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P E DRO DIAS
H E R Á L D I C A
PORTUGUESA
NA PORCELANA
HERÁLDICA PORTUGUESA
H E R Á L D I C A
PORTUGUESA
NA PORCELANA
DA C H I N A Q I N G
H E R Á L D I C A
PORTUGUESA
NA PORCELANA
DA CHINA QING
Autor
Pedro Dias
Maquete
Pedro António
Publicado por
FUNDAÇÃO MACAU
Avenida de Almeida Ribeiro
n.º 61 -75, Circle Square
7.º - 9.º Andares
Macau
Tel. (853) 2896 6777
www.fmac.org.mo
info@fm.org.mo
Execução Gráfica
Tiragem
1000 exemplares
1.ª edição
Julho de 2014
Depósito legal
378833/14
isbn
978-972-8586-38-6
1. NOTA PRÉVIA
D
urante muitas décadas, a Historiografia Portuguesa passou ao lado
da porcelana chinesa de exportação, como coisa de somenos, como
se não estivesse intimamente à História dos Descobrimentos Maríti-
mos e à nossa Expansão Ultramarina, e não tivesse nenhuma impor-
tância para a avaliação do gosto das classes mais ricas da sociedade lusa, bem
como dos seus comportamentos, quer no Reino quer nas terras de Além-Mar.
Diga-se que a generalidade dos estudos que lhe foram dedicados tiveram
como objectivo a Heráldica, ou restringiram-se à história de algumas famílias
titulares, não ultrapassando normalmente este patamar valioso e interessante,
mas redutor. Na verdade, ostentar o brasão próprio ou o dos antepassados, num
serviço completo, com centenas de unidades, ou apenas em algumas peças deco-
rativas de maior aparato, tinha um significado social e prendeu-se com condicio-
nalismos económicos de personalidades ou de grupos, ou ainda, a questões da
mais estricta esfera da política. Esta louça brasonada pode ser explorada na pers-
pectiva de um melhor entendimento do Passado, concretamente, do gosto e dos
modos de afirmação, e também de tensões que sempre marcaram o quotidiano
dos homens, mas não podemos perder de vista as questões estéticas. Se é verdade
que este estudo parte de obras de arte, a verdade é que ele é, fundamentalmente,
um trabalho que entrelaça a História Social, a História Política e a História Eco-
nómica, pois usamos as peças como documento histórico que, analisado de todos
estes ângulos, permite perceber muito sobre os seus encomendantes e o ou os
seus usuários.
Com esta abordagem, com esta perspectiva, talvez se consiga responder a
algumas perguntas, como: Quais as reais razões para a inclusão de elementos
6 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
P É RS IA
CHI NA
JA PÃ O
ARÁBI A
Í NDI A S I ÃO
CE I L ÃO
ÁFRI CA
Não podemos esquecer que Macau foi, ao longo de séculos xvi, xvii e xviii, o
principal ponto de contacto do Império do Meio com o exterior, sobretudo com
as terras e mares situados mais para Ocidente. Mas, a História não se limita aos
registos escritos, aos caracteres de pergaminhos e papéis, mas também a vestí-
gios materiais, como as obras artísticas e artificinais, e mesmo às tradições orais.
É neste contexto de documentos históricos que inserimos as belas porcelanas
brasonadas fabricadas na China, encomendadas por reis, senhores e instituições
portuguesas. Algumas são bem mais eloquentes do que páginas e páginas de
narrativas.
Este trabalho que agora terminámos não foi isento de dificuldades, e uma
que temos que destacar prende-se com a grafia das palavras chinesas, e com a
sua passagem para o nosso idioma. Nem todos os autores são unânimes na
forma de escrever certos vocábulos, quer os antropónimos quer os topónimos, Mapa da África Oriental e da Ásia.
Principais rotas comerciais e
pelo que optámos por seguir alguns especialistas chineses que conhecem bem o produtos, em meados do século xvi
(segundo A. H. de Oliveira Marques
Português e o Inglês, mas nem para todos os termos tivemos guias seguras. e João Alves Dias)
8 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
gínqua, de Luiz Ferros, nas notas eruditas que acrescentou à reedição da obra
fundamental de Castro e Solla, e os trabalhos, sobretudo de análise das próprias
cerâmicas, que se devem a Maria Antónia Pinto de Matos e, para as importantes
questões de relação com encomendas feitas por nacionais de outros países, a
Teresa Canepa.
As porcelanas que apresentamos com heráldica portuguesa são, na sua
maioria, pertencentes a colecções portuguesas. No entanto, e como desejámos
fazer um livro tão completo quanto possível, acrescentámos algumas porque as
há únicas e que estão em museus.
Para complementar este trabalho, e sobretudo para o enquadramento geral
e, particularmente, para a evolução da porcelana, desde os primeiros tempos de
fabrico, recorremos aos arquivos fotográficos de casas leiloeiras Sotheby’s de
Londres e New York, Christie’s de Amsterdão, Bonhams de Londres e, muito
particularmente, das portuguesas Palácio do Correio Velho, Cabral Moncada e
Aqueduto, de cujos proprietários somos amigos, há muito, e cuja disponibilidade
para colaborar foi total. Outras imagens de peças ou documentos gráficos per-
tencem à Fundação Medeiros e Almeida, à Fundação Carmona da Costa, à
Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, à Fundação Oriente, bem como ao Bri-
tish Museum, Victoria and Albert Museum, ao Amsterdams Historish Museum,
ao Winterthur Museum, ao Museu Topkapi Saray de Istambul, ao Museu Nacio-
nal de Jakarta, ao Museu Duca di Martina di Napoli, ao Museu del Prado de
Madrid, ao Museo Civico de Bolonha, ao Museu Castro Maya do Rio de Janeiro,
ao Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, à Biblioteca Nacional de Portu-
gal, à Biblioteca Nacional da Ajuda, ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Biblioteca da Fortaleza de São Julião da Barra, à British Library, à Pierpont Mor-
gan Library de New York, ao Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, ao Museu
Nacional de Arte Antiga, ao Museu Rainha D. Leonor de Beja, ao Museu Nacio-
nal dos Coches, ao Museu Militar de Lisboa, ao Museu de São Roque de Lisboa,
e ao Palácio Nacional de Queluz. Outras fotos pertencem ao arquivo da extinta
Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, e
foram-nos cedidas, quando aí trabalhámos, entre 1989 e 1997. A todos os res-
ponsáveis destas instituições agradecemos, pois sem a sua generosidade este
estudo ficaria muito menos esclarecedor e não cumpriria a sua função didática.
2. ALEGORIAS E FESTIVIDADES
PORTUGUESAS NA PORCELANA
DA DINASTIA QING
N
o ocaso da Dinastia Ming, ocorreu a destruição dos fornos de
Jingdezhen, apenas reactivados, em 1682; em 1699 o porto de Can-
tão foi aberto ao comércio regular com o Ocidente, estabelecendo-
-se aí feitorias de quase todas as potências europeias e, depois,
também dos Estados Unidos da América. Na verdade, aos holandeses, na pro-
cura de porcelanas, sucederam-se os ingleses, com a East India Company, cuja
importação se centrou no século xviii. Só em 1735, dois navios, o Harrington e
o Grafton, desembarcaram, em Londres, 240.000 peças. Neste tempo, as outras
nações europeias navegavam para o Oriente, como antes se disse, fazendo-se
também a exportação, para a Europa do Norte e para o Novo Mundo. Usava-se
uma decoração de raiz ocidental, com uma riquíssima policromia e uma icono-
grafia que já ultrapassava a heráldica e os símbolos das ordens religiosas; é a esta
porcelana que se chama vulgarmente Companhia das Índias. Foi também este o
tempo da diversificação dos modelos, que concorriam com os das grandes
manufacturas de faiança fina da Alemanha e de outros países europeus. Já não
servia apenas um tipo de prato ou uma jarra mais ou menos elaborada.
Três autores tentaram quantificar a importação de porcelanas chinesas,
pelos diferentes países intervenientes na região, desde o início das viagens por-
tuguesas, até ao século xix1. Apesar da prioridade lusa neste comércio, teremos
sido dos mais modestos importadores, com cerca de 10.000.000 de peças, longe
portanto das 35.000.000 a 50.000.000 dos holandeses, e das 30.000.000 a
35.000.000 dos ingleses. Note-se que, no compto holandês, se incluem porcela-
nas de outras origens extremo-orientais, nomeadamente, do Japão, da Pérsia e
da Arábia, mas o seu número, relativamente ao total, foi diminuto. Quantidades
12 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
Prato comemorativo
do casamento de D. Maria I
com D. Pedro III. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong.
Cerca de 1780.
(Colecção particular)
2. A LEGO RIAS E FE STIVIDADE S PO RTUGUE SAS NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 23
Prato comemorativo
do casamento de D. Maria I
com D. Pedro III. Dinastia Qing,
reinado do imperador
Qianlong. Cerca de 1780.
(Colecção particular)
Taça e pires comemorativos
do casamento de D. Maria I
com D. Pedro III. Dinastia
Qing, reinado do imperador
Qianlong. Cerca de 1780.
(Colecção particular)
2. A LEGO RIAS E FE STIVIDADE S PO RTUGUE SAS NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 25
NOTAS
1
R. Picard, J. P. Kerneis & Y. Bruneau, Les Compagnies des Indes. Route de la Porcelaine,
pp. 33-34.
2
BPE. CXVI – 2/6.
3
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, “Objectos preciosos, aparato e representação de elites da
Corte Portuguesa de Setecentos”, Armas e Troféus, Lisboa, 2002-2003, IX série, p. 229 e segs.
4
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, “Ouro, prata e outras riquezas setecentistas numa herança
da Bahía (Brasil)”, Revista da Faculdade de Letras – Ciências e Técnicas do Património, Porto,
2004, vol. III, p. 293 e segs.
5
Maria Antónia Pinto de Matos, “Travessa. Porcelana de Encomenda”, (Catálogo da Exposi-
ção) Do Tejo aos Mares da China. Uma Epopeia Portuguesa, p. 190.
6
João Alarcão de Carvalho Branco & Jorge de Brito e Abreu, “Simbologia Heráldica”, Porce-
lanas do Museu da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, edição de Mary Espírito Santo
Silva, Lisboa, 1999, pp. 164-165.
7
João Alarcão de Carvalho Branco & Jorge de Brito e Abreu, “Simbologia Heráldica”, p. 165.
8
Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, 2.ª edição, Lisboa, 1990, vol. VI, p. 293 e segs.
9
Nuno de Castro, A porcelana chinesa ao tempo do Império. Portugal-Brasil, 2007, p. 81; Lou-
renço Correia de Matos, “Taça para chá com pires”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos
de comércio, vol. I, p. 164, e pp. 556-557.
10
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 203.
3. HERÁLDICA REAL PORTUGUESA
NA PORCELANA DA DINASTIA QING
A
parecem documentadas compras maciças para Portugal, nomeada-
mente, para o palácio de Queluz, na segunda metade do século xviii,
quer feitas directamente em Macau, como as que vieram no navio
Bom Jesus d’Além, comandado por José Dias de Sousa, destinadas
aos príncipes D. José e D. Maria Benedita, quer adquiridas a intermediários,
como Jean Lanfranc, em 1756, que também forneceu outros originárias da Palácio Nacional de Queluz.
Fachada principal
Saxónia e de França.
Em 1758, Bento Dias Pereira
Chaves comprou mais uma quanti-
dade formidável de louça chinesa,
para o mesmo palácio, mas nessa
altura, no leilão do conde de Sabu-
gosa, entre as quais muitas talhas,
algumas delas com grandes dimen-
sões. Certamente, também não eram
brasonadas, pois a Corte não usaria
peças com armas da nobreza, e os
nobres não mandavam fazê-las com
as Armas Reais. Há novas compras
registadas, para Queluz, em 1761 e
1782, quer de peças vindas directa-
mente de Macau, quer de outras,
novamente obtidas em hasta pública,
realizada em Lisboa.
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D. JOÃO V
embora também nada aponte para que seja apenas do período em que ela esteve
mais envolvida nos negócios do Reino, dada a doença do marido, ou seja, já na
década de quarenta do século xviii. Existem peças deste raro serviço em várias
colecções portuguesas, nomeadamente, na do Museu Nacional de Arte Antiga,
sabendo-se que essa, em particular, pertenceu ao rei D. Fernando II de Saxe-
-Coburgo, segundo marido de D. Maria II, e um dos grandes coleccionadores
de obras de arte, em Portugal, do século xix.
D. JOSÉ I
Retrato de D. José I. Autor “Carta do Emperador, que por beneficio do Ceo governa o Império da China a
desconhecido. Cerca de 1760.
(Cabral Moncada Leilões. 2009) El Rey de Portugal.Vi a carta e recebi as cousas, que Vossa Magestade do seu Reyno me
3. HE RÁL DICA RE AL PO RTUGUE SA NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 35
mandou e delias entendi o seu verdadeiro e recto animo para comigo, a fama da virtude
do meu Avo e do meu Pay chegou a todas as partes do mundo, e como os Reys de Por-
tugal mostrarão sempre muito amor e amizade com os meus antepasados por isto estes
derão-lhes sempre muytos louvores e os tratarão com grande affecto, agoraVossa Mages-
tade escolheo e mandou hum Embaixador per tantos mares para corresponder o amor
e benevolência com que os meus antepassados e eu tratamos sempre os seus vassallos,
que existem neste meu império, as palavras da sua carta são summamente cortezas e
muy expressivas, e eu quando as li fiquei muy alegre e satisfeito. O Embaixador che-
gando a esta corte, admiti-o a minha presença, e para mais consolallo e honralo dei-lhe
em minha presença hum combite solemne, e fora disto tratei-o com honras extraordiná-
rias, aos vassalos da Vossa Magestade que estão nesta corte acrescentei também honras
para comprazer a Vossa Magestade que tanto dista destas terras. Agora que o Embai-
xador volta para o seu Reyno mando esta carta junto com alguns mimos de várias
Carta enviada a D. José I pelo
sedas, vasos e outras.Vossa Magestade aceite este mimo, e fique seguro do meu affecto imperador da China Qianglong,
num rolo de 3.85 m de comprimento
para com Vossa Magestade por isto escrevo esta.” (Biblioteca Nacional da Ajuda)
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D. PEDRO III
D. JOÃO VI
mental Jardim Botânico, uma das muitas fundações joaninas, na capital das
Terras de Santa Cruz.
