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Literatura Modernista (1ª Fase)

Prof. Jorge Alessandro


Nosso céu tem mais estrelas,
Esta gramática, pois que gramática implica no seu Nossas várzeas têm mais flores,
conceito o conjunto de normas com que torna consciente Nossos bosques têm mais vida,
a organização de uma ou mais falas, esta gramática Nossa vida mais amores.
parece estar em contradição com o meu sentimento. É [...]
certo que não tive jamais a pretensão de criar a Fala Minha terra tem primores,
Brasileira. Não tem contradição. Só quis mostrar que o Que tais não encontro eu cá;
meu trabalho não foi leviano, foi sério. Se cada um fizer Em cismar — sozinho, à noite —
também das observações e estudos pessoais a sua Mais prazer eu encontro lá;
gramatiquinha muito que isso facilitará pra daqui a uns Minha terra tem palmeiras
cinquenta anos se salientar normais gerais, não só da fala Onde canta o Sabiá.
oral transitória e vaga, porém da expressão literária Não permita Deus que eu morra,
impressa, isto é, da estilização erudita da linguagem oral. Sem que eu volte para lá;
Essa estilização é que determina a cultura civilizada sob o Sem que desfrute os primores
ponto de vista expressivo. Linguístico. Que não encontro por cá;
(ANDRADE, Mário. Apud PINTO, E. P. A gramatiquinha de Mário de Andrade. Sem qu’inda aviste as palmeiras
São Paulo: Duas Cidades: Secretaria de Estado da Cultura, 1990)
Onde canta o Sabiá.
(DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998)
01. (2009.1) O fragmento é baseado nos originais de
Mário de Andrade destinados à elaboração da sua Texto 2
Gramatiquinha. Muitos rascunhos do autor foram Canto de regresso à Pátria
compilados, com base nos quais depreende-se do Minha terra tem palmares
pensamento de Mário de Andrade que ele: Onde gorjeia o mar
A) demonstra estar de acordo com os ideais da gramática Os passarinhos daqui
normativa. Não cantam como os de lá
B) é destituído da pretensão de representar uma Minha terra tem mais rosas
linguagem próxima do falar. E quase tem mais amores
C) dá preferência à linguagem literária ao caracterizá-la Minha terra tem mais ouro
como estilização erudita da linguagem oral. Minha terra tem mais terra
D) reconhece a importância do registro do português do Ouro terra amor e rosas
Brasil ao buscar sistematizar a língua na sua expressão Eu quero tudo de lá
oral e literária. Não permita Deus que eu morra
E) reflete a respeito dos métodos de elaboração das Sem que volte para lá
gramáticas, para que ele se torne mais sério, o que fica Não permita Deus que eu morra
claro na sugestão de que cada um se dedique a estudos Sem que volte pra São Paulo
pessoais. Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo
Texto 1 (ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo:
Círculo do Livro, s/d)
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
02. (2009.1) Os textos 1 e 2, escritos em contextos
Onde canta o Sabiá;
históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo
As aves, que aqui gorjeiam,
poético: a paisagem brasileira entrevista a distância.
Não gorjeiam como lá.
Analisando-os, conclui-se que:

