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ARTE

INDÍGENA

Aislan Pankararu
VEXOÁ: NÓS SABEMOS - Pinacoteca (2020-2021)
- “23 artistas/coletivos de diferentes regiões do país, apresentando pinturas,
esculturas, objetos, vídeos, fotografias, instalações” (site pinacoteca)
- Primeira curadoria exclusivamente indígena em um grande museu de arte
brasileiro, com Naine Terena
- Sem a distinção “entre arte e artefato, sem priorizar representações de
artistas contemporâneos brancos sobre os indígenas”.
- que referencia “adequadamente os indígenas envolvidos e contextualiza sua
produção”;
- “pode se tornar um divisor de águas no que diz respeito ao modo de pensar
na inserção da arte produzida por indígenas em museus
brasileiros”(Goldstein, 2021, p,176)
NAINE TERENA “Vexóa: Nós sabemos”
ILANA GOLDSTEIN “Arte indígena como
conexão”
NAINE TERENA

Historicidade da arte indígena (p.13-14)


- Foco das produções dos povos indígenas na primeira etapa da colonização;
- Sobrevalorização das referências estrangeiras/embranquecimento na artes;
- Quando reconhecidas, qualidades artísticas tomadas como
inspiração/referência para a arte dos não indígenas;
- A presença do indivíduo indígena não é concreta, enquanto autor e produtor
da obra de arte;
- Indígena sempre representado pelo olhar do outro, sua arte minimizada à
função utilitária - artefato/artesanato.
- Vexóa “foi impulsionada a partir de provocações a respeito do apagamento
da arte indígena (...) pelo circuito de arte no Brasil” (p.13)
Vherá Poty
NAINE TERENA

“Perigos” de uma Arte Indígena Contemporânea (p.16)


- Categorizar produções e sobrepor caminhos estéticos estabelecidos
milenarmente, em contraposição ao que insurge com a adequação de novas
técnicas; (suportes diferentes, substâncias distintas)
- Eleger representantes é também eleger maneiras de se fazer, como as reais e
as adequadas (suprimir heterogeneidade, diferença);
- A arte indígena receber tal nomenclatura apenas por ser produzida por um
indivíduo indígena ou por retratar a temática indígena em sua abordagem.
NAINE TERENA

Arte indígena?
- Quais critérios definem? Não se encerra em ser uma arte feita por indígenas
sobre a temática indígena;
- É carregada de intenções e subjetividades, força presente nas produções
antigas até os dias de hoje;
- Reverbera e atua em diferentes planos: “Envolve uma cadeia muito maior, de
valores implícitos e explícitos, desafia sistemas burocráticos, qualifica a
existência do ser humano e suas peculiaridades (...)” (p.16)
- “Elas sempre foram originais, no que diz respeito a ter ‘origem’. Sempre se
soube de onde vieram e para onde vão, porque vão e vem.” (p.14)
(temporalidade/espacialidade → “o futuro é ancestral” (Krenak)
ISAEL MAXAKALI “Mãmxexex yõg kutex”

YARA ASHANINKA
NAINE TERENA

Exposição num sentido anti-etnográfico/antropológico:


- “A expografia foi pensada (...) no sentido de que o público veja as obras em
suas dinâmicas temporais próprias, e não agrupadas por questões regionais
ou regidas por dominâncias cronológicas.” (p.18) (Outros sistemas de
classificação)

- Crítica Goldstein: equívocos nas exposições com a temática indígena por


sujeitos não indígenas (artefatos etnográficos e obras de não-indígenas,
carência de diálogo e conexão, falta de especificação das obras indígenas,
autorias…)
TAMIKUÃ TXIHI
ILANA GOLDSTEIN

Artificação e dicotomia arte/artesanato


- Processo de artificação (Roberta Shapiro) das produções indígenas no Brasil:
“sua passagem de artefatos etnográficos ou objetos utilitários às obras de
arte legitimadas”,
- “Processo que depende de quem organiza as exposições, onde elas
acontecem, quem as visita, como as obras são apresentadas” (p.173)
- Tício Escobar: “Modelo da arte” europeu: pressupostos de originalidade,
primazia da forma, autoria individual; (p.170)
- Utilizados para desqualificar as demais produções, que tornam-se
artesanatos, artefatos etnográficos (p.170)
“Normalmente, quando alguém
se refere a uma obra como
artesanato, o que está em jogo
não é a descrição de um
fenômeno essencialmente
diverso da arte moderna ou
contemporânea, mas, antes, uma
hierarquização de gêneros, na
qual artesanato denota algo
menos sofisticado e mais
espontâneo” (p.171)
NAINE TERENA

“NÃO É ARTESANATO, É ARTE, AUTONOMIA, GIRAFA-MBYA!”


