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Parede da Memória
espaço O processo de criação se inicia quando Rosana seleciona essas onze imagens
expositivo tiradas de uma caixa de fotografias da casa de seus pais. Partindo do preto e
branco, essas fotografias - de seus avós, pais e até mesmo de Rosana em sua
e da obra infância - ganham cores através da pintura em aquarela. Essas novas imagens com
intervenções de cor são então transferidas para um tecido utilizando a técnica de
fotocópia. Finalmente, Rosana costura pequenos patuás - saquinhos de tecido
recheados de enchimento que contém algum amuleto dentro - com uma linha de
algodão.
Em Parede da Memória, Rosana Paulino reúne onze
fotografias em preto e branco retiradas de um arquivo
familiar. Aqui o interesse de Rosana pela fotografia de
O arquivo arquivo se faz presente. Segundo a artista, as fotos "já
fotográfico para tiradas" carregam um afeto maior, em um vídeo sobre a
obra ela pontua a frase de André Bazin: "as fotos são como
Rosana Paulino
pequenas múmias de papel". Desde criança Rosana
procurava em uma caixa de fotografias sua identidade
através das imagens de seus parentes e antepassados.
A costura na vida de Rosana Paulino carrega muitos significados. Sua mãe foi
costureira e a artista diz se lembrar de épocas em que sua mãe costurava dia
e noite para poder bancar os seus estudos e de sua irmã.
Análise Ao criar esse enorme "jogo de memória", onde as 1.500 imagens repetidas se
destacam pela sua grandiosidade de ocupação do espaço, Rosana provoca o
Análise da uma árvore genealógica. Durante a pesquisa busquei muito por uma
fala de Rosana onde ela mencionasse esse significado de resgate de
obra:
sua ancestralidade, que ao meu ver é um dos destaques da obra. Em
um vídeo gravado por Célia Antonacci, Rosana levanta essa dor e
incerteza de não saber ao certo quem são seus familiares, qual é sua
ancestralidade
história e como veio parar aqui. A diáspora forçada imposta pela
escravidão no Brasil iniciou um longo processo de apagamento
cultural dos escravizados, além de romper definitivamente seus laços
familiares. Como admiradora da obra, acredito que Rosana resolve
primorosamente esse motivo. Além de remontar e reescrever toda
uma memória pessoal e familiar da artista, a obra também serve como
um símbolo de memória coletiva.
"Os artefatos materializam saberes, práticas, significados, regras mas também
ideologias e crenças e por meio da interação com esses artefatos, reificamos
todos esses significados construídos na cultura". (SILVEIRA, 2010, p.43)
os patuás
familiares - é o que protege. Em meu entendimento, a obra procura criar uma
memória coletiva negra que sirva de escudo contra o apagamento de sua
história e cultura. Rosana não se vale só da estética para se consagrar como
uma das grandes artistas da arte contemporânea brasileira, mas sim de uma
imagem política, que denuncia a marginalização histórica e dá protagonismo a
esses tantos rostos que poderiam ser facilmente esquecidos.
ANTONACCI, Célia. Parede da Memória - Rosana Paulino. Youtube, 2021.
Disponível em: <https://youtu.be/vkFdzF4y6c0 - "Parede da Memória - Rosana
Paulino". 2014. > Acesso em: 29 de Março de 2023.
SILVEIRA, Luciana Martha. Cor, Design e Consumo. In: QUELUZ, Marilda Lopes
Pinheiro (org.). Design & Consumo. Curitiba, PR: Peregrina, 2010.