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A) o ufanismo, atitude de quem se orgulha B) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até
excessivamente do país em que nasceu, é o tom de que então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação
se revestem os dois textos. artística nacional.
B) a exaltação da natureza é a principal característica do C) representaram a ideia de que a arte deveria copiar
texto 2, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática
1. educativa.
C) o texto 2 aborda o tema da nação, como o texto 1, mas D) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras
sem perder a visão crítica da realidade brasileira. retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada a
D) o texto 1, em oposição ao texto 2, revela tradição acadêmica.
distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria. E) buscaram a liberdade na composição de suas figuras,
E) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem respeitando limites de temas abordados.
brasileira.
Estrada
Oferta Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Quem sabe Interessa mais que uma avenida urbana.
Se algum dia Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Traria Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
O elevador Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Até aqui Cada criatura é única.
O teu amor Até os cães.
(ANDRADE, Oswald de. Obras Completas de Oswald de Andrade. Rio Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Jan: Civilização Brasileira, 78, p. 33) Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai.
03. (2009.3) O poema Oferta, de Oswald de Andrade, E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
apresenta em sua estrutura e temática uma relação Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
evidente com um aspecto da modernização da bodezinho manhoso.
sociedade brasileira. Trata-se da: Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos
A) ausência do lirismo amoroso no poema e símbolos,
impossibilidade de estabelecer relações amorosas na Que a vida passa! Que a vida passa!
sociedade regida pelo consumo de mercadorias. E que a mocidade vai acabar.
B) adesão do eu lírico ao mundo mecanizado da (BANDEIRA, M. K. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967)
modernidade, justificada pela certeza de que as
facilidades tecnológicas favorecem o contato humano. 05. (2011.1) A lírica de Manuel Bandeira é pautada na
C) recusa crítica em inserir no texto poético elementos apreensão de significados profundos a partir de
advindos do discurso publicitário, avesso à sensibilidade elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo
lírica do autor. presente no contraste entre campo e cidade aponta
D) associação crítica entre as invenções da modernidade para:
e a criação poética modernista, entre o lirismo amoroso e A) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos
a automatização das ações. centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação
E) impossibilidade da poesia de incorporar as novidades à cidade.
do mundo moderno já inseridas nas novas relações B) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada
sociais da vida urbana. pela observação da aparente inércia da vida rural.
C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
04. (2010.1) Após estudar na Europa, Anita Malfatti possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta
nacional do início do século XX. Elogiada por seus gera insegurança.
mestres na Europa, Anita se considerava pronta para E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão
mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras acerca da morte.
críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar
uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita O trovador
Malfatti e outros artistas modernistas: Sentimentos em mim do asperamente
A) buscaram libertar a arte brasileira das normas dos homens das primeiras eras...
acadêmicas europeias, valorizando as cores, a As primaveras do sarcasmo
originalidade e os temas nacionais. intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...

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Outras vezes é um doente, um frio 07. (2012.2) A arte, em suas diversas manifestações,
na minha alma doente como um longo som redondo... desperta sentimentos que atravessam fronteiras
Cantabona! Cantabona! culturais. Relacionando a temática do texto com a
Dlorom... imagem, percebe-se a ligação entre a:
Sou um tupi tangendo um alaúde! A) alegria e a satisfação na produção das obras
(ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário modernistas.
de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005) B) lembrança e o rancor relacionados ao seu ofício
06. (2012.1) Cara ao Modernismo, a questão da original.
identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de C) saudade e o refúgio encontrados pelo homem na
Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é: natureza.
A) abordado subliminarmente, por meio de expressões D) memória e a lembrança passadas no íntimo do
como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, enunciador.
remete à brasilidade. E) exaustão e o medo impostos ao corpo de todo artista.
B) verificado já no título, que remete aos repentistas Sambinha
nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
viagens e pesquisas folclóricas. Afobadas braços dados depressinha
C) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da
como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), rua.
“frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do As costureirinhas vão explorando perigos...
alaúde “Dlorom” (v. 9). Vestido é de seda.
D) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde Roupa-branca é de morim.
(civilizado), apontando a síntese nacional que seria Falando conversas fiadas
proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de As duas costureirinhas passam por mim.
Andrade. — Você vai?
E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos — Não vou não!
homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho Parece que a rua parou pra escutá-las.
brasileiro por suas raízes indígenas. Nem trilhos sapecas
Só é meu Jogam mais bondes um pro outro.
O país que trago dentro da alma. E o Sol da tardinha de abril
Entro nele sem passaporte Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
Como em minha casa. As nuvens são vermelhas.
[...] A tardinha cor-de-rosa.
As ruas me pertencem. Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas...
Mas não há casas nas ruas. Fizeram-me peito batendo
As casas foram destruídas desde a mi-nha infância. Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Os seus habitantes vagueiam no espa-ço Isto é...
À procura de um lar. Uma era ítalo-brasileira.
[...] Outra era áfrico-brasileira.
Só é meu Uma era branca.
O mundo que trago dentro da alma. Outra era preta.
(BANDEIRA, M. Um poema de Chagall. In: Estrela da vida inteira: (ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988)
poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993)
08. (2012.2) Os poetas do Modernismo, sobretudo em
sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao
fazer poético, como parte de seu projeto de
configuração de uma identidade linguística e nacional.
No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se,
pois:
A) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista
que marcava a sociedade do início do século XX,
machismo expresso em “que até dão vontade pros
homens da rua”.
B) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar
(CHAGALL, M. Eu e a aldeia. Nova York, 1911) de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o

