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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

POLICARPO JOSÉ RIBEIRO

O CUBISMO NA OBRA DE TARSILA DO AMARAL

SÃO JOSE
DOS
CAMPOS
2020
POLICARPO JOSÉ RIBEIRO

O CUBISMO NA OBRA DE TARSILA DO AMARAL

Trabalho apresentado junto ao


Curso de Artes Visuais, da
Universidade Cidade de São
Paulo como exigência parcial
da disciplina Projeto
Experimental I

SÃO JOSÉ
DOS
CAMPOS
2020
POLICARPO JOSÉ RIBEIRO

O CUBISMO NA OBRA DE TARSILA DO AMARAL

Policarpo José Ribeiro

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar algumas obras cubistas da pintora brasileira
Tarsila do Amaral (1886-1973) produzidas entre os anos de 1923 a 1927 um recorte do
envolvimento da artista num período de grandes transformações na sociedade brasileira
e Europa , em meados do século XX, marcado pela disputa entre o conservadorismo e
as tendências modernistas. Nesse cenário, o cubismo no Brasil ganhou espaço após
a Semana de Arte Moderna de 1922. E foi sob a influência deste movimento, adquirida
em suas viagens a França e contatos com grandes artistas da época, que Tarsila
construiu o seu cubismo com forte conceito de brasilidade, tanto nas cores e nos temas.
Tarsila do Amaral fez história no movimento modernista brasileiro e é uma das
referências indiscutíveis da pintura brasileira do século XX e seu legado à cultura.

Palavras-chave: Pintura; Cubismo; Tarsila do Amaral.


INTRODUÇÃO

“Tarsila codificava em chave cubista a nossa paisagem


ambiental e humana, ao mesmo tempo em que
redescobria o Brasil nessa releitura que fazia em modo
seletivo e crítico das estruturas essenciais de uma
visualidade que a rodeava desde a infância
fazendeira.”(AMARAL, 1975, p.314).

Tarsila do Amaral (1886 – 1973) Paulista de Capivari , educada de acordo com


os padrões tradicionais da época, Tarsila conviveu com a paisagem rural das
plantações de café e com as referências europeias tão prezadas pelas famílias
conservadoras. Mas foi as viagens à Europa e principalmente , Paris, berço da
vanguarda artística, que veio a romper com o tradicionalismo e se apoderar do novo.
Matricula-se nos ateliers de Lhote, Léger e Gleizes e que chamou sua atenção para
a importância da composição bem estruturada, para as formas sintéticas e o modelado
das cores. Nos anos 1920, Tarsila desenvolveu no que chamaria “serviço militar do
cubismo” à sua vivência da cultura brasileira para realizarem suas obras as propostas
dos modernistas brasileiros. Embora Anita Malfatti a precedesse cronologicamente na
adesão à arte moderna, Tarsila adicionou aspectos da cultura e do repertório popular
à sua nova linguagem. Tarsila do Amaral inseriu em suas pinturas os coloridos livres,
os amarelos, rosas, azuis e verdes, as cores que amava em sua infância. Em 1924,
depois de conhecer o Carnaval no Rio de Janeiro e às cidades coloniais de Minas
Gerais, Tarsila redescobriu seu país. Assim teve início a elaboração de pinturas do
período chamado Pau Brasil, que iria até meados de 1927, o mesmo nome da madeira
, o primeiro e muito explorado produto pelo colonizador portugues.
Ao rever nossos valores, crenças, costumes, cores, espaços, utilizando recursos e
novos procedimentos estéticos aprendidos na Europa, Tarsila possibilitou que, com
esse repertório, sensível e fiel a nossa terra e a nossa gente, à conscientização social,
avançados para a época, sua arte permanece atualizada um século depois.
ASPECTOS CONCEITUAIS

