Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
5-(UNESP-SP–2010)
Instrução: As questões de números 05 e 06 tomam por base o seguinte fragmento de um livro
do conhecido diretor dramático e teórico da dramaturgia Martin Esslin (1918-2002):
“Mas a diferença mais essencial entre o palco e os três veículos de natureza mecânica reside
em outro ponto: a câmera e o microfone são extensões do diretor, de seus olhos e ouvidos,
permitindo-lhe escolher seu ponto de vista (ou seu ângulo de audição) e transportar para eles
a plateia por meio de variações de planos, que podem englobar toda uma cena ou fechar-se
sobre um único ponto, ou cortando, segundo sua vontade, de um local para outro. Se um
personagem está olhando para a mão de outro, o diretor pode forçar o público a olhá-la
também, cortando para um close-up da mesma. Nos veículos mecânicos, o poder do diretor
sobre o ponto de vista da plateia é total. No palco, onde a moldura que encerra o quadro é
sempre a mesma, cada integrante individual da plateia tem a liberdade de olhar para aquela
mão, ou para qualquer outro lugar; na verdade, no teatro cada membro da plateia escolhe
seus próprios ângulos de câmera e, desse modo, executa pessoalmente o trabalho que o
diretor avoca para si no cinema e na televisão bem como, mutatis mutandis, no rádio. Essa
diferença, ainda uma vez, oferece ao teatro vantagens e desvantagens. No palco, o diretor
pode não conseguir focalizar a atenção da plateia na ação que deseja sublinhar; no cinema,
isso jamais pode acontecer. Por outro lado, a complexa e sutil orquestração de uma cena que
envolve muitos personagens (uma característica de Tchekov no teatro) torna-se
incomparavelmente mais difícil no cinema e na televisão. A sensação de complexidade, de que
há mais coisas acontecendo naquele momento do que pode ser apreendido com um único
olhar, a riqueza de um intrincado contraponto de contrastes humanos será inevitavelmente
reduzida em um veículo que nitidamente guia o olho do espectador, ao invés de permitir que
ele caminhe livremente pela cena.”
ESSLIN, Martin. Uma anatomia do drama. Tradução de Barbara Heliodora. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1978.