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andamento dos versos é truncado, o que faz com que o Não abdicação diante da vida.
evento perca a naturalidade. A esperança
C) a sensibilidade do eu poético parece captar o Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
movimento dançante das costureirinhas — depressinha Nunca é figura de mulher
— que, em última instância, representam um Brasil de Do quadro antigo.
“todas as cores”. Sentada, dando milho aos pombos.
D) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao (RICARDO, C.)
desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação,
10. (2012.2) O poema de Cassiano Ricardo insere-se no
prejudica a compreensão do poema.
Modernismo brasileiro. O autor metaforiza a crença do
E) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver
sujeito lírico numa relação entre o homem e seu tempo
moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão
marcada por
de afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
A) uma atitude de perseverança e coragem no contexto
TEXTO I de estagnação histórica e social.
Poema de sete faces B) uma posição em que louva a esperança passiva para
Mundo mundo vasto mundo, que ocorram mudanças sociais.
Se eu me chamasse Raimundo C) um olhar de resignação perante as dificuldades
seria uma rima, não seria uma solução. materiais e psicológicas da vida.
Mundo mundo vasto mundo, D) uma ideia de que a esperança do povo brasileiro está
mais vasto é meu coração. vinculada ao sofrimento e às privações.
(ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001) E) um estado de inércia e de melancolia motivado pelo
tempo passado “numa sala de espera”.
TEXTO II
CDA (imitado) Olá! Negro
Ó vida, triste vida! Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
Se eu me chamasse Aparecida e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
dava na mesma. tentarão apagar a tua cor!
(FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: E as gerações dessas gerações quando apagarem
7Letras, 2006) a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
09. (2012.2) Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
indica “imitado” porque, como nos versos de
negro cabinda, negro congo, negro íoruba,
Drummond,
negro que foste para o algodão de USA
A) adota tom melancólico para evidenciar a desesperança
para os canaviais do Brasil,
com a vida.
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
B) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais no
de todos os senhores do mundo;
mundo vasto.
eu melhor compreenda agora os teus blues
C) invoca a tristeza da vida para potencializar a ineficácia
nesta hora triste da raça branca, negro!
da rima.
Olá, Negro! Olá. Negro!
D) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior que o
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
mundo. (LIMA. J, Obras completas: Rio de Janeiro, Aguilar, 1958)
E) aponta a insuficiência da poesia para solucionar os
problemas da vida. 11. (2013.1) O conflito de gerações e de grupos étnicos
A rua reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social
Bem sei que, muitas vezes, assinalado por:
O único remédio A) modernização dos modos de produção e consequente
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, enriquecimento dos brancos.
A dívida, o divertimento, B) preservação da memória ancestral e resistência negra
O pedido de emprego, ou a própria alegria. à apatia cultural dos brancos.
A esperança é também uma forma C) superação dos costumes antigos por meio da
De contínuo adiamento. incorporação de valores dos colonizados.
Sei que é preciso prestigiar a esperança, D) nivelamento social de descendentes de escravos e de
Numa sala de espera. senhores pela condição de pobreza.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas, E) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas
Esperança sentada. de hereditariedade.

