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03/12/13 História da Guitarra e do Alaúde

GUITARRA E ALAÚDE: Uma história de evoluções e


estagnações...
Da Pré-história até o Renascimento

INTRODUÇÃO
No presente trabalho, nosso objetivo principal é o de fazer uma
comparação entre a evolução da guitarra e do alaúde até o período histórico do
Renascimento. Traçaremos também, um paralelo entre as formas da guitarra e do
alaúde e as formas de expressão na arquitetura neste mesmo período histórico.

A guitarra é um instrumento que sofreu, ao longo dos séculos,


várias modificações em sua forma e sonoridade. O alaúde, entretanto, após um
período de transformações, estagnou-se e até hoje continua o mesmo instrumento.

Nossa hipótese é de que a guitarra, sendo um instrumento popular,


sobreviveu às vicissitudes da história, enquanto que o alaúde, um instrumento de
elite, não conseguiu expandir-se e, portanto fixar um gosto popular.

Começaremos fazendo um histórico do nascimento e do


desenvolvimento desses dois instrumentos até o Renascimento. Em seguida, falaremos
um pouco da história do Renascimento. Mais adiante, esboçaremos algumas
comparações entre as edificações arquitetônicas das diferentes épocas abordadas.
Na conclusão do trabalho, traçaremos um paralelo entre as formas arquitetônicas
destas épocas e as formas de construção dos dois instrumentos. Levantaremos
algumas hipóteses para explicar os motivos históricos da estagnação da evolução do
alaúde e da continuidade de evolução e de desenvolvimento da guitarra.

A HISTÓRIA DA GUITARRA
Antes de começarmos a tratar do assunto propriamente dito, faremos
uma breve premissa histórica. O nome violão é usado exclusivamente no Brasil para
identificar o instrumento que no resto do mundo é conhecido como guitarra.
Portanto, por uma questão de universalidade, usaremos o termo guitarra em
substituição, toda vez que nos referirmos ao objeto da nossa pesquisa. Queremos
frisar ainda que a história dos instrumentos de cordas, da Antig¸idade ao
Renascimento é bastante complexa. Muitos estudiosos pesquisaram o assunto durante
anos, mas ainda estão muito longe de uma conclusão definitiva.

Existem algumas peculiaridades acerca da denominação da guitarra.


Durante o fim da Idade Média e o início da Renascença, o termo guittern designava
vários instrumentos do tipo guitarra. Este mesmo termo é encontrado em várias
fontes medievais e renascentistas e parece dizer respeito à formas precursoras da
guitarra. Outras designações ñ como guitarra mourisca e guitarra latina ñ aparecem
em outras referências desde o séc. XIV. Em relação à atual, a guitarra
renascentista era menor e mais estreita, e a curvatura das ilhargas muito menos
acentuada.

De acordo com algumas fontes, a história do instrumento começou há


quase dois mil anos antes de Cristo. Na antiga Babilônia arqueologistas
encontraram placas de barro com representações de figuras humanas tocando
instrumentos musicais ñ muitos deles parecidos com a guitarra atual. Estas placas
datam de 1900 e 1800 a.C. e nos mostram um instrumento de fundo achatado. Um exame
mais detalhado nos revela que há diferenças significativas em relação ao alaúde de
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fundo côncavo. Nos desenhos das placas, podemos notar que as cordas são pulsadas
pela mão direita, mas o número de cordas não é preciso. Em algumas placas pelo
menos duas cordas são visíveis. Indícios de instrumentos similares à guitarra
foram encontrados em cidades como Assíria, Susa e Luristan.

Também foi possível encontrar documentações antigas sobre a


cítara: sabe-se da existência de uma kuitra dos caldeus, de uma kinnura dos
judeus, e de uma chetarah dos assírios, por volta do segundo milênio antes de
Cristo. E é provável que estes instrumentos tenham derivado de um antepassado
comum, cujo nome significava, é quase certo, "três cordas", como o atual termo
persa si-tar.

