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A obra de Vincent Van Gogh

Rafael Vaz de Souza

O seguinte artigo traz a vida e a obra de Vincent Van


Gogh, artista holandês que viveu a maioria de sua vida na
França e deixou um legado impressionante na história da
arte, com uma vida conturbada e um novo olhar sobre a
produção artística, ele literalmente deu a vida pela arte.

Vincent, nasceu 30 de março de 1853 na cidade de Zundert nos Países Baixos.A Holanda
tinha cerca de três milhões de habitantes e continuava sendo um país basicamente rural e
mercantil, tirando seus principais rendimentos de uma política colonial cuja grande dureza foi
estigmatizada por escritores e políticos. A indústria era inexistente, donde a ausência de um
proletariado como entre os vizinhos belgas. Um país de comércio real, mas pouco florescente
e um tanto sonolento nos campos – era como se podia vê-lo naquele momento.A infância de
Vincent, portanto, esteve imersa no mundo rural de um país atrasado em relação aos seus
vizinhos Filho de Anna Cornelia Carbentus e Theodorus van Gogh. Van Gogh nasceu numa
família de classe média alta e começou a desenhar ainda criança, sendo descrito como alguém
sério, quieto e pensativo. Filho de pastor protestante, Vincent van Gogh começa a trabalhar
no mercado de arte em 1869, aos dezesseis anos, por recomendação de um tio. Assim, atua
como marchand nas filiais da Casa Goupil, em Haia, Londres e Bruxelas, e também na matriz
parisiense. Demitido em 1876, tenta ingressar, sem sucesso, na Universidade de Teologia de
Amsterdã. Muda-se então para a Bélgica, onde, apesar do mau desempenho na Escola
Protestante, é designado missionário de uma comunidade de mineiros em Wasmes.
Impressionado com as péssimas condições de vida ali vigentes, luta para transformá-las e
acaba sendo dispensado. Ele enfrentou problemas de saúde e solidão até começar a pintar em
1881, mudando-se para a casa de seus pais. Seu irmão mais jovem Theo lhe apoiou
financeiramente e os dois mantiveram uma duradoura correspondência. Como lembra Ernst
Gombrich no Livro A História da Arte.
"Estas cartas, escritas por um artista humilde e quase autodidata,
que não fazia ideia nenhuma da fama que iria conquistar, estão
entre os mais comoventes e excitantes de toda a literatura. Nela
podemos pressentir o sentimento de missão do artista, sua luta e
seus triunfos, seu desesperado anseio por uma companhia, e
ficamos conhecendo a imensa tensão sob a qual trabalhou com
febril energia."(GOMBRICH, E.H., 1909 – 2001)

Seus primeiros trabalhos consistiam em naturezas-mortas e representações de camponeses. A


partir daí, com o apoio de seu irmão, Theo, opta pela carreira artística. Embora então vivesse
em meio às paisagens luminosas de Brabante, no norte da Bélgica, os quadros de Van Gogh
dessa época são escuros, retratando camponeses e tecelões da região, deformados pela
miséria. Um exemplo é Mulheres carregando sacos de carvão [Figura1], de 1882. Como cita
Giulio Argan em seu livro Arte Moderna "No primeiro momento, na Holanda, aborda
frontalmente o problema social. São quadros quase monocromáticos, escuros; uma polêmica
vontade de fealdade deforma as figuras."Absolutamente frágil cercado pela pobreza,
isolamento e loucura, tenta salvar a sua profundidade, formada por pequenas emoções e
instintos dos pobres. O ano de 1886 foi de extrema importância em sua carreira. Foi morar
em Paris, com seu irmão. Em Paris foi apresentado ao Impressionismo, movimento do qual
sofreu grande influência. Conheceu, na nova cidade, importantes pintores da época como, por
exemplo, Emile Bernard, Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Edgar Degas, representantes do
impressionismo. Recebeu uma grande influência destes mestres do impressionismo, como
podemos perceber em várias de suas telas. Van Gogh, em sua vida adulta, se correspondeu
com seu irmão mais moço, Théodore Van Gogh, tendo deixado cartas que constituem por si
só, obras de arte, pois seus textos eram, ao mesmo tempo, poéticos e filosóficos.
Com suas pinturas ficando com cores mais vivas enquanto desenvolvia um estilo que
estabeleceu-se por completo em 1888 na sua estadia em Arles. Durante esse período Van
Gogh também ampliou seus temas para englobar oliveiras, ciprestes, campos de trigo e
girassóis. Em Arles, fez único quadro que conseguiu vender durante toda sua vida: A Vinha
Encarnada [Figura 2]. Ele sofria de episódios psicóticos e alucinações, temendo por sua
estabilidade mental e frequentemente negligenciando sua saúde física, não comendo direito e
bebendo muito. Convidou Gauguin para morar com ele e este foi o único que aceitou sua
ideia de fundar um centro artístico naquela região. No início, a relação entre os dois era
tranquila, porém com o tempo, os desentendimentos foram aumentando. Quanto aos fatos em
si, Gauguin relata que, estando os dois em um café, após tomar um absinto, Van Gogh jogou
o copo e seu conteúdo em sua cara, tendo Gauguin de se esquivar, para depois pegá-lo pelo
braço e levá-lo para casa. No dia seguinte, Van Gogh desculpou-se pelo ocorrido, mas
Gauguin apesar de afirmar ter-lhe perdoado, anunciou ao amigo que iria embora da Casa
Amarela. Sua amizade com Gauguin terminou em uma briga com uma lâmina quando Van
Gogh, em um ataque de raiva, cortou parte de sua própria orelha esquerda. Em seguida,
embrulha o lóbulo e o entrega a uma prostituta. As cartas de Van Gogh ao irmão Theo
também não esclarecem por completo o porquê da automutilação. O que ocorre é que o
próprio Van Gogh parecia não querer se manifestar sobre o que o motivou a cortar a própria
orelha e, às vezes, parecia mesmo não compreender o que ocorrera. É o que se pode inferir do
trecho seguinte:
"Falemos agora de nosso amigo Gaugin, eu o assustei? Afinal por
que ele não me dá nenhum sinal de vida? Ele deve ter ido embora
contigo. Aliás, ele precisava rever Paris, e em Paris talvez ele se
sinta mais em casa do que aqui. Diga a Gauguin que me escreva, e
que sempre penso nele." (VAN GOGH, 2002, p.318, carta nº567).

