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Análise do texto teatral -

Dramaturgia
Dra Marcia Polacchini
Lei das Três Unidades
Aristóteles estabeleceu essas diretrizes em sua
obra "Poética", no quarto século a.C.

TEMPO
LUGAR/ESPAÇO
AÇÃO
Lei das Três Unidades
ARISTÓTELES
Aristóteles examinou peças teatrais como uma
forma de arte separada e discutiu como elas
diferiam da poesia épica. Ele deduziu os
elementos essenciais à criação de uma tragédia
bem-sucedida. Pelos dois mil anos seguintes as
diretrizes de Aristóteles constituíram a base para
a composição dramática. Entres essas ideias, ele
estabeleceu a unidade do tempo, espaço e ação.
TEMPO
Aristóteles propôs que a ação de uma peça deveria
desenvolver-se em um curto espaço de tempo,
cobrindo não mais que 24 horas. Performances
baseada em tempo real capturava a atenção da
plateia e criava uma sensação de imediatismo. Os
personagens podem se referir a eventos fora do
espaço de tempo da peça apenas para estabelecer o
tom e o contexto da encenação. Entretanto, seria
ideal que ação real da peça se situasse dentro do
tempo da peça em si.
ESPAÇO/LUGAR
Aristóteles argumentava que as peças deveriam
se realizar em apenas um único cenário. Ele
acreditava que mover-se de um local para outro
poderia causar confusão para a audiência e
distração da trama. A trama, conforme pensava,
era o aspecto mais importante da peça. Os
personagens, cenário e outros elementos eram
considerados secundários em relação ao intenso
fluxo de ação que conduzia, inevitavelmente, à
conclusão.
AÇÃO
A unidade de ação refere-se à argumentação de Aristóteles de
que a peça deveria conter uma trama central ou tema e um
claro início, meio e fim. Para ele, uma peça ruim era feita com
uma sequência de episódios; e assim faltaria a "causa e efeito"
que uma trama real deveria ter.
Todas as cenas dentro da peça deveriam anunciar a trama;
divagações deveriam ser evitadas. Nada aleatório ou sem
lógica poderia quebrar o fluxo de ação.
Aristóteles era particularmente exigente em usar a intervenção
divina para desprender os personagens de suas circunstâncias.
Isso era feito através da aparição de um deus, ao final da peça,
para esclarecer os problemas criados pelas ações dos
personagens ou resolver a situação.
IMPORTANTE…
Aristóteles estava formando essas regras iniciais durante
o quarto século a.C. Na época, as peças eram encenadas
ao ar livre e o uso de múltiplos cenários seriam caros e
complicados para produzir. A platéia provavelmente
ficaria confusa no processo de mudanças de cenários e
acessórios, uma vez que não havia coisas como cartazes
para anunciar a mudança de cena.
Finalmente, Aristóteles era conhecido como um filósofo
que apreciava a lógica. Qualquer progressão dramática
que ficasse de fora do reino da lógica teria sido rejeitada.
TEXTO TEATRAL
O TEXTO
Um texto teatral não é vida, mas arte, sendo uma obra
de arte, é artificial – um objeto tecnicamente elaborado,
entre as regras gramaticais e o jogo da ação e reação,
permeado de eixos e ganchos que desdobram as cenas
em situações sintetizadas dos personagens. Ele não é um
mero intercâmbio verbal entre os personagens, mas um
econômico e simbólico canal de intercâmbio de ações,
através do qual os personagens procuram impor suas
vontades uns aos outros.

IMPOR é o verbo que identifica a ação VONTADES o


objetivo
AÇÃO DRAMÁTICA
É a soma dos choques entre as forças em jogo. Sendo choque,
colisão, conflito entre vontades antagônicas, toda a ação é recíproca.
No teatro toda ação suscita uma reação e é nesse jogo de tensões
que as intenções se expressam.

(A) age em (B)


(B) sente a ação de (A),
assimila seu impacto, reage, e assim por diante.

Não existe ação dramática em mão única.

UM BOM TEXTO SEMPRE NOS INFORMARÁ TUDO A RESPEITO DELE.


A IDEIA
O autor do texto teve uma ideia de ação e com esta ideia
ele quer dizer algo. O interessante é desvendar esse
primeiro mistério da arte dramática. Que situações ou
falas revelam explicita ou implicitamente o que o autor
quer dizer com o seu texto.

É IMPORTANTE QUE TODOS SAIBAM O QUE O AUTOR


QUER DIZER, POIS ALÉM DE FAZER COM QUE NÃO
PERCAMOS TEMPO COM ALGO QUE NÃO ACREDITAMOS,
NOS AJUDARÁ SOBREMANEIRA NA CONCEPÇÃO E NA
CONCIENCIA CRÍTICA DO MATERIAL DRAMÁTICO.
ELEMENTOS PARA A INVESTIGAÇÃO
DA IDEIA
- Reflexão sobre o título da obra;
- Informações gerais sobre o autor, seu tempo e o
contexto histórico da sua existência;
- Depoimentos filosóficos contidos no subtexto dos
diálogos;
- Conceitos e valores defendidos por personagens
simpáticos ou antipáticos;
- Reflexão sobre o resumo da ação feito anteriormente;
- Resumir o enredo da peça em poucas frases,
eliminando todos os elementos acessórios e dando
ênfase ao choque entre as vontades em conflito;
FATORES AMBIENTAIS
Fatores que direta ou indiretamente situam os acontecimentos
do texto no seu contexto histórico cultural.