No Egito o instrumento de cordas pulsadas era a harpa de formato


côncavo a qual foi acrescentado um braço de madeira com trastes cuidadosamente
marcados e cordas feitas de tripa animal. Pouco tempo depois estas características
se combinariam e evoluíram para um instrumento ainda mais próximo da guitarra.
Consta também a existência de um outro instrumento no Egito denominado de nefer.
Recentemente, foi encontrado um exemplar desse instrumento pertencente a época
copta (séculos VIII-IV a.C.), que representa, talvez, o mais antigo protótipo da
guitarra. Este já era formado por duas tábuas planas, uma inferior e outra
superior, ligadas por faixas ligeiramente côncavas.

Já na Roma antiga um outro instrumento totalmente de madeira


surgiu (30 a.C.- 400 d.C.). O tampo que antes era de couro cru (semelhante ao
banjo) agora é de madeira e possui cinco buracos. Š importante frisar que nas
catacumbas egípcias foram encontrados instrumentos com leves curvos
características da guitarra.

O primeiro instrumento de cordas europeu, de origem medieval data


de 300 anos d.C., e possuía um corpo arredondado que se interligava com um braço
de comprimento considerável. Este tipo de instrumento foi utilizado por muitos
anos e foi, provavelmente, o antepassado da tiorba. Há também a descrição de outro
instrumento datado da Dinastia Carolingian que pode ser de origem tanto alemã como
francesa. Este instrumento possuía formato retangular e seu corpo era equivalente
ao seu braço. Nas ilustrações disponíveis, pode-se observar que na mão do
instrumento ñ de formato arredondado ñ encontravam-se de quatro e de até mesmo
cinco tarraxas de afinação, com um número de cordas equivalente. Este instrumento
manteve seu formato e suas definições até o século XIV.

Paralelamente a este instrumento, outro começou a se desenvolver.


Possuía leve curva nas laterais do corpo tornando-o mais anatômico e confortável.
Descrições deste instrumento foram encontradas em catedrais inglesas, espanholas e
francesas datadas do fim do século XIV. Surgia então a guitarra.

Š importante frisar que haviam distinções entre os vários tipos de


guitarras. A guitarra latina e a guitarra mourisca eram dois exemplos destas
diferenças. A guitarra mourisca, como o nome indica, tinha origem moura, devido à
colonização da Espanha e da África do Norte. Este instrumento possuía um corpo
oval e o tampo possuía vários furos ornamentados chamados de rosetas. Š
considerada um remanescente do alaúde, e dentro deste conceito uma série de outros
modelos, com diferentes números de cordas também existiam.

Já a guitarra latina, possuía as curvas nas laterais do corpo que


marcariam o desenho já quase definitivo do instrumento. A guitarra latina ñ assim
como a mourisca ñ gozavam de grande popularidade e gosto na Europa Medieval. Essa
popularidade se devia principalmente à presença dos Trovadores, músicos de
natureza nômade que com suas performances e constantes viagens enriqueceram a
cultura européia e impulsionaram a popularidade e reconhecimento do instrumento.

Até a Idade Média as informações sobre a guitarra eram obtidas de


maneira indireta na sua maioria, através de afrescos, pinturas e pequenas
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anotações da época. A partir do período Barroco, as informações sobre instrumentos
em geral e sobre música são muito mais claras e precisas.

No século XVI, a guitarra era denominada de três maneiras: Vihuela


na Espanha, Rizzio Gitarre na França e Guitarra Batente na Itália. A Vihuela era
apenas uma guitarra de dimensžes maiores e possuía seis cordas duplas feitas de
tripa animal.

O primeiro Vihuelista a ter seus trabalhos publicados foi o


Espanhol Luis Milan, nascido em 1500. Em 1535 ele publicou um manual de música
para Vihuela de mano intitulado de "El Maestro". Este foi seu trabalho mais
importante.