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13. (2014.1) Uma das diretrizes do Modernismo foi a
percepção de elementos do cotidiano como matéria de
inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira
exemplifica essa tendência e alcança expressividade
porque:
A) realiza um inventário dos elementos lúdicos
tradicionais da criança brasileira.
B) promove um reflexão sobre a realidade de pobreza dos
centros urbanos.
C) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de
significação corriqueira.
D) introduz a interlocução como mecanismo de
construção de uma poética nova.
E) constata a condição melancólica dos homens distantes
da simplicidade infantil.

12. (2013.1) O poema de Oswald de Andrade remonta à Evocação do Recife


ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. A vida não me chegava pelos jornais
Quanto à questão da identidade nacional, as anotações nem pelos livros
em torno dos versos constituem: Vinha da boca do povo na língua errada
A) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de do povo
dados histórico-culturais. Língua certa do povo
B) forma clássica da construção poética brasileira. Porque ele é que fala gostoso o português
C) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol. do Brasil
D) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de Ao passo que nós
leitura poética O que fazemos
E) lembretes de palavras tipicamente brasileiras É macaquear
substitutivas das originais. A sintaxe lusíada...
(BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2007)
Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: 14. (2014.2) Segundo o poema de Manuel Bandeira, as
O que vende balõezinhos de cor variações linguísticas originárias das classes populares
O macaquinho que trepa no coqueiro devem ser:
O cachorrinho que bate com o rabo A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o
Os homenzinhos que jogam boxe português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica.
A perereca verde que de repente dá um pulo que B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe
engraçado da língua portuguesa.
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa C) subestimadas, pois o português "gostoso" de Portugal
alguma. deve ser a referência de correção linguística.
Alegria das calçadas D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é
Uns falam pelos cotovelos: garantida por meio da fala do povo.
− "O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar E) reelaboradas, pois o povo "macaqueia" a língua
um pedaço de banana para eu acender o charuto. portuguesa original.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...”
Outros, coitados, têm a língua atada. Cena
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino O canivete voou
ingênuo de demiurgos de inutilidades. E o negro comprado na cadeia
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da Estatelou de costas
meninice... E bateu coa cabeça na pedra
(ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001)
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
uma lição de infância.
(BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova 15. (2014.2) O Modernismo representou uma ruptura
Fronteira, 2007) com os padrões formais e temáticos até então vigentes
na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que
caracteriza o poema Cena como modernista é o(a):

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A) construção linguística por meio de neologismo. 17. (2015.1) A poesia de Cecília Meireles revela
B) estabelecimento de um campo semântico inusitado. concepções sobre o homem em seu aspecto existencial.
C) configuração de um sentimentalismo conciso e irônico. Em Cântico VI, o eu lírico exorta seu interlocutor a
D) subversão de lugares-comuns tradicionais. perceber, como inerente à condição humana,
E) uso da técnica de montagem de imagens justapostas. A) a sublimação espiritual graças ao poder de se
emocionar.
Mãos dadas B) o desalento irremediável em face do cotidiano
Não serei o poeta de um mundo caduco. repetitivo.
Também não cantarei o mundo futuro. C) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes
Estou preso à vida e olho meus companheiros. humanas.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. D) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado
Entre eles, considero a enorme realidade. adolescente.
O presente é tão grande, não nos afastemos. E) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. das coisas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na O peru de Natal
janela. O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. meu pai acontecida cinco meses antes, foi de
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido
os homens presentes, a vida presente. muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes,
(ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. Cia. das Letras, 2012)
lar sem brigas internas nem graves dificuldades
econômicas. Mas, devido principalmente à natureza
16. (2014.2) Escrito em 1940, o poema Mãos dadas
cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo,
revela um eu lírico marcado pelo contexto de opressão
duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre,
política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face
sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida,
dessa realidade, o eu lírico:
aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom,
A) considera que em sua época o mais importante é a
uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas
independência dos indivíduos.
assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático,
B) desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida
o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
em sociedade. (ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros
C) reconhece a tendência à autodestruição em uma do século. São Paulo: Objetiva, 2000)
sociedade oprimida.
D) escolhe a realidade social e seu alcance individual 18. (2015.2) No fragmento do conto de Mário de
como matéria poética. Andrade, o tom confessional do narrador em primeira
E) critica o individualismo comum aos românticos e aos pessoa revela uma concepção das relações humanas
excêntricos. marcada por:
Cântico VI A) distanciamento de estados de espírito acentuado pelo
Tu tens um medo de Acabar. papel das gerações.
Não vês que acabas todo o dia. B) relevância dos festejos religiosos em família na
Que morres no amor. sociedade moderna.
Na tristeza. C) preocupação econômica em uma sociedade urbana em
Na dúvida. crise.
No desejo. D) consumo de bens materiais por parte de jovens,
Que te renovas todo dia. adultos e idosos.
No amor. E) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar
Na tristeza. querido.
Na dúvida.
No desejo. Vei, a Sol
Que és sempre outro. Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e
Que és sempre o mesmo. o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de
Que morrerás por idades imensas. madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio.
Até não teres medo de morrer. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim
E então serás eterno. mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si
(MEIRELES. C. Antologia poética, Rio de Janeiro: Record. 1963) não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não

