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A VOLTA DE MAKUNAIMÍ
PELA ARTE INDÍGENA
CONTEMPORÂNEA
LAÍSSA SARDIGLIA
PALAVRAS-CHAVE
Denilson Baniwa; Reantropofagia; Macunaíma; Modernismo; Arte
indígena contemporânea.
ABSTRACT
THIS WORK proposes a reading of the painting Reantropofagia
(2018) by the contemporary indigenous artist Denilson Baniwa,
revealing the historical context and the criticism that it makes
to the Anthropophagic Movement and the book Macunaíma
(1928) by Mário de Andrade. Also it aims to show the indigenous
narratives and visualities, silenced and appropriated, that emerge
artistically from the work by Makunaimí/Makunaimã figure.
KEYWORDS
Denilson Baniwa; Reantropofagia; Macunaíma; Modernism;
Contemporary indigenous art.
ÍCONE | REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA ARTE | ISSN 2359-3792 | V. 7 | Nº 8 | DEZEMBRO 2022 | PÁG. 104
INTRODUÇÃO
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Performance realizada em 17 de novembro de 2018 em exposição curada por
Sofia Borges no Pavilhão do Ibirapuera, durante a 33 Bienal de São Paulo, e
diante de fotografias feitas por Martin Gusinde do povo Selk’nam (habitantes
do extremo sul do continente exterminados pelos colonizadores). Denilson
Baniwa, vestido com máscara de onça, leu e rasgou um exemplar de Uma
Breve História da Arte de Susie Hodge. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=MGFU7aG8kgI.
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Denilson Baniwa foi vencedor em 2019 do Prêmio Pipa na categoria online,
por votação do público. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pipa-
-online-2019/
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Quem tem que falar sobre antropofagia somos nós! Foi preciso
cortar a cabeça do Mário de Andrade e servi-la na bandeja com
temperos locais e pimenta para abrir espaço para Macunaimî”
(GOLDSTEIN, 2019, p. 86).
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Trata-se de uma variedade não domesticada do milho e que possui seme-
lhança com o milho Guarani, alimento tradicional e sagrado nessa cultura.
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O Tropicalismo foi um movimento cultural encabeçado por pelos músicos Gil-
berto Gil e Caetano Veloso, pelo poeta Torquato Neto e pelo compositor Rogé-
rio Duprat. Seu nome origina do disco Tropicália de 1967, que por sua vez re-
ferência uma obra do artista Hélio Oiticica. Mesmo com destaque na música,
o movimento irá também se desdobrar na literatura, no teatro e no cinema.
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O Cinema Novo foi um movimento cinematográfico nacional que despon-
tou entre as décadas de 60 e 70 como resposta ao panorama social e po-
lítico do país e à predominância de produções de caráter hollywoodiano.
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Gênero assemelhado as naturezas mortas, mas alusivo ao tema da morte
e da efemeridade da vida. Geralmente são representando crânios, bolhas e
ampulhetas, além de frutas e flores em decomposição.
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FIGURA 5
Jaider ESBELL
Makunaima – I, 2017
Acrílica e pincel
posca sobre tela
Reprodução da internet
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Entidade que pertence a algumas cosmogonias indígenas ao norte do país.
É as vezes conhecido como “comedor de gente”, mas também por estar as-
sociado aos pássaros, ao fumo e aos xamãs.
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CONCLUSÃO
Completando seis meses da partida de Jaider Esbell (1979 - 2021)
e acentuada a violência aos povos originários por conivência
do Estado brasileiro, cabe por fim retomar uma reflexão de Ilana
Goldstein (2019, p.90): “como falar em arte indígena, se a própria
sobrevivência do artista não está garantida?”. É perceptível que a arte
contemporânea se tornou um lugar de embate e discussão para os
artistas indígenas, que buscam por uma maior representatividade
nos espaços artísticos, porém não devemos alienar esse processo e
nossa interpretação ao contexto histórico e político em que vivemos.
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O que busquei neste trabalho foi me aproximar da pintura ReAntropofagia de Denilson Baniwa, traçar o comple-
xo panorama social e cultural no qual a obra se insere e propor uma leitura de imagem menos colonizada, que
incorpore novas e diversificadas visões de mundo. Tenho consciência das limitações desse projeto, pela su-
perficialidade do meu conhecimento sobre outras culturas e o quanto isso acarreta em generalizações e tra-
duções equivocadas, pois muito da minha aproximação é resultado somente de leituras, tendo feito ape-
nas duas entrevistas: uma com um artista indígena Mbya-Guarani e outra com uma professora universitária.
Entretanto, foi em virtude dos relatos que estruturei minha interpretação, através das pessoas com quem con-
versei, das entrevistas com Denilson Baniwa que li e das histórias contadas por Akúli Arekuná, e Mayulua-
ípu Taulipang. Sobretudo, pelo empenho de Jaider Esbell em debater e instigar tais questões, assim como pelo
comovente texto Makunaima, o meu avô em mim! (2018) que nos legou, pois é sua visão particular, extrema-
mente transformadora e transcendente, que ilumina os futuros caminhos da arte indígena contemporânea.
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REFERÊNCIAS