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A ESTRUTURA DO DRAMA

Universidade Federal de Pelotas


Estudos em dramaturgia
Profa. Fernanda Vieira Fernandes
GÊNEROS LITERÁRIOS
Narrativo
Lírico
Dramático

 O teatro participa das expressões literárias na medida em


que adota a palavra como veículo de comunicação, mas
extrapola suas fronteiras quando se cumpre sobre o palco;
 Ambiguidade;
 Hibridismo;
 Ligação com outras artes;
 Literariamente bom e teatralmente ruim X teatralmente
bom e literariamente ruim;
 Estrutura diferenciada por conta de sua especificidade;
 A forma que o autor usa para escrever ganha outros
sentidos quando colocada em cena.
ESTRUTURA: TÍTULO
 Função do título: anunciar ou confundir seu
sentido. Primeira referência do leitor.
 “Primeiro sinal” de uma peça;
 Pode demonstrar a intenção de obedecer ou não
às tradições;
 Jogo inicial com um conteúdo a ser revelado do
qual ele é a vitrine, o anúncio, o chamariz;
 Informações fornecidas pelo título precisam ser
consideradas e analisadas para além do óbvio.
ESTRUTURA: TÍTULO
- Nome do herói, da heroína ou do protagonista: Ifigênia, Hamlet,
Fedra, Roberto Zucco.
- Referência a um tipo ou a uma condição social, adjetivos (comédia):
O burguês fidalgo, O avarento, Bonitinha, mas ordinária, A
prostituta respeitosa.
- Grupos de personagens: Os negros.
- Embrião da narrativa: Arlequim, servidor de dois amos; Esperando
Godot.
- Marca de ruptura: A cantora careca.
- Metáforas: Zona contaminada; A mancha roxa.
- Ironia: Eles não usam black-tie.
- Expressão de sensações: Ânsia.
- Intenção de bom humor: Boneca Teresa.
- Extensão de títulos (contemporaneidade): As regras da arte de bem
viver na sociedade moderna, Estava em casa e esperava que a chuva
viesse;
- Objetivo Combate de negro e de cães;
- Poético: Na solidão dos campos de algodão).
ESTRUTURA: DIVISÕES
É a maneira como um autor estrutura seu texto.

Sistemas de organização (escolha do dramaturgo):


estética da continuidade (desenrolar previsto sem
nenhum corte) ou princípio da descontinuidade
(cortes sistemáticos, às vezes frequentes).
ESTRUTURA: ATOS
 Atos: divisão mais tradicional; divisão da peça em partes de
importância sensivelmente igual em função do tempo e do
desenrolar da ação.
Unidade da peça: saída de todos os personagens ou mudança
notável na continuidade espaço-temporal, corte.
- suspensão da representação;
- baixar da cortina;
- intervalo;
- mudança de luz ou black-out.
Necessidades diversas para a divisão em atos.
- cortes temporais (momentos da jornada, lapsos mais longos
etc.)
- cortes espaciais (mudança de espaço, de cenário etc.);
- cortes narrativos (uma única ação decomposta em diversas
partes).
ESTRUTURA: ATOS
Tradição teatral tragédia: 5 atos
Ato I: exposição
Ato II: conflito
Ato III: clímax
Ato IV: peripécia
Ato V: desenlace

Tradição teatral da comédia: 3 atos.

Progressão constante, sem “saltos”.


Encaminhamento para o desenlace.
ESTRUTURAS MENORES
 Cena: unidade de ação, elemento constitutivo ou não
de um ato (atos formados por sequência de cenas)
Célula dramática dotada de ação completa no seu
desenvolvimento, ainda que dependente do ato em
que se inscreve e da peça toda.
Tradição: marcada pela entrada e saída de
personagens.

 Quadros (constantes na dramaturgia épica):


referência à pintura, unidade espacial, unidade
temática. Decupagem. Cinematográfico, fixação
fotográfica da cena. Autonomia. Rupturas.
 Sequências, fragmentos, pedaços, jornadas,
movimentos, partes etc.
PEQUENAS DIVISÕES

Numeradas
Com títulos
Numeradas e com títulos

Exemplos: Brecht, Koltès.