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havia não. Nem a correntinha encantada de prata que B) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as C) defender a diversidade social e cultural brasileira.
formigas jaquitaguas ruivinhas. D) promover a integração das diferentes regiões do país.
Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. E) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos
Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela brasileiros.
que o carregasse pro céu.
Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia Poema tirado de uma notícia de jornal
muito. João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
— Vá tomar banho! — ela fez. E foi-se embora. morro da Babilônia num barracão sem número.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes Bebeu
europeus. Cantou
(ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Dançou
Janeiro: Agir, 2008) Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
afogado.
19. (2015.2) O fragmento de texto faz parte do capítulo (BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de
VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário Janeiro: José Olympio, 1980)
de Andrade, pertencente à primeira fase do
Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem 21. (2016.2) No poema de Manuel Bandeira, há uma
empregada pelo narrador, é possível identificar: ressignificação de elementos da função referencial da
A) resquícios do discurso naturalista usado pelos linguagem pela:
escritores do século XIX. A) atribuição de título ao texto com base em uma notícia
B) ausência de linearidade no tratamento do tempo, veiculada em jornal.
recurso comum ao texto narrativo da primeira fase B) utilização de frases curtas, características de textos do
modernista. gênero jornalístico.
C) referência à fauna como meio de denunciar o C) indicação de nomes de lugares como garantia da
primitivismo e o atraso de algumas regiões do país. veracidade da cena narrada.
D) descrição preconceituosa dos tipos populares D) enumeração de ações, com foco nos eventos
brasileiros, representados por Macunaíma e Caiuanogue. acontecidos à personagem do texto.
E) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário E) apresentação de elementos próprios da notícia, tais
brasileiro como meio de valorização da cultura popular como quem, onde, quando e o quê.
nacional.
O bonde abre a viagem,
Descobrimento No banco ninguém,
Abancado à escrivaninha em São Paulo Estou só, stou sem.
Na minha casa da rua Lopes Chaves Depois sobe um homem,
De sopetão senti um friúme por dentro. No banco sentou,
Fiquei trêmulo, muito comovido Companheiro vou.
Com o livro palerma olhando pra mim. O bonde está cheio,
Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito De novo porém
longe de mim, Não sou mais ninguém.
Na escuridão ativa da noite que caiu, (ANDRADE, M, Poesias completas. Belo Horizonte: Wa Rica, 1993)
Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos
olhos 22. (2016.2) O desenvolvimento das grandes cidades e a
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, consequente concentração populacional nos centros
Faz pouco se deitou, está dormindo. urbanos geraram mudanças importantes no
Esse homem é brasileiro que nem eu... comportamento dos indivíduos em sociedade. No
(ANDRADE, M, Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987) poema de Mário de Andrade, publicado na década de
1940, a vida na metrópole aparece representada pela
20. (2016.2) O poema Descobrimento, de Mário de contraposição entre:
Andrade, marca a postura nacionalista manifestada A) solidão e a multidão.
pelos escritores modernistas. Recuperando o fato B) a carência e a satisfação.
histórico do “descobrimento”, a construção poética C) a mobilidade e a lentidão.
problematiza a representação nacional a fim de: D) a amizade e a indiferença.
A) resgatar o passado indígena brasileiro. E) a mudança e a estagnação.

