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A Igreja do Diabo

OFICINA CONTOS DE MACHADO DE ASSIS


MAPEAMENTOS INICIAIS

- Publicado em 1884, no livro Histórias sem data;

- 4 Capítulos: “De uma ideia mirífica”; “Entre Deus e o Diabo”; “A boa nova aos homens”;
“Franjas e franjas”;

- Decisão, Conversa, Decepção, Volta ao céu;

- Tempo e Espaço;

- Personagens: Deus e o Diabo

- Fausto, de Goethe.

- As dualidades
DO CONTO
O diabo, ansioso por poder e cansado da desorganização histórica em que vivia, resolve fundar
sua própria igreja, com suas próprias regras. E regras muito atraentes para as pessoas:
transgredir todas as leis, em especial, as leis divinas. O inimigo de Deus visava conquistar a
hegemonia entre as religiões do mundo inteiro, prometendo infinitos lucros aos afiliados.
Praticar o bem seria então condenável e fazer o que todos sempre tiveram que reprimir seria
sublime.

- “Fundar uma igreja”: a disputa não seria mais desigual, pensou ele, porque a partir de então
seria “Escritura contra Escritura”.

- Relação Deus/religião, homem/razão.


AS FRANJAS

I. Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do
céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de
algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja;
atrás delas virão as de seda pura... (Diabo para Deus, Capítulo II);

II. Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de
veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana. (Deus para o
Diabo, Capítulo IV).
SOBRE A METÁFORA DAS FRANJAS
- A condição humana é ambígua. Os que fundamentam suas vidas nas Escrituras Sagradas são os mesmos
que usufruem das delícias do pecado. Os que demonstram ter compaixão pelo próximo são, na verdade,
misantropos. Agem de tal modo senão por interesse próprio.

- Efeito da Igreja: A fraude e a força se tornaram os braços dos homens. A venalidade recebeu atenção
especial, todos poderiam vender tudo, até mesmo seu caráter, sua moral, sua fé, sua alma, seu sangue,
vender a si mesmo. A calúnia gratuita não foi proibida, mas qualquer tipo de respeito foi julgado ilegal;
somente a adulação era permitida em seu lugar. A solidariedade e o amor ao próximo foram proibidos,
porque não eram coesos com a nova doutrina. Ao próximo, indiferença, ódio e desprezo, nada mais.
Aliás, era permitido amar o próximo apenas quando este fosse mulher alheia

- O Diabo percebeu que seu objetivo estava funcionando. Sua igreja foi abençoada, aos poucos foi
enchendo de franjas de algodão, que preferiam as usufruir das delícias do pecado a seguir os
fundamentos das Escrituras. O Diabo se enalteceu. No entanto, tempos depois, o Diabo percebeu que a
maioria de seus fiéis estava praticando furtivamente virtudes proibidas. Os gulosos estavam comendo
poucas vezes por ano. Os avaros davam esmolas. Os gastadores restituíam certas quantias. Os
fraudulentos se entregavam. O ladrão retribuía. O trapaceador se confessava. O Diabo, então, decidiu
observar melhor a situação, e concluiu que se achava mais grave do que imaginava.
DAS VISÕES DA IGREJA (INSTITUIÇÃO)
- Por que a Igreja de Deus? Por que a Igreja do Diabo? A narrativa afirma que é por causa do preço ser
alto para fazer parte dela, ou seja, era necessário reprimir, mais e mais, todos os desejos íntimos e
pouco revelados. E, segundo o que havia observado há século, concluiu que isso não era a que
aspirava a maioria. Agia-se dissimuladamente senão para fugir de punições e conquistar a Retribuição
Divina.

- Por qual motivo, então, a igreja do Diabo se encheu e, tempos depois, esvaziou-se, sendo que a
maioria, transgredindo suas leis, tornou a praticar as virtudes antigas, pertencentes à igreja de Deus.
Talvez por causa de o ser humano possuir em sua constituição uma inclinação à transgressão, oriunda
das relações com o pai primevo. A transgressão em alguns se mostra mais graves, e estes acabam por
ser punidos ao conviverem na cultura. Freud, usando como exemplo a Religião, lembra que quanto
mais se evita pecar, mais o desejo de pecar se intensifica.

- Para Freud, todo ser humano é contraditório em suas ligações afetivas, já que as instâncias
consciente e inconsciente estão em contínuo conflito. A grande parte, ao mesmo tempo em que
demonstra ter, conscientemente, amor, respeito, afetividade, fidelidade a quem se acha ligada, na
verdade, inconscientemente, oculta uma hostilidade desconhecida (Freud,1912/2013, p. 58). Em suas
próprias palavras: “Essa ambivalência se acha, em maior ou menor grau, na constituição de todo
indivíduo.” (FREUD, 1912/2013, p. 58).
Slides montados com trechos copiados do artigo “A condição humana no conto A igreja do diabo, de
Machado de Assis, assinado por Jonathas Rafael para a seção “Literatura” da revista digital Obvius.

Disponível no endereço: http://obviousmag.org/palavras_desassossegadas/2017/a-condicao-humana-


no-conto-a-igreja-do-diabo-de-machado-de-assis.html

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