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PRODUTO ESCALAR

e PRODUTO VETORIAL

Por Luciano da Silva Carvalho


Matéria: Álgebra Linear
Ano: 2020-2
PRODUTO ESCALAR
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Assim como é possível realizar operações matemáticas com números, é possível fazer
operações com vetores. Uma dessas operações é o produto escalar, realizada entre dois
vetores, que resulta sempre em uma grandeza escalar, ou seja, um número real.

Trata-se de uma operação diferente do produto vetorial, que resulta em um vetor. Utilizamos
a seguinte representação para o produto escalar, que também pode ser chamado de
produto interno:

Vamos interpretar o produto escalar geometricamente. Para dois vetores A e B, ele é


definido como sendo o produto entre o módulo do vetor B e o módulo da projeção do vetor
A sobre B. Em outras palavras, o produto escalar é sempre dado por:
Por enquanto, não se preocupe com o significado dessa definição, mas tente memorizá-la.
Uma das aplicações mais comuns do produto escalar está no cálculo do ângulo formado
entre dois vetores. Para isso, isola-se o cosseno do ângulo, de modo que:

Essa fórmula mostra-se útil graças a uma segunda forma de se encontrar o produto escalar
entre dois vetores, agora algebricamente. Ela requer que conheçamos apenas as
componentes ortogonais dos dois vetores. Para exemplificar, vamos calcular o produto
escalar a seguir:
Essas duas interpretações de produto escalar podem ser aplicadas em um mesmo caso,
como veremos a seguir.

Exemplo

Encontre o ângulo formado entre cada par de vetores:


Dois vetores podem formar um ângulo do tipo agudo, reto ou obtuso. É possível classificá-lo
analisando seu cosseno, como feito acima. Vamos fazer isso nos seguintes exemplos:
Dessa forma, se o produto escalar entre dois vetores é igual a zero, conclui-se que eles são
ortogonais entre si, isto é, formam um ângulo de 90°.

Se o produto escalar for positivo, os vetores formam um ângulo agudo.

Finalmente, se o produto escalar foi negativo, os vetores formam um ângulo obtuso.

Propriedades do produto escalar


Abaixo, estão listadas as propriedades do produto escalar. Note, por exemplo, que a ordem
dos vetores não altera o resultado.
Podemos usar as propriedades do produto escalar para demonstrar, por exemplo, o
Teorema de Pitágoras.

Desigualdade de Cauchy-Schwarz
A desigualdade de Cauchy-Schwarz é recorrente para provar outras desigualdades, e pode
ser lembrada facilmente por meio da definição de produto escalar, como veremos abaixo:
Vamos verificar essa desigualdade no exemplo abaixo:

Cabe pensar quando os termos serão exatamente iguais. Essa igualdade ocorrerá somente
quando os vetores forem paralelos entre si, ou seja, quando o ângulo formado entre eles for
zero.

Projeção de um vetor sobre outro


Usando o conceito de produto escalar, é possível calcular a projeção de um vetor sobre
outro. Para fazer isso, usamos o vetor que se será projetado, e subtraímos dele sua
componente perpendicular ao vetor no qual se deseja projetar.

Observe o raciocínio ilustrado abaixo:


Isso resulta na seguinte fórmula:

Exemplo: Encontre o vetor da projeção a seguir:

Resolução:

PRODUTO VETORIAL
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Em matemática, o produto vetorial é uma operação binária sobre dois vetores em um espaço
vetorial tridimensional e é denotado por ×. Dados dois vetores independentes linearmente a e b,
o produto vetorial a × b é um vetor perpendicular ao vetor a e ao vetor b e é a normal do plano
contendo os dois vetores. Seu resultado difere do produto escalar por ser também um vetor, ao
invés de um escalar.
Se dois vetores possuem a mesma direção (ou têm a exata direção oposta um ao outro, ou seja,
não são linearmente independentes) ou um deles é o vetor 0, seu produto vetorial é o vetor 0.
Genericamente, a magnitude do produto vetorial é igual a área do paralelogramo com os dois
vetores como lados do paralelogramo. Assim, a magnitude da área do paralelogramo que possui
dois vetores perpendiculares como lado é o produto do seu comprimento.

Definição

A notação do produto vetorial entre dois vetores a e b do espaço vetorial (em


manuscritos, alguns matemáticos escrevem a ∧ b para evitar a confusão com a letra x).
Podemos defini-lo como

onde θ é a medida do ângulo entre a e b (0° ≤ θ ≤ 180°) no plano definido pelos dois vetores, e é
o vetor unitário perpendicular tanto a a quanto a b.

O problema com esta definição é que existem dois vetores unitários que são perpendiculares a a

e b simultaneamente: se é perpendicular, então -n também o é.

O resultado correto depende da orientação do espaço vetorial, i.e. da quiralidade do sistema de


coordenadas (i, j, k). O produto vetorial a × b é definido de tal forma que (a, b, a × b) se torna
destro se (i, j, k) é destro ou canhoto se (i, j, k) é canhoto.
Uma forma fácil de determinar o sentido do vetor resultante é a regra da mão direita. Se um
sistema de coordenadas é destro, basta apontar o indicador na direção do primeiro operando e
o dedo médio na direção do segundo operando. Desta forma, o vetor resultante é dado pela
direção do polegar.
O produto vetorial é classificado como um pseudovetor porque inverte frente à reflexão.

