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UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO

DO RIO DE JANEIRO

CURSO: ESTÉTICA E TEORIA DO TEATRO

ALUNO: MARCELO APARECIDO DA CRUZ PRATES

MATRÍCULA: 20212415007

DISCIPLINA: ESTUDOS DE ARTE BRASILEIRA

PROFª. ANA BERNSTEIN

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ANO 2023.2

A Parede da Memória de Rosana Paulino e sua Influência no Enredo


“Empretecer o Pensamento” da Beija-Flor de Nilópolis.

Introdução:

A arte contemporânea brasileira tem testemunhado um renascimento significativo na


representação da cultura negra, quebrando estereótipos e proporcionando uma plataforma
para a expressão cultural e histórica. Neste contexto, a artista Rosana Paulino emerge como
uma figura notável, especialmente por meio de sua obra “Paredes da Memória”. Além disso,
o desfile da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis em 2022, com o enredo “Empretecer o
Pensamento”, ofereceu uma oportunidade única para explorar a interseção entre arte
contemporânea e cultura afro-brasileira. Esta tese busca analisar a contribuição de Rosana
Paulino para a arte contemporânea brasileira e sua influência no enredo da Beija-Flor.

1: A Arte de Rosana Paulino e “Paredes da Memória”:


Este capítulo examinará a trajetória artística de Rosana Paulino, com foco especial em
sua obra “Paredes da Memória”. Serão exploradas as principais temáticas, técnicas e
abordagens utilizadas por Paulino em sua arte, bem como o contexto histórico e cultural em
que sua obra se insere.
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2: “Empretecer o Pensamento” da Beija-Flor de Nilópolis:

Neste capítulo, será realizada uma análise aprofundada do enredo “Empretecer o


Pensamento” da Beija-Flor de Nilópolis. Será investigado como a escola de samba
incorporou elementos da obra de Rosana Paulino em sua apresentação, destacando a
importância da cultura negra na sociedade brasileira.

3: Conclusão: abordaremos os impactos artísticos e sociais que a obra de Rosana


Paulino no desfile da a beija Flor De Nilópolis, repercutindo como suas representações da
história e cultura negra contribuíram para um diálogo mais amplo sobre identidade, racismo
e resistência num ambiente fora da academia e dos museus, de forma a popularizar e expandir
esses discursos .

4: Bibliografia

DESENVOLVIMENTO:

1: A Arte de Rosana Paulino e “Paredes da Memória”

Neste primeiro momento, exploraremos a trajetória artística de Rosana Paulino, uma


das figuras proeminentes da arte contemporânea brasileira, com destaque para sua obra
notável, “Paredes da Memória”. Esta análise se propõe a mergulhar na riqueza da produção
artística de Paulino, investigando suas principais temáticas, técnicas e seu significado no
contexto histórico e cultural do Brasil.

1.1 Contexto da Arte Contemporânea Brasileira:


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Para compreender a contribuição singular de Rosana Paulino, é fundamental situá-la


no contexto mais amplo da arte contemporânea brasileira. Nas últimas décadas, a arte no
Brasil tem passado por uma transformação marcante, abraçando uma diversidade de vozes e
perspectivas anteriormente subestimadas. A arte contemporânea tem se destacado como uma
plataforma onde questões de identidade, gênero, raça e história têm sido exploradas de
maneira incisiva.