Mas uma coisa é certa, pode-se situar esse episódio como o marco que desencadeou de vez a
perturbação mental de Van Gogh. Após esse episódio é internado no hospital da cidade. Foi
diagnosticado com depressão, internou-se voluntariamente num sanatório na cidade de Saint-
Rémy-de-Provence. Com as crises mais controladas volta às atividades, inspirado pela
paisagem local, chegando a pintar um quadro por dia. Seus traços evoluíram de pequenas
pinceladas para pinceladas espirais e curvas. Como Gombrich nos lembra "Van Gogh usou
cada pincelada não só para dispersar a cor, mas também para externar a sua própria
excitação." Van Gogh ficou sob os cuidados do médico homeopata Paul Gachet, que foi
retratado em uma de suas telas [Figura 3]. No começo de janeiro de 1889, Van Gogh deixa o
hospital, mas apresenta sinais evidentes de disfunção mental, às vezes, aparenta
tranquilidade, em outras oportunidades, demonstra alucinações.Na carta nº 576, de 03 de
fevereiro de 1889, Van Gogh ilustra bem o afirmado acima, pois assim consigna no
documento: “Quando eu saí do hospital com Roulin, eu imaginava que não tinha tido nada,
somente depois é que percebi que eu estivera doente”, ou seja, durante o mês de janeiro,
exatamente o mês pós-trauma, o artista provavelmente ainda não estivesse em um estado
mental que lhe permitisse vislumbrar com clareza o que lhe ocorrera e suas consequências,
sendo que apenas no fim do mês primeiro e início de fevereiro é que se deu conta de sua
situação.
Em maio de 1890, aparentando estar recuperado, Van Gogh passa a morar em Auvers-sur-
Oise, a noroeste de Paris, onde pinta freneticamente. Também admirava muito as gravuras
japonesas, especialmente quanto ao colorido [Figura 4]. Argan fala sobre esse frenesi:
"Não é pintor por vocação, mas por desespero. Tentara se inserir na ordem
social e fora rejeitado; dedicara-se ao apostolado religioso, tornando-se
pastor e missionário entre os mineiros de Boringe; no entanto, a igreja
oficial, solidária com os patrões, expulsara-o. Revolta-se com trinta anos,
sua revolta é a pintura." (ARGAN, GIULIO CARLO, 1909-1992)

O mesmo Argan fala um pouco sobre os símbolos com que Van Gogh trabalha "Cada signo
de Van Gogh é um gesto com que enfrenta a realidade para captar e se apropriar de seu
conteúdo essencial, a vida." Completando " A arte então se torna (diria Pavese) o “ofício de
viver”; é este oficio da vida que Van Gogh contrapõe desesperadamente ao trabalho
mecânico da indústria, que não é vida." Mas, mesmo antes dessa internação é possível
evidenciar sinais de grave conturbação mental, conforme se afere da carta nº 576, de 3 de
fevereiro de 1889:

"Devo dizer que os vizinhos etc. são de uma bondade particular


comigo, como todo mundo aqui sofre seja de febre, seja de
alucinação ou loucura, entendemo-nos como gente de família [...]
Quanto a considerar-me totalmente são, não devemos fazê-lo [...]
Peço-lhe, portanto, que não diga que eu não tenho nada, ou não teria
nada."