Para pontuar os aspectos conceituais em que esse artigo faz referência ao


longo de sua construção, destaque para algumas características da arte durante o
início do século XX. O mundo passava por diversas transformações, no Brasil,
também as mudanças eram visíveis, industrias e urbanização, principalmente na
cidade de São Paulo, assim como a chegada do automóvel, a eletricidade e o rádio,
transformaram o cotidiano das pessoas e suas relações no mundo. Ao passo que,
as manifestações culturais da época ainda eram alinhadas ao tradicionalismo e
conservadorismo literário e artístico, com uma produção baseada em regras e
modelos rígidos, longe da realidade brasileira. Em meio a este cenário ,São Paulo
se tornaria um marco da renovação cultural no Brasil: um grupo de artistas e
intelectuais organizou a Semana de Arte Moderna. Segundo AMARAL (1998, p. 35):
“A maioria dos participantes estavam informadas sobre os movimentos do
Modernismo europeu e pensavam na necessidade de uma renovação cultural também
no Brasil”. Assim, buscava-se uma produção artística de um ponto de vista, que
rompesse com os modelos conservadores do século XIX. A Semana de Arte Moderna
tornou-se viável graças ao empenho dos mecenas. importantes que patrocinaram o
evento, de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipalde São Paulo, uma
exposição de pinturas, esculturas, declamações poéticas e musicais, que
transformaram a história da arte no Brasil. Mário de Andrade (1893-1945), Oswald
de Andrade (1890-1954), na literatura; Anita Malfatti (1889-1964) e Di Cavalcanti
(1897-1976), na pintura ,Vítor Brecheret (1894-1955), na escultura e Heitor Villa
Lobos (1887- 1958) na música. Para REZENDE (2006, p. 65): “A Semana de Arte
Moderna terminou com repercussão na sociedade. Além de muitas vaias durante as
apresentações, os críticos dos jornais da época se mostraram indignados com
tamanha loucura. A sociedade de gosto conservadora não viu com bons olhos as
manifestações modernistas. Entretanto, houve quem aderisse às manifestações, e
estes passaram a apoiar e fazer parte do grupo nos anos seguintes”. Entendemos
que, mais que uma proposta estética coerente, os modernistas da Semana de Arte
Moderna tinham como interesse comum a recusar a um passado de tradições
importadas, a liberdade de expressão na arte. Para Bourdieu (1996, p.31): “É
necessário entender, compreender, analisar o trabalho do artista, para que se
constitua como sujeito da própria criação”.

Nomes importantes do modernismo brasileiro, que não participaram das


manifestações da Semana de Arte Moderna, como Tarsila de Amaral e Lasar Segall,
aderiram ao grupo e criaram várias obras que manifestavam ideias modernistas.
Tarsila buscou um olhar para a cultura genuinamente brasileira, e se inspirava nos
movimentos surgidos na Europa. Em especial o movimento Cubista. Tarsila do
Amaral é uma das mais importantes artistas que o Brasil ja teve, revolucionou a Arte
Brasileira. De fato, o interesse e o talento, para pintura ficou incorporado e forte, era
uma mulher dinâmica e criativa, que não se contentava com uma vida simples e
tranquila. Fez desenho e pintura com o artista acadêmico Pedro Alexandrino, a mesma
criou diversas naturezas mortas e algumas paisagens. O uso das cores puras ela
aprendeu com os impressionistas (por meio da luz e da cor os artistas impressionistas
buscavam atingir a realidade), com quem passou algum tempo. Em 1920, viajou para
França e, durante quinze anos, dividiu com viagens entre o Brasil e Europa, não
deixou de passar algum tempo nas fazendas da família. Já nessa época, Tarsila do
Amaral mostrava o jeito próprio de pintar, diferente e repleto de novas ideias: utilizava
pinceladas soltas, cores iluminadas e formas simplificadas, diferente do modo de
pintar da época. Sempre desenhava e usava um caderno de esboços para treinar os
traços do desenho. Registrava paisagens e imagens de pessoas interessantes, fazia
também desenhos para ilustrar livros e revistas. Quando foi aceita no Salão da
Sociedade dos Artistas Franceses, em 1922, Tarsila do Amaral passou a integrar
oficialmente no mundo artístico. Ainda em 1922, a artista surpreendeu os críticos ao
expor o I Salão da Sociedade Paulista de Belas Artes, no fim do mesmo ano, partiu
novamente para Paris, onde aperfeiçoou os estudos com os pintores Albert Gleizes e
Fernando Léger. Nesta estada em Paris, conheceu Pablo Picasso e a obra do artista,
que influenciaria fortemente no futuro: o trabalho passou a ter formas geométricas
que lembravam o Cubismo (estilo artístico que rompeu com os elementos artísticos
tradicionais e apresentava diversos pontos de vista em uma mesma obra de arte).
Sobre seus estudos Tarsila escreveu a amiga Anita Malfatti:

“Aqui tudo tende para o cubismo ou futurismo (...) Muita natureza morta, mas
daquelas ousadas em cores gritantes e forma descuidada. Muita paisagem
impressionista, outras dadaístas (...) Olha, Anita, depois de ter visto muito esta pintura
cheia de imaginação, não suporto mais as coisas baseadas no bom senso e muito
ponderadas. Os quadros dessa natureza ficaram pobres no salão. Também estou de
acordo com o cubismo exagerado e o futurismo.”
Segundo Flávio Resende de Carvalho, jornalista do Diário da Noite, São Paulo,
20/9/1929, “A Arte de Tarsila é o símbolo de sua alma, na cor, na forma, e na
substância”. Citado por Amaral, (2010, p. 102). As cores, sem dúvida, são a marca do
trabalho de Tarsila do Amaral: o amarelo que parece estar vivo, o rosa quase violeta,
o azul de uma pureza cativante e o verde que encanta de acordo com o contexto em
que está inserida a pintura. Já no Brasil, em 1924, Tarsila do Amaral e Oswald de
Andrade receberam a visita do poeta modernista francês Blaise Cendrars, com quem
viajaram pelas cidades históricas de Minas Gerais. O que a artista viveu durante estas
viagens refletiu-se fortemente na própria pintura, que retratou a redescoberta da terra
natal e a volta às origens. Participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior.
Como presente de aniversário para Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral pintou a
obra o “Abaporu” o homem que come gente na língua tupi-guarani. A obra que inspirou
o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, porta-voz do movimento do mesmo
nome, com alvo em questionamento sobre a dependência cultural brasileira. Segundo
AMARAL (2010, p. 49): “A Fase Antropofágica da pintura de Tarsila do Amaral
decorreu naturalmente do percurso da própria obra, como atestado por alguns
aspectos em A Negra, de 1923, que já prenunciavam a direção a ser seguida”. Esta
obra destaca a importância dos negros na cultura brasileira, a lembrança da infância
junto às amas de leite das fazendas, com enormes seios.

A Negra, 1923.
Óleo sobre tela
100 x 80 cm.
CONTEXTO HISTÓRICO

Com as mudanças provocadas pela Segunda Revolução Industrial, meados do século


XIX, impactaram as transformações que viriam a seguir na entrada do século XX.
Grandes metrópoles surgiram, onde eram predominantemente rurais, a luz elétrica
popularizava-se, os automóveis e a fotografia. Tudo isso deu origem a um novo modo
de vida, instigando os artistas a propor também uma nova maneira de representação
da realidade. O Cubismo surge em 1907, inicialmente como um movimento estético
parisiense, que acabou popularizando-se por toda Europa e Américas, inaugurando
nova maneira de fazer arte, em resposta ao novo modo de viver estabelecido no início
do século XX.
Características
Precursor, revolucionário, inovador, o Cubismo rompeu com uma das características
mais tradicionais da pintura: o uso da perspectiva plana. Em prol de uma verdadeira
libertação na arte, os cubistas aboliram a cópia. O artista deve criar, não copiar — é o
fim da arte mimética.
Assim como no Abstracionismo, não há na arte mais nenhum compromisso em
representar a aparência real das coisas. O Objeto da pintura é fragmentado num
mesmo plano, geometrizados e cúbicos (daí o nome cubismo ao movimento).
“Ele despreza tudo, reduz tudo, sítios, figuras e casas a esquemas geométricos, a
cubos.” Trecho do artigo sobre o Salão de Outono de 1908, escrito por Louis
Vauxcelles, a respeito das obras de Georges Braque.O movimento cubista é dividido
em duas fases:

