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A arte brasileira e o projeto imperial de nação
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As relações entre Portugal e Inglaterra foram retomadas e aprofundaram-se
depois do final da União Ibérica, entre 1580 e 1640. O Prof. Antonio Barros
Cardoso, da Universidade do Porto, discute as relações entre os britânicos e os
portugueses no período moderno no texto “Portugal e Inglaterra nos tempos
modernos”, publicado pela Revista História da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2349.pdf
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Unidade: A arte brasileira e o projeto imperial de nação
• Auguste Marie Taunay (1768 – 1824) e Nicolas Antoine Taunay (1755 - 1830) -
Auguste foi professor de escultura da Academia Imperial de Belas Artes, enquanto, seu
irmão Nicolas foi nomeado para o cargo de professor de pintura e paisagem.
• Marc (1788 – 1850) e Zéphirin Ferrez (1797 – 1851) - Eles também foram parte do
corpo docente da Academia Imperial de Belas Artes e destacaram-se como gravadores
e escultores.
A situação desses artistas no Brasil era complexa, pois, apesar de vários possuírem cargos
na recém-fundada Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, nunca exerceram essas funções
de fato, já que a escola funcionou de forma muito irregular e somente foi aberta de forma
definitiva em 1826.
Artistas como Debret envolveram-se na criação de obras que pretenderam o registro
de momentos importantes da história política nacional, como Chegada da Imperatriz
Leopoldina (1818) e a Coroação de Dom Pedro I (1822).
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A Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) – 1826 a 1889
A Academia Imperial de Belas Artes iniciou seu funcionamento em 1826 e contou com
inúmeros membros da Missão Francesa entre seu corpo docente. O grande mérito da academia
foi ser responsável por estabelecer as bases para o ensino das artes no Brasil, com uma
proposta voltada a formação científica, humanística e técnica.
Durante sua existência, a AIBA teve vários gestores, contudo merecem destaque as
administrações de Félix Taunay, de 1834 a 1851, e a de Manuel de Araújo Porto-Alegre, de
1854 a 1857, que consolidaram a academia.
Em linhas gerais, a academia seguiu as tendências do romantismo e do modelo neoclássico.
A produção da AIBA foi marcada pela produção de paisagens e pela pintura histórica, que
foi fundamental para a consolidação de um imaginário do Império/Imperador, principalmente
entre os anos de 1841 e 1889. Nesse período, foram produzidos muitos retratos do imperador,
de momentos históricos importantes que favoreceram a criação de uma memória nacional de
caráter romântico, centrada em imagens idealizadas, como a do indígena.
A administração de Manuel Porto-Alegre, o primeiro brasileiro a comandar a AIBA, iniciou
um período de modernização da instituição e investiu fortemente na “nacionalização” da
instituição. Um bom exemplo dessa política é o investimento de Porto-Alegre no registro das
paisagens nacionais, da flora e fauna do país.
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O quadro da Coroação de Pedro I traz elementos importantes para a análise das imagens
da realeza brasileira e seus tons religiosos, como observado por Eliane Dias:
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O Mecenato de D. Pedro II e a Academia Imperial de Belas Artes
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O conflito com o Paraguai (1864 – 1870) levou a alterações nessa proposta. O Imperador
passou a investir na imagem de um “rei guerreiro”, do comandante de uma nação em conflito.
Ele aparece, em várias imagens, com uniformes militares, como se pode ver nas imagens que
seguem, em que D. Pedro está utilizando o uniforme dos Voluntários da Pátria e o de Almirante
a Marinha Real.
D. Pedro com o uniforme D. Pedro como Almirante da
dos Voluntários da Pátria Marinha Real – aprox. 1870
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Além de conhecido por seu desenho primoroso e requintado, Meireles foi responsável pela
formação de muitos artistas de renome, já que teve uma longa carreira como professor.
