterações climáticas e pela seca, onde
a ministra da Agricultura declarava no
ano passado, triunfante, que o Algarve
tinha água garantida para os próximos
dois anos e onde, portanto, se continua
a aprovar cegamente todos os projec-
tos agrícolas que nem nos países com
chuvas abundantes são autorizados. No
meu tempo de juventude, em que líamos
jornais e livros e nos manifestávamos
nas ruas contra a guerra de África, mas
também contra a longínqua guerra do
Vietname, tínhamos uma ideia român-
tica, e todavia necessária, de que, por
pior que fosse o presente, o futuro teria
de ser construído por nós. Aqui e agora,
porém, vi que um milhão de jovens acor-
reu aos concertos de Verão e que 200
mil esgotaram em dois dias, fazendo
velórios nocturnos, os quatro concerto
dos Coldplay na Primavera que vem, em
Coimbra. Li que as juventudes partidá-
rias lá fizeram as suas habituais “Uni-
versidades de Verão”, onde ouviram os
seniores dos partidos ensinar-lhes como
se faz carreira na política. Mas nem aí
nem em lado algum vi que se arranjasse
sequer uma dezena de jovens para con-
frontar o primeiro-ministro, a ministra
da Agricultura ou o do Ambiente com a
catástrofe ambiental para que Portugal
caminha à frente do pelotão europeu.
Em tempos, o Vicente Jorge Silva cha-
mou à geração jovem de então uma
“geração rasca”. Se fosse vivo, não sei o
que chamaria à de hoje. Mas talvez fosse
simples: a última geração.
Miguel Sousa Tavares escreve
de acordo com a antiga ortografia
214 151 890
mecalux.pt
6 PRIMEIRO CADERNO
ALTOS
António Guterres
Secretário-geral
das Nações Unidas
Um mundo em perigo justifica o tom
duro de um dos mais importantes dis-
cursos do secretário-geral da ONU. E
se a guerra está no centro das preocu-
pações, também não tem faltado em-
penho nas palavras de Guterres contra
as ações que levam ao desastre ambien-
tal. Os avisos estão lá todos, bem como
o testemunho na primeira pessoa de
quem esteve nas graves inundações
no Paquistão. Nem sequer faltaram as
propostas para combater a crise climá-
tica, como a adoção de taxas duras para
a indústria de combustíveis fósseis.
Marcelo Rebelo
de Sousa
Presidente
da República
A insistência para que o Governo reve-
le as previsões macroeconómicas para
2023 não obteve resposta, mas o Pre-
sidente, que em setembro considerou
que as medidas de apoio às famílias
podiam ter sido tomadas “um bocadi-
nho mais cedo”, faz questão de mos-
trar que o tema é mesmo uma priori-
dade. Marcelo convocou uma reunião
do Conselho de Estado para debater o
cenário económico e social, depois de
ouvir os partidos.
E BAIXOS
Rui Moreira
Presidente da CM
do Porto
Que o futebol provoca as mais inade-
quadas reações entre os adeptos, co-
mo demonstram os exemplos de Fa-
malicão e Estoril, não chega a ser uma
novidade. É mais grave quando as rea-
ções surgem da parte de quem se espe-
ra que tenha um comportamento que
possa servir de exemplo. É o caso de
Rui Moreira, que não hesitou na agres-
sividade para censurar as perguntas
feitas por um jornalista a um jogador
do FC Porto.
António Costa Silva
e Fernando Medina
Ministro da Economia
e Ministro das Finanças
A defesa de uma redução universal do
IRC valeu a Costa Silva uma desauto-
rização pública do ministro das Finan-
ças. Costa Silva não se inibiu de dar a
sua opinião sobre uma matéria que
não estava fechada dentro do Governo
e Fernando Medina não deixou pas-
sar a ocasião. A pública troca de reca-
dos deixa à vista uma descoordenação,
além de uma evidente falta de diálogo
entre gabinetes.
Vladimir Putin
Presidente da Rússia
Sete meses depois do início da invasão
da Ucrânia, o Presidente russo coloca
a ameaça nuclear em cima da mesa, ao
mesmo tempo que convoca mais 300
mil militares para o terreno. A Rússia
confirma, assim, que está a perder a
guerra e usa o medo como trunfo mi-
litar. A guerra prolonga-se indefinida-
mente no tempo e continua a arrastar
vários perigos à escala global. O mun-
do fica (ainda) mais perigoso.
Paula Santos
paulasantos@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Comandos Suspeitas
de “cultura
de esteroides”
Fontes militares asseguram
que há recrutas que
consomem anabolizantes.
Exército desconhece casos
Há instruendos que recorrem a subs-
tâncias proibidas pelo Exército para
tentar superar a qualquer preço as
difíceis provas dos cursos de coman-
dos. A informação é revelada ao Ex-
presso por três fontes das Forças
Armadas com ligações a esta tropa
especial. “Chegaram-me a perguntar
como se podia arranjar testosterona
para ‘secar’ [perder gordura] e ganhar
músculos rapidamente”, conta uma
destas fontes. “Não foi caso único. E
havia até algum à vontade na aborda-
gem.” Um dos mais caricatos foi o de
um jovem recruta que procurava uma
garrafa de álcool etílico. “Na minha
ingenuidade, ainda julguei que fosse
para assar chouriços. Mas não. Era
para desinfetar uma injeção que ele
tinha tomado com esteroides.”
Entre os oficiais chegou a suspeitar-
-se de um soldado que fornecia subs-
O Cartoon de António Aquele abraço...
Cultura Diretor do
MNAA ameaça sair
Quase a renegociar contratos
de mecenato, direção de um dos
principais museus nacionais
pode bater com a porta
A aguardar a abertura do concurso
para a direção do MNAA — o único que
falta para concluir a renovação das di-
reções dos 26 museus, monumentos e
palácios com gestão direta da Direção-
-Geral do Património Cultural (DGPC)
—, Joaquim Caetano, diretor desde
2019, pondera abandonar a liderança
de um dos mais importantes museus
do país. “A decisão de candidatura
será tomada de acordo com o quadro
legal definido na altura do concurso.
O meu compromisso com a anterior
ministra [Graça Fonseca] foi de aceitar
o cargo em regime de substituição até
à abertura do concurso, o que espero
cumprir”, afirmou.
Joaquim Caetano já perdeu a quali-
dade de subdiretor-geral do Patrimó-
nio Cultural. Segundo o gabinete de
Pedro Adão e Silva, a prática iniciada
tâncias proibidas a recrutas num dos
cursos. “O dealer, no entanto, nunca
foi apanhado em flagrante e ainda está
no Exército”, contra a outra fonte das
Forças Armadas, que também pediu
o anonimato. Este militar lembra que
havia quem procurasse por anaboli-
zantes “com a desculpa esfarrapada de
estar a fazer tratamentos para a infer-
tilidade”. E quem conseguisse mesmo
fazer os ciclos de esteroides completos,
que duram entre 6 e 12 semanas.
Quando um instruendo tinha di-
ficuldade em adquirir este tipo de
substâncias, tentava procurá-las “fora
das unidades, quando alguém ia a
casa”, ou “já depois do fim do curso,
durante as missões”. Valia tudo, ou
quase tudo, para arranjar estas dro-
Exército refere que é
realizado um “controlo
analítico” três semanas
antes do início do curso
em 2012 de o diretor-geral delegar
competências de gestão do MNAA
num dos seus subdiretores-gerais tinha
por objetivo “tão-só e apenas, manter
a remuneração de subdiretor-geral ao
diretor do MNAA”. O que ficou forma-
lizado com o decreto-lei de 2019, que
aprovou a autonomia de gestão dos
museus e consagrou a equiparação
para efeitos remuneratórios, “o que se
justifica pela importância do MNAA
no panorama museológico nacional”.
O MNAA atravessa uma fase compli-
cada, sem perspetivas de concretizar o
projeto de expansão cuja necessidade
“O meu projeto era fazer
um museu normal, aberto
à visitação e em que
o património coletivo
não se degradasse”,
diz Joaquim Caetano
gas. Terá sido no Afeganistão que a
procura por substâncias dopantes e
também por cocktails de suplementos
alimentares — igualmente proibidos
pelo Exército, mas não tão graves
para a saúde — terá aumentado entre
os militares portugueses, que ali des-
cobriram “determinados produtos
inacessíveis” na Europa. “Nos últimos
anos, passou a ser cultura nos Coman-
dos serem ‘grandes’. Alguns ‘crescem’
no espaço de três meses e regressam
das missões a parecerem ‘armários’.
Está à vista de todos”, confidencia a
mesma fonte.
Contactado pelo Expresso, o Exér-
cito é taxativo: “Não houve qualquer
caso detetado de consumo de qualquer
uma dessas substâncias dopantes.”
Adianta ainda que no início dos cursos
de comandos “é entregue um guião do
instruendo em que é referido que não
estão autorizados a tomar qualquer
tipo de complementos ou suplemen-
tos, salvo indicação médica”. E que
“existem instruções teóricas, minis-
tradas pelo serviço de saúde, sobre a
importância da hidratação e nutrição
e sobre os perigos da toma de substân-
cias e de abuso de estimulantes duran-
te a frequência do curso de comandos”.
Inquirido sobre a periodicidade das
análises à urina e ao sangue aos recru-
tas, para melhor identificar substân-
cias proibidas, o Exército refere que é
realizado um “controlo analítico” três
semanas antes do início do curso. E no
último curso foram planeados quatro
está identificada desde 1955, terão de
ser iniciadas negociações para a re-
novação dos grandes patrocínios que
apoiam a instituição, assegurados pe-
los grupos Santander, Millennium bcp
e La Caixa. Com várias salas fechadas
por falta de vigilância, o segundo piso
do edifício tem patente uma exposição
concebida como temporária e que lá
está há 40 anos. “O meu projeto era
fazer um museu normal, com as defi-
nições da lei portuguesa, aberto à visi-
tação e em que o património coletivo
não se degradasse”, afirma Caetano.
“As verbas do Plano de Recuperação
e Resiliência (PRR) para o museu estão
suborçamentadas mesmo em relação
às necessidades imediatas e a abertura
dos concursos [para a celebração dos
contratos das obras] está atrasada seis
meses. O Governo tomou posse e ain-
da não se ouviu uma ideia sobre o que
quer. O Estado tem a responsabilidade
de preservar o património para as pró-
ximas gerações e cerca de metade do
que há de mais relevante até ao século
XIX está neste museu”, garante o di-
retor do MNAA. E conclui: “Mais vale
voltar para a função de conservador
e fazer trabalhos mais sérios, como
a publicação de catálogos de pintura
portuguesa, flamenga e italiana.”
Há um mês, o diretor do MNAA
escreveu um artigo no Público em
Expresso, 23 de setembro de 2022
momentos desse controlo. Depois do
curso, os militares “passam a realizar
o controlo médico-sanitário de acordo
com as normas em vigor no Exército,
que inclui a realização de análises clí-
nicas”. Mas uma fonte militar refere
que os esteroides anabolizantes são
absorvidos pelo corpo rapidamente e
por isso muito difíceis de detetar.
O caso do curso 138º
Na última edição, o Expresso revelou
um caso concreto: o de um militar
do mais recente curso, o 138º, que foi
internado no início do mês no Curry
Cabral por falência hepática e sujeito
a um transplante de fígado. Existem
suspeitas de que esta hospitalização
possa estar relacionada com o con-
sumo deste tipo de substâncias para
aguentar o esforço. O Ministério da
Defesa refere que “aguarda a conclu-
são das averiguações levadas a cabo
pelo Exército na sequência imediata
do incidente registado no 138º Curso
de Comandos e que permitirão aferir
das circunstâncias em que se deram os
acontecimentos”.
A Polícia Judiciária Militar, que está
a investigar o caso, assegura que “não
é possível conhecer as causas de todas
as situações ocorridas” no início do
mês no Regimento da Carregueira, em
Sintra, “por se encontrarem ainda em
segredo de investigação”.
Hugo Franco e Vítor Matos
hfranco@expresso.impresa.pt
que afirmava que, tendo em conta “as
enormes melhorias que a democracia
portuguesa conseguiu no sector cul-
tural (...) é difícil não ver nos museus
nacionais uma área de enorme falhan-
ço”. Questionado pelo Expresso, o mi-
nistro da Cultura anunciou que asse-
guraria recursos e capacidade de ação
às instituições. Uma semana antes,
tinha sido publicada a nova lei orgâ-
nica da Direção-Geral do Património
Cultural (DGPC) que, ao contrário do
esperado, não redimensionava o orga-
nismo. Pedro Adão e Silva já tinha dito
que era “preciso repensar a orgânica
da DGPC” de forma a permitir que
“os museus e os monumentos nacio-
nais tenham autonomia e flexibilidade
na gestão”. O gabinete do ministro
garante que “as alterações pontuais,
que decorrem da portaria, não devem
ser confundidas com a reestruturação
da DGPC prevista no programa do
governo, a que aludiu o ministro da
Cultura”. E avança que este é “um
trabalho mais profundo que está a ser
desenvolvido”.
Joaquim Caetano entrou para o
MNAA em 1991 como conservador
de pintura e atualmente promove o
restauro dos “Painéis de S. Vicente”,
obra magna do património português.
Christiana Martins
camartins@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022
Projeção
Economia
abranda
muito
em 2023
Conselho das Finanças
Públicas espera que a
economia portuguesa
cresça 6,7% este ano, mas
fique pelos 1,2% em 2023
Crescimento elevado em 2022,
mas forte abrandamento em
2023, ainda que sem recessão.
Assim se podem resumir as no-
vas projeções do Conselho das
Finanças Públicas (CFP) para
a economia portuguesa, divul-
gadas esta quinta-feira. Não é
ainda o cenário do Governo — o
primeiro-ministro remeteu-o
para a entrega do Orçamento
do Estado para 2023, a 10 de
outubro, apesar do pedido de
antecipação do Presidente da
República —, mas ajuda os por-
tugueses a saber o que esperar
em 2023.
O CFP prevê que o Produto
Interno Bruto (PIB) cresça 6,7%
este ano, muito acima dos 4,9%
projetados pelo Governo em
abril, no Orçamento do Estado
para 2022. Só que, para 2023,
antecipa um “abrandamento
expressivo”, para 1,2%. A ‘culpa’
é da persistência de pressões
inflacionistas — a instituição
espera que a inflação atinja
7,7% este ano, fique nos 5,1%
em 2023, e só baixe para a casa
dos 2% em 2024 —, em resulta-
do do prolongamento da guerra
na Ucrânia e da manutenção
de restrições do lado da ofer-
ta. Também pesam o arrefeci-
mento da procura externa e o
agravamento das condições de
financiamento da economia,
por causa da subida dos juros.
Ainda assim, o CFP projeta
que a taxa de desemprego baixe
para 5,6% este ano (6,6% em
2021), voltando a recuar em
2023, para os 5,3%, e diminuin-
do para 5% até 2026.
Inflação ajuda no défice
Quanto às contas públicas, os
números do CFP terão, na cer-
ta, agradado ao ministro das
Finanças, Fernando Medina.
A instituição espera que o dé-
fice diminua para 1,3% do PIB
este ano (2,8% do PIB em 2021).
Número abaixo dos 1,9%, que
o Governo inscreveu em abril
no Orçamento do Estado para
2022. A explicação está, em
grande medida, no “efeito da
inflação no crescimento da re-
ceita fiscal”, destaca o CFP.
Esta estimativa não incorpora
o impacto do Plano Extraordi-
nário de Apoio às Empresas,
anunciado pelo Governo, já que
o CFP considera “insuficiente”
a quantificação do efeito anual.
Mas, tem em conta as medidas
de mitigação do choque geopo-
lítico e de apoio ao rendimento
das famílias por causa da infla-
ção que, segundo o Governo,
totalizam €4 mil milhões.
Para 2023 — e apesar do
abrandamento previsto para
a economia —, “considerando
a reversão automática” des-
tas medidas extraordinárias
de apoio, o CFP projeta já um
excedente nas contas públicas
(0,1% do PIB). Caso não haja
essa reversão, aponta para um
défice de 0,4% do PIB.
Quanto ao rácio da dívida
pública, espera que baixe dos
127,4% do PIB em 2021, para
116,6% do PIB este ano e chegue
aos 100,6% do PIB em 2026.
Sónia M. Lourenço
slourenco@expresso.impresa.pt
António Costa e Neiva da Cruz estão na lista publicada na dark web dos hackers que atacaram a TAP
Ciberataque Deputados, membros do Governo e altos responsáveis
das forças e serviços de segurança foram também alvo dos piratas
informáticos. Especialistas apontam o dedo à TAP
Costa e chefe do SIS
com dados expostos
Hugo Franco
O
s dados pessoais do
primeiro-ministro,
António Costa, do
diretor do Serviço
de Informações de
Segurança (SIS),
Adélio Neiva da
Cruz, do comandan-
te-geral da GNR,
Rui Clero, e do líder do Chega, André
Ventura, foram expostos na dark web
pelo grupo de hackers Ragnar Loc-
ker, que atacou os servidores da TAP.
No caso de Costa, ficou pública uma
morada antiga, mas não o número de
telemóvel, apenas o e-mail de uma co-
laboradora do seu gabinete, ao contrá-
rio de Ventura, que viu o seu número
pessoal e e-mail expostos, mas não o
endereço de casa. Quanto a Neiva da
Cruz e Rui Clero, ficaram à vista a mo-
rada, o número de telemóvel e o e-mail.
Da lista — que não chegará aos 1,5
milhões de clientes da companhia
aérea já anunciados, uma vez que há
muitos nomes repetidos — constam
também os dados de deputados e ex-
-deputados, como Edite Estrela, Ja-
mila Madeira, Joana Mortágua, José
Cesário, José Silvano, Paulo Portas,
Alexandre Quintanilha ou Susana
Amador. O Expresso sabe que há ain-
da uma lista com 294 e-mails expostos
com o domínio gov.pt.
Os especialistas que falaram ao Ex-
presso são unânimes em isentar os
altos responsáveis do Estado de qual-
quer culpa, apontando exclusivamente
o dedo à transportadora portuguesa
pela falha de segurança. “Estas pesso-
as falharam? Não. Confiaram na TAP
e a culpa não é delas que o seu nome,
morada, e-mail e telefone tenham sido
tornados públicos pelos hackers. A
culpa é da empresa, que não soube
proteger os dados. A única culpa de-
les é terem confiado na TAP quando
se inscreveram como clientes. Esta é
uma quebra irreparável de confiança
FOTO JOSÉ CARIA
por parte da TAP”, defende Hugo Cos-
teira, presidente do Observatório de
Segurança Interna. “Não deve haver
um regime especial de segurança para
estes altos funcionários do Estado, pois
é algo que pode ser interpretado pelos
cidadãos comuns como sendo um pri-
vilégio a que todos deveriam ter direi-
to. Na verdade, estes altos responsáveis
podem agora alterar o seu número de
telemóvel exposto pelos hackers. E,
se houver necessidade, os serviços de
informações podem fazer facilmente
uma análise de risco às suas pessoas.”
Também Bruno Castro, especialista
em cibersegurança e CEO da Vision-
Ware, salienta que “qualquer pessoa,
mesmo um alto quadro político ou
das forças de segurança, é obrigada
a preencher os seus dados pessoais
como cliente da TAP ou de qualquer
outra companhia aérea”. E, na sua
ótica, a TAP é que, pela responsabi-
lidade que tem no circuito, deveria
ter implementado medidas adicionais
de segurança para proteger os dados
pessoais dos clientes. “Já para não falar
da sua própria infraestrutura interna,
que assumimos que foi igualmente
comprometida. Por exemplo, permitir
que os dados de reserva tivessem caído
nas mãos dos cibercriminosos, como é
o caso, é uma questão muito sensível
e pode implicar a segurança dos pró-
prios passageiros.”
“NÃO FOI APURADO
QUALQUER FACTO QUE
PERMITA CONCLUIR
TER HAVIDO ACESSO
INDEVIDO A DADOS
DE CLIENTES”, DISSE
A TAP EM AGOSTO
PRIMEIRO CADERNO 7
NO FIM ERA
O VERBO
PRÉMIO ALERTA VERMELHO
“Isto não é bluff. Os que
tentam chantagear-nos
com armas nucleares
devem ficar a saber
que ‘o vento cor-de-rosa’
também pode soprar
na direção deles”
Vladimir Putin
Presidente da Rússia no discurso em que
convocou mais 300 mil militares na reserva para
combater na Ucrânia
PRÉMIO SOS
“O nosso mundo está em
perigo e paralisado. Não
podemos continuar assim”
António Guterres
Secretário-geral da ONU no discurso
de abertura da Assembleia-Geral
PRÉMIO PARA BOM ENTENDEDOR
“O Governo talvez
ganhasse em explicar
aos portugueses qual
é a visão que tem para
o próximo ano (...)
o que vem aí é mau”
FOTO LUÍS BARRA
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República sobre o cenário
económico em 2023
PRÉMIO ORELHAS MOUCAS
“O senhor Presidente
conhece os calendários.
O OE [entregue a 10
de outubro] conterá o
cenário macroeconómico
para o próximo ano”
António Costa
Primeiro-ministro
PRÉMIO QUERER NÃO É PODER
“Espero que na
negociação do acordo
de rendimentos e de
competitividade e no
OE possamos ter esse
desígnio da redução do
IRC. Seria benéfico termos
essa redução transversal”
António Costa Silva
Um responsável em cibersegurança,
Ministro da Economia
que está a analisar os dados publicados
pelo Ragnar Locker e que falou no PRÉMIO ASSUMIR O CONTROLO
anonimato, criticou a falta de rapidez
da TAP na admissão de que dados de “Não me parece
clientes tinham sido comprometidos. adequado nesta fase,
“Os hackers podem não ter causado em que decorrem
qualquer dano às operações, apesar
do sistema de reservas da empresa
negociações com
continuar a funcionar com bastantes os parceiros sociais, esta
problemas, mas causaram um dano ou aquela posição sobre
irreparável às pessoas que foram ex- esta ou aquela matéria.
postas devido a este ataque.”
O Governo não negoceia
Alertas para phishing na praça pública”
Fernando Medina
Esta semana, num novo comunicado, Ministro das Finanças
a TAP revelou que as categorias de
dados pessoais expostos podem ser PRÉMIO DESCENTRALIZAR
o nome, nacionalidade, sexo, data de À MEDIDA
nascimento, morada, e-mail, contac- “Nenhuma cidade
to telefónico, data de registo de clien-
te e número de passageiro frequente. portuguesa está
E pediu aos clientes que alterassem impossibilitada de
as senhas do serviço Miles&Go, aler- receber a sede do SNS”
tando mesmo para possíveis burlas.
Manuel Pizarro
“A divulgação de dados pessoais atra- Ministro da Saúde
vés de fontes abertas pode aumentar
o risco da sua utilização ilegítima, PRÉMIO IMPORTA-SE DE REPETIR?
nomeadamente com o objetivo de
obter outros dados que possam com- “Infelizmente,
prometer os sistemas digitais para fazemos muito pouco
perpetrar fraudes (phishing).” E ga- dinheiro em Portugal”
rantiu: “Todos os sistemas afetados
foram isolados e procedeu-se à lim- Andy Brown
Presidente executivo da Galp Energia
peza desses sistemas. A boa notícia
é que as operações da TAP nunca fo-
PRÉMIO RECUAR NO TERRENO
ram afetadas — todas as operações da
TAP estão a decorrer em segurança.” “Julgo tratar-se de uma
decisão honesta e
Recorde-se que no primeiro comu-
nicado, no final de agosto, logo após acertada, neste momento
o anúncio do ciberataque, a trans-
portadora aérea garantia: “Não foi da minha carreira.
apurado qualquer facto que permita
concluir ter havido acesso indevido a
Peço que as razões,
de foro pessoal, sejam
dados de clientes.”
O Ministério Público abriu um in-
respeitadas por todos”
quérito ao ciberataque, que está a
ser acompanhado desde o primeiro
Rafa Silva
Jogador do Benfica, anunciando o fim da sua
momento pela PJ e Centro Nacional
de Cibersegurança.
carreira na Seleção portuguesa de futebol
Paula Santos
hfranco@expresso.impresa.pt paulasantos@expresso.impresa.pt
8 PRIMEIRO CADERNO
SONDAGEM ICS/ISCTE
Crise Mais de um terço descontentes com medidas anti-inflação, mas reformados
são dos menos descontentes. Famílias aflitas sobem sete pontos. Para 87% o pior está para vir
Pacote do Governo
segura pensionistas
48% dos portugueses já dizem viver com dificuldades
Textos David Dinis
Infografias Sofia Miguel Rosa
H
á três semanas que
a oposição critica
reiteradamente o
Governo por se pre-
parar para fazer um
corte no valor-base
das pensões a partir
do próximo ano, há
três semanas que no
mundo mediático se critica a forma
que o Governo escolheu para aliviar os
pensionistas do aumento da inflação,
ou o modo como o anunciou. Mas, se as
medidas anunciadas por António Costa
para aliviar o impacto da inflação na
vida das famílias, aprovadas agora pelo
Parlamento, não merecem aplauso da
maioria dos portugueses, elas também
não parecem ter melindrado particu-
larmente os eleitores socialistas, ou
sequer os pensionistas.
De acordo com a sondagem ICS/ISC-
TE realizada para o Expresso e a SIC,
são mais os inquiridos que consideram
as medidas “más” ou “muito más”,
36%, do que aqueles que as veem de
forma positiva (18%), mas o pacote
“Famílias Primeiro” acaba por ser
visto como neutro para 41% dos inqui-
ridos neste estudo.
Mais ainda, analisando as respostas
de acordo com os perfis dos inquiridos
percebe-se que apenas 19% dos que
se declaram simpatizantes do PS dão
nota negativa às decisões do Governo,
muito longe não só da média, como
sobretudo dos 56% de simpatizantes
do PSD insatisfeitos com os anúncios
— uma tendência semelhante quando
separamos as respostas por eleitores
de esquerda e de direita.
Entre os simpatizantes socialistas,
como se sabe, contam-se muitos refor-
mados, um eleitorado que foi essencial
para a maioria absoluta de outubro. E
o facto é que o anúncio de que o au-
mento das pensões seria repartido —
igualando em 2023 o valor da inflação,
mas prenunciando um corte no valo-
r-base da pensão no futuro — acabou
por evitar uma desilusão geral com
o Governo de Costa: os pensionistas
insatisfeitos com o pacote de medidas
são 32%, quatro pontos abaixo da mé-
dia e seis pontos abaixo dos que estão
em idade laboral (dos 25 aos 64 anos).
Seja a explicação para esta ‘resistên-
cia’ a forma como Costa comunicou as
medidas ou as medidas em si, a realida-
de é que no próximo ano os reformados
serão dos portugueses mais protegidos
pelo Governo da subida dos preços: os
funcionários públicos, por exemplo,
contarão com uma perda significativa
do poder de compra, tendo em conta
a referência de aumentos de 2% as-
sumida pelo primeiro-ministro numa
entrevista na semana passada.
Olhando para a sondagem, as críticas
ao pacote de medidas anunciado pelo
Governo são maiores sobretudo entre
os portugueses que dizem ter dificulda-
des em viver com o atual rendimento,
Expresso, 23 de setembro de 2022
COMO AVALIA AS MEDIDAS QUE O GOVERNO ADOTOU PARA mas ainda assim num valor estatisti-
ALIVIAR O IMPACTO DA INFLAÇÃO NA VIDA DOS PORTUGUESES? camente pouco significativo: 39% para
Percentagem em relação ao total da amostra 34%, para uma margem de erro que
NS/NR
ronda os 3,5%. O cheque de €125 por
5% pessoa (mais 50 por criança) pode ter “Seria melhor que a guerra
“MUITO BOAS” (1%) E “BOAS” (17%) atenuado uma avaliação mais negativa, terminasse o mais depressa
18%
embora a sondagem realizada entre possível, mesmo que isso implique
10 e 18 de setembro não tenha ido aos CEDER ÀS EXIGÊNCIAS DA
“MÁS” (25%) detalhes das medidas anunciadas. RÚSSIA e as suas consequências”
E “MUITO MÁS” (11%)
MEDIDAS
36%
DO GOVERNO Preparados para pior
“NEM BOAS NEM MÁS” Outro dado a ter em conta nesta son-
41%
dagem é o da avaliação da situação
económica: como mostra o gráfico,
NA FAIXA ETÁRIA +65 ANOS, de março para cá a perceção de que 48%
ESTE VALOR piorou subiu 19 pontos, acentuando
BAIXA PARA 32% muito a imagem de um país pessi-
mista — 67% a sentirem o peso da
crise contra 7% a avaliarem a situa-
COMO AVALIA A EVOLUÇÃO ECONÓMICA NO ÚLTIMO ANO? ção positivamente. Porém, olhando o
Percentagem em relação ao total da amostra histórico percebe-se que o ceticismo
NS/NR
ainda não atingiu o pico do período
2% “MELHOROU” da pandemia. É que em abril de 2021
7%
as respostas negativas atingiam os
82% — menos 15 pontos percentuais
do que hoje.
“PIOROU” (49%)
“FICOU NA MESMA” Só que, olhando para a frente, o pes-
OU “PIOROU MUITO” (18%) simismo acentua-se... muito. “No que
24%
ECONOMIA
67%
diz respeito ao aumento dos preços,
Os mais
PORTUGUESA
acha que o pior já passou ou ainda está
para vir”, perguntava o inquérito. E a
atingidos
resposta é clara: 87% dos portugueses
respondem que o pior “está para vir”;
ESTE VALOR SUBIU 19 PONTOS apenas 6% que “o pior já passou”. Se
pela
DESDE A ÚLTIMA o Presidente da República tem insis-
SONDAGEM (MARÇO 2022)
tido com o Governo para que diga
aos portugueses que o que aí vem é
90
“bem pior”, descanse: os portugue-
ses parecem estar bem conscientes,
“sem diferenças significativas por crise
admitem
DURANTE A PANDEMIA, MAIS DE 80% DOS
80
INQUIRIDOS AVALIARAM NEGATIVAMENTE
sexo, idade, instrução, avaliação do
atual rendimento ou posicionamento
A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA PORTUGUESA
70 ideológico”, acrescenta o relatório
60
PIOROU
elaborado pelo ICS/ISCTE, que anota
apenas um ligeiro menor pessimismo
entre os simpatizantes do PS (mesmo
ceder à
50
40
assim, 81% de respostas negativas so-
bre a evolução dos preços). Rússia
Metade do país aflito
30
Se o cenário à frente é difícil, a ava-
20 liação que é feita da evolução do ní-
vel de vida do agregado mostra como
10 as dificuldades já atingem boa parte
da população. Metade dos inquiridos
0 MELHOROU desta sondagem garante que, no últi-
FEV. 2020 SET. 20 ABR. 21 NOV. 21 MAR. 22 SET. 22 mo ano, a situação financeira familiar
piorou (43%) ou piorou muito (7%),
face a apenas 5% que viram as contas
melhorar. No meio estão ainda 44%
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 18 de setembro de 2022. Foi coordenada por uma equipa
de portugueses que dizem estar na
do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa mesma — sem alterações substanciais
(ISCTEIUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos de nível de vida.
indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Quando a pergunta é mais precisa —
Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza “relativamente ao rendimento do seu
as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados
agregado familiar”, as respostas con-
populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 83 pontos
de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida
solidam um cenário de aflição. É que
através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições 48% dizem ser já “difícil” ou “muito Apoio da população
legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2742 lares elegíveis (com membros do difícil” viver com o rendimento atual, à resistência ucraniana
agregado pertencentes ao universo) e obtidas 807 entrevistas válidas (taxa de resposta de 29%, taxa de cooperação de 42%). mais sete pontos do que em março é maioritário, mas 32%
O trabalho de campo foi realizado por 40 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. passado e, neste caso, também sete admitem ceder à Rússia
Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a frequência de prática religiosa e a
pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente,
ponto acima das respostas verificadas para acabar com a guerra.
a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 9). A margem de erro máxima associada a uma
no pico da pandemia (abril do ano Entre os mais vulneráveis,
amostra aleatória simples de 807 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são passado). a maioria já é outra
arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100%. ddinis@expresso.impresa.pt
 Expresso, 23 de setembro de 2022
Qual das frases
mais se aproxima
da sua opinião?
TOTAL DOS INQUIRIDOS
32%
Inquiridos que dizem:
“SER MUITO DIFÍCIL VIVER COM O RENDIMENTO”
“SER DIFÍCIL VIVER COM O RENDIMENTO”
35%
“DAR PARA VIVER COM O RENDIMENTO”
25%
“TER UM RENDIMENTO CONFORTÁVEL”
28%
“A guerra vai ter custos enormes
para a vida de todos”, avisou Marcelo
Rebelo de Sousa em março, pouco
depois de Vladimir Putin ter dado
ordem de invasão da Ucrânia. Pas-
saram sete meses desde esse dia, o
aumento dos preços estendeu-se a
bens essenciais e a todo o mundo,
o impacto nas economias — e nas
famílias — tornou-se palpável. Em
Portugal, passado este tempo, quase
um terço dos portugueses assume
uma posição contracorrente: “Seria
melhor que a guerra terminasse o
mais depressa possível, mesmo que
isso implique ceder às exigências da
Rússia e as suas consequências.” Foi
esta a resposta de 32% dos inquiridos
na sondagem do ICS/ISCTE, realiza-
da para o Expresso e SIC, que quis
medir o sentimento das famílias face
à evolução do conflito na Europa.
A resposta estava em confron-
to com outra, a que responderam
(ainda) mais de metade dos inqui-
ridos, 54% deles: “Seria melhor que
a Ucrânia continuasse a resistir à
Rússia, mesmo que isso implique
prolongar a guerra e as suas conse-
quências.”
Porém, se o apoio à resistência da
Ucrânia ainda é maioritário entre os
portugueses, isso já não se verifica
quando olhamos para o grupo de
inquiridos que assume ser “muito
difícil viver” com o seu rendimento
atual. Entre esses portugueses (15%
dos inquiridos neste estudo), há uma
maioria que gostaria de ver a guerra
terminar rapidamente, ainda que
com cedências à Rússia: são 48%
deste segmento, contra apenas 36%
que defendem uma contínua resis-
tência da Ucrânia, ainda que isso te-
nha “consequências” — ou seja, mais
dificuldades económicas a caminho.
Este é, nesta fase do conflito, o úni-
co grupo de portugueses que pensa
assim: os portugueses que dizem ser
“difícil” viver com o que ganham (e
já não “muito difícil”) vincam que es-
tão para já incondicionalmente com
Zelensky — 53% preferem “resistir
à Rússia” contra 35% que preferem
“ceder”. E, como seria previsível, o
apoio à Ucrânia é esmagador entre
os que dizem que “dá para viver” ou
que vivem de forma “confortável”
com os atuais rendimentos: em am-
bos os casos, o apoio à resistência
ucraniana segue na casa dos 60%,
contra 25% a 28% que admitem ce-
dências a Putin.
Entre os maiores de
65 anos, 37% dizem que
“seria melhor” terminar
a guerra, mesmo fazendo
cedências a Moscovo
Ainda assim, num panorama po-
lítico e social onde é quase unâ-
nime o apoio total à Ucrânia, as
respostas fazem adivinhar um
desafio num conflito que, tudo in-
dica, ainda será bastante longo:
como manter o apoio popular à
intervenção ocidental de ajuda a
Zelensky quando a economia ainda
só começou um processo de desa-
celeração? E como segurar o apoio
político a quem governa estes ali-
ados da Ucrânia quando muitos
sectores da sociedade começam a
sentir o forte impacto da inflação
e da contração económica? Numa
imagem: não sendo este o fator
único, o povo sueco colocou o par-
tido de extrema-direita a formar
“Seria melhor que a UCRÂNIA
CONTINUASSE A RESISTIR
à Rússia, mesmo que isso
implique prolongar a guerra
e as suas consequências”
54%
36%
53%
60%
61%
Governo e, no próximo domingo,
será Itália — tudo indica — a ele-
ger os pós-fascistas para liderar o
Executivo.
Olhando para os dados da sonda-
gem, é possível perceber quem está
mais suscetível às consequências
da guerra, assim como as faixas da
sociedade que estão menos convic-
tas no apoio à resistência da Ucrâ-
nia. Começando pelos mais velhos,
acima dos 65 anos: 37% dizem que
“seria melhor” terminar a guer-
ra, mesmo que com cedências” a
Moscovo — contra 46% a defender
o contrário. Os mais jovens encon-
tram-se no polo oposto: 64% estão
com os ucranianos.
Também no grau de qualificação
há diferenças a assinalar, havendo
um suporte para a posição da Ucrâ-
nia ligeiramente superior entre os
que têm formação superior face
aos que têm apenas 3º ciclo (58%
para 52%).
Curiosamente, apesar de só à es-
querda haver uma posição política
mais próxima da russa (a do PCP),
a defesa de um final rápido do con-
flito com cedências do Ocidente é
exatamente igual entre eleitores de
esquerda e de direita (34%). Ainda
assim, é uma faixa de eleitorado
largamente superior à que os co-
munistas portugueses hoje repre-
sentam — o partido teve apenas
4,3% nas eleições de janeiro.
Voltando atrás na história: este é
o retrato do apoio à Ucrânia (e ao
Ocidente que a tem apoiado) neste
setembro de 2022. A economia que
vem aí, acreditam os portugueses,
de acordo com esta sondagem, vai
ser pior para 87% dos inquiridos.
Aguentarão este apoio quando esse
amanhã chegar?
RELATIVAMENTE AO AUMENTO DOS PREÇOS,
QUAIS SÃO AS SUAS EXPECTATIVAS SOBRE O FUTURO?
Em relação ao total da amostra
“O PIOR AINDA
ESTÁ PARA VIR”
87%
ATÉ QUE PONTO ESTÁ PREOCUPADO
COM ESTES RISCOS ECONÓMICOS?
Em relação ao total da amostra
Perder o emprego
MUITO (22%) ALGO (21%) 43%
Deixar de conseguir pagar a renda ou a prestação da casa
MUITO (26%) ALGO (31%)
Deixar de conseguir pagar as contas da eletricidade, água e/ou gás
MUITO (30%) ALGO (37%)
Maioria já
corta no lazer,
gás, luz e água
Portugueses reduzem consumo.
Um terço teve de cortar em bens
de primeira necessidade e 19%
em despesas de saúde. Prestação
da casa é risco para 57%
Se já são 48% os portugueses que di-
zem viver com dificuldade com os
seus atuais rendimentos — mais sete
pontos do que há seis meses —, como
é que todos se estão a adaptar à su-
bida histórica da inflação? A maio-
ria com cortes em despesas de lazer,
mas também muitos com cortes em
produtos essenciais para o dia a dia,
conclui a sondagem realizada pelo
ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC.
A primeira resposta faz parte de
todos os livros de história económi-
ca: é no lazer que as famílias cortam
primeiro quando têm de controlar os
gastos. Assim, 72% dos portugueses
admitem ter lidado com o aumento
de preços evitando “despesas com
atividades de lazer, tais como pas-
seios, refeições fora de casa, hobbies,
cinema ou espetáculos”.
Mas não chega. Em cima disto, 62%
dos que responderam ao inquérito
dizem ter “diminuído o uso de eletri-
cidade, gás e/ou água em casa”, num
contexto de aumento generalizado
dessas contas. É também uma maio-
ria, demonstrando como o aperto já
chega a grande parte da classe média.
Os dados detalhados provam isso
mesmo: entre os que têm diminuído
estes consumos encontram-se 54%
dos que assumem ainda viver de for-
ma confortável ou satisfatória, tam-
bém 54% dos portugueses com qua-
lificações superiores e 67% dos que
estão em plena idade laboral, entre os
45 e os 64 anos. E quase dois terços
dos reformados — 63% — têm reduzi-
do estes consumos, que se distribuem
de forma igualitária entre simpati-
zantes do PS ou do PSD, eleitores de
esquerda ou de direita.
Mas há quem tenha sido obrigado a
fazer mais: 37% dos que responderam
à sondagem dizem ter já reduzido
o “consumo de alguns produtos de
necessidade” — mais de um terço dos
portugueses. Ao passo que cerca de
um em cada cinco, 19%, afirma ter
cortado “em despesas de saúde, tais
como consultas ou medicamentos”.
Os dados são consistentes com o nú-
PRIMEIRO CADERNO 9
NS/NR
8% “O PIOR JÁ PASSOU”
6%
PREÇOS
57%
67%
FEZ MUDANÇAS NO CONSUMO
PARA LIDAR COM O AUMENTO
DOS PREÇOS?
Em relação ao total da amostra
Cortou em passeios, refeições fora de casa,
hobbies, cinema, espetáculos ou noutras
atividades de lazer
72%
Diminuiu o uso doméstico de eletricidade,
gás e/ou água
62%
Cortou no consumo de alguns produtos
de primeira necessidade
37%
Cortou em consultas, medicamentos
ou outras despesas de saúde
19%
mero de respostas desiludidas com
as medidas anunciadas pelo Governo
para fazer face à alta de preços (ver
texto nestas páginas).
Olhando para a frente, cerca de
dois terços dos inquiridos dizem-se
“muito” ou “algo” preocupados com
a possibilidade de deixarem de con-
seguir pagar as contas de luz, de água
ou de gás. E 57% exprimem o mesmo
grau de preocupação “de conseguir
pagar a renda ou a prestação da casa”.
Subdividindo, são 26% muito preocu-
pados com esse cenário e 31% “algo”
preocupados com ele. O que se sabe
é isto: o Banco Central Europeu fez
dois aumentos sucessivos dos juros
de referência nos últimos meses e
prepara-se para fazer outros nos pró-
ximos meses.
Mais distante, mas já nos 43%, está
o medo de perder o emprego no fu-
turo próximo: 22% dos inquiridos di-
zem mesmo ter “muito” medo disso,
21% “algum”. Mas mais de um terço –
37% – diz que não tem não está “nada
preocupado” com a possibilidade de
perder o emprego e 17% dos inquiri-
dos estão só “um pouco preocupa-
dos”. Isto quando vários organismos
internacionais já admitem que o país
(e a Europa) está a caminho de uma
recessão.
10 PRIMEIRO CADERNO
POLÍTICA CRISE
Governo não
quer discurso
alarmista
Baixa do IRC, que mostrou diferenças
entre Finanças e Economia, foi
discutida em reuniões técnicas
Cátia Mateus
e Rita Dinis
“O mundo mudou nas últimas
três semanas”, dizia José Só-
crates, em maio de 2010, para
explicar como a subida abrupta
dos juros da dívida soberana o
tinha obrigado a aumentar im-
postos. Mais de 10 anos depois,
o mundo está outra vez a mu-
dar: a guerra na Europa está a
provocar uma crise energética,
que está a motivar uma escala-
da da inflação, que está a levar
à perda de poder de compra.
“O que aí vem é mau”, vatici-
nou o Presidente da República
esta semana, apostado em fa-
zer o Governo ver que “talvez
ganhasse” em falar a verdade
aos portugueses, para famílias
e empresas se prepararem para
o embate. Mas no PS como no
Governo, movido pelo otimis-
mo de António Costa, até o re-
cado do Presidente da Repúbli-
ca foi visto como “uma ajuda”.
“É bom para baixar as expec-
tativas”, foi ouvindo o Expres-
so de várias fontes socialistas.
A tese no Governo é de que os
portugueses ainda não sentem
a crise na pele e o fôlego que
irá ser dado em outubro vai
ajudar a suster a respiração.
Por um lado, os indicadores
que chegam do mercado de
trabalho, com uma situação
perto do pleno emprego, são
positivos, por outro, os dois
anos de pandemia fizeram com
que as famílias “gastassem me-
nos” e tivessem hoje as pou-
panças no máximo. “Alguém
está a re trair o consumo?”,
questiona uma fonte do Execu-
tivo, sugerindo que o Governo
está atento, mas não vai ser o
arauto da desgraça. Ou seja,
não vai anunciar o diabo antes
de as pessoas o verem.
É “um dia de cada vez”, corro-
bora outra fonte. E isso nota-se
de dia para dia, desde o momen-
to em que o primeiro-ministro
anunciou o pacote de ajuda às fa-
mílias para combater a inflação
e, de lá para cá, foi afinando o
discurso. Agora já fala da susten-
tabilidade da Segurança Social,
depois de ter tentado anunciar o
aumento das pensões (também
aí as contas apresentadas ao
Parlamento foram vistas como
uma “aldrabice”, por terem em
conta o aumento da despesa e
Depois da
desautorização
de Medina a Costa
Silva, IRC voltou
à estaca zero
não das receitas), e já admite
um “cenário de abrandamento”
da economia. O subterfúgio é a
“incerteza”. “Sabemos que não
vai ser fácil, mas alguém sabe
quão mau vai ser?”, questiona-se
entre socialistas. A ideia é deixar
que outros — de preferência o
PSD — prevejam o pior e depois
“esbarrem na realidade”.
IRC a queimar
O último caso foi o do pré-anún-
cio de descida “transversal” do
IRC feito pelo ministro da Eco-
nomia e quantificado, depois,
pelo presidente da CIP, António
Saraiva: seria de 21% para 19%
e seria um sinal “importante”
para o sector. Ao que o Expresso
apurou, a medida — que tem
sido amplamente defendida pe-
los patrões já desde as negocia-
ções para o Orçamento do Esta-
do que acabaria chumbado — foi
posta em cima da mesa pelos
patrões em julho, na última reu-
nião técnica no âmbito do grupo
de trabalho para o acordo de
rendimentos e competitividade.
O tema foi recuperado no
início de setembro, no mesmo
fórum, numa reunião que con-
tou com a presença do secre-
tário de Estado da Economia,
João Neves, mas que terminou
sem avanços ou compromissos
formais do Governo. Porém, a
informação recolhida pelo Ex-
presso dá conta de que nos bas-
tidores prosseguiram conver-
sas informais entre os patrões
e o Ministério da Economia e
que a redução da taxa de IRC
em dois pontos percentuais
(proposta que o PSD também
inscreveu no seu programa de
governo) chegou a ser estudada
e o seu impacto “não era assim
tão grande para as contas do
Estado”.
Contactados pelo Expresso,
nem o Ministério da Economia
nem o das Finanças quiseram
comentar o tema. Sem propos-
tas concretas ao fim de quatro
reuniões do grupo de peritos e
com o Orçamento a pressionar
o calendário, por esta altura já
os parceiros sociais reclamavam
a presença de António Mendon-
ça Mendes, secretário de Es-
tado dos Assuntos Fiscais, nas
reuniões, sob o argumento de
que era preciso “falar de fiscali-
dade”. Mas Mendonça Mendes
só participou na última reunião
do grupo, esta semana — e aí já
o caldo estava entornado.
Medina não gostou de ouvir
o inexperiente político Costa
Silva prometer mais do que de-
via aos patrões e deixou claro
que, primeiro, não se negoceia
em praça pública e, depois, a
voz do Governo é só uma: a do
primeiro-ministro e do progra-
ma de Governo, que tem feito
depender a descida do IRC das
“boas práticas salariais” de cada
empresa. Depois da desautoriza-
ção de Medina e do silêncio com-
placente de Costa, voltou tudo à
estaca zero. Com uma diferença:
mais um ministro fragilizado
num Governo que é cada vez
mais só de António Costa.
cmateus@expresso.impresa.pt
Marcelo avalia
a legislatura
em 2024
Presidente aconselha calma ao PSD.
Europeias serão decisivas para avaliar
eventual antecipação das legislativas
Ângela Silva
Falar de antecipação das próxi-
mas legislativas quando o Gover-
no tem seis meses de vida e goza
de uma maioria absoluta parece
surreal, mas a verdade é que a
conjuntura de crise económica e
social, os atrasos no Plano de Re-
cuperação e Resiliência (PRR),
as fraturas entre ministros com
pastas de peso como aconteceu
esta semana entre as Finanças
e a Economia e os crescentes
sinais de descoordenação den-
tro do Governo já entranharam
nos bastidores dos partidos a
pergunta: “Chegará esta legis-
latura ao fim?” No Palácio de
Belém, que terá sempre a última
palavra num eventual recurso
à ‘bomba atómica’ (dissolução
do Parlamento), o cenário não
é alimentado, mas também não
é descartado. Para Marcelo Re-
belo de Sousa a avaliação sobre a
durabilidade da legislatura será
feita em junho de 2024.
As eleições europeias em
maio desse ano são vistas pelo
Presidente da República como
decisivas para perceber duas
coisas: por um lado, como é que
o Governo passa nesse teste,
como estará o país, e que ener-
gia e união revelará na altura o
PS, o Governo e o próprio An-
tónio Costa para ir até ao fim;
por outro, até onde terá Luís
Montenegro conseguido levar
o PSD no processo de afirma-
ção política e de reconquista de
eleitorado ao Chega e à Inicia-
tiva Liberal? “Só aí se verá se
faz sentido para todos abreviar
em alguns meses a legislatu-
ra”, confirmam ao Expresso
fontes da Presidência, embora
Expresso, 23 de setembro de 2022
Marcelo Rebelo de Sousa tenha
até agora tido o cuidado de não
deixar sinais que apontem para
uma legislatura interrompida.
“É cedo”, sublinham, sem des-
cartar que, tendo o Governo “a
faca e o queijo na mão” — o PRR
não descola mas há milhões por
gastar — ainda consiga corrigir
as fragilidades que cedo demais
se tornaram evidentes. Para o
Presidente da República, que
há anos diagnosticou em An-
tónio Costa tiques de otimismo
excessivo, alguma sobranceria
(chegou a dizê-lo numa reunião
em Belém) e muita teimosia, o
primeiro-ministro corre sem-
pre o risco de, ao não querer
Belém vê um Governo
e um PM em desgaste
acelerado. Mas
“é preciso perceber
como é que PS e direita
estarão em 2024”
ceder às pressões da opinião
pública, arriscar perder os ti-
mings certos para emendar a
mão quando sabe que errou.
E a previsão, sabe o Expresso,
que Marcelo mais tem feito em
privado aponta para um chefe
de Governo que arrisca chegar
ao seu primeiro teste eleitoral,
em 2024, muito desgastado.
Nas conversas (regulares)
com Luís Montenegro, o Presi-
dente tem aconselhado o novo
líder do PSD a ter calma e re-
sistência às pressões do partido
para endurecer os ataques à
maioria socialista. Pelo con-
trário, Marcelo defende que a
linha certa passa por deixar a
Presidente diz que “o que
aí vem é mau” e pressiona
Costa a falar claro ao
país. O PM resiste à
pressão FOTO JOSÉ CARIA
bola a Costa e dar tempo para
que se evidenciem os erros (ou
a capacidade de recuperação)
de um Governo que já começou
a cair nas sondagens mas que é
cedo para ver como atravessará
a tormenta que aí vem.
O “grande senhor” que
dissolveu duas vezes
Nada por acaso, o Presidente
decidiu dizer alto e bom som
que “o que vem aí é mau”, de-
safiando o Governo a, quanto
antes, falar claro ao país sobre
o quadro macroeconómico em
que irá trabalhar no próximo
ano e que condicionará a vida
dos portugueses. E embora An-
tónio Costa não lhe tenha feito a
vontade, remetendo as informa-
ções para o próximo Orçamento
do Estado, que será entregue
a 10 de outubro, a mensagem
subliminar passou — o Governo
não está a contar tudo.
Sem querer precipitar ou con-
tribuir para crises políticas, o
PR engrossa a pressão sobre
o Governo e há quem garanta
que não desdenharia usar pela
segunda vez a arma da dissolu-
ção do Parlamento. Não passou,
aliás, despercebido o gigantes-
co elogio a Jorge Sampaio que
Marcelo publicou na sua pági-
na oficial e onde se refere ao
ex-Presidente como “o grande
senhor da democracia portu-
guesa”, cujo “exemplo e espíri-
to inconformado continuará a
ser uma referência”.
Sampaio não só usou duas ve-
zes a arma da dissolução como
demitiu um Governo de maioria
absoluta — o de Santana Lopes,
do qual assumiu “estar farto”.
E embora no palácio de Belém
afastem dissoluções de Marcelo
“na base de estados de alma”,
ninguém descarta liminarmente
que o ciclo possa ser interrom-
pido. Dependerá de Costa, de
Montenegro, da crise e do maior
ou menos cansaço dos eleitores.
Pela sua parte, o PR sabe que o
facto de as presidenciais serem
antes das legislativas lhe retira
tempo (saindo de cena em janei-
ro de 2026, só poderá dissolver
o Parlamento até ao verão de
2025). E não quererá dissolver
sem garantias de a direita ser
maioritária. Para surpresas já
lhe bastou a maioria absoluta de
Costa após ter partido a corda
no ano passado.
avsilva@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 11