O produto vetorial pode ser representado graficamente, com respeito a um sistema de


coordenadas destro, como se segue:
Propriedades

O produto vetorial admite as seguintes propriedades:


Significado geométrico

O comprimento do produto vetorial, |a × b|, pode ser interpretado como a área do paralelogramo
definido pelos vetores a e b. Isto significa que o produto misto (ou triplo-escalar) resulta no
volume do paralelepípedo formado pelos vetores a, b e c.
Propriedades algébricas

O produto vetorial é anticomutativo,


a × b = -b × a,
distributivo sobre a adição,
a × (b + c) = a × b + a × c,
e compatível com a multiplicação escalar, tal que
(ra) × b = a × (rb) = r(a × b).
Não é associativo, mas satisfaz a identidade de Jacobi:
a × (b × c) + b × (c × a) + c × (a × b) = 0
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A distributividade, linearidade e identidade de Jacobi mostram que R junto com a adição de
vetores e o produto vetorial formam uma álgebra de Lie.
Além disso, dois vetores não nulos a e b são paralelos se e somente se a × b = 0.

Fórmula de Lagrange

Esta é uma fórmula útil e bem conhecida,


a × (b × c) = b(a · c) − c(a · b),
a qual é mais fácil de memorizar como “BAC menos CAB”. Esta fórmula é muito útil para
simplificar cálculos com vetores na física. É importante notar, entretanto, que esta fórmula não
se aplica quando do uso do operador nabla.
Um caso especial com respeito a gradiente em cálculo vetorial é:

Este é um caso especial da mais geral decomposição Hodge do Laplaciano


Hodge.
Outra identidade útil de Lagrange é

Este é um caso especial da multiplicatividade da norma na álgebra de


quaternion.
Notação matricial

Os vetores unitários i, j e k, para uma dado sistema ortogonal de coordenadas, satisfazem as


seguintes igualdades:
i×j=k j×k=i k×i=j
j × i = -k k × j = -i i × k = -j
Com estas regras, as coordenadas do resultado do produto vetorial de dois vetores podem ser
calculadas facilmente, sem a necessidade de se determinar qualquer ângulo. Seja:
a = a1i + a2j + a3k = [a1, a2, a3]
e
b = b1i + b2j + b3k = [b1, b2, b3].
Então
a × b = [a2b3 − a3b2, a3b1 − a1b3, a1b2 − a2b1].

A notação acima também pode ser escrita formalmente como o determinante de uma matriz:

O determinante de três vetores pode ser recuperado como


det (a, b, c) = a · (b × c).
Intuitivamente, o produto vetorial pode ser descrito pelo método de Sarrus, onde
Para os primeiros três vetores unitários, multiplique os elementos na diagonal da direita (ex. a
primeira diagonal conteria i, a2, e b3). Para os três últimos vetores unitários, multiplique os
elementos na diagonal da esquerda e então os multiplique por -1 (ex. a última diagonal conteria
k, a2, e b1). O produto vetorial seria definido pela soma destes produtos:

O produto vetorial também pode ser descrito em termos de quaternions. Note por exemplo que
as relações entre produtos vetoriais acima i, j, e k concordam com a relação multiplicativa entre
os quaternions i, j, e k. Em geral, se representamos um vetor [a1, a2, a3] como o quaternion a1i +
a2j + a3k, obtemos o produto vetorial tomando seus produtos e descartando a parte real do
resultado (a parte real será o negativo do produto escalar de dois vetores). Mais sobre a
conexão entre multiplicação de quaternion, operações de vetores e geometria pode ser
encontrado em quaternions e rotação espacial.

Aplicações
O produto vetorial ocorre na fórmula do operador vetorial rotacional. É também utilizado para
descrever a Força de Lorentz experimentada por uma carga elétrica movendo-se em um campo
magnético. As definições de torque e momento angular também envolvem produto vetorial.
O produto vetorial pode também ser utilizado para calcular a normal de um triângulo ou outro
polígono, o que é importante no ramo da computação gráfica e do desenvolvimento de jogos
eletrônicos, para permitir efeitos que simulam iluminação e assim obter gráficos mais realistas.

Dimensões maiores
O produto vetorial para vetores 7-dimensionais pode ser obtido da mesma maneira, porém
usando-se os octônions em vez dos quatérnions.
Esse produto vetorial 7-dimensional tem as seguintes propriedades em comum com o habitual
produto vetorial tridimensional:
● É bilinear de forma que:
x × (ay + bz) = ax × y + bx × z
(ay + bz) × x = ay × x + bz × x.
● É anticomutativo:
x×y+y×x=0
● É perpendicular a x e a y simultaneamente:
x · (x × y) = y · (x × y) = 0
● Temos:
2 2 2 2
|x × y| = |x| |y| − (x · y) .
Diferente do produto vetorial tridimensional, não satisfaz a identidade de Jacobi (a igualdade se
manteria em 3 dimensões):
x × (y × z) + y × (z × x) + z × (x × y) ≠ 0
Os parágrafos a seguir contêm expressões em itálico que ainda necessitam tradução
Para o caso geral (n-dimensional), não há análogo direto do produto vetorial. Entretanto existe o
wedge product produto exterior (literalmente produto cunha), que possui propriedades
semelhantes, exceto que o produto exterior de dois vetores passa a ser um 2-vector em vez de
um vetor comum. O produto vetorial pode ser interpretado como sendo o produto exterior em
três dimensões após usar-se a dualidade de Hodge para se identificar 2-vectores com vectores.
O produto exterior e o produto escalar podem ser combinados para formarem o produto de
Clifford.

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