- Localização geográfica
- Data: época, ano, estação, dia do mês e da semana, hora do
dia; duração da ação da peça, de cada ato, do lapso de tempo
entre um ato e outro, etc;
- Ambientação econômica;
- Ambientação política;
- Ambientação social;
- Ambientação religiosa;
AÇÃO ANTERIOR

O que nos é dito e que aconteceu antes que


ação propriamente dita - a ação presente -,
comece. A soma das duas ações, a anterior e a
presente compõem o enredo da peça.

DEVEM SER SUBLINHADAS TODAS AS FALAS QUE


CONTÊM DADOS DA AÇÃO ANTERIOR.
PERSONAGENS
São os condutores e/ou instrumentos da ação.
As coisas acontecem no texto desta e não de
outra maneira porque seus personagens têm
tais e não outras características. As melhores
informações sobre os personagens provêm da
observação do seu comportamento em ação,
sobretudo nos momentos de clímax, quando
eles estão mais sob pressão.
Estudo das características

- Fazer um histórico da vida (econômica,


familiar, psicosocial) do personagem a partir de
dados extraídos do texto.
- Depoimentos ou comentários dos personagens
a seu próprio respeito ou a respeito dos outros;
Identificação das Características dos
Personagens
- Superobjetivo (eixo, meta ou desejo principal);
- Motivações secundárias;
- Força de vontade;
- Código moral (normas, valores éticos, etc);
- Relacionamento com outros personagens;
- Aparência, e como ela traduz a natureza profunda do personagem.

É INTERESSANTE QUE SE FAÇA UM HISTÓRICO DAS NUANÇAS


COMPARTAMENTAIS DOS PERSONAGENS AO LONGO DA PEÇA.
UNIDADES DA AÇÃO DRAMÁTICA
Para estudar a ação, devemos dividir a peça em segmentos. O
texto costuma conter uma divisão óbvia em atos, cenas,
quadros. Mas o que interessa é o conceito da unidade
dramática. Dentro de cada unidade, cada personagem
envolvido no conflito do momento persegue um objetivo
imediato específico. Cada vez que um desses mini-objetivos é
alcançado ou abandonado ou desviado para um outro rumo,
abre-se uma nova unidade.

Exemplo de um mini objetivo: “beber um copo de água”, se


neste determinando momento o personagem está com sede,
ainda que o seu superobjetivo na peça seja “assumir o poder”.
Dividir a peça em unidades. Numerar as
unidades. Definir o mini objetivo de cada
personagem dentro da unidade, através de um
verbo ativo, que possa sempre servir de
sugestão de representação ao ator,
eventualmente seguido de um complemento
direto.
O exemplo abaixo divide em 4 unidades um
pequeno quadro da peça Faca de Dois Gumes de
José Facury Heluy.
Unidade 1
Vizinha 2= superobjetivo => fofocar; mini-objetivo=> mostrar a
religiosidade. Vizinha 1 = superobjetivo => fofocar;
mini-objetivo => criticar o gosto musical dos jovens).

Vizinha 1- Oi, Dona Lúcia, o culto demorou hoje, não?


Vizinha 2- Fui visitar uma irmã que está adoentada, fomos
fazer umas orações para ela. E aí, como é que está?
Vizinha 1- Agora é que ficou ruim.
Vizinha 2- Essa festa é coisa do bicho ruim, que Deus tenha
pena de nós.
Vizinha 1- Bicho ruim é esse tal de funk, mas a garotada gosta,
né?
Unidade 2
(Vizinha 2 = superobjetivo => preocupar; mini-objetivo =>
saber da Joana. Vizinha 1 = superobjetivo => aliviar a
conversa; mini-objetivo => defender a Joana)

Vizinha 2- E a Joana está lá?


Vizinha 1- Sim, mas está numa boa. Deixe ela se divertir.
Vizinha 2- Não sei não.
Vizinha 1- Que nada, ela é uma boa garota.
Vizinha 2- Isso é, mas essas batidas e modo de dançar...não sei
não.
Vizinha 1- Deixa a bichinha, dona Lúcia.
Unidade 3

(Vizinha 2 = superobjetivo => mudar o rumo da


conversa ; mini-objetivo => fofocar. Vizinha 1=
superobjetivo => Tornar-se alheia; mini-objetivo =>
fofocar despreocupadamente)

Vizinha 2- E aquele mau elemento, tá lá?


Vizinha 1- Qual deles?
Vizinha 2- Você sabe de quem eu estou falando.
Unidade 4
(Vizinha 1 = superobjetivo => fofocar; mini-objetivo =>
provocar preocupações. Vizinha 2 = superobjetivo => aceitar a
provocação; mini-objetivo => entregar a Deus e tomar uma
atitude)

Vizinha 1- Não! Já esteve e subiu com a Míriam, lá para o alto.


Vizinha 2- Meu Deus do Céu! Isso vai piorar. Não adiantou as
preces que fizemos ainda agorinha mesmo, Deus meu!
Vizinha 1- Que nada, devem ter ido buscar alguma coisa. Logo,
logo voltarão.
Vizinha 2- Eu vou chamar a Joana.
Vizinha 1- A senhora é quem sabe. Vou ver se as crianças estão
dormindo.
É SEMPRE BOM DEFINIR TODOS OS
PERSONAGENS DO TEXTO POR ESSES
PARÂMETROS, ADEQUANDO NOSSO PROCESSO
DE ANÁLISE AO TIPO DE VOLUME DE
INFORMAÇÕES QUE CADA PERSONAGEM PODE
OFERECER.

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