Cubismo analítico (1909): cuja característica é a total decomposição dos objetos


representados. Para romper com a representação visual, apresentavam-se vários
ângulos sobrepostos e fragmentados de um mesmo objeto, em prol de uma
representação conceitual. Muitas vezes essa ênfase na destruição das formas
aparentes tornou praticamente impossível reconhecer qualquer figura nos quadros
desse período.
Cubismo sintético (1911): momento em que há certa redução na fragmentação dos
objetos, tornando as figuras novamente reconhecíveis. Insere-se então a técnica da
colagem: outros materiais, como pedaços de jornal, de madeira, de vidro e até
mesmo objetos inteiros, passam a fazer parte da pintura. A proposta do Cubismo
sintético é levar a pintura a novos estímulos além do visual, incorporando também
elementos táteis. Principais artistas;
Georges Braque (1882-1963)
Pintor de origem francesa considerado o precursor do Cubismo.
Pablo Picasso (1881-1973)
Também fundador do Cubismo, nasceu em Málaga, na Espanha. Além de pintor, foi
também ceramista, escultor, cenógrafo, dramaturgo e poeta, é o autor da obra
considerada como inaugural do Cubismo, Les demoiselles d’Avignon (1907).
Juan Gris (1887-1927)
Pseudônimo do pintor e escultor espanhol Juan José Victoriano Gonzalez.
A influência das vanguardas europeias foi importada ao Brasil durante os anos de
1912 e 1917, culminando, em 1922, na Semana de Arte Moderna de São Paulo. É
sobretudo a partir desse evento que começam a existir obras que fazem uso da
plástica cubista no Brasil.
Tarsila do Amaral (1886-1973), célebre artista da Primeira Fase do Modernismo
brasileiro, denomina-se cubista em 1923, em entrevista ao jornal Correio da Manhã:
“Estou ligada a esse movimento que tem produzido efeitos nas indústrias, no
mobiliário, na moda, nos brinquedos, nos 4 mil expositores do Salão de Outono e dos
Independentes”. Lasar Segall, Di Cavalcanti e Cândido Portinari foram também
influenciados pela plástica cubista, expressa na bidimensionalidade das obras, no
banimento da perspectiva plana e na preferência pela representação dos objetos
fazendo uso de formas geométricas.
Do Cubismo ao Pau-Brasil (1923-1927)

“Depois de seis meses de permanência em São Paulo, voltei a Paris e o ano de 1923 foi
o mais importante na minha carreira artística” (AMARAL, 1950, p. 728). 1923 ano início
do aprendizado cubista. Momento fundamental para a consolidação de sua pintura nos
anos seguintes e de contatos com a vanguarda parisiense. A s diversas viagens a Paris
a colocaram em contato com a ‘modernidade’, em Paris, Tarsila levou alguns meses
para estudar com um mestre cubista. Em fevereiro de 1923, Tarsila instalou-se
definitivamente no seu primeiro ateliê na capital francesa, localizado à rua Hégésippe
Moreau, nº 9 (AMARAL, 2010). Em 1923, com Oswald, Tarsila estabeleceu uma parceria
afetiva e profissional que foi fundamental em sua afirmação como mulher e artista
moderna. Foi ao lado de Oswald que a artista pintou suas principais obras e deu início
a uma vida social intensa, com festas e eventos no meio artístico. Tarsila publicou, em
30.05.1943, no Diário de S. Paulo, a crônica Paris em que descreveu 1923 como “um
dos mais belos anos da vida de Paris no meio de intelectualidade vanguardista”
(AMARAL, 1943, p.532). Tarsila começou a ter lições com André Lhote (1885-1962) ao
final do mês de março de 1923:27 “estou trabalhando com um ótimo professor, um
desses modernos: M. Lhote.” (AMARAL, 2010, p. 98). Em Confissão geral, ela forneceu
mais detalhes sobre o momento em que começou a ter contato com o mestre cubista e
de como esse encontro acalmou sua alma ávida por absorver a arte que pairava nas
ruas de Paris.