No entanto, não podemos esquecer outros grandes serviços que eram
compostos por milhares de peças, como o dos pavões, usada no palácio de São
Cristóvão, com uma decoração de excelentes esmaltes, que mistura os motivos
mais típicos da família verde e da família rosa, e que tem como motivo central
um casal de pavões assente sobre uma rocha, e ainda peónias de cor rosa ou
brancas. Outo serviço era o dos galos, também excepcional, até pelas caracterís-
ticas da própria porcelana, delicadíssima, com pratos oitavados da família rosa,
com folhagem e flores sobre os ramos de bambú que desenham a cercadura,
acrescentando-se, no centro das peças, outros elementos vegetais, de muito boa
Vista do palácio imperial
do Rio de Janeiro. pintura, onde se podem ver peónias e cogumelos, ou ainda borboletas, e os galos
Jean Baptiste Debret.
Cerca de 1820-1830. que deram origem à designação comum do conjunto. Nos dias festivos, era
(Museus Castro Maya.
Rio de Janeiro) usado o serviço dos pastores, talvez o com a decoração mais europeizada,
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Em duas das reservas laterais, as maiores, foram apostas as Armas de Portugal; Banco em porcelana chinesa
de exportação com as armas de
de branco, por prata, cinco escudetes de azul colocados em cruz; bordadura de D. João V. Reinado de Jiaging ou
Daoguang da Dinastia Qing.
vermelho com sete torres, que correctamente deveriam ser castelos de ouro; Cerca de 1820. (Colecção Particular)
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Coroa Real fechada. Como pendente, tem a insígnia da Ordem de Cristo. Curio-
samente, a base não é vidrada. Tem 16,3 cm de altura e 23,7 cm de largura. Foi
executada durante a Dinastia Qing, mais concretamente, no reinado de Jiaqing
ou de Daoguang.
A segunda floreira, redonda e com o prato da base, é de melhor qualidade
do que a anterior, com um desenho mais fino, mais miúdo, e com uma policro-
mia muito viva. Os esmaltes são em tons de vermelho ferrugem, azul, dourado
e da família rosa, e ostentam, de cada lado, as Armas Reais; de branco, por prata,
cinco escudetes de azul colocados em cruz; bordadura de vermelho com sete
torres, que correctamente deveriam ser castelos de ouro; Coroa Real fechada.
Floreira sextavada de porcelana
chinesa de exportação com Tem a insígnia da Ordem de Cristo pendente. O bordo exterior mostra uma
as Armas Reais de D. João VI.
Reinado de Jiaqing ou Daoguang delicada faixa de flores, e o interior é composto com estrelas azuis e reservas
da Dinastia Qing. Cerca de 1820.
(Colecção particular) minúsculas com frutos e outros motivos fitomórfico. Esta floreira tem 14,73 cm
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D. PEDRO IV DE PORTUGAL
E I DO BRASIL
D. João VI, quer por outros que muitos nobres que estavam a viver na Corte,
entretanto fizeram ir da China, quer finalmente novas encomendas.
No Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, por exemplo, guarda-se
uma cesta de pão e um prato de mais um serviço que foi encomendado por
Taça de porcelana chinesa
de exportação com as Armas D. João VI, e que continuou, averiguadamente, em uso. Mas, foi a França que
Imperiais de D. Pedro I do Brasil.
Reinado Daoguang da Dinastia Qing. recorreu D. Pedro II, para se fornecer de louça fina de porcelana, tendo até um
Cerca de 1830.
(Colecção particular) serviço que lhe foi oferecido por Napoleão III.
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D. LUÍS I
num jardim, e outras duas com motivos florais e pássaros pousados sobre as
ramagens, em posição alternada, ficando, no centro, uma reserva onde está o
Escudo de Portugal, como era conforme no reinado de D. Luís I: Armas: Reais;
escudo do tipo designado por francês, com cinco escudetes postos em cruz, e
cada escudete carregado de cinco besantes. Bordadura com sete castelos. Ver-
gônteas floridas. Há alterações às cores normais do Brasão Real. Tem 25 cm de
diâmetro, e tem que se datar de entre 1880 e 1890, portanto, da Dinastia Qing
e do reinado do imperador Guangxu.
Prato de porcelana chinesa Outra peça importante é um enorme prato com uma paisagem de monta-
de exportação com as Armas
de D. Luís I. Reinado Guangxu nhas e vales verdejantes, de excelente policromia, típica da porcelana de expor-
da Dinastia Qing. Cerca de 1880.
(Palácio Nacional da Ajuda) tação da época, isto é, de cerca de 1880, mas que tem um círculo, onde avulta o
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Escudo Real coroado, e uma reserva na base, onde se inscrevia um nome. Julga-
mos que se trata de um prato para oferta, ou do monarca ou do governador de
Macau, em seu nome, que mandaria colocar o nome do homenageado, no
espaço que estava em branco. Este que apresentamos tem a inscrição J. C. Maga-
lhães. Mede 48 cm de diâmetro e data de cerca de 1880 a 1890, portanto da
Dinastia Qing e do reinado do imperador Guangxu, como os restantes que vimos
anteriormente.
Armas: Reais; escudo do tipo designado por francês, com cinco escudetes
postos em cruz, e cada escudete carregado de cinco besantes. Bordadura com Prato de porcelana chinesa
de exportação com as Armas
sete castelos; vergônteas floridas. Há alterações em relação às cores normais do de D. Luís I. Reinado Guangxu
da Dinastia Qing. Cerca de 1880.
Brasão Real. (Colecção particular)
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As Armas Reais que ostenta mostram o escudo do tipo designado por fran-
cês, com cinco escudetes postos em cruz, e cada escudete carregado de cinco
besantes. Bordadura com sete castelos. Vergônteas floridas.
O Governo de Macau teve outro serviço feito na mesma altura, do qual
faz um prato coberto que pertence hoje ao Museu da Fundação Ricardo
Espírito Santo Silva. Tem a forma oval, com 26,8 cm de comprimento e 9,4 cm
de largura máxima, com a aba recortada e ligeiramente virada para baixo.
A tampa também tem recortes, para permitir o encaixe, embora sejam,
naturalmente, menos pronunciados. A pega tem a forma de uma pinha dou-
rada. A decoração é composta por plantas, flores diversas, pavões e borbo- Terrina de porcelana chinesa
de exportação com armas de D. Luís I
letas, tudo debruado a ouro, sendo o essencial em cor de laranja. De cada e a inscrição do PALÁCIO DO
GOVERNO DE MACAU.
lado da tampa, tem uma reserva circular, em branco, na qual foi inscrito Reinado Guangxu da Dinastia Qing.
Cerca de 1880.
o Escudo de Portugal e a legenda PALÁCIO DO GOVERNO DE MACAU. (Colecção particular)
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Temos obviamente que datar também esta peça do reinado de Guanxu, impera-
dor da Dinastia Qing, e a sua feitura andará por volta de 188012.
As Armas Reais têm o escudo do tipo francês, com cinco escudetes postos
em cruz, e cada escudete carregado de cinco besantes; bordadura com sete cas-
telos. Vergônteas floridas.
Outra peça, novamente um prato, também com decoração mandarim, com
esmaltes polícromos figurando elementos vegetalistas estilizados e naturalistas,
com uma reserva redonda na frente, onde está o brasão nacional, e a legenda
GOVERNO DE TIMOR. É uma porcelana raríssima, provavelmente mandada
fazer na mesma ocasião das anteriores, com as quais tem bastantes afinidades, e
que, pela sua tipologia garante que foi mandado fazer um serviço completo,
para uso naquela distante província do Oriente. Data de cerca de 1880 a 1890,
portanto, da Dinastia Qing e do reinado do imperador Guangxu. Foi encomen-
dado na mesma ocasião em que foi construído o novo palácio de Governo de Palácio do Governo, em Dili.
Gravura. 1887.
Timor. (Colecção particular)
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As Armas são as Reais; escudo do tipo designado por francês, com cinco
Prato de porcelana chinesa escudetes postos em cruz, e cada escudete carregado de cinco besantes. Borda-
de exportação com as Armas
de D. Luís I e a inscrição PALÁCIO DO dura com sete castelos. Vergônteas floridas.
GOVERNO DE TIMOR.
Reinado Guangxu da Dinastia Qing.
Cerca de 1880.
(Colecção particular)
3. HE RÁL DICA RE AL PO RTUGUE SA NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 55
D. CARLOS I
Pormenores da decoração
das abas dos pratos de porcelana
chinesa de exportação com as Armas
de D. Carlos I e a inscrição
QUARTO CENTENÁRIO
DO DESCOBRIMENTO
DA ÍNDIA. Reinado Guangxu
da Dinastia Qing. Cerca de 1897.
(Colecção particular)
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para ofertas, e que julgamos ter sido encomendada, nos primeiros anos do
século xx. A decoração é a típica mandarim, da Dinastia Qing, do reinado do
imperador Guangxu, com seis reservas entre o medalhão central e a aba, onde
foram pintadas, alternadamente, cenas com chineses, num jardim, e composi-
ções de flores e pássaros, ficando a axial inferior livre, para a inscrição do nome
Pormenores da decoração
das abas dos pratos de porcelana
do monarca. O Escudo é de formato francês. Tem Portugal de prata com cinco
chinesa de exportação com as Armas escudetes de azul postos em cruz, carregados de cinco besantes de prata, em
de D. Carlos I e a inscrição
QUARTO CENTENÁRIO aspa. A bordadura é de vermelho, carregada com sete castelos de ouro. Manto
DO DESCOBRIMENTO
DA ÍNDIA. Reinado Guangxu real de arminho de vermelho e, sobre ele, a Coroa Real fechada. Termina com a
da Dinastia Qing. Cerca de 1897.
(Colecção particular) insígnia da Ordem da Torre Espada, pendente sob o bico do escudo.
3. HE RÁL DICA RE AL PO RTUGUE SA NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 59
1
José Roberto de Amaral Lapa, A Bahía e Carreira da Índia, São Paulo, 1968.
2
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, Porto, 1987, pp. 76-77.
3
Margeret Kealing Gristina, “Prato”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. II, p. 524.
4
Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, 2.ª edição, Lisboa, 1982, vol. V, p. 264 e segs.
5
Simonetta da Luz Afonso & Vicente Borges de Sousa, “A Cidade do Nome de Deus de
Macau”, (Catálogo da Exposição) Do Tejo aos Mares da China. Uma Epopeia Portuguesa,
pp. 141-153.
6
François Newielhe, Relação da Jornada que fez ao Império da China, e Summaria Noticia da
Embaixada, que deo na Corte de Pekim, em o primeiro de Mayo de 1753 o Senhor Francisco Xavier
de Assis Pacheco e Sampayo, Lisboa, 1754.
7
Luiz Ferros, nota CIII, in Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, reedição fac-similada de Luiz
Ferros e J. A. Telles da Sylva, Lisboa, 1992, vol. I, pp. XXX-XXXI.
8
Maria Antónia Pinto de Matos, “Serviço de jantar, chá, café e chocolate”, (Catálogo da
Exposição) Do Tejo aos Mares da China. Uma Epopeia Portuguesa, pp. 196-197.
9
Maria Antónia Pinto de Matos, “Floreira. Porcelana de Encomenda”, (Catálogo da Exposi-
ção) Do Tejo aos Mares da China. Uma Epopeia Portuguesa, p. 198.
Prato de porcelana chinesa 10
Pedo Dias, A Urbanização e a Arquitectura dos Portugueses em Macau. 1557-1911, Lisboa,
de exportação com as Armas
de D. Carlos I. Reinado Guangxu 2005, pp. 210-211.
da Dinastia Qing. 11
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 243.
Cerca de 1895-1905
(Colecção particular)
12
Mary Salgado Lobo Antunes, Porcelanas, p. 58.
4. HERÁLDICA DA NOBREZA
NA PORCELANA DA DINASTIA QING
A
quantidade de porcelana brasonada que se conserva e que se conhece
bem, nomeadamente, através da sua venda em leilões e do comércio
antiquário, mostra que foram muitas as famílias nobres que enco-
mendaram serviços e, nalguns casos três, quatro ou mesmo mais.
O auge desta moda, em Portugal, ocorreu durante todo o século xviii e as duas
ou três primeiras décadas do século xix, e correspondeu a igual fenómeno nou-
tros países europeus. Cremos que, entre nós, também havia debuxadores espe-
cializados em fazer os projectos, que depois eram enviados para Macau, e daí
para a vizinha cidade de Cantão. Há documentação que comprova este facto e,
para não nos alongarmos, veremos apenas alguns dos exemplos relevantes. Foi
a manutenção desse porto, que nos permitiu continuar a encomendar as porce-
lanas, já que o seu número não reflete o parco comércio geral que então manti-
nhamos com o Oriente.
Não é hoje fácil saber que obras eram específicas para o nosso mercado,
quando apenas ostentam decoração floral ou geométrica, mais ou menos mar-
cada pelo Ocidente, dos tipos a que se convencionou chamar “família verde” e
“família rosa”, a que várias vezes aludimos, nas páginas anteriores. No entanto,
quer uma quer outra, quer a mais antiga família azul ming, ostentaram também
brasões ou escudos de famílias nacionais, ou de outras que, sendo estangeiras,
aqui viveram e exerceram relevantes actividades comerciais ou diplomáticas.
Um núcleo notável que se conserva no seu local de origem é o do palácio
de Santos, ou palácio Abrantes, em Lisboa, da ilustríssima Casa dos Lencastre,
em cujas veias corre sangue real, local onde está agora instalada a Embaixada de
França. O que se pode ver do edifício é fruto de restauros sucessivos, mas con-
62 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
número do inventário era o de peças da copa. No que toca a louça azul e branca,
possuía 66 peças de um serviço de chá, além de chícaras para beber café e cho-
colate; 237 chícaras de formas e decoração variada, a que se acrescentava um
número muito próximo de pires. Quanto à louça de jantar, e ainda em azul e
branco, só terrinas eram 38, além de 140 travessas, pratos covos e chatos, e 72
pratos redondos, 22 mostardeiras, 20 saleiros, 84 pratos pequeninos e 454
outros pratos, desde os que serviam para por os guardanapos, até aos de sopa.