TURISMO E RESTAURAÇÃO

O turismo está
a crescer.
As empresas
do setor também.

Apoiar um dos setores mais importantes da economia

portuguesa é a nossa praia. Mas também é o nosso hotel,
restaurante, café ou agência de viagens. Por isso, a Caixa
disponibiliza soluções criadas especificamente para
as empresas ligadas ao setor do turismo, para que
possam crescer e meter mãos ao futuro.

- Linhas de Apoio ao Turismo

- Leasing Mobiliário
- Rede de parceiros de consultoria
para candidaturas aos fundos europeus

Saiba o que podemos fazer pela sua

empresa, em cgd.pt, ou fale com um gestor
Caixa Empresas ou Caixa Negócios.

Caixa. Para todos e para cada um.

Caixa Geral de Depósitos, S.A.,
registada junto do Banco de Portugal sob o n.º 35.
12 PRIMEIRO CADERNO
AUTÁRQUICAS
Crise acentua
diferença entre
câmaras ricas
e pobres
Há câmaras com aumentos de custos entre 500 e
1000%. Obras adiadas para pagar contas de luz e gás
Eunice Lourenço
Quando foram eleitos há um
ano (a 26 de setembro) os au-
tarcas, como o país, enfrenta-
vam ainda a crise pandémica
que os fazia congelar inves-
timentos e/ou desviar verbas
para o apoio às populações.
Entretanto, enfrentaram um
braço de ferro com o Governo
sobre verbas para a descentra-
lização. E, agora, estão frente
a uma crise inflacionista que,
nalguns casos, está a aumentar
despesas em mais de 1000%.
“É um problema gravíssimo
e é preciso encontrar soluções
que minimizem este constran-
gimento que pode vir a tor-
nar-se incomportável para os
orçamentos municipais”, diz
ao Expresso a presidente da
Associação Nacional de Muni-
cípios Portugueses (ANMP),
a socialista Luísa Salgueiro.
“Sabemos que há autarquias e
empresas do sector local com
aumentos de custos de eletri-
cidade na ordem dos 650% e
de gás em 1400%”, adianta. O
social-democrata Hélder Sousa
e Silva, presidente da Câmara
de Mafra e vice-presidente do
Conselho Diretivo da ANMP,
dá o exemplo do seu municí-
pio: aumento de gastos com a
energia na ordem dos 500%,
com a luz e o gás para escolas e
piscinas municipais a pesarem
muito nessas contas.
A solução para algumas câ-
maras é desviar para o paga-
mento de despesas correntes
verbas que estavam previstas
para investimentos. Em Mafra,
a despesa de investimento des-
ceu de 20 para 8 milhões. En-
tretanto, houve câmaras com
outro poder económico, como
Lisboa ou Cascais, prontas a
anunciar programas próprios
de ajuda, como o não aumento
de rendas ou a entrega de aju-
das alimentares para famílias
e crianças. Mas essa não é a
realidade nem a capacidade da
maioria dos municípios.
Esta crise, reconhece Hélder
Sousa e Silva, que também pre-
side aos autarcas sociais-demo-
cratas (ASD), “afeta com mais
amplitude os pequenos do que
os grandes municípios, que têm
almofadas financeiras” que os
pequenos não têm. “É claro
que se esta situação é preocu-
pante para todos os municípi-
os, é especialmente sensível
para os municípios com maio-
res dificuldades”, reconhece
Luísa Salgueiro. “A crise afeta
todos, cada um à sua maneira
e na sua área, mas aprofunda
desigualdade”, começa por di-
zer Manuel Cordeiro, o inde-
pendente que presidente a São
João da Pesqueira. Num conce-
lho como o seu, em que precisa
de ajuda do Estado central para
resolver problemas de acessi-
bilidades, justiça e saúde, sabe
que “numa altura de crise e de
menos recursos” também há
“menos sensibilidade” do que
“numa altura de abundância,
em que se pode pedir mais”.
“Obras a ficar desertas”
Manuel Cordeiro já teve de re-
correr a empréstimos bancá-
rios e o pedido de autorização
teve de ir à Assembleia Muni-
cipal para manter obras, que
chegam a estar com 60 a 70%
de aumento de custos. E obras
nem sequer vão avançar: há or-
çamentos a ir para o dobro do
inicial e “obras a ficar desertas”
porque nem sequer há concor-
rentes.
Também Hélder Silva já can-
celou obras. Ficam prejudica-
das a construção de habitação a
custos controlados para jovens
e a renovação de condutas de
água (uma necessidade ainda
maior em tempos de seca para
conseguir diminuir as perdas
por avaria na rede). “Os con-
cursos estão a ficar desertos
ou têm variações brutais de
preços”, diz este autarca que
prevê também já ter de refor-
çar as áreas sociais e cortar nas
pinturas de edifícios públicos.
“No sector da construção ci-
vil, o aumento de preços das
matérias-primas, transportes e
energia já obrigou à aprovação
de um regime excecional de
revisão de preços”, recorda a
Localização
pesa mais do
que o partido
As limitações demográficas
e geográficas são mais
determinantes do que a cor
política de quem governa o
município. Esta é uma das
conclusões do estudo
encomendado pelo PS para
assinalar meio século de
Poder Local e que é
apresentado este sábado,
em Lisboa, no âmbito da
primeira Academia
Socialista do Poder Local. “A
dinâmica entre municípios
grandes e pequenos,
urbanos, semiurbanos e
rurais, situados na faixa
litoral ou no interior, pesa,
na verdade, mais do que ser
a gestão do PS, do PSD, ou
mesmo do PCP ou de uma
lista independente”, escreve
Augusto Santos Silva,
presidente do Parlamento e
coordenador do Fórum
Mário Soares: Igualdade em
Liberdade, no prefácio do
Livro “Meio Século do
Poder Local: As Marcas do
Partido Socialista”, de
autores Raul Lopes,
António Mendes Baptista e
Conceição Matos. E.L.
Expresso, 23 de setembro de 2022
“Só me lembro
de uma pessoa
assim: o professor
Marcelo”, diz o
deputado Carlos Reis
sobre Moedas
FOTO JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
presidente da ANMP. “Contu-
do”, salienta, “este regime ex-
cecional, que o Governo apro-
vou, é só uma parte da solução,
porque o acréscimo resultante
da revisão de preços tem que
ser pago e, mais uma vez, pelos
municípios”. E, mais uma vez,
nem todos têm capacidade de
adaptação. Os que têm mais re-
ceitas próprias tem “resiliência
que os municípios mais pobres
e mais pequenos não têm”, ex-
plica Hélder Silva. “Não temos
receitas quase nenhumas, ao
contrário dos grande municípi-
os”, queixa-se Manuel Cordei-
ro, que tem o orçamento da sua
câmara a depender em 33%
das transferências do Estado.
Disponibilidade do Governo
Com este cenário, a ANMP
pede ao Governo “que olhe
para as autarquias como olhou
para as famílias e para as em-
presas e que adote medidas que
auxiliem a gestão municipal
neste momento tão difícil da
vida coletiva, que assegurem a
eficácia da atividade municipal,
garantindo, simultaneamen-
te, o equilíbrio das contas dos
municípios”, como diz Luísa
Salgueiro.
Depois do Encontro Nacional
de Autarcas do fim de semana
passado, a direção da ANMP
reuniu-se com o ministro das
Finanças, Fernando Medina,
para apresentar as suas rei-
vindicações, entre as quais a
descida do IVA da eletricidade
para os municípios ou então a Moedas no ‘ringue’ e a
fazer da rua gabinete
reversão para as câmaras da
receita desse imposto. Como
salienta Hélder Silva, o Estado
central está a recolher mais re-
ceita de IVA de tudo aquilo que
as câmaras pagam em termos
de iluminação pública, gasóleo
e refeições escolares. Simpatia nas ruas, nhou Lisboa. “Andava tipo rapa “quando tem de dizer que
“Sentimos que o Governo guerrilha nos Paços do formiguinha na rua”, recorda não”. Vai, por isso, dizendo que
mostrou total disponibilidade Concelho, vitimização na “um dos malucos” que fez a sim a mais um beijinho, outro
para falar connosco, mas to- mensagem. Um ano de campanha e que acreditou aperto de mão, e cultivando a
das as medidas que impactam Carlos Moedas em Lisboa que a vitória seria possível. persona de presidente do povo.
com a fiscalidade têm de ser Passado um ano, tudo se Mercado de Alvalade, Quinta
ponderadas”, diz Hélder Silva, Ouvir as pessoas, estar com mantém igual. Ao Expresso, das Laranjeiras, no Parque das
que está confiante numa res- as pessoas, governar com as Moedas diz que não vê outra Nações, Bairro Padre Cruz, em
posta positiva às preocupações pessoas. Carlos Moedas repe- forma de liderar a Câmara de Carnide, são alguns dos locais
e necessidades das câmaras. te a palavra “pessoas” a cada Lisboa (CML). “O meu gabi- onde Moedas apareceu este ve-
Até porque deixar aumentar reunião, em cada entrevista. nete é claramente a rua. É aí rão a distribuir afetos, multipli-
as dívidas e os problemas dos “Pode parecer repetitivo, mas que tenho as mais produtivas cados depois nas redes sociais.
municípios é deixar crescer os não o é quando as pessoas são e importantes ‘reuniões’ de “All politics is local”, toda a
problemas do país e das contas a prioridade”, escreveu no trabalho.” política é local, famoso bordão
do Estado. Twitter após mais uma série Da mesma família política, norte-americano que Carlos
Certezas só depois de ver o de “pessoas” na “Grande En- o comentador da SIC Luís Reis lembra a este propósito.
Orçamento do Estado, que será trevista”, da RTP1. Marques Mendes considera Seja por feitio ou por estra-
entregue a 10 de outubro. Para A estratégia resulta desde mesmo que o perfil popular tégia, mesmo quem trata das
já está feito o aviso de Luísa o início e não há por que alte- de Moedas é um dos grandes grandes questões tem de pôr
Salgueiro: “A preparação do rá-la. Reconhecido como uma factos políticos do primeiro o pé na terra. E Moedas joga
próximo Orçamento do Esta- figura “simpática”, capaz de ano de mandato. “Conhecia-o sempre nas duas dimensões.
do é um momento crucial para criar “empatia”, Moedas — mais como pessoa de gabine- “Só me lembro de uma pessoa
assegurarmos as verbas neces- que foi a grande surpresa das te, foi uma revelação”, con- assim: o professor Marcelo”,
sárias à execução e operacio- autárquicas de há um ano — fessa. “Tem características remata o deputado municipal.
nalização da descentralização tem usado o palco das ruas que geram simpatia fácil e
de competências, mas também para ‘cavalgar’ a populari- transformou-se num caso es- “Continuo igual”
para garantirmos a eficiência dade. Carlos Reis, deputado pecial de popularidade.”
da intervenção dos municípios municipal do PSD e assessor Os sociais-democratas ouvi- Nos Paços do Concelho, o ano
e a sustentabilidade das suas dos vereadores na câmara, dos pelo Expresso garantem foi, no entanto, marcado por
finanças.” lembra que foi assim que o que o autarca é “disciplina- polémica e um ambiente de
elourenco@expresso.impresa.pt ex-comissário europeu ga- do” com a agenda, que só der- guerrilha permanente. O au-
Expresso, 23 de setembro de 2022
tarca, que se define como “um
homem de consensos”, tem
acusado a oposição de “blo-
queio” à governação minori-
tária PSD/CDS e justificado
os recuos — como o de acabar
com a ciclovia da Almirante
Reis — com o clima de radi-
calização “absurdo” na CML.
“Eu continuo a ser igual”, de-
fende. “Procuro argumentos
sérios sobre os assuntos.”
À beira de negociar mais
um orçamento, Moedas tem
falado em baixar a tempera-
tura, definindo-se como um
liberal social que defende a
fiscalização em vez da proibi-
ção. E, apesar da evidente cli-
vagem no executivo, parece
querer pairar acima da dico-
tomia esquerda-direita, que
acredita que “já não existe”.
A divisão hoje é entre “fazer
com as pessoas ou impor às
pessoas”.
Para Marques Mendes, é
aí que está o segundo facto
“As pessoas
não perceberiam
se ele estivesse
já a falar em
recandidatura
para 2025”,
comenta fonte
social-democrata
político a reter. “Moedas tem
sabido vitimizar-se, o que, na
política portuguesa, é sem-
pre muito pagante”, afirma
o analista. Numa fase inicial
dos mandatos, os presidentes
tendem a gozar de um “estado
de graça” que torna malvis-
ta qualquer tentativa de blo-
queio, seja ela real, empolada
ou imaginada.
Na entourage do PSD, a
leitura é a uma só voz: a vi-
timização não existe, o PS é
que “ainda não ultrapassou”
a traumática derrota de há
um ano. Luís Newton, líder
da bancada laranja na Assem-
bleia Municipal, diz que a for-
ça de bloqueio é umas vezes
“tímida”, outras “descarada”,
mas que o PSD está a “deixar
marca na cidade”. Recusando
que haja uma estratégia de
vitimização no PSD/Lisboa,
admite um plano: “Carlos
Moedas, maioria absoluta
em 2025.”
Silêncio de ouro
Do primeiro ano de mandato,
Carlos Moedas leva já alguns
pins na lapela, que não se can-
sa de mostrar. Os transportes
públicos gratuitos para mai-
ores de 65 anos e estudantes
abaixo dos 23 entraram em
vigor este verão e levam mais
de 30 mil adesões. Tal como
a atribuição de €40 milhões à
Gebalis para a reabilitação de
11 bairros municipais, medida
que serve bem para um pis-
car de olho a um eleitorado
tradicionalmente próximo
do PS.
Mais à direita, o executivo
PSD/CDS aprovou a descida
dos impostos (a CML devolve
agora 3% do IRS) e prepara-
-se para avançar com a isen-
ção do pagamento de IMT na
compra de casa para jovens
até aos 35 anos. As restrições
ao Alojamento Local (em vi-
gor até à criação de um novo
regulamento) são entendidas
por Moedas como um atro-
pelo à iniciativa privada e à
dinâmica da própria cidade.
Para 2023, o presidente
da CML promete “medidas
concretas” na habitação, fala
no “desafio de fazer do maior
evento que se realizou até
hoje no nosso país”, a Jornada
Mundial da Juventude, “um
sucesso” e põe o plano de saú-
de para maiores de 65 anos
como “fundamental”. O que
recusa antecipar em todas as
intervenções é o que estará a
fazer em 2025.
“As pessoas não percebe-
riam se ele estivesse já a falar
numa recandidatura”, co-
menta com o Expresso fonte
social-democrata em Lisboa.
“Ele está a fazer a coisa certa.”
João Diogo Correia
jdcorreia@expresso.impresa.pt
Renúncia Câmara
comunista está a
mudar de presidente
Dança da
cadeira não
faz mossa
no Seixal
À porta da sede do PCP no Seixal, há
um café onde se reúne uma espécie de
tertúlia informal quase todos os dias.
Pelas primeiras horas da manhã, os
seis homens, que passam a sete, oito,
sete outra vez, mais uma mulher, já
falaram sobre futebol, sobre a chuvada
que caiu sem aviso na noite anterior,
e passam agora às grandes questões.
“Puseram-me no planeta errado. E
acho que há biliões deles!”
À abordagem do Expresso, reagem
com ceticismo. Sobretudo quando a
conversa vai, e vai sempre, desembo-
car na guerra na Europa. “O que eu sei
é que vou pagar uma fatura que não é
minha. Há quem queira aquela guerra,
eu não quero”, comenta João Manuel,
o único que aceita ser identificado, e
que admite ter votado na coligação de
PCP e Verdes (CDU).
Menos de um ano depois, o Seixal foi
o primeiro concelho a anunciar a saída
do presidente eleito. Joaquim Santos,
que subiu a votação face às eleições
anteriores (37,7%), em contraciclo com
a maioria das câmaras comunistas,
anunciou a renuncia em agosto para
“voltar à carreira profissional”. Por
agora, mantém-se em funções, a pre-
parar uma “transição com todas as
condições” para o até agora vice, Paulo
Silva. É a primeira saída antecipada,
mas está longe de ser inédita.
Nas ruas, a troca não parece fazer
mossa. Seja pela descrença — “é tudo
igual”, diz Maria, proprietária de um
pronto a vestir no centro histórico —,
seja pelo hábito de ver o PCP liderar a
autarquia, o que acontece desde 1976.
Sara Cipriano, Tânia Cunha e Patrí-
cia Silva pertencem a uma nova gera-
ção, estão sentadas a acabar o almoço
num jardim. Mesmo para elas, a trans-
formação do Seixal é já evidente. Com
a baía estendida em diante, notam que
esta zona é agora ponto de encontro
obrigatório. “Já não é preciso ir a Lis-
boa para encontrar um bom restauran-
te”, comenta Patrícia.
As três admitem que votar aqui é
diferente de votar noutras eleições, e
que a força do PCP na cidade se sente
em quase todas as conversas. Mesmo
que haja qualquer coisa de geracional
nisso, há peças que são para ficar. “Não
me tirem a festa do ‘Avante!’”, pede
Sara.
Eleito três vezes, Joaquim Santos es-
tava impedido de concorrer em 2025.
Embora a chegada ao Governo ou ao
Parlamento seja o principal motivo
para a dança de cadeiras no poder local
(como está a acontecer em Caminha,
com a saída de Miguel Alves para o Go-
verno), a lei de limitação de mandatos,
que entrou em vigor em 2013, abriu
espaço para que os autarcas comecem
a preparar o terreno para os sucesso-
res antes do fim. É o que vai acontecer
em Cascais, por exemplo, onde Carlos
Carreiras já anunciou que vai deixar
o mandato antes do fim para lançar o
sucessor.
No anúncio da decisão, o autarca
lançou o sucessor e contou que vai as-
sumir novas tarefas no Partido Comu-
nista. O Expresso tentou saber quais,
além de esclarecer se a saída ao fim de
um ano configura uma “traição” aos
eleitores, mas não obteve resposta até
ao fecho desta edição.
Traição? João Manuel e companhei-
ros de café torcem novamente o sobro-
lho. “O que conta não são as caras.” É o
partido? “Não, é a obra feita”, responde
o homem nascido em Lisboa, que vive
e vota há 40 anos no Seixal. A descon-
fiança em relação à comunicação so-
cial, sobretudo num tempo de guerra
que pôs os comunistas na berlinda,
volta sempre. “Vocês só estão a fazer
esse levantamento porque é o PCP,
não é?”. J.D.C.
PRIMEIRO CADERNO 13
Gente
‘You get a car!’ A política nacional parece
ter dado a volta quando, por estes dias, se
ouvem vários governantes e dirigentes do
PS falar na sustentabilidade da Segurança
Social, na reforma do IRC ou na “reparti-
ção dos sacrifícios”. PS ou PSD? Gente tem
andado confusa, mas mais confusa ficou
quando viu o líder da distrital do PSD do Al-
garve a oferecer viagens a Bruxelas (estadia
e visita ao Parlamento Europeu incluídas) às
cinco pessoas que conseguirem recolher o
maior número de assinaturas para a petição
“Novo Hospital Central do Algarve Já”. PSD
inspirado nos carros que Oprah Winfrey
oferecia?
Insónias “Eu levanto-me a meio da noite
a pensar no lixo” é uma frase que não se
espera ouvir muitas vezes. Mas a verdade é
que Carlos Moedas confessou à “Grande En-
trevista”, da RTP1, que não só acorda como
se deita “a pensar no problema”. É verdade
que os ecopontos em Lisboa estão a rebentar
pelas costuras, mas, à beira da negociação de
mais um orçamento da câmara mais agitada
do país, Gente só espera que o presidente
Moedas tenha um bom medicamento para
as insónias.
“Peço respeito” Com mais ou menos
horas de sono, na terça-feira, na reunião
pública descentralizada com os muncípes de
Alvalade e Marvila, Moedas apresentou-se
enérgico. Discutiam-se os apoios dados pela
câmara aos festivais, quando o presidente
decidiu interromper Ana Jara, vereadora
do PCP, pedindo para evitar entrar “em dis-
cussão política”. João Ferreira ainda entrou
em jogo, mas sem grande sorte. Moedas
lembrou que é o presidente, que é ele quem
dirige as reuniões e nem se coibiu de pedir
“respeito”.
Costa, o “ilusionista” O truque não é
novo. Conhecidos pela irreverência da sua
propaganda, já nas últimas autárquicas, a
IL apresentara cartazes copiados da con-
corrência, adornados apenas com slogans
diferentes. Forma de chamar à atenção, di-
ziam. Agora, nas redes sociais, voltaram ao
mesmo esquema para chamar António Costa
de “ilusionista”. Mas desta vez houve quem
reclamasse os créditos da ideia, André Ven-
tura. O líder do Chega ainda ofereceu ajuda
aos liberais e nem se coibiu de adornar o post
com um irónico smile. Gente ficou a pensar
se a IL não terá já vivido melhores tempos no
que ao marketing diz respeito.
As baralhações de Moreira É sabido
que Rui Moreira está no último mandato à
frente da Câmara do Porto e também que o
passo seguinte terá de ser bem preparado.
Esta semana Gente foi surpreendida ao ver
o ainda autarca chamar “perfeito imbecil” a
um jornalista da Sport TV. Sabemos que além
de presidente da Câmara do Porto, Moreira é
membro do Conselho Superior do FC Porto,
mas fica a dúvida se não será cedo para a
mudança de registo.
Ventura tem sentimentos
A “ACÁCIA” MORREU. E quem era a
“Acácia”? A coelha de André Ventura
que ‘partiu’ esta semana. Ficou Gente
a saber que o líder do Chega ficou de
“coração partido” e que “Acácia” lhe
fizera companhia em “noitadas” e “muitos
quilómetros na estrada” em “campanhas
eleitorais e programas televisivos”.
Ficamos na dúvida: “Acácia” seria feliz?
14 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de setembro de 2022

LIVRO

“Ninguém
tem o direito
de destruir”
a herança
do ex-PM
Luís de Almeida Sampaio fez
a ponte diplomática com a
Alemanha durante a troika.
Durão Barroso apresenta o
seu livro em Lisboa

“A credibilidade é uma herança

Passos e Portas
na campanha de 2015.
Sete anos depois, estão
na lista dos presidenciáveis
para 2026
FOTO LUÍS BARRA
Livros Pedro Passos Coelho aceitou prefaciar um livro do ex-embaixador de Portugal em Berlim
durante a troika e fez da oportunidade um aperitivo para o livro que ele próprio tem na forja.
A relação com Portas será um dos temas a “pormenorizar”. Do PS, diz que “há coisas que não mudam”
inestimável que o Governo de Pe-
dro Passos Coelho e Paulo Portas
deixou aos seus sucessores. Nin-
guém tem o direito de a destruir”,
escreve Luís de Almeida Sampaio,
ex-embaixador de Portugal na
Alemanha durante o Governo de
coligação PSD/CDS que geriu o
resgate financeiro ao nosso país.
Numa linguagem surpreendente-
mente solta para um diplomata,
Almeida Sampaio passou a livro
a sua experiência de intermedi-
ação entre Lisboa e Berlim, titu-
lou-o “Diplomacia em Tempo de
Troika”, convidou Passos para
escrever o prefácio e conta com o
ex-presidente da Comissão Euro-

Passos começa
peia, José Manuel Durão Barroso,
para o lançamento, terça-feira,
em Lisboa.
Começa por denunciar a “sim-
plificação intencional” que levou
a esquerda naquele período a pu-
xar por uma “antinomia que não

a escrever a história
existe” entre austeridade e cresci-
mento e recorda como “para recu-
perar a credibilidade as economias
tinham de aplicar
mais disciplina
orçamental. O
tempo do cres-
cimento viria
depois. Como
veio”. Um feito
que faz ques-
tão de assina-
lar, tanto mais
que “poucos
“De resto, ao fim de todos estes anos, arriscada, para não dizer que seria em Portugal
Textos Ângela Silva