O novo se revelava ao meu espírito angustiado ante os quadros cubistas da Rue La


Boétie que passei a frequentar. Lhote, como já tive ocasião de escrever, era o traço de
união entre o classicismo e o modernismo. Seu desenho vigoroso, atualíssimo, se
baseava em Rembrandt, em Michelangelo, nos mestres do passado. Era o que eu
precisava como transição (AMARAL, 1950, p.728). Lhote adotava princípios rígidos e
traços bem definidos, e muitas vezes, era criticado pelo seu arcaísmo modernizado. Em
cartas trocadas com a família, Tarsila encontrava-se ainda indecisa sobre o rumos em
Paris, escreveu sobre sua intenção de realizar uma exposição em Buenos Aires por lhe
aparentar opção melhor que o Brasil. ”Composições agradáveis, com efeitos de luz,
ritmo e planos geométricos, e tão profundamente humanos, da arte concreta,
materialmente rica de cores, arte sensual para deleitar a vista e o tato ”(AMARAL, 1936,
p. 56). Tarsila estudou com Lhote por um breve período, mas logo de início percebeu
que aquela experiência mudaria muito sua forma de pintar: “com duas lições ganhei mais
do que em dois anos” (AMARAL, 2010:98), escrevia à família. Já aplicando as lições
cubistas de Lhote, a imagem tornava-se mais nítida, com traços finos e contornos
definidos. Tarsila fazia questão de deixar registrado que o seu cosmopolitismo era
também acompanhado por uma vontade de representar a sua terra. Segundo Amaral
(2010), a sua tela Caipirinha (1923) (FIG 16) foi a primeira obra que conciliava as lições
cubistas aprendidas com Lhote e a vontade de representar o que é brasileiro, utilizando
como referências suas lembranças de menina no interior de São Paulo. “Sinto-me cada
vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço por ter passado
na fazenda a minha infância toda. Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo,
brincando com bonecas do mato, como no último quadro que estou pintando. [...] Não
pensem que essa tendência brasileira na arte é malvista aqui. Pelo contrário. O que se
quer aqui é que cada um traga a contribuição de seu próprio país (AMARAL, 2010,
p.101-102).

Em seu estúdio da rue Hégéssippe Moreau, em Montmarte, se reunia toda a vanguarda


artística de Paris. Ali eram frequentes os almoços brasileiros. Feijoada, compota de
bacuri, pinga, cigarros de palha eram indispensáveis para marcar a nota exótica. E o
meu grande cuidado estava em formar, diplomaticamente, grupos homogêneos.
Primeiro time: Cendrars, Fernand Léger, Julles Superville, Brancusi, Robert Delaunay,
Vollard, Rolf de Maré, Darius Milhaud, o príncipe negro Kojo Tovalou (Cendrars adora
os negros). Alguns dos acima citados passavam para o grupo de Jean Cocteau, Erik
Satie, Albert Gleizes, André Lhote, e tanta gente interessante. Picasso, aferrado ao
trabalho, pouco sabia; Jules Romains e Valéry Larbaud eram também bons amigos
(AMARAL, 1938, p.137-138).

Em correspondência de 29.09.1923, às vésperas de iniciar sua experiência com Fernand


Léger (1881-1955)28, Tarsila revelou à família: “acha-se aqui também aqui o Di
Cavalcanti, pintor do Rio muito considerado. Ele e Anita disputarão a mim o primeiro
lugar na pintura moderna brasileira. Apesar de grande confiança em mim, creio urgente
ativar meus estudos” (AMARAL, 2010, p.119). Segundo Amaral (2010), o clima de
competição afastava Tarsila de Anita, pintora amiga desde 1917, quando de suas aulas
com Pedro Alexandrino, em São Paulo. Ao mesmo tempo, a rivalidade a estimulava
extrair o máximo de cada mestre:

Vou ver se tomo também umas lições com Gleizes, artista avançadíssimo [...] Com todas
essas lições voltarei consciente da minha arte. Só ouço os professores no que me
convém. Depois dessas lições não pretendo mais continuar com professores (AMARAL,
2010, p.119).

Tarsila aceita o desafio de voltar ao Brasil, o que de fato aconteceu em dezembro de


1923, porém, antes, terminaria seus estudos com Fernand Léger e Albert Gleizes.
Tarsila relatou a importância do artista para sua formação e de como seus quadros foram
significativos para apresentar ao público brasileiro a renovação artística que acontecia
em Paris.

Uma lição que guardou de Léger foi a de deixar vir à tona a personalidade do artista na
obra que elabora: Nós todos ali éramos sub-Léger. Admirávamos o mestre: tínhamos
forçosamente que ceder à sua influência. O cubismo era visto por Léger como um meio
de conseguir a afirmação da personalidade de um pintor e com isso sobressair-se entre
os demais artistas. Dessa fase, Tarsila pintou obras nas quais experimentava a técnica
lisa aprendida em exercícios geométricos de síntese.