Quanto às peças com decoração polícroma, seguramente da chamada família
rosa, havia duas terrinas, 51 travessas, 12 saladeiras, 129 pratos de diversos
tipos, 20 pires, 10 saleiros e 15 mostardeiras. É muito curiosa a indicação explí-
cita de um bule e uma leiteira “de Macau”, mas que não temos ideia do que seja,
daquilo que a tornava tão individualizável2.
64 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
À mesma família pertencia ainda John Jacob Mendes da Costa, que man-
dou fazer um serviço com as armas da família, cerca de 1860, no período do
reinado de Daoguang da Dinastia Qing. As armas são as dos Costa, com escudo
de bico, de vermelho, com seis costas soltas de prata; aqui mal representadas
numa cor cinzenta. Elmo de grades, frontal, virol, paquife, e o timbre com
três plumas brancas. O ramo da família a que pertencia tinha emigrado para
Barbados, para os Estados Unidos e para a Venezuela. John Jacob foi médico
no Hospital da Universidade da Pensilvânia, no início da segunda metade do
século xix7.
Manuel Álvares Pinto foi o primeiro português que não esteve no Oriente
a possuir um serviço chinês completo, decorado com as suas armas no período
da Dinastia Quing. Tanto quanto sabemos era marrano, comerciante e com
interesses nos negócios do Brasil e da Índia, e devido à sua origem teve que fugir
de Portugal, no fim do século xvii. Já o primeiro titular chefe de uma casa per- Brasão dos Costa representado
nestes pratos de porcelana
chinesa de exportação.
Cerca de 1720-1730. Dinastia Qing,
reinado do imperador Kangxi.
(Colecção particular)
66 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
tencente à alta nobreza a ter porcelana brasonada, e ainda assim com as armas
muito deficientemente reproduzidas, foi o 5.º conde de Vila Nova de Portimão,
D. Pedro de Lencastre Silveira Valente Castelo-Branco Vasconcelos Barreto e
Meneses, casado com uma Lencastre, dos marqueses de Fontes e condes de
Penaguião; as peças conhecidas devem datar dos anos vinte do século xviii. Veja-
-se quanto tempo tinha passado. Conhecem-se potes com tampa do seu pri-
meiro serviço, com 20,5 cm de altura, algumas, ainda com tampa. A decoração
é inteiramente a azul cobalto sob vidrado, e o brasão está mal desenhado. Só
voltamos a ter outro titular encomendante, na pessoa do 5.º conde da Ericeira e
1.º marquês do Louriçal, D. Luís Carlos Inácio Xavier de Meneses. Depois, é
em meados do século, que aparecem novos serviços da alta nobreza, do 10.º
barão do Alvito, do 1.º marquês de Alorna, e já no fim do século, do 2.º marquês
de Castelo Melhor e do 3.º marquês do Louriçal. Mas, casas da alta nobreza – e
regressando ao século xvi, e vindo daí para diante – como a de Bragança, Aveiro,
Cadaval, Lafões, etc. – parece que nunca encomendaram serviços brasonados,
pois certamente usariam baixelas de prata e prata dourada, nas grandes cerimó-
nias. Mesmo o marquês de Alorna e o conde de São Vicente mandaram-nas
fazer, quando estiveram como vice-reis do Estado Português da Índia, e o pri-
meiro, do qual conhecemos a listagem de tudo quanto trouxe, só mandou pintar
o brasão num deles.
Voltando às personalidades portuguesas, e numa apreciação muito geral,
devemos salientar que os membros das grandes famílias, normalmente só usa-
ram as armas respectivas em serviços de porcelana chinesa de encomenda,
quando estiveram a desempenhar altas funções no Oriente, em Goa ou em
Macau, ou então no Brasil. No entanto, e não nos parece demasiado realçar o
facto de os burgueses nobilitados e a pequena nobreza, sempre que podia, enco-
mendava obras destas, para dar maior lustro aos seus costados, novos novíssi-
mos ou mesmo falsos. E se no Reino estes casos eram difíceis de fazer passar
sem crítica, já o mesmo não acontecia no Brasil.
No manifesto de carga da nau São José, que aportou ao Salvador da Bahía,
em Maio de 1758, a porcelana era muita, e dizia-se explicitamente que “era a
droga que mais facilmente se vendia nesta terra”. Relativamente ao ano seguinte,
detectamos o mesmo na carga da Santo António e Justiça. E muitos outros
exemplos poderiam os dar.
Notamos também uma muito elevada percentagem de religiosos a enco-
mendar serviços brasonados, sobretudo bispos e arcebispos, quer das dioceses
ultramarinas, quer das do Reino. Lembremos que eles eram quase sempre filhos
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 67
segundos da nobreza, e que usaram este meio para enobrecer a sua pessoa, e
para valorizar o seu poder simbólico.
Foram centenas os serviços importados pelos europeus, mas os portugue-
ses foram mais moderados a por-lhe os seus brasões do que outros, como os
britânicos, por exemplo. A documentação coeva é clara, quer relativamente à
capital, quer a outras localidades, como Coimbra, mostrando que, a partir do
século xvi, as classes remediadas comiam em faiança vidrada, branca ou deco-
rada a azul, e a partir do fim da centúria e, sobretudo, do inicio de Seiscentos,
quer a burguesia quer a nobreza, passaram a utilizar, pelo menos em ocasiões
especiais, a porcelana da China. No entanto, a percentagem que teve brasões, e
reiteramos o que acima dissemos, foi diminuta. Vista do porto e das feitorias
europeias e americana
Foi a pequena nobreza, e sobretudo a recente, os cavaleiros-fidalgos, os em Cantão do tipo conhecido
por China Trade. Século xix.
que recebiam mercês novas e os burgueses enriquecidos que mais serviços de (Colecção particular)
68 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. LUÍS DE LANCASTRE
SILVEIRA VALENTE CASTELO
BRANCO VASCONCELOS
BARRETO E MENESES
(n. 1644, f. 1704)
4.º conde de Vila Nova de Portimão
ANTÓNIO DE ALBUQUERQUE
COELHO DE CARVALHO
(n. 1655, f. 1725) ou ANTÓNIO
DE ALBUQUERQUE COELHO
(n. 1682, f. 1745).
O primeiro foi capitão-mor do Pará e governador do Maranhão;
o segundo foi fidalgo da Casa-Real
D. RODRIGO DA COSTA
(1657-1722)
Governador-general do Brasil e vice-rei do Estado Português da Índia
D. MIGUEL DE ALMEIDA
(n. depois de 1640, f. 1690)
Governador do Estado Português da Índia
Fortaleza de Diu
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 81
D. PEDRO DE LENCASTRE
SILVEIRA VALENTE CASTELO
BRANCO VASCONCELOS
BARRETO E MENESES
(n. 1699, f. 1752)
5.º Conde de Vila Nova de Portimão
Armas: Escudo esquartelado, I e IV, de branco por prata, com cinco escu-
detes de azul postos em cruz; bordadura de vermelho com sete besantes, por
castelos, de ouro; II e III, de vermelho, três flores-de-lis de ouro; sobre-o-todo,
de ouro, com um anel encoberto. Coronel de conde. Por suporte, lateralmente,
um dragão e uma figura humana, que deverá ser uma donzela sainte, segurando
um escudete, e, por baixo a divisa NINGUEM PRIMEIRO33. Apesar de algu-
mas falhas, são as armas dos Meneses, primeiro senhores e condes de Canta-
Armas: De negro, por prata, com cinco faixas ondadas de azul, sendo
a do meio carregada com um golfinho de ouro. Bordadura de vermelho com a
legenda a ouro QUAS CUMQUE FINDIT. Coronel de marquês. Escudo
envolvido por uma cartela de desenho barroco com concheados avolutados.
A representação não é totalmente correcta, dado que o campo, correctamente,
é de prata e, assim, a primeira faixa devia ser deste metal e não de azul. Também
o golfinho devia ser de azul assim como a bordadura, posto que com letras a
negro. As armas que se podem ver neste prato são uma variante das oficiais,
que foram usadas pelos marqueses de Távora38. Apresentamo-las, tal como estão
desenhadas no Livro do Armeiro-Mor de João de Crós.
Francisco de Assis e Távora nasceu a 7 de Outubro de 1703, filho do
2.º conde de Alvor, e também conde de São João da Pesqueira, Bernardo de
Távora, e de sua mulher D. Joana de Lorena. Obteve o título de marquês de
Távora pelo casamento com a sua prima D. Leonor Tomásia de Távora, herdeira
dos títulos de seu pai, o 2.º marquês, António Luís de Távora; a cerimónia teve
lugar, a 21 de Novembro de 1718.
Em 28 de Fevereiro de 1750, foi nomeado vice-rei do Estado Português da
Índia, e regressou ao Reino, em 1754, com o seu prestígio imensamente aumen-
tado. Foi vítima da armadilha urdida por Sebastião José de Carvalho e Melo,
acabando por ser supliciado, com toda a sua família mais próxima, a 13 de
Janeiro de 175939. O tempo, porém, devolveu a D. Francisco de Assis de Távora,
72.º governador e 45.º vice-rei do Estado da Índia o lugar a que tem direito, e,
em 1781, a rainha D. Maria I reabilitou-o.
Não terão sido muitas as peças de uso dos Távora que escaparam à sanha
destruidora, pelo que este exemplar ganha, assim, um redobrado interesse.
No entanto, não podemos colocar de lado a hipótese, aliás consistente, do ser-
viço ter desaparecido por motivo do Terramoto de 1755, que não poupou os
palácios situados na Freguesia dos Mártires.
O prato tem uma decoração da família rosa, com esmaltes polícromos e
ouro sob o vidrado, possuindo uma caldeira baixa e a aba levantada. Ao centro
Brasões dos Távora (chefe) está o brasão de armas de D. Francisco de Assis, integrado numa cartela de
do Livro do Armeiro-Mor
e conforme aparece no prato estilo rococó, que possui uma carranca no topo, posta axialmente e, sobre ela,
uma coroa aberta; na mesma linha, mas na zona inferior, uma outra carranca.
O brasão está envolto por uma tarja ovalada, formada por uma corda de prata e
ouro. A decoração da aba é constituída por elementos florais, peónias, em peque-
nos botões e folhagem a ouro. A execução e os elementos decorativos são típicos
do fim do reinado do imperador Yongzheng da Dinastia Qing, devendo datar-se
este prato de cerca de 1730, não permitindo avançá-lo, para o reinado de
Qianlong, quando D. Francisco de Assis esteve como vice-rei em Goa.
Na relação das peças que foram arroladas, quando do sequestro dos bens,
após o assasinato dos Távora, aparecem referências a “louça da Índia”, o que
Prato de porcelana chinesa
quer dizer, como vimos em muitos outros casos, porcelana chinesa. No entanto, de exportação com o brasão
de D. Francisco de Assis e Távora.
em nenhum caso, os arroladores chegaram ao pormenor de indicar porcelana Cerca de 1730. Dinastia Qing,
reinado do imperador Yongzheng.
brasonada. (Colecção particular)
102 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
GASPAR DE SALDANHA
E ALBUQUERQUE
(n. c. 1719, f. 1771)
Reitor da Universidade de Coimbra
de prata, e não apresenta nem portas nem frestas. A águia do timbre, que é a dos
Saldanha, deveria ter uma chave de ouro no bico.
D. Gaspar de Saldanha era filho era filho de Aires de Saldanha e Albuquer-
que Coutinho Matos e Noronha, gentil-homem de câmara de D. Pedro II e da
rainha D. Maria Sofia, que foi governador do Rio de Janeiro, e de D. Maria
Leonor de Moscoso, filha do 5.º conde de Santa Cruz. Foi habilitado como
cavaleiro-professo da Ordem de Cristo, em 17 de Setembro de 1767. Era irmão
do 1.º conde da Ega, e também do reitor seu antecessor, D. Francisco da Anun-
ciação.
Desempenhou inúmeros cargos públicos, além de do reitor da Universi-
dade de Coimbra. Matriculou-se, em 1737, e foi colegial do colégio de São
Pedro. Foi nomeado reitor, em 29 de Dezembro de 1757, sendo reconduzido
duas vezes seguidas, dirigindo a Universidade, até 1767, e sendo ainda vice-
-reitor, no triénio seguinte, isto é, entre 1767 e 177044. Foi prelado da igreja
Patriarcal de Lisboa, e desembargador e presidente do Tribunal da Mesa da
Consciência e Ordens45.
Anote-se que D. Gaspar de Saldanha encomendou um serviço de mesa à
Real Fábrica do Rato, venda registada, em 6 de Setembro de 176746. Usava
assim, indistintamente, a porcelana da China e a boa faiança portuguesa.
Vamos dar atenção a um prato de bordos recortados e que segue os mode-
los da faiança europeia, com uma policromia forte, pouco comum, aliás, sobre
branco leitoso, e podem datar-se de cerca de 1750, portanto, do reinado do
imperador Qianlong da Dinastia Qing.
O prato tem 29 cm de diâmetro, é decorado com esmaltes polícromos,
grisaille e ouro, com a aba recortada e lobulada. No covo, ao centro, está um
medalhão contendo uma perna de porco sobre um fundo de folhas verdes, rode-
ado por botões florais amarelos e grinaldas compostas por flores e frutos atadas
com fitas, e exteriormente, oito grupos de motivos de caça e fitomórficos, com
cercaduras de conchas e com enrolamentos amarelos e púrpura, sob uma linha
cinzenta e dourada. A aba tem no topo, axialmente, as armas dos Saldanha de
Albuquerque, opostas a uma inscrição SALDANHA, inscrita numa filactera.
Formando braços de uma cruz, há duas reservas, onde foram pintadas paisa-
gens de sabor chinês e, nos quatro espaços livres assim conformados, podem
ver-se festões de flores atados também com fitas, com o nome de ALBUQUER-
QUE entrecortado.