A
inda não é desta que
publica o ‘seu’ livro
sobre o marcan-
te período em que
governou o país —
“compromisso” que
promete cumprir
“numa análise mais
pormenorizada” —,
mas Pedro Passos Coelho aceitou pre-
faciar “Diplomacia em tempo de troi-
ka”, do ex-embaixador de Portugal na
Alemanha, Luís de Almeida Sampaio, e
fala pela primeira vez do PS atual.
Após ter ido à festa de verão do PSD,
em agosto, avisar que não tem dúvi-
das de que “Portugal vai precisar de
um Governo diferente daquele que
temos”, Pedro Passos Coelho revê em
36 páginas o “falhanço clamoroso” dos
Governos de Sócrates, as “muralhas da
dívida”, a “forte austeridade” dos PEC,
a “economia estagnada e incapaz de ge-
rar riqueza”, o “desagrado de Merkel”
quando ele descolou do PEC 4, preci-
pitando o resgate, as “dificuldades” da
sétima avaliação da troika perante a
“crise da demissão de Portas e a nega
de Seguro” e, numa nota de rodapé,
ainda quebra o silêncio sobre quem
hoje governa o país para espicaçar a
ferida do momento: como governa a
esquerda em ciclos de crise?
“Há, infelizmente, coisas nos respon-
sáveis socialistas que não mudam em
Portugal”, escreve o ex-primeiro-minis-
tro, que diz ser “sintomático que os so-
cialistas, que tinham (no PEC 3) posto
em prática medidas restritivas em áreas
sociais como a saúde e a educação” — e
dá o exemplo das novas taxas modera-
doras e da redução do número de esco-
las na rede pública, a par das “restrições
ao acesso a prestações sociais como o
RSI ou o subsídio de desemprego” —,
“tivessem passado o verão naquele ano
a acusar o PSD de ser neoliberal e de
querer destruir o Estado social”.
o registo mantém-se”, conclui, numa
clara vinculação à polémica que por
estes dias tem apertado o cerco à maio-
ria absoluta de António Costa, acusado
de camuflar políticas de austeridade
num contexto de crise inflacionista em
que famílias, pensionistas e empresas
perdem rendimentos. Passos não se
alonga e ignora o apego do atual pri-
meiro-ministro às contas certas, mas
denuncia a forma como o PS “mantém
o registo” de colar a austeridade ao
PSD mesmo quando a responsabilida-
de de governar é apenas sua.
O “dramatismo” do “irrevogável”
e o pedido de ajuda a Barroso
Em destaque neste prefácio surgem
os dias antes e depois da crise aber-
ta, já no seu Governo, pela demissão
do então ministro de Estado e dos
Negócios Estrangeiros Paulo Portas.
Estava-se em 2013, as “muralhas da
dívida” e as “vicissitudes várias que
podiam ter deitado tudo a perder”,
entre elas os sucessivos chumbos do
Tribunal Constitucional a medidas do
Governo, levaram Portugal a propor
um alargamento dos prazos para o pa-
gamento dos empréstimos, proposta
referida como “um último recurso”.
A alternativa, escreve, “era demasiado
AINDA NÃO É O “SEU”
LIVRO SOBRE O CICLO
TROIKA, MAS PASSOS
JÁ COMENTA A ERA
COSTA: “AO FIM DE
TODOS ESTES ANOS,
O REGISTO MANTÉM-SE”
certo que cairíamos num novo resga-
te”. Mas nada seria possível sem a sé-
tima avaliação da troika ser aprovada.
É neste contexto que Paulo Portas
ameaça bloquear a avaliação, “por
discordar de uma das medidas que
ela continha”. Considerando que “este
não será o enquadramento adequado
para entrar em pormenores sobre
esse processo”, Passos pormenoriza
o “dramatismo” do momento, relata
como teve que pedir ajuda a Angela
Merkel para garantir aprovação pelo
Parlamento alemão do prolongamen-
to das maturidades da dívida portu-
guesa, e assim evitar o segundo res-
gate, e como sentiu “as preocupações
que todos mostraram em Berlim sobre
como se resolveria” a crise em Lisboa.
“Foi com esta noção muito clara
do que estava em jogo”, relata, que
entendeu pedir o apoio do PS para o
caso de o parceiro de coligação falhar
e aproveita um Conselho Europeu
informal em Berlim para falar com
Durão Barroso, então presidente da
Comissão Europeia, e com Martin
Schulz, líder dos socialistas europeus,
pedindo-lhes ajuda “para uma diligên-
cia que me parecia inadiável”. Se o PS
apoiasse, ele estaria disponível para
se demitir e haveria eleições “logo a
seguir ao fecho do programa”, mas
António José Seguro, então líder do
PS, “considerava demasiado tarde
para gestos de apoio ao Governo”.
Passos não fala do recuo de Portas,
apenas diz ter saído de Berlim “ainda
mais decidido a fazer tudo para que
a coligação sobrevivesse”. O picante
relativamente ao ex-líder do CDS, que,
tal como ele próprio, integra a lista
dos presidenciáveis para 2026, está
lá todo: “Não desejo aqui debruçar-
-me sobre esse episódio propriamente
dito. Isso necessitaria de outro espa-
ço, com outro fôlego, que aqui não
cabem.” Talvez no “seu” livro, a sair
oportunamente.
avsilva@expresso.impresa.pt
e na Alema-
nha acreditavam
FRASES seriamente que aquele pacote de
resgate fosse o último”. A questão
principal, explica, “residia nas ca-
“Os socialistas, que racterísticas estruturais da nossa
(no PEC3) tinham posto economia obsoleta (...) e sobretudo
em prática medidas no nosso sistema político incapaz
de criar espaço para verdadeiras
restritivas em áreas reformas”. Mas diz ter encontrado
sociais como a Saúde no Governo e no país em geral ra-
e a Educação, passaram zões de confiança, que alerta ser “a
commodity mais valiosa em todas
aquele ano a acusar o as bolsas de valor do mundo”.
PSD de ser neoliberal. Ao Curva apertada do caminho foi
fim de todos estes anos, a crise na coligação que levou à
o registo mantém-se” “irrevogável” demissão de Paulo
Portas que acabou em recuo, e o
Pedro Passos Coelho diplomata conta como “as diver-
Ex-primeiro-ministro
gências no Governo português
perturbavam os alemães” e como
“Senhor embaixador, ele próprio recebeu Vítor Gaspar
e Portas em Berlim, antes da visita
pode dizer aos seus que Angela Merkel faria a Lisboa.
amigos alemães O autor regista como “momento
que de mim nunca terão mais simbólico” a frase que a chan-
celer deixou num almoço, “quan-
surpresas ” do, em genuína admiração, disse
António Costa a Pedro Passos Coelho: ‘Não há na
Dezembro de 2014, num encontro Europa ninguém mais corajoso do
na Câmara de Lisboa
que tu.’” Mas isso não o impede de
reconhecer que Passos cometeu
erros — “o Governo pecava por não
“A demissão do ministro começar a falar do pós-programa e
de Estado e dos Negócios continuar a falar apenas do que era
Estrangeiros (Paulo doloroso, embora necessário”.
Também por isso, Almeida Sam-
Portas) necessitaria
de outro espaço com
paio diz que quando a coligação
PSD/CDS conseguiu, em 2015, “de-
outro fôlego, que aqui pois de tudo o que Portugal passa-
ra”, a “grande vitória” que confessa
não cabem. (...)
Não é indiferente para
ter “saboreado” como se também
fosse sua, isso não o impediu de adi-
a história do que vinhar que, sem maioria absoluta,
aconteceu no país” viria aí um Governo no PS: “A ra-
Passos Coelho
posa derrotaria o ouriço-cacheiro,
e aquele homem que eu fora visitar
Sobre a demissão “irrevogável” de Paulo Portas
à Câmara Municipal de Lisboa em
2014 seria em breve primeiro-mi-
nistro de Portugal.”
Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 15

NOVO
RENAULT
100% elétrico

pedir
proposta

até 470 km de autonomia (WLTP) (1), 26 sistemas de assistência

à condução e novo interface openR de 774 cm2 com serviços
Google (2) integrados
imagem não contratual. consumo em ciclo combinado (wh/km): 155/161, emissões de co2: 0. (2) Google, Google Maps
1)

e Google Play são Marcas registadas da Google LLC

16 PRIMEIRO CADERNO
SO CIEDADE JUSTIÇA
Perfil Com apenas dois anos como magistrado,
Pedro Correia tem de resolver o processo-crime
mais complexo em Portugal num tempo recorde
O juiz que
chegou tarde
ao caso BES
Texto Micael Pereira
Ilustração Mónica Damas
O
salto na carreira di-
ficilmente poderia
ser mais abrupto.
Ninguém, dentro
do meio judicial, sa-
bia quem era Pedro
Miguel dos Santos
Correia até há duas
semanas. Isso dei-
xou de ser assim de repente. O nome
dele vai passar a encher notícias de
jornais nos próximos meses. Com 44
anos, mas apenas dois de experiência
como magistrado, este juiz tem pela
frente a decisão de quem vai ou não
a julgamento no processo de crimes
financeiros mais complexo da história
da Justiça portuguesa, relacionado
com o colapso do Banco Espírito San-
to (BES) e com o desvio de muitos
milhões de euros.
Em Celorico da Beira, onde estava
colocado antes de entrar este verão
para o Tribunal Central de Instrução
Criminal (TCIC, conhecido como Ti-
cão), substituindo Ivo Rosa, o magis-
trado não vai deixar qualquer memó-
ria na maioria das pessoas. Na rua não
o conhecem. Não chegaram, na ver-
dade, a ter oportunidade disso. Pedro
Correia trabalhou durante dez meses
no pequeno tribunal de província des-
ta vila do interior, no distrito da Guar-
da, mas ainda debaixo de restrições
da covid-19 e continuando a morar em
Coimbra. O seu círculo de contactos
Prazo para concluir instrução pode ser adiado
Juiz está a ponderar pedir mais
tempo para acabar a instrução
do processo. Se o Supremo
não reverter, entretanto,
a saída de Ivo Rosa do Ticão
Afinal, o prazo dado pelo Conselho
Superior de Magistratura (CSM) para
concluir a instrução do caso BES po-
derá ser alargado, indo ao encontro
de uma das principais reivindicações
dos advogados dos arguidos, que não
entendem como é que o novo juiz
pode inteirar-se de um processo tão
complexo em tão pouco tempo.
O CSM tinha dado a Ivo Rosa um
prazo de oito meses para concluir
esta fase processual. Ou seja, até fe-
vereiro de 2023. Agora, depois de
acabou por ser muito limitado: funci-
onários judiciais, advogados, arguidos.
Tirando os que lidavam com ele nos
julgamentos a que presidia, enquan-
to único juiz de serviço em Celorico,
sobravam os clientes do pequeno café
de esquina no largo do tribunal, o Café
Marques, onde entrava regularmente
para uma bica. “É um juiz sem a ma-
nia que é juiz”, conta o dono, que pede
para não publicarmos o seu nome.
“Vinha aqui todos os dias e falava com
toda a gente. Comportava-se como
qualquer outro cidadão.” Ao mesmo
tempo, era capaz de comentar as no-
tícias e de conversar sobre generalida-
des, sem revelar quase nada sobre si.
No tribunal, os funcionários descre-
vem-no como alguém “muito simpá-
tico”, não havendo reparos do ponto
de vista profissional. “Também não
há grandes casos aqui”, admite um
dos oficiais de justiça. “No penal, apa-
recem essencialmente processos de
violência doméstica e excesso de ál-
cool.” Além de Celorico, Pedro Correia
teve de fazer julgamentos também em
Fornos de Algodres, uma vila a 17 qui-
lómetros de distância onde o tribunal
local passou a ser um juízo de proximi-
dade com a última reforma judiciária.
Muito poucos factos constam sobre
a sua vida. Os pais são da Guarda, e
terá sido lá que cresceu. É casado,
tem residência em Coimbra e, antes
de se tornar magistrado, foi advogado
durante uma década.
Contactado por e-mail pelo Expres-
so, Pedro Correia não respondeu. Não
foi possível descobrir em que univer-
Ivo ter sido afastado na sequência do
processo disciplinar que lhe foi ins-
taurado, o prazo pode ser estendido.
De acordo com uma fonte judicial,
Pedro Correia estará a ponderar a
hipótese de pedir mais tempo, pelo
menos até ao início do verão. Nesta
altura, o juiz, que tem apenas dois
anos de experiência em tribunais,
terá a ajuda de três assessores jurídi-
cos em exclusividade para conseguir
concluir esta fase processual antes
que os crimes comecem a prescrever.
Esta ideia, em princípio, será apre-
sentada ao CSM na próxima reunião
do plenário.
Pedro Correia ficou com o processo
do BES depois de Ivo Rosa ter perdi-
do o lugar de Juiz 2 do Tribunal Cen-
sidade se formou, mas pelo menos em
2001 já tinha a licenciatura concluída,
porque concorreu nesse ano a um
emprego na Inspeção-Geral da Admi-
nistração do Território (IGAT), como
licenciado em Direito.
Quinze anos sem desistir
Pouco tempo depois, em 2003, foi ad-
mitido para prestar testes de aptidão
como candidato ao Centro de Estudos
Judiciários (CEJ), a escola de juízes.
Houve ainda outra vez, já em 2016, em
que concorreu ao 32.º curso de magis-
trados judiciais, antes de ter finalmen-
te entrado no curso de 2018. Porque é
que demorou tanto tempo a tentar ser
juiz de novo? Difícil de saber.
Mas não esteve parado durante os
15 anos que levou a ir para a escola de
TRABALHOU COMO
ADVOGADO EM COIMBRA
A PARTIR DE 2010,
MAS JÁ EM 2003
TINHA TENTADO ENTRAR
PARA A ESCOLA
DE JUÍZES. ACABOU
POR ENTRAR EM 2018
tral de Instrução Criminal (TCIC). Ivo
tinha sido promovido a desembarga-
dor da Relação de Lisboa, mas como
foi acusado num processo disciplinar
pelo CSM, essa promoção foi suspen-
sa. Este órgão de gestão dos juízes, no
entanto, decidiu tirá-lo na mesma do
TCIC, deixando-o sem tribunal.
Pouco antes disso, a 1 de junho,
quando ainda não se sabia que o
magistrado ia sair do Ticão, o CSM
determinou um prazo de oito me-
ses para Ivo finalizar a instrução do
BES, apesar de o juiz considerar ser
impossível isso poder ser feito nesse
tempo. Além de um número muito
elevado de volumes e anexos, de es-
tarem em causa mais de 350 crimes e
haver mais de 70 inquirições e inter-
juízes. Pedro Correia foi concorrendo,
como jurista, a uma série de lugares
na Administração Pública. Em 2006 e
2007 ao Ministério da Educação, em
2010 à Câmara Municipal de Faro,
em 2011 à Câmara Municipal de Ana-
dia e à Segurança Social, em 2015
à Assembleia da República (como
assessor parlamentar) e para juiz de
paz na Direção-Geral da Política de
Justiça, em 2016 ao Centro Hospitalar
de Leiria.
Pelo meio, iniciou o estágio para ser
advogado em 2007 e em 2009 passou
no exame final da ordem, com 12 va-
lores. Em 2010 inscreveu-se como ad-
vogado e abriu escritório em Coimbra.
Cristina Rodrigues dos Santos, uma
advogada com escritório no mesmo
piso de um edifício junto ao rio Mon-
dego, assume que não tem muito para
dizer sobre o colega do lado. “Não
nos dávamos. Existem vários advoga-
dos independentes aqui, como era o
caso dele, e o que sei é que trabalhava
sozinho.” Era, aparentemente, um
advogado generalista, disponível para
o que aparecesse.
Em 2020, concluído o curso no CEJ,
foi estagiar para Pombal, sendo depois
colocado no seu primeiro posto como
juiz graduado em Celorico da Beira,
um tribunal de ingresso onde os juízes
ficam um ou dois anos e aprendem a
lidar com um pouco de tudo.
A mudança para o Ticão foi, pelo
contraste com essa realidade, vista
como um acontecimento inesperado
por quem o conheceu na vila. Numa
ronda pelos advogados de Celorico,
rogatórios para fazer, Ivo foi operado
ao coração em fevereiro, esteve dois
meses de baixa e regressou ao ativo
sem poder trabalhar de noite.
Só a 6 de setembro, um dia depois
de Ivo Rosa ter escrito uma carta ao
CSM a constatar que tinha deixado
“de ter lugar em qualquer tribunal” e
não recebera resposta ao seu pedido
para ficar então temporariamente
na comarca da Madeira, o órgão dos
juízes deliberou “afetar” Ivo Rosa ao
Ticão, ficando com a instrução do
processo sobre a Octapharma, mas
perdendo o seu lugar como efetivo
e, com isso, deixando de poder con-
tinuar com a instrução do caso BES.
Desde junho que, por causa des-
tes incidentes, o CSM tem estado
Expresso, 23 de setembro de 2022
quase todos concentrados na rua Sa-
cadura Cabral, que vai do tribunal
para o centro, a maioria prefere não
falar de todo, mas um deles não se
importa de comentar o assunto na
condição de não dar o nome. “Não
convivi com ele, no entanto pareceu-
-me boa pessoa. Tinha consideração
por todas as partes e as suas decisões
eram ponderadas e justas”, elogia
uma advogada. “Nada diria que ti-
vesse esta ambição. Porque é preciso
ser muito ambicioso para concorrer
a um lugar como este. Para mim,
foi uma grande surpresa ler isso nas
notícias.”
Apesar de o Ticão estar reservado
para juízes com pelo menos dez anos
de experiência, Pedro Correia entrou
porque, segundo noticiou o jornal
“Eco”, foi o único candidato que apa-
receu para preencher a vaga.
Pressionado pelo peso das novas
funções e pelo prazo imposto pelo
Conselho Superior de Magistratura
para a instrução do BES estar con-
cluída, o magistrado já tomou uma
atitude surpreendente nas primeiras
semanas de trabalho no Ticão: ad-
mitir num despacho que não vai ter
tempo para se preparar, mas mesmo
assim não vai adiar as inquirições do
processo que estão agendadas já para
este mês. Pela frente, tem as mais de
20 testemunhas de Ricardo Salgado
e de Morais Pires para ouvir e seis
arguidos para interrogar. E provar,
nos próximos meses, que não chegou
tarde de mais ao lugar.
mrpereira@expresso.impresa.pt
debaixo de fogo dos advogados do
processo. Nessa altura, escreveram
uma carta, citada pelo “Eco”, em que
denunciam a decisão de fixar um pra-
zo para a instrução como “uma inter-
ferência inadmissível por parte do
CSM na função jurisdicional — por
definição, soberana e independente
— dos juízes”.
Já esta semana os advogados de
dois arguidos do caso BES entrega-
ram uma providência cautelar no
Supremo Tribunal de Justiça em que
pedem a reintegração de Ivo Rosa
no Ticão e como titular da instrução
do processo, argumentando que o
CSM agiu de forma ilegal, ao violar
o princípio da inamovibilidade dos
juízes. R.G. e M.P.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Carlos Cruz foi
punido por um crime.
Vai pagar por dois
Defesa vai recorrer do
pagamento de €25 mil
a um menor e alega que
houve um lapso ou erro
de “copy past”
Carlos Cruz cumpriu seis anos
de prisão por dois crimes de
abuso sexual de menores co-
metidos contra um ex-aluno da
Casa Pia, mas foi condenado a
pagar uma indemnização de
€50 mil a duas vítimas, €25
mil a cada uma: o rapaz pelo
qual foi condenado e outro cuja
pena caiu depois de um recur-
so para a Relação de Lisboa.
Mas, afinal, o que aconteceu?
Em 2010, depois de seis anos
de julgamento, Carlos Cruz
foi condenado a sete anos de
prisão por crimes de abuso
sexual cometidos contra dois
menores: Luís M. e Lauro D.,
ambos alunos da Casa Pia. A
defesa recorreu, alegando que
houve uma alteração substan-
cial dos factos no acórdão que
o condenou e que não se pôde
defender disso porque não foi
informado. Em causa, estavam
os crimes cometidos em Elvas,
na moradia que passou à his-
tória como a casa das orgias.
Dois anos depois, o Tribunal
da Relação de Lisboa deu-lhe
razão e mandou repetir essa
parte do julgamento. Ao mes-
mo tempo, fixou a pena do ex-
-apresentador em seis anos de
prisão por dois crimes cometi-
dos contra Luís M. “Mantêm-
-se as duas penas parcelares
de 4 (quatro) anos e 6 (seis)
meses de prisão impostas pela
primeira instância ao arguido
Carlos Cruz, pela prática de
dois crimes (...) , na pessoa do
assistente L. M. (...) Em cúmu-
CRONOLOGIA
Setembro de 2010
Carlos Cruz é condenado a sete
anos de prisão por abusar de
dois menores de idade. Para
além da cadeia, terá ainda de
pagar 25 mil euros a cada um
dos molestados.
Fevereiro de 2012
Relação de Lisboa anula todas
as condenações por crimes
cometidos na casa de Elvas e
manda repetir o julgamento
nessa parte.
Março de 2013
O tribunal que fez o primeiro
julgamento absolve Cruz dos
crimes cometidos em Elvas. O
apresentador apanha seis anos
de prisão pelo abuso de
um menor, mas o acórdão
mantém a indemnização
a dois menores.
Janeiro de 2015
Cruz é informado na cadeia
de que parte da reforma será
penhorada para pagar a
indemnização a duas vítimas
e só então a defesa
se apercebe do lapso.
Fevereiro de 2018
A defesa alega o lapso no
tribunal de Lisboa, que
mantém a indemnização.
Setembro de 2022
Relação de Lisboa confirma o
pagamento dos 50 mil euros.
PRIMEIRO CADERNO 17
das partes deslocaram-se os
dois em conjunto ao tribunal
e, por consulta ao processo,
esclareceram a questão, con-
firmando a correção do valor
reclamado nesta execução”.
Em declarações à Lusa, Mati-
as disse que a decisão de Ana
Peres foi confirmada por “tri-
bunais superiores”.
Sá Fernandes discorda: “A
alegada vítima, baseada nesse
lapso — que ela bem sabe que
assim o é —, moveu um pro-
cesso executivo contra Carlos
Cruz, onde este naturalmente
lo jurídico destas duas penas uma discussão jurídica à volta suscitou a existência de tal lap-
parcelares (...), condena-se o da questão se devia ou não ter so. Há uma realidade que não
arguido Carlos Pereira Cruz sido citado antes da execução pode ser escamoteada: Carlos
FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
na pena única de 6 (seis) anos da dívida — e se chegou ou não Cruz não foi condenado por
de prisão”, diz o acórdão a que a ser citado. Ficou assente que qualquer crime relativamente
o Expresso teve acesso. Estes o tempo para discutir se houve- a essa pessoa e por isso não
crimes terão sido cometidos ra ou não lapso já passara. E o lhe pode ser exigida uma in-
numa casa da Avenida das For- Tribunal da Relação de Lisboa demnização por factos que ele
ças Armadas, em Lisboa, e o manteve o valor da indemniza- não cometeu. Por uma razão
ex-apresentador já cumpriu ção às duas vítimas. de elementar justiça”.
esta pena. O Expresso contactou o ad- O Expresso contactou Ana
No ano seguinte, em 2013, o vogado das duas vítimas, que Peres por e-mail e por telefone
mesmo coletivo presidido por não quis prestar declarações. mas não teve resposta.
Ana Peres que tinha condena- No processo, Miguel Matias Carlos Cruz cumpriu seis anos de prisão pelo abuso de um Rui Gustavo
do Carlos Cruz a sete anos de alegou que “os mandatários menor. Mas tem de pagar indemnização a duas vítimas rgustavo@expresso.impresa.pt
prisão, absolveu-o dos crimes
alegadamente cometidos em
Elvas, tanto contra Lauro D.
como Luís M., mas manteve a
condenação pelos crimes co-
metidos contra Luís em Lis-
boa. Só que, apesar da absolvi-
ção, Ana Peres não deixou cair
o pagamento de indemnização
a Lauro D., o que significa que
Carlos Cruz tem de pagar uma
indemnização às duas vítimas,
apesar de, no final, ter sido
condenado apenas por crimes
contra uma delas.
“Houve um erro decorrente
certamente de copy paste”, ale-
ga o advogado do ex-apresen-
tador, que já viu dois tribunais
recusarem a sua pretensão de
anular a dívida a Lauro e vai
recorrer para o Supremo Tri-
bunal de Justiça: “A decisão
que o absolveu, tendo feito um
copy paste do acórdão que o
condenara, não eliminou, por
lapso, a parte relativa à indem-
nização que, nesse primeiro
acórdão, fora arbitrada. Este é
um dado incontornável”, argu-
menta Ricardo Sá Fernandes.
Ninguém reparou
No acórdão, que absolveu to-
dos os arguidos dos crimes
alegadamente cometidos em
Elvas (Cruz, Carlos Silvino,
Hugo Marçal e Gertrudes Nu-
nes, a dona do imóvel), a juíza
diz que “cumpre absolver o
arguido”, mas mantém o pa-
gamento do “montante de €25
mil” tanto a Luís M. como a
Lauro D. “a título de indemni-
zação por danos morais”. Ana
Peres admite que “não ocorre
o nexo de causalidade entre
danos que os demandantes te-
nham sofrido e estes deman-
dados” e que “o cruzamento de
factos não permite, em relação
a estes arguidos, o apuramen-
to da responsabilidade de in-
demnizar”.
A Relação confirmou este
acórdão em 2014, e chegou
mesmo a corrigir alguns “lap-
sos”, designadamente por
“excesso de pronúncia”, após
terem sido incluídos arguidos
(Manuel Abrantes, Jorge Ritto
e Ferreira Dinis) que não ti-
nham sido condenados por fac-
tos relativos a Elvas. Mas nin-
guém reparou que Carlos Cruz
estava a pagar a uma vítima de
quem não tinha abusado, se-
gundo o próprio tribunal. Nem
o advogado que o defende.
Já preso, Carlos Cruz rece-
beu em 2015 uma penhora da
reforma para pagar a indem-
nização de €50 mil. Só então
se apercebeu que teria de
pagar a duas vítimas. Apesar
de admitir que se apercebeu
do lapso só nessa altura, Ri-
cardo Sá Fernandes alegou,
num requerimento enviado
ao tribunal, que o cliente não
tinha sido citado e inicia-se
18 PRIMEIRO CADERNO
MOBILIDADE
Trânsito em
Lisboa e no
Porto supera
nível de 2019
Congestionamento atinge
“níveis insustentáveis” e está
a reduzir ainda mais a velocidade
de circulação dos autocarros
Raquel Albuquerque
Em vários dias desta semana,
às nove da manhã, tanto em
Lisboa como no Porto o trân-
sito era de tal forma intenso
que cada trajeto levava quase
o dobro do tempo que demora-
ria em condições normais, um
cenário pior do que à hora de
ponta em setembro de 2019,
mostram os dados da TomTom,
empresa de sistemas de GPS.
Nas duas primeiras semanas
deste mês, ainda antes do iní-
cio das aulas, já o nível de con-
gestionamento em ambas as
cidades tinha ultrapassado o
que se registava antes da pan-
demia, segundo dados enviados
ao Expresso pela Waze, aplica-
ção de navegação baseada em
informação dos condutores. O
tráfego em Lisboa no início de
setembro superou em quase
50% o mesmo período de 2019
e no Porto saltou para o dobro.
Nestes últimos dias, durante
os quais decorreu a Semana
Europeia da Mobilidade, foi
sobretudo na hora de ponta da
manhã, entre as 8h e as 10h,
que se viu um grande aumento
do trânsito, comparando com
a realidade pré-pandemia. Os
dados da TomTom mostram
que nas duas cidades o tempo
passado dentro do carro logo
de manhã ultrapassou em 90%
EDUCAÇÃO
Mais de 80% dos docentes chamados sem formação para aulas
Em quase 3 mil horários
publicados desde o início
do ano letivo, a larga
maioria terá ido para
candidatos sem formação
pedagógica
A cada semana que passa é cada
vez mais difícil para as escolas
com falta de professores encon-
trarem docentes disponíveis
para os substituir entre quem
tem formação pedagógica. Dos
quase 3 mil horários que até à
semana passada já tiveram de
ser preenchidos através da con-
tratação direta de escola (por
ausência ou indisponibilidade de
professores nas listas nacionais
para os ocupar), mais de 80%
terão sido aceites por candidatos
sem habilitação específica para
o ensino.
A estimativa é feita por Davide
Martins, professor e colabora-
o que seria necessário se não
houvesse trânsito; em 2019, a
diferença era de 55%. Pelo con-
trário, entre as 18h e as 20h, o
cenário em Lisboa e no Porto
não foi muito diferente do que
já acontecia antes.
“O congestionamento está
a atingir níveis insustentáveis
e as pessoas sentem este au-
mento”, afirma Carlos Oliveira
Cruz, professor no Instituto Su-
perior Técnico (IST) e investi-
gador na área dos transportes.
“Esse desequilíbrio vai manter-
-se se não houver intervenção
Um trajeto de carro
feito às 9h da manhã
esta semana levava
quase o dobro do
tempo normal
com políticas públicas quer dos
autarcas quer do Governo.”
O efeito do aumento do trân-
sito não se sente só na qualidade
do ar ou no stresse e ansiedade
que gera. Também faz com que
a circulação dos autocarros seja
mais lenta e esse agravamento
já se verifica. “A velocidade mé-
dia dos autocarros está a apro-
ximar-se novamente dos níveis
pré-pandemia. E o fator que
está em causa é o automóvel,
porque ocupa espaço”, afirmou
dor do blogue “DeArLindo” e
que tem analisado as colocações
de professores ao longo dos úl-
timos anos letivos. O número é
calculado comparando o núme-
ro total de horários com oito ou
mais horas letivas que tiveram
de passar para contratação de
escola e o de professores retira-
dos das listas nacionais.
“Se neste período só 174 saí-
ram das listas de professores
por colocar — e nas listas nacio-
nais de ordenação só pode estar
quem tem formação específica
para o ensino —, isso significa
que a grande maioria acabou por
ser ocupada por profissionais
com apenas habilitação própria
[formação superior na área da
disciplina à qual se candidata].
Pode haver docentes profissio-
nalizados que não constam das
listas de ordenação, por não se
terem candidatado em março,
esta semana Maria Albuquer-
que, vice-presidente do Conse-
lho de Administração da Carris,
durante uma conferência sobre
os desafios da mobilidade na
Área Metropolitana de Lisboa
(AML). “É preciso lembrar que
os automóveis elétricos tam-
bém ocupam espaço e contri-
buem para o congestionamen-
to, que é um grande custo para
a cidade.”
Durante a pandemia, o confi-
namento e a redução de carros
na cidade permitiram aumen-
tar ligeiramente a velocidade
média de circulação dos auto-
carros da Carris (14,12 km/h em
2020 e 14,10 km/h em 2021),
mas foi temporário. Este ano já
voltaram a ‘desacelerar: entre
janeiro e agosto deste ano, a
velocidade desceu para 13,88
km/h, muito próxima dos 13,85
km/h registados no mesmo pe-
ríodo de 2019, indica a empre-
sa ao Expresso. E o problema
é que a baixa velocidade au-
menta o tempo de deslocação,
tornando os transportes ainda
menos atrativos e menos com-
petitivos em relação ao carro.
Criar novos corredores BUS
é uma das soluções que estão a
ser trabalhadas entre a Carris e
a Câmara Municipal de Lisboa.
E está previsto para 2023 um
projeto-piloto com um sistema
de semáforos que dá priori-
dade aos autocarros, indica a
quando foram elaboradas, mas
não em número suficiente que
inverta esta estimativa”, resume
Davide Martins.
O professor lembra que as
maiores dificuldades de subs-
tituição continuam a concen-
trar-se em Lisboa, Setúbal
e Faro, mas que começam a
surgir outros distritos a sentir
problemas, como Santarém,
Leiria ou Porto.
Mais horários por atribuir
A análise à lista de horários
para os quais as escolas estão
à procura de professores (que é
atualizada praticamente todos
os dias em função de baixas mé-
dicas que surjam, aposentações
e colocações) também permite
perceber que este número tem
vindo a aumentar. Até quarta-
-feira à tarde estavam 830 ho-
empresa. Contudo, não chega
para resolver o problema. “A
grande prioridade tem de ser a
redução do uso do automóvel e
vamos de ter de criar obstácu-
los à sua utilização”, defende
Carlos Oliveira Cruz.
O que está a falhar?
Apesar da redução do preço
dos passes em 2019 e do refor-
ço da oferta de alguns trans-
portes, a procura não está a
aumentar e continua abaixo
do nível pré-pandemia. Pelo
contrário, os elevados níveis
de congestionamento apontam
para uma utilização crescente
do automóvel, mesmo com a
subida do preço dos combustí-
veis. Um litro de gasóleo custa
agora, em média, €1,82 (mais
€0,46 do que há três anos) e
um litro de gasolina simples
€1,72 (mais €0,23).
“O preço do combustível, do
carro e da sua manutenção é
muito maior do que em 2019.
Mesmo assim, as pessoas con-
tinuam a deixar o transporte
público para o individual. Isso
mostra que o problema vai
muito além dos preços”, apon-
ta Carlos Oliveira Cruz. “Se as
pessoas continuam a passar
uma parte do seu tempo em
congestionamentos, é porque
a alternativa que lhes é dada
não está a funcionar. É preciso
rários (com oito ou mais horas
letivas) por atribuir e que tota-
lizavam 14.200 horas, podendo
afetar cerca de 4 mil turmas.
A meio da semana passada
havia 8685 horas por atribuir
nestas condições. Isto não sig-
nifica necessariamente que o
número de alunos sem aulas
esteja a aumentar muito. Pe-
rante as dificuldades para en-
contrar candidatos, as escolas
têm sido autorizadas a estender
os horários incompletos, pas-
Na quarta-feira
estavam mais de
14 mil horas letivas
por atribuir,
podendo afetar
cerca de 4 mil turmas
Expresso, 23 de setembro de 2022
melhorar a qualidade do siste-
ma e resolver as barreiras que
dificultam a sua utilização.”
A expansão das redes de
metro de Lisboa e do Porto,
que estão em curso, além da
aquisição de mais autocarros,
elétricos, barcos, carruagens
de metro e comboios ajuda-
rão a melhorar a oferta. Mas
é também necessário investir
em plataformas digitais que
agreguem todos os transpor-
tes, com informação sobre ro-
tas e horários, simplificando
também a compra de bilhete.
Quase metade dos
alunos em Lisboa vai
de carro para a escola,
o que agrava o trânsito
à hora de ponta
Apostar em passes ‘híbridos’
— destinados a quem agora
trabalha em casa uma parte da
semana — e criar passes inte-
grados, que incluam bicicletas,
trotinetas e outros transportes
no Navegante (Lisboa) e no An-
dante (Porto), são algumas das
sugestões dos especialistas.
Os avanços tecnológicos na
compra de bilhete são mais visí-
veis na Área Metropolitana do
Porto, onde já é possível fazê-lo
só com o telemóvel, e nos pró-
sando-os para 22 horas letivas,
que garantem um salário por
inteiro, ajudando a atrair mais
interessados.
Entretanto, o Ministério ini-
ciou esta semana as negociações
com os sindicatos para a revisão
das regras de recrutamento e
colocação de professores. Se as
promessas de uma vinculação
mais rápida aos quadros são
aplaudidas por todos, a intenção
de dar autonomia aos diretores
para que possam selecionar até
um terço dos seus professores,
com base no perfil dos docen-
tes e nos projetos educativos da
escola, é rejeitada pela generali-
dade das organizações sindicais.
Para os sindicatos, as listas na-
cionais de graduação, em que
os professores estão ordenados
consoante a nota de final de cur-
so e o tempo de serviço, é o úni-
co critério “justo” para decidir
É sobretudo na hora de
ponta da manhã que se
verifica um agravamento
do tráfego FOTO NUNO FOX
ximos dois anos será estendida
a toda a rede de autocarros e
metro a possibilidade de obter
um bilhete encostando o cartão
bancário ao validador. O mes-
mo está pensado para a AML,
embora ainda sem prazo.
Outro grande desafio é o peso
do automóvel na ida para a es-
cola. Em Lisboa, quase metade
dos alunos vai de carro (35%
nas escolas públicas e 79%
nas privadas), e essas desloca-
ções têm um peso grande na
mobilidade à hora de ponta.
Nesse sentido, a Carris lançou
um projeto-piloto junto de três
escolas do concelho para ini-
ciar um transporte escolar, e,
segundo a empresa, o serviço
começará a ser testado entre
outubro e dezembro deste ano
nesses estabelecimentos.
Para ganhar novos passagei-
ros e recuperar os que ainda
não voltaram aos transportes
públicos são precisos mais da-
dos e mais informação, frisou
Filipe Moura, especialista em
mobilidade e docente do IST,
durante a conferência sobre
os desafios da mobilidade na
AML. “O último ‘Inquérito à
Mobilidade’ [do INE] é de 2017
e impunha-se um novo em
2022. É fundamental para per-
cebermos quais são as tendên-
cias do momento e sabermos
em que públicos devemos agir.”
ralbuquerque@expresso.impresa.pt
qual candidato consegue uma
colocação. Para o ministro não
faz sentido que a escolha depen-
da exclusivamente de uma clas-
sificação com que se terminou
a licenciatura ou o mestrado,
“mesmo que tenha sido há 30
anos”, e o tempo que está em
funções. E que as escolas não te-
nham qualquer palavra a dizer
sobre os perfis que procuram e
melhor se adaptam à sua popu-
lação e projetos.
Outro tema polémico tem a
ver com a realização dos con-
cursos de quatro em quatro
anos que permitem a todos os
professores concorrer a mudar
de escola e que a tutela quer es-
paçar mais. As negociações vão
decorrer ao longo dos próximo
meses e prometem gerar muita
discussão.
Isabel Leiria
ileiria@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 19
20 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de s

OS SERES QUE
Q
“
uando me perguntam se
os insetos estão mesmo
a desaparecer, respondo:
‘Pensem no que era há
30 anos irmos até ao Al-
garve de carro e quantas
do olhar humano”, explica a bióloga
Ana Sofia Reboleira. Três quartos das
espécies animais conhecidas no nosso
planeta são representadas por insetos,
equivalente a “cerca de 1,4 milhões de
espécies”, mas ainda há milhões por