A Primeira Missa no Brasil – 1861
A principal inspiração de Meireles para esse quadro foi a Carta de Pero Vaz, em que o
português descreveu a cena com grande detalhe. No primeiro plano, pode-se observar um
grande grupo de índios que assistem atentamente às ações dos conquistadores.
A composição faz uma representação sucinta da cena e mostra uma composição
harmoniosa, meticulosa e que destaca a suavidade dos tons dominantes. Essa é, provavelmente,
uma das imagens mais repetidas pelos livros didáticos e ajudou a consolidar o imaginário da
chegada dos portugueses ao Brasil. Segundo, Jorge Coli:
Moema - 1866
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Moema é uma das obras mais famosas da temática indianista nacional e retrata a personagem
Moema, do poema Caramuru, do frei José de Santa Rita Durão, que foi publicado em 1781.
O quadro não representa um trecho do poema, mas o que provavelmente teria acontecido
a Moema depois de ter “desaparecido nas águas do mar”. Ela é representada nua e, sendo
indígena, essa condição era entendida como natural e inocente, contudo o autor teve o cuidado
de colocar um arranjo de penas sobre o sexo de Moema.
O quadro é uma imagem do indígena idealizado, que, por ser considerado o “primeiro
habitante da terra”, foi elevado à condição símbolo da nação.
Segundo Sonia Pereira, a temática indianista não estava conectada ao nacionalismo, mas,
ao conceber a história nacional como um processo “evolutivo”, os intelectuais nacionais
procuravam um ponto de origem, e os índios atendiam a essa necessidade:
A tela foi finalizada alguns anos depois desse importante episódio da Guerra do Paraguai.
O quadro mostra o avanço da marinha brasileira sobre a Fortaleza de Humaitá. Destaca-se a
presença dos navios monitores Pará, Rio Grande e Alagoas, que foram fundamentais para a
queda dos paraguaios por causa de sua couraça e por seus armamentos.
Os monitores representavam uma grande inovação na construção naval trazida pelas
mudanças da Revolução Industrial. A principal referência da Marinha Brasileira era o
USS Monitor, que era um encouraçado a vapor da marinha estadunidense e que combateu na
Guerra Civil Americana, entre 1861 e 1862.
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Monitor Alagoas no Rio de Janeiro, provavelmente em 1890
Essa tela foi encomendada pelo Ministro da Marinha, Afonso Celso de Assis Figueiredo,
junto com a tela Batalha de Riachuelo, o que denota o caráter de “visão oficial” do governo
Brasileiro sobre o ocorrido. Logo depois da encomenda, Meirelles procurou contato com os
navios, marinheiros e equipamentos envolvidos no conflito.
O quadro, com seus tons escuros e avermelhados, apresenta a dramaticidade do tema e já
foi chamado de “uma visão do inferno”.
Batalha do Riachuelo – 1870
Essa tela também é parte da encomenda feita pelo Ministério da Marinha para retratar as
vitórias da Guerra do Paraguai. Nela o autor retrata a batalha ocorrida em 1865, em que a
atuação da Marinha foi fundamental para a vitória contra o Paraguai.
A tela retrata as forças brasileiras comandadas pela fragata Amazonas sob o comando do
Almirante Barroso. Durante o conflito, numa atitude controversa, Barroso usou a proa do
Amazonas como aríete e destruiu grande parte da frota paraguaia.
O momento que Meirelles capturou na tela é o da vitória, em que a fragata Amazonas
aparece em destaque, com seus marinheiros já comemorando a iminente derrota do inimigo.
No centro dessa composição está o Almirante Barroso recebendo os cumprimentos de seus
oficiais e cristalizando a posição de herói desse confronto
Na parte inferior da tela, estão colocados os paraguaios. Sua postura contrasta com a dos
brasileiros, já que são mostrados em uma posição defensiva, trazendo um enorme senso de
desespero e derrota.
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Pedro Américo (1843 – 1905)
Pedro Américo de Figueiredo e Mello nasceu em Areais,
Pernambuco, em 1843. Por volta de 1855, mudou-se para o Rio
de Janeiro, com o objetivo de estudar.
