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SÃO JOSE
DOS
CAMPOS
2020
POLICARPO JOSÉ RIBEIRO
SÃO JOSÉ
DOS
CAMPOS
2020
POLICARPO JOSÉ RIBEIRO
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar algumas obras cubistas da pintora brasileira
Tarsila do Amaral (1886-1973) produzidas entre os anos de 1923 a 1927 um recorte do
envolvimento da artista num período de grandes transformações na sociedade brasileira
e Europa , em meados do século XX, marcado pela disputa entre o conservadorismo e
as tendências modernistas. Nesse cenário, o cubismo no Brasil ganhou espaço após
a Semana de Arte Moderna de 1922. E foi sob a influência deste movimento, adquirida
em suas viagens a França e contatos com grandes artistas da época, que Tarsila
construiu o seu cubismo com forte conceito de brasilidade, tanto nas cores e nos temas.
Tarsila do Amaral fez história no movimento modernista brasileiro e é uma das
referências indiscutíveis da pintura brasileira do século XX e seu legado à cultura.
“Aqui tudo tende para o cubismo ou futurismo (...) Muita natureza morta, mas
daquelas ousadas em cores gritantes e forma descuidada. Muita paisagem
impressionista, outras dadaístas (...) Olha, Anita, depois de ter visto muito esta pintura
cheia de imaginação, não suporto mais as coisas baseadas no bom senso e muito
ponderadas. Os quadros dessa natureza ficaram pobres no salão. Também estou de
acordo com o cubismo exagerado e o futurismo.”
Segundo Flávio Resende de Carvalho, jornalista do Diário da Noite, São Paulo,
20/9/1929, “A Arte de Tarsila é o símbolo de sua alma, na cor, na forma, e na
substância”. Citado por Amaral, (2010, p. 102). As cores, sem dúvida, são a marca do
trabalho de Tarsila do Amaral: o amarelo que parece estar vivo, o rosa quase violeta,
o azul de uma pureza cativante e o verde que encanta de acordo com o contexto em
que está inserida a pintura. Já no Brasil, em 1924, Tarsila do Amaral e Oswald de
Andrade receberam a visita do poeta modernista francês Blaise Cendrars, com quem
viajaram pelas cidades históricas de Minas Gerais. O que a artista viveu durante estas
viagens refletiu-se fortemente na própria pintura, que retratou a redescoberta da terra
natal e a volta às origens. Participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior.
Como presente de aniversário para Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral pintou a
obra o “Abaporu” o homem que come gente na língua tupi-guarani. A obra que inspirou
o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, porta-voz do movimento do mesmo
nome, com alvo em questionamento sobre a dependência cultural brasileira. Segundo
AMARAL (2010, p. 49): “A Fase Antropofágica da pintura de Tarsila do Amaral
decorreu naturalmente do percurso da própria obra, como atestado por alguns
aspectos em A Negra, de 1923, que já prenunciavam a direção a ser seguida”. Esta
obra destaca a importância dos negros na cultura brasileira, a lembrança da infância
junto às amas de leite das fazendas, com enormes seios.
A Negra, 1923.
Óleo sobre tela
100 x 80 cm.
CONTEXTO HISTÓRICO
“Depois de seis meses de permanência em São Paulo, voltei a Paris e o ano de 1923 foi
o mais importante na minha carreira artística” (AMARAL, 1950, p. 728). 1923 ano início
do aprendizado cubista. Momento fundamental para a consolidação de sua pintura nos
anos seguintes e de contatos com a vanguarda parisiense. A s diversas viagens a Paris
a colocaram em contato com a ‘modernidade’, em Paris, Tarsila levou alguns meses
para estudar com um mestre cubista. Em fevereiro de 1923, Tarsila instalou-se
definitivamente no seu primeiro ateliê na capital francesa, localizado à rua Hégésippe
Moreau, nº 9 (AMARAL, 2010). Em 1923, com Oswald, Tarsila estabeleceu uma parceria
afetiva e profissional que foi fundamental em sua afirmação como mulher e artista
moderna. Foi ao lado de Oswald que a artista pintou suas principais obras e deu início
a uma vida social intensa, com festas e eventos no meio artístico. Tarsila publicou, em
30.05.1943, no Diário de S. Paulo, a crônica Paris em que descreveu 1923 como “um
dos mais belos anos da vida de Paris no meio de intelectualidade vanguardista”
(AMARAL, 1943, p.532). Tarsila começou a ter lições com André Lhote (1885-1962) ao
final do mês de março de 1923:27 “estou trabalhando com um ótimo professor, um
desses modernos: M. Lhote.” (AMARAL, 2010, p. 98). Em Confissão geral, ela forneceu
mais detalhes sobre o momento em que começou a ter contato com o mestre cubista e
de como esse encontro acalmou sua alma ávida por absorver a arte que pairava nas
ruas de Paris.