Somente um exemplar da Vihuela chegou aos nossos tempos, e data de


1700 aproximadamente. Este instrumento representa a Vihuela em seu estágio final
de desenvolvimento. Os trastes são de metal, as curvas na lateral são bastante
pronunciadas e o buraco do tampo é oval. A popularidade do instrumento é evidente
pela quantidade de música que lhe foi escrita e que ainda é encontrada. A música
para vihuela em grande parte foi escrita em tablatura. Este sistema consiste de
seis linhas que representam cada corda do instrumento, e onde em cada linha são
colocados números indicando o traste onde a nota deve ser tocada. Este sistema
ainda é usado até hoje.

Luis Milan foi o primeiro e o mais importante compositor a


publicar suas obras para o instrumento. Depois dele, outros surgiram em igual
importância e peso. Luis de Narvaés em 1538 e Alonso Mudarra em 1546 publicaram
seus trabalhos. Estas publicações são o auge da Vihuela na Renascença.

Outro instrumento que já se encontrava na Europa, mas que durante


a Renascença e o período Barroco não era tão utilizado, foi a guitarra egípcia,
que variava seu número de cordas: de 3, 4 e 5 cordas. A guitarra de cinco cordas
era mais comum na Europa da pós idade-média.

Durante o século XV o termo guitarra (chitarra na Itália e gitarre


na França) se referia a um instrumento de fundo ovalado que depois se
desenvolveria no bandolim. Somente mais tarde, estes instrumentos seriam usados e
considerados como integrantes da família da guitarra atual.

Em sua maioria, a guitarra possuía cordas duplas na Europa


medieval e barroca. As afinações costumavam variar, sendo que na maior parte da
Europa se utilizava a afinação G,C,E,A. Na Espanha haviam duas afinações de
importância relevante. A primeira era G,D, F#,B utilizada mais em música antiga do
que no repertório atual do instrumento. A segunda era idêntica à afinação das
quatro cordas mais agudas do violão atual.

As primeiras publicações a conter transcrições para guitarra de


quatro ordens (uma ordem é um par de cordas tocadas juntas, ou uma única corda)
foram às publicações de Alonso Mudarra, que incluíam quatro Fantasias, uma Pavana
e a Romanesca "Guardame las Vacas". A segunda publicação a conter trabalhos para
guitarra foi o livro de Miguel de Fuenllana Orphelina Lyra, e o terceiro foi o
livro de Juan Carlos Arnat "La guitarra Espanhola y Vandola de Cinco ordenes" que
data de 1586.

Enquanto estes trabalhos eram publicados, a popularidade da


guitarra crescia na França e Itália. Na Itália outra publicação foi editada e se
chamava "Libro di tablatura di chitarra", de Paolo Virchi. O número de publicações
de guitarra crescia paralelamente ao número de guitarristas.

Na França surgiram também publicações de guitarra, em 1551. A


partir deste ano até 1555 cinco publicações foram editadas em Paris por Adrian Le
Roy e Robert Ballard. Estes livros contêm, fantasias e danças como Branles e
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Galhardas, música para voz e violão, e chansons. As composições vinham de vários
autores, o que prova que uma verdadeira escola de guitarra existia na França do
século XVI. Na França dois nomes merecem destaque, Michael Janusch e Michael
Mulich.

Provavelmente existiu um número considerável de guitarristas que


infelizmente permanecerão anônimos, por que sua música nunca atingiu os meios de
impressão que na época eram controlados pela igreja.

A guitarra italiana possuía uma derivada chamada de guitarra


batente. O mesmo sendo observado na França com a Rizzio guitar. Na Espanha o
trabalho mais abrangente em torno da guitarra foi publicado em 1586 em Barcelona.
Escrito por Juan Carlos Amat, contém novos métodos de como tocar a guitarra de
cinco cordas, e várias composições para o instrumento.

Concluindo, a guitarra de cinco cordas foi uma evolução natural da


guitarra de quatro cordas. A afinação da guitarra de cinco cordas era A-D-G-B-E,
exatamente como o violão moderno. Desta maneira a guitarra de cinco cordas
desenvolveu-se e assumiu o posto de principal instrumento de cordas beliscadas.

A HISTÓRIA DO ALAÚDE
O alaúde foi tocado na Europa por mais de 500 anos e, por algum
tempo, foi o instrumento mais importante na cultura européia.

O antecessor do alaúde é o ud (ou oud), um instrumento de origem


no norte da África e no Oriente Médio. Já na Grécia, o alaúde era conhecido como
pandura, e havia sido importado da Ásia ocidental. O ud lembra o alaúde europeu e
tem quatro pares de cordas que são tocadas com a palheta. Tem diferenças claras na
forma dos dois e no ud, temos a presença de mais de uma rosa. In Arábico "al ud"
significa "a madeira" e as palavras "al ud" tem dado origem a nossa palavra atual
alaúde. Já no mundo romano, o alaúde era chamado fidicula (pequena corda), outro
nome que daria origem a muitos descendentes: fidula, vitula, vihuela, viola,
violino, etc. O ud existiu por mais de mil anos e em alguns lugares é tocado ainda
hoje.

Devido às invasžes orientais e posteriormente ao comércio


desenfreado com estes mesmos países no Mediterrâneo, o ud ficou conhecido na
Europa antes do ano 1000 d.C. Assim, o ud foi se adaptando às novas necessidades
locais e como as pinturas desta mesma época mostram, no século XV, os instrumentos
se transformaram definitivamente em alaúdes, com cinco ordens tocadas com palheta
ou posteriormente, com os dedos.

Nenhum alaúde desta época sobreviveu até os dias atuais, mas


existe um interessante manuscrito datado de 1450 que descreve a técnica de
construção do alaúde (o manuscrito de Arnault). Na Europa, o tamanho, a forma, o
encordoamento e afinação do alaúde continuariam a evoluir na medida em que os
estilos musicais mudariam e a nova tecnologia se tornaria disponível.

O alaúde da metade do Renascimento (1500-1580) tem seis cursos,


sendo muitas vezes a corda superior sozinha. O uso da palheta facilitava a
execução de linhas melódicas agudas. Este estilo pode ser ouvido bem no jeito
moderno de tocar alaúde. O estilo típico do Renascimento moderno, de tocar mais de
uma linha melódica simultaneamente (polifonia e/ou contraponto) não se encaixou
facilmente com a técnica de palheta do instrumento. A solução encontrada foi o uso
dos dedos da mão direita num estilo tipicamente dedilhado. Contemporaneamente,
apareceu também uma forma de notação musical para o alaúde, conhecida como
tablatura, que mostrava a posição dos dedos na escala do instrumento como
referencia visual. Este mesmo século viu o inicio das publicações de música para

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alaúde em livros e partituras sendo impressas em toda a Europa.

O fim do Renascimento (1580-1620) é um momento particularmente


interessante para o alaúde, pois este se estabeleceu como instrumento oficial na
corte e era estudado por muitos prósperos cidadãos. Como podemos ler no site
Historia da Arte:

"O aperfeiçoamento dos instrumentos, as exigências litúrgicas


e o surgimento de um mercado formado pela nobreza feudal e
pela burguesia mercantil das cidades determinaram a expansão
da polifonia, com importantes contribuições de Machaut, Du Fay
e Palestrina"

O estudante de alaúde tinha que ser suficientemente talentoso para


aprender este difícil instrumento, que vinha a ser cada vez mais usado além de
instrumento de acompanhamento para cantores, como instrumento solista em pequenos
conjuntos. John Dowland, talvez o mais virtuoso instrumentista da sua época, tocou
e publicou muita música na Inglaterra desta época. Muitas cidades da Europa
começaram a oferecer workshops da fabricação do alaúde e muitos luthiers fizeram
fortuna com a confecção deste instrumento.

A silhueta do corpo do alaúde no final da Renascença não era tão


alongada quanto o eram os alaúdes mais antigos. O número de tiras utilizadas para
a elaboração do corpo aumentou primeiramente de treze para quinze, depois vinte e
cinco, mais tarde trinta e ocasionalmente ultrapassava cinq¸enta. Alguns
instrumentos deste período sobreviveram e alguns destes são peculiarmente
elaborados.

