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Resumo
Esse artigo apresenta uma breve análise focada em passagens da trajetória de Émile Rouède
no Brasil, especialmente durante o período em que esse esteve em Minas Gerais. Rouède foi
pintor, jornalista, nascido na França em 1848 e falecido na cidade de Santos (São Paulo, Brasil)
em 1908. Em Minas Gerais pintou vistas do antigo Curral Del Rei – demolido para a construção
de Belo Horizonte – e escreveu sobre o processo de mudança da capital do estado. Foi
entusiasta da República e da abolição da escravidão. Sua trajetória complexa e sua formação
plural são congruentes com um indivíduo que transitou entre especialidades e meios técnicos
aparentemente distantes. As fontes utilizadas foram os fragmentos da sua produção cultural no
referido período.
Palavras-chave
Émile Rouède. Minas Gerais. Curral Del Rei. Ouro Preto. Belas Artes.
Abstract
This article presents a brief analysis focused on the trajectory of Émile Rouède in Brazi,
especially during the period in which he was in Minas Gerais. Rouède was a painter, journalist,
born in France in 1848 and died in the city of Santos (São Paulo, Brazil) in 1908. In Minas
Gerais he painted views of the old Curral d'El Rey - demolished for the construction of Belo
Horizonte - and wrote about the process of changing the state capital. He was enthusiastic
about the Republic and the abolition of slavery. His complex trajectory and plural formation are
congruent with an individual who has passed between specialties and technical means
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apparently distant. The sources used were the fragments of its cultural production in that
period.
Keywords
Émile Rouède. Minas Gerais. Curral Del Rei. Ouro Preto. Fine Arts.
Émile Rouède1 - ou Emílio Rouede, como ficou conhecido no Brasil - nasceu na cidade
de Avignon, França, em 1848, mas viveu parte de sua juventude na Espanha, chegando a
integrar a Real Marinha Espanhola por um breve período. Considerando os levantamentos
biográficos realizados sobre Rouède pode se supor que provavelmente foi nessa época em que
ele aprendeu a pintar, já que podemos observar, desde então, uma predileção pelas paisagens
marítimas que foi perpetuada nos trabalhos posteriores.
Transitou entre continentes; conheceu cidades; apaixonou-se pelo mar e se encantou
por Ouro Preto: cidade que passava por um momento tanto de empobrecimento econômico,
como de perda de status em vistas do processo de transferência da capital de Minas Gerais
para outra localidade. Rouède, de certa forma, representou uma imagem incógnita do homem
moderno. Tal associação pode ser feita por esse ter sido um indivíduo que circulou pelo
continente europeu, sustentou diversas qualidades cívicas e artísticas, que viveu o processo de
racionalização da vida, sentiu ter rompido com o passado e se posicionou criticamente quanto
a transição para um futuro próximo. Mas, por outro lado sua trajetória também justifica a
problematização da assertiva de que ser moderno é gostar do novo, do linear, vertical e
monumental; características valoradas na última metade do século XIX, sobretudo na
produção dos espaços urbanos.
Sua chegada ao Brasil aconteceu no ano de 1880, quando as transformações na
sensibilidade política, cultural e sobretudo artística se intensificaram no, até então, Império.
Em especial os campos que envolvem as artes plásticas e a literatura estavam passando por
um intenso processo de ressignificação em suas relações com a construção da ideia de nação.
Durante os anos que antecederam a proclamação da República (1889), a abolição do trabalho
escravo (1888) foi um dos temas centrais nos debates, assim como o reconhecimento dos
direitos e deveres do cidadão, além da estruturação da identidade nacional e da afirmação
cultural frente ao mundo globalizado no século XIX. O Brasil, para o Artista, parecia consolidar-
se como local da construção de expectativas em relação ao futuro próximo, um ambiente em
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Ao longo desse artigo manteve-se a grafia original do nome em Francês.
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Figura 2 - Navio negreiro fugindo do navio de guerra brasileiro. Croqui feito para o Catálogo Ilustrado de
Exposição Artística na Imperial Academia de Bellas Artes, organizado por L. de Wilde. 1884.
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O academicismo é um termo usado para identificar a arte brasileira baseada nos princípios das
academias de arte, entre essas a pioneira no Brasil foi a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios fundada
por Dom João VI, em 1818, seguida pela Academia Imperial de Belas Artes fundada em 1826,
transformada em Escola Nacional de Belas Artes com a transição para o republicanismo.
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nesse campo, principalmente pela exímia dominação da técnica, tanto para execução, como
para ensino.3
Embora muitas das peças expostas em 1884 foram perdidas, a nomeação completa de
um dos seus trabalhos merece destaque, pois indicou que o estrangeiro não estava alheio aos
principais debates políticos em pauta no Brasil pré-republicano: “Navio negreiro fugindo de um
navio de guerra brasileiro”. Na fuga atira ao mar sua ‘carga humana’: do navio brasileiro
descem escaleres de salvação. Tal obra marcou um posicionamento crítico em relação à
conjuntura nacional antes da aprovação da lei da abolição da escravatura (1888) que legitimou
o fim da escravidão no país. No contexto brasileiro da década de 1880 não eram disponíveis
navios de guerra brasileiros para perseguir navios negreiros, ainda que o interesse pelo fim da
escravidão não fosse um consenso entre as elites. Existiam grupos contrários ao fim da
escravidão que temiam, principalmente, prejuízos financeiros irreparáveis. O título da obra é
fruto da imaginação do pintor e não condiz com uma situação possível naquele momento, mas
destaca sua posição contrária à manutenção da escravidão ao representar um esforço de
salvação dos negros jogados ao mar.
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Segundo Ribeiro (1988), Aluísio Azevedo classifica Rouède como um homem de talento enciclopédico,
que “tem uma grande facilidade para aprender bem tudo o que deseja.”
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Segundo Giannetti (2009), “o pintor Emílio Rouède (1848-1908) e Olavo Bilac seguiram para Minas, no
final de 1893 - sendo que Rouède passaria a residir em Ouro Preto durante o ano de 1894, e Bilac
permaneceria por apenas alguns meses no estado. Formou-se um grupo significativo em torno do escritor
Afonso Arinos que os recebeu. Exercia grande influência o sertanejo Arinos, nesta época, reunindo ao seu
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Marechal Floriano Peixoto (1891-1894), Rouède encaminhou-se para Minas Gerais fugindo da
agressiva reacção da presidência aos seus opositores, e experimentou ali uma nova etapa em
sua vida.
Segundo Sylvio de Vasconcellos, nas duas últimas décadas do século XIX, constituiu-
se em Ouro Preto um grupo de pintores “já inteiramente desligados da tradição barroca, mas,
ao que parece, em dia com as últimas novidades europeias” (VASCONCELLOS, 1959, p. 94).
Dentre este grupo estavam: Honório Esteves, Belmiro de Almeida, Alberto Delpino, José
Jacinto das Neves, Homero Massena, entre outros. Alguns desses artistas estudaram na Corte,
na Academia Imperial de Belas Artes, como é o caso de Belmiro de Almeida, Alberto Delpino e
de Honório Esteves que inclusive recebera bolsa do governo mineiro para tanto. Segundo
Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, esse grupo de pintores reunidos em Ouro Preto introduziu
em Minas “o neoclassicismo acadêmico, cuja rigidez, diga-se de passagem, já se atenuara
bastante neste fim de século, sob o influxo de novas correntes, como o paisagismo ao ar livre
de Georg Grimm” (OLIVEIRA, 1982, p.155). A paisagem mineira se destacou como tema
predileto desses pintores que haviam “suplantando aos poucos o formalismo acadêmico [...],
chegariam a produzir, no gênero, obras de grande sensibilidade, refletindo a natureza e
luminosidade próprias da região mineira” (OLIVEIRA, 1982, p. 155). Esse grupo, no entanto,
logo se dispersou tendo em vista a existência de um público indiferente à época.
redor, em sua casa à rua Paraná, bom número de representativos artistas e intelectuais brasileiros, sendo
ali acolhidos aqueles que se viam em trânsito. Assim, conviveram, dentre outros: além dos já citados
Coelho Netto, Camarate, Bilac e Rouède - ainda, Raimundo Corrêa, Gastão da Cunha, Rodrigo de
Andrade, Aurélio Pires, Estevam Lobo, Henrique Câncio, Virgílio Cestari e Magalhães de Azeredo. ”
(GIANNETTI, 2009)
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pintor elaborou três obras denominadas “Vista do largo da Matriz de Nossa Senhora da Boa
Viagem de Belo Horizonte” (Figura 5), “Rua do Sabará” (Figura 6) e “Panorama do arraial de
Belo Horizonte, tomado do alto do morro do Cruzeiro” (Figura 7). Nesse momento,
prevaleciam sentimentos distintos em relação à construção de uma nova capital: um primeiro
relacionado ao temor pelo “fim” da cidade, com a falta de investimentos públicos e a perda da
sua relevância política, e um segundo, marcado pela excitação que acompanhou a crença na
criação de uma nova cidade como a invenção de um novo cidadão, superando o passado
colonial.
Figura 5 - Igreja da Boa Viagem (Curral del Rei). Óleo sobre tela, 80 x 110 cm.
Fonte: Acervo Museu Histórico Abílio Barreto (Belo Horizonte -MG)
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Figura 7 - O Cruzeiro (Panorama de Curral del Rei). Óleo sobre tela, 80 x 111 cm.
Fonte: Acervo Museu Histórico Abílio Barreto (Belo Horizonte -MG)
Rouède ainda teve contato com dois meios que travaram uma disputa, cada qual em
defesa de seus interesses particulares: os que defendiam a mudança da sede da capital e
aqueles que apoiavam a permanência da sede administrativa do governo do estado em Ouro
Preto. Ao mesmo tempo em que viu suas aplicações técnicas serem valorizadas no novo
empreendimento, Rouède também partilhou do incômodo sentido pelos ouro-pretanos, ao
perceber a cidade que o acolhera menosprezada nas transformações do território mineiro. Se
sua formação e seu trânsito, no final do século XIX, nos fazem imaginar a integração de todas
as características do homem moderno e cosmopolita em sua trajetória, a interpretação dos
escritos deixados por Rouède nos levam para outra direcão. Esse entrave aparente alerta
sobre quão arriscado é pensar que categorias como “moderno” possam determinar
completamente processos de transformações sociais e culturais, prescrevendo a experiência do
indivíduo e a complexidade da sua trajetória.
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Enquanto esteve em Ouro Preto, Rouède escreveu para o jornal Le Brésil Republicain,
periódico publicado no Rio de Janeiro em francês. Sua coluna, intitulada Correspondance de
Ouro Preto, que normalmente tratava da divulgação das artes, também apresentou o temor,
que parecia ser compartilhado coletivamente, quanto aos cuidados necessários para a
preservação da memória e do passado da antiga capital:
Alguém que, em melhores condições, queira dedicar seu tempo, sua atividade, e sua
inteligência a uma obra tão útil quanto agradável, deveria vir a Minas instalar seu
ateliê e seu centro de pesquisa no lugar dos tesouros. E aqui, tendo nas mãos os
documentos autênticos, cercado por belas construções dos séculos XVII [sic] e XVIII,
em meio a obras de arte originais, de móveis antigos, de armas históricas e de amigos
hospitaleiros, escrever um livro ao qual se poderia dar o título: Origem da arte na
região do ouro.
Aquele que realizar este trabalho prestaria um importante serviço a este belo país.
Ouso afirmar - e peço perdão por minha franqueza - que é tempo de se dedicar a esta
obra, porque os documentos de valor desaparecem, os monumentos históricos
ameaçam arruinar-se, esculturas admiráveis se perdem, quadros de mérito se
deterioram; e sobretudo porque a morte atinge diariamente velhinhos centenários,
cujos avós, chegados com as bandeiras paulistas trabalharam na construção das
primeiras igrejas, e por consequência assistiram à introdução da arte nestas
montanhas.
As narrativas destes netos dos primeiros habitantes civilizados desta parte do Brasil
esclareceriam as dúvidas e desvelariam os mistérios àquele que tomasse a decisão de
fazer este interessante histórico. [...]
A relação afetiva de Rouède com Ouro Preto surpreende pela maneira como, em seus
registros, ofusca o entusiasmo com a nova capital de Minas Gerais. Frequentemente é
esperado que um estrangeiro francês, culto, conhecedor das artes e das letras tivesse
posicionamento favorável ao maior experimento urbano do fim do século XIX no Brasil. A
historiografia sobre Minas Gerais é unânime ao afirmar que o estranhamento ocorrido a partir
da mudança da capital foi sintoma da consolidação de uma ruptura5, um fenômeno moderno, e
que o mal-estar em Ouro Preto seria consequência de um processo de modernização do
5
Destaco os trabalhos de Lemos (1988), Guimarães (1991) Monte-Mor (1994) e Salgueiro (1989, 1997 e
2000) que têm sido tomados como referência nos estudos sobre Belo Horizonte dentro dos estudos
urbanos.
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espaço, que acontecia no contexto brasileiro, sem considerar a antiga capital. Por que um
traçado linear, de referências aos grandes feitos e não aos grandes homens deixaria de cair
nas graças de um francês?
Não seria, então, conveniente aceitar que todo estrangeiro estaria adiantado na linha
teleológica do progresso, e que nos trópicos estariam todos atrasados? No século XIX,
enquanto os mineiros imaginavam o futuro, a noção de moderno, ou trabalhavam com os
anseios por atualizar uma sociedade urbana, tal movimento significaria menos uma ruptura
com o passado do que uma paradoxal relação com ele. 7 Era consenso que Minas Gerais
precisaria equiparar forças com os demais estados da federação, mas junto com as referencias
ao passado inconfidente, prevaleceu a lógica tradicional das relações de poder como
denunciado por Olavo Bilac, em registro de sua primeira visita à Capital, no artigo A coragem
de Minas.8
6
Alinho minhas reflexões às abordagens que privilegiam o entendimento do conhecimento relativo à
configuração do espaço como campo internacional, beneficiário da circulação de ideias, saberes e técnicas
em detrimento da importação de modelos. Ver : BRESCIANI, 1981, p. 10-15.
7
Le Goff (1996) aponta os equívocos e a complexidade da oposição “antigo/moderno”, indicando que
nem sempre um esteve em oposição ao outro, e que em alguns casos, as definições de “antigo” e
“tradicional”, “moderno” e “recente” tornam-se sinônimos. Outra observação importante é que o adjetivo
“moderno” foi introduzido pelo latim pós-clássico e significa literalmente “atual” (de modo = agora), e é
entre os séculos XIX e XX que a variação dos termos “modernização”, “modernismo” e “modernidade”
são abstraídos e incorporados ao pensamento urbano.
8
Olavo Bilac, em registro de sua primeira visita à Capital, no artigo A coragem de Minas, comentou o
conservadorismo dos mineiros e o amor às tradições, explicando a reputação de povo carrancudo: “Uma
cidade como Belo Horizonte, construída em nove anos, não é coisa que se veja comumente por esse
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Com a mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte, Émile Rouède evocava o
passado de riqueza daquelas velhas cidades, mas o avanço do progresso se obstruía,
ali, pelos terrenos demasiado acidentados. A cidade colonial, “mais fraca, foi vencida”.
“Eu adoro Ouro Preto, confessava o pintor francês, e peço perdão àqueles que não a
amam, ou que não a amam mais!” E continuava: “Tendo eu nascido com o amor pela
arte é natural que eu prefira os lugares pitorescos e acidentados, ao invés dos planos
e monótonos, que não inspiram nenhum sentimento artístico. E mais, esta cidade tem
uma tradição; lemos, em seus monumentos, a história do país ” (BRANDÃO, 2012, s/n)
velho mundo. Essa reputação de povo carranca atribuído ao povo mineiro vem do fato de ser ele, de todo
o Brasil, o povo que mais ama as suas tradições. Mas quem diz que o culto da tradição é incompatível
com o amor do progresso? O homem pode ansiar pelo futuro sem amaldiçoar ou desprezar o passado.
(...) Em Minas e no coração dos mineiros haverá sempre lugar para o passado e para o futuro. (...). ”
9
Aarão Leal de Carvalho Reis foi o primeiro chefe da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas
Gerais, Belo Horizonte, também foi um intelectual propagandista dos movimentos abolicionistas e
republicanos. Nasceu 1853 em Belém do Pará, e faleceu no Rio de Janeiro em 1936. Teve sua formação
como engenheiro, urbanista e professor na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, principal instituição
dedicada à instrução profissional e tecnológica durante o Império. Concluiu em 1872 o curso de
engenheiro geógrafo e, em 1874, o curso de engenheiro civil. Dirigiu a comissão técnica responsável pela
seleção do local onde seria instalada a nova capital de Minas em 1893. Participou de inúmeros outros
projetos, dentre eles a construção da Avenida Central no Rio de Janeiro.
10
Nascido em 1851, em Pernambuco, e falecido em 1899 em Campos do Jordão, em São Paulo, José de
Magalhães foi arquiteto, engenheiro e geógrafo. Estudou na Escola Central do Rio de Janeiro, denominada
Escola Politécnica a partir de 1874.
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Não é Saturno devorando seus filhos que o estado de Minas deve imitar; não é na
mitologia que deve procurar as regras de conduta, é na natureza, na família. O
nascimento de um novo ser não é uma sentença de morte para os irmãos mais velhos
e não se deve privá-los dos cuidados dos autores de seus dias. Ouro Preto é o filho
legítimo do estado de Minas e tem todos os direitos à sua atenção quanto o Curral del-
Rei – Belo Horizonte (ROUEDE, 1996, p.s/n).
Com suas filiações políticas definidas, Rouède pintou o passado colonial e, através da
escrita, questionou o excesso de brilho do futuro republicano. O que dificultou as comparações
entre velho e novo, e destacou a repercussão por vezes melancólica e entristecedora das
novidades. Do pequeno trecho da trajetória desse artista, extraímos algumas pistas da
complexidade das transformações históricas e do papel dos indivíduos que por vezes são
transformados em figuras translúcidas e unidimensionais, por não serem protagonistas dos
eventos ou movimentos privilegiados pelas abordagens culturais, sobretudo na produção
historiográfica.
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Figura 5 Igreja da Boa Viagem (Curral del Rei) – Óleo sobre tela, 80 x 110
cm. Fonte: Acervo Museu Histórico Abílio Barreto (Belo Horizonte -
MG)
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