1.2 A Vida e Carreira de Rosana Paulino:

Rosana Paulino, nascida em São Paulo, é uma artista cuja carreira tem sido
profundamente influenciada por suas experiências pessoais e sua identidade negra. Sua
formação acadêmica em Artes Visuais, pela Escola de Comunicações e artes da Universidade
de São Paulo - ECA/USP. Na mesma universidade graduou-se em gravura e cursou
especialização em Londres, no London Print Studio. Sua produção está relacionada à posição
que mulher negra ocupa no Brasil desde a colonização, essa perspectiva, coloca a artista em
diálogo contínuo com questões étnicas, raciais e de gênero.e seu engajamento em questões
sociais e culturais moldaram sua abordagem artística. Explorar sua jornada desde os
primeiros passos na arte até sua consagração é fundamental para compreender a evolução de
seu trabalho e como ele se relaciona com a cultura negra no Brasil. Todo seu trabalho é
atravessado por questões sociais e afetivas, de forma que, ao revisitar as marcas da
historiografia nacional, a artista (Re) humaniza homens e mulheres escravizados. A artista
utiliza, com frequência, fotografias de família, que, segundo ela, possuem uma carga afetiva
potente, além de se utilizar também da costura, especificamente o bordado, a gravura, a
colagem, abarcando sempre novos experimentos e uma dinâmica ímpar na sua produção
visual.
Dentro da obra de Rosana Paulino, emergem diversas temáticas recorrentes que
merecem atenção crítica. Estas incluem a representação da mulher negra e os papéis sociais
que lhe cabem, a ressignificação da história, as memórias coletivas e individuais, a denúncia
do racismo estrutural e a celebração da cultura afro-brasileira.Para uma análise mais apurada,
é imperativo contextualizar a obra de Rosana Paulino no cenário histórico e cultural do
Brasil. A história da escravidão, a luta pelo reconhecimento da cultura negra e os movimentos
sociais contemporâneos são elementos cruciais que influenciam a produção artística de
Paulino. Examinar como sua arte dialoga com esse contexto enriquece nossa compreensão de
suas intenções e impacto.
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Acredito que a partir desse contexto, tenha sido fornecida uma base substancial para a
compreensão da obra de Rosana Paulino e sua importância na arte contemporânea brasileira.
Ao explorar seu contexto histórico, suas influências pessoais e as temáticas presentes em
“Paredes da Memória,” estamos preparados para avançar na análise de como sua arte
influenciou o enredo da Beija-Flor de Nilópolis em 2022, em especial para a confecção da
fantasia da ala de baianas daquele desfile da citada escola de samba, contribuindo assim para
o panorama artístico do Brasil

1.3 “Paredes da Memória” como Obra-Prima de Rosana Paulino:

Dentre as tantas obras da artista, selecionamos a Parede da Memória, um trabalho que


é sempre referência nas pesquisas que tratam da proposta visual de Paulino. Por meio dela,
pretendemos observar as estratégias representacionais que produzem significados importantes
para a construção da diferença étnico-racial dentro de sistemas de representação e de relações
de poder (HALL, 2016) e como tal obra, serviu de referência para a construção visual da
fantasia da ala de baianas da escola de Samba GRÉS Beija Flor de Nilópolis, para o seu
desfile do ano de 2022, com o enredo “Empretecer o pensamento, é ouvir a voz da Beija Flor
de Nilópolis.
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● Fotografia 01: detalhe da Parede da Memória, Rosana Paulino, 1994/2015.


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Fonte: acervo PINACOTECA, São Paulo

a- Em entrevista concedida a Revista Bravo, a artista fala da necessidade de novas


técnicas na produção dos seus trabalhos. Confira: http://www.rosanapaulino.com.br

b- No próprio site da artista, há um levantamento com a disponibilização dos links de


acesso. Para conferir: http://www.rosanapaulino.com.br/blog/imprensa/
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Fonte: Acervo PINACOTECA São Paulo

As imagens que compõem a obra, já foram parte de uma caixa de fotografias de uma
família humilde. Hoje essas mesmas imagens, são parte do acervo da Pinacoteca de São
Paulo, doação da Associação Pinacoteca Arte e Cultura – APAC, 2018.

A artista fala de sua curiosidade e vontade de mexer nessa caixa de fotos que tinham
em sua casa e, assim que esse momento chegou decidiu trabalhar com as fotos de sua família.
A partir dessas imagens Rosana acredita ser possível saber quem ela é, e de onde vieram seus
antecedentes, pai, mãe, avó, etc. Essa curiosidade foi a motivação para a criação da Parede da
Memória. Como um mega jogo de memória, a obra possui muitas peças, entre 1994 e 2018,
há uma variação no número de patuás utilizados na montagem da instalação. Já foram
utilizadas até 1500 peças, o que remete à multidão, que segundo a artista "tem uma questão
da multidão, essa coisa de ignorar. Você ignora uma dessas pessoas na multidão, mas não
ignora mil e trezentos olhos em cima de você. Tem a questão da origem, de onde eu vim"
(ANTONACCI, 2014).

2: “Empretecer o Pensamento é ouvir da voz da Beija Flor” enredo da Beija-Flor de


Nilópolis.
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Este capítulo se dedica a uma análise aprofundada do desfile da Escola de Samba


Beija-Flor de Nilópolis em 2022, intitulado “Empretecer o Pensamento é ouvir a voz da Beija
Flor”. Nosso objetivo é investigar como a Beija-Flor incorporou elementos da obra de Rosana
Paulino, em particular, “Paredes da Memória”, e como esse enredo contribuiu para o diálogo
sobre a cultura negra no Brasil.

2.1 Contexto do Carnaval e a Escola de Samba Beija-Flor:

Antes de mergulharmos no enredo específico, é essencial entender o contexto do


Carnaval no Brasil e a importância da Beija-Flor de Nilópolis como uma das principais
escolas de samba do Rio de Janeiro, sendo considerada a escola com o maior reduto de
desfilantes negros na Sapucaí. Exploraremos a tradição do Carnaval como uma plataforma
de expressão cultural e social.
O Carnaval é uma das celebrações mais icônicas e vibrantes do Brasil, profundamente
enraizada na cultura do país. Trata-se de uma festividade que combina elementos de
diferentes origens, incluindo influências africanas, indígenas e europeias. Historicamente, o
Carnaval tem sido um espaço de expressão cultural, social e política, onde diferentes grupos
étnicos e sociais encontram uma plataforma para se manifestar.

No contexto do Carnaval, as escolas de samba desempenham um papel crucial. Essas


agremiações têm suas raízes em comunidades negras e surgiram como veículos de expressão
para as culturas afro-brasileiras. A Beija-Flor de Nilópolis é uma das escolas de samba mais
proeminentes do Rio de Janeiro e tem uma história rica de participação no Carnaval carioca.
Sua trajetória envolve não apenas competição, mas também um compromisso com questões
culturais e sociais.
A Beija-Flor de Nilópolis se destaca como uma escola de samba que frequentemente
aborda questões sociais e culturais em seus desfiles. Sua influência vai além do desfile anual,
atuando como um centro de atividades culturais e educacionais em Nilópolis e arredores.
Além disso, a escola tem uma forte conexão com a comunidade negra, promovendo a
valorização da cultura afro-brasileira.
As escolas de samba, incluindo e em especial, a Beija-Flor, têm sido cruciais na
promoção e preservação da cultura negra no Brasil. Elas frequentemente escolhem temas que
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celebram a herança africana, destacam questões de justiça social e combatem o racismo. Isso
faz com que o desfile de Carnaval seja muito mais do que uma mera competição; é uma
expressão artística que contribui para as discussões culturais e políticas do país
A discussão sobre o enredo “Empretecer o Pensamento” que visava desmistificar a
contribuição do negro ao pensamento artístico, filosófico e cultural no mundo e em especial
no Brasil, não se limitou apenas à estética, mas também ao seu impacto na sociedade
brasileira, no que foi levado a avenida e mostrado ao público presente, contribuindo para
elevar a consciência sobre questões raciais, promover a discussão sobre o empoderamento
negro e questionar estereótipos arraigados sobre o legado desse “ pensamento negro” e suas
implicações na cultura brasileira. Essa análise crítica nos ajuda a compreender , dentre outros,
como a arte contemporânea e a tradição do Carnaval se entrelaçam para promover discussões
significativas sobre a identidade negra no Brasil.

2.2 “Empretecer o Pensamento” e sua Abordagem Artística:

No enredo “Empretecer o Pensamento é ouvir a voz da Beija Flor”, a mencionada


escola de samba abordou a temática afro-brasileira, destacando elementos específicos que
fazem referência direta ou indireta à obra de Rosana Paulino, em especial a fantasia da ala de
baianas, que foi chamada de SALUBA ROSANAS e o carnavalesco a descreve da seguinte
forma: “ a arte negra brasileira carrega a memória de muitas gerações. O próprio candomblé é
um resquício de memória que o espírito guarda. Com a sutileza das guardiãs das memórias
das escolas de samba, apresentamos o exemplo desse rastro de eras de pensamento. Em giros
ancestrais chegam nossas baianas, trazendo a costura da memória, uma evocação artística de
Rosana Paulino, que é cruzada pela linha crua de Nana Buruque. Dona dos retalhos do tempo,
é a orixá mais velha do mundo e guardiã de todas as memórias que a terra já viu. As saias de
nossas matriarcas apresentam tal qual o mural de arte, os párias com as forros das próprias
baianas, tracando um paralelo com a arte negra de Rosana Paulino, que valoriza a memória
das mulheres pretas desse país. Respeitar o tempo é o sinal que o mundo nos dá, respeitar o
que o sagrado tem a nos dizer para termos o que contar.”

c- imagem do projeto de fantasia da ala das baianas da Beija Flor - Saluba Rosanas
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d.- fotografia da ala das baianas da Beija Flor de Nilópolis, na Sapucaí, carnaval de
2022.
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e- fotografia da ala das baianas em exposição do MAM - Brava gente da baixada, a


Beija Flor no MAM, 03/12/2022

3- Conclusão:

O desfile “Empretecer o Pensamento” da Beija-Flor de Nilópolis em 2022 representou


um marco significativo na interseção entre a arte contemporânea, a cultura afro-brasileira e a
tradição do Carnaval. Este trabalho buscou analisar os aspectos positivos e benéficos de como
a escola de samba pode e deve utilizar de referenciais artísticos, e aqui no caso analisado, a
obra de Rosana Paulino como elemento orientador para desenhar as fantasias da ala de
baianas da escola, ampliando a apreciação da arte para um público mais amplo que, muitas
vezes, não frequenta museus e exposições de artes.
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A escolha da Beija-Flor de Nilópolis de incorporar elementos da obra de Rosana


Paulino nas fantasias das baianas revelou-se uma estratégia artística e cultural profundamente
eficaz. Primeiramente, essa abordagem permitiu a popularização da obra da artista, que é
conhecida por sua exploração crítica da história e cultura afro-brasileira, além de sua
denúncia do racismo estrutural. Ao trazer a arte de Paulino para o contexto do Carnaval, a
escola de samba abriu as portas da apreciação artística a um público mais amplo e
diversificado, que muitas vezes não tem acesso a museus ou galerias de arte.

Além disso, a inclusão da obra de Rosana Paulino, nas fantasias das baianas, dentre
outros vários artistas e pensadores negros que foram evocados ao longo do desfile,
enriqueceu o enredo da Beija-Flor de Nilópolis de maneira inovadora. As fantasias se
tornaram uma expressão visual das complexas questões culturais e históricas abordadas por
Paulino, destacando a contribuição da mulher negra para a cultura brasileira e a necessidade
de empretecer o pensamento, ou seja, valorizar o pensamento negro e toda sua ancestralidade.

A disseminação da obra de Rosana Paulino por meio do Carnaval ofereceu à


sociedade brasileira uma oportunidade única de reflexão e diálogo sobre temas importantes.
A escola de samba não apenas celebrou a herança afro-brasileira, mas também provocou
discussões sobre identidade, racismo e empoderamento racial em um dos maiores eventos
culturais do país.

Em última análise, o desfile “Empretecer o Pensamento” da Beija-Flor de Nilópolis


destaca como a arte contemporânea pode transcender os limites convencionais e alcançar um
público mais amplo, inspirando discussões valiosas e promovendo a apreciação da rica
herança cultural afro-brasileira. A colaboração entre a escola de samba e a obra de Rosana
Paulino exemplifica o poder da arte como veículo de transformação social e cultural.
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4- Bibliografia:

ANTONACCI, Célia Maria. Rosana Paulino: Enunciações Poéticas de Arte Africana


Contemporânea. Rebento, São Paulo, n. 6, maio 2017. pp. 272-291. ______. Rosana Paulino.
[Entrevista]. Entrevistadora: Célia Maria Antonacci. 2014.

HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Editora Apicuri, 2016.

PAULINO, Rosana. Imagens de sombras. 2011. Tese (Doutorado em Poéticas


Visuais) -Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

PINACOTECA DE SÃO PAULO. Rosana Paulino: a costura da memória. Curadoria


Valéria Piccoli, Pedro Nery. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2018.

LIESA/RJ - livro Abre Alas, carnaval 2022 - tese de enredo defendido por João
Gustavo Mello, 2021.

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