Uma peça com uma tipologia bastante mais rara é uma manteigueira, com
a altura de 7,5 cm e o diâmetro de 13 cm. A decoração é em tudo igual à do
110 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
Percorrendo o livro de David Howard e de John Ayers, China for the West,
um clássico nesta matéria, encontramos vários pratos da colecção Mottahedeh
com a mesma decoração na bordadura. Assinalem-se o n.º 362, datado pelos
autores de cerca de 1750, com a anotação de que esta tipologia se encontra
noutras espécies mais recuadas, o n.º 365, de cerca de 1740, de que há similares
no British Museum e no Victoria & Albert Museum, além de outros vendidos
pela Sotheby’s, em 1970 e 1971; e o n.º 329, com as armas dos van Herzeele,
portanto holandeses, datável de cerca de 1740. Igual a este último há um exem-
plar no Museu Histórico de Roterdão. A termos por boas estas datações, e nada
nos permite contradizer a opinião dos dois especialistas, as peças que apresen-
tamos com as armas dos Abreu podem perfeitamente ter sido encomendadas
por qualquer um dos José Rodrigues de Abreu.
O médico eborense, estudou em Coimbra, entre 1701 e 1706, sendo apro-
vada a sua formatura, a 24 de Julho de 170653. Foi autor de livros como Luz de
Cirurgiões Embarcadiços, de 1711, e Historiologia Médica, de 1732, ainda estava
vivo, em 1752. Quanto ao outro, o desembargador, que vivia na capital do Reino,
morreu antes de 1763, mas não sabemos quantos anos exactamente; suspeita-
mos que não terão sido muitos.
Luiz Ferros anota que ainda viu, cerca de duas décadas antes da edição
referida, um painel de azulejos com as armas dos Abreu, numa sala de uma casa
na Rua do Arco da Graça, o que reforça a probabilidade de estarmos em pre-
sença do encomendante do ou dos serviços em apreço. No entanto, no fim da
sua nota, diz não ser provável que estes tenham pertencido a qualquer os dois,
pois um já não vivia de certeza em 1775, e o outro, seguramente, também já
devia estar morto. No entanto, se recuarmos a datação, aceitando a que é feita
por David Howard e John Ayers, para peças com a mesma decoração, então
qualquer deles poderá ter sido o proprietário e encomendante, com a reserva – e
insistimos nisto, uma vez mais – de que estamos na presença de uma enco-
menda portuguesa e não inglesa ou de outra nacionalidade.
Existem, em Portugal, pelo menos, duas decorações distintas: a desta peça,
que é a de um prato do Museu Nacional de Arte Antiga, e de uma compoteira que
reproduzimos, e a de outro vendido pelo Palácio do Correio Velho, em Maio de
2006, e outra que é a de uma chávena com respectivo pires de uma colecção par-
ticular54. Mantenhamos, apenas por questões metodológicas e de arrumação prá-
tica, a designação de primeiro serviço, para o primeiro grupo, e de segundo serviço,
que pode ser só de chá ou café, para o da última peça. Podem datar-se do tempo
da Dinastia Qing e do reinado do imperador Qianlong, de cerca de 1750.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 119
SILVA
Arcebispo não identificado
MANUEL DE SALDANHA
E ALBUQUERQUE
(n. c. 1710 ?, f. 1771)
1.º conde da Ega
sível, quando Pedro José Xavier da Silva Botelho tinha apenas dezanove anos.
Só depois de firmados os seus méritos, em Moçambique, e ter angariado meios
de fortuna, é que terá feito a encomenda das peças com a sua heráldica, sendo
certo que recebeu carta de brasão-de-armas. Temos, assim, mais uma obra do
período da Dinastia Qing e do reinado do imperador Qianlong.
baixo de uma faixa verde que marca todo o bordo. No interior da aba, há uma
cercadura a ouro, com uma linha de entrelaçado de bambú com pequenas flores.
A existência desta molheira prova a encomenda de um serviço de jantar,
embora sejam raríssimas as peças que se conhecem em colecções públicas ou
privadas, ou que tenham sido alvo de venda nas leiloeiras nacionais e estrangei-
ras mais conceituadas, pelo menos que nós conheçamos. No entanto, com o que Molheira de porcelana chinesa
de exportação com o brasão
aprensentamos, não nos ficam muitas dúvidas. de D. José Miguel João de Portugal e
Castro. Cerca de 1770. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular)
140 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
ANTÓNIO JOAQUIM
DA COSTA CORTE-REAL
(n. cerca de 1735, f. 1814)
Desembargador da Relação da Baía
SEBASTIÃO XAVIER
DA GAMA LOBO
(n. ?, f. 1786)
Senhor da Quinta do Vale do Grou, no Seixal
Desde logo, devemos anotar algumas incorrecções nas armas, quer nas
cores, quer mesmo no desenho, mas são pequenos erros, devido à usual dificul-
dade dos artífices chineses perceberem os modelos e, menos ainda, as nossas
regras heráldicas. Também o coronel de conde poderá ser mal compreendido,
mas é um facto que José Seabra da Silva tinha direito a usá-lo, pois, desde o
tempo de D. João V, que os ministros-secretários de Estado tinham direito ao
tratamento de Excelência, equivalente às honras de grandeza do Reino e, daí
que podessem por no seu brasão a coroa de conde.
Todas estas peças parecem pertencer a um mesmo serviço, de matriz euro-
peia, como dissemos, de desenho fino e muito delicado, com a aposição do
brasão igualmente discreta, datável de cerca de 1770, do período da Dinastia
Qing e, mais concretamente, do reinado do imperador Qianlong. Refrescador de garrafa
e floreira de porcelana chinesa
de exportação com o brasão
de brasão de José Seabra da Silva.
Cerca de 1770. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular).
148 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
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c~
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daquilo que, diga-se em abono da verdade, era espectável. Uma hipótese é que
tenha também sido motivado pelo seu casamento. Assim, e com tantas dúvidas,
preferimos, por prudência, situar a fabricação num espaço de vinte anos, nas
décadas de setenta e oitenta do século xviii.
A travessa que apresentamos tem 30,5 cm de comprimento e 27 cm de
largura. A sua decoração é em tudo igual à dos pratos. É feita com esmaltes da
família rosa, a caldeira é baixa e a aba larga e levantada. O rebordo também é
recortado e ondulado. No centro, vê-se o mesmo ramo de flores, e sobre ele as
armas do titular, interrompendo a grinalda de flores que se encurva e forma
laços em si mesma.
Analisamos apenas mais uma peça, o cesto com travessa rendilhados.
O cesto tem 8,3 cm de altura, 26 cm de comprimento e 22 cm de largura.
A travessa tem de comprimento 28,8 cm, e de largura 25,7 cm. Note-se a qua-
lidade extraordinária de execução da cesta e da respectiva travessa rendilhadas,
das melhores que conhecemos, quer de serviços feitos para Portugal, quer para
outros países europeus. São de um tipo que, com pequenas variantes decorati-
vas, se manteve em fabricação, quase por meio século.
As armas foram colocadas de forma discreta, baseando-se a decoração em
festões compostos por flores de esmaltes vermelhas e amarelas, e folhagem
verde, quer nas abas quer no centro, sob o vidrado e fundo branco leitoso. Esses
festões enrolam-se em curvas interiores, que penetram na zona central de pratos
e travessas, o que é raro, mas que se encontra, por exemplo, no chamado serviço
das cinco grinaldas da família Cruz Sobral. O ramo central desenvolve-se de
Palácio de Seteais, em Sintra,
profundamente remodelado, onde
maneira a criar um eixo, no seguimento do qual, e já na aba, fica o brasão dos
viveu D. Diogo de Vito de Meneses marqueses de Marialva.
Noronha Coutinho
Este serviço tem que se datar, com reservas, como vimos, de cerca de
Cesta e travessa rendilhadas
de porcelana chinesa de exportação 1770, do período da Dinastia Qing e mais concretamente do reinado do impe-
com o brasão de brasão de D. Diogo
de Vito de Meneses Noronha Coutinho. rador Qianlong. Existem em Portugal e no estrangeiro, sobretudo em Inglaterra,
Cerca de 1770.
Dinastia Qing, reinado serviços com uma decoração muito próxima à deste, o que prova o êxito que o
do imperador Qianlong
(Colecção particular)
modelo teve, entre os grandes da Europa, no fim do século xviii.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 155
156 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
DIOGO INÁCIO
DE PINA MANIQUE
(n. 1733, f. 1805)
Intendente-Geral de Polícia
ANTÓNIO JOAQUIM
DE PINA MANIQUE
(n. cerca de 1735, f. ?)
Ajudante da Junta de Administração da Companhia de Pernambuco e Paraíba
nuas, tudo típico dos esmaltes família rosa. A terrina é de modelo alemão, de
meados do século xviii, com um fruto polícromo a servir de pega à tampa, e dois
brasões, uma nesta e outro na frente do recipiente.
É esta mesma decoração e o mesmo cuidado de execução que está patente
no excepcional e lindíssimo covilhete gomado, com os esmaltes sob o finíssimo
Par de conjunto de taça e pires
vidrado, com o bordo recortado e decorado com a mesma tarja da tampa e do de porcelana chinesa de exportação
vaso da terrina, e em muitas outras peças que conhecemos em diversas colec- com o brasão de Gaspar José
Pamplona Carneiro Rangel Baldaia
ções privadas, e que são de outras tipologias. de Tovar. Cerca de 1770 a 1780.
Dinastia Qing, reinado
do imperador Qianlong
(Colecção particular)
172 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 173
de brasão de armas, que teria sido passada pelo Cartório da Nobreza, é falsa,
como bem provou Luiz Ferros87.
Apresentamos uma cafeteira da colecção do Museu Nacional de Arte
Antiga de Lisboa, com as armas do encomendante de cada lado, sobre fundo
branco leitoso, sob vidrado muito fino.
A pega é formada por dois elementos de carácter lenhoso enrolados, com
uma ligação a semelhar raizes de árvores, já no contentor, que tem forma cilín-
drica. Do lado oposto, sai o bico, cilíndico, longo e direito, com uma inclinação
superior de meio ângulo recto.
A decoração restante é parca: uma pequena linha ondulante a vermelho-
-ferro, com pontos alternando nas partes côncavas, na base, e um friso com
flores e ramos com esmaltes da família rosa, junto da boca, antes do pequenino
rebordo. A tampa tem como pega um fruto dourado e policromado.
Pode datar-se esta peça do reinado do imperador Qianlong da Dinastia
Qing, de cerca de 1770 a 1780.
D. ALEXANDRE DA SILVA
PEDROSA GUIMARÃES
(n 1727, n f. 1799)
Bispo de Macau
de Meneses. O leão rampante foi adoptado dos Silva, o pobre sapateiro vimara-
nense. É claro que a notável carreira eclesiástica de D. Alexandre foi mais do
que suficiente, para afastar qualquer falatório e, como sendo prelado, tinha
direito a armas, estas impuseram-se por si, sem necessidade de evocar falsas ou
nunca existentes cartas passadas pelo rei aos antepassados89.
Foi um aluno notável, tendo obtido o grau de doutor em Cânones, e foi
apresentado bispo da Diocese de Macau, a 13 de Julho de 1772, sendo apresen-
tado a 19 de Setembro do ano seguinte. Foi também governador-interino do
território, entre 1777 e 1778, regressando ao Reino, em 1779, e pedindo renún-
cia da sede episcopal sinense, em 1782, o que só lhe foi concedido em 8 de Julho
de 1789.
Conhecemos algumas peças de um serviço de chá ou de café, ou de cho-
colate, com as armas do prelado, a que pertence o açucareiro que aqui usamos
como exemplo. Este tem com 11,9 cm de altura e 17,5 cm de largura, incluindo
as asas. Liga-se aos modelos europeus de França e da Alemanha, com decoração
contida, brasão a ocupar a parte central do bojo, com elegantes asas laterais, de
muito boa modelação. Pequenas flores polícromas a ladear as armas episcopais.
Na tampa, só foi decorado o bordo rendilhado, com uma tarja a verde e verme-
lho com elementos vegetalistas estilizados. Na parte superior da tampa, e já
junto à pega, há novamente delicadas flores vermelhas com ramagens verdes
adjacentes. Podemos datar esta peça de cerca de 1773 a 1779, quando esteve em
Macau, como bispo e, em parte, como governador, portanto, e em relação à
China, do período da Dinastia Qing e do reinado do imperador Qianlong.
MANUEL BERNARDO
DE MELO E CASTRO
(n. 1716, f. 1792)
1.º visconde da Lourinhã
com um diâmetro de 23,4 cm. Tem o brasão de visconde, no centro, com dimen-
são apreciável, sendo todo o restante branco, opaco e leitoso, delimitado por
uma cercadura policroma em forma de corrente. A bordadura é recortada, à
maneira de Meissen, com filete dourado no extremo, com motivos geométricos
em teoria, debruado por uma série contínua de pérolas. Acrescem seis pequenos
e graciosos ramos de flores e folhas, dispostos simetricamente. Apesar de andar
datado de cerca de 1770, certo é que estas peças não podem ser anteriores à
elevação a visconde, o que ocorreu apenas, em 1777. Assim, propomos como
ano provável o de 1780, ou um dos mais próximos, podendo ter sido esta uma
forma de comemorar tal distinção, integrando-se no tempo do reinado do impe-
rador Qianlong da Dinastia Qing.
184 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. FREI FRANCISCO
DA ASSUNÇÃO E BRITO
(n. 1726, f. 1808)
Bispo eleito de Olinda e arcebispo de Goa
Armas: Brito, Correia, Azevedo (de São João de Rei), um escudete com
um coração sobre todo. Escudo esquartelado. I e IV, de vermelho, nove lisonjas
de prata, cada lisonja carregada de um leão. II, de ouro, fretado de vermelho.
III, contra esquartelado: 1.º e 4.º de ouro, águia estendida de negro, 2.º e 3.º, de
azul com cinco estrelas de prata em sautor, e bordadura de vermelho carregada
de aspas. Sobre-o-todo, um escudete de prata com um livro negro, e, sobre o
livro, um coração vermelho trespassado por duas setas de negro. Sobre o escudo
está uma corôa de nove pérolas, de ouro, e quatro mais pequenas de azul, e uma
cruz de ouro de duas travessas. Encimam a cruz e a coroa o chapéu eclesiástico,
de verde, guarnecido com cordões da mesma cor, com quatro ordens de borlas.