Vou ver se tomo também umas lições com Gleizes, artista avançadíssimo [...] Com todas
essas lições voltarei consciente da minha arte. Só ouço os professores no que me
convém. Depois dessas lições não pretendo mais continuar com professores (AMARAL,
2010, p.119).
Uma lição que guardou de Léger foi a de deixar vir à tona a personalidade do artista na
obra que elabora: Nós todos ali éramos sub-Léger. Admirávamos o mestre: tínhamos
forçosamente que ceder à sua influência. O cubismo era visto por Léger como um meio
de conseguir a afirmação da personalidade de um pintor e com isso sobressair-se entre
os demais artistas. Dessa fase, Tarsila pintou obras nas quais experimentava a técnica
lisa aprendida em exercícios geométricos de síntese.
Tarsila, em depoimento (GOTLIB, 2012), relatou que, com Gleizes, ela exercitou a
pintura abstracionista que, em sua visão, exigia mais do intelecto, por ser um trabalho
todo calculado, utilizando linhas, cores, planos entrelaçados, procurando alcançar uma
eternidade artística. Amaral (2010) resumiu o que a artista extraiu de cada mestre
cubista:
Tarsila afirmava que o que vivia era necessário à sua carreira, para que conquistasse
autonomia como artista, deixando sua posição de aluna para ser vista como referência
nas artes brasileiras. Segui o ramerrão do gosto apurado...Mas depois vinguei-me da
opressão, passando-a para as minhas telas: azul-puríssimo, rosavioláceo, verde
cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura do branco.
Pintura limpa, sobretudo, sem medo dos cânones convencionais. Liberdade e
sinceridade, uma certa estilização que a adaptava à época moderna. Contornos nítidos,
dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto de outro (AMARAL,
1939,p.720).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tarsila do Amaral que desejou tornar-se a pintora dos brasileiros conseguiu externar em
suas obras toda a sua brasilidade. Nos quadros de Tarsila, o Brasil e os brasileiros
ganharam vida e cores. O amadurecimento das obras dessa grande artista foram
pintadas durante um período de ebulição cultural, onde revolucionários artistas
buscavam assegurar ao Brasil o seu espaço na arte produzida na época, não como
cópia europeia, mas, se manifestando de forma original. Pelo uso da imaginação, da
recordação dos tempos da vida caipira no interior de São Paulo, das experiências das
inúmeras viagens pelo país e pelo mundo e a partir do seu modo de pintar e de seu
temperamento, a renomada pintora brasileira criou uma arte impar. Com Tarsila a
produção artística brasileira foi reconhecida pela crítica internacional, mostrou ao mundo
que o Brasil era capaz de construir seu próprio estilo.
O Modelo, 1923.
Óleo sobre tela.
55 x 46 cm.
O mamoeiro, 1925.
Óleo sobre tela.
65 x 70 cm
Bibliográficas
_AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. 34. ed. São Paulo: Edusp, 2003.
______ (Org.). Tendências da arte moderna. In: ---. Tarsila Cronista. São Paulo: EDUSP,
2001.
_BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte. São Paulo: Edusp, 2003.
_AMARAL, Tarsila do. Tarsila por Tarsila. São Paulo: Celebris, 2004.
Eletrônicas
_https://turmadearquiteturaeurbanismo.files.wordpress.com/2016/11/8_
modernismo-no-brasil.pdf.
_http://arteemvoga.blogspot.com/search/label/Anita%20Malfatti Tarsila
do Amaral.
_https://www.detodaforma.com/2012/04/tarsila-amaral-cubismo-e-brasilidade.html
Postado por Art Conecta
Marcadores: antropofagia, CCBB, cores, cubismo, Modernismo, Tarsila do Amaral - 05
abril, 2012.
_TARSILA Amaral. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa384183/tarsila-amaral>. Acesso em: 05
de Abr. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7.
_ http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/assista/tv/9735-tarsila-do-amaral
© MultiRio 1995-2020.
_https://www.youtube.com/watch?v=zc2AHqe9zrw .
Cenas da minissérie Um Só Coração da Rede Globo – 2004.
_https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cubismo.htm
BRANDINO, Luiza. "Cubismo"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/cubismo.htm. Acesso em 05 de abril de 2020.
Imagens:
ISBN: 978-85-7979-060-7
Imagens 02, 03, 04, 05 - Catálogo da Exposição; TARSILA DO AMARAL, Fundación
Juan March, Madrid , ES, 2009.