GOVERNAM
vezes tínhamos de ligar
o limpa-para-brisas para
tirar os insetos e quantas
vezes temos agora.’ Não
há comparação possível.”
O cenário traçado por José
rastrear e descrever — “estima-se que
o valor possa ir até aos sete milhões”,
afirma a cientista, e há estimativas que
oscilam até aos 30 milhões.
Apesar de dependermos dos insetos
para praticamente tudo, pouca impor-

O MUNDO
Manuel Grosso-Silva, curador de ento-
mologia do Museu de História Natural
e da Ciência da Universidade do Porto
(MHNC-UP), é o conhecido “fenómeno
do para-brisas” — um sinal claro que
vaticina a crise que os insetos enfrentam
tância se dá à “queda dos pequenos
impérios que fazem o mundo girar”,
como escreveu Oliver Milman, jornalista
especializado em ambiente, no “The
Guardian”, que este ano publicou o li-
vro “A Crise dos Insetos”. “Tornou-se

ESTÃO A
em todo o mundo.
Talvez por serem tão pequenos, nu-
merosos e por vezes irritantes, os hu-
manos não têm grande afinidade com
os insetos e tendem a achá-los inúteis.
Mas a realidade é que a humanidade não
claro que havia esta crise silenciosa mas
existencial em curso e pensei que era
importante que mais pessoas soubessem
dela”, contextualiza.
O desinteresse — e desprezo — que os
humanos têm pelos seres zumbidores

DESAPARECER
Pequenos, numerosos e aparentemente insignificantes,
os insetos são os “impérios que fazem o mundo
girar”. Mas 40% de todas as espécies estão em declínio
por causa do homem e as consequências para
o planeta são graves — sem eles não sobreviveremos
Textos Mara Tribuna Fotos Rui Duarte Silva
sobreviveria sem eles. São o grupo de
animais mais diverso da Terra, de longe
com o maior número de espécies, e de-
sempenham serviços vitais — ainda que
aparentemente invisíveis — que mantêm
os ecossistemas a funcionar. Polinizam
as plantas que comemos, estão na base
da cadeia alimentar, mantêm o solo sau-
dável, decompõem matéria orgânica,
limpam rios e lagos. A má notícia é que
estão a extinguir-se.
O alerta chegou em 2013. A sociedade
entomologista alemã Krefeld publicou
um estudo a confirmar que o número
total de insetos capturados numa reser-
va natural tinha diminuído quase 80%
face a 1989. É certo que a investigação
retratava apenas a realidade alemã, mas
estudos seguintes comprovaram que o
problema era global. Em 2019, a revis-
ta científica “Biological Conservation”
revelou que 40% de todas as espécies de
insetos estavam em declínio e um terço
em perigo de extinção.
É difícil precisar quantas espécies dife-
rentes de insetos existem, quanto mais
o decréscimo que se verifica. São “seres
muito diversos, pequenos, e muitos deles
vivem em habitats crípticos, escondidos
explica-se facilmente. Quando ento-
mologistas vão a uma escola e mostram
insetos a crianças, elas gostam deles e
querem tocar-lhes; mas quando che-
gam ao liceu, os adolescentes pensam
que eles são horríveis. “A dada altura,
estamos a ensinar às crianças desde
tenra idade a não gostarem de insetos e
a não estarem perto deles”, nota Oliver
Milman. Há “boas razões históricas”
para isto: “Basta pensarmos na ma-
lária, trazida pelos mosquitos, ou no
facto de os insetos estarem associados
à morte, quando pensamos em moscas
e cadáveres.”
“TORNOU-SE CLARO
QUE HAVIA ESTA
CRISE SILENCIOSA
MAS EXISTENCIAL
EM CURSO”, DIZ
OLIVER MILMAN
setembro de 2022
Além disso, a maioria das pessoas pre-
fere animais que lhes são mais próximos,
e “os mamíferos, como têm pelos e cer-
tas características mais parecidas com
os humanos, recebem mais interesse”,
constata Ronaldo Sousa, investigador no
Centro de Biologia Molecular e Ambien-
tal da Universidade do Minho.
I. A CULPA
Os pequenos seres que governam o mun-
do natural estão a desaparecer, sem sur-
presas, por causa do homem. As razões
são pelo menos cinco.
A praga dos inseticidas
O DDT (sigla de diclorodifeniltriclo-
roetano) é o primeiro inseticida moder-
no e foi banido em vários países há muito
tempo. Contudo, existem regiões menos
desenvolvidas onde “continua a ser usa-
do”, denuncia José Manuel Grosso-Silva.
Há ainda outros inseticidas com me-
nos impacto mas também prejudiciais:
quando aplicados, têm efeito sobre a
superfície, debaixo de terra e nos lençóis
freáticos. O resultado é uma diminuição
drástica da diversidade e da população
de insetos.
A perda de habitat (nativo)
“Se olharmos para o nosso país, já só
sobram pequenas manchas de vegetação
original. A nossa flora autóctone está
completamente depauperada”, lamenta
Ana Sofia Reboleira. A perda de habitat
deve-se à urbanização, desflorestação
e alteração do coberto vegetal original:
eucaliptos e outras espécies invasoras
substituem a flora nativa e deixam de su-
portar o mesmo tipo de biodiversidade.
E, como explica a bióloga, “se determi-
nadas plantas que os insetos polinizam
desaparecem, eles inevitavelmente de-
saparecerão”.
O deserto das monoculturas
Cultivar apenas um produto agrícola,
além de fazer mal aos solos e à biodi-
versidade como um todo, não é propria-
mente benéfico para os insetos. “As
monoculturas não têm nada em redor”,
INSETOS
INVESTIGAÇÃO
75%
das espécies animais
conhecidas no nosso planeta
são representadas por insetos
40%
de todas as espécies de insetos
estão em declínio, segundo
um estudo publicado em 2019
0,06%é a percentagem de
invertebrados (onde se
incluem os insetos) apoiados
pela estratégia da UE
refere Oliver Milman. Não dão alimento
nem abrigo, por isso não são um habitat
próspero. “Não proporcionam conecti-
vidade à terra”, como a policultura ou a
natureza selvagem, resume o jornalista.
A poluição luminosa
A luz artificial impede os insetos de se
reproduzirem. Basta pensar nos pirilam-
pos, que comunicam através de sinais
luminosos: é uma forma de a fêmea dizer
ao macho “estou aqui”, explica Grosso-
-Silva, mas se ela estiver debaixo de um
candeeiro ele não a vai encontrar. Algo
parecido se passa com as borboletas
noturnas. Usam a luz como ponto de
referência, logo a poluição luminosa
perturba-lhes a navegação. “Vão tentar
navegar em função de uma lâmpada
como se fosse a Lua, e andar em círculos
toda a noite”, em vez de irem para os
habitats onde deveriam estar para se
reproduzirem.
A crise climática
Se a temperatura aumentar 3,2°C, meta-
de das espécies de insetos perderá mais
de metade do seu habitat, estima um
estudo recente da Universidade de East
Anglia, Reino Unido. Na verdade, os efei-
tos do tempo anormalmente quente e
seco já se sentem: numa sessão de amos-
tragem noturna, em julho, no Douro, o
curador de entomologia do MHNC-UP
contabilizou apenas “uns 10 indivíduos
de meia dúzia de espécies” no período de
duas horas, quando normalmente eram
“dezenas de indivíduos de dezenas de
espécies. Quase não se veem flores e há
pouquíssima vegetação verde”.
II. O IMPACTO
“Mais do que uns poucos meses.” É o
tempo que a espécie humana sobrevi-
veria à extinção dos insetos, segundo a
previsão do biólogo norte-americano Ed-
ward O. Wilson, publicada em 1987 com
base no colapso da exploração agrícola
arável e dos ecossistemas. É um cenário
apocalíptico e pouco expectável — afinal,
é altamente improvável estas espécies
desaparecerem todas da face da Terra de
BICHOS A maior coleção de insetos do país está no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto,
onde há meio milhão de exemplares. Apesar de existirem estudiosos em universidades e amadores a contribuírem com
coleções, a taxonomia está a tornar-se uma ciência clássica, o que dificulta o trabalho dos entomologistas
uma só vez. Mas o seu declínio gradual já
está a acontecer.
Parece inofensivo, mas basta pensar-
mos em todos os serviços invisíveis que
os insetos fazem por nós, destaca Ro-
naldo Sousa. “Muitas das plantas que
comemos têm de ser polinizadas por
insetos, e eles fazem esse serviço de gra-
ça.” Na China, trabalhadores e drones
substituem o trabalho de abelhas exter-
minadas por inseticidas e, de árvore em
árvore, polinizam as flores.
Os insetos são uma fonte de alimento
essencial para uma grande diversidade
de organismos, nos quais até se incluem
plantas carnívoras. Por isso o seu decrés-
cimo está a afetar outros animais — e al-
guns deles já estão a desaparecer. “Tudo
está interligado. A partir do momento
em que há menos insetos, há menos ali-
mento para peixes, aves, répteis, anfíbios
e alguns mamíferos que depois servem
de alimento para outros animais”, apon-
ta José Manuel Grosso-Silva.
Manter o solo saudável e decompor
matéria orgânica é outra tarefa destas
criaturas trabalhadoras. Quando um
animal morre, os insetos — a grande
maioria dípteros (moscas) — são dos pri-
meiros colonizadores que vão ‘reciclar’
os nutrientes da carcaça. “Põem os ovos
lá dentro, para que as larvas se desenvol-
vam alimentando-se dos tecidos moles
do animal”, esclarece Reboleira. “Fazem
o primeiro trabalho de decomposição,
que no final será terminado por bacté-
rias e fungos”, complementa a bióloga.
Nos rios e lagos, os insetos também
processam matéria orgânica e filtram
“QUANDO
HÁ MENOS INSETOS,
HÁ MENOS
ALIMENTO”, NOTA
JOSÉ MANUEL
GROSSO-SILVA
contaminantes, juntamente com outros
invertebrados, garantindo desta forma
a qualidade da água. “Funcionam como
uma esponja”, compara Ronaldo Sousa,
e brinca: “É como se fossem uma ETAR
natural para certo tipo de poluentes.”
III. O PLANO
Os insetos já passaram por cinco extin-
ções em massa na história da Terra. Se
viveram mais do que os dinossauros,
também conseguem sobreviver aos hu-
manos. E se sabemos por que motivos
estão em crise, também podemos rever-
tê-la — ou pelo menos tentar. Desde logo
reduzindo o uso de inseticidas, adotando
práticas de agricultura sustentáveis, re-
florestando e restituindo a flora nativa.
Mas podemos ir mais longe — e não
temos de o fazer apenas pelos insetos:
“Há muitas razões para agirmos sobre
as alterações climáticas, perda de habitat
ou uso de inseticidas”, exemplifica Oliver
Milman. Porque ninguém quer viver num
mundo mais quente e com menos biodi-
versidade, tal como ninguém gosta de
químicos nos solos, água, ar ou comida.
Alterar a estratégia de financiamento
da União Europeia para conservar a
biodiversidade é outro passo. Há um
“enviesamento claro”, constatou Ro-
naldo Sousa num estudo publicado em
2020. Desde 1992, o financiamento da
UE beneficia os “animais carismáticos
e secundariza os restantes”: só 0,06%
dos invertebrados são apoiados, apesar
de existirem numa quantidade maior,
enquanto o apoio a projetos com ver-
tebrados é seis vezes mais. “É errado,
deveria estar por trás a própria rarida-
de e declínio das espécies”, lamenta o
investigador.
Uma boa notícia é que, como diz o au-
tor de “A Crise dos Insetos”, precisamos
de um “plano de inação”. Os seres huma-
nos gostam de ambientes ordenados e
arrumados, mesmo na natureza, mas os
insetos precisam do oposto: desordem e
selvajaria, continua Milman. “Podemos
ser preguiçosos e deixar a natureza fazer
o seu trabalho — os insetos agradecem.”
mtribuna@expresso.impresa.pt
PRIMEIRO CADERNO 21
“Em Portugal
não há dados
concretos”
Conhecem-se mais de 13 mil
espécies de insetos em Portugal
Continental, segundo José Manuel
Grosso-Silva. Mas “como nunca
fomos um país com tradição de
história natural, não sabemos o que
se passa com os insetos”. Assim,
“em Portugal não há dados
concretos” sobre o decréscimo de
populações e espécies, acrescenta.
Parte do problema está no “impedi-
mento taxonómico”: não há
especialistas para estudar tantos
grupos, “entomologistas em
Portugal contam-se pelos dedos da
mão”. Tanto Grosso-Silva como Ana
Sofia Reboleira fazem parte da
exceção. A entomóloga especializa-
da em biologia subterrânea já
descobriu mais de 70 espécies, na
grande maioria cavernícolas e
“exclusivamente nossas — são
património biológico que não
existe em mais nenhum país”.
Descobrir novas espécies não é
complicado, estudá-las é que é,
conta. “Infelizmente, a falta de
expertise traduz-se na incapacida-
de de catalogarmos a nossa
biodiversidade”. O futuro não é
promissor. Apesar de existirem
estudiosos em universidades e
amadores a contribuírem com
coleções, a taxonomia está a
tornar-se uma ciência clássica,
reflete o investigador Ronaldo
Sousa. “É um saber tradicional que
está a perder-se. As pessoas mais
velhas vão-se reformando e levam
esse conhecimento sem o passarem
às gerações mais novas.” Aliás,
como brinca o curador do MHNC-
-UP, “os taxonomistas estão mais
ameaçados de extinção do que os
grupos que estudam”.
22 PRIMEIRO CADERNO
PROJETOS EXPRESSO SAÚDE
Diagnóstico Quanto mais cedo for detetada a doença, mais rápida será a resposta clínica
e mais eficaz a terapêutica. Prevenção é receita para poupar custos ao SNS, apontam peritos
Testar salva vidas.
Mas pode salvar mais
Textos Francisco de Almeida
Fernandes
M
ais vale prevenir
do que remedi-
ar”. A conclusão
é da sabedoria
p o p u l a r, m a s
facilmente en-
contra aplicação
em várias áreas
da sociedade e a
saúde é uma das principais. Álvaro
Beleza, presidente da SEDES, assinala
que “em Portugal somos muito bons a
fazer diagnósticos e reflexões”, mas as
decisões que daí resultam nem sempre
veem a luz do dia. O também médico
refere-se à importância de fazer che-
gar a inovação na saúde a quem mais
dela precisa, os doentes, sem “medo
da mudança” e da adoção de “novas
ferramentas” trazidas pela ciência.
A evolução dos meios de diagnóstico
e da tecnologia que os suporta deve,
defende, ser utilizada para detetar
precocemente a doença e prevenir
consequências adicionais. “O que que-
remos evitar é que as pessoas estejam
doentes”, acrescenta.
Os diagnósticos in vitro — que
nada mais são do que um teste de
diagnóstico que recorre à análise de
uma amostra biológica — são uma
das principais ferramentas à dis-
posição dos profissionais de saúde.
“Há pessoas que com um diagnós-
tico feito rapidamente recuperam
e assumem-se como normais a vida
toda. Se não fizerem este diagnósti-
co precoce, sujeitam-se a viver com
uma deficiência para toda a vida”,
REPENSAR A SAÚDE
“Diagnósticos in vitro: mais
acesso, mais saúde” foi o tema
da conferência do Expresso
com a NOVA IMS e com o apoio
da Roche. Integrada no ciclo
Repensar a Saúde, o debate
incidiu sobre os desafios no
acesso equitativo à inovação
dos testes de diagnóstico
in vitro e na discussão
de soluções a implementar.
“SE AS PESSOAS
TIVEREM [ACESSO A]
MAIS TESTES,
NÃO PRECISAM
DE IR AO HOSPITAL”,
DIZ ÁLVARO BELEZA
diz Fernando de Almeida, que usa
como exemplo o “teste do pezinho”.
O rastreio neonatal é utilizado em
Portugal desde 1979 e tem hoje uma
cobertura acima dos 99%. “Permite
avaliar alterações neurológicas ou
metabólicas que podem ter um im-
pacto importante no crescimento e
desenvolvimento da criança”, afirma
o presidente do Instituto Nacional de
Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
As vantagens na realização de tes-
tes de diagnóstico são vastas e abran-
gem diferentes maleitas. Desde logo,
a vantagem para a qualidade de vida
dos doentes, mas também para a sus-
tentabilidade financeira do sistema
de saúde. “Todas as tecnologias que
conseguirmos colocar à disposição dos
profissionais e que permitam evitar
mais doença é extremamente positi-
vo”, considera Joana Carvalho, vice-
-presidente da Administração Central
do Sistema de Saúde (ACSS). Porém,
a cardiologista Maria José Rebocho,
que integra a Associação de Apoio
aos Doentes com Insuficiência Cardí-
aca (AADIC), critica a não compar-
ticipação de um teste de diagnóstico
(NT-proBNP) que permite, de forma
precoce, detetar quando o coração não
está a funcionar como devia. “Não há
dúvidas nenhumas que deve ser feito o
diagnóstico in vitro para insuficiência
cardíaca”, diz. No entanto, apesar de
ser recomendado pelas sociedades
europeias e americanas de cardiolo-
gia, esse ato “não é comparticipado”
se for pedido pelos cuidados de saúde
primários — nestes casos, o custo para
o doente é cerca de €40.
Os ganhos estão plasmados no estu-
do “Valor em Saúde — Caso de Estudo
internamentos, consultas e até
dos Diagnósticos In Vitro”, apresenta-
do pela NOVA IMS em julho de 2021,
que conclui que a sua utilização nos
cuidados primários “reduz o núme-
ro médio de consultas, exames e in-
ternamentos”. Sendo a insuficiência
cardíaca a terceira causa de hospita-
lizações no país, e estando esta análise
disponível nos serviços de urgência,
Maria José Rebocho diz que “não faz
sentido” a falta de acesso que ainda
se verifica. Jorge Seguro Sanches,
vice-presidente da Comissão de Saúde
da Assembleia da República, acredita
que existe um “défice muito grande”
no planeamento do Serviço Nacional
de Saúde (SNS) que é preciso resolver.
Eventualmente, aponta, com uma
task force para a integração dos cui-
dados de saúde.
45 milhões de lições pandémicas
Para o presidente do INSA, a pande-
mia permitiu mostrar à população,
aos profissionais de saúde e aos de-
cisores políticos a importância dos
testes de diagnóstico. Mas para lá
da perceção pública do seu valor,
Fernando de Almeida recorre aos
números para argumentar que é pos-
sível, tal como nos últimos dois anos
e meio de covid-19, acelerar o acesso
à inovação em saúde (ver caixa). “Em
março de 2020 fazíamos uma média
de dois mil testes por dia e um ano
e meio depois fazíamos 400 mil. É
tudo fruto da inovação”, sublinha.
Até hoje foram feitos cerca de “45
milhões de testes”, um feito inédito
que deve servir de exemplo noutras
doenças, defende.
sociedade@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022
Testes permitem diminuir
mortes. Especialistas pedem
acesso mais rápido
FOTO GETTY IMAGES
AUMENTAR A
DETEÇÃO PRECOCE
AVALIAÇÃO CLÍNICA Para os peri-
tos consultados no estudo “Me-
lhor Saúde — O valor do acesso
ao diagnóstico in vitro”, da NOVA-
-IMS/Roche, estas ferramentas
são “uma componente fundamen-
tal” para a prática clínica e saú-
de pública. Ajudam na gestão da
doença, no rastreio populacional
e na melhoria da sustentabilidade
do sistema de saúde.
500
mil é o número estimado
de portugueses que, em 2060,
terão um diagnóstico de
insuficiência cardíaca (IC).
Atualmente, os números —
desatualizados, de acordo
com os peritos — indicam que
existem 400 mil pessoas com IC.
Os custos associados à IC
representam 2,6% da despesa
pública em saúde, revela estudo
ACELERAR
ACESSO À INOVAÇÃO
TECNOLOGIA Profissionais de saúde,
investigadores, políticos e gestores
dizem ser importante aumentar
a velocidade de disponibilização
da inovação aos doentes. Sugerem
que seja criada uma via verde para
a Avaliação das Tecnologias de Saú-
de, que assegure a análise da efi-
cácia, da segurança e do valor dos
dispositivos, à semelhança do que
acontece com os medicamentos.
27
milhões de euros é a fatura que,
segundo o estudo da NOVA-IMS,
o SNS terá de suportar por novas
hospitalizações de doentes com
IC no primeiro ano após alta.
Se alargados aos cuidados
de saúde primários, os testes
de diagnóstico BNP/NT-proBNP
podem poupar €3 milhões
por ano ao SNS.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Só o choque
evita o choque
Nos primeiros minutos de terça-feira,
a NASA deve fazer história ao desviar
um asteroide
Houve um tempo em que o asteroide Apo-
phis gerava insegurança nos astrónomos
e só com muitas medições o medo se afas-
tou: após vários cálculos, percebeu-se que
o corpo celeste, com 370 metros de diâ-
metro, não iria embater no nosso planeta,
mas apenas passar a 38 mil quilómetros
da Terra, o que representa um décimo do
percurso até à Lua. O Apophis já deixou de
ser ameaça — mas a colisão com asteroides
não. E foi por isso que a NASA lançou uma
missão de defesa planetária, conhecida por
DART, que pretende alterar a trajetória
do par de asteroides Didymos/Dimorphos
provocando uma colisão, que acontecerá
precisamente às 0h14 de terça-feira. À se-
melhança do Apophis, a dupla de asteroides
não representa perigo para a Terra: este em-
bate funcionará como uma experiência para
prevenir eventuais problemas no futuro.
“As trajetórias destes asteroides servem
de alerta para a necessidade de preparar-
-nos com tecnologias que nos permitam
atuar. É um desenvolvimento que pode
demorar mais de 10 anos”, explica Fran-
cisco Cabral, líder técnico da Divisão de
Navegação e Controlo da empresa GMV.
Já se sabe que o sistema binário Didy-
mos/Dimorphos nunca deverá ficar a uma
distância inferior a 5,9 milhões de quiló-
metros da Terra, mas no espaço não fal-
tam imprevistos, como aquele que ocorreu
em 2013, em Chelyabinsk, na Rússia, com
um asteroide que provocou múltiplos es-
tragos e ferimentos. Uma compilação da
NASA também revela mais de 550 aste-
Nova SBE
Career Fair 2022
Obrigado às mais de
O futuro que idealizamos é um futuro mais justo, numa sociedade mais
sustentável e menos polarizada.
iniciativa e que partilham desta visão.
pioneiros deste futuro, construindo em conjunto a sociedade e a economia
que o mundo precisa.
O FUTURO DO FUTURO
NASA lançou uma missão
de defesa planetária,
conhecida por DART,
que pretende alterar
a trajetória do par
de asteroides Didymos/
/Dimorphos através
de uma colisão FOTO NASA
sam perto da Terra, mas há sempre al-
Órbita original guns que escapam. Isso não significa
que devemos passar a ter medo de sair
à rua”, lembra Inês d’Ávila, responsá-
Nova órbita vel pela área de transporte e segurança
da Agência Espacial Portuguesa (AEP).
Didymos Ciente das probabilidades e dos imprevis-
780 m tos, a Agência Espacial Europeia (ESA)
SpaceX Dimorphos
Falcon 9 160 m tem em vista o desenvolvimento de um
DART sistema de alertas e localização de impacto,
com antecedência de três semanas para
asteroides com mais de 40 metros, e um
segundo sistema de desvios de trajetórias
roides que se desintegraram na atmosfera que evita colisões com objetos com menos
da Terra entre 1994 e 2013. A lista envolve de 500 metros — e previsivelmente maio-
apenas objetos de reduzida perigosidade res que os 140 metros que servem de limiar
e menos de 140 metros de diâmetro, mas de viabilidade técnica para tentativas de
não deixa de servir de alerta. alteração de rota.
“Há um grande esforço internacional E é no desvio de trajetórias que a DART
para catalogar corpos celestes que pas- promete fazer história: na segunda-fei-
organizações presentes.
PRIMEIRO CADERNO 23
ra prevê-se que a sonda de 550 kg da
NASA provoque uma colisão com o par
de asteroides. O impacto vai incidir em
Dimorphos, que tem 170 metros e orbita
Didymos, com 780 metros de diâmetro; os
cientistas acreditam que o choque no ele-
mento mais pequeno acabe por alterar o
curso do maior. A isto junta-se uma crate-
ra útil para estudo de asteroides. “Quanto
maior for a projeção de materiais na coli-
são, maior será a alteração da trajetória”,
estima Paulo Gordo, diretor da empresa
Synopsis Planet.
Segundo as previsões, o desvio provo-
cado pela DART não chega para salvar
a Terra de uma colisão com algo maior,
mas na AEP há expectativa de que sirva
de mote para um sistema de defesa pla-
netária internacional, que provavelmente
só avançará depois de 2024, com o lança-
mento da missão HERA, da ESA, também
rumo ao par Didymos/Dimorphos. Para
as empresas portuguesas Tekever, GMV,
Efacec e Synopsis Planet, que participam
nesta missão da ESA com componentes
de navegação e captação de dados, será
um momento especial. “A HERA vai pro-
videnciar informação detalhada que per-
mitirá replicar missões como a DART no
futuro”, explica Inês d’Ávila.
A DART conta com um pequeno satélite
para a recolha de dados após impacto,
mas será a HERA a permitir confrontar o
desvio registado ao cabo de mais de dois
anos com as previsões vindas dos super-
computadores.
Os entendidos recordam que foi a coli-
são de um asteroide que dizimou os dinos-
sauros. E também há quem recorde que as
missões com destino a asteroides podem
rapidamente ganhar novos objetivos: “São
úteis para saber se há minérios raros que
poderão vir a ser explorados”, lembra
João Branco, responsável pelo segmento
de espaço da GMV Portugal.
Hugo Séneca
sociedade@expresso.impresa.pt
24 PRIMEIRO CADERNO
INTERNACIONAL GUERRA NA UCRÂNIA
Sete meses Que material foi decisivo para os recentes êxitos ucranianos e como foi usado?
As armas da reviravolta
Rui Cardoso
A
manhã, 24 de se-
tembro, completar-
-se-ão sete meses
sobre a invasão rus-
sa da Ucrânia. Uma
guerra que está
para durar, mas
que nas últimas
semanas trouxe
reveses às forças de Moscovo, tradu-
zidos na perda de seis mil quilómetros
quadrados de território, sobretudo a
sueste de Kharkiv, mas também em
torno de Kherson, cidade ucraniana
ocupada situada mais a sul.
As razões dos amargos de boca
russos (que levaram o Presidente,
Vladimir Putin, a decretar uma mo-
bilização parcial de mais 300 mil
reservistas na madrugada de quarta-
-feira) são de dois tipos: problemas de
comando (demasiado centralizado) e
de recursos humanos (em quantidade
e qualidade) e utilização hábil e coor-
denada pelos ucranianos de material
ocidental. Que material foi esse?
Lança-foguetes Se os lança-fogue-
tes múltiplos da época soviética (Grad,
Smerch, Uragan, etc.) lançam um di-
lúvio de fogo mas são pouco precisos
e de alcance limitado, as rampas mó-
veis norte-americanas M142 HIMARS
conseguem atingir alvos a 80 km. Cada
um destes camiões tem seis tubos de
227 mm e pode, após fazer fogo, des-
locar-se a 85 km/h, iludindo o fogo
de contrabateria. Isto tem permitido
atingir alvos muito atrás da linha da
frente (postos de comando, depósitos
de munições ou combustível, etc.) ou
de grande valor estratégico (as pontes
sobre o rio Dniepre, à retaguarda de
Kherson, ou a ilha das Serpentes, no
mar Negro). Os americanos fornece-
ram 16 armas destas e o Reino Unido,
Noruega e Alemanha prometeram
mais nove sistemas M270 semelhantes
aos HIMARS. Todos podem, em alter-
nativa, disparar dois mísseis ATACMS
com 300 km de alcance, que os ame-
ricanos dizem não ter fornecido para
evitar riscos de escalada. Contudo,
o ataque ucraniano à base aérea de
Saky, na Crimeia (9 de agosto, 10 avi-
ões destruídos), a não ter sido feito por
comandos, é coerente com a utilização
deste tipo de mísseis.
Obuses O material ocidental, todo
de calibre 155 mm (ao contrário do
calibre soviético, 152 mm), é de dois ti-
pos: peças automotoras, como o CAE-
SAR francês (montado num camião
Renault 8x8) ou o PzH 2000 alemão
(usando a carroçaria do tanque Leo-
pard), capazes de disparar seis a dez
tiros por minuto visando alvos a 40
km (18 CAESAR, 110 PzH 2000 e 70
versões polacas desta arma, o Krab), e
peças rebocáveis, como o M777 ame-
ricano (126 exemplares, mais seis aus-
tralianos e quatro canadianos), que
demora seis minutos a instalar, dispa-
rando salvas de duas a seis munições
por minuto, com 40 km de alcance.
Esta artilharia é usada em combina-
ção: enquanto os obuses automotores
se aproximam da zona de combate e
alvejam objetivos em profundidade, os
rebocados ficam mais atrás, apontam
à vizinhança da linha da frente e fun-
cionam como boxes de uma equipa de
Fórmula 1, ou seja, a sua montagem,
desmontagem e mudança de posição é
comandada ao cronómetro, em ciclos
de 7+7 minutos, para evitar a reação
da artilharia inimiga. Uns e outros
podem disparar também munições
americanas M982 Excalibur, guiadas
NAS ÚLTIMAS SEMANAS,
MOSCOVO SOFREU
REVESES, PERDENDO
SEIS MIL QUILÓMETROS
QUADRADOS
DE TERRITÓRIO
por GPS, capazes de atingir alvos a 50
km com precisão de cinco metros.
Da combinação destas armas resul-
tou que as forças russas passaram a
ter mais dificuldade em fazer gran-
des barragens de artilharia, como em
junho no Donbas (contra Severodo-
netsk e Lissichiansk). Os depósitos
de munições que as alimentavam
passaram a ser alvejados e tiveram
de ser dispersos e afastados, reduzin-
do a frequência e duração dos fogos.
Os ucranianos recorreram às suas
rampas de lança-foguetes múltiplos
de fabrico soviético para apoiar o tiro
dos HIMARS, saturando o espaço
aéreo com mais alvos em movimento,
dificultando o trabalho dos sistemas
antimísseis e antiaéreos russos.
Drones A utilização de aeronaves
não-tripuladas é uma das marcas
desta guerra. Na fase inicial, os dro-
nes Bayraktar TB2, de fabrico turco,
foram decisivos para travar as colu-
nas blindadas russas que convergi-
am para Kiev. Revelaram-se eficazes
contra helicópteros e posições de
artilharia, em particular antiaérea.
Terão contribuído para afundar o
navio almirante russo “Moskva”, ao
distraírem os sistemas antimíssil de
bordo enquanto dois mísseis antina-
vio se aproximavam à flor da água.
Em funções de vigilância do campo de
batalha ou de ataque ambos os lados
utilizam drones de forma alargada. O
uso de drones pequenos, lentos e de
baixa tecnologia parece ter posto em
causa os sistemas antiaéreos russos,
quer os de longa distância (S-300
e 400), quer os de defesa próxima
(Buk, Pantsir, etc.), formatados para
intercetar aviões ou mísseis.
Novas armas ocidentais chegaram
há pouco ou estão a caminho. É o caso
dos mísseis antinavio Harpoon, mon-
tados em camiões (baterias costeiras
móveis), ou dos mísseis antirradar
americanos AGM-88 HARM, que,
montados em aviões MIG-29 ucrania-
nos, poderão atingir sistemas antiaé-
reos russos guiados por radar, mesmo
que este seja desligado para evitar a
Expresso, 23 de setembro de 2022
PODCAST No derradeiro episódio do “Bloco de
Leste”, Martim Silva faz a revisão da matéria dada
com o perito em segurança Bruno Cardoso Reis
Polícia russa reprime
manifestantes antiguerra em
Moscovo, a 21 de setembro
FOTO REUTERS
aquisição final do alvo. O mesmo se
diga dos sistemas solo-ar NASAMS
(EUA e Noruega), eficazes num raio de
25 km, que defendem, por exemplo, a
Casa Branca. Uma ferramenta decisiva
se Moscovo optar por uma campanha
de bombardeamentos aéreos e ataques
com mísseis às cidades ucranianas.
Com ambos os lados a usarem em
larga escala armas e munições da
época soviética, começou a colocar-
-se o problema dos abastecimentos.
Recentemente, a Rússia começou a
comprar munições de artilharia pesa-
da à Coreia do Norte e a Ucrânia, com
mediação americana, ao Paquistão.
No caso da Ucrânia, há um pesadelo
logístico: dois tipos de armas e muni-
ções com calibres diferentes.
Tecnologia russa falível
As armas russas tenderam a falhar mais
quanto mais sofisticadas fossem. Se o
desempenho dos lança-foguetes múl-
tiplos da era soviética foi o esperado,
os tanques T-72 revelaram um defeito
ligado ao posicionamento das muni-
ções sob os pés da tripulação, com risco
agravado de explosão interna.
As insuficiências dos sistemas solo-
-ar S-300 e S-400 podem ter a ver
com o uso de sistemas eletrónicos
de pior qualidade, devido às sanções
ocidentais. O gasto excessivo nos pri-
meiros dias de guerra levou ao uso de
mísseis antiaéreos S-300 e S-400 em
tiro horizontal (para o qual não foram
concebidos), bem como de mísseis
navais dos anos 60 retirados de ser-
viço e de potência inversamente pro-
porcional à precisão, como os KH-22
(Kitchen na nomenclatura na NATO),
lançados de avião.
Os russos combinaram mal as ar-
mas, lançando tropas aerotransporta-
das contra o aeroporto de Hostomel
sem acompanhamento de infantaria e
blindados. Movimentaram tanques ao
longo de estradas onde o inimigo esta-
va emboscado sem estarem acompa-
nhados por infantaria ou helicópteros.
internacional@expresso.impresa.pt
Quem for
contra
a guerra...
vai para
a guerra
Protestos contra Putin
levam à detenção de mais
de 1300 pessoas. Castigo
de muitos será envio
para a frente ucraniana
Para lá das palavras de repúdio
com que dirigentes mundiais
reagiram ao discurso que Vla-
dimir Putin proferiu à nação
na quarta-feira, os seus efeitos
surgiram sobretudo dentro de
portas. O anúncio da chamada
a 300 mil reservistas — que o
Kremlin considera mobilização
parcial e não geral, limitada a
quem tenha formação militar
— gerou uma corrida aos bilhe-
tes de avião para sair do país,
que atingiram valores de 9000
euros. Nas fronteiras terrestres
também houve notícia de trân-
sito acrescido.
Multiplicaram-se na Rússia
manifestações de protesto con-
tra aquilo que no país só se pode
designar por “operação militar
especial”, nunca guerra ou in-
vasão. Mais de 1300 pessoas
foram detidas em mais de 30
cidades, tendo alguns recebido
ordem para se apresentarem
nos quartéis militares locais
para serem recrutados. Polí-
ticos da oposição como Kirill
Goncharov, dirigente do parti-
do liberal Yabloko, divulgaram
imagens dos documentos de
convocatória.
Ir para a frente de guerra pas-
sa a ser o novo castigo, a somar
a multas chorudas ou até penas
de prisão. Quem não está pelos
O anúncio da chamada
a 300 mil reservistas
gerou uma corrida
às fronteiras russas,
seja por ar ou por terra
ajustes é Nikolai Peskov, filho
do porta-voz do Presidente.
Alvo de brincadeira da oposi-
ção, que lhe telefonou a pedir
dados para o alistar, o homem
de 32 respondeu: “Têm de per-
ceber que, sendo o meu nome
Peskov, não devo figurar aí.”
O pai, Dmitri, afirmou que as
palavras de Nikolai tinham sido
tiradas do contexto.
As bombas de Medvedev
Em Nova Iorque, na Assembleia-
-Geral da ONU, o Presidente dos
Estados Unidos acusou Putin
de ter invadido a Ucrânia com
falsos argumentos. “Ninguém
ameaçou a Rússia. Só a Rússia
quis a guerra”, garantiu Joe Bi-
den, quarta-feira. A estrear-se
nessas lides, a primeira-ministra
britânica Liz Truss reforçou o
apoio aos ucranianos: “A histó-
ria de 2022 podia ter sido a de
um Estado autoritário a avançar
com tanques pela fronteira de
um vizinho pacífico, subjugando
o seu povo. Afinal, é a história da
liberdade a dar luta.”
No dia seguinte, enquanto Kiev
e Moscovo trocavam prisioneiros
graças a um acordo com media-
ção turca, o ex-Presidente russo
Dmitri Medvedev reafirmava as
ameaças do chefe. Para defen-
der território russo ou anexado
(através de “referendos” planea-
dos até domingo), valem “quais-
quer armas russas, incluindo
armas nucleares estratégicas”.
Pedro Cordeiro
pcordeiro@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022
ITÁLIA
Previsão de ciclone com sol no extremo
Giorgia Meloni é favorita nas legislativas de dia 25. Adivinham-se longas negociações depois da ida às urnas
Rossend Domènech
Correspondente em Roma
Os meteorologistas preveem que
domingo caia chuva torrencial
em Itália e que o que resta de um
ciclone atlântico se abata sobre
o país. Os quase 51 milhões de
eleitores terão de ir às urnas mu-
nidos de guarda-chuvas. O clima
importa: o mau tempo sempre
favoreceu os partidos de esquer-
da, cujos simpatizantes eram os
mais convictos. Iam votar contra
ventos e marés. Para 25 de se-
tembro, porém, a esquerda não
parece ter essa vantagem.
Segundo as últimas sonda-
gens publicadas, 26,5% dos ita-
lianos pensam votar em Irmãos
de Itália (FdI, extrema-direita).
A sua chefe, Giorgia Meloni,
declara-se aliada do espanhol
Vox e amiga do primeiro-minis-
tro húngaro Viktor Orbán, um
espinho para a União Europeia.
Apesar disso, Carlo Calenda,
líder do novo partido centrista
Ação e um dos políticos mais
presentes em todos os palcos
desta campanha, afirma-se dis-
posto a “apostar que o centro-
-direita não obterá uma maio-
ria para formar Governo”. O
político, a quem os estudos de
opinião atribuem 7% das inten-
ções de voto, prevê que “Meloni
não será primeira-ministra”.
O especialista em economia
Claudio Tito acrescenta que a
dificuldade em formar o novo
Executivo, caso a direita vença,
não permitirá aprovar a tempo
o Orçamento de Estado para
2023. O Governo cessante de
Mario Draghi comunicou a
Bruxelas que “não apresenta-
rá” o documento, deixando a
tarefa a quem lhe suceder.
“Mulher, mãe e cristã”
Tudo indica que Calenda per-
derá a aposta. Nos últimos dez
anos, o FdI passou de 1,3% para
26,5%. Nas últimas semanas o
grande capital em Itália rumou
aos braços de Meloni. A pirueta
do diário liberal “Corriere della
Será”, referência da burgue-
sia transalpina, é apenas um
exemplo, entre vários que sur-
preendem a opinião pública,
da mudança que esta mulher
pequena e de expressão sedu-
tora causa no país.
Também a igreja católica
italiana, embora sem fazer de-
clarações públicas a favor da
qualquer candidato, vê com
SUÉCIA
Direita radical
De pária a segundo
maior partido
Quer os Democratas
da Suécia entrem ou não
no novo Governo,
esta força xenófoba deve
ganhar influência política
A Suécia aparece entre os paí-
ses mais bem classificados nos
índices globais de democracia
e liberdade, mas este contexto
não foi entrave ao crescimento
da extrema-direita. Com mais
de 20% dos votos nas legislati-
Comício de Giorgia Meloni, do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, em Cosenza FOTO FRANCESCO ARENA/ EPA
bons olhos aquela que se defi-
ne como “mulher, mãe e cristã”.
Os mais conservadores podem
considerar que Meloni vive em
pecado, uma vez que não é ca-
sada, mas isso não a impediu de
ser a estrela do encontro anual
do movimento Comunhão e
Dívida soberana,
pandemia e crise
energética agravaram
as desigualdades
entre cidadãos
e classes sociais
Libertação, que se realiza no
fim do verão e reúne uma parte
economicamente poderosa dos
católicos.
O voto católico também está
na mira de Matteo Salvini, alia-
do de Meloni na coligação de
direita. Fez campanha com o
símbolo dos franciscanos ao pes-
coço e mandou cartas a todos
os cidadãos do país, encimadas
pela palavra “Creio”, em letras
garrafais. É outro que vive em
casal sem estar casado. O outro
dirigente da direita, Silvio Ber-
lusconi, voltou recentemente a
vas de 11 de setembro, o partido
de extrema-direita Democratas
da Suécia (SD, na sigla sueca)
tornou-se na segunda maior
força política do país. E já an-
tes de ter conquistado mais de
um quinto dos votos (20,5%)
conseguira passar a ser olhado
pela direita sueca como parcei-
ro viável num futuro Governo.
“Pela primeira vez é muito
provável, se as negociações cor-
rerem bem, que os SD tenham
casar, numa cerimónia de pan-
tomima num jardim da sua casa.
Meloni está tão segura da vi-
tória que se declara “adequa-
da” para ser a primeira mulher
a chefiar um Governo na histó-
ria de Itália. Assegura já ter “os
nomes dos ministros”, mas não
pode anunciá-los, por supersti-
ção. “Não se pode dar nada por
garantido até dia 25”, afirma.
Uma vez que a lei eleitoral
exige alianças prévias, os italia-
nos poderão escolher entre três
coligações: direita, centro e es-
querda. A primeira inclui a For-
ça Itália de Berlusconi (8% nas
sondagens), a Liga de Matteo
Salvini (11%) e o FdI de Meloni
(26,5%). O veterano Berlusconi
promete ser o pai que controla-
rá os filhos radicais, sobretudo
Meloni. Os três dirigentes fazem
parte de partidos europeus dife-
rentes e adversários: Berlusconi
está no Partido Popular Euro-
peu (como o PSD português),
Meloni nos Conservadores e Re-
formistas (como o partido que
governa a Polónia), Salvini no
Identidade e Democracia (como
o Chega). “Juntos, durarão seis
meses”, vaticina Calenda.
A segunda coligação inclui o
Partido Democrata (PD, 21,1%),
os Verdes-Esquerda (4%) e o
influência real sobre a política
governamental sueca e que se-
jam um grande ator político
verdadeiramente ‘aceite’ pelos
poderes estabelecidos. É uma
conquista importante”, disse
ao Expresso o cientista político
Oskar Hultin Bäckersten, da
Universidade de Uppsala.
O especialista destaca que há
visões diferentes sobre os resul-
tados. Se para grande parte da
população esta eleição “simbo-
liza o crescimento de atitudes
xenófobas e gera preocupações
com o racismo”, para outra sig-
nifica que o seu voto nos SD
“pode, pela primeira vez, tra-
duzir-se em mudanças efetivas
de política”. Até agora isso não
acontecia, porque “têm sido um
partido pária no Parlamento”.
O crescimento da extrema-
-direita que se faz sentir na
+Europa, de Emma Bonino
(2%). Apesar de ser proibido
divulgar sondagens na última
semana de campanha, circu-
lam rumores oficiosos de que
este bloco tem subido. O seu
chefe, o ex-primeiro-ministro
Enrico Letta, é homem sisudo e
racional, que chega a eleitores
de certo nível escolar. Meloni
apela às emoções dos eleitores,
o que lhe amplia a plateia. Nas
filas para os bancos alimenta-
res há muitos a declararem que
lhe darão o seu voto.
Ao centro, formou-se o duo
Itália Viva-Ação (7,2%), com as
formações do também ex-pri-
meiro-ministro Matteo Renzi
e de Calenda. Há vários outros
partidos com previsões abaixo
dos 3%, limiar mínimo para en-
trar no Parlamento.
Indignados isolados
Quem não está em nenhuma
aliança, depois de ter gover-
nado com a Liga e com o PD,
é o Movimento Cinco Estrelas
(M5S). Outrora grupo de “in-
dignados” lançado pelo cómico
Beppe Grillo, recebe 15% nas
sondagens, com tendência para
subir. É mais forte no sul, que
aprecia o seu “rendimento ci-
Suécia não é fenómeno novo
na Escandinávia. Em 2015, o
Partido do Povo Dinamarquês
também superou a fasquia de
20% dos votos, ainda que nas
últimas eleições tenha sofrido
uma quebra significativa.
Um Governo por formar
Segunda-feira, o líder do par-
tido conservador sueco Mode-
rados, Ulf Kristersson, foi for-
Com 20,5% dos votos,
os Democratas
da Suécia passam a ser
olhados pela direita
como parceiro
de coligação viável
dadão”, uma espécie de salário
social que beneficia um milhão
de famílias italianas, segundo
dados da Segurança Social, e
que foi uma medida do M5S,
representando uma prestação
anual, conforme as situações, de
€6 mil a €13 mil.
Mario Draghi deixa
para o seu sucessor
o Orçamento do Estado
para 2023. Prevê-se
demora na formação
do próximo Governo
O país que vai a votos mudou
muito desde as últimas legisla-
tivas, em 2018. O fim da crise
da dívida soberana, a pandemia
e a presente crise energética
agravaram as desigualdades en-
tre cidadãos e classes sociais. O
Banco Central e vários centros
de análise europeus estimam
que 7% dos italianos possuam
50% da riqueza nacional. Peri-
tos italianos observam também
que há anos que operários, tra-
balhadores por contra de ou-
trem e marginalizados troca-
ram a esquerda pela direita.
malmente convidado a formar
Governo, depois de a direita e a
extrema-direita terem somado
176 assentos parlamentares.
As legislativas foram renhidas,
com o bloco de centro-esquerda
a conquistar 173 lugares. Ape-
sar de o bloco de direita incluir
os SD, espera-se alguma resis-
tência à sua inclusão no novo
Executivo. Mas fazer parte dele
é desejo expresso do líder do
partido, Jimmie Åkesson.
Bäckersten observa que
embora no último mandato
tenham sido incluídos como
parceiros de coligação, em
particular pelos Moderados e
Democratas-Cristãos, é “im-
provável” que os SD venham
a integrar o Governo. Prevê
que se tornem um partido de
apoio no Parlamento, assegu-
rado através de acordos polí-
PRIMEIRO CADERNO 25
A distância entre norte e sul
do país, um eterno problema,
aumentou. O programa de
recuperação da UE (mais de
€200 mil milhões para Itália,
entre dádivas e créditos bonifi-
cados) destina 40% ao sul, para
reduzir diferenças. Acontece
que Meloni quer renegociá-lo
com Bruxelas, porque num ano
“os preços das matérias-pri-
mas mudaram”. O comissário
europeu da Economia, Paolo
Gentiloni (também ele italiano
e antigo primeiro-ministro, do
PD), só admite “pequenos re-
toques”. A maioria dos econo-
mistas reitera que renegociar
o apoio comunitário pode signi-
ficar perdê-lo, já que deixou de
poder ser executado até 2026,
como exige a UE.
Guerra “tramou” Salvini
A campanha eleitoral foi das
mais crispadas das últimas
décadas. A invasão russa da
Ucrânia deixou Salvini de ras-
tos, ao ponto de ter tido de vir
a público na última semana,
declarando-se contra “a guerra
de Putin”. A Liga caiu de 34%
dos votos em 2018 para 11% nas
atuais projeções.
A prevalência do direito na-
cional sobre as normas acorda-
das na UE, como impôs Orbán
na Hungria, foi o argumento
mais utilizado pelo PD contra
Meloni. Nas questões internas,
os temas dominantes foram a
supressão ou remodelação do
“rendimento cidadão”, contra
o M5S, e a criação de nova dívi-
da pública — a italiana é a mais
alta entre os 27 —, defendida
por Salvini para apoiar empre-
sas e famílias face à atual crise.
A direita apresenta aos elei-
tores três propostas políticas
distintas, a esquerda apenas
uma, ainda que com matizes.
Já os direitos cívicos (eutaná-
sia, comunidade LGTB, abor-
to, cidadania para imigrantes)
não estiveram em destaque
nos comícios. Tampouco se
deu importância aos chamados
“inapresentáveis”, candidatos
condenados com trânsito em
julgado ou que estão a ser jul-
gados ou investigados, quase
sempre por corrupção ou li-
gação às máfias. Ao abrigo da
lei, não deviam poder concor-
rer. São 101 e há-os em todos
os principais partidos. Este
domingo, os meteorologistas
preveem tormentas.
internacional@expresso.impresa.pt
ticos que exigirão uma intensa
negociação.
A segurança foi tema central
nas eleições. Dados do Con-
selho Nacional Sueco para a
Prevenção do Crime indicam
que os homicídios com arma de
fogo aumentaram desde 2005.
Em abril, a primeira-ministra
social-democrata Magdalena
Andersson, que governou me-
nos de um ano, apontou falhas
na integração de migrantes das
últimas duas décadas como mo-
tivo para o crime organizado.
Com um programa político an-
ti-imigração, os SD pretendem
tornar a política sueca uma das
mais restritivas da União Eu-
ropeia e possibilitar a rejeição
de pedidos de asilo com base
na religião.
Salomé Fernandes
sfernandes@expresso.impresa.pt
26 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de setembro de 2022