Há pequenas incorrecções na execução do desenho, como o leão dos Brito, por
exemplo, que devia ser de púrpura.
D. frei Francisco de Assunção e Brito nasceu no Brasil, em Minas Gerais,
em Vila Rica, depois chamada Ouro Preto, no ano de 1726, tendo sido orde-
nado em 1750. Depois professou na Ordem dos Eremitas Calçados de Santo
Agostinho, vindo a ser provido no Bispado de Olinda, em 10 de Novembro de
1772, embora não tenha tomado posse dessa sedia episcopal, devido a ter sido
nomeado 23.º arcebispo de Goa e primaz das Índias, em 20 de Dezembro de
1773, sendo entronizado, a 1 de Outubro do ano seguinte. Renunciou, a 1 de
Janeiro de 1783, voltando ao Reino, e estabelecendo-se em Lisboa, numa casa
situada no Bairro Alto, na Rua das Partilhas, onde veio a falecer, em 16 de
Dezembro de 180891. As armas deste ilustre prelado andam normalmente atri-
buídas a ao bispo de Portalegre D. Pedro de Mello e Brito da Silveira e Alvim,
mas essa identificação foi irrefutavelmente contestada por Luiz Ferros.
Dado que as armas do prelado aparecem claramente como de arcebispo,
não parece haver margens para dúvidas, para pensar que o serviço a que o covi-
lhete que apresentamos na página seguinte foi encomendado durante a estadia
em Goa, entre 1774 e 1783, no tempo em que habitou o palácio dos arcebispos,
já longe de Velha Goa, em Santa Inês, junto da capela desta invocação e do palá-
Brasão de D. Frei Francisco cio dos Melo Sampaio. Dado o tempo de demora das viagens e a execução da
da Assunção e Brito conforme aparece
nas peças do serviço estudado encomenda, parece-nos acertado datar o serviço de um ano próximo de 1780.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 185
Foi no seu tempo que caiu uma das torres da sé catedral, a 26 de Julho de
1776, ficando muito afectadas outras partes do imponente edifício. Já antes, o
marquês de Pombal desejara o abandono da catedral e a sua mudança para a
Casa Professa do Bom Jesus, mas, felizmente, nem o vice-rei D. Pedro da
Câmara, nem D. frei Francisco de Assunção e Brito estiveram de acordo com o
ministro de D. José I, e foram esquecendo a ordem, salvando-se assim da ruína
um dos mais notáveis construções que os portugueses levantaram no
Mundo92.
O covilhete tem o bordo ondeado, alternando secções maiores com outras
com cerca de metade do tamanho, com festões polícromos entrelaçados a toda
a volta, com uma bela e delicada policromia família rosa. Tem 18 cm de compri-
mento e 15 cm de largura, e tem que se datar de cerca de 1780, do tempo da
Dinastia Qing e do reinado do imperador Qianlong, como dissemos.
O escudo de armas, que já descrevemos antes, ocupa todo o centro da
peça, com forte impacto visual, sobretudo pela predominância do ouro, contras-
tando com o imaculado fundo branco leitoso de excelente vidrado.
Sé Catedral de Goa
contínuos e, logo abaixo, uma linha ondeante de pontos dourados, com a inclu-
são de seis ramos de flores, uns polícromos e outros a ouro, dispostos segundo
o tipo de esmaltes, nos vértices imaginários de tiângulos isósceles.
D. RODRIGO DE CASTRO
(n. 1713, f. 1774)
Capitão-general dos Rios de Sena e governador de Macau
cional qualidade, em porcelana branca com esmaltes da família rosa e ouro sob
um vidrado muito fino, e pertencem a um faustoso serviço de jantar. A terrina
ovalada tem o brasão dos Castros, no centro, sobre um fundo completamente
branco, só sendo decorada a aba, elevada e ligeiramente abaulada. Tem a defini-
-la um entrelaçado de folhas de videira minúsculas, fazendo o sarmento duas
linhas ondeantes entrecruzadas, em vermelho ferrugem levemente dourado. Na
extremidade da aba, há um cordão de ouro contínuo formado por quadriculas,
com intervalos da mesma forma e dimensão em branco. No meio das duas
linhas delimitativas, está pintada uma série de grinaldas caídas, ou festões flo-
rais, presas ao rebordo externo, com pendentes de folhas verdes a separá-las,
tudo em verde e vermelho. Obviamente que a decoração da terrina assenta nos
mesmos temas e nos mesmos esmaltes. A forma é ovalada, com a tampa em
forma de abóbada abatida, com
uma pega vermelho ferrugem e
branco, em forma de tronco sec-
cionado. As pegas laterais estão
coladas aos extremos do conten-
tor da terrina, são muito levanta-
das, em forma de onda, também
da cor da pega da da tampa.
O brasão dos Castro de treze
arruelas foi aposto, quer na tampa
quer na base, cortando círculos
florais polícromos. Os mesmos
festões que descrevemos na tra-
vessa foram pintados, na parte
exterior da tampa, junto do bordo
e da zona de encaixe, e sob a borda
da terrina propriamente dita.
Aceitamos como plausível a
datação de cerca de 1770, época
em que D. Rodrigo de Castro
cumpria o seu segundo mandato
em Macau, portanto, do período
da Dinastia Qing e do reinado do
imperador Qianlong.
190 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
natural de Agualva. Este casal teve João Francisco da Cruz, que também nasceu
em Agualva, e que subiu na vida, dedicando-se ao comércio e à indústria e, que
casando com uma tal Maria Joana de Sousa, natural de Vila Franca de Xira, teve
seis filhos, quatro homens e duas mulheres. Diga-se que parece ter sido o mais
velho quem abriu as portas para a ascenção do próprio pai e, depois, dos irmãos.
Esse, António José da Cruz, de seu nome, entrou para a Congregação de São
Filipe de Nery, onde se tornou íntimo do padre Domingos de Oliveira, que era
valido de D. José I e homem de grande influência na Corte e, ao que parece,
ambos esforçaram-se para alcandorar Sebastião José de Carvalho e Melo ao
cargo mais alto da governação, atitude que este recompensou generosa-
mente, nas suas pessoas e na de todos os familiares próximos. Desde logo, foi
procurador-geral da Ordem, mas, após o Terramoto de 1755, passou a clérigo
secular e foi nomeado cónego, ficando com o encargo de reedificar a Basílica de
Santa Maria.
Entretanto, o pai, que morava às Portas de Santa Catarina, foi nomeado
deputado da Junta do Grão-Pará e Maranhão, e escrivão do Terreiro Público.
José Francisco da Cruz Alagoa trabalhava, essencialmente, no comércio, e
partiu para o Brasil, para Salvador da Bahía, continuando a enriquecer. Voltou
para Lisboa, por conselho do irmão padre, que lhe conseguiu importantes
nomeações, junto do marquês de Pombal. Foi director da Real Fábrica das
Sedas, director das fábricas de lanifícios da Covilhã e de Pombal, vice-provedor
da Junta da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba e, depois ainda, tesou-
reiro do Real Erário, contratador dos tabacos, conselheiro efectivo da Real
Fazenda, administrador da Alfândega-Grande, e presidente de todas as alfânde-
gas do Reino. Foi um dos accionistas fundadores da Companhia Geral do Grão-
-Pará e Maranhão, entrando com 10.000 cruzados, assinando os estatutos, em
6 de Junho de 1755, sendo um dos onze associados, cujo primeiro da lista era o
próprio Sebastião José de Carvalho e Melo99.
Foi feito fidalgo da Casa Real, por alvará de 17 de Janeiro de 1763, e foi
também membro do Conselho de Sua Magestade. Em 10 de Setembro desse
mesmo ano, instituiu o Morgado de Alagoa, em Carcavelos e, em 25 de Março
de 1765, foi-lhe passada carta de brasão de armas, de mercê nova, como acima
descrevemos. Construiu uma grande morada, fronteira ao palácio Palmela, cujas
traseiras davam para a Rua da Fábrica das Sedas100. Morreu em 1768.
O terceiro filho foi Joaquim Inácio da Cruz Sobral, que também embarcou
para a Bahía, onde casou com D. Ana Joaquina Inácia da Cunha, filha única de
um abastado comerciante, cuja fortuna herdou. Foi também feito fidalgo da
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Casa Real e membro do Conselho Régio. Por morte do irmão Francisco José,
herdou praticamente todos os seus cargos. Arrematou o reguengo de Sobral de
Monte Agraço, e, por carta régia de 18 de Abril de 1771, confirmada por outra
de 19 de Dezembro de 1776, foi autorizada a instituição de um morgadio de
200.000 cruzados. Foi nomeado senhor hereditário da vila, e autorizado a
tomar-lhe o nome, Sobral, que acrescentou a Cruz; foi-lhe concedida carta de
brasão de armas, de mercê-nova, a 28 de Dezembro de 1776101.
Elogio consagrado á saudosa memória
do Senhor Conselheiro Joaquim Inácio Em 1773, comprou uma casa ao Calhariz, onde fez a sua sumptuosa mora-
da Cruz Sobral, Lisboa, 1781
(Colecção do Banco de Portugal) dia, onde hoje está a Caixa Geral de Depósitos, e tinha um solar em Sobral de
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 195
Forlivesi, Vilolani, Antonio Puzzi e outras ilustres vozes do panorama lírico por-
tuguês e europeu, tudo peças compostas para o evento, por Caetano Martinelli,
então ao serviço da Corte.
Reformou e redecorou doze salas do palácio, onde além de farta criada-
gem vestida de luxuosas librés, se viam notabilíssimos móveis em pau-santo
entalhado, lustres de cristal, tectos de estuques e pintados no centro, tapeçarias,
paredes revestidas de setim bordado ou pintado da Índia, além de muita prata,
de que se destacava uma miríade de serpentinas e castiçais. Anotamos, na
segunda sala, “…nos ângulos, quatro talhas de Macau, com quatro palmos de altura,
bem pintadas e douradas…”105. Ora, duas destas devem ser as que estão no
Museu dos Condes Castro Guimarães, em Cascais.
Teve por herdeiro Sebastião António da Cruz Sobral, 3.º senhor do
Morgadio, um dos impulsionadores da construção do teatro de São Carlos,
que nasceu, em 1757, e morreu em 1805, portanto, logo três anos a seguir ao
pai. As duas filhas de João Francisco da Cruz e de Maria Joana de Sousa
foram freiras, em Chelas; chamavam-se Agostinha Maria dos Prazeres e Teresa
Perpétua de Jesus.
Como Luiz Ferros muito bem notou, três pessoas podiam usar o brasão
que os serviços ostentam, a partir de 1765, quando as armas Alagoa foram dadas
ao mais velhos dos irmãos que não seguiu a vida religiosa; as armas Sobral, dadas
em 1776, são iguais, como também já se viu. Já agora, também nada impede que
o 3.º morgado, nascido em 1757, tivesse encomendado algum serviço; mas pen-
samos que não, pois viveu pouco tempo, após o falecimento do pai.
Habitualmente, todos os serviços andam datados de cerca de 1775, mas
não é possível confirmar isto, pois alguns deles têm exemplares parecidos com
outra heráldica, até estrangeira, que são seguramente de épocas posteriores,
posto que não muito. Sendo uma data meramente indicativa e lógica, admi-
tindo, por exemplo, uma margem de cinco anos, para antes e para depois, tería-
mos ainda mais dificuldades, com as mortes e sucessões dos irmãos. Pensamos
que todos eles fizeram as suas encomendas, o que é uma hipótese. Luiz Ferros,
com alguma graça, dividiu os sete serviços pelas várias casas citadinas e solares
Brasão dos Sobral-Alagoa,
conforme está representado nas peças
rústicos dos Alagoa-Sobral, num mero exercício expeculativo. Mas, segura-
do chamado serviço dos cravos mente, sucedendo-se uns aos outros nos cargos, e até os bens passaram de Joa-
Conjunto de peças de porcelana quim Inácio para Anselmo, é possível que todos ou a maioria estivessem nas
chinesa de exportação do chamado
serviço dos cravos, com o brasão mãos deste e em uso, já que as armas eram sempre as memas. Maria Antónia
dos Sobral-Alagoa.
Cerca de 1775. Dinastia Qing, Pinto de Matos veio, recentemente, trazer alguma luz sobre este caso intrincado.
reinado do imperador Qianlong.
(Colecção particular) A ilustre museóloga e investigadora esclareceu que o inventário de Joaquim
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 197
Inácio só tinha três serviços armoriados, que passaram efectivamente para o seu
irmão Anselmo José. As indicações no inventário, feito após o passamento do
rico comerciante é muito detalhado; veja-se este trecho: “… jogo de louça da
China número um para mesa com armas do falecido esmaltadas com cercadura larga
de padrão de duas flores aladas a uma rocha e uma cor de fogo e quatro flores soltas em
roda e comprido e redor do composto…”. Era constituído por 681 peças e foi ava-
liado em 400.000 reais. No ajuste com os herdeiros ficou 100.000 reais mais
barato106. Estes dados confirmam o que dissemos acima: é muito difícil fazer a
separação das encomendas, sendo preferível estudá-las em conjunto, e analisar
os encomendantes como uma só entidade, pois a verdade é que funcionavam
como um clã unido e com uma política bem definida que todos seguiam à risca.
Se os serviços ditos dos cravos e o dos imbricados são uma clara emulação
do serviço régio com as armas de D. Pedro III, usado em Queluz, e que chegou
ao palácio em 1775, o do açafate pode muito bem datar-se de 1790, ou mesmo
198 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
de alguns anos depois. Neste caso, e se as peças reais foram logo vistas, já só
poderam ter sido encomendados por Joaquim Inácio ou por Anselmo, datando
assim, do final dessa década, já que necessitamos de, pelo menos, três a quatro
anos, para cumprir novas encomendas com decoração específica.