Em 1856, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes
e, como no caso de Victor Meirelles, recebeu uma bolsa de estudos
de D. Pedro II, que permitiu que se estabelecesse na Europa entre
os anos de 1859 e 1864.
Em 1864, voltou ao Brasil e assumiu o cargo de professor de
desenho da AIBA. Nos anos seguintes, passou longos períodos na
Fonte: Wikimedia Commons
Europa, onde se dedicou ao estudo das ciências naturais.
Entre seus quadros mais importantes, estão A Batalha de Campo Grande Batalha de Avaí,
e Independência ou Morte, os dois últimos produzidos a pedido de D. Pedro II.
Além das obras históricas, Pedro Américo foi responsável pela produção de diversos
retratos, como os de Pedro I e Dom Pedro II e do Duque de Caxias.
A Batalha de Campo Grande retrata um dos últimos conflitos entre as forças brasileira
e paraguaias, ocorrido em 1868. Nessa fase final do confronto, como a maior parte dos
paraguaios em idade militar estava incapacitada, Solano Lopez passou a contar, em seu
exército, com idosos e crianças.
A obra foi um sucesso e garantiu a Pedro Américo o título de Pintor Histórico da Real
Câmara e o convite da coroa para realizar um quadro retratando a Batalha do Avaí.
Nesse quadro, é possível perceber elementos de composição que foram usados em suas
obras posteriores, como a oposição entre o grupo principal, quase estático, e o grupo em
segundo plano, que representa movimento e agitação.
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A Batalha do Avaí retrata uma da vitórias de Caxias em território paraguaio durante o mês
de dezembro de 1868.
Segundo a tradição sobre a batalha, a vitória das forças imperiais foi devastadora e somente
100 paraguaios teriam sobrevivido ao embate.
Apesar das polêmicas envolvendo a obra, segundo Claudia Valadão Matos, a pintura deve ser
entendida como uma obra de composição meticulosa e que obedece os cânones da academia.
Na parte superior esquerda do quadro, observam-se as figuras heroicas dos comandantes
brasileiros, em especial de Caxias, que observam o avanço final das tropas brasileiras sobre as
forças paraguaias.
O autor cria, em sua tela, a oposição entre as imagens da força brasileira, com soldados
bem armados e uniformizados, e os soldados paraguaios, mal vestidos e desarmados. Trata-se
da oposição entre a civilização e o progresso do império brasileiro e o que era descrito como
a “barbárie” das outras nações latino-americanas (SCHWARCZ: 2013).
Por outro lado, sua tela mostra os horrores da guerra em vários dramas individuais: na
parte inferior direita da tela, observa-se uma família paraguaia que tenta sobreviver à batalha
e se manter viva e um soldado paraguaio ferido, um pouco a frente da família, que tenta se
levantar.
Essas figuras, sem dúvida, contrastam com a grandiosidade e o sentido heroico que o
quadro pretende transmitir.
O Brado do Ipiranga – 1888
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Um dos quadros mais emblemáticos da construção da imagem nacional é O Brado do
Ipiranga, que cristalizou uma imagem gloriosa do momento de “nascimento do país”.
A tela foi encomendada por D. Pedro II e objetivava criar uma visão positiva do processo
de independência e também lançar o polêmico D. Pedro I à posição de um dos grandes heróis
nacionais.
A tela é dominada pela imagem de D. Pedro levantando a espada em um ato que simboliza
a separação de Portugal, e, junto a ele, os soldados o saúdam com chapéus e lenços,
Na parte inferior esquerda, pode-se observar a figura de um homem com seu carro de boi
e que, na composição geral, é identificado como observador por sua proximidade e posição.
Segundo Claudia Valladão de Mattos:
O quadro foi um enorme sucesso e, sem dúvida, é uma contribuição significativa ao sentido
de nação proposto durante o império.
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