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Quem na boleia de um dos carros do cortejo
O farrista mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da
Quando o almirante Cabral gente era o Beppino.
Pôs as patas no Brasil (MACHADO, A. A. Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São Paulo.
O anjo da guarda dos índios Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Vila Rica, 1994)
Estava passeando em Paris.
Quando ele voltou de viagem 24. (2018.2) Situada no contexto da modernização da
O holandês já está aqui. cidade de São Paulo na década de 1920, a narrativa
O anjo respira alegre: utiliza recursos expressivos inovadores, como:
“Não faz mal, isto é boa gente, A) o registro informal da linguagem e o emprego de frases
Vou arejar outra vez.” curtas.
O anjo transpôs a barra, B) o apelo ao modelo cinematográfico com base em
Diz adeus a Pernambuco, imagens desconexas.
Faz barulho, vuco-vuco, C) a representação de elementos urbanos e a prevalência
Tal e qual o zepelim do discurso direto.
Mas deu um vento no anjo, D) a encenação crua da morte em contraponto ao tom
Ele perdeu a memória. respeitoso do discurso.
E não voltou nunca mais. E) a percepção irônica da vida assinalada pelo uso
(MENDES, M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992) reiterado de exclamações.

23. (2017.1) A Obra de Murilo Mendes situa-se na fase HELOÍSA: Faz versos?
inicial do Modernismo, cujas propostas estéticas PINOTE: Sendo preciso... Quadrinhas... Acrósticos...
transparecem, no poema, por um eu lírico que: Sonetos... Reclames.
A) configura um ideal de nacionalidade pela integração HELOÍSA: Futuristas?
regional. PINOTE: Não senhora! Eu já fui futurista.
B) remonta ao colonialismo assente sob um viés Cheguei a acreditar na independência... Mas foi uma
iconoclasta. tragédia! Começaram a me tratar de maluco.
C) repercute as manifestações do sincretismo religioso. A me olhar de esguelha. A não me receber mais.
D) descreve a gênese da formação do povo brasileiro. As crianças choravam em casa. Tenho três filhos.
E) promove inovações no repertório linguístico. No jornal também não pagavam, devido à crise.
Precisei viver de bicos. Ah! Reneguei tudo. Arranjei
Gaetaninho aquele instrumento (Mostra a faca) e fiquei passadista.
Ali na Rua do Oriente a ralé quando muito an- ANDRADE, O. O rei da vela. São Paulo: Globo, 2003.
dava de bonde. De automóvel ou de carro só mesmo em
dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso 25. (2019.1) O fragmento da peça teatral de Oswald de
mesmo o sonho de Gaeta-ninho era de realização muito Andrade ironiza a reação da sociedade brasileira dos
difícil. anos 1930 diante de determinada vanguarda europeia.
Um sonho. [...] Nessa visão, atribui-se ao público leitor uma postura
— Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. A) preconceituosa, ao evitar formas poéticas
Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. simplificadas.
Pegou e matou. B) conservadora, ao optar por modelos consagrados.
No bonde vinha o pai do Gaetaninho. C) preciosista, ao preferir modelos literários eruditos.
A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. D) nacionalista, ao negar modelos estrangeiros.
— Sabe o Gaetaninho? E) eclética, ao aceitar diversos estilos poéticos.
— Que é que tem?
— Amassou o bonde!
A vizinhança limpou com benzina suas roupas
domingueiras.
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um
enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia
de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da
frente dentro de um caixão fechado com flores pobres
por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas
não levava a palhetinha.

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