Esses elementos quando não colocados em


cena pertencem mais à ordem do texto.
TRÊS UNIDADES ARISTOTÉLICAS

Ação
Tempo (duração, saltos temporais, época)
Espaço (internos, externos, mencionados,
metafóricos, localização geográfica)
ENREDO
 Enredo: corresponde à ação, empreendida por
agentes (os personagens).
Aristóteles: junção de ações consumadas.
 Interação: atuam como uma só entidade, um existe
em função do outro.
O enredo somente se organiza com os personagens, e
eles só existem em função do enredo.

Qual seria o mais importante?


Para Aristóteles: enredo é a parte mais relevante de
uma peça, pois em ação se revela tudo quanto há de
mais significativo e valioso para o ser humano, a
felicidade ou a infelicidade.
Porém, hoje, é preciso pensar que nem tudo se revela
na ação.
ENREDO
Como se estabelece o enredo?

Identificar e enunciar da maneira mais neutra


possível as ações sucessivas das personagens
(para alguns autores, de preferência, usando
tempo passado).
Organizar em ordem cronológica.
Distinguir o que está previsto para ocorrer no palco
e o que acontece fora dele, mas deve ser
integrado ao enredo.

Diferenciar de resumo da ação.


CONFLITO E A DINÂMICA DA AÇÃO
DRAMÁTICA
 Situação dramática: diz respeito às circunstâncias em que é dado
às personagens agir ou nas quais estão inscritas (podendo ser
anteriores ou no decorrer da ação);
 Conflito: centro da peça, “coração”, ocorre através de forças
que o desencadeiam, sendo estas oriundas dos personagens, ou
não;
 Peça sem conflito;
 Peça com mais de um conflito (em igual importância ou de ordens
diferenciadas) – dificuldade em perceber o conflito principal.

 Dinâmica da ação dramática: construção dos elementos e da


estrutura dramática em função do conflito – a organização da
ação é uma escolha estética do dramaturgo.

 Intriga: ligada à construção dos acontecimentos e suas relações


de causalidade, enquanto o enredo considerava apenas uma
sucessão temporal dos fatos.
PERSONAGENS
 Três as principais formas de analisar um
personagem:
- o que ele revela sobre si: confidente (alter
ego), à parte, monólogo, solilóquio;
- o que os outros dizem a seu respeito: por falas
ou comportamentos (relações estabelecidas com
o personagem);
- o que ele faz: sua ação particular na ação da
peça. Como a ação de um personagem, em
geral, se configura em relação a outro(s), é
preciso englobá-lo(s). Visualização do todo para
se deter no específico.
Elementos internos e externos à trama: passado,
por exemplo.
PERSONAGENS
 Qualidades a observar num personagem:
- utilidade;
- propósito;
- verossimilhança;
- consistência;
- coerência.

Métodos de análise e construção:


- Ficha de personagem (passado, presente e futuro);
- Caracterizações físicas, comportamentais e psicológicas;
- Formas de tratamento;
- Sequência de ações;
- Qual a frequência dele em cena: em que cenas aparece e em que
cenas é falado sobre ele;
- Objetivo (principal e secundários);
- Relações com os demais.
DIÁLOGOS E DIDASCÁLIAS
 Texto teatral composto por duas partes centrais:
- didascálias/rubricas:indicativos cênicos que alcançam o
leitor e não necessariamente o espectador. Dizem respeito
ao espaço, tempo, caracterização do personagem,
intenções, movimentações etc. Podem trazer também viés
de literatura poética. O texto não-dito que ajuda a
compreender e a imaginar a ação e os personagens. Auxílio
para ator e encenador, mesmo quando não respeitado,
mesmo que seja para subverter.
Quando o autor não fornece nenhuma indicação: deseja se
abster de dar mais pistas para além daquelas incluídas no
texto das personagens. Ambiguidade.

- Diálogos, monólogos, solilóquios, à partes: aquilo que é


dito em cena.
- Há ainda um terceiro ponto: os não-ditos, os subtextos.

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