Existia uma variedade muito grande de alaúdes no tocante ao


tamanho e forma. O tamanho mais comum era freq¸entemente denominado de mean lute.
Instrumentos mais agudos eram conhecidos como treble lutes, enquanto que os mais
graves eram chamados de bass lutes.

Por aproximadamente quinhentos anos, o alaúde foi tocado em todas


as cidades da Europa. Era considerado o mais respeitado de todos os instrumentos.
Na história da música ocidental, não se tem notícia de um outro instrumento que o
superou em posição e longevidade.

As razžes para o declínio do alaúde não são fáceis de serem


precisadas. Os músicos profissionais de alaúde que se aposentaram à época de
Mozart e Haydn não foram substituídos.O que sobreviveu em quantidade e em
qualidade, foi propriamente a música.

UM POUCO DE HISTÓRIA DO RENASCIMENTO


A Itália já possuía uma vigorosa tradição cultural e artística,
herança da cultura greco-romana. Posteriormente recebeu também uma forte
influência das civilizações bizantina e árabe, devido à proximidade geográfica. No
final da Idade Média, acompanhando o desenvolvimento econômico, social e político
de suas cidades, surgiu no país um grupo de intelectuais interessado em renovar os
estudos ministrados nas universidades medievais que privilegiavam a teologia, o
direito e a medicina. Essa elite de pensadores desejava um conhecimento voltado
também para a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a música. Os estudos
humanísticos tornavam indispensável à aprendizagem do grego e do latim para uma
leitura direta dos textos dos autores da Antiguidade greco-romana, sem a
interferência da teologia cristã, dominante durante a Idade Média.

A filosofia humanista deu origem a um homem de mentalidade


renovada que tinha como principais virtudes à coragem, a eficiência, a

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inteligência e o talento para acumular riquezas, elemento este inteiramente de
acordo com a ordem econômica introduzida pela burguesia.

0 Humanismo combateu a ordem e a hierarquia do mundo medieval, no


qual, o papel do homem era sempre determinado pela Igreja. Sua nova perspectiva
trouxe o interesse pela investigação da natureza e o culto a razão e a beleza
característicos da cultura greco-romana, criando as bases do Renascimento
artístico e científico dos séculos XV e XVI.

0 movimento renascentista foi a evolução das artes, sobretudo da


pintura, da escultura, da arquitetura, da literatura e da música com
características e propostas novas. Utilizando-se de temas cristãos ou da
Antiguidade greco-romana, a arte renascentista valorizou o homem como a medida de
todas as coisas.

As obras dos artistas retratavam a beleza, a harmonia e o


movimento do corpo humano, em perfeitas construções anatômicas. A técnica da
pintura desenvolveu-se rapidamente, pois os artistas precisavam retratar o
burguês, sua família e os objetos de luxo de sua residência com minúcias de
detalhes.

¿ música tornou-se uma arte independente e não simplesmente um


instrumento auxiliar das cerimônias religiosas.

Com as riquezas acumuladas com o comércio, a burguesia italiana


incentivava o embelezamento das cidades, com a construção de palácios, catedrais,
capelas, pontes e monumentos em praças públicas, patrocinando do o desenvolvimento
das artes em geral.

BREVE RESUMO HISTÓRICO DA ARTE GÓTICA (ARQUITETURA)


O século X encontra a Europa em crise. O poder real, enfraquecido,
foi substituído pelo feudalismo. Invasžes ameaçam a França. Desprotegido, o povo
se organiza em torno dos castelos feudais, únicas - e precárias - fortalezas. A
tensão popular contribui para que se espalhe a crença propagada pela Igreja de que
se aproxima o juízo final: o mundo vai acabar no ano 1000. A arte românica,
expressão estética do feudalismo, reflete o medo do povo. Esculturas anunciam o
apocalipse, pinturas murais apavorantes retratam o pânico que invade não só a
França, mas toda a Europa Ocidental. Chega o ano 1000 e o mundo não acaba. Alguma
coisa precisa acontecer.