- Em Vexoá, essa discussão aparece num conjunto com os artistas Gustavo
Cabocco, Lucilene Wapichana e Juliana Kerexu (Guarani-Mbya);
- tanto o aspecto de “redução de sua produção e, consequentemente, seu valor
simbólico e econômico” (p.22)
- quanto os “pré-conceitos”: quando a produção de artefatos agrega novos
valores simbólicos, “gera o pensamento de alienação ou aculturação” (p.22)
(muito embora resolva a questão de geração de renda de muitas
comunidades)
YAKA HUNI KUIN”O sopro da jiboia”
ILANA GOLDSTEIN

Associações de arte indígena Museus indígenas


- Arte Baniwa - desde final dos anos - Museu Maguta - Ticunas - 1991 -
90 Benjamin Constant (AM)
- Wairó - Casa de Produtos Indígenas - Museu Kuahí - Karipuna, Palikuer,
do Rio Negro (produz. pela Galibi-Marworn e Galibi-Kalinã - 2004
Federação das Organizações - Oiapoque (AP), apoio Lux vidal
[fechado desde 2014 prob estruturais
Indígenas do Rio Negro (Foirn)
obra nunca terminadas gov]
- Artesanato Kariri-Xokó (Alagoas)
- Hutukara Associação Yanomami
- Rádio Yandé - desde 2013, webrádio
abrangência nacional
- Movimento Artístico Huni Kuin
(Mahku)
DAIARA TUKANO
ILANA GOLDSTEIN

Arte indígena como “diálogo e conexão”

- Jaider Esbell: “[o artista indígena contemporâneo] consegue caminhar entre


a floresta e o asfalto, faz percursos transmundos para provocar reflexões. É
positivo quando conseguimos fazer as máquinas pararem e as pessoas
olharem para nós" (p.160)

- Gustavo Cabocco: “Ao ouvir os caminhos de retorno à terra, os caminhos da


pedra e os encontros da arte indígena contemporânea, conseguimos
magicamente (espiritualmente) aproximar indígena, aquele que é originário,
de alienígena, o que é de fora. [...] Aqui fora (alienígena) somos a arte e a
ponta para as contemporaneidades dos mundos indígenas” (p.160)
Arte indígena como tradutora
(Terena, p.13)

Richard Wherá Mirim



“Com a noção de arte a nosso favor, podemos, enquanto indígenas,
vislumbrar a possibilidade de tradução, ou de reaproximação de nossa
própria natureza. (...) A tradução é um espaço que muito nos interessa. Não
pensamos os ‘espaços da arte’ como um espaço a ser alcançado, ocupado.
Quando digo que temos os nossos próprios sistemas de arte, e eles estão
onde deveriam estar, que são nossas comunidades, talvez eu queira dizer
que isso é um convite para que o outro, o ‘branco’, entre em nosso universo
pela porta da frente. E, para dizer isso, precisamos, ainda, sair de nossas
casas para adentrar cerimoniosamente o ‘espaço da arte’ branca, e dizer
que nós também temos o que mostrar, mas aos nossos modos, com nossos
protocolos.” ( Jaider Esbell)
REANTROPOFAGIA - Denilson Baniwa
aqui jaz o simulacro macunaíma
“ReAntropofagia posta à mesa nostálgica
jazem juntos a ideia de povo brasileiro
é arte-indígena crua sem nenhum caráter
e a antropofagia temperada
com bordeaux e pax mongólica
quando desta arte pau-brasil-tropical
que desta longa digestão
não sobrar um só osso mastigado
sobrará o tal epitáfio como recado: renasça Makünaimî
e a antropofogia originária
que pertence a Nós
indígenas”
“Performance Pajé Onça caçando na Avenida Paulista”
Denilson Baniwa
HD vídeo, 16:9, cor, som, 16min04seg , 16 nov. 2018

“Pajé-Onça entidade ancestral vai à caça na cidade e suas violências ocultas até
chegar no MASP onde descobre que as culturas indígenas foram saqueadas pelos
séculos da instituição da arte da moderna.”

https://www.youtube.com/watch?v=GtwR1-KopqM&ab_channel=DenilsonBaniw
a
FESTIVAL REC-TYTY
“rec•tyty é um festival de artes indígenas que busca tocar o coração do público por meio da
exposição e ativações de diversos artistas indígenas atuantes no país.

Rec é gravação, registro. Na língua Guarani, tyty é a pulsação do coração e das emoções, que
ribomba em nós ao darmos um abraço, ao vermos uma pintura ou ao ouvirmos uma música
que mexe conosco. Segundo a sabedoria Guarani, é este pulsar dos afetos e do coração que
registra nossas memórias em nosso cérebro.

Inspirado pelas cores das revoadas de aves e pelo poder de cardumes e colmeias, rec•tyty é
uma celebração para suspender o céu, união da resistência e da pulsação, expressão do
nosso desejo de viver de forma coletiva.

Realizado pela curadoria de Ailton Krenak, Cristine Takuá, Carlos Papá, Naine Terena e
Sandra Benites, rec•tyty ocorrerá online, de 17 a 25 de abril.”
Referências:
Terena de Jesus, Naine. Véxoa: nós sabemos. São Paulo: Pinacoteca. 2020. Pp.11-24.

Goldstein, Ilana.S. “Arte Indígena como conexão.” Véxoa: nós sabemos. São Paulo:
Pinacoteca do Estado. 2020. Pp. 159-177.

Baniwa, Denilson. “ReAntropofagia”. The Brooklyn Rail. Critical Perspectives on Art,


Politics and Culture. https://brooklynrail.org/2021/02/criticspage/ReAntropofagia

Ebell. Jaider. “Também temos o que mostrar: a nossos modos, com nossos
protocolos”. Revista Contemporary And América Latina, 2021.
https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/jaider-esbell/

Festival Rec-Tyty de Arte Indígena. https://rectyty.com.br/

Pinacoteca. https://pinacoteca.org.br/

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