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Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

Casa para alugar e cabra à venda


(1822), de Jean-Baptiste Debret,
aquarela sobre papel, 17,6 × 25,6 cm.
In: Viagem Pitoresca e histórica pelo
Brasil (1834).
O comércio de ambulantes pelas ruas era
intenso. Escravos de ganho vendiam os mais
diversos produtos e circulavam pela cidade
em busca de compradores.

1. Observe as imagens e descreva cada uma delas – personagens, construções, ruas, objetos, vestimentas,
animais etc.
2. O que chama a sua atenção nessas imagens do Rio de Janeiro no século XIX? Justifique.
3. Há semelhanças entre as antigas cenas representadas e a vida na sua cidade atualmente? Quais?

O olhar estrangeiro sobre a capital brasileira


Após a chegada da Corte portuguesa com a família real, em 1808, o Rio de Janeiro
passou por uma série de transformações sociais e urbanísticas. A cidade foi adaptada às
novas necessidades. Como concluiu o historiador Nicolau Sevcenko,

a entrada da frota imperial na baía do Rio de Janeiro se deu em meio a um festival espetacular, com
toda a gente da cidade tomada de uma euforia misteriosa e contagiante. Em pouquíssimo tempo, d.
João VI trataria de transformar e reconfigurar completamente a capital do Brasil. Aos olhos dos recém-
-chegados, o Rio de Janeiro parecia uma cidade árabe das costas da África, com suas casas totalmente
cerradas, janelas com gelosias e treliças, de forma que mantivesse as mulheres retidas e ocultas, ruelas
sinuosas e estreitas, ausência de espaços públicos, amenidades e áreas de convivência e lazer. O monarca
regente seria responsável pela primeira experiência de planejamento urbano criterioso no Brasil.
Sevcenko, Nicolau. Pindorama revisitada: cultura e sociedade em tempos de virada. São Paulo: Peirópolis, 2000. p. 56. (Série Brasil Cidadão.)

Várias resoluções governamentais procuraram transformar – tanto do ponto de vista


funcional como do estético – a antiga cidade colonial em capital do Império português,
segundo padrões europeus. As antigas ruas estreitas e sinuosas foram alvo de inúmeras
obras e foram construídas novas habitações. A urbanização da capital despertou cuida-
dos do poder público. D. João implantou escolas de ensino superior, além das primeiras
escolas de artes e ofícios, fundou o Banco do Brasil, a Biblioteca Nacional, o Jardim Bo-
tânico e a Imprensa Régia.
Durante a permanência do monarca português, vieram ao Brasil viajantes interessados
em conhecer, explorar e registrar a natureza e a vida nos trópicos. Com a vinda da Missão

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Artística Francesa, em 1816, aportou no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses,
liderados por Joachim Lebreton (1760-1819). Dentre eles estavam o pintor Jean-Baptiste
Debret (1768-1848), o paisagista Nicolas Taunay (1755-1830) e o arquiteto Grandjean de
Montigny (1776-1850). Esses artistas organizaram, em 1816, a Escola Real das Ciências,
Artes e Ofícios, transformada, em 1826, na Imperial Academia e Escola de Belas-Artes,
responsável pela divulgação e criação de novos padrões estéticos na América portuguesa,
como o estilo neoclássico e a pintura acadêmica.
Um dos objetivos era difundir a instrução neces- Jean-Baptiste Debret (Paris, França, 1768-1848)
sária aos homens que ocupariam cargos públicos na Foi pintor, desenhista, gravador, professor,
administração do Estado e que seriam os responsáveis decorador e cenógrafo. Frequentou a Academia
de Belas-Artes, em Paris, entre 1785 e 1789. Veio
pela introdução e manutenção de uma nova ordem so- para o Brasil em 1816, integrando a Missão Ar-
cial, cultural e política no país. Em suma, a intenção era tística Francesa. Instalou-se no Rio de Janeiro e,
a partir de 1817, ministrou aulas de pintura em
criar uma imagem do Brasil afinada com os padrões eu- seu ateliê. Viajou para várias cidades do país,
ropeus, apagando os resquícios coloniais tradicionais. quando retratou tipos humanos, costumes e
paisagens locais.
O cotidiano dos brasileiros alterou-se. Os pre- Trabalhou como pintor da Corte, representou
ços dos alimentos, aluguéis, impostos e materiais de acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revelou-se
um desenhista atento às questões sociais brasilei-
construção subiram, empurrando os mais pobres para ras. A maioria de suas telas parece ser destinada
regiões distantes do centro da capital. Uma das trans- à gravura, forma com que divulgava a imagem do
formações mais significativas decorrentes da instala- Estado.
Deixou o país em 1831 e retornou a Paris. En-
ção da Corte portuguesa no Rio de Janeiro foi o cres- tre 1834 e 1839, publicou o livro Viagem pitoresca e
cimento urbano, bem como o aumento populacional. histórica ao Brasil, em três volumes, ilustrado com
litogravuras que tinham como base as aquarelas
Em menos de duas décadas, a população do Rio de realizadas com seus estudos e suas observações.
Janeiro passou de 50 mil para 100 mil habitantes.

O Primeiro Reinado
Como você estudou anteriormente, após 1822
Monarquia
o Brasil passou a ser um país independente politica-
Palavra de origem grega (monarchía; mono =
mente. D. Pedro I tornou-se o primeiro imperador único; archía = poder, autoridade). O governo é
brasileiro. A instauração da Monarquia brasileira não centralizado em uma única pessoa que, por ter
poderes especiais, é colocada acima de todos os
impediu que as lutas internas continuassem durante
outros governados. É geralmente fundado em ba-
todo o Primeiro Reinado. Como afirmou o historiador ses hereditárias, e a tradição determina a base da
Evaldo Cabral de Mello, “o Brasil fez-se Império antes soberania. Na Idade Média, o rei era um represen-
tante de determinada localidade; na Idade Moder-
de se fazer nação”. Isso porque o processo de emanci- na, durante o período absolutista, foi considerado
pação política não se originou dos movimentos nacio- o representante divino da nação.

nalistas anteriores. Fonte: Catelli Jr., Roberto. História: texto e contexto. São Paulo:
Scipione, 2006. p. 216. (Ensino Médio.).
Além disso, a Independência não possuía um pro-
jeto nacional global, e o Estado surgiu no Brasil como
uma maneira de manter os privilégios das elites, articuladas em torno do “partido brasilei-
ro”, que tinham no monarca um aliado contra os grupos mais radicais. O Império seria o
instrumento de construção da nação que ainda não existia.
Convocada inicialmente por d. Pedro I, em junho de 1822, a Assembleia Constituinte
somente iniciou seus trabalhos em maio de 1823. A elaboração de uma Constituição era
fundamental para o estabelecimento das regras que norteariam a construção da nova
nação e do Estado nacional.

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