Tarsila, em depoimento (GOTLIB, 2012), relatou que, com Gleizes, ela exercitou a
pintura abstracionista que, em sua visão, exigia mais do intelecto, por ser um trabalho
todo calculado, utilizando linhas, cores, planos entrelaçados, procurando alcançar uma
eternidade artística. Amaral (2010) resumiu o que a artista extraiu de cada mestre
cubista:

Tarsila afirmava que o que vivia era necessário à sua carreira, para que conquistasse
autonomia como artista, deixando sua posição de aluna para ser vista como referência
nas artes brasileiras. Segui o ramerrão do gosto apurado...Mas depois vinguei-me da
opressão, passando-a para as minhas telas: azul-puríssimo, rosavioláceo, verde
cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura do branco.
Pintura limpa, sobretudo, sem medo dos cânones convencionais. Liberdade e
sinceridade, uma certa estilização que a adaptava à época moderna. Contornos nítidos,
dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto de outro (AMARAL,
1939,p.720).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tarsila do Amaral que desejou tornar-se a pintora dos brasileiros conseguiu externar em
suas obras toda a sua brasilidade. Nos quadros de Tarsila, o Brasil e os brasileiros
ganharam vida e cores. O amadurecimento das obras dessa grande artista foram
pintadas durante um período de ebulição cultural, onde revolucionários artistas
buscavam assegurar ao Brasil o seu espaço na arte produzida na época, não como
cópia europeia, mas, se manifestando de forma original. Pelo uso da imaginação, da
recordação dos tempos da vida caipira no interior de São Paulo, das experiências das
inúmeras viagens pelo país e pelo mundo e a partir do seu modo de pintar e de seu
temperamento, a renomada pintora brasileira criou uma arte impar. Com Tarsila a
produção artística brasileira foi reconhecida pela crítica internacional, mostrou ao mundo
que o Brasil era capaz de construir seu próprio estilo.

O Modelo, 1923.
Óleo sobre tela.
55 x 46 cm.
O mamoeiro, 1925.
Óleo sobre tela.
65 x 70 cm

São Paulo (Gazo),


1924. Óleo sobre tela
50 x 60 cm.
Estudo de La Tasse,
1923.
Grafite sobre papel.
23,3 x 18 cm.
REFERÊNCIAS

Bibliográficas

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______ (Org.). Tendências da arte moderna. In: ---. Tarsila Cronista. São Paulo: EDUSP,
2001.

_BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte. São Paulo: Edusp, 2003.

_REZENDE, N. Semana de arte moderna. 2. ed. São Paulo: Ática, 2006.

_AMARAL, Tarsila do. Tarsila por Tarsila. São Paulo: Celebris, 2004.

_BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.


11. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

_COSTA, Helouise. A Obra em Contexto: Tarsila do Amaral. In: --- www.usp.br

_Mendonça, Roxane Sidney Resende de Tarsila do Amaral [manuscrito] : seu legado


como objeto de memória e consumo - 2016.

_HOFMANN, Maria Helena Cavalcanti. A Linha que Contorna a Crônica: a Obra de


Tarsila do Amaral. 2010. Dissertação (Mestrado em História e Crítica da Arte) – Instituto
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2009.

Eletrônicas

_Cubismo no Brasil: o movimento + Semana de Arte Modern


https://laart.art.br/blog/cubismo-no-brasil..

_https://turmadearquiteturaeurbanismo.files.wordpress.com/2016/11/8_
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_http://www.youtube.com/watch?v=QLbMnQBMO4c Tarsila do Amaral


_http://www.pitoresco.com.br/brasil/anita/anita.htm Tarsila do Amaral.

_http://arteemvoga.blogspot.com/search/label/Anita%20Malfatti Tarsila
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Postado por Art Conecta
Marcadores: antropofagia, CCBB, cores, cubismo, Modernismo, Tarsila do Amaral - 05
abril, 2012.

_TARSILA Amaral. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
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Imagens:

Imagem 1 - A Negra. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.


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Imagens 02, 03, 04, 05 - Catálogo da Exposição; TARSILA DO AMARAL, Fundación
Juan March, Madrid , ES, 2009.

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