Nesse ponto é possível notar-se uma ponta de paranóia por parte do artista, que inclusive
alegava que queriam envenená-lo. Noite Estrelada [Figura 5], por exemplo, um dos quadros
mais conhecidos, o qual foi pintado no Sanatório de Saint-Rémy. Van Gogh relata em uma
das suas cartas como é lidar com suas emoções “as emoções são, às vezes, tão fortes que
trabalho sem ter consciência de estar trabalhando ... e as pinceladas acodem com uma
sequência e coerência idênticas às de palavras numa fala ou numa carta.” Van Gogh não
obteve sucesso durante sua vida, sendo considerado um louco e um fracassado. Em sua vida
estiveram presentes sempre, dualidades extremas, a tragédia e o maravilhoso. A tragédia na
sua história pessoal, o maravilhoso na expressão da sua arte. "Sob um sol forte, tanto a
sombra própria, quanto a sombra projetada dos objetos e das figuras tornam-se totalmente
diferentes e é tão colorida que somos mesmos tentados a suprimi-las." Van Gogh fala sobre o
efeito que a cor lhe provoca. Os impressionistas privilegiaram a luz como objeto da pintura.
Van Gogh ultrapassou isso usando a luz. e a cor. A sua técnica característica era o uso de
grossas camadas de tinta. Às vezes usava mesmo todo o conteúdo do tubo sobre a tela e então
modelava com o pincel. No início usava traços de tintas, à maneira dos impressionistas e anos
depois passou a usar as pinceladas em espiral e em círculos. Entre as cores, a que mais o
fascinava era o amarelo, que tem um papel fundamental em sua obra. O amarelo teve o papel
iluminador da obra. Essa cor esteve muito presente, como um sinal de vida, harmonia e
otimismo, expresso por espirais e grandes discos emoldurando o sol e as estrelas. "Ao
exagerar nas cores, quero expressar-me com força". Van Gogh, junto com Cézanne e
Gauguin, foi a porta para a Arte Moderna, que depois é definitivamente aberta por Pablo
Picasso. Van Gogh foi o elo na cadeia da evolução da arte clássica para a arte
contemporânea.
Gombrich fala sobre a relação do artista com seu trabalho "Ansiava por uma arte despojada
que não atraísse apenas os connoisseurs endinheirados, mas propiciasse alegria e consolo a
todos os seres humanos." Vincent era um homem de bons sentimentos, foi missionário, e era
capaz de dar as próprias roupas e comida para os mais pobres. Mas não conseguia viver
segundo os valores de sua época, não se relacionava com a maioria das pessoas e nem mesmo
ganhava o mínimo para o sustento. Não conseguiu ter uma família. Nunca se deu bem com as
mulheres e quando se apaixonava era sempre um desastre. Recebeu durante toda a vida ajuda
o necessário para viver, de seu irmão, Theo, que também não era rico. A vida de Van Gogh
foi um exemplo da incompreensão humana. Procurou a amizade e nunca encontrou, deu a
solidariedade para quem não soube receber, sonhou com uma comunidade criativa de artistas
que nunca conseguiu implantar, nunca viu o reconhecimento de sua obra enquanto vivo.
Sentiu a rejeição por seu comportamento irregular, o que acabou na sua expulsão do convívio
das pessoas. A arte hoje é vista como a expressão de um conceito, de uma emoção, através
de qualquer veículo. Esta visão totalmente aberta e livre não seria atingida sem a rebeldia de
Van Gogh. Mas a história de Van Gogh nos incita a ficar de olhos abertos e sem
preconceitos, olhar sem julgamentos para a arte que está sendo criada agora, procurar o novo
e talvez, porque não, ter a ousadia de também criar. Van Gogh parece ter tentado de 1885 até
a sua morte em 1890 criar um oeuvre, uma coleção que materializava sua visão pessoal e com
a qual poderia obter sucesso comercial. Ele foi influenciado pela definição de estilo de Blanc,
em que a verdadeira pintura requer ótimo uso de cor, perspectiva e pincelada. Ele usou o
termo "proposital" para categorizar as pinturas que pensou ter criado com perfeição, em
oposição àquelas que classificava como estudos. Van Gogh produziu muitas séries de
estudos, a maioria das quais naturezas-mortas, muitas feitas como experimentos cromáticos
ou usadas como presentes para amigos. Ele procurava entender a cultura local e as condições
de luz dos lugares onde morava, embora mantivesse uma perspectiva visual própria durante
essas mudanças. Sua evolução como artista foi lenta, uma vez que tinha consciência de suas
limitações como pintor. Ele se mudava bastante talvez procurando novos estímulos visuais,
desenvolvendo sua habilidade técnica por meio dessas exposições a novos ambientes. Foi
com os retratos que Van Gogh teve sua maior oportunidade de ganhar dinheiro. Ele dizia que
esses trabalhos eram "a única coisa na pintura que me motiva profundamente e que me dá um
sentimento de infinitude". Ele confessou à irmã o desejo de pintar retratos que perdurassem,
relatando também que tentava capturar a emoção e a personalidade da pessoa por meio da cor
em vez de buscar um realismo fotográfico. A série mostra uma mudança de estilo, das
pinceladas fluidas e contidas e da superfície regular de Retrato do Carteiro Joseph Roulin,
onde Argan faz um a relação com o trágico presente na vida do artista:

"Onde está então, o “trágico” no retrato do carteiro Roulin? Não na figura, que está
em pose tranquila e sem drama; não nas cores, que são sonoras, quase alegres. É
trágico ver a realidade e ver-se na realidade com uma evidência tão clara e
peremptória. É trágico reconhecer nosso limite das coisas e não poder liberta-se dele.
É trágico, frente à realidade, não poder contemplá-la, mas ter de agir, e agir com
paixão e fúria: lutar para impedir que sua existência domine e destrua a
nossa."(ARGAN, GIULIO CARLO, 1909-1992)

Van Gogh criou mais de 43 autorretratos entre 1885 e 1889. Van Gogh geralmente concebia
autorretratos como estudos durante períodos de introspecção, quando hesitava em socializar
ou quando lhe faltavam modelos, não tendo outra alternativa que não fosse retratar si mesmo.
Tais trabalhos contém uma grande variedade de representações fisionômicas. A saúde física e
mental de Van Gogh é usualmente aparente, por vezes retratando-se com aparência
descuidada, despenteado, barba desleixada ou por fazer, olheiras, mandíbula fraca ou sem
dentes. Em algumas das telas ele está com lábios volumosos, rosto alongado, crânio
proeminente e demarcado, características alertas. Van Gogh costumava se apresentar nessas
obras com os cabelos em usual vermelho ou então grisalho. A saga de Van Gogh foi e sempre
será a de muitos seres que no limiar de suas forças ainda conseguem descobrir a beleza por
detrás da miséria. A vida e o espírito que reinam por detrás das simples formas concretas.
Entretanto, a pintura de Van Gogh, não servia apenas para prevenir “o colapso efetivo
eminente”, suas obras foram marcadas por um excesso de forças, de nervos e de violência
expressiva, que afirmaram sua vontade como artista. E este excesso está marcado em suas
obras mais representativas: as paisagens. Dois Ciprestes [Figura 6], por exemplo, temos a
nítida impressão que o pintor “descarregou” sobre esta obra a expressividade de sua própria
vida.
Podemos observar que ele não quis retratar apenas um céu colorido com pinceladas rosadas,
um azul ultra vivo e uma lua crescente, mas sim expressar através do mesmo, sua vontade
veemente de uma exaltação de sentimentos. Os quadros de Van Gogh exalam vida. Apesar de
apenas tinta sobre tecido, não são obras estáticas e mortas. Ali tudo se move, tudo pulsa; o
movimento do interior, do sentimento do artista explode e se manifesta surpreendentemente e
com tal força que a matéria vira onda, energia e não cessa jamais. Alguns críticos classificam
o pintor como um precursor do expressionismo, por causa de sua pintura bem estruturada,
com linhas nítidas e desenhos definidos, coloridos. É como se ele realmente “expressasse”
um sentimento, uma intenção: a de retratar sua visão sobre as coisas. Ao tacharem Van Gogh
com um louco/gênio, a história e a crítica de arte muitas vezes anulam o potencial poético de
seus trabalhos em favor de uma reflexão que valoriza sua pintura como expressão de supostas
patologias. Vincent van Gogh completou mais de 2.100 trabalhos, constituídos por 860
pinturas a óleo e mais de 1.300 aquarelas, desenhos e esboços. Várias de suas pinturas agora
estão entre as mais caras do mundo.
Certamente, já nesse momento, iniciara-se um processo mental que desencadearia o desfecho
final e trágico de sua curta vida. Em 1889, com apenas 36 anos de idade, Vincent Van Gogh
pede para que o internem num hospital psiquiátrico, numa última tentativa de se livrar dos
pensamentos, sentimentos e visões que o atormentavam. É ali, em Saint-Paul-de-Mausole, na
região da Provença, que suas pinceladas se tornam mais livres e possuidoras das fortes
impressões de movimentos espiralados. Em 27 de julho de 1890, Vincent van Gogh saiu para
pintar pela manhã levando uma pistola carregada. Van Gogh ficou perturbado com o futuro
porque, em maio deste ano, seu irmão Theo visitou e falou com ele sobre a necessidade de ser
mais rigoroso com suas finanças. Van Gogh levou isso a significar que Theo não estava mais
interessado em vender sua arte. Então, disparou um revólver Lefaucheux 7 mm contra seu
peito. A bala foi desviada por uma costela e atravessou seu peito sem aparentemente danificar
os órgãos internos, provavelmente parando em sua espinha. Ele foi capaz de voltar andando
até Auberge Ravoux, onde foi atendido por dois médicos, porém não havia um cirurgião e
assim a bala não pode ser removida. Os médicos cuidaram dele da melhor maneira que
puderam e então o deixaram sozinho em seu quarto fumando cachimbo. Theo correu para
junto do irmão no dia seguinte, encontrando-o de bom humor. Porém Van Gogh começou a
enfraquecer horas depois, sofrendo de uma infecção não tratada causada pelo ferimento da
bala. Ele morreu nas primeiras horas da manhã de 29 de julho de 1890. Theo afirmou que as
últimas palavras do irmão foram "A tristeza vai durar para sempre" Van Gogh foi enterrado
no dia seguinte no cemitério municipal de Auvers-sur-Oise. O funeral teve a presença de
Theo van Gogh, Andries Bonger, Charles Laval, Lucien Pissarro, Émile Bernard, Julien
Tanguy e Paul Gachet, além de uns vinte familiares e habitantes locais. Há debates sobre a
natureza da doença de Van Gogh e os efeitos sobre seu trabalho, com muitos diagnósticos
retrospectivos tendo sido propostos. O consenso é que ele tinha uma condição episódica com
períodos de normalidade. Nas palavras de Argan:

“Com Van Gogh, inicia-se o drama do artista que se sente excluído de uma
sociedade que não utiliza seu trabalho, fazendo dele um desajustado,
candidato à loucura e ao suicídio. E não só o artista: uma sociedade
pragmatista que atribui ao trabalho a finalidade exclusiva do lucro não pode
senão rejeitar aquele que, preocupado com a condição e o destino da
humanidade, desmascara sua má consciência. Van Gogh ocupa um lugar ao
lado de Kierkegaard e Dostoievski; como estes, ele se interroga, cheio de
angústia, sobre o significado da existência, do estar-no-mundo.
Naturalmente, coloca-se ao lado dos deserdados e das vítimas: os
trabalhadores explorados, os camponeses dos quais a indústria tira, com a
terra e o pão, o sentimento de eticidade e religiosidade do trabalho.
(ARGAN,1992)

Ele ficou famoso depois de seu suicídio, existindo na imaginação pública como a
quintessência do gênio incompreendido, o artista "onde discursos sobre loucura e criatividade
convergem". Sua reputação começou a crescer no início do século XX enquanto elementos de
seu estilo de pintura passaram a ser incorporados pelos fauvistas e expressionistas alemães.
Van Gogh alcançou grande sucesso comercial, popular e de crítica nas décadas seguintes,
sendo lembrado atualmente como um pintor importante e trágico, cuja personalidade
problemática tipifica os ideais românticos do artista torturado. A fama de Van Gogh passou a
crescer de forma gradual entre artistas, críticos, comerciantes e colecionadores após as
primeiras exibições de suas obras ao fim da década de 1880. Theo foi o mais influente e
dedicado promotor do trabalho do irmão, porém morreu em janeiro de 1891. Johanna van
Gogh-Bonger, sua viúva, era uma holandesa na casa dos vinte anos que não conhecia muito
seu marido e cunhado, repentinamente vendo-se encarregada das centenas de pinturas,
desenhos e cartas, além do seu filho recém-nascido Vincent Willem van Gogh. A fama de
Van Gogh alcançou seu primeiro pico na Áustria-Hungria e Alemanha antes da Primeira
Guerra Mundial, ajudada pela publicação em 1914 de suas cartas em três volumes. As obras
de Van Gogh estão entre as mais caras do mundo.

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