Surgem as primeiras Cruzadas. O feudalismo ainda permanece, mas


tudo indica que não poderá resistir por muito tempo. Novos pensadores fazem-se
ouvir, propagando suas idéias. Fundam-se as primeiras Universidades. Subitamente,
a literatura cresce em importância. Muitos europeus, até então confinados à vida
nas aldeias, passam a ter uma visão mais ampla do mundo. Profunda mudança social
está a caminho.

Verdadeiro trabalho de futuristas da época, o estilo gótico surge


pela primeira vez em 1127, na arquitetura da basílica de Saint-Denis, construída
na região de Ile-de-France, hoje Paris.

Graças ao apoio da burguesia e da classe trabalhadora, os reis


conseguem retomar sua autoridade. Enfraquecido, o poder feudal vai aos poucos
desaparecendo. A população passa a ter maior influência na vida pública nacional,
da qual tinha sido até então mera espectadora. Eufóricos diante da própria
importância, os habitantes de cada região sentem a necessidade de demonstrar sua
emancipação. A catedral será o símbolo de sua vitória. Aí se realizarão não apenas
os atos religiosos, mas as atividades comunitárias de todo o grupo: será a casa do

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povo. Não mais cheia de esculturas e desenhos tenebrosos, mas alta, imponente,
iluminada e suas torres pontiagudas atingindo as nuvens. Livre do medo do fim do
mundo, o povo é animado por novo sopro de fé. As paredes de seus templos devem
deixar entrar a luz do sol em múltiplas cores que lembrem a presença divina. Como
se lê no Historia da Civilização Ocidental:

Se algum significado espiritual a arquitetura gótica


tinha, era como símbolo de uma religião que passara
a reconhecer a importância desta vida.

Da necessidade de construir catedrais que correspondessem à


euforia e ao misticismo do povo, surgiu a arquitetura gótica. As primeiras foram
construídas na França, ao redor de onde se encontra hoje a cidade de Paris; foi
essa uma das primeiras regižes a eliminar o feudalismo.

Nobreza, clero e massa popular competiam em colaborar para a


construção das dispendiosas catedrais. Com a autoridade monárquica cada vez mais
assegurada, as antigas zonas feudais foram-se transformando e surgiram as
primeiras cidades: Noyon, Laon, Sens, Amiens, Reims, Beauvais, onde se encontram
as catedrais góticas mais belas do mundo.

O gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da


civilização na Europa e o fim do bárbaro obscurantismo medieval. A palavra gótico,
que faz referência aos godos ou povos bárbaros do norte, foi escolhida pelos
italianos do renascimento para descrever essas descomunais construções que, na sua
opinião, escapavam aos critérios bem proporcionados da arquitetura.

A construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e


desmaterialização das paredes, assim como pela especial distribuição da luz no
espaço. Tudo isso foi possível graças a duas das inovações arquitetônicas mais
importantes desse período: o arco em ponta, responsável pela elevação vertical do
edifício, e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de espaços quadrados,
curvos ou irregulares.

Os arcos de meia circunferência usados nas abóbadas das igrejas


românicas faziam com que todo o peso da construção fosse descarregado sobre as
paredes. Isso obrigava a um apoio lateral resistente: pilares maciços, paredes
mais espessas, poucas aberturas para fora. O espaço para as janelas era bem
reduzido e o interior da igreja escurecia. O espírito do povo pedia luz e
grandiosidade. Então como conseguí-las? O arco em meia circunferência foi
substituído por arcos cruzados. Isso dividiu o peso da abóbada central, fazendo
com que ele se descarregasse sobre vários pontos, simultaneamente, podendo ser
usado um material mais leve, tanto para a abóbada como para as bases de
sustentação. Em lugar dos sólidos pilares, finas colunetas passaram a receber o
peso da abóbada.

As paredes, perdendo sua importância como base de sustentação,


passam a ser feitas com um dos materiais mais frágeis de que se dispunha: o vidro.
Surge a desejada luminosidade. Grandes vitrais coloridos ilustram em desenhos
cenas da vida cristã. A magia dos vitrais góticos, que filtram a luz do sol, enche
a igreja de uma claridade mística que lembra a presença divina.

BREVE RESUMO HISTÓRICO DA ARTE RENASCENTISTA (ARQUITETURA)


O Renascimento iniciou-se na Itália, particularmente em Florença, e
foi precedido por uma fase de transição, que, pelos fins do século XIII, já ia
substituindo a arte gótica. Os principais traços do renascimento foram a imitação
das formas clássicas da antig¸idade greco-romana e a preocupação com a vida
profana, o humanismo e o indivíduo. Como se lê no Historia da Civilização

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Ocidental:

Não foram, porém, nem o estilo helênico nem o


gótico, mas o Romano e o românico que forneceram
inspiração à arquitetura da Renascença italiana.

O fiorentino Filippo Brunelleschi (1377-1446) foi quem apresentou a


nova concepção renascentista na arquitetura. Ele assimilara, durante longo tempo,
as formas clássicas e góticas e adaptara-as à sua época, edificando as igrejas do
Espírito Santo, de São Lourenço e a cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore,
em Florença. Contudo, não foi na época de Brunelleschi que a arquitetura
renascentista atingiu seu ponto culminante, foi um pouco mais tarde, na primeira
metade do século XVI. Também não foi em Florença, onde nascera, mas em Roma, que
atingiu a sua plenitude.

Em Roma, o arquiteto Bramante, cujo verdadeiro nome é Donato


D'Agnolo (1444-1514), criou um tipo todo original de abóbada para a Igreja de
Santa Maria das Graças, e ainda deu lições ao escultor, pintor e arquiteto
Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Vignola - como se chamava artisticamente
Giocomo Barocchio (1507-1573) - edificou a Igreja de Jesus, que, pelo movimento de
suas linhas e pela abundância de adornos, já prenunciava o barroco, estilo que
vigorou no século seguinte.

Embora o centro fosse Roma, a arquitetura renascentista não se


restringia à antiga cidade. Em Mântua, o arquiteto Leon Battista Alberti (1404-
1472), autor de uma tratado - De Re Aedificatoria (A Arte de Edificar), onde
define a beleza como harmonia e proporção.

No norte da Itália, Andrea Palladio (1518-1580) realizava um


trabalho tão importante e original que acabou influenciando a arquitetura inglesa
dos séculos XVII e XVIII.

Todos eles dedicavam-se, sobretudo, à edificação de construções


religiosas, das quais a mais ambiciosa é, sem dúvida, a Catedral de São Pedro, em
Roma. Foi iniciada por Bramante em 1506, continuada por Michelangelo, acrescentada
por Carlos Maderno (1556-1629) e adornada de colunas externas por Giovanni Lorenzo
Bernini (1598-1680).

As duas formas arquitetônicas (gótica e renascentista) conviveram


durante mais de duzentos anos. Se no princípio rivalizavam entre si, logo mais
passaram a completar-se. Os adornos, os elementos decorativos, a forma das colunas
góticas desapareceram, em favor da decoração renascentista. Contudo, muitas das
grandes obras renascentistas não poderiam ter surgido sem o conhecimento da
técnica do gótico.

CONCLUSˆO
Paralelo entre a formas da guitarra e do alaúde e as formas de
expressão na arquitetura dos estilos Gótico e Renascentista.

Como vimos, o arco ogival ou em ponta é típico do estilo gótico e


permitia sustentar abóbadas elevadas. O arco renascentista, ao contrário do arco
gótico, tinha a forma curvilínea, de pura inspiração romana clássica. Vejamos a
comparação em figuras:

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Nas abóbadas góticas, arcos ogivais encontram-se no alto e se


apóiam em colunas. Como se pode verificar pela foto do seu fundo, o alaúde tem
muito a ver com a forma gótica das abóbadas e dos arcos.

A abóbada renascentista tem a forma de um semicírculo formando um


teto liso ou ainda em quadros. A guitarra, por sua vez, lembra claramente os
desenhos renascentistas das abóbadas e dos arcos. Vejam as figuras acima.

Do meu ponto de vista, um dos motivos da interrupção da evolução


do alaúde foi artístico e estético. O desenho do alaúde era conforme o estilo
arquitetônico e artístico da sua época, o período gótico. Com a evolução natural
das artes e da estética, que acontece em todas as épocas, o alaúde iria ter que
sofrer sérias modificações para acompanhar este avanço. Como podemos verificar
pelas figuras acima, a diferença entre as formas básicas de construção das duas
épocas é radical. O alaúde iria perder claramente todas as suas características
principais: fundo côncavo, formato ogival da caixa de ressonância, formato
pontiagudo do cravelhame, etc.

A guitarra, cujo desenho arredondado lembrava bem as formas


arquitetônicas renascentistas, apareceu como solução do problema estético e
artístico que tinha sido criado pela mudança de estilo. E o que é melhor, ela já
tinha sido inventada. A guitarra já existia. Passou naquela época a ser o
instrumento da nova era renascentista. Naturalmente, a mudança de estilo artístico
arquitetônico do gótico para o renascentista não aconteceu em pouco tempo, e assim
também a troca de importância entre estes dois instrumentos.

O alaúde sofre um declínio e a guitarra sobrevive, se


desenvolvendo e acompanhando os passos da arquitetura renascentista e depois de
outras formas arquitetônicas e estéticas que virão.

Outros motivos históricos da diferença de desenvolvimento do alaúde e da guitarra.

De um outro ponto de vista, como falamos no capitulo "Um pouco de


história", a aristocracia ligada à igreja estava se fechando cada vez mais e
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estava conseq¸entemente perdendo popularidade em relação à expansão do povo e da
burguesia, musicalmente compostos de Trovadores. No Renascimento, a cultura
tornava a ser de domínio popular e público, depois de uma época de trevas em que a
igreja tinha tido poder absoluto sobre tudo. Na história dos dois instrumentos
aconteceu o mesmo, conforme podemos ler no site História da Guitarra:

"Na Espanha um fenômeno interessante ocorreu.


Enquanto o alaúde, instrumento de origem Moura e
corpo oval, emergia em toda Europa como instrumento
favorito da aristocracia, na Espanha este
instrumento estava intimamente ligado com a cultura
Moura e sua dominação opressiva. Entretanto a música
escrita para o instrumento era bastante apreciada. A
guitarra na época possuía apenas quatro cordas,
diferente da maioria dos alaúdes do período que
possuíam cinco ou mais. Então o corpo do instrumento
foi aumentado e uma corda foi adicionada e sua
afinação era a mesma da antiga guitarra com exceção
da terceira corda que era afinada meio tom abaixo".

E mais adiante:

"Na idade média a co-existência de instrumentos de


três, quatro e cinco cordas, era um fato. A guitarra
de quatro cordas tinha muita popularidade no século
quinze, porém no século dezesseis a guitarra de
cinco cordas assumiu posto de instrumento predileto
europeu. O primeiro indício de uma guitarra de cinco
cordas foi uma gravura Italiana datada do século
quinze. O instrumento representado é pelo menos
igual em tamanho em relação ao seu semelhante
moderno. A sua caixa sonora é um pouco maior que a
do violão moderno, e apresenta uma construção
refinada que chama a atenção, o que é característico
de instrumentos de luthiers italianos".

Portanto, como vemos a popularidade da guitarra ia crescendo como


a do alaúde, só que em lugares diferentes. Um se desenvolvia no ambiente
aristocrático enquanto que a outra se firmava no gosto popular. Em revolta a tanta
opressão por parte da Igreja e da aristocracia, o motivo do fim da evolução do
alaúde em favor da popularização da guitarra, seria a volta do poder intelectual
ao povo. A guitarra como instrumento popular, tornou-se o estandarte musical desta
revolução.

BIBLIOGRAFIA
LIVROS

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