IRÃO

Descodificador por Margarida Mota

Contestação aos ayatollahs. Porquê?

A morte de uma jovem sob custódia da polícia, detida por andar na via pública com “trajes inadequados”, desencadeou
manifestações contra o uso obrigatório do véu islâmico. E, por arrasto, contra o regime religioso que governa o Irão há 43 anos

1 Porque há protestos em
várias cidades iranianas? 2 Oa polícia
que é e para que serve
de costumes?
A agitação está nas ruas desde sábado,
dia do funeral de uma mulher de 22
anos que morreu fruto de ferimentos
graves infligidos numa carrinha da
polícia. Mahsa Amini fora detida em
Teerão, pela polícia de costumes, por
levar “trajes inadequados”. Imagens
nas redes sociais mostram iranianas a
queimar os véus, de uso obrigatório. Os
protestos já fizeram pelo menos sete
mortos e concentram-se em Teerão,
Mashhad, Tabriz e na região curda.
Mahsa pertencia a esta minoria que
resistiu a tentativas de assimilação.
Também chamada polícia da
moralidade, foi criada após a Revolução
Islâmica. Tem como missão fazer
cumprir na via pública os códigos de
vestuário impostos pelos ayatollahs,
desde logo o obrigatório véu islâmico
para as mulheres e roupa larga para
ocultar a silhueta. Transeuntes vestidos
de forma que considerem “não-
islâmica” — por exemplo, com o véu
descaído ou, no caso dos homens, com
calções e camisas de manga curta —
são admoestados, multados ou presos
por agentes desta força de segurança.
3 Que potencial político
têm os protestos?
Este episódio traz à memória a morte
do vendedor ambulante tunisino
Mohamed Bouazizi, que se imolou
pelo fogo, em 2010, depois de a polícia
apreender a sua banca. Este ato
desesperado desencadeou protestos
no país e originou um efeito dominó
no Norte de África e Médio Oriente
(Primavera Árabe), que depôs ditadores
na Tunísia, Egito, Líbia e Iémen. No Irão,
o descontentamento apoia-se também
em slogans políticos, como “morte
ao ditador”, referência velada ao líder
supremo, Ali Khamenei.
4 Esta contestação nas ruas
é inédita no país? 5 Como reagem agora as
autoridades de Teerão?
Nos últimos 15 anos eclodiram grandes Restringindo o acesso ao WhatsApp
manifestações antigovernamentais por e ao Instagram e remetendo-se ao
duas vezes, que criaram expectativas silêncio. Quarta-feira, Khamenei falou
de uma “primavera iraniana”. A 55 minutos na televisão sobre a guerra
primeira foi em 2009, contra a vitória Irão-Iraque. Na Assembleia-Geral das
do candidato conservador Mahmud Nações Unidas, em Nova Iorque, o
Ahmadinejad nas presidenciais Presidente, Ebrahim Raisi, também
(Movimento Verde). Dez anos depois, foi omisso. Já o homólogo americano
nova vaga de protestos, que começou não perdeu a ocasião de expor Teerão:
a propósito do forte aumento do preço “Estamos com os corajosos cidadãos
dos combustíveis e evoluiu para um e as bravas mulheres do Irão que se
movimento pró-democracia. Ambas manifestam para garantir os direitos
as jornadas foram violentamente básicos”, disse Joe Biden na ONU.
reprimidas pelas forças do regime. mmota@expresso.impresa.pt

Guerra
e Paz
Miguel Monjardino
guerraepaz.expresso@gmail.com

O ultimato de Putin

Q
uando a guerra pes-
soal de Vladimir Putin
contra a Ucrânia reco-
meçou, em fevereiro,
existiam duas fortes convic-
ções na Rússia e nos países eu-
ropeus: Putin era um grande
estratego e a arte operacional
militar russa era superior a
em guerra contra a Rússia.
Como tem sido habitual, subli-
nhou a importância das armas
nucleares na defesa do país e
dos territórios no Leste e Sul
da Ucrânia. Para o Kremlin, a
sobrevivência do regime auto-
crático depende agora de uma
vitória clara na guerra.

HASTA
todas as outras. Sete meses
depois, as dúvidas sobre o
talento estratégico do líder
russo são evidentes e a admi-
Esta escolha de Putin é um
ultimato a Kyiv, a Washington
e às capitais europeias: ou a
Ucrânia cede às pretensões

PÚBLICA
ração pela arte operacional
dos generais ucranianos é ge-
neralizada. Que fazer?
Na semana passada, numa
do Kremlin e a guerra acaba
depressa ou, em alternativa,
Moscovo punirá severamen-
te Kyiv pela sua continuada

Venda
conferência de imprensa no
Usbequistão, Putin definiu
objetivos políticos modestos
para a guerra: a “libertação”
resistência. Em simultâneo,
Putin tenta persuadir a so-
ciedade russa de que esta é
mais uma guerra defensiva

de terreno
Rua calvet de Magalhães

de todo o território no Donbas contra um Ocidente inimigo

ucraniano. Há um mês, as
suas metas eram bem mais
A coligação
nacionalista
russa favorável
à destruição
ESPARGAL
1 prédio para construção com 20.015,00 m2, da Ucrânia
o de Arcos
sito na Estrada de Paço de Arcos. Estrada de Paç está insatisfeita
com o Presidente
União das freguesias de Oeiras Praça do
e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias Parque das Cidades
ambiciosas. A ofensiva ucra-
niana em curso no Nordeste e
Sul do país deixou Putin peran-
te um dilema político e militar.
Por um lado, o Kremlin tinha
A hasta pública terá lugar no salão nobre interesse em isolar a sociedade
do Edifício dos Paços do Concelho, em e a economia russa dos efeitos
Oeiras, no dia 19/10/2022, pelas 10:30 horas da guerra. Por outro, não po-
perante o júri nomeado para o efeito. dia ser visto a nível interno e
externo como vencido. A coli-
Consulte as condições no edital nº372/2022/DP gação nacionalista russa favo-
ou em www.oeiras.pt rável à destruição da Ucrânia,
ou à conquista dos territórios
entre Kharkiv e Odessa, está
profundamente insatisfeita
com Putin, as baixas sofridas
e os resultados obtidos.
Esta semana, o líder rus-
so fez a sua escolha. Entre a
retirada do Sul da Ucrânia e
uma guerra total contra Kyiv
e os países que a têm ajudado,
Putin escolheu a mobilização
de reservistas para comba-
ter, defendeu a importância
da base industrial russa na
produção de equipamento e
acentuou a retórica de que os
Estados Unidos e aliados estão
determinado a enfraquecer a
Rússia. O ataque à Ucrânia é a
nova guerra patriótica.
O ultimato de Putin torna
evidente que a mobilização
não resolverá o problema da
falta de qualidade das forças
russas. Moscovo continua a
ter meios militares formidá-
veis, mas as suas melhores
unidades profissionais já fo-
ram utilizadas e destruídas
na Ucrânia. Quanto à quan-
tidade, as novas unidades de
reservistas civis precisarão
de muitos meses de treino
competente e de equipamen-
to para atingirem a prontidão
operacional. Pelo caminho,
a base industrial russa terá
cada vez mais dificuldade em
produzir armamento de qua-
lidade ao ritmo necessário.
Acresce o limiar de tolerân-
cia da sociedade russa. O con-
ceito também se aplica às au-
tocracias. De líder experiente,
incontestado e estratego infa-
lível, Putin é cada vez mais um
político como Donald Trump,
que dilacera o seu país, as fa-
mílias, os círculos de amigos, e
arruína o futuro e a reputação
da Rússia. Esta semana atra-
vessou o seu Rubicão. O tempo
deverá ser o seu pior inimigo.
A pedido de Miguel
Monjardino, o Expresso
respeitou a grafia Kyiv
usada pelo autor neste texto,
e não a forma Kiev
que o jornal adotou
 Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 27

BRASIL

Vitória sólida pode Os magistrados Rosa We-

ber e Alexandre de Moraes
são o “selo de garantia de que
ser melhor do a normalidade democrática
será respeitada, seja qual for

que vitória rápida

Os candidatos Ciro
Gomes e Simone Tebet
e os juízes Rosa Weber
e Alexandre de Moraes
terão papéis decisivos
Este sábado, milhões de bra-
sileiros assistirão em direto ao
debate entre sete candidatos
presidenciais (de um total de
dez) cujos partidos têm, pelo
menos, cinco deputados fede-
rais. Participam Luiz Inácio
FOTO LUIZA MUGNOL
instabilidade.” Uma vitória de
Lula já no dia 2 implica a desis-
tência de Gomes ou Tebet, antes
do sufrágio. “Na segunda volta,
Lula já poderá ter uma vitória
mais confortável, porque a taxa
de rejeição contra Bolsonaro
vai funcionar”, adianta a fonte
contactada pelo Expresso.
A esquerda sul-americana
acredita que os eleitores que
apoiam Gomes e Tebet vota-
rão em Lula contra Bolsona-
o resultado das eleições”, diz
a fonte do Expresso.. Além do
chefe de Estado, os brasileiros
escolhem deputados federais
e estaduais. A sobriedade e a
capacidade negocial de Mora-
es, empossado presidente do
Tribunal Superior Eleitoral a
16 de agosto, “permitiram re-
duzir o clima de crispação que
existiu entre este órgão e as
Forças Armadas”, no manda-
to anterior, de Edson Fachin.
Fiscalização militar
Moraes negociou um acor-
do que autoriza os militares
a fiscalizar mesas eleitorais

Lula da Silva (Partido dos Tra-
balhadores, esquerda), Jair Bol-
sonaro (Partido Liberal, direita
radical), Ciro Gomes (Partido
Democrático Trabalhista, cen-
tro-esquerda), Simone Tebet
(Movimento Democrático Bra-
Sidarta Ribeiro Neurocientista sileiro, centro), Soraya Thronic-
ke (União Brasil, conservador
ro na segunda volta (a 30 de
Lula pode ser eleito
à primeira volta.
“Não é bom para
ele nem para o país,
a margem de vitória
em onze estados (568 localida-
des). “A medida só vigora na
primeira volta, mas acalmou
as Forças Armadas, garantin-
do a normalidade democrática
do ato caso Lula seja eleito na
primeira volta”, acrescenta o
perito ouvido pelo Expresso.
A posse de Weber, dia 12,

“O Brasil está em risco liberal), Felipe D’Ávila (Novo, li-

beral) e do padre Kelmon Souza
(Partido Trabalhista Brasileiro,
será mínima” como Presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) e do
Conselho Nacional de Justiça,

de violência política”
Christiana Martins
Neurocientista, fundador do Ins-
tituto do Cérebro da Universi-
dade Federal do Rio Grande do
Norte, onde é responsável pelo
Laboratório Sonho, Sono e Me-
mória, Sidarta Ribeiro passou
mais de uma década nos Esta-
dos Unidos a estudar a fisiologia
do cérebro humano. Conselhei-
ro da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência, conse-
guiu que o seu livro “O Oráculo
da Noite” levasse a história e a
ciência dos sonhos a milhares de
pessoas que nunca antes tinham
tido acesso a um texto científico.
Acredita que a maneira como vi-
vemos está a conduzir-nos ao co-
lapso, mas reconhece que temos
um potencial de transformação
sem precedentes. Sobre o Brasil,
divide-se entre a esperança e a
constatação da enorme dimen-
são dos problemas que o país
enfrenta.
P Traduza-me Brasil.
R Essa pergunta é ótima, so-
bretudo a duas semanas das
eleições brasileiras, que, para
o bem ou para o mal, têm im-
pacto planetário, não só por-
que o Brasil tem a maior parte
da Amazónia no seu território,
como produz alimentos impor-
tantes para o planeta, mas por-
que, acredito, tem o papel de
defender a alegria e a vontade
de viver, mas neste momen-
to isso está em xeque. Existe
um fundamentalismo ligado
ao patriarcado, à violência e
à opressão que está a amea-
çar a democracia e a república
brasileiras. Quero crer que as
eleições vão dar uma demons-
tração clara de que não somos
isso. A maior parte da popula-
ção vive uma miséria material
muito grande, existe um nível
muito alto de analfabetismo.
Como Lévi-Strauss afirmou,
esse país ainda está em cons-
trução e já é ruína. Precisamos
de cuidar disso.
democracia e de uma frente
ampla por valores universais.
P No seu último livro defende
que sonhar é indispensável à
sobrevivência da humanidade.
Os brasileiros perderam o jeito
para sonhar coletivamente?
R O nosso cérebro possui re-
giões que são envolvidas em
sonhar todas as noites, mas a
maioria das pessoas dorme mal
e nem se lembra do que sonha,
o que implica prejuízos cogni-
tivos e emocionais. Estima-se
que dormimos cerca de duas
horas a menos do que há 100
anos, o que gera uma socieda-
de do cansaço. No Brasil, em
particular, temos um problema
ligado à fundação de um país
que produz para fora. O Bra-
sil exporta soja para alimen-
tar porcos na China e cérebros
que acabam por sair do país. A
cultura brasileira, que é extre-
mamente importante para o
planeta, também está em risco.
Existe uma perseguição a tudo
do que é belo, sagrado e poéti-
co, e isso precisa de acabar.
P Se pensarmos no país como
um cérebro, o Brasil entrou em
entropia? É recuperável?
R Dá para recuperar porque,
sendo um país, as pessoas es-
tão nascendo e se renovando
o tempo todo, mas, mesmo
que fosse o cérebro de uma
pessoa, os cérebros são muito
plásticos, modificam-se, e nós
produzimos novos neurónios
em alguns locais durante boa
parte da nossa vida. E todas as
noites produzimos novas cone-
SERÁ
PROVAVELMENTE
DEVIDO ÀS
MULHERES QUE
direita populista). Mas apenas assegura bom funcionamento
quatro decidirão o resultado da outubro). Prova da atenção da Justiça e separação de po-
primeira volta, a 2 de outubro. regional que as eleições des- deres, pilar essencial da demo-
As últimas sondagens atribuem pertam numa América Lati- cracia. A justiça brasileira foi
47% por cento das intenções de na que virou à esquerda na “beliscada pelo protagonismo
voto a Lula, 31% a Bolsonaro, Colômbia e no Peru é a carta político excessivo de alguns
7% a Gomes e 5% a Tebet. aberta a Gomes, subscrita por magistrados”, mormente Sér-
A vitória do ex-Presidente um Nobel da Paz (o argentino gio Moro, ex-ministro da Jus-
pode acontecer à primeira vol- Adolfo Pérez Esquivel) e vá- tiça de Bolsonaro e frustrado
xões entre neurónios. Se não ta, mas “não é bom para ele nem rios políticos sul-americanos. pré-candidato presidencial.
fosse assim, as pessoas idosas para o país que assim seja”, afir- O texto, divulgado terça-fei- Weber tem 75 anos, é respei-
não poderiam aprender nada ma ao Expresso fonte política de ra, apela à desistência a favor tada pelos pares e a terceira
de novo. O Brasil está a passar Brasília. “A margem de vitória de Lula, porque a disputa no mulher a presidir ao STF.
por traumas, como a pandemia, será mínima, gerando motivos Brasil é “entre o fascismo e a Manuela Goucha Soares
em que morreram quase 700 para um foco de permanente democracia”. mgoucha@expresso.impresa.pt
mil pessoas, e o povo precisa de
escola, música, teatro, ciência,
laboratórios bem equipados,
não precisa de revólveres. O
país tem de decidir se vai entrar
no século XXI com uma agenda
socioambiental contemporânea
ou se vamos voltar para o século
XIX. Porque estão a ser destruí-
dos direitos que existem desde
os anos 50 do século passado.
P A tradição de opressão re-
monta ao Brasil colónia?
R O Brasil nunca fez a repa-
ração necessária aos povos in-
dígenas e africanos que foram
escravizados e oprimidos da
maneira mais vil, o que serviu
ao colonialismo português e,
depois, ao patrimonialismo
brasileiro. O Congresso brasi-
leiro é formado basicamente
por homens brancos, idosos,
ricos e muitos extremamente
comprometidos do ponto de
vista ético. A maior riqueza do
Brasil é o seu povo, mas como
esse povo se vai desenvolver se
continua a ser tratado como
uma subclasse? Temos de ga-
rantir a igualdade. O passado
colonial é muito problemático
e percebo a dificuldade em se
discutir, mas não podemos con-
tinuar a falar desses episódios
como se tivessem sido grandes
aventuras, quando, do ponto de
vista da diáspora africana e da
invasão das terras indígenas,
foi um desastre.
P É um defensor da recupera-
ção da ancestralidade matriar-
cal. Serão as mulheres a decidir
as próximas eleições?
R Acredito que sim, as mu-
lheres sempre tiveram mais
dificuldade em aceitar a vio-
lência bolsonarista. Será pro-
vavelmente devido a elas que
Bolsonaro perderá as próximas

P Estas semanas até às elei-

JAIR BOLSONARO eleições.

ções serão tensas?

R O Brasil está em risco de
violência política. A retórica
do Presidente já deu origem a
assassínios, que não são casos
isolados. Mas quero crer que
o Brasil vem dando sinais de
união em torno da defesa da
PERDERÁ AS P Que país é esse em que o
Presidente garante ser “im-
PRÓXIMAS brochável”?
ELEIÇÕES R É ridículo. O país está can-
sado. Bolsonaro consegue ser
mais ridículo do que Donald
Trump, o que não é pouca coisa.
camartins@expresso.impresa.pt
28 PRIMEIRO CADERNO
TRIBUNA TÉNIS
RECORDE
237
SEMANAS
CONSECUTIVAS COMO
Nº 1 DO RANKING
RECORDE
24
MAIOR SEQUÊNCIA
DE VITÓRIAS EM FINAIS
DE TORNEIOS ATP
AT
P
25
250
Despedida A Laver Cup marca o adeus de Roger Federer,
o homem que elevou o ténis a uma expressão artística
A ÚLTIMA
VALSA
Lídia Paralta Gomes
H
oje, quando cair o
match point do úl-
timo jogo do dia da
Laver Cup, nesse
instante que parece-
rá longo, até inter-
minável e ao mesmo
tempo efémero para
o peso do momento,
Roger Federer passará a ser um ex-
-tenista. E ao seu lado, na vitória ou
na derrota, a primeira mão que vai
encontrar, o primeiro abraço que irá
receber será do seu maior rival, Rafael
Nadal. Assentará bem à carreira do
helvético, que, para lá dos 20 triunfos
em torneios do Grand Slam e da esté-
tica onde o belo sempre deu as mãos
ao triunfo, forjou uma aura de con-
sensualidade pouco comum quando o
assunto é competir. Na Laver Cup, tor-
neio que o suíço de 41 anos idealizou,
uma espécie de Ryder Cup do ténis,
0
RS 1
00
28
STE
MA
RECORDE
1526
MAIOR SÉRIE
DE ENCONTROS
SEM ABANDONAR
(nunca abandonou)
RECORDE
6
ATP WORLD
TOUR FINALS
2003 – Houston
2004 – Houston
2006 – Xangai
2007 – Xangai
2010 – Londres
2011 – Londres
com tenistas europeus de um lado e
do resto do mundo do outro, Federer
vai juntar não só Nadal como Novak
Djokovic e Andy Murray, que com ele
foram dominando o ténis nas últimas
duas décadas.
O adeus de Federer será o adeus que
o seu joelho direito lhe permite ter,
mas ainda assim um adeus poético.
Não será um frente a frente, mas sim
um lado a lado com o homem con-
tra quem viveu alguns dos momentos
mais felizes e dolorosos nos 40 duelos
em que se digladiaram com uma rede
pelo meio. E um inesperado fechar
de ciclo: o primeiro confronto entre
ambos foi precisamente num encontro
de pares em 2004, quando um adoles-
cente Nadal, com apenas 17 anos, em
parelha com Tommy Robredo, sur-
preendeu Federer e Yves Allegro em
Indian Wells. Dias depois, o suíço, já
na altura duas vezes vencedor de ma-
jors, convidaria Nadal para se sentar
na sua box e assistir a um jogo seu. O
espanhol não tardaria a entrar com
103
TÍTULOS
24
AT P
50 0
310
MO
A S CO
SEMAN
Federer na nobre arte do arrasamento
de recordes do ténis.
Passa agora uma semana depois da
mais esperada das inesperadas notí-
cias. Roger Federer, o homem que
nos ensinou a olhar para o ténis como
uma arte, que nos fez venerar aquela
pancada de esquerda, tão natural que
a raqueta parecia uma extensão do seu
corpo, disse basta. Aos 41 anos, o joe-
lho direito, que operou três vezes nos
últimos dois anos, deixou de conseguir
acompanhar o seu talento mozartiano.
Em julho, quando foi um dos cam-
peões homenageados no court central
de Wimbledon, Federer ainda respi-
rou fundo a esperança de ali voltar a
competir em 2023, naquela relva onde
venceu oito vezes, um recorde. Nas se-
manas seguintes, os contratempos na
recuperação confirmaram um adeus
que diz ser “agridoce”, adjetivo que
usou na carta de despedida e também
nos últimos dias para explicar o que lhe
vai passando pela cabeça e pelos nós
que se foram formando na garganta
Nº 1
nas últimas se-
manas. A paixão
assolapada que
ainda sente pelo ténis
não lhe permite sair em paz,
mas Federer, quarentão que é, sabe
ao mesmo tempo que, ao contrário do
seu legado, o seu corpo não é eterno.
“Adorei cada momento da minha car-
reira. Toda a gente tem de abandonar
eventualmente, e esta foi uma grande,
grande viagem”, disse já em Londres,
cidade onde se apresentou ao mundo
quando derrotou Pete Sampras em
Wimbledon, em 2001. Dois anos de-
pois levantou pela primeira vez a taça
de campeão do torneio e em 2008
disputou ali aqueles que muitos dizem
ser o melhor jogo da história do ténis,
uma final com Nadal com quase cinco
horas de encontro e que terminou já
com a noite a cair na capital britânica.
A vitória acabaria por ir para o espa-
nhol, que mais tarde o iria ultrapassar
no topo da lista de maiores vencedores
de torneios do Grand Slam.
Expresso, 23 de setembro de 2022
12
VITÓ
Federer
sairá assim de
cena com muitos dos seus
recordes já abocanhados por Na-
dal e Djokovic, mas ele diz que não
precisa deles “para ser feliz”. Mesmo
que muitos o vejam como o maior ar-
tesão que alguma vez pisou um court
de ténis, o suíço não chama a si esse
prodigioso título. Prefere olhar para
a consistência que construiu ao longo
dos anos como a maior herança que
deixa, depois de um início de cami-
nhada em que aprendeu a controlar
o carácter explosivo. Foi nº 1 mundial
de fevereiro de 2004 a agosto de 2008,
237 semanas ininterruptas que são um
recorde difícil de bater — em compa-
ração, nesse período, a nº 1 mundial
feminina mudou 14 vezes.
 Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 29

INTOLERÂNCIA NO DESPORTO

A VIOLÊNCIA
OPEN DA AUSTRÁLIA

2004 2006

E A PERCEÇÃO
RECORDE
2007 2010
DE VIOLÊNCIA

65
Quase 250 pessoas
proibidas de aceder a
recintos desportivos. “Há
2017 2018 uma menor tolerância à
violência”, diz antropólogo
RECORDE Para Javier Marías, escritor es-
admite o aumento de casos de
violência e intolerância pós-
-covid noutros países, mas não
considera que a violência esteja
a aumentar no desporto em Por-
tugal. Existe antes “um aumento
cíclico de perceção de violência”,

36
panhol que morreu há quase que decorre normalmente nos
MAIOR SEQUÊNCIA duas semanas, o futebol era a inícios e finais de temporada.
DE VITÓRIAS recuperação semanal da infân- “Talvez pela expectativa do co-
EM RELVA cia. Mas nem tudo é inocente meço, está toda a gente na transi-
anos

320
ROLAND GARROS no jogo que junta uma bola, 22
pessoas e mais umas quantas a
observá-los — o próprio nome do
2009 seu livro sobre futebol denuncia
dias isso, “Selvagens e Sentimentais”.
Esta modalidade vai somando
MAIS VELHO Nº 1
casos de intolerância e violên-
MUNDIAL
cia, os últimos falam de pedras
DA HISTÓRIA
contra o carro de familiares de
ção da silly season para a rentrée
do ano, e depois, numa fase final
dos campeonatos, quando co-
meçam a estar em discussão os
títulos e a competitividade está
ao rubro, quando a pressão e os
discursos dos próprios agentes
desportivos são um bocadinho
mais acintosos, o que também

51
um treinador, de um rapaz em se traduz na influência sobre os
WIMBLEDON
ÓRIAS ncontros joga tronco nu por não poder estar adeptos, e isso depois reflete-se
ee do fardado com a camisola do clube nas atitudes e no próprio media-
ed
que admira e ainda de lágrimas tismo dado às situações.”
d

20
s:
or

42

de uma menina ao colo do pai. A APCVD vai juntar breve-

(Rec

9)

Para Daniel Seabra, um an- mente a Liga de Clubes e as fe-

GRAND SLAM
Único tenista a jogar
todas as finais do Grand
Slam em três temporadas
(2006, 2007 e 2009)
PRIZE MONEY (US DÓLARES)
130.594.339,00
2003 2004 tropólogo e professor na Uni-
versidade Fernando Pessoa que
estuda o fenómeno desde 1992,
não há nada de novo. “Em bom
rigor, com dados quantitativos
fiáveis, ninguém pode afirmar
que a violência está a aumentar
ou a diminuir”, explica ao Ex-
presso. “O que há é uma menor
2005 2006 tolerância à violência. Ou seja,
a reprovação social parece-me
maior, o que é um traço muito
relevante de um processo civili-
zacional em que as sociedades
derações para debater o fenó-
meno da violência e a segurança
nos eventos desportivos. Mas a
mudança parte também dos pro-
tagonistas, defende Cavaleiro: “É
necessária uma ação responsável
da atuação dos agentes desporti-
vos e dirigentes, é absolutamente
essencial pelo exemplo, pela ca-
pacidade de liderança e influên-
cia que têm sobre as massas.”
“Ninguém pode

275
DER
RO
TA S
VITÓRIAS EM TORNEIOS
POR SUPERFÍCIE
Terra batida – 11
Relva – 19
Piso rápido – 71
Carpete – 2
Ases – 11.478
Duplas faltas – 2759
Pontos ganhos no 1º serviço – 77%
Pontos ganhos no 2º serviço – 57%
Pontos de break enfrentados – 6459
Pontos de break salvos – 67%
US OPEN
JOGADORES
COM MAIS TÍTULOS
Jimmy Connors (1972-1989) – 109
ROGER FEDERER (2001-2019) – 103
Ivan Lendl (1980-1993) – 94
Rafael Nadal (desde 2004) – 92
Novak Djokovic (desde 2006) – 88
Despede-se também como o mais
velho nº 1 mundial da história, com 36
anos e 320 dias. E com outro número
impressionante: em 1526 encontros
oficiais, nunca abandonou. Nem mes-
mo no último encontro de singulares
da carreira, que sabemos agora que foi
nos quartos de final de Wimbledon em
2019. Na relva onde o seu ténis prodi-
gioso chegava ao máximo esplendor,
capitulou frente a Hubert Hurkacz
com um 6-0 no derradeiro parcial,
aguentando até ao fim dores no joelho
procuram ser menos violentas.
Mas há também, sobretudo, uma
maior mediatização. A violência
está muito mais exposta, os jogos
2007 2009 de futebol são mais televisiona-
dos, além disso há mais órgãos
de comunicação social e hoje
qualquer pessoa pode pôr uma
cena de violência nas redes so-
ciais. Se pensarmos que há mais
violência, podemos estar a tirar
uma conclusão precipitada.”
Hoje estão impedidas de ace-
2012 2017 der a recintos desportivos cer-
ca de 250 pessoas, revelou, em
agosto, a PSP. Folheando o “Re-
latório de Análise da Violência
Associada ao Desporto”, ela-
borado pelo Ponto Nacional de
Informações sobre Desporto e
pela Autoridade para a Preven-
ção e o Combate à Violência no
Desporto (APCVD), é possível
determinar que o surgimento da
segunda entidade, em 2018, fez
2004 2005 disparar os casos de interdição
em 1010% (222 na temporada
de 2019/2020). A maioria dos
casos, por esta ordem de relevân-
cia, prende-se com episódios de
posse/uso de artefactos pirotéc-
nicos, incitamento à violência,
racismo, xenofobia e intolerân-
cia ou arremesso de objetos.
2006 2007 O presidente da APCVD, Ro-
drigo Cavaleiro, nomeado pelo
Governo em novembro de 2018,
2008
afirmar que a
violência está
a aumentar. A
reprovação social
parece-me maior”
Isto é, um discurso tóxico ajuda
a inflamar o caldeirão tantas ve-
zes desculpado e tolerado pela
alegada paixão das gentes.
O Governo está a ultimar um
pacote de medidas de combate
à violência no desporto. Daniel
Seabra, pouco impressionado
com “discursos gongóricos e
pomposos que adotam fraseo-
logia irrealista e idealista”,
defende que não é necessário
agravar a moldura penal vigen-
te. “O quadro legal português é
muito claro e contempla ações
de prevenção e atribui a respon-
sabilidade das mesmas aos clu-
bes. A lei e os diplomas legais
contemplaram sempre a neces-
sidade da promoção da ética, a
necessidade também da criação
da embaixada de adeptos e da
importância de fomentar e criar
ações pedagógicas tendentes a
diminuir a violência. Isto está
previsto na lei, só que entendo
que não tem sido cumprido.”
Hugo Tavares da Silva
htsilva@expresso.impresa.pt
FOTO ALEX LIVESEY/GETTY IMAGES

que já eram incapacitantes.

Esta noite, rodeado dos maiores ri-
vais, Federer não quer que o adeus
“seja um funeral”. Será mais uma úl-
tima valsa. E, como apaixonado pelo
ténis que é, avisa que não vai ser “um
fantasma” e que o ténis pode contar JOGOS OLÍMPICOS
com ele. “Depois de deixar o ténis, o
Bjorn Borg não voltou a Wimbledon
durante 25 anos. De certa maneira, Pequim 2008 Londres 2012
isso magoa um fã de ténis. É aceitável, Pares Singulares
mas eu não vou ser assim.” Ainda bem. Há cerca de 250 pessoas em Portugal que estão impedidas
lpgomes@expresso.impresa.pt de entrar em recintos desportivos
30 PRIMEIRO CADERNO
PROJETOS EXPRESSO SUSTENTABILIDADE
Guia Já aqui lhe explicámos que descarbonizar não é uma moda, é uma emergência social, mais ainda com a guerra na Ucrânia
e a subida do preço do gás. Se ainda não começou a substituir os combustíveis fósseis por energias verdes, agora é a altura
Como aderir e poupar
com as energias renováveis
Parques solares fotovoltaicos
Centrais de biomassa
Textos Ana Baptista
Infografia Carlos Monteiro
Em Portugal, 34% do consumo de
energia final já é verde, o que nos co-
loca no lote dos países mais avança-
dos em termos de incorporação de
renováveis. Mas ainda não chega, e
as empresas têm um papel crucial
nesse processo. E com as opções que
existem hoje “não há razão para não o
fazer”, diz Nuno Brito Jorge, fundador
da GoParity.
Porque devo investir
em renováveis?
Além de contribuir para a descarboni-
zação, quando instala uma tecnologia
renovável reduz a sua fatura, porque
passa a consumir a energia que pro-
duz em vez de a comprar à rede. Além
disso, se produzir a mais, ainda pode
vender o excedente à rede.
Qual o primeiro passo?
Conhecer o perfil de consumo, ou
seja, quanto gasta, a que horas e que
tipo de energia. Para isso basta pedir
um ciclo anual de faturas ao comer-
cializador ou um diagrama de cargas
à E-Redes. Ambos são gratuitos. De-
pois deve perceber o que é melhor
para a sua atividade. “Se gasta muito
de dia e pouco à noite, a melhor opção
é o solar. Mas se for uma fábrica que
funciona 24 horas, já terá de juntar
um sistema de armazenamento”, ex-
plica Nuno Brito Jorge. Pode também
optar por minieólicas, que são uma
boa solução em áreas rurais, ou por
uma central de biomassa, “mas isso já
faz mais sentido para indústrias que
tenham os resíduos”, diz o especialis-
ta em energia João Peças Lopes.
As renováveis terão
de representar 47%
do consumo de energia
Armazenamento de energia
O ACELERADOR DAS
EMPRESAS Seis meses, seis
sessões de formação, seis
eventos em seis cidades,
seis guias, seis temas —
descarbonização, energias
renováveis, turismo,
agricultura e imobiliário
mais sustentáveis e
economia circular. Esta
é a base do Acelerador
de Sustentabilidade, um
projeto para as pequenas
e médias empresas (PME)
organizado pelo Expresso e o
BPI. Estratégias, conselhos e
passos para descarbonizar e
ter um negócio sustentável.
Tenho uma fábrica de cerâmi-
ca/vidro. O que devo fazer?
Como estes fornos precisam de gás
natural para chegar a altas tempera-
turas, a única alternativa, diz Peças
Lopes, é o hidrogénio verde, mas ain-
da não há produção no país. Quando
houver, basta modificar os queimado-
res, porque a compra e entrega do hi-
drogénio é igual à do gás natural, com
a vantagem de que pode ser mais ba-
rato. Por agora, para reduzir os consu-
mos — até porque o preço do gás está
sete vezes mais caro face ao início do
ano — aposte na eficiência energética
em 2030
O que
podem as
empresas
fazer?
ou invista em sistemas de captura ou
de compensação de carbono.
Preciso de licenças para fazer
estes projetos?
O Decreto-Lei nº 15/2022 diz que,
quando uma empresa instala uma
tecnologia renovável, passa a ser pro-
dutora de energia e, por isso, precisa
de uma licença de produção e explo-
ração, que é emitida pela Direção-Ge-
ral de Energia e Geologia no prazo
máximo de um ano. Há, contudo, vá-
rios tipos de licenças, daí que seja útil
consultar o decreto-lei.
Quanto custam estes projetos?
Depende da atividade que exerce, da
tecnologia escolhida e dos megawatts
instalados. Hoje, o solar é o mais bara-
to — até um euro por cada watt instala-
do — e depois as eólicas e a biomassa.
Que modelos de investimento
existem?
Pode contratar uma empresa para fa-
zer a instalação, tira a licença, paga-
-lhe e já está. Mas também pode jun-
tar-se a outras empresas numa
comunidade de energia e dividir o
custo da instalação e da gestão. Pode
também fazer um Acordo de Compra
de Energia (PPA na sigla em inglês),
no qual um produtor de eletricidade
renovável faz o investimento e acorda
ficar a vender-lhe toda a energia pro-
duzida. Pode ainda não instalar nada
e comprar certificados de origem,
que atestam que a eletricidade que
consome é 100% renovável.
Quanto tempo demora a recu-
perar o investimento?
Também depende do tipo de projeto e
se vai ou não vender o excedente à
Parques eólicos
Hidrogénio verde
rede. Hoje, com o custo dos equipa-
mentos a descer e o preço da energia
a subir, o tempo de recuperação do
capital pode ser reduzido em dois
anos.
E há modelos sem investimento
inicial?
Sim e são “uma boa opção para quan-
do o capital não é muito”, diz Peças
Lopes. Liga a um comercializador, ele
assume o investimento e depois fica a
pagar-lhe uma percentagem do que
poupa na conta da luz por ter uma
instalação renovável. E no final do
contrato pode comprar o equipamen-
to mais barato. Outra opção passa
por alugar uma instalação.
Há apoios públicos?
Sim. No Plano de Recuperação e Resi-
liência (PRR) há €908 milhões, dos
quais €185 milhões para hidrogénio e
renováveis, €50 milhões para eficiên-
cia energética e €715 milhões para a
descarbonização da indústria. No In-
novation Fund há €38 mil milhões e
no Portugal 2030 mais €867 milhões,
dos quais €200 milhões são para a
produção de energia a partir de reno-
váveis e €52 milhões para projetos de
autoconsumo e comercialização de
renováveis. Os restantes €615 mi-
lhões são para a descarbonização da
economia.
Como me candidato?
Para o PRR, usa-se o site do IAPMEI,
do Fundo Ambiental e do Balcão
2020. No Innovation Fund usa-se o
Funding and Tender Portal, da Co-
missão Europeia; e o PT2030, que
arranca em 2023, deverá ser como no
PRR.
economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 23 de setembro de 2022
O que é o
Acelerador de
Sustentabilidade?
O Acelerador de Sustentabilidade
é um projeto dirigido,
maioritariamente, a Pequenas
e Médias Empresas (PME) — que
são a maioria do tecido
empresarial português — e
consiste na realização de sessões
de formação onde se
apresentarão os passos para
ser mais sustentável em seis
temas: descarbonização; energias
renováveis; turismo, agricultura
e imobiliário mais sustentáveis;
e economia circular. No total,
serão seis sessões ao longo
de seis meses e em seis cidades
do país, que serão orientadas por
representantes do BPI, da Nova
Business School, da consultora
de gestão EY, e da consultora
de inovação Beta-i. Em
simultâneo, serão publicados
na edição impressa do Expresso,
também ao ritmo de um por
mês, seis guias sobre como
as empresas podem acelerar
a sustentabilidade. O primeiro,
sobre descarbonização, saiu
em julho, e este é já o segundo,
sobre renováveis. O terceiro
guia, sobre turismo sustentável,
será publicado a 21 de
outubro; o quarto e o quinto,
respetivamente sobre agricultura
sustentável e economia circular,
saem a 4 e 25 de novembro.
O último ainda não tem data.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Desastres Naturais
Por António Araújo
1940-2022 Ator indiano, atuou em mais de 190 filmes produzidos naquele país. Entrou para a
política na década de 90 e foi ministro em diversas pastas, da Defesa aos Negócios Estrangeiros
Krishnam Raju
C
ada qual com os seus
mortos: enquanto por
cá choramos Godard, na
Índia lamenta-se outro
astro, para eles maior do que
o nosso, mas, estranhamen-
te, nem sequer abordado nos
obituários de Ocidente. Cha-
maram-lhe “estrela rebelde”,
tal a impetuosidade do estilo
que levou à tela, e, além de ter
entrado em 183 películas do ci-
nema de Tollywood, escrito e
falado em telugo (ou télugo),
língua dravídica dos estados
de Andra Pradexe e Telanga-
na, aventurou-se noutra arte
cénica — a política parlamentar
— e como deputado teve inter-
venção activa na monumental
controvérsia, a um tempo jurí-
dica e animalesca, sobre a Lei
de Proibição da Matança das
Vacas. Tudo isto motivou e mo-
tiva a atenção de milhões de
humanos, viventes a Oriente, e
o facto de entre nós não ser no-
ticiado ou falado só comprova,
como sempre, que é bem vasto
este mundo, e grande a nossa
ignorância dele.
Uppalapati Venkata Krish-
nam Raju, que era filho de
Uppalapati Veera Venkata
Satyanarayana Raju, nasceu
em 20 de Janeiro de 1940 em
Mogalthur, no distrito de Goda-
vari Ocidental, berço de nomes
grandes do cinema telugo (e, já
agora, do milionário Ramalin-
ga Raju, que fundou a Satyam
Computers e a desfalcou em
1,5 mil milhões de dólares). Es-
treou-se no cinema em 1966,
com a película “Chilaka Go-
rinka”, onde contracenou com
Rama Prabha, rainha da comé-
dia que já leva 1400 filmes no
currículo and counting. No ano
seguinte, participou em “Sri
Krishnavataram”, narrativa da
vida de Krishna no género “fil-
me mitológico”, a versão hindu
dos nossos pastelões bíblicos,
mas o turning point na carreira
surgiu em “Nenante Nene”, em
que inaugurou o estilo “vilão
bonitão” que o tornaria célebre
(o enredo envolve a busca do
filho de um rajá que tinha fugi-
do para Rangum em reacção às
atitudes feudais do pai, a iden-
tificação de um suspeito atrás
de uma cortina e um agente
encoberto no encalço de um
chefe criminal sinistro).
OBITUÁRIO
Earl J. Silbert
1936-2022 jurista americano,
era assistente do procurador-
-geral do Estado de Columbia,
nos Estados Unidos, quando
cinco homens foram detidos
pela polícia depois de
invadirem e porem escutas na
sede do Partido Democrata
no complexo Watergate.
Segundo o “Washington Post”,
Earl “the Pearl”, como era
conhecido por causa das boas
maneiras, foi acordado com
um telefonema a relatar o
sucedido no dia 17 de junho de
1972 e levou o caso até ao fim,
conseguindo a condenação em
tribunal dos cinco suspeitos.
Um deles, James McCord
Estreou-se no
cinema em 1966,
com a película
“Chilaka Gorinka”,
onde contracenou
com Rama Prabha,
rainha da comédia
Depois disso, quase duas cen-
tenas de fitas, cada qual melhor
do que a outra, e muitos galar-
dões de excelência, entre os
quais três prémios Nandi, os
Óscares do cinema telugo, dois
deles na categoria de melhor
actor: um, pelo desempenho
em “Amara Deepam”, obra de
1977 na qual fez o papel de um
jovem problemático que bate
no irmão, rasga a fotografia
da família e foge de casa, sen-
do criado e adoptado por um
contrabandista que o converte
num abusador de mulheres e
que acaba por se suicidar no
meio de um dramalhão amoro-
so; outro, pela performance em
“Bobbili Brahmanna”, de 1984,
um tremendo sucesso de bi-
lheteira que mete um chefe de
aldeia que administra a justiça
Jr, era um ex-agente da CIA
e chefe de segurança da
campanha de reeleição do
então Presidente, Richard
Nixon. “Já sabia que o caso era
quente, a questão era saber
quão quente seria”, contou
em junho deste ano numa
entrevista que pode ser vista
no YouTube. O procurador
não se terá apercebido
imediatamente da dimensão
do caso nem do envolvimento
de dois membros da Casa
Branca, G. Gordon Liddy e E.
Edward Hunt, próximos de
Nixon. “Achei que o assalto era
demasiado tosco e tolo para
ter sido aprovado por alguém
com poder real”, contou em
1975. Nos dois anos seguintes
à detenção dos cinco invasores
e dos dois conspiradores, uma
investigação de uma equipa de
procuradores especiais e da
imprensa americana provou o
envolvimento de Nixon, que se
tornou o primeiro Presidente
americano a resignar ao cargo.
Dia 6, do coração.
FOTO D.R.
debaixo de uma árvore, a viola-
ção de uma rapariga num cemi-
tério, a realização de um aborto
de risco, um vilão que empurra
uma mulher enquanto esta an-
dava num baloiço, fazendo-a
cair em cima de um homem
que fica cego, e um casamento
secreto com repercussões polí-
ticas, além de um suicídio com
a espada da lei.
Em 1992, tentou entrar na
política, sem sucesso, recan-
didatando-se seis anos depois.
Então obteve votação esmaga-
dora, ainda hoje recordista, que
o fez entrar para o Congresso
e envolver-se numa questão
bovina, mas muito acesa: em
2000, foi o primeiro subscritor
de uma moção apresentada à
Lok Sabha (casa do povo), a
câmara baixa do Parlamento
indiano, visando a aprovação
de uma lei que proibia o aba-
te do gado, tópico fracturan-
te e escaldante entre hindus,
sikhs, jainistas e budistas, de
um lado, e muçulmanos, dá-
lites, cristãos e judeus, do ou-
tro. Talvez isso explique que a
Índia seja o maior exportador
de carne de vaca do mundo e,
em simultâneo, um dos países
com menos consumo de bifes
Kalani David
1997-2022 surfista e skater
profissional havaiano, foi
campeão do mundo júnior da
modalidade aquática em 2012 e
era considerado uma promessa
segura nestes dois desportos.
Em 2016, foi-lhe diagnosticado
síndroma de Wolff-Parkinson-
-White, uma doença cardíaca
que deixa os batimentos do
coração mais acelerados do que
o normal e provoca convulsões.
Contra o conselho médico,
continuou a surfar e praticar
skate até ao dia 17, quando uma
convulsão o levou a desmaiar e
a afogar-se quando apanhava
umas ondas numa praia da
Costa Rica.
per capita, havendo quem diga
que a proibição do abate se ex-
plica não por razões religiosas,
mas económicas, pelo leite e
pelo estrume que fornecem,
essencial como combustível
nas cozinhas e fertilizante nos
campos. Em 20 dos 28 estados
da União existem leis que proí-
bem ou restringem a morte das
vacas, matéria que, inclusive, é
abordada na Constituição do
país e, desde a independência,
tem estado no centro da vida
política indiana, tendo mere-
cido várias decisões marcantes
do Supremo Tribunal, pois o
que está em causa detrás deste
debate vacum é, na verdade,
uma questão mais vasta, a dos
limites do federalismo, ou seja,
saber onde começa e acaba o
poder do Estado central e quais
as competências dos estados
federados.
Não por acaso, quando Krish-
nam Raju apresentou o seu
projecto de lei logo se levanta-
ram vozes dizendo que o Par-
lamento não poderia regular a
matéria, mas levada a questão
a votos triunfou o actor-polí-
tico, que então averbou mais
um sucesso numa carreira em
que, além de vilão romântico
e de tribuno pró-vaca, foi mi-
nistro de Estado para toda a
obra, sobraçando as pastas dos
Negócios Estrangeiros (2001),
da Defesa (2002), dos Consu-
midores (2003) e, desde 2003,
do Desenvolvimento Rural.
No passado dia 5 de Agos-
to, deu entrada por covid nos
hospitais do Instituto Asiáti-
co de Gastroenterologia, em
Haiderabade, onde acabou por
falecer a 11 de Setembro passa-
do, aos 83 anos, de pneumonia
bacteriana e fúngica, seguida
de ataque cardíaco. Além de
viúva e três filhas, deixa resmas
de filmografia, boa memória
de filantropo e milhares ou mi-
lhões de fãs.
ESTA COLUNA TEM
UMA VERSÃO
PODCAST EM
EXPRESSO.PT
António Araújo
escreve de acordo
com a antiga ortografia
> Jack Charles (1943-2022), ator
australiano, foi um ativista abo-
rígene e uma das vítimas da po-
lítica de assimilação do Governo
australiano, o que levou a que
fosse retirado à mãe quando ain-
da era criança para ser educado
entre brancos. Destacou-se no te-
atro em peças como “Dimboola”,
entrou em séries televisivas e fil-
mes como “O Cântico de Jimmie
Blacksmith” ou “Pan: Viagem à
Terra do Nunca”. Ficará para a
história como um dos fundadores
da primeira companhia teatral
aborígene, a Nindethana Thea-
tre, que durou três anos. O vício
na heroína levou-o à prisão 22 ve-
zes. Curou-se aos 60 anos. Dia 13,
de causas não reveladas. > Maria
Luísa de Jesus Cruz (1933-2022),
voleibolista portuguesa, fez par-
te da mítica equipa do Benfica
que conquistou nove campeona-
tos seguidos entre 1966 e 1975.
Tal como ela, sete jogadoras da
equipa chamavam-se Maria e a
equipa ficou conhecida como a
equipa das Marias. Dia 20, de
causas não reveladas.
Cartas da semana
Os originais das cartas não
devem ter mais de 150 palavras,
reservando-se a Redação o direito
de as condensar. Os autores devem
identificar-se indicando o nº do B.I.,
a morada e o nº do telefone. Não
devolvemos documentos que nos
sejam remetidos. As cartas também
podem ser publicadas na edição online.
Para contacto:
Cartas@expresso.impresa.pt
Passo a passo
Sinto que, passo a passo, al-
gumas forças se vêm empe-
nhando na destruição dos va-
lores mais básicos da vida em
sociedade. Valores universais
em qualquer regime político,
mas que essas forças sentem
ser possível destruir nas so-
ciedades democráticas, com a
cumplicidade de indivíduos e
organizações convencidos que
são uma vanguarda que levará
o Ocidente às delícias da liber-
dade absoluta. No entanto, vão
condicionando a liberdade dos
outros, como acontece com a
questão da linguagem onde
decidem o que se pode ou não
dizer, o que é ofensivo, até o
que deve ser punido.
No caso dos pais de Fama-
licão que, sendo uma família
exemplar, com filhos bem-
-sucedidos, não aceitam uma
disciplina que interfere na es-
fera privada da família. Com
este tema tem uma exposição,
muito a propósito, no Museu
do Aljube: “Adeus, Pátria e
Família”. Não sei nada sobre
os organizadores, mas se dis-
pensam a pátria (ou país) e a
família, vivem como? Com que
princípios, com que apoios?
É possível que em Portugal
não chegue a haver um núme-
ro significativo de pessoas a
sentirem os efeitos destas teo-
rias, porque, entretanto, nos
países de onde emanam estas
ideias já lhes puseram fim. Mas
se assim não for há um partido
que vai crescer, talvez até onde
ninguém espera.
José Santos, Odivelas
O brilho
da monarquia
Sendo profundamente repu-
blicana, a longa e pujante vida
da monarquia inglesa sempre
me surpreendeu. Atravessou
escândalos, controversas,
dramas íntimos como as mais
comuns das famílias, mas não
perdeu o brilho. Pelo contrá-
rio, após uns salpicos menos
recomendáveis, mais polu-
idores, poliram de novo os
doirados e resplandeceram.
Em grande parte, devido à
constância firme da rainha, à
sua aparência colorida, per-
feita e surpreendente, ele-
gante e bon enfant. No seu
funeral, preparado e ensaiado
meticulosamente, a adesão
do país inteiro, pronto para
sofrer horas ao frio e de pé
para ficar poucos segundos
perante o seu caixão, revelou
o seu amor à monarca.
O povo precisa de circo, pre-
cisa de sonhar e o funeral foi
o final magnífico de um conto
de fadas. Foi um espetáculo
brilhante, vibrante de cores
garridas, de personagens ves-
tidos com fardas extraordina-
riamente bonitas, de outros
tempos, que marchavam em
cadências perfeitas, regrados
por compassos precisos. Tudo
estava perfeito neste espe-
táculo grandioso da realeza
para o mundo inteiro como
só os ingleses conseguem
realizar. Bravo! A seguir, ha-
verá a coroação de Charles
III, também um espetáculo
para consolidar o seu papel.
Os monarcas europeus que
se querem tão próximos do
povo, tão iguais, que andam
PRIMEIRO CADERNO 31
de bicicleta na rua, nunca te-
rão a veneração do seu povo.
Não brilham.
Elisabeth P. de Oliveira, Faro
Fernando Araújo
no SNS: coragem
precisa-se!
Anunciado como futuro CEO
do SNS, venho lembrar a Fer-
nando Araújo e a todos uma
das razões por que o sistema
público de saúde, diria até
muito do país, funciona mal:
o clientelismo partidário. Nos
serviços perdem-se inúme-
ros dias de trabalho porque
aparelhos não funcionam,
certos sistemas são lentos ou
desadequados, ou porque a
manutenção e reparação dos
mesmos é insuficiente, não
respeitando as adjudicações
dos concursos.
Os maiores fornecedores
do SNS vão investindo em
consultores/deputados dos
partidos que governam e em
ter ex-governantes nos seus
órgãos sociais, estratégia que
parece funcionar e dificulta
que PME inovadoras contri-
buam para melhores hospi-
tais e para um Portugal mais
competitivo. Lamento afir-
mar que o atual presidente do
Conselho de Administração
do CHUSJ não tem conse-
guido combater o tráfico de
influências destas empresas
no Hospital São João, tarefa
naturalmente difícil.
A tomar posse, deseja-se que
Fernando Araújo tenha o en-
genho e a coragem de enfren-
tar os “lóbis partidários” no
SNS de modo a se contratar os
sistemas que melhor sirvam os
seus profissionais e os utentes.
Francisco C. dos Reis, Fátima
No fio da navalha
O cálculo do impacto do au-
mento das pensões para 2023
deixou todos de boca aberta. A
promessa de indexar o aumen-
to das pensões à inflação espo-
letou um cenário que poucos
admitiam. Afinal, a propalada
boa saúde da sustentabilidade
da Segurança Social foi conver-
sa para boi dormir.
O que esconde António Cos-
ta? Será por isso que Marcelo
Rebelo de Sousa quer que o
Governo antecipe o cataclismo
que se avizinha? Se o impacto
da guerra Ucrânia/Rússia ain-
da vai no adro com a susten-
tabilidade das pensões no fio
da navalha, vislumbra-se um
cenário de convulsão social na
pátria lusa.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
Carne
para canhão
Vladimir Putin continua num
estado de demência que gra-
dualmente lhe afeta o juízo.
Desta vez mobilizou reservis-
tas para o conflito na Ucrânia,
arrastando inexperientes ci-
dadãos russos a ser carne para
canhão. Aquilo que seria uma
“operação militar especial”
rápida transformou-se numa
guerra prolongada, compro-
vando o desespero e as falhas
na estratégia.
O único meio de parar esta
loucura será com uma forte rea-
ção pública da sociedade russa,
revoltando-se contra esta alie-
nação mental, contra as baixas
que sofreram (cerca de 6 mil
soldados) e quando os cidadãos
das grandes cidades e dos cen-
tros urbanos forem chamados a
lutar sem o desejar.
Emanuel Caetano, Ermesinde
32 PRIMEIRO CADERNO
António Costa
Silva joga pelo
seguro: fala em
subida de
impostos, é
desmentido e opta
por prometer
descida
O ministro da Economia decidiu jo-
gar pelo seguro e, depois de anunciar
mais impostos com as windfall ta-
xes, onde acabou desmentido, deci-
diu falar numa descida de IRC. Assim
não há forma de errar. “Quando
jogo no Totobola, faço sempre tri-
plas porque, como disse o famoso
matemático Yegor Rumenikov no
seu famoso teorema de topologia es-
tatística, se apostar nas alternativas
todas tenho 100% de probabilidade
de acertar”, explicou Costa Silva ao
enviado de O INIMIGO PÚBLICO à
feira do calçado de Milão. A.P.
* o jornalista viajou a convite das milhas da TAP
e adquiriu uns estilosos stiletto vermelhos com
as ajudas de custo do jornal
Orçamento do
Estado português
vai pagar nova
temporada de
“The Crown”
Depois dos estrambólicos três dias
de luto nacional, e da cobertura 24/7
do funeral da Rainha de Inglaterra e
dos Algarves, Portugal deu um novo
passo para reafirmar a velha aliança
e atenuar a má impressão deixada
nos britânicos por termos mandado
Vale e Azevedo para Londres. Para
mostrar que também não levámos a
mal o ultimato de 1890, o Brexit e a
passagem de Souness pelo Benfica, o
Orçamento do Estado de 2023 irá ca-
bimentar umas valentes dezenas de
milhões de euros para pagar os novos
episódios da série “The Crown”, a
conta do gás do Castelo de Balmoral
e o casting para descobrir a Mariana
Vieira da Silva inglesa. M.B.
Putin quer
referendo nas
autarquias do PCP
para decidir
integração no
território russo
O presidente russo
quer promover refe-
rendos em todas as
autarquias portu-
gueses
Cristiano
Ronaldo
O início das aulas correu bem?
Talvez sim
Maravilha. A Gio estava ocupada
a gravar a série dela, em cima de
uma azinheira no Santuário de
Fátima, e pedi ao meu agente
para colocar os putos em escolas
Champions League, com Misters
tipo o Mário Centeno a ensinar
matemática ou a Simone Biles a
dar educação física. O Jorge
percebeu mal, agarrou e pôs um
puto em Paris, outro em Londres,
outro em Lisboa, outro em
Munique, conforme os sítios
onde ele pensava que eu ia
acabar a trabalhar. Fartei-me de
gastar dinheiro em canetas de
feltro e cadernos da “Patrulha
Pata”, mas a educação é
importante porque estamos a
formar os jorges mendes de
amanhã.
Se não aconteceu, podia ter acontecido
Nº 38 SÉRIE II DIRETOR: LUÍS PEDRO NUNES governadas pelo PCP para decidir
se devem ser integradas na Rússia.
O objetivo é alargar a esfera de in-
fluência e, ao mesmo tempo, “dar
voz e liberdade a todos os russófi-
BRITÂNICOS QUE PASSARAM 14 HORAS los que têm vivido oprimidos nes-
tas regiões”, explicou Vladimir Pu-
EM FILAS NAS EXÉQUIAS DE ISABEL II PASSARAM tin ao correspondente de O
A RESPEITAR OS PORTUGUESES QUE TENTAM INIMIGO PÚBLICO em Moscovo. O
anúncio motivou uma chuva de crí-
RENOVAR O CARTÃO DO CIDADÃO ticas por cá, embora tenha o acor-
do dos comunistas. O PCP já garan-
Quase 250 mil britânicos esperaram 14 horas para se despedirem da rainha tiu, aliás, que não se trata de um
Isabel II, tendo passado por isso a ganhar um imenso respeito por todos os referendo: é uma consulta popular
portugueses que esperam à chuva cerca de 14 dias para se despedirem da
antiga morada no Cartão do Cidadão, bem como dos adeptos dos clubes
especial. A.P.
portugueses que aguentam as horas que forem necessárias no exterior dos
seus estádios para fazerem esperas aos adeptos dos clubes rivais. De referir PCP garante
que Cristiano Ronaldo aproveitou a presença do rei Abdullah II e da rainha
Rania nas exéquias e pediu-lhes boleia para a Jordânia, rumando depois de que trabalho
autocarro a Istambul, onde tentou convencer os dirigentes do Basaksehir a
contratarem-no para substituir o Pizzi. V.E. coletivo
de 20 mil biliões
de formigas
NOVO CEO DO SNS na Terra
confirma virtudes
VAI TER DIREITO do marxismo
A AMBULÂNCIA
O PCP tem acompanhado de perto
o trabalho árduo de 20 mil biliões
OFICIAL DO INEM
de formigas que existem no plane-
ta para avaliar as verdadeiras virtu-
des do marxismo. Tem já delega-
ções em vários formigueiros e até
O SNS vai passar a ter um CEO e, como tal, terá direito a um automóvel convidou duas representantes das
oficial, nomeadamente uma ambulância dos bombeiros do Sabugal formigas para a próxima reunião
onde já nasceram mais bebés nos últimos anos do que na Maternidade do Comité Central. Na sede da
Alfredo da Costa e em metade da Índia. O CEO do SNS vai ainda Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa,
receber, no final do ano, como bónus, o valor de todas as só não são aceites formigas-faraó,
taxas moderadoras cobradas nos hospitais públicos e a porque o partido é contra todos os
conceituada revista “The Economist” calculou esta regimes monárquicos, e marabun-
semana que metade de todas as sandes triangulares tas, porque tendem a comer tudo e
de pasta de atum das “vending machines” dos
hospitais estão nas mãos do 1% dos CEO de
serviços nacionais de saúde. V.E.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Professor
Fofura
Talvez nunca
Nem pensar. Liguei ao Mário
Nogueira a confirmar que não há
condições para nós, os
professores, curarmos os males
de amor, dificuldades financeiras,
doenças terminais, impotência,
amarrações, autogolos, vícios de
álcool, droga ou camarão de
Espinho, despensas
assombradas, dívida pública, mal
de inveja, as causas de José
Miguel Júdice, catarro, falta de
estacionamento, tatuagens em
caracteres coreanos e
raspadinhas sem prémio. Os
docentes de astrologia, liderados
pelo grande mestre Professor
Marcelo, vão hoje à Fenprof fazer
um feitiço de mau-olhado ao
ministro. Pagamento só depois
do resultado. M.B.
a recusar a coletivização da pro-
priedade. A.P.
Apenas
13% dos
professores
portugueses têm
doutoramento
ou mestrado
e nenhuma
cozinheira
das cantinas
tem estrelas
Michelin
Os dados do fascinante “Perfil do
Docente”, publicado pela Direção-
-Geral de Estatísticas da Educação
e Ciência, revelou que apenas 13%
dos professores do ensino obriga-
tório têm formação superior, ten-
do os restantes 87% sido forçados
pelos pais humildes a abandonar
os estudos para se fazerem à vida
como professores nas mesmas es-
colas que foram forçados a aban-
donar. O documento revela ainda
que nenhuma cozinheira das can-
tinas das escolas portuguesas con-
quistou qualquer estrela Michelin
e nem sequer sabe dizer se o empa-
dão que cozinham tem o sabor
umami. De referir que o “Perfil do
Docente” conta com prefácio de
Lula da Silva e ilustrações de Arlin-
do Fagundes. V.E.
Falta de
professores
de Geografia
leva alunos
a aparecerem
nas escolas
de outras
terras
Dos quase 2000 professores
em falta no início do ano le-
tivo, uma grande parte é
de Geografia, disciplina
fascinante que, devido à
proliferação de aparelhos
GPS e das reportagens de viagens
do Martim Cabral, deixou de atrair
portugueses para a carreira docen-
te, levando milhares de alunos de
escolas de Castro Daire a aparece-
rem em creches de Castro Marim
porque não aprenderam que a pri-
meira localidade é em “coiso” en-
quanto a segunda é “noutro lado”.
António Costa prometeu que a si-
tuação vai ser solucionada e que o
Ministério da Educação vai contra-
tar o professor Willy Fog, que co-
nhece todo o mundo de comboio,
barco e balão. V.E.
Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 33
CONTEÚDO PATROCINADO

Repórter da Sport OPINIÃO

213 927 600 que está a passar
em rodapé no ecrã – repito,
TV criticado por 213 927 600 – e os primeiros 50
pensionistas que forem atendidos
perguntar a Taremi Por pela Vera Roquette recebem, não
se gostava muito António Costa apenas meia reforma e um fim
de semana do subsídio de férias
do avô ayatollah já em outubro, mas também
OS PRIMEIROS 50 REFORMADOS
Khomeini QUE LIGAREM PARA O NÚMERO
um magnífico aumento de 25%
por cento – repito, 25% - da

Depois das críticas pela pergunta so-

bre o penalty supostamente simula-
do em Madrid, os repórteres da
Sport TV voltaram à carga e questio-
naram hoje mesmo o iraniano Tare-
mi sobre a ligação afetiva estreita
que mantinha com o seu avô, o aya-
tollah Khomeini, bem como se costu-
ma mergulhar nas grandes áreas ad-
versárias como os opositores do seu
avô caíam no chão após serem fuzi-
lados com um tiro nas costas a man-
do do próprio Taremi, então mem-
bro do Conselho Revolucionário
Islâmico. O repórter terminou a
“flash interview” perguntando a Ta-
remi se usou os pitons da chuteira
para esfaquear Salman Rushdie, co-
nhecido adepto do Benfica. V.E.
Rogeiro e
Milhazes vão
discutir a invasão
soviética de Praga
no intervalo do
Chéquia-Portugal
DE TELEFONE QUE ESTÁ A
PASSAR EM BAIXO NO ECRÃ
RECEBEM UM AUMENTO DA
PENSÃO NO PRÓXIMO ANO
Boa noite, telespetadores que
nos estão a ver em exclusivo
através do serviço TDT e
daquelas antenas parabólicas
que parecem a jante solta de um
pneu do Eduardo Cabrita depois
de passar uma lomba em excesso
de velocidade. Não percam a
oportunidade de ganhar os
fabulosos prémios que temos
para vocês hoje, basta ligarem
para a presidência do Conselho
de Ministros através do número
era caucasiano e usava meias com os
mocassins. Os dois comentadores vão
ainda explicar como a checa Lenka, as-
sistente do “Preço Certo”, usava bur-
kas até 1989, apenas passando a apre-
sentar torradeiras em lingerie depois
da Queda do Muro de Berlim. V.E.
Diretores dos
reforma em 2023 que acumula
em cartão, nomeadamente
em cartão de militante do PS.
Basta ligar 213 927 600. Sem
truques, sem habilidades, estes
25% de aumento da reforma
podem ser seus. E já temos a
primeira chamada, da Maria de
Jesus, reformada por invalidez
de 86 anos, em direto do Alvito.
Quer ganhar meia pensão em
outubro e mais 25% de aumento
em 2023 do calendário islâmico
que atualmente está no ano
1444? Muito bem, basta acertar
na seguinte pergunta: diga
cinco ingredientes do Cozido à
Portuguesa começados pela letra
“W”... V.E.
ÚLTIMA HORA
RAFA RENUNCIOU A “O
PRINCÍPIO DA INCERTEZA”
Rafa Silva, depois de ter
renunciado à Seleção Nacional
de Futebol, anunciou que
to cancelada – de Eduardo Cabrita
para novo diretor do Teatro Nacio-
nal D. Maria II e decidiu por isso
acabar de vez com nomeação polí-
tica dos diretores dos teatros na-
cionais, passando estes a serem es-
colhidos, através da chamadas de
valor acrescentado, pelos telespe-
tadores, tendo por isso Fernando
Mendes sido nomeado diretor do
Teatro Nacional de São Carlos e a
direção do Teatro Nacional São
João ficado a cargo do encenador
Nuno Eiró. Já o Tarumba - Teatro
de Marionetas demitiu o conheci-
do socialista Pato Donaltim e con-
tratou o colega de profissão Mau-
ro Xavier. V.E.
saída no Vaticano, graças ao tom
entre a Epístola aos Coríntios da
missa dominical e Rui Santos a fa-
lar de bola. Osório, sabem O INIMI-
GO e a pessoa que alinha os faróis
do carro de Marques Mendes, pas-
sou a fazer parte da lista restrita da
Santa Sé para suceder ao Papa, não
se sabendo ainda a qual deles, se
Francisco, Bento XVI ou Jorge
Nuno. Contactado pelo IP, o cronis-
ta não confirmou, não desmentiu e
remeteu o seu pensamento sobre o
assunto para um postal sobre io-
gurtes sem lactose que vai para o
ar ainda hoje. M.B.
Equipa oInimigoPúblico

Portugal defronta a Chéquia para a
Liga das Nações, neste sábado, e o in-
tervalo da transmissão do encontro
será animado, a quem mudar para a
SIC Notícias, por uma conversa entu-
siasmante entre José Milhazes e Nuno
teatros nacionais
também desiste do comentário Postais na “Se não aconteceu… podia
ter acontecido!” O Inimigo Público
político e que não voltará a
passam a ser fazer as férias de António TSF colocam é um suplemento satírico,
sendo todo o seu conteúdo ficcional.
escolhidos através
Lobo Xavier no programa “O
Princípio da Circulatura da Luís Osório na Diretor Luís Pedro Nunes
Redação Alexandre Parreira,
de chamadas de
Incerteza do Flashback do
Quadrado”. Rafa quer dedicar-
dianteira da Luís Pedro Nunes, Mário Botequilha,
Vítor Elias Cartoon Nuno Saraiva

Rogeiro sobre a invasão soviética da

capital do adversário da Seleção Na-
cional, ocorrida em 1968, quando José
Milhazes ainda tinha apenas uma bar-
ba de três dias e Nuno Rogeiro ainda
valor acrescentado se, por inteiro, a projetos
pessoais, como o seu programa
de decoração de balizas na
O Governo fartou-se de ouvir críti- Benfica TV. M.B.
cas sobre a nomeação – entretan-
sucessão do Papa
As homilias de Luis Osório, na rádio
durante o para-arranca das circun-
valações da vida, estão a ter muita
Projeto gráfico @oinimigo_pronto
Editor online João Martins
Fotografia Getty Images e arquivo pessoal
O INIMIGO PÚBLICO é um projeto
conjunto Expresso/Produções Fictícias/
Farol de Ideias através de O Estado do Sítio

SE PORTUGAL FOSSE UMA MONARQUIA Ranking dos pretendentes ao trono nas casas de apostas londrinas @oinimigo_pronto
M.B.

Luís VI Daenerys Carlos III António I Toy I Carlos II Czarina Cristina Dolores I Marcelo I
Reclama o trono Targaryen A cobertura dos Marquês do Largo O maior rei da Tem raízes Última Romanov da Rainha do Instagram, Uma vez, Marcelo foi comprar
por alegado Diz-se canais do Rato, Conde de cassete pirata monárquicas Região Oeste, foi senhora da Madeira e frangos, a uma churrasqueira
precedente descendente de portugueses do Toda a Europa e desde Serafim fortíssimas. Basta deposta do trono de mãe de Kátia, Dolores no centro de Cascais, e um
dinástico, dado Afonso Henriques funeral de Isabel Vice-rei da Bazuca. Saudade. Ponto a dizer que é o nome Paço de Arcos pela I é a personalidade súbdito, na fila para a batata
que é sucessor de e de Luciana II deixou-o Uma sondagem do favor: ia arrasar mais sonante da revolução mais desejada para frita, disse-lhe “Deus guarde
Rui I, o Abreu, por convencido de PS, junto de Edite nos banquetes de Operação bolchevique do ser proclamada Vossa Majestade no trono até
Contabilista, e confundir que Portugal é o Estrela e Pedro Estado com o Rei Marquês. Se republicano Francisco Rainha de Portugal e Gouveia e Melo lhe poder
herdeiro Floribella com as irmão gémeo Adão e Silva, de Espanha ou na reinar, deverá usar Pinto Balsemão e representar o país na suceder”. E é isso.
espiritual de louras Targaryen separado à coloca-o entre os receção a José o estratagema recolheu ao exílio em ONU, nas galas da
Pedro II, o Hannah Montana nascença do País preferidos para ser António Saraiva habitual, de Queluz. Se for Rainha, FIFA e no Mundial do
Diabolizador. O e Marta Temido. de Gales. Quer rei, a par de Carlos quando sacar o recorrer ao nome o Bruno sobe a Qatar.
seu monarca- Se for proclamada fazer uma César e Eduardo Nobel da do amigo, e passar primeiro-ministro.
modelo é o Chef rainha, vai trocar marquise no topo Cabrita. Literatura. Ponto à história como
Ljubomir porque os F-16 da Força do Palácio de contra: já fez Carlos II.
também usa Aérea por Queluz. permanentes.
avental. dragões.
34 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de setembro de 2022

Editorial&Opinião
Editorial Com o prolongar da guerra
e o aumento da crise económica,
Pensões: memória, verdade e demagogia
pode o apoio à Ucrânia ceder? Em 2011, os pensionistas fica- 53-B/2006) foi construída num O PSD que o país gostaria de
ram sem subsídio de férias e de pressuposto de evolução “nor- ver responsável e como alterna-
Natal e no ano seguinte ficaram mal” das condicionantes macro- tiva ao PS adotou a postura do

A crise
sem um deles. O Tribunal Cons-
titucional (TC) travou tamanha
violência. Em janeiro de 2013,
as pensões acima de 1350 euros
económicas. O Governo que o Chega. Atira com factos alter-
país conhece por ter devolvido nativos para o ar, defende a apli-
salários e pensões, assegurando cação de uma fórmula legal que
a sustentabilidade da Segurança sempre rejeitou, só a aplicando

e a guerra Isabel Moreira

sociedade@expresso.impresa.pt
sofreram um corte entre 3,5% e
10%. Em setembro de 2013 de-
terminou-se um corte de 10% nas
pensões da Função Pública acima
Social, propôs ao Parlamento que
em 2023 se aplique uma regra
específica de atualização, que se
situa entre 3,53% e 4,43%, conso-
para impedir aumentos, e aposta
na infantilização de quem sabe o
que é a devolução de direitos e de
quem se lembra e de quem sentiu

A
nda por aí um cartaz
Até quando vai durar a coesão ocidental no combate à do PSD que mostra
guerra desencadeada por Vladimir Putin no Leste da Montenegro sorrindo,
Europa há sete meses, com a crise económica e o inverno doce, olhando para
a baterem à porta dos europeus nesta altura? A pergunta uma mulher idosa, e onde se lê:
dura há tanto tempo como a própria guerra e mantém-se “‘austeridade socialista, corte
inteiramente atual. A sondagem que publicamos nesta de 100 milhões’ versus ‘justiça
edição do jornal, o primeiro grande inquérito aos social PSD, nenhum corte’.” É
portugueses sobre o seu sentimento em relação à guerra o mesmo Montenegro que há
e à crise que agora sentem nos bolsos, apresenta alguns tempos afirmou: “Não houve
dados bastante significativos. Desde logo, e apesar de uma nenhum corte de pensões abai-
maioria dos inquiridos (54%) continuar favorável a que xo de 1500 euros” (no Governo
a Ucrânia não capitule nesta altura, aceitando, portanto, de Passos Coelho). É caso para
os sacrifícios decorrentes da continuação do conflito perguntar o que se passa com
militar, há uma percentagem significativa (32%) que Montenegro (e com o PSD).
entende que o conflito deve acabar o mais rápido possível, Será possível acreditar que as
mesmo que isso implique ceder às exigências da Rússia. pessoas, por serem idosas, não
E é precisamente entre os inquiridos mais atingidos se lembrem do que passaram?
pela crise económica (e é bom sublinhar que 48% dos É difícil perceber a dimensão da
portugueses ouvidos já dizem viver com dificuldades) aposta, desde logo linguística,
que se encontram os valores mais elevados de respostas de quem sabe estar a faltar à
favoráveis ao final imediato do conflito. verdade.
de 600 euros. O TC chumbou,
por unanimidade, o corte de 10%
nas pensões de aposentação, re-
forma e invalidez de valor ilíquido
mensal superior a 600 euros.
O Governo de Passos Coelho foi
várias vezes travado pelo TC, por-
que a austeridade que escolheu
prosseguir politicamente, que
ultrapassava em muito o exigido
pelo memorando da troika, vio-
lava a Constituição. Montenegro
defendeu uma e outra vez uma
austeridade inconstitucional, e se
a direita tivesse ficado no poder
em 2015 Montenegro lá estaria
a defender “um impacto positivo
na ordem de 600 milhões de eu-
ros no sistema de pensões” — e
sabemos bem o que isso era.
Aqui estamos. A fórmula relati-
va à atualização das pensões (Lei
ante o intervalo das pensões (até
2 IAS, entre 2 e 6 IAS e entre 6 e
Demagogia e
irresponsabilidade com
zero ganhos para quem
precisa hoje de respostas.
Este é o PSD atual
12 IAS). Os dados sobre os quais o
Executivo trabalha indicam que a
aplicação automática da fórmula
em 2023 conduziria inevitavel-
mente a uma antecipação dos pri-
meiros saldos negativos já para
o fim desta década, bem como a
uma redução em 13 anos da capa-
cidade do Fundo de Estabilização
Financeira da Segurança Social
(FEFSS).
— sentiu — os aumentos extraor-
dinários das pensões mais baixas.
Montenegro optou por lutar
contra o apoio extraordinário no
valor de 50% das pensões num
momento tão difícil como este,
optou por ignorar a responsabi-
lidade de um verdadeiro contrato
entre gerações. É verdade que
estamos a perder poder de com-
pra, mas o efeito da inflação sem
precedentes em 20 anos não é
decisão, pelo que equiparar perda
de poder de compra nestes ter-
mos a “corte” operado política e
juridicamente é absurdo. Dema-
gogia e irresponsabilidade com
zero ganhos para quem precisa
hoje de respostas. Esta é a face
atual do PSD. Que seja de outros
é normal, mas do PSD esperamos
sempre mais. Pelos vistos, em vão.

A incógnita Aldeias O resto

de Itália de uma
A Itália prepara-se
criança só só podia alimentar a temida “es-
piral inflacionista” se os salários
crescessem. Sucede que por cá,
deprimente, o diferencial entre
inflação e salários exprime uma
política de desvalorização inter-
recuperam as perdas sofridas em
razão do terror da “espiral in-
flacionária” de 2022, acrescidas
para ter pela primeira como é do conhecimento geral, na, premeditada e desejada. da inflação de 2023, ou uma só
vez uma mulher como O problema da os salários não tendem para o Sendo que um jovem licencia- conclusão poderá disso ser ex-
primeira-ministra, a desertificação do crescimento, a menos que a su- do hoje, numa área com valor traída: em Portugal os rendimen-
confirmarem-se as interior, aliado ao do bida ocorra por decisão política, acrescentado económico, recebe tos do trabalho não sobem nem
previsões para as eleições envelhecimento da Sérgio Sousa Pinto como sucede com o salário míni- propostas de trabalho na ordem subirão, até ao choque externo
deste fim de semana, mas população e da baixíssima política@expresso.impresa.pt mo. Portanto, a não subida dos dos 800 euros, e que uma per- seguinte, que implicará outro
as interrogações sobre natalidade em Portugal, salários em linha com a inflação centagem crescente do trabalho ajustamento à sua custa: descem
Giorgia Meloni, que se é seguramente um corresponde, evidentemente, nacional converge para o salário uns degraus. E o ciclo prossegue

É
declara amiga de Órban, dos maiores desafios um eufemismo dizer-se a uma perda de rendimentos e repete-se, talvez com o Esta-
são muitas. A vitória da estruturais para o Portugal que a subida das taxas de do trabalho e, portanto, da es- do a prodigalizar um voucher
extrema-direita em Itália das próximas décadas. juro para travar a inflação canzelada procura correspon- Não se vislumbra universal, tipo cesta básica com
— país fundador da UE e A reportagem que esta “pode causar recessão.” dente. Por outras palavras, se racionalidade computador, iPhone, abacates
uma das mais importantes semana publicamos na A experiência dos anos 80 su- o empobrecimento conduzir a nem viabilidade numa e granola.
economias — é mais um Revista E do Expresso, nas gere que o que trava a inflação um retraimento da procura de política de compressão As crises podiam propiciar um
sinal preocupante para a três aldeias do país em que é justamente a recessão, geral- energia de tal magnitude que de rendimentos momento de aterragem realista
consolidação de um projeto só vive uma (sim, uma!) mente funda e, com sorte, rela- passemos a aquecer as nossas na realidade e de busca de com-
europeu democrático e criança — Santana, Macedo tivamente breve. Se a inflação casas com sobro e azinho, e nos promissos e de soluções fora da
inclusivo, em que as vozes do Mato e Vinhas —, é um ocorre em resultado de um cho- desloquemos com recurso à tra- mínimo, não se vislumbra ra- bolha de ilusões habilmente ur-
dissonantes (veja-se o caso alerta para um problema que do lado da oferta (escassez ção animal, é natural que um tal cionalidade nem viabilidade dida pelos spin doctors. Infeliz-
recente da Suécia) se vão que não pode mesmo ser e carestia da energia), menos se choque do lado da procura faça numa política de compressão de mente, a bolha serve a todos. A
multiplicando. ignorado. compreendem as virtualidades cair os preços do gás, eletricida- rendimentos, mesmo que se en- direita louvará a responsabilida-
de uma solução para o problema de e gasóleo. tenda que o esmagamento cruel de; os patrões submeter-se-ão à
assente no retraimento da pro- A menos que a ideia seja outra. da procura seja a solução para a correlação de forças; o Governo
cura. Faltando ainda conhecer a Talvez tenhamos tristemente escassez da oferta, esconjurando explicará que a austeridade era
política orçamental para 2023, concluído que os salários, neste pela dor a inflação, em espiral coisa do Passos, como os con-
o parceiro crítico de qualquer desafortunado país, sem cres- ou em cone ou como se queira tratos a prazo eram uma criação
Proprietária/Editora: IMPRESA PUBLISHING S.A. política monetária anti-inflacio- cerem nada que se veja, estão, chamar-lhe. diabólica de Soares e Mota Pinto.
Sede: Rua Calvet de Magalhães, 242, 2770-022 Paço de Arcos. NIPC: 501984046
Administração da IMPRESA PUBLISHING: Francisco Pinto Balsemão,
nista. Ora, a procura, em países mesmo assim, a comprometer Só o Orçamento do Estado O resto, sabe o que verdadeira-
Francisco Maria Balsemão, Francisco Pedro Balsemão, como o nosso, que vivem em es- a posição competitiva do país. para 2024 poderá dissipar dúvi- mente importa: empobrecerá
Paulo de Saldanha, Paulo Miguel Reis e Nuno Conde
Composição do Capital da Entidade Proprietária: 100.000 euros, tado de austeridade perpétua, Nesse caso, verdadeiramente das. Ou as pensões e os salários outra vez.
100% propriedade da Impresa – SGPS, SA, NIPC 502437464
Registo da publicação na ERC: 101.101 ISSN-0870-1970

Diretor Geral Arquivo Marketing, Comunicação

de Informação IMPRESA
Ricardo Costa
arquivo@impresa.pt

Delegação Norte
e Criatividade
Mónica Balsemão (diretora)
Ana Paula Baltazar (coord.
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Um ano de futuro, um ano de decisões
Diretor Rua Conselheiro Costa Braga, de marcas de informação)
João Vieira Pereira 502; 4450-102 Matosinhos Susana Freixo (gestora
Tel: 220 437 000 de marcas) e Carla Martins
Diretores-Adjuntos (coord. de comunicação
David Dinis Publicidade para relações externas)
Martim Silva João Paulo Luz (diretor)
Miguel Cadete Carlos Lopes (diretor Produção
Paula Santos coordenador) Ângela Almeida Maria João Lopes (diretora)
(diretora da Delegação Norte) João Paulo Batlle y Font e responsabilidade. Com as pes- acessível e lançámos um programa aos lisboetas o IRS, até atingir uma
Diretor de Arte Hugo Rodrigues (coordenador) Carlos Moedas soas no centro da nossa decisão e de €40 milhões para renovar os devolução de 5%.
Marco Grieco (diretor publicidade) Carlos Morais e Joaquim
Dinorá Casanova e Nuno Rodrigues (produtores) ação política. nossos bairros municipais. Não se fez ainda tudo — porque

Editores
Eunice Lourenço (Política)
Pedro Candeias (Sociedade)
Pedro Cordeiro (Internacional)
João Silvestre (Economia)
Pedro Lima (Editor-adjunto
Economia) Ricardo Marques
(Revista E) João Pedro Barros
(Online) Filipe Garcia
(Editor-adjunto Política)
José Cardoso (Editor-adjunto)
Joana Beleza (Multimédia)
João Carlos Santos (Fotografia)
Grande Repórter
Micael Pereira
Coordenadores
Gerais de Arte
Jaime Figueiredo (Infografia)
Mário Henriques (Desenho)
Coordenadores
Isabel Leiria (Sociedade),
Elisabete Miranda, Miguel
Prado e Vítor Andrade
(Economia), Diogo Pombo
e Lídia Paralta Gomes
(Desporto), João Miguel
Salvador (Revista E), Rui
Tentúgal (Fecho), Tiago Pereira
Santos (Desenho Multimédia),
Cristina Pombo, João Cândido
da Silva e Mafalda Ganhão
(Online), Pedro Miguel Coelho
(Redes Sociais)
Redação, Administração
e Serviços Comerciais
Rua Calvet de Magalhães, 242
2770-022 Paço de Arcos
Tel: 214 544 000
ipublishing@impresa.pt
Martins (gestores de conta)
Miguel Teixeira Diniz e Sérgio
Alves (gestores de conta)
Marta Teixeira e Helena
Almeida (gestores de conta
da Delegação Norte)
Tel: 214 544 073/214 698 798
Fax: 214 698 516
Publicidade On Line
publicidadeonline@impresa.pt
Tiragem média agosto:
66.050 exemplares
Associação Portuguesa
para o Controlo de Tiragem
Associação Portuguesa
de Imprensa
ESTATUTO EDITORIAL DISPONÍVEL EM
www.impresa.pt/Lei78/2015
D
Circulação e Assinaturas aqui a dias cumpre-se um No combate às mudanças climá- No combate à corrupção e na não se faz tudo num ano —, mas
Pedro M. Fernandes (diretor)
Milton Silva (responsável ano da vitória da coligação ticas conseguimos ser escolhidos transparência, aprovámos um cumpriu-se um início de futuro.
pela circulação) e Rita Silva
(responsável pelo serviço
Novos Tempos e do início como uma das 100 cidades euro- novo código de ética e conduta e o Foi um ano de decisões num
de apoio ao cliente) do meu mandato como peias que serão neutrais em car- regulamento do canal de denúnci- contexto político marcado por
Serviço de Apoio ao Assinante:
Tel: 214 698 801 presidente da Câmara Municipal bono até 2030 graças a medidas as da câmara municipal. uma oposição que tenta impor
(dias úteis, das 9h às 19h)
Fax: 214 698 501; e-mail: de Lisboa. muito concretas. Hoje somos das No urbanismo, acelerámos a aos lisboetas um programa que
apoio.cliente.ip@impresa.pt Se sabemos que o país e o mun- poucas capitais europeias que ofe- aprovação de projetos, tendo foi derrotado há um ano. Mas o
Atendimento Ponto de Venda do mudaram desde então — um recem transportes públicos gra- decidido mais de 1350 projetos meu compromisso com os lisbo-
pontodevenda.ip@impresa.pt
novo Governo, uma nova guerra, tuitos aos mais novos e aos mais entre janeiro e agosto deste ano, etas mantém-se válido e intacto.
Impressão
Lisgráfica Impressão
uma nova crise —, talvez não sai- velhos. Avançámos com a rega e um número superior ao número Continuarei a dar tudo como pre-
e Artes Gráficas, S.A. bamos todos o que mudou, em lavagem de ruas com águas usa- de projetos que deram entrada na sidente. Não desisto de servir as
Estrada de São Marcos, 27
2735-521 Agualva-Cacém concreto, na vida da nossa cidade. das, poupando milhares de litros câmara municipal. pessoas, por mais obstáculos que
Distribuição E mudou muito. de água potável. Vamos concre- Na higiene urbana, um proble- me coloquem no caminho. Como
VASP-MLP,
Media Logistics Park
Não tanto quanto os próximos tizar a mudança da iluminação ma conhecido há mais de 10 anos, afirmei no dia em que tomei posse,
Quinta do Grajal, Venda Seca três anos proporcionarão, talvez pública para lâmpadas LED, que contratámos quase 200 pessoas tenho o direito de exigir que seja
2735-511 Agualva Cacém
Tel: 214 337 000 não tanto quanto o executivo ca- poupam até 80% na fatura da e transferimos €18 milhões para respeitada a legitimidade do nosso
Pontos de venda:
contactcenter@vasp.pt
marário desejaria e certamente CML. E vamos começar a obra do as freguesias complementarem a mandato.
Tel: 808 206 545 que não tanto quanto os lisboetas século com o plano de drenagem limpeza dos serviços da câmara Escolhi decidir em função das
A Impresa Publishing não é precisam e desejam. É a essa cha- que construirá dois túneis de 6 municipal dentro das suas com- necessidades das pessoas. As con-
responsável pelo conteúdo
dos anúncios nem pela mada que nos propusemos res- km de comprimento para evitar petências. quistas deste ano e o nosso projeto
exatidão das características
e propriedades dos produtos ponder quando nos candidatámos, as cheias na nossa cidade. Conseguimos reduzir os impos- para os próximos três são o exem-
e/ou bens anunciados.
A respetiva veracidade
há um ano. É a essa chamada que Na habitação, lançámos o maior tos aos lisboetas e decidimos de- plo perfeito disso mesmo.
e conformidade com a
realidade são da integral e
estamos a responder. programa dos últimos 10 anos. volver 3% do IRS que poderíamos Manteremos este rumo. Um
exclusiva responsabilidade
dos anunciantes e agências
A nossa ação política assenta em Temos hoje mil fogos em constru- receber dos munícipes. Continu- rumo de decisões e de concretiza-
ou empresas publicitárias. três pilares: transparência, justiça ção para habitação municipal e aremos, ano após ano, a devolver ções. Um rumo de futuro.
Expresso, 23 de setembro de 2022
Miguel Poiares Maduro
política@expresso.impresa.pt
Como responder
a Putin
O P
s dias passaram a meses, os ob-
jetivos territoriais encolheram (e
agora até esses estão em causa)
mas Putin, sem surpresas, segue
a lógica de quem, estando num buraco,
continua a escavar cada vez mais fun-
do. A escalada militar que anunciou e as
ameaças a ela associada são, no entanto, o
reconhecimento de que está a perder, não
apenas a guerra, mas também o controlo
da sociedade russa. Agora a intervenção
especial já é, afinal, uma guerra (embora
fale de guerra parcial). E a necessidade
de impor a mobilização militar dos jovens
russos (com alguma formação militar pré-
via) é o principal reconhecimento de que
está a perder essa guerra. Com isso chega-
ram também as ameaças, mais explicitas
que implícitas, de uso de armas nucleares.
Soam a desespero, mas não podemos ter a
certeza que sejam apenas bluff. A questão
é o que fazer perante elas.
Muitos que defendem ceder a Putin ar-
gumentam com essas próprias ameaças.
Têm razão apenas em que não as pode-
mos ignorar e que devemos mesmo ter
medo. O contrário seria irracional. Mas a
consequência não pode ser simplesmente
ceder a elas. O que seria do mundo se bas-
tasse a alguém ameaçar com uma guerra
nuclear para obter tudo o que quisesse.
Agora seria a Ucrânia e a seguir? Qual o
limite a impor à nossa cedência perante
a chantagem?
É inteligente e sensato não ignorar ame-
aças e é normal ter medo perante as mes-
mas. Mas as nossas convicções morais não
podem depender de ameaças. As estraté-
gias para defendermos os nossos princí-
pios devem atender às ameaças, mas os
princípios não podem ser determinados
por elas. Há três formas de lidar com as
ameaças de Putin: ceder, negociar ou ven-
cer. Ceder não pode ser uma alternativa.
Não estaríamos apenas a oferecer-lhe a
liberdade da Ucrânia em troca da nossa.
Estaríamos também nós a abdicar dessa
liberdade ao ceder a Putin a definição dos
nossos princípios. Restam negociar ou
vencer. A vantagem que temos é que hoje
claro que, quer uma solução negociada
quer a vitória, exigem a mesma resposta:
apoiar militarmente a Ucrânia e manter e
reforçar as sanções à Rússia. A razão fun-
damental é que a única coisa que conduzi-
rá Putin a uma negociação séria é o risco
de perder a guerra ou o poder na Rússia e
isto só será assim quanto mais próxima a
Ucrânia estiver de vencer.
É a conjugação entre as ameaças inter-
nas (de perda de poder e controle sobre a
sociedade) e as ameaças externas (sanções
económicas e derrota militar) que melhor
podem contrariar as ameaças de Putin.
A Europa deve assim responder a essas
ameaças reforçando o seu compromisso
para com a Ucrânia. Esse compromisso
tem de ser, em primeiro lugar, o nosso, dos
cidadãos europeus.
Desde o início que Putin pretende usar
as nossas democracias contra nós. Acre-
dita que a insatisfação com a crise econó-
mica e social, que a sua guerra alimenta,
irá gradualmente erodir o suporte das
opiniões públicas europeias à Ucrânia e
que estas deixarão de pressionar os seus
governos nesse sentido e poderão até fa-
vorecer a ascensão ao poder de forças
populistas de esquerda e direita próxi-
mas de Putin. A sua aposta assenta no
pressuposto de que a nossa resiliência
moral é mais fraca do que o controlo que
ele tem do poder. Temos de lhe demons-
trar que está errado. Mantendo o nosso
compromisso no apoio à Ucrânia, mas
também fazendo tudo o que podermos
para diminuir o seu controlo do poder na
Rússia e reforçar a oposição ao regime.
O recrutamento obrigatório dá-nos uma
oportunidade. Depois de proibir os vistos
turísticos a União Europeia devia agora
criar um processo urgente e simples de
concessão de asilo aos jovens russos que
recusassem combater na guerra de Putin.
É também uma forma de demonstrar que
o nosso conflito não é com os russos, mas
com o atual regime russo.
PRIMEIRO CADERNO 35
Henrique Raposo
henrique.raposo79@gmail.com
Ir à bola
com amor
orque é que nós queremos o
futebol? Para odiar os outros?
Ou para amar os nossos? La-
mento interromper a sintonia
do ar do tempo, que até usa crianças
para odiar, mas estou com a segunda
via. Preciso do futebol para amar a
minha infância, para recordá-la, para
recordar os abraços que dava ao meu
pai e irmão. Como é que três homens
silenciosos podem comunicar o amor
que os une? Através dos abraços gera-
dos pelos golos. Recordo sobretudo os
golos de 1993/94. O Benfica 1993/94,
A foto da LONDRES O Reino Unido despediu-se de Isabel II em 11 longos dias de ce-
rimónias, que culminaram segunda-feira com o enterro na capela do Cas-
o último grande Benfica antes da hi-
bernação, foi fundamental para o meu
semana telo de Windsor, perto dos seus pais e marido. O funeral televisionado foi
visto por 4000 milhões de pessoas, isto é, mais de metade da população
benfiquismo, claro, mas também para
a minha relação com o meu pai, que ti-
mundial. Nas ruas da capital britânica, centenas de milhares quiseram nha então a idade que eu tenho agora.
Por Pedro Cordeiro prestar uma última homenagem à mulher que viveu 96 anos, 70 dos quais É difícil largar esta estranheza: tenho
pcordeiro@expresso.impresa.pt a reinar em 15 países da Commonwealth. FOTO ROB PINNEY/POOL VIA REUTERS agora a idade que o meu pai tinha na
época de 1993/94.
Estão a ver? O futebol é um acesso
imbatível ao labirinto que é a nossa me-
mória afetiva. Lembro-me de todos os
Esteja descansado que a Segurança Social não vai à falência. abraços que dei ao meu velho nesse ano
em que, no fundo, abandonei para sem-
Nunca é isso que está em causa pre a inocência da infância e em que o
Deixar a politiquice?
meu pai terá abandonado para sempre
a juventude: os abraços confiantes do
3-3 nas Antas, os abraços enlouqueci-
dos do 4-4 em Leverkusen, os abraços
sublinhados pelas lágrimas de alegria
do 6-3 em Alvalade, os abraços tris-
O
Governo enviou para a As- sionistas aumenta ao mesmo tempo tes do 2-5 em Setúbal provocados por
sembleia da República as que a população ativa diminui, não há um furação nigeriano chamado Yekini.
contas subjacentes ao corte nenhuma falência: baixam-se as pen- Lembro-me de todos estes abraços,
que vai fazer às pensões. Pe- sões e/ou aumentam-se as receitas foram há 30 anos mas são reais, con-
gou nas projeções para as receitas (subindo o valor global da TSU paga tinuarão a ser reais enquanto eu me
e despesas da Segurança Social (SS) por trabalhadores e empresas, como lembrar deles, pairam no mundo como
feitas aquando da aprovação do Or- Vítor Gaspar tentou fazer elevando- um blogue esquecido paira na net.
çamento do Estado de 2022 — nem -a de 34,75% para 36%, ou outros
há meia dúzia de meses, portanto Luís Aguiar-Conraria impostos). A questão política é saber-
— e atualizou-as face à nova realida- Professor de Economia da Univ. do Minho mos como é que isso deve ser feito. A bola só serve para esta
lfaguiar@eeg.uminho.pt
de. Por nova realidade entendamos, Claro que é difícil discutir seria- educação sentimental em relação
simplesmente, uma inflação suposta- mente política quando temos gover- aos nossos; se é usada para o ódio
mente inesperada. Vários, entre os quais Catarina Martins, nantes que martelam as contas para não admitir que o em relação aos outros, o futebol
classificaram o exercício como uma aldrabice. Não vejo seu discurso da última década era falso. Ou quando o líder passa a ser uma coisa imbecil
como contestar esta classificação. O erro é verdadeiramen- da oposição espalha cartazes a dizer que com o PSD não
te básico (e, na verdade, é o exato oposto do que tem sido haveria qualquer corte de pensões no futuro, como se não
dito, mesmo por jornalistas especializados em economia). tivesse sido um seu Governo o primeiro a tentar cortá-las. A bola só serve para esta educação
De acordo com estas novas projeções, se a fórmula de Também não terei contribuído muito para uma discussão sentimental em relação aos nossos;
atualização das pensões fosse aplicada, as despesas au- política construtiva ao ter começado este artigo a denunciar se é usada para o ódio em relação
mentariam, mas as receitas não, pelo que a SS entraria em a tortura a que os números da SS têm sido sujeitos. Fica, no aos outros, o futebol passa a ser uma
défice uma década mais cedo. Mas, como é explícito na entanto, o meu compromisso de, a partir deste parágrafo, coisa imbecil. Não por acaso, tudo o
tabela enviada, os cálculos para o futuro são feitos a preços neste artigo e nos próximos, fazê-lo. que se passou nas últimas semanas
constantes. Quer isto dizer que as contas são feitas descon- Com uma demografia desfavorável, a não ser que haja nos nossos estádios está a dificul-
tando o efeito da inflação, em termos reais, imigração maciça que a compense ou au- tar uma tarefa que tenho em mãos:
tal como expliquei no artigo da semana mentos extraordinários de produtividade, convencer a minha mulher de que
passada. Ora, a única diferença entre o au- que não se adivinham numa população tão é seguro e saudável levar as nossas
mento das pensões previsto no Orçamento É difícil discutir envelhecida, há um desequilíbrio estru- filhas à bola. Ela tem razão quando
aprovado há uns meses e a nova realidade seriamente tural nas contas da SS: as despesas terão faz a pergunta, “mas queres levá-las
é a tal inflação “inesperada”. Isto é, o va- política tendência para aumentar mais do que para campos onde só há ódio e onde
lor real das pensões não mudou. Logo, as as receitas. Não havendo milagres, isso até se veem pais a instrumentalizar
projeções de despesas da SS, em termos quando temos exige que se baixem pensões e se aumen- os filhos nesse jogo de ódio?”. Só que
reais, deveriam ter-se mantido inalteradas. governantes tem os impostos. Política é decidir sobre eu tenho aqui nas minhas mãos o
Quando muito, haveria uma redução das que martelam as quem recai os custos. Até agora, o que antídoto para esta pergunta, um livro
receitas, que, se subirem menos do que a tem sido feito é aumentar contribuições e que funde bola e amor, “Campo dos
inflação, descem em termos reais. É difícil
contas para não impostos transferidos para a SS, chaman- Bargos — O futebol ou a recuperação
encontrar um exemplo mais flagrante de admitir que o seu do-lhe diversificação das fontes de receita, semanal da infância”. Jorge Reis-Sá,
contas marteladas. discurso da última e diminuir o valor das pensões dos futuros o autor, mostra-nos como o futebol
Na verdade, a longo prazo — e, quan- década era falso reformados. Houve tentativas de redução é mesmo o pretexto semanal para
do se fala de sustentabilidade da SS, é do de pensões de pessoas já reformadas que a evocação do amor, do amor pelos
muito longo prazo que se fala — a inflação foram, como sabemos, chumbadas pelo nossos pais no passado e do amor pe-
conta muito pouco. Bem sei que neste Tribunal Constitucional — que no acórdão los nossos filhos no presente. Somos
momento estamos todos muito irritados porque os nossos foi explícito a dizer que o problema não era o corte, mas ou não somos meras continuações
rendimentos não acompanham a inflação e estamos todos sim o facto de a lei estar malfeita. entre os nossos pais e os nossos fi-
a ficar mais pobres, mas daqui a poucos anos isso será Na minha opinião, a repartição de custos que tem sido lhos, veios de transmissão de sangue
corrigido e os salários acompanharão não só a inflação, feita é injusta, porque recai desproporcionadamente sem- e amor? Reis-Sá até mostra através
como a produtividade. E esse é o problema, esse é que é o pre sobre os mesmos, ao mesmo tempo que outros são do futebol que nós podemos amar
verdadeiro choque desta guerra: um aumento dos custos da intocáveis. Aumentos de contribuições e impostos são, alguém que nos fez mal, a avó neste
energia torna-nos, na prática, menos produtivos, tal como essencialmente, pagos pela população ativa. Alterações de caso, uma avó que, no desespero de
a desglobalização que se adivinha. regras do cálculo de pensões que apenas afetam futuros um país ainda pobre e sem urgências
Voltando à SS, qual é então a necessidade de andar a reformados, por definição, prejudicam também quem médicas por perto, magoou sem que-
martelar-lhe as contas? O PS decidiu repentinamente faz parte da população ativa. Temos, então, uma classe de rer o neto. Sem intenção, na pressa
atacar um dos seus pilares eleitorais, os pensionistas? Ou, pessoas que no futuro vai receber pensões reduzidas e que de fazer o bem, a avó mutilou-o, fez
agora que não precisa do apoio da extrema-esquerda e da no presente paga impostos superiores para garantir que os dele um manco imprestável para o
esquerda radical, já pode revelar a sua verdadeira nature- atuais reformados não são penalizados nem num cêntimo. sonho da bola, mas, passados tantos
za e ser mauzão? Penso que a explicação é mais simples: O corte proposto por António Costa, aplicando-se aos anos, Reis-Sá diz-nos que ama essa
as projeções anteriores que diziam não haver problemas atuais pensionistas, distribui o custo por todos. Concordo. avó, que nem há nada para perdoar.
de sustentabilidade estavam erradas. A brutal martelada Isto é independente de futuras reformas da SS que defen- Não, não conheço melhor antídoto
que as contas levaram esta semana serve para corrigir as do. Gostava de um sistema que fosse mais transparente, contra o clima odioso que campeia
marteladas de sentido oposto que foram sendo dadas nos que não estivesse tão dependente de medidas casuísticas, neste momento nos estádios de fu-
últimos anos. que sempre terão de enfrentar a gritaria da oposição, e tebol. Leiam “Campo dos Bargos” e
Esteja descansado que a SS não vai à falência. Nunca que tivesse uma componente, ainda que ligeira, de capi- aprendam uma coisa, por favor: o fu-
é isso que está em causa. As pensões são pagas com as talização, para estimular a poupança. Mas esse debate tebol serve para amarmos os nossos,
contribuições de quem está no ativo. Se o número de pen- ficará para 2023. não para odiarmos os outros.
36 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 23 de setembro de 2022

Opinião

Presidente da Associação
Portuguesa de
Professor Bachmann e os herdeiros de Ekström
Hospitalização Privada

O
professor Bachmann, Os problemas com as comu- fáceis. Numa sondagem de 2019, mais de um

Grandes que dá aulas na cidade

industrial de Stadta-
llendorf, não tem tare-
nidades migratórias ou com
as minorias são de sempre.
Assim como o antissemitis-
terço dos norte-americanos com menos de 35
anos respondeu que aceitaria viver num regime
governado por militares. Talvez seja porque a
males, grandes fa fácil. Os seus alunos, entre
os 12 e os 14 anos, vêm de 12
mo não era novo nos anos
30. O que é preciso perceber
democracia deixou de lhes oferecer o combus-
tível da política, que é a esperança.
soluções países, dominam mal a língua
e, mesmo os que nasceram na Daniel Oliveira
Alemanha, não se sentem em danieloliveira.lx@gmail.com
é o que lhes deu centralida-
de política. Há um padrão:
1929 foi marcado pela maior
Negar a componente social e económica da
sedução pelo autoritarismo, centrando a divisão
do mundo entre oponentes e defensores de um
casa. Mas ele tem o empenho desigualdade na distribuição “mundo aberto”, levar-nos-á a duros choques
da vocação e tenta ajudar a de riqueza de que há registo, com a realidade. Mesmo a pacata Suécia, um dos
construir cidadãos curiosos e exigentes, única for- um valor apenas suplantado em 2008, no crash países mais tolerantes, educados e prósperos do
Óscar Gaspar ma de uma integração que não seja submissa. Não financeiro. Apesar de termos mais recursos do mundo, viu um partido neofascista tornar-se na
ignora os problemas. Tem, ao contrário dos dema- que nunca, os filhos estão condenados a viver segunda maior força política. Mesmo fora do

O
s principais problemas do siste-
ma de saúde, e em especial do
SNS, são estruturais e anteriores
à covid-19. A pandemia aprofun-
dou muitos deles. Começa agora um
novo ciclo menos definido pela pande-
mia, que tem estabilidade política e acon-
tecerá num contexto político-partidário
robusto. Somos tantas vezes o país das
oportunidades perdidas, mas também
somos o país que agarra com as duas
mãos aquela derradeira hipótese.
1ª prioridade: garantir acesso. É a
maior preocupação dos portugueses
em relação à Saúde: acesso é a capaci-
dade e possibilidade de ter uma consul-
ta a horas, de não ter que esperar para
fazer exames e de realizar a cirurgia
necessária no tempo cirurgicamente
adequado. Fixando este objetivo, pelo
qual os portugueses avaliam as políticas
de saúde, tudo o resto será operacional,
nomeadamente para otimizar os recur-
sos existentes. Recorde-se que ainda
estamos numa fase que decorre do pico
da covid-19 e, como tal, há ainda muita
atividade assistencial a recuperar — diag-
nósticos, tratamentos e cirurgias que
ainda ficaram por realizar. Temos dois
anos para ter a saúde em dia.
2ª prioridade: assumir-se o Ministério
da Saúde, ou seja, não apenas o minis-
tério da doença, nem apenas do SNS.
Em termos estruturais o sistema deve
cada vez mais orientar-se para a saúde
dos cidadãos, a plenitude do seu ciclo de
vida, e não só para os episódios agudos.
Da mesma forma, o Ministério da Saúde
tem responsabilidades em todo o sistema
de saúde, desde a prevenção e literacia, a
Não são admissíveis
FOTO JUAN MEDINA/ REUTERS
gogos, de lidar com eles quotidianamente. Se ainda pior, com maior incerteza e de forma mais pre- Governo, os Democratas Suecos serão a maior
conseguirem, vejam “O Professor Bachmann e cária do que os pais. Mesmo nos países mais força da direita, agora no poder. Conseguiram-
a Sua Turma”, um longo documentário dividido ricos. A crise quase permanente em que vivemos -no graças a uma campanha de diabolização de
em duas partes que passou recentemente na RTP. há tanto tempo ajuda a explicar parte do fascí- imigrantes e refugiados, responsabilizados pela
Não houve um tempo em que fossem suaves os nio por quem oferece soluções simples e alvos degradação do fortíssimo Estado social. Numa
impactos culturais e sociais que as migrações pro- das suas iniciativas de campanha, o “comboio do
vocam. Em Portugal, 0,5% da população que aqui repatriamento”, ofereciam-lhes bilhete de ida
vive há mais de 500 anos chega para ocupar 50% para Cabul. Uma política generosa na concessão
da agenda do terceiro maior partido. Bachmann Negar a componente social de asilo levou a um crescimento fulgurante da
faz parte da solução e esse é o primeiro princípio e económica da sedução pelo população de origem estrangeira. Em 2010, 14%
para debater imigração, refugiados ou minorias autoritarismo, centrando a divisão da população era de origem estrangeira, um valor
não “integradas”, como dizemos sem pensar se entre oponentes e defensores que subiu para 26% numa década. Tal choque só
o dever de integração é mútuo. Recusar o debate é suportável reforçando direitos e a igualdade,
é entregá-lo aos promotores do ódio, mas só vale de um “mundo aberto”, levará nunca fazendo o caminho oposto. Em meados
a pena fazê-lo com quem quer fazer parte da so- a duros choques com a realidade. dos anos 90, o Mantenha a Suécia Sueca passou
lução, não com quem alimenta e se alimenta do A democracia deixou de oferecer a Democratas Suecos, transformou a chama ar-
problema. E é por isso que a extrema-direita não é dente numa linda flor azul e a sua lavagem foi de
interlocutora. O seu crescimento é, quando muito,
o combustível da política, tal forma eficaz que não é fácil encontrar o nome
um sintoma. Um sintoma que deve ser analisado que é a esperança de um dos seus principais fundadores, Gustaf
de forma pouco linear. Ekström, ex-voluntário das Waffen-SS.
Estamos sempre a tentar entrever o recuo do
extremismo de direita. Com a forma catastrófica
como lidaram com a pandemia; com a derrota de
Trump e a consequente invasão do Capitólio; com
a guerra e a comprometedora ligação dos partidos
de extrema-direita europeia a Putin. Mas o ovo da
serpente lá continua. Trump pode voltar à Casa
Branca e seis em cada dez candidatos republica-
nos às intercalares dizem que as eleições de 2020
foram “roubadas”. Le Pen teve o melhor resultado
da extrema-direita em França. E, depois de ama-
nhã, em Itália, podemos vir a ter um Governo de
neofascistas e aparentados.
Cada caso é um caso. A resposta à superfície do
que aconteceu na Suécia, por exemplo, é lenta.
São precisos muitos Bachmanns, muito trabalho
e resultados que se medem em gerações. Os her-
deiros de Ekström serão sempre mais rápidos.
Contra eles é preciso ir para lá da superfície das
coisas e perceber que este é o nosso Zeitgeist
político. O que varia são as circunstâncias em
cada país. A resposta não está no agudizar de
querelas identitárias que façam os trabalhadores

défices sucessivos descontentes sentirem-se homens, brancos e he-

de mais de 1100 milhões
de euros no SNS
formação dos profissionais até à presta-
ção e o investimento. A nova figura da di-
reção-executiva do SNS é a oportunidade
para dar corpo a este objetivo.
3ª prioridade: mobilizar os profissio-
nais de saúde. Os recursos humanos são
o elemento essencial dos sistemas de saú-
de. É urgente cativar mais profissionais
terossexuais, que sempre é melhor do que serem
os falhados na tirania do mérito. A resposta é a
que demos depois da II Guerra, que ofereceu ao
Ocidente décadas de paz, prosperidade e igual-
dade: temperar a economia de mercado com
uma implacável redistribuição da riqueza que a
impeça de ser uma sociedade de mercado, doente
e inviável.
CICP — Universidade do Minho

Putin: o ‘homo sovieticus’

de saúde, manter o nível de excelência da
sua formação, discutir as competências
necessárias de cada uns e mobilizar os
que já trabalham nas instituições.
4ª prioridade: acabar com o subfinan-
ciamento crónico do SNS. É voz corrente
que não se resolvem problemas atirando- Simonian, editora do canal televiso a obsessão do seu Presidente. Esta piruetas de calendário que opera,
-lhe dinheiro para cima, mas o equilíbrio
Sandra Dias Fernandes pro-Kremlin “Russia Today”, esta decisão por si só, tomada por decreto em plena reunião anual da Assem-
orçamental é condição necessária para semana materializa a antecâmara presidencial para ter efeitos rápidos, bleia-Geral das Nações Unidas, fun-

V
o planeamento e gestão do SNS. A base ladimir Vladimirovich Putin
23 da lei de bases da saúde deve ser in- deixou o mundo suspenso à
tegralmente cumprida e isso exige a or- espera do seu segundo dis-
çamentação completa das necessidades curso à nação desde o iní-
e o seu correto financiamento. Não são cio da guerra de agressão contra a
admissíveis défices sucessivos de mais Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro
de 1.100 milhões de euros, especialmente deste ano. Depois do seu isolamen-
quando são previsíveis à partida. to durante a pandemia de covid-19,
5ª prioridade: estruturar o sistema de em que privou com um grupo muito
saúde do futuro e dinamizar o cluster restrito de indivíduos, o Presidente
do sector. russo voltou a demonstrar que dedi-
Um dos grandes desafios é a execução cou os seus tempos de isolamento a
do PRR no qual estão previstos €1380 ruminar as suas obsessões.
milhões para o SNS. Releva o valor de Antigo membro da elite do KGB,
€300 milhões previstos para a transição Putin é um ‘homo sovieticus’, sau-
digital, que devem ser escrupulosamente doso da grandeza da URSS e do pa-
investidos, também na interoperabili- ternalismo de Estaline, o seu modelo
dade entre instituições, na criação de de liderança política. Pese embora
registos nacionais e nas plataformas de não seja uma visão partilhada pela
partilha de dados. Por outro lado, é con- juventude que não viveu os tempos
sensual que a Saúde é um dos pilares de da geração do seu presidente, outros
desenvolvimento dos países e, como tal, russos ainda se lembram de tempos
a atração de investimentos, a promoção tidos como gloriosos. O ‘homo so-
de I&D no sector, incluindo ensaios clíni- vieticus’ sente-se humilhado pela
cos e a resolução de custos de contexto História.
(licenciamento, atrasos na inovação e A liderança russa vê-se hoje con-
nos pagamentos, etc.) são temas que frontada com uma falta de opções
também dizem respeito ao Ministério perante uma guerra que não lhe é
da Saúde. favorável. Nas palavras de Margarita
de uma vitória iminente ou de uma
guerra nuclear. Tal como o discurso
à nação proferido por Putin, um dos
principais objetivos destas palavras é
instilar o medo nas audiências mun-
diais, e ocidentais em particular, por
serem o principal apoio aos ucra-
nianos.
Este ‘homo sovieticus’ não pode
perder e não mostra sinais de que-
rer rever os seus objetivos atuais de
guerra. Estes últimos parecem es-
tar delimitados às quatro regiões do
território ucraniano que controla,
embora de forma desigual. Perante
as sucessivas revisões dos seus obje-
tivos estratégicos, pautando as várias
fases que a guerra já conheceu, Putin
decidiu agora operar uma fuga para
a frente cujos resultados são muito
incertos.
Em que medida a mobilização mi-
litar de parte da população russa
irá de facto contribuir para reforçar
os seus contingentes nos teatros de
operações? Mobilizar reservistas
implica contar com uma população
que, embora silenciosa, não apoia
na sua totalidade nem a guerra nem
mostra alguma prudência face à sua
opinião pública, apesar da mesma já
se encontrar bem amordaçada. Putin
poderia ter decretado uma mobili-
zação geral que deixaria cerca de 2
milhões de reservistas à disposição
do esforço de guerra.
Putin demonstra fraqueza detrás
de uma aparente, e ainda por com-
provar, manifestação de força. As
Antigo membro da elite
do KGB, Putin é um
‘homo sovieticus’,
saudoso da grandeza da
URSS e do paternalismo
de Estaline, o seu modelo
de liderança política
cionam como um espantalho que
aproveita os ventos para chamar a
si a atenção e assustar. Mas a men-
sagem já foi bem entendida desde
o dia 1 da guerra e subsequentes de-
senvolvimentos: Putin não precisa
do mundo ocidental, não respeita
formas de regulação internacional
que limitem as soberanias e acredita
que tem amigos, de preferência auto-
ritários e populistas, com quem levar
a cabo os desígnios imperialistas dos
saudosos tempos da URSS.
Com o anúncio dos referendos
(profundamente irregulares) con-
ducentes à anexação das quatro
regiões ocupadas pelos russos na
Ucrânia, antevê-se uma nova fase da
guerra em que é elevado o perigo da
escalada. Independentemente dos
meios bélicos reais passíveis de em-
prego operacional, o espectro do uso
da arma nuclear voltou a pairar de
forma mais clara. É muito difícil de
acreditar, mas não é impossível. Isto
porque o encurralamento do ‘homo
sovieticus’ já mostra sinais de estar a
provocar uma fuga para a frente e de
início de escalada.
Expresso, 23 de setembro de 2022 PRIMEIRO CADERNO 37

Henrique Monteiro

ANTES QUE
ME ESQUEÇA
TRANSIÇÃO
Quando José António
Vieira da Silva,
então ministro
responsável, fez
a lei de 2007,
pensou — e
pensou-se — que
ela poderia resolver
o problema das pensões
e da estabilidade da Segurança
Social por meio século. A lei
baseava-se na ideia de que os
aumentos estivessem indexados
à inflação (que até agora quase
não existia) e ao crescimento do
PIB e a idade da reforma ligada
à esperança de vida aos 65 anos.
Vozes críticas entenderam que
o problema não ficaria resolvido
por questões como o inverno
demográfico, o aumento muito
acentuado da esperança de
vida e outros imprevistos.
Na verdade, nos 15 anos que
decorreram, por esta ou aquela
questão, a lei não foi cumprida.

FOTO ANA BAIÃO

Este ano foi torpedeada. O
erro — se é que há um erro
— não pode ser apontado a
ninguém. Na maioria dos países
desenvolvidos existem seguros

O tombo no inferno de António Costa e seguros complementares para

as pensões; as pensões têm
um máximo, sendo que quem
ganhou bem tem de prover o
seu futuro. Mas o problema

D
esde que a Igreja deixou de vador que nem as taxas dos lucros médicos, juízes, jornalistas, comen- sempre foi a transição de um
considerar o inferno como excessivos (windfall taxes) queria tadores e políticos, culparão quem sistema em que 34,75% do
um local físico repleto de cobrar, para escândalo dos antigos está no Governo por tudo o que que uma empresa paga aos
fogo, caldeirões de água a aliados, transformados em ressen- corre mal. trabalhadores vão para a
ferver, e seres estranhos que ator- tidos. Lembrou-se Costa de desculpar Segurança Social, em que estes
mentavam quem lá caía, como A equipa, que parecia unida e ou poupar Passos com a troika e têm impostos progressivos
paga dos pecados terrenos, o con- coesa em torno dele, tornou-se uma a falência da era Sócrates? Claro sobre o rendimento que chegam
ceito passou a ser ‘apenas’ o de espécie de orquestra sem maestro que não! Em matéria de conten- à meia remuneração e em que
ausência de esperança. O apenas em que todos querem ser solistas. ção, dificuldades, perda de direitos o IVA é altíssimo, ficando com
deve-se ao facto de a ausência de Pedro Nuno manda no aeroporto; adquiridos (já começou com as pen- pouco ou nada para o provir,
esperança parecer menos mau do Medina tenta contratar assesso- sões) o que se passou na troika vai para um sistema em que têm
que estar a eternidade a ser quei- res controversos (e dos quais nem parecer uma simples brincadeira de o acautelar. Bem ou mal, a
mado, flagelado e picado pelos tri- precisa, tendo em conta que não o em relação ao que se vai passar. resposta de Vieira da Silva terá
dentes dos diabinhos. substitui); Costa Silva quer baixar o Não é que o diabo tenha chegado sido a menos má.
Porém, já no início do século XIV, IRC por conta própria; Marta Temi- (ele sempre por aqui andou), mas
o florentino Dante Aligheri escre- do demite-se à hora dos discursos A tentativa de trazer a conjunção dos efeitos da guerra, PAPA
vera o mesmo na sua obra magna de Putin, pela calada da noite. Os o céu para a terra seca, extremos do clima e carestia Se não viu a
“Divina Comédia” (onde o termo sonhos de altos cargos na Europa, é de molde a assustar qualquer um. entrevista
‘comédia’ tem o significado da épo- onde estão? Não que a Europa es- invariavelmente Ao contrário do esquema da “Di- do Papa
ca, ou seja, obra que acaba bem, teja totalmente bem servida (mas produz o inferno vina Comédia”, que sobe dos nove Francisco
e não o atual, de algo burlesco ou Ursula vale por vários), António círculos do Inferno para os sete à TVI,
humorístico). No portal do Inferno, Costa é que parece cansado, mais Karl Popper (1902-1994), filósofo Céus e três Paraísos, Costa desce recomendo.
conduzido por Virgílio, o poeta do disposto às pantufas (e ia dizer a e professor nascido na Áustria e do sétimo céu em que a ‘geringon- Eu só
esplendor latino (Eneida, Geórgi- reforma, mas isto não está bom naturalizado britânico, na sua ça’ lhe deu o poder, até a uma si- a vi esta semana e fiquei
cas, etc.), Dante depara-se com a para pensionistas). Tantas análises, obra ‘‘A Sociedade Aberta e os tuação que ainda não é muito má, surpreendido. O Papa, falando
frase: “Vós que entrais, abandonai daquelas boas, feitas na televisão Seus Inimigos’’ (1945) porque tende a ser pior. Não está a uma conhecida jornalista
toda a esperança.” por diversos especialistas, pare- num lugar invejável e parece que portuguesa, Maria João Avillez
António Costa parece ter caído cem agora sem nexo. Tantos avisos a esperança de voltar ao que foi (minha amiga), faz uma defesa
num inferno; não terá sido numa presidenciais — a legislatura é para desvaneceu-se. Essa ausência de brilhante das qualidades
data precisa, mas foi nestes meses levar até ao fim! — surgem como uma espera por horas melhores femininas. Isso leva-me a pensar
que antecedem o ‘inverno do nosso desnecessários. Ninguém parecia se modo, a sua ausência de culpa. fá-lo estar no inferno dos dias; só que ou o Papa deixa o cargo,
descontentamento’ e terão sido, conhecer o provérbio popular que Mas em política não há inocentes lhe falta que o Tribunal Constitu- sendo sucedido por alguém
para ele, o verão da sua desilusão. diz que o futuro a Deus pertence, nem culpados (salvo se a sua ação cional, a exemplo de há dez anos, que desfaz o que ele fez, ou, em
Depois do otimista irritante, temos independentemente de quem for, chegar aos tribunais, o que não é comece a julgar os seus ‘truques’ breve, as mulheres terão um
a versão do prudente mal-amado; ou o que seja, Deus. O interesse da o caso, e espera-se que não volte a inconstitucionais. papel mais relevante na Igreja
após o político hábil, quase genial, máxima popular é que nada está ser). Em política “o que parece, é”, Até lá, o mantra das ‘contas cer- Católica. De referir ainda o que
temos o trapalhão, o prestidigita- nas nossas mãos; fatores imprevisí- eis algo que se tornou um lugar-co- tas’ pode ser que funcione; talvez os ele considera ser o silêncio de
dor que engana os pensionistas e veis alteram os planos. Um político, mum, que vários comentadores e eleitores se condoam da sua sorte. Fátima, que do seu ponto de
os trabalhadores; de um líder da daqueles que não pensa em mais políticos usaram. E a frase é exata. Nesse caso, não sendo divina, tería- vista, e pedindo desculpa aos
chamada esquerda moderna, que nada, pode pensar que a guerra e os Com mais Putin, menos Putin, o mos uma comédia. Acabava tudo portugueses, resume Portugal.
se aliou com a moderníssima es- planos de Putin poderiam ser bons povo, os reformados, pensionistas, bem para Costa.
querda, temos um burguês conser- para Costa, que demonstraria, des- funcionários públicos, professores, hmonteiroexpresso@gmail.com AQUILINO
E DANTE
No texto maior
referem-se dois livros
OS DIAS QUE ME OCORREM que merecem ser
lidos. O primeiro — e
DESESPERADO invadisse o inferno, eu faria tentativa para recuperar carvão. Pela mesma altura teríamos não uma ‘Windfall mais modesto — é
Putin discursou e foi uma referência favorável o território perdido é um a França reativava uma Tax’, mas uma ‘Falltax Wind’. de uma peça de
a fala de um homem ao diabo na Câmara dos ataque ao país invasor. central a carvão, como a Precisamos de algo assim. teatro de Aquilino
desesperado, encurralado, Comuns”. Tal como o Alemanha já havia feito Ribeiro (só fez duas)
ameaçado nas frentes Führer, Putin só pode ser FASCISTAS e outros países poderão TRUMPGATE intitulada “Tombo
externa e interna, isolado derrotado; e por motivos É natural que a ser obrigados a fazer. Não Sendo tão expectável que no Inferno”. Passa-
do mundo. As respostas semelhantes: defender a guerra faça florescer sei se o discurso já estava o homem tivesse uma se nas Terras do Demo, as
deixaram-no pior: algum democracia, a liberdade movimentos extremistas, escrito há muito, mas o série de documentos mesmas onde escrevo estas
distanciamento da China, e a busca da felicidade! É nomeadamente de direita. timing, caro secretário- comprometedores em linhas, embora já muito
alguma reprovação a nossa força e não é um Mas é escusado associar geral da ONU, é péssimo casa (aliás, ninguém se modificadas, como disse o
da Índia, firmeza e ex-KGB acossado que vai os sucessos da extrema- e revelador de uma certa admirou) até me admira escritor um dia, pela camioneta
continuação do apoio à acobardar o Ocidente. direita sueca, de Marine desorientação de quem que não chamem ao caso de carreira e pelo almocreve.
Ucrânia dos EUA e da UE, Le Pen, ou, no próximo não sabe hierarquizar ‘Trumpgate’ É faltar à Hoje vive-se aqui com internet
além, claro, da NATO. Há FANTOCHES domingo, do FdI, de Giorgia problemas. tradição. e telemóveis… tomba-se, não
o desrespeito por todas Um país invade outro e, Meloni às consequências no inferno, mas em penitências
as convenções, a ideia sob as armas com que da guerra e sanções ‘WINDFALL TAXES’ IMBECIL? diferentes. O outro, obra-prima
peregrina que pode atacar matou, feriu, deportou e decretadas. A ascensão da Costa já disse que taxará o O presidente da Câmara medieval, que transformou
sem ser imediatamente prendeu o povo desse país, extrema-direita europeia que a Comissão Europeia do Porto entrou na tasca a escrita toscana no italiano
atacado, ou a disposição decide fazer um referendo vem de muito antes. decidir, e talvez acabe com do futebol. A pés juntos. moderno que conhecemos.
de matar meio mundo. E a saber se a população se as picardias entre Medina Chamar “perfeito imbecil” Dante é conduzido pelo poeta
ainda há quem o defenda, quer juntar, como região, TAXAS GUTERRES e Costa Silva. Melhor seria a quem faz uma pergunta Virgílio aos vários círculos do
mesmo por cá. Por mim, ao invasor. Por último, Na ONU, Guterres propôs se aplicasse o seguinte: legítima é de um alucinado Inferno e lugares do Purgatório,
citaria Churchill trocando ameaça o legítimo Governo que se taxassem mais taxar a média de IRC que os da bola, para não responder para, com a amada Beatriz,
Hitler por Putin: “Se Hitler do invadido, que qualquer as indústrias ligadas ao países da Europa taxam. Aí na mesma moeda. conhecer o Céu.

Ricardo
Costa
Como ficar
mesmo
isolado
A
teoria mais básica
dos que defendem
ou compreendem
a inevitabilidade da
invasão da Ucrânia
assenta na ideia de
que a Rússia estava encurrala-
da. No fundo, o que vimos em
24 de fevereiro não foi o início
de uma guerra de conquista de
território, mas a resposta a um
cerco progressivo da NATO,
que humilhou uma grande po-
tência militar, a ponto de esta
ser obrigada a reagir.
Sempre considerei esta ideia
primária e errada. A tentati-
va de conquista e anexação de
uma parte do território ucra-
niano sempre esteve muito
mais em linha com as guerras
que varreram a Europa no sé-
culo XIX e na primeira metade
do século XX do que com o qua-
dro pós-Guerra Fria. Os discur-
sos de Putin nas vésperas e nos
primeiros tempos da guerra
não enganavam: estavam pe-
jados de nacionalismo, traços
identitários, tiques salvíficos,
xenófobos e colonizadores.
Em momento algum de fe-
vereiro ou março Putin agiu
ou falou como alguém que se
sentia encurralado, muito pelo
contrário. O que víamos era um
dirigente que se sentia ungido
pela Igreja Ortodoxa e se via
obrigado a defender os povos
russos na sua zona de influên-
cia pan-eslava, onde nenhum
país tem direito a escolher o
seu futuro ou as suas alianças.
Despojado de
manias e falsidades
históricas, Putin já
só se agarra à força
bruta: mais homens e
nova ameaça nuclear
Esta semana, tudo mudou.
Agora, sim, assistimos ao dis-
curso e aos atos de um homem
encurralado. Despojado de ma-
nias grandiosas e de falsidades
históricas, já só se agarra à for-
ça bruta: aumentar exponen-
cialmente o número de homens
alistados e renovar a ameaça
nuclear.
Seja qual for a geografia, os
referendos de anexação são
quase sempre risíveis: mas os
que vão decorrer nos próximos
dias em quatro territórios ucra-
nianos serão ridículos. Mosco-
vo quer oficializar que aqueles
territórios são russos para, de-
pois, poder dizer que a Ucrânia
— bem como os países que for-
necem armamento a Kiev, com
EUA à cabeça — estão a atacar
diretamente território russo. A
ideia de uma guerra de defesa
é, agora, uma farsa jurídica,
política e militar.
As primeiras imagens do
homem encurralado não sur-
giram na manhã desta quarta-
-feira. Foram bem visíveis na
semana anterior em Samar-
canda, na cimeira dos países
da Organização para a Coope-
ração de Xangai. O embaraço
de Putin perante a China e as
declarações públicas do pri-
meiro-ministro indiano sobre o
absurdo da guerra mostraram
que os dois países mais popu-
losos do mundo estão fartos
da guerra privada de Moscovo.
Recuado no terreno militar,
sem margem diplomática em
Pequim e Nova Deli, Putin deu
o passo em frente. Agora, sim,
os que são complacentes com
ele e a Rússia Imperial podem
ver o que é estar encurralado.
rcosta@expresso.impresa.pt
e ainda...
( (
Ténis
A última valsa
de Roger Federer
é com Nadal P28
Estudo para aeroporto
sem concurso público
Costa e Montenegro
reúnem-se esta sexta-feira
para assinalar acordo.
Pedro Nuno entra,
finalmente, na sala
A metodologia já está fechada
e ninguém quer perder mais
tempo, depois do tempo que
já foi perdido. O PSD aceita
que a Avaliação Ambiental
Estratégica (AAE) para deci-
dir a localização do novo aero-
porto de Lisboa não tenha de
se fazer por concurso público
— como estava previsto atual-
mente depois de a espanhola
Ineco ter vencido o concurso
— desde que também não se
faça exatamente como Pedro
Nuno Santos queria. Ou seja,
os sociais-democratas aceitam
que o processo passe para as
mãos do LNEC, que é um or-
ganismo do Estado, mas desde
que a AAE não se limite a ser
feita pelo LNEC.
A ideia, sabe o Expresso, é
que o LNEC seja uma espécie
de “barriga de aluguer” para
evitar que se perca mais tempo
abrindo outro concurso públi-
co, mas para dar corpo a um
consórcio que junte outras enti-
dades públicas, desde universi-
dades ao MIT. A questão é que,
no entender dos sociais-demo-
cratas, a opinião do LNEC já es-
tava fechada em torno da opção
Alcochete (e chegou a ser ma-
nifestada publicamente), pelo
que não quer que o Governo
se limite a “simular” uma ava-
liação ambiental que à partida
já está enviesada. O PSD, sabe
o Expresso, prefere que seja
Por mais alta que seja a torre, ninguém está acima da lei
NOVA IORQUE A procuradora-geral estadual, Letitia James, processou Donald Trump, três
dos seus filhos e uma das suas empresas. O ex-Presidente é acusado de fraude na ordem
dos milhares de milhões de dólares. Também investigado por ter levado documentos se-
cretos da Casa Branca para a sua casa particular em Mar-a-Lago (Florida), o homem que
governou entre 2017 e 2021 desmente tudo, mas isso não trava as manifestações à porta
dos tribunais que julgam os vários casos em que está envolvido. FOTO SARAH YENESEL/EPA
PCP pronto a reforçar direção
Comunistas querem
“mais protagonistas
e construtores do
partido” após reunião
extraordinária entre
congressos
O PCP está disposto a reforçar
as “estruturas de direção”, no-
meadamente ao nível da “di-
reção central” nacional e assu-
me a necessidade de “colocar
nas mãos de mais militantes
a responsabilidade de serem
protagonistas e construtores
do partido”. Os comunistas não
Insetos
Eles governam o
mundo, mas estão
a desaparecer P20
sobretudo o meio académico
a estudar, uma comissão téc-
nica a decidir e considera que
um ano é viável para acabar o
processo.
Foi há 15 anos que o LNEC
fez, a pedido de Mário Lino,
ministro das Obras Públicas
de José Sócrates, uma análise
técnica comparativa entre as
localizações Alcochete e Ota,
no concelho de Alenquer. Feito
o estudo, a decisão política re-
caiu, em 2008, sobre Alcochete.
Ficou decidido que as obras ar-
rancariam em 2010 e que o ae-
roporto ficaria pronto em 2017,
quando estivesse operacional a
Portela seria desmantelada.
Na carta que enviou ao pri-
meiro-ministro e que tornou
pública na quarta-feira, Luís
Montenegro falava em várias
opções de localização. Apesar
de falar em Montijo e Alcoche-
te na carta, são três as princi-
pais opções: Montijo + Portela
ou Portela + Montijo, um prin-
cipal e outro complementar,
e a opção de Alcochete. Mas
também referia “qualquer ou-
tra localização”, o que inclui a
possibilidade de Santarém que
tem vindo a ser colocada em
cima da mesa por um grupo de
investidores privados.
“Não podemos é voltar a abrir
a caixa de Pandora, fazendo
20”, diz ao Expresso uma fonte
social-democrata, admitindo,
OTA OU
ALCOCHETE? COMO
ANDÁMOS 15 ANOS
PARA TRÁS
EXPRESSO.PT
falam em mudança de secretá-
rio-geral, mas deixam um forte
sinal de que poderá haver novi-
dades na estrutura de liderança
do partido, antes do congresso
previsto para os finais de 2024.
Estes objetivos abrem a por-
ta, por exemplo, à nomeação
de um secretário-geral-adjun-
to, que apoiará Jerónimo de
Sousa na condução do partido,
um modelo já ensaiado na tran-
sição da liderança de Álvaro
Cunhal para as mãos de Car-
los Carvalhas. A ideia de que
é preciso um “reforço das es-
(
Canábis
Ferraz da Costa
desenvolve novos
medicamentos E13
contudo, que o Governo ou a
equipa técnica incluam outras
opções no estudo, desde que
por razões fundamentadas e
tecnicamente aceitáveis
Sobre a reunião marcada
para esta sexta-feira, Luís
Montenegro convocou Miguel
Pinto Luz para estar presente
e António Costa também cha-
mou Pedro Nuno Santos para
assinar o acordo. As reuniões
têm sido só entre o líder do PSD
e o primeiro-ministro, que já
tinha dito que o ministro das
Infraestruturas seria incluído
quando chegassem a acordo e
fosse preciso executá-lo. Antó-
nio Costa quer obrigar o PSD a
aparecer na fotografia e a fazer
um acordo, enquanto o PSD
insiste em dizer que as linhas
vermelhas estão traçadas, o
resto cabe ao Governo decidir.
Um assunto que tem estado
fora destas negociações é a
questão do parecer vinculati-
vo dos municípios na área de
influência do aeroporto. Cos-
ta e Rui Rio tinham chegado
a um acordo para acabar com
o carácter vinculativo do pa-
recer, mas depois o então líder
do PSD recuou e impôs como
condição voltar-se a estudar vá-
rias localizações. Este assunto
deixou de ser relevante porque
o PS agora tem maioria abso-
luta e pode mudar a lei, mas
o Expresso sabe que o atual
líder do PSD entende que os
municípios não devem ter esse
poder vinculativo: devem dar
pareceres que devem ser tidos
em conta, agora não pode é ser
um poder absoluto.
truturas” dirigentes consta do
projeto de resolução que esta
semana foi submetido à discus-
são interna e que pretende ser a
base da nova estratégia a seguir
pelo PCP. A conclusão deste
processo de reorientação estra-
tégica só termina em novem-
bro, na conferência nacional
marcada pelo Comité Central
como forma de fazer face ao
novo quadro político saído das
legislativas, que deu maioria
absoluta ao PS e fez cair para
metade o número de deputados
da bancada do PCP.
Últimas
IRS O Governo quer criar um
mecanismo de ajustamento das
taxas de IRS a todos os que te-
nham aumentos salariais, no
âmbito do acordo de médio
prazo de rendimento e com-
petitividade que está a ser ne-
gociado na Concertação Social.
Casas O índice de preços da
habitação em Portugal cresceu
13,2% no segundo trimestre
do ano face ao mesmo período
de 2021, acelerando assim 0,3
pontos percentuais face ao tri-
mestre anterior.
Serralves A Festa do Outono
regressa à Fundação de Ser-
ralves este fim de semana, no
Porto, depois de dois anos de
suspensão devido à covid-19.
Traz espetáculos de novo cir-
co, concertos, teatro, cinema
e dezenas de oficinas e ateliês.
Sem-abrigo A PSP está a in-
vestigar a agressão a um sem-
-abrigo no Porto. O homem so-
freu queimaduras nas costas
e nas mãos e foi transportado
para o Hospital de São João.
Jeffrey Sachs Um dos mais
conceituados economistas li-
berais norte-americanos da
atualidade participa, segunda-
-feira, na cimeira Digital With
Purpose em Lisboa, uma pla-
taforma para líderes mundiais
debaterem formas de acelerar
a inovação digital.
Europa mais forte Como
fortalecer a UE nas novas tec-
nologias? Como financiar a
inovação? São as perguntas que
lançam a conferência promo-
vida pelo Banco Europeu de
Investimento em Lisboa e que
terá lugar no ISEG. Registe-se
no site do Expresso para o ar-
ranque esta sexta-feira, às 15h.
A fechar, o Presidente da Repú-
blica, Marcelo Rebelo de Sousa.
Espanha vai respeitar cau-
dais Espanha vai respeitar a
passagem de água dos rios
para Portugal e respeitar os
caudais acordados bilateral-
mente. O acordo prevê o envio
de cerca de 870 hectómetros
cúbicos de água armazenada
nas albufeiras espanholas da
bacia do Douro.
Irlanda do Norte Pela pri-
meira vez há mais católicos do
que protestantes na Irlanda
do Norte. Dos 1,9 milhões de
habitantes do território, 45,7%
dizem-se católicos e 43,5% pro-
testantes.
Ve n ce d o r d o s o r t e i o
Yamaha O leitor José Miran-
da, de Viana do Castelo, foi
o vencedor do nosso sorteio
Expresso Yamaha XSR, e vai
receber uma Yamaha XSR125,
calças, blusão e t-shirt da mar-
ca, e ainda umas luvas.
TEMPO FIM DE SEMANA
SEXTA SÁBADO
Bragança 26° 12° 23° 10°
Porto 21° 16° 22° 13°
Guarda 22° 12° 21° 10°
Sexta-feira
23 de setembro Lisboa 27° 15° 23° 17°
de 2022
23
Évora 31° 12° 27° 15°
Faro 26° 17° 26° 17°
P. Delgada 26° 21° 26° 19°
09
Funchal 26° 21° 27° 22°
MARÉS SEXTA SÁBADO
Baixa Alta Baixa Alta
Porto 08:20 14:32 08:52 15:04
Lisboa 08:18 14:45 08:52 15:19
Faro 07:50 14:09 08:21 14:44
#2604
expresso.pt FONTES: IPMA E INSTITUTO HIDROGRÁFICO
Cinzento “Tudo é encontrar
qualquer coisa. Mesmo perder
é achar o estado de ter essa coi-
sa perdida”, escreveu Pessoa.
Nuvens e talvez chuva.
 PUBLICIDADE

COMO FUNCIONA O SISTEMA DE GESTÃO

DE EMBALAGENS EM PORTUGAL?
CONSUMIDOR
UTILIZAÇÃO

Produtos embalados
EMBALAGENS
FINAL DE VIDA ECOPONTO AMARELO
ECOPONTO VERDE
ECOPONTO AZUL
SEPARAÇÃO
Embalagens de papel
e cartão, embalagens
de plástico, metal,
e embalagens de
FOTO FREEPIK

FOTO FREEPIK
cartão compósitas,
embalagens de vidro

FABRICO DE NOVOS
PRODUTOS/EMBALAGENS

RECICLADORES ENTIDADES
MATERIAIS RECICLADOS QUE PODEM VOLTAR
QUE GEREM
A SER USADOS COMO MATÉRIAS-PRIMAS O SISTEMA DE
RECICLAGENS MUNICÍPIOS/SISTEMAS MUNICIPAIS
DE RECOLHA SELETIVA
TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DE EMBALAGENS
EMBALAGENS

TRIAGEM

Separação dos diferentes

tipos de plástico, do
metal – aço e alumínio,
embalagens de
cartão compósitas, e
do papel e cartão

ELECTRÃO E NOVO VERDE – ENTIDADES

GESTORAS DO SISTEMA DE GESTÃO
DE RESÍDUOS DE EMBALAGENS
O Electrão – Associação de
Gestão de Resíduos e a Novo
Verde – Sociedade Gestora
de Resíduos de Embalagens
são duas das entidades
responsáveis pela gestão
de embalagens usadas em
Portugal.
São licenciadas pelo Estado
português e são responsáveis,
em conjunto com municípios,
sistemas municipais e
recicladores, por assegurar
o correto funcionamento
do sistema, com a recolha,
triagem e reciclagem dos
resíduos de embalagens.
O sistema de reciclagem tem
como objetivo a redução
do impacte ambiental que
estes resíduos provocam no
ambiente, em especial nos
ecossistemas marinhos, e o
aumento da recuperação dos
materiais que os constituem.
Como promotores da
transição para uma economia
circular, que assenta em
pilares como a redução do
consumo, a reutilização e
a reciclagem, têm ainda
como missão sensibilizar
o consumidor para que
este adote hábitos mais
sustentáveis e para que separe
as suas embalagens usadas
e as encaminhe corretamente
para os ecopontos amarelo,
azul e verde. Sensibilizar e
comunicar para reciclar é
por isso um dos pilares da
atividade destas entidades.
É necessário que todos
percebam a importância dos
seus atos, que percebam qual
o contributo individual para
que o sistema de reciclagem
de embalagens funcione e
que percebam ainda que a
sustentabilidade da vida e do
planeta depende de todos.
As campanhas de
comunicação e recolha
promovidas pelas duas
entidades apostam na
consciencialização de todos
para o problema ambiental
que se vive atualmente, com
o planeta a atingir o ponto
de não retorno em 2035, ao
mesmo tempo que incentivam
o público a separar e a reciclar
e os envolvem em ações
de limpeza e proteção do
ambiente.
São exemplos destas
campanhas:
“Reciclar a Valer +”, uma
iniciativa da Câmara
Municipal de Mafra em
parceria com o Electrão e a
Novo Verde.
“Transformar, uma iniciativa
Lidl e Electrão.”
“Campanha de sensibilização
a alunos do primeiro ciclo,
com limpeza de praia
levada a cabo pelas crianças
– Iniciativa Pingo Doce,
com apoio Novo Verde.”

Porque proteger o planeta depende

de todos, contamos consigo!
 PUBLICIDADE

Mas também são responsáveis pela reciclagem:

Os MUNICÍPIOS E OS SISTEMA MUNICIPAIS que

recolhem as embalagens em todo o país.

Os RECICLADORES que tratam e reciclam as embalagens,

recuperando os materiais que as constituem para
que possam ser usados como matérias-primas na
fabricação de novos produtos e embalagens.

As ENTIDADES que gerem o sistema e que asseguram o

seu funcionamento, desde a recolha até à reciclagem.

Temos ainda um caminho a percorrer e o seu papel é fundamental.

ESTÁ NAS SUAS MÃOS SEPARAR E RECICLAR.

PRECISAMOS DE SI PARA
CONTINUAR ESTE TRABALHO.

TEM UM VALOR NAS SUAS MÃOS!