Pensamos também que será lógico, e por simples questões metodológicas,
manter a designação proposta por José de Campos e Sousa, que baptizou os
vários serviços da seguinte maneira: dos cravos, dos imbricados, dos silvados,
das cinco grinaldas, das oito grinaldas, da faixa brique e do açafate117. São mui-
tas as peças com o brasão Sobral ou Alagoa que integram as colecções que
servem de base a este nosso estudo.
Do serviço dito dos cravos, mostramos uma terrina, com 23 cm de altura,
31 cm de comprimento e 21 cm de largura; um prato grande recortado com
38,5 cm de diâmetro, e um prato raso também recortado com 24 cm de
diâmetro.
Estes modelos e esta decoração não foram feitas em exclusivo para um dos
irmãos, pois conhecemos outros em que as diferenças são mínimas. Ainda recen-
temente, foi vendida, em Lisboa, uma terrina com a respectiva travessa, perten-
cente aos chamados serviços de casamento, com dois escudos com os
monogramas dos nubentes, encimados por uma coroa de marquês, que tem os
mesmos motivos e a mesma distribuição, embora os cravos que aqui aparecem
sejam, no outro, rosas, ou flores parecidas que não conseguimos identificar
bem108. Também os moldes das terrinas parecem ser os mesmos, o recorte geral,
a tampa com a pega em forma de fruto, as pegas laterais com igual desenho, a
colocação dos esmaltes das tarjas, a das flores e ramos avulsos, e também dos
brasões. Estamos convencidos de que apenas terá sido enviado para Macau e,
daqui, para Cantão e Jingdezheng, o brasão Sobral ou Alagoa, aposto num ser-
viço já preparado, dos que eram feitos em série. A decoração é de esmaltes em
tons vermelho ferrugem, lilás, verde e dourado. A aba dos pratos e as bordas
superior e inferior da terrina possuem uma orla recticulada, com contorno
interno mistilíneo, de desenho de feição rococó, acrescida de pequenos ramos
de flores e folhas, tudo de excelente execução, e ainda melhor efeito plástico.
Brasão dos Sobral-Alagoa,
conforme está representado nas peças
A ornamentação que envolve o brasão é prolixa, com grinaldas hipertofiadas,
do chamado serviço dos imbricados mas com excelente resultado, o que valoriza visualmente, e muito, as armas do
Terrina de porcelana chinesa encomendante.
de exportação do chamado serviço
dos imbricados com o brasão Do serviço dito dos imbricados destacamos estas molheiras tem 12,5 cm
dos Sobral-Alagoa. Cerca de 1780
a 1790. Dinastia Qing, de altura, 17 cm de comprimento e 11,3 cm de largura, e as travessas respectivas
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular) com 23,5 cm de comprimento e 18,5 cm de largura, têm a forma de terrinas, de
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 199
forte modelação, pelo menos das peças que conhecemos. As asas e pega da
tampa das molheiras têm uma coloração forte, de um laranja avermelhado em
conjugação com lilás, tendo as tampas e as abas das terrinas um imbricado com
motivos fitomórficos e outros de cariz geométrico, de influência das vinhetas e
gravuras ornamentais dos livros, já de sabor rococó. Em relação ao primeiro
serviço, o brasão está aposto com maior descrição, diminuindo-se o seu envol-
Terrina e travessa de porcelana
chinesa de exportação do chamado
vimento, com apenas algumas ramagens e flores a envolverem-no, mas aparece
serviço dos silvados com o brasão
dos Sobral-Alagoa. Cerca de 1780
agora ums conchas espalmadas, tão típicas da fase plena do rococó, mesmo em
a 1790. Dinastia Qing, Portugal, no fim do reinado de D. João V e durante quase todo o reinado de
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular D. José I. Anote-se que é muito parecida, com alguns elementos exactamente
Brasão dos Sobral-Alagoa, conforme iguais, aos da cercadura do serviço que atribuímos a um dos José Rodrigues de
está representado nas peças
do chamado serviço dos silvados Abreu.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 201
mas também com amarelo e vermelho, sendo o escudo igual ao dos dois servi-
ços anteriores, com elementos rococó a enquadrá-lo.
No quinto serviço, o das oito grinaldas, a decoração é mais simples do que
a dos anteriores, baseada em grinaldas que caiem da orla, seis nas peças peque-
nas, e oito nas grandes, de folhagem e flores verdes, com a borda avivavada por
um filete dourado, que também aparece associado a uma cadeia ponteaguda
verde, a toda a volta da parte plana de pratos, covilhetes e travessas. No centro
destes foi colocado um belo ramo de flores, com folhagem para o compor, tudo
também em verde. Destacam-se os pratos oitavados, que apesar de não ter uma
FRANCISCO DE MELLO
E VASCONCELOS
(n. ?, f. depois de 1795)
Cavaleiro-fidalgo da Casa Real
Prato de porcelana
chinesa de exportação com o brasão
de Francisco de Mello e Vasconcelos.
Cerca de 1782 a 1795. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular)
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 207
208 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. HENRIQUE DE MENESES
(n. 1727, f. 1787)
3.º marquês de Louriçal e 7.º conde da Ericeira
titulares, tendo a pega a forma de um fruto de cor salmão. As armas dos Mene-
ses estão rodeadas por duas palmas cruzadas, atadas com um laço de fita cor-
-de-rosa, e duas hastes floridas com esmaltes família rosa.
Prato de porcelana chinesa
Podemos datar este serviço, com algumas reservas, de cerca de 1785, do de exportação com o brasão
de D. Henrique de Meneses.
período da Dinastia Qing e do reinado reinado do imperador Qianlong. Cerca de 1785. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular)
210 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. ANTÓNIO LUÍS
DA VEIGA CABRAL
DA CÂMARA PIMENTEL
(n. 1734, f. 1810)
Bispo de Bragança
Armas: Veiga Cabral e Câmara. Escudo oval partido. I, cruz alta recruzada
nas hastes superioras e laterais de ouro, tendo de cada lado, sob as laterais, duas
águias bicéfalas de cinzento, armadas de ouro e bicadas de vermelho, coroadas,
e em ponta de flores-de-lis de ouro em contra-roquete. II, cortado: 1.º, de ver-
melho, com duas cabras passantes e sobrepostas; 2.º, de negro, com torre de
ouro, sustida por dois lobos afrontados de ouro, sobre terrado de verde. Listel
sobre o escudo com a inscrição AVE MARIA, a negro, e sobre ele um coronel
de cinco florões e quatro pérolas aparentes. Pendente, uma cruz de branco, sus-
pensa de uma conta, um coração e outra conta.
As armas da 1.ª pala são uma deturpação dos Veiga de Nápoles ou de Vila
Viçosa. Também as armas dos Cabral têm as cores trocadas, dado que as cabras
deviam ser de púrpura em campo de prata. A cruz pendente está mal represen-
tada, aparecendo como uma cruz latina.
D. António Luís era filho de Francisco Xavier da Veiga Cabral Câmara,
que foi governador de armas de Trás-os-Montes, e de D. Rosa Joana de Morais
Pimentel. Foi bispo de Bragança. Nasceu em 1758 e faleceu em 1819.
Este serviço tem sido atribuído ao irmão do prelado Francisco António,
mas, desde logo, surge uma dificuldade, já que ele só foi visconde durante duas
semanas. Seria quase impossível, entre a notícia da mercê e a morte, ter enco-
mendado os serviços. No entanto, a coroa que aparece em ambos é uma coroa
de nobreza e não uma coroa específica de visconde116.
Lourenço Correia de Matos, que temos vindo a seguir na sua análise e
atribuição, que contrariam as de Castro e Solla e mesmo de Luiz Ferros, não
Brasão de D. António Luís da Veiga duvida da encomenda, que teria sido feita por D. António Luís, antes de ter sido
Cabral da Câmara Pimentel,
conforme está representado nas peças provido na sédia episcopal brigantina117. Quanto à data da compra, temos que
do serviço
colocá-la, quando o irmão, D. Francisco António da Veiga Pimentel, já estava na
Travessa de porcelana Índia, em 1793, nomeado 80.º governador. Logo no ano seguinte, fez certa-
chinesa de exportação com o brasão
de D. António Luís da Veiga Cabral mente a encomenda aos comerciantes que vendiam, no Estado da Índia, os
da Câmara Pimentel.
Cerca de 1795. Dinastia Qing, produtos chineses; quando aí chegou e, como dissemos, o irmão ainda não era
reinado do imperador Qianlong
(Colecção particular) bispo, e daí o brasão não ter o chapéu dessa dignidade.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 211
D. JOAQUIM XAVIER
BOTELHO DE LIMA
(n. 1717, f. 1800)
Arcebispo de Évora
MANUEL CARLOS
DA CUNHA SILVEIRA
(n. 1729, f. 1795)
6.º conde de São Vicente
A obra deve datar-se de cerca entre 1780 a 1790, da vigência da Dinastia Qing
e do reinado do imperador Qianlong, e é uma das raras de serviços brasonados
portugueses com representação de barcos.
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FRANCISCO DA CUNHA
E MENESES
(n. 1741, f. 1812)
Governador do Brasil e governador e capitão-general da Índia
MANUEL JOSÉ
DA MATERNIDADE DE MATA
DE SOUSA COUTINHO
(n. 1782, f. 1859)
8.º e último correio-mor do Reino, e 1.º conde de Penafiel
Sousa Coutinho, que foi o 7.º correio-mor do Reino, e de sua mulher D. Cata-
rina da Câmara. É necessário recuar um pouco mais, para perceber as armas
que aparecem no seu brasão. A mãe, nascida em 1735 e falecida em 1814, era
filha de Luís da Câmara Coutinho, senhor das Ilhas Desertas, no Arquipélago
da Madeira, e de D. Maria Isabel de Mendonça e Moura. O avô paterno era
Luís Vitório da Mata Sousa Coutinho, e de D. Joana Catarina de Meneses. Travessa de porcelana chinesa
O 1.º correio-mor foi Luís Gomes de Elvas, a quem o monarca ibérico de exportação com o brasão
de Manuel José da Maternidade
vendeu o cargo a título hereditário, em 1606. Estes Mata descendem de uma da Mata de Sousa Coutinho.
Cerca de 1790 a 1798. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
ou do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
230 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
Vista de Ribandar.
Desenho de Lopes Mendes.
Fim do século XIX.
Velho, mas a que faltava a tampa. A decoração era o que mais se diferen-
ciava, quase toda a azul, sem o vermelho ferrugem desta, e sem nenhum
brasão, sendo o lugar ocupado por este dotado de uma flor relevada. Na nota
da leiloeira evoca-se o conhecido texto de Elnor Gordon, que diz ser uma obra
feita para o mercado sueco, o que é confirmado por David Howard e John
Ayers, que afirmam que estas peças derivam directamente de um modelo
feito em Marieberg, na Suécia, em 1773135. Além da peça da Mottahedeh
Collection, neoclássica, com decoração predominantemente a ouro e laranja e
com vinhetas a grisalha, sem ser brasonada, de cerca
de 1785, há urnas deste tipo também no Metropoli-
tan Museum de New York, na Helena Woolworth
McCann Collection, e uma que ostenta as armas do
“Clube do Rei”, em Copenhaga, de cerca de 1790.
É de estilo neoclássico, sem qualquer vestígio
do gosto chinês, o que prova que os artistas se ative-
ram muito cuidadosamente aos desenhos enviados
de Portugal. Fundamentalmente, está dividida em
três corpos: o superior, da tampa, tronco-cónico
invertido; o médio, de feição tradicional, com o bojo
a alargar apenas ligeiramente na secção superior, e
um pé a abrir para uma base suficientemente ampla,
para garantir estabilidade.
Do ponto de vista decorativo, ressaltam as imi-
tações de tecidos, a cair a toda a volta da parte supe-
rior do bojo, com nós em quatro pontos dispostos
simetricamente, como a figurar pontos de fixação,
num azul forte com veios dourados. Este mesmo tom
de azul marca a parte inferior, alternando com palhe-
tas a vermelho, e vê-se também nos frisos da tampa e
nas folhas que envolvem o fruto que serve de pega.
A zona mais ampla, de maior superfície, é de um
belíssimo e explosivo branco leitoso, onde foram
desenhados delicados ramos de pequeninas flores e,
Par de pratos de porcelana chinesa em lugar de destaque, as armas do encomendante,
de exportação com o brasão de José
Dionísio Carneiro de Sousa e Faro. envoltas numa composição oval, também a imitar
Cerca de 1795. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong tecido rico e pesado.
ou do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 235
É uma das mais belas obras do género que conhecemos, que teve que ser
desenhada por um grande artista, e que teve a felicidade de encontrar, nos for-
nos chineses de Jingdezhen, artífices à altura de interpretar correctamente a
encomenda. É natural que a maioria das peças remanescentes deste serviço
tenham ficado em Pangim e nalgumas das povoações vizinhas, como Santa Cruz
de Calapor e Ribandar, mas, nas muitas casas que visitámos, é certo que nunca
vimos nenhuma. A data do conjunto, como está provado documentalmente, é
de 1795, do período do reinado do imperador Qianlong da Dinastia Qing.
236 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
Refrescador de garrafas
de porcelana chinesa de exportação
do chamado 1º serviço, visto por cima
e lateralmente, com o brasão de Luís
Pinto de Sousa Coutinho.
Cerca de 1788 a 1809. Dinastia Qing,
reinado do imperador Qianlong
ou do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
240 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
e, na extrema desta, uma lindíssima tarja também dourada, formada por elemen-
tos de carácter geométrico justapostos, em que é a tonalidade do ouro, mais ou
menos acastanhado, que realça o desenho, de grande finura, diga-se. No prato
coberto, a tampa tem uma pega em forma de fruto dourado, de excepcional
modelação, mas o brasão do titular apenas está visível nessa mesma tampa.
Pelas razões históricas que acima vimos, e pela análise comparativa destas
peças com outras que foram feitas para o mercado europeu, que não apenas
para o português, atrevemo-nos a propor como datação os anos entre 1790 a
1800, no período da Dinastia Qing e do reinado do imperador Qianlong ou já do
imperador Jiaqing.
o brasão é de prata, com cinco escudetes de azul postos em cruz, cada um deles
carregado de cinco besantes de prata em sautor, e a bordadura de vermelho
carregada de sete castelos de ouro. Deve ter ainda um filete de negro em contra-
-banda. Apesar das faltas e dos erros nos esmaltes, aceitamos a interpretação de
Lencastre.
Izidoro Jaime de Almeida e Sousa Sá e Lencastre era descendente da
velha linhagem dos Almeida, da Casa da Cavalaria, com capela privativa na
igreja matriz da vila, refeita em 1513, pelo empreiteiro e escultor coimbrão
Diogo Pires-o-Velho, a mando de Fernão Lopes de Almeida, a mais nobre da
região, pelo que esse quartel se justifica146. No entanto, optou ou herdou de seu
pai outro quartel, o dos Sá, e daí o xadrezado, no IV. Provavelmente, foi a autên-
tica ou hipotética ascendência da mãe, Lencastre, que o levou a optar por esta
estranha forma, pois sabemos que os Lencastre descendem de D. João II, mas a
verdade é que chegar até lá não é fácil e, sabemos bem, que houve quem usasse
o nome e as armas sem qualquer ligação de sangue ao ramo bastardo da Dinas-
tia de Avis.
Apresentamos uma travessa e uma saladeira do mesmo serviço. A decora-
ção é muito simples, baseada numa paleta praticamente bicromática, azul vinoso
e ouro, excepto o brasão que tem outros esmaltes, tudo sobre uma porcelana
fina e densa e sob uma fina camada de vidrado incolor. No centro das peças, as
armas do titular estão assentes sobre uma mesa, num material que parece ser
madeira, algo reríssimo ou mesmo único. Todo o resto é branco, havendo uma
primeira orla de filactera enrolada, a ouro, sobre vinoso, deixando novo espaço
em branco para a aba, onde, na extremidade, vamos encontrar uma tarja com-
posta por secções concêntricas. De dentro para fora: uma teoria de flores e
folhas pendentes a ouro e azul, presas a um cordão ondeante a azul forte com
pontos dourados, precedendo uma faixa mais larga de ouro avermelhado cons-
tituído, de facto, por micropontos numa teia densa e, finalmente, nova compo-
sição de folhagem virada para o interior, a ouro, com os interstícios no mesmo
azul vinoso, o que conforma um duplo desenho.
A encomenda do serviço deve ter ocorrido, quando da sua estadia em
Moçambique, isto é, entre 1801 e 1805, dadas as fáceis relações com Goa, e daí
com a cidade do Santo Nome de Deus da China, no tempo da Dinastia Qing e
Prato de porcelana chinesa do reinado de Qianlong. Aliás, justificava-se perfeitamente o desejo de Izidoro
de exportação com o brasão de Izidoro
Jaime de Almeida Sousa Sá Jaime de Almeida e Sousa Sá e Lencastre, um fidalgo obscuro da Província, dar
e Lencastre. Cerca de 1801 a 1805.
Dinastia Qing, reinado lustro ao nome através do cargo, um dos mais importantes do Estado Português
do imperador Jiaqing
(Colecção particular) da Índia e de todos os Domínios Ultramarinos.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 253
254 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
FRANCISCO DE PAULA
DO AMARAL CARDOSO
(n. ?, f. 1807)
Capitão-general de Moçambique
Ferros fez à mesma. Para nós, o serviço em apreço foi mesmo encomendado por
Francisco de Paula de Albuquerque do Amaral Cardoso.
Nasceu em Viseu, filho de António José de Albuquerque, fidalgo da Casa
Real, senhor dos Morgados do Couto e do Pindo, e de sua mulher D. Maria
Vitória Loureiro de Vasconcelos. Teve alvará de fidalgo da Casa Real, em 1778.
Foi nomeado capitão-general de Moçambique por carta-patente de 26 de
Janeiro de 1805, mas faleceu pouco depois, em 28 de Dezembro de 1807,
vivendo um ano palácio do governo que, então, estava na Ilha de Moçambique,
que ainda era a capital do território. Travessa rendilhada de porcelana
chinesa de exportação com o brasão
Grande parte do serviço a que pertence esta travessa rendilhada, inicial- de Francisco de Paula de Amaral
Cardoso. Cerca de 1805 a 1806.
mente com mais de 600 peças, ainda estava recentemente na posse da família, Dinastia Qing, reinado
do imperador Jiaqing
como assevera Luiz Ferros148, enquanto outras pertenciam a familiares, sendo (Colecção particular)
256 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
rantes de Portugal, todos com provas dadas, nos campos de batalha. Noutra
vertente, a sua cultura levou-o a ser admitido na Academia Real das Ciências de
Lisboa.
Apresentamos as fotos de mão algumas peças deste faustoso serviço que
teve que ser feito, forçosamente, numa das melhores olarias de Jingdezhen, dada
a sua excepcional qualidade. Reproduzem-se as fotografias de uma terrina com
28,5 cm de alto, de uma taça com duas pegas e tampa com 10,5 cm de altura, e
de uma molheira com 18,5 cm de comprimento, todas com a mesma decoração.
Foi eleito bispo do Porto, a 13 de Junho de 1798 e, posteriormente,
patriarca de Lisboa, cargo que nunca chegou a ocupar154. Quando da sua morte,
o serviço de porcelana chinesa que mandou fazer com as suas armas episcopais
ficou na posse da Mitra, sendo posteriormente disperso, por vendas ocasionais,
ofertas ou descaminhos.
D. frei António de São José de Castro mandou fazer este magnífico ser-
viço, de que apresentamos uma travessa que é um dos serviços mais vistosos de
quantos foram encomendados pelos nobres portugueses no século xix.
Molheira porcelana chinesa
de exportação com o brasão A travessa tem 44,3 cm de comprimento e 37,5 cm de largura. As peças do
de D. frei António São José e Castro.
Cerca de 1803 a 1809. Dinastia Qing, serviço a que pertence são decoradas com esmaltes policromos e ouro sob o
reinado do imperador Jiaqing
(Cabral Moncada Leilões. Lisboa) vidrado fino e de muita qualidade. Ao centro de todas as peças está o brasão do
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 263
prelado, inserto num medalhão circular lobulado, formado por botões de flores
verdes, envolto por uma banda de ramos dourados, traçados ao centro para o
bordo, dispostos alternadamente com flores em tons de rosa sobre o fundo
verde. Na aba está repetido este mesmo motivo, entre bandas de flores e enrola-
mentos de elementos geométricos. Sobrepostos, há quatro cartouches a imitar
trevos de quatro folhas, decorados com cenas chinesas.
São bastantes os exemplares deste serviço que se conservam, nomeada-
mente, em grandes museus, como o Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa,
o Museu Nacional de Soares dos Reis, o Metropolitan Museum de New York e
o Britush Museum de Londres.
O serviço encomendado D. frei António de São José de Castro por deve
datar do período que medeia entre a sua entrada na cidade do Porto, para tomar
Travessa de porcelana chinesa
posse da sédia episcopal, e a sua ida para Lisboa, para ocupar o cargo de patriarca, de exportação com o brasão
de D. frei António São José e Castro.
o que nunca chegou a acontecer, portanto, entre 1803 a 1809, no período da Cerca de 1803 a 1809. Dinastia Qing,
reinado do imperador Jiaqing
Dinastia Qing e do reinado do imperador Jiaqing. (Leiria e Nascimento. Leilões)
264 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
VITAL DE BETENCOURT
VASCONCELOS E LEMOS
(n. 1751, f. 1847)
aos poderes vigentes, e também por ter dois filhos divididos entre as duas forças
em confronto. Faleceu em 28 de Junho de 1847.
A sua ilustre família, com origem em Francisco de Bettencourt, um fran-
cês vindo da Normandia, tinha familiares já estabelecidos noutras ilhas, nome-
adamente, nas Canárias156. Vital de Betencourt de Vasconcelos e Lemos viveu no
magnífico palácio da Madre de Deus, hoje na posse do Estado, construído por
iniciativa de João de Bettencourt e Vasconcelos, entre 1725 e 1750, aproximada-
mente. Foi também o pai do nosso biografado quem renovou, ou reconstruiu,
desde os fundamentos, a capela privativa, em 1727. Foi neste solar da Madre de
Deus que este serviço de porcelana chinesa brasonado esteve em uso, durante o
século xix e parte do século xx.
Mostramos uma grande travessa oval, com 41 cm de comprimento e
34 cm de largura. A decoração desta peça é muito simples. Boa porcelana branca
leitosa, coberta por vidrado, sobre o qual foram aplicados os esmaltes e o ouro.
Vê-se o brasão de Vital de Betencourt de Vasconcelos e Lemos aparece no meio
Palácio da Madre de Deus, em Angra, dos covos, sem qualquer ornamento em redor, excepto nas abas. Na taça e pires,
nos Açores, onde viveu Vital
de Betencourt Vasconcelos e Lemos as armas do fidalgo apresentam-se de frente, interrompendo, com o terço supe-
Taça e pires de porcelana chinesa rior, a tarja decorativa que envolve toda a peça, e que é igual à das abas do pires,
de exportação com o brasão de Vital
de Betencourt Vasconcelos e Lemos. dos pratos e da travessa.
Cerca de 1810. Dinastia Qing,
reinado do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 267
D. DUARTE MANUEL
DE NORONHA E MENESES
(n. 1775, f. 1833)
4.º marquês de Tancos; 9.º conde de Atalaia
D. RODRIGO DOMINGOS
ANTÓNIO DE SOUSA COUTINHO
(n. 1745, f. 1812)
1.º conde de Linhares
pratos. Pode dividir-se em duas zonas, quanto aos elementos decorativos: a zona
inferior da terrina propriamente dita, a partir da sua zona mais larga, toda a
branco, onde apenas foi colocado o brasão do 6.º conde de Sarzedas, tal como
acabámos de o descrever. É aí que se colam as duas pegas laterais, formadas por
cordões torcidos e entrelaçados, a ouro. A tarja que nos aparece na aba dos pra-
tos é mesma que se vê aqui, na parte superior da caldeira, até ao rebordo, onde
encaixa a tampa. Apenas as reservas são um pouco maiores. A tampa copia os
modelos já em voga na Europa, em Meissen, e até nalgumas peças da nossa
Fábrica do Rato. Tem uma banda contínua, vermelho-dourada, com as mesmas
reservas decoradas que vimos antes, seguindo-se um espaço em branco leitoso
e, depois, uma flor espalmada, com pétalas e folhas relevadas que se unem no pé
cilíndrico da peça, em forma de flor da mesma cor. O brasão de D. Bernardo
José Maria da Silveira e Lorena foi posto na face da terrina, sobre branco, e na
mesma direcção, na zona da aba da tampa.
O designado segundo serviço de de D. Bernardo José Maria da Silveira e
Lorena é mais comedido na decoração, mas nem por isso menos belo.
Fixando-nos na terrina, vemos que predomina o branco leitoso, sendo a
decoração, essencialmente a azul e dourado, aplicada a esmaltes sob o vidrado,
muito fino e delicado. O contentor é quase todo branco, tendo apenas um
filete no pé, ovalado como a terrina, e ligeiramente inclinado para fora, formado
por uma estreita faixa azul arroxeado com florzinhas ou estrelas a ouro, a espa-
ços, tendo no interior uma teoria perlada. Este esquema repete-se na parte
superior, junto do bordo, embora com dimensões ligeiramente maiores. Como
se disse, a terrina é ovalada, e tem as pegas coladas ao vaso, formando um
entrançado de ramos lenhosos, com decoração a azul e ouro. A tampa é de
abóbada abatida, com duas ordens de tarjas, iguais às do corpo inferior, termi-
nando por uma aparatosa composição azul e ouro, formada por folhas largas
que caiem da base da pega, esta com colo cilíndrico e terminação floral,
com pétalas azuis e centro dourado. O brasão aparece quer no meio da terrina
propriamente dita, quer na tampa, aqui a cortar a tarja que a cirdunda comple-
tamente. A divisa do 6.º conde de Sarzedas encontra-se fora do medalhão, a
negro, estando a palavra QUASCUMQUE envolta por duas hastes de roseira
cruzadas.
As travessas rendilhadas têm, como seria de esperar, uma decoração idên-
tica, também a azul e ouro. No bordo, apresentam a mesma tarja azul com
estrelas douradas e internamente um perlado contínuo, seguindo-se a bela aba
perfurada, e no início da caldeira repete-se o motivo do bordo. No centro, total-
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 279
mente branco, está o brasão do titular, com a legenda externa ao mesmo, com
ramos de flores polícromas na base e com fitas de ouro a coroarem as armas,
sobre as palavras FINDIT QUASCUMQUE.
Por razões históricas e estéticas, devemos datar estes três serviços de entre
Travessa rendilhada de porcelana
1805 e 1810, do tempo da Dinastia Qing e do reinado do imperador Jiaqing. chinesa de exportação
com o brasão de D. Bernardo José
Maria de Lorena e Silveira
do chamado 3º serviço.
Cerca de 1805 a 1810.
Dinastia Qing,
reinado do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
280 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
ANTÓNIO DE ARAÚJO
E AZEVEDO
(n. 1754, f. 1817)
1.º conde da Barca
BARTOLOMEU BARRETO
(n. 1784, f. 1845)
Comerciante de Macau
fossem mesmo dos Barreto. Mais ainda, este autor recusou frontalmente a atri-
buição muito vulgarizada de pertencer ao 1.º visconde de Geraz do Lima, Luís
do Rego Barreto, pois este usou um brasão esquartelado com Barreto, Rocha,
Rego e Velho164.
Nada autoriza a pensar que estes Barretos da Índia portuguesa tivessem
relação com antiga família homónima da Ribeira Lima, e que remontava ao
século xii, e que, de facto, podia de direito usar este brasão.
Os pratos do serviço que estamos a estudar, com 24,8 cm de diâmetro,
têm uma decoração elegante, mas simples. O brasão de Bartolomeu Barreto
ocupa o centro, tendo à sua volta, dispostos um pouco arbitrariamente, um con-
junto de oito ramos de folhas ouflores estilisadas polícromas. A aba é delimitada
por um cordão azul vinoso, formado por ramos ondeantes, muito pequenos,
justapostos, parcendo uma linha única. Na aba foi pintada uma grinalda contí-
nua de folhas verdes e longas, entrecortadas por fores azuis, vermelho ferrugem
e um azul muito esbatido.
Par de pratos de porcelana chinesa
É de aceitar a data do casamento de Bartolomeu Barreto, para a enco- de exportação com o brasão
de Bartolomeu Barreto.
menda do serviço, portanto, cerca de 1814, no tempo da Dinastia Qing e do Cerca de 1814. Dinastia Qing,
reinado do imperador Jiaqing
reinado do imperador Jiaqing. (Colecção particular)
288 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. FRANCISCO DE ALMEIDA
MELO E CASTRO
(n, 1758, f. 1819)
6.º conde de Galveias
O brasão, com erros nos esmaltes, apresenta-se entre dois ramos de folha-
gem e flores atilhados na base. As faces alternam com ramos de flores e folhas
em verde, vermelho, amarelo e azul. No bordo superior, há uma composição de
sanefa dourada, caindo em pendentes e conformando reservas onde foram pin-
tadas flores e folhagem, a rosa e verde. No topo dos bordos, da floreira e do
prato, há um imbricado de ouro e folhagem polícroma. Nas faces da floreira
foram pintados conjuntos florais de cariz claramente chinês, com uma paleta
mais suave, em que abunda o verde e o violeta claro.
Inclinamo-nos, como outros autores já fizeram, pelo tipo de decoração e
pelo facto desta floreira imitar uma série de floreiras encomendadas por
D. João VI, para a datar da segunda década do século xix e, portanto, do tempo
do 6.º conde. Mais concretamente, julgamos que não é improvável que tenha
sido feita cerca de 1815, portanto, do tempo da Dinastia Qing e do reinado do
imperador Jiaqing.
Prato de aquecimento
de porcelana chinesa de exportação
com o brasão D. Luís da Costa
de Sousa Macedo e Albuquerque.
Cerca de 1818. Dinastia Qing,
reinado do imperador Jiaqing
(Colecção particular)
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 303
Este brasão foi atribuido pelo conde de Castro e Solla a D. José Luís de
Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, 1.º conde de Vila Real, atribuição corri-
gida posteriormente173, e confirmada por Luiz Ferros, nas notas de Solla.
O serviço a que pertence este prato tem uma grande qualidade decorativa.
Estamos perante um prato raso, com aba decorada a ouro e azul, com flores
ovaladas esquemáticas e folhas da mesma cor azul com veios a ouro, sendo as
ramagens totalmente douradas, entrelaçadas e ondeantes, cingidas por dois file-
tes também dourados, um no rebordo na aba e outro no interior, no início da
caldeira. Esta é totalmente branco leitoso, com o brasão do titular sob o vidrado
muito fino, nada mais endo à sua volta.
Quer por questões estéticas quer por questões históricas, pode aceitar-se,
sem reservas, a datação de cerca de 1820, que é a que anda escrita nos textos da
especialidade, do período do reinado de Jiaqing da Dinastia Qing.
Armas: Mendes (de Tânger), Silva e Fonseca. Escudo de bico de tipo fran-
cês, esquartelado. I e IV, cortado: em chefe, de azul, com um muro entre duas
torres de prata; contrachefe partido em pala; na 1.ª, de vermelho com uma
cabeça de mouro toucada de prata e, na 2.ª, três lanças de ouro com ferros de
prata. II, de prata, com leão rampante de púrpura armado. III, de ouro, com
cinco estrelas de vermelho em sautor. Por diferença, uma brica de ouro carre-
gada de trifólio de verde. Elmo de grades, correias, virol, paquife e por timbre
uma cabeça de mouro. Apresenta incorrecções e alterações nos esmaltes, além
de simplificações, nomeadamente, nas armas dos Mendes177.
Nasceu em Viseu, filho de João da Silva Mendes, cavaleiro-professo da
Ordem de Cristo e um dos mais ricos comerciantes do Reino, e de sua mulher
D. Eugénia Cândida da Fonseca da Silva Mendes. Fidalgo de cota-de-armas,
foi também cavaleiro-professo da Ordem de Cristo, por mercê de D. João VI,
concedida, a 3 de Dezembro de 1818178. Era um dos contratadores gerais
dos tabacos do Reino e dos Domínios Ultramarinos, e também das Reais
Saboarias. Emigrou para França, por razões políticas, dado que a família foi fiel
a D. Miguel I, onde veio a falecer, em 1831. Mesmo a sua mãe, a 1.ª e única
baronesa da Silva, apesar da sua grande fortuna e das obras de Caridade a que
se dedicava, e que sua imensa fortuna propiciavam, também foi presa pelos
liberais.
Apresentamos uma travessa com 34 cm de comprimento e 26,5 cm de
largura, pertencentes a um serviço, que só pode ter sido encomendado, após a
graça concedida por D. João VI, cuja carta de brazão de armas e fidalguia o
conde de Castro e Solla transcreveu na íntegra. Assim, pensamos que 1820,
durante o período da Dinastia Qing e do reinado de Jiaqing é uma data plausível.
Brasão de Francisco António Mendes A travessa que mostramos neste estudo tem a caldeira arredondada e as
da Fonseca conforme está
representado no serviço
abas côncavas, tudo em porcelana muito branca com o vidrado ligeiramente
Travessa de porcelana chinesa
acinzentado. Toda a decoração é do tipo a que comummente se chama família
de exportação com o brasão rosa, acrescida a paleta de ouro e de sépia na cercadura. Na aba, tem um padrão
Francisco António Mendes da Fonseca.
Cerca de 1820. Dinastia Qing, rendada, com corolas brancas, e reservas que têm no interior, borboletas e ramos
reinado do imperador Jiaqing
(Colecção particular) de flores e, na caldeira, uma cadeia de ouro com pontos azuis179.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 311
312 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
delado, já em 1777, passando, nessa altura, a ser esta a sua principal residência,
dado ficar próxima do São Carlos e das outras fontes de diversão lisboetas.
Apoiou artistas, com bolsas para estudar no estrangeiro, como António
Manuel da Fonseca e Joaquim Pedro de Sousa, e enterrou literalmente 40 con-
tos de reais no Teatro de São Carlos, para que este funcionasse como os melho-
res da Europa, e pagou do seu bolso generosamente a grandes maestros, para
que se fixassem em Lisboa, como Pietro Coppola e Angelo Frondoni, e não
contente com tudo isto, empenhou-se no estrangeiro, para cobrir os emprésti-
mos do Erário Régio.
Domingos António de Sequeira pintou um extraordinário retrato seu,
datado e assinado, em 1813, quando ainda só tinha doze anos, obra sublime,
hoje uma das preciosidades do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga de Cesta e travessa rendilhadas
de porcelana chinesa de exportação do
Lisboa e que reproduzimos na página anterior. chamado 1º serviço, com o brasão
Joaquim Pedro Quintela de Farrobo.
O título, merecido, de conde de Farrobo, foi-lhe concedido pela rainha Posteriores a 1834. Dinastia Qing,
reinado do imperador Daoguang
D. Maria II, por carta de 1 de Setembro de 1834. Interessa-nos este facto, pois, (Colecção particular)
314 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
até 1833, usou o brasão de seu pai, embora por vezes com algumas alterações
meramente estéticas, e só a partir desta data é que passou a ter por brica, de
ouro, uma banda verde, encimada por uma coroa de conde. Nas peças que esta-
mos a usar como base do nosso trabalho, um prato em que os esmaltes do bra-
são estão errados, em que as armas dos Pereira estão de ouro, cruz florida de
vermelho, vazia do campo.
Escolhemos, como exemplos um cesto e uma travessa rendilhados, tendo
o cesto 10,3 cm de alto, 22,5 cm de comprimento e 12,7 cm de largura, e a tra-
vessa 24 cm de comprimento e 15,5 cm de largura, além do já referido prato
com os esmaltes mal colocados no brasão. A decoração é muito simples, já cla-
ramente associada ao gosto neoclássico, que Quintela perfilhava e que estava,
então, em voga na Europa civilizada.
A cesta e travessa rendilhadas são verdadeiras preciosidades, com uma
furação geométrica de fina execução e melhor desenho. O resto da decoração
não varia, nem nos motivos nem nos esmaltes, sento talvez de salientar aqui o
desenho do friso interior, junto do bordo, com alternância de folhagem a azul
escuro e ouro, algo menos comum.
Palácio Farrodo da Rua do Alecrim,
mandado fazer por Joaquim Pedro
Quintela de Farrobo, onde viveu
parte do tempo
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 315
Pelo estilo, e também pelo que acima dissemos acerca do titular, pode Prato de porcelana chinesa
de exportação, do chamado
datar-se as peças que integraram este serviço esteticamente muito inovador de 1º serviço, com o brasão de Adrião
cerca de 1838, do tempo da Dinastia Qing e do reinado do imperador Daoguang. Acácio da Silveira Pinto.
Posteriores a 1834. Dinastia Qing,
reinado do imperador Daoguang
(Colecção particular)
320 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
mento pois, constituindo família e tendo residência de acordo com o seu esta-
tuto, justifica-se a encomenda de um serviço brasonado de porcelana chinesa,
como os seus pares tinham. Um dos anos entre 1835 e 1845, até por razões
estéticas, parece-nos um período suficientemente seguro para datarmos este
serviço, no período da Dinastia Qing e do reinado do imperador Daoguang.
A decoração dos pratos é simples, dentro do gosto neoclássico europeu.
O brasão dos Sarmento, com escudo de fantasia, está decorado com grinaldas
de flores e laços polícromos atilhados em baixo, junto do bico, seguros, sob a
coroa, por amplas laçadas de ouro. Só a aba tem decoração, numa paleta monó-
tona, de ouro, rosa azul, arroxeado, amarelo e vermelho. No interior da aba, há
um friso contínuo dourado e, na extremidade, uma tarja composta por discos
justapostos também de ouro, com os interstícios pintados a roxo. No meio,
ficam várias composições de ramos florais, muito variados, e algumas flores sol-
tas, de desenho minucioso e de grande qualidade. Lembramos a terrina com a
respectiva travessa deste serviço que pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga
de Lisboa, em que a riqueza da decoração é muito maior, não só pela composi-
ção da pega, que se estende pela tampa, mas sobretudo pela dimensão das tar- Par de pratos de porcelana chinesa
de exportação, do chamado 1º serviço,
jas, quer da aba da mesma tampa, quer da parte de baixo da terrina. Já a travessa, com o brasão de João Ferreira
redonda, tem uma decoração como a dos pratos que referimos antes. Sarmento. Cerca de 1834.
A 1845. Dinastia Qing,
reinado do imperador Daoguang
(Colecção particular)
322 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
D. JOÃO CRISÓSTOMO
DE AMORIM PESSOA
(n. 1810, f. 1888)
Arcebispo de Goa e de Braga
Hang, com quatro caracteres dentro de um duplo rectângulo. Grande parte das
peças ainda se conserva na posse dos seus descendentes.
Estudamos dois pratos rasos, circulares, com a caldeira arredondada e
com a aba plana, posto que oblíqua. São feitos em porcelana branca com os
esmaltes e o ouro sob vidrado incolor, e têm 23, 5 cm de diâmetro. Possuem
duas cercaduras, uma com fundos recortes e lobulada, perfilada a verde e com
um traço negro, com o fundo de espirais verdes, flores e folhas. A segunda cer-
cadura tem uma padronagem de losangos com uma pequena flor em cada, e foi
pintada a toda a volta do bordo. No centro do prato está o brasão de Senna
Fernandes, tal como o descrevemos acima. A datação é clara, como vimos, cerca
de 1890, do período da Dinastia Qing e do reinado do imperador Guangxu.
332 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
MACÁRIO DE CASTRO
DA FONSECA E SOUSA
(n. 1859, f. 1928)
Fidalgo da Casa Real
teado vermelho. Esta decoração que, como também já vimos, é conhecida como
mandarim, embora nos países anglo-saxónicos tenha outras designações. Além
dos vários serviços brasonados que estudámos nas páginas anteriores, nas famí-
lias tradicionais portuguesas existem muitos outros, em tudo semelhantes, mas
a que faltam as armas, o que mostra que estamos em presença de um fabrico em
série, com escoamento garantido. Foi um modelo que prolongou por várias
décadas e que teve até um revivalismo recentemente.
O serviço a que pertence este prato pode ser datado com segurança de
cerca de 1890, o que relativamente à China corresponde ao tempo final da
Dinastia Qing e ao reinado do imperador Guangxu.
338 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
NOTAS
1
Anne de Stoop, “Le Palais de Santos, Ambassade de France à Lisbonne”, Mundo da Arte,
Coimbra, 1983, n.º 13, pp. 18-30.
2
Manuel Augusto Rodrigues, Biblioteca e bens de D. Francisco de Lemos e da Mitra de Coimbra,
Coimbra, 1984.
3
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 42.
4
Leonor Freire Costa, Império e grupos mercantis. Entre o Oriente e o Atlântico (século xvii), Lis-
boa, 2002, p. p. 30 e segs.
5
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, Lisboa, 1961, p. 181.
6
David Sanctuary Howard, Chinese Armorial Porcelain, p. 551.
7
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 229.
8
Rui Manuel de Figueiredo Marcos, As Companhias Pombalinas. Contributo para a história das
sociedades por acções em Portugal, Coimbra, 1997, p. 521.
9
Rudolf Schnyder, “A Real Fábrica de Louça do Rato no contexto europeu”, (Catálogo da
Exposição) Real Fábrica de Louça do Rato, coordenação de Paulo Henriques, Lisboa/Porto,
2003, p. 130 e segs.
10
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 304.
11
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, Lisboa, 1960, vol. III, p. 515.
12
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 304.
13
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 52.
14
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 168.
15
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 168.
16
ANTT. Genealogias Manuscritas, 21, f.1.
17
ANTT. Habilitações do Santo Ofício. António, maço 60, processo n.º 1238.
18
Charles Ralph Boxer, Fidalgos no Extremo Oriente, (1968), Macau, 1990, p. 206 e segs.
19
ANTT. Habilitações da Ordem de Cristo, letra A, maço 47, n.º 14.
20
Charles Ralph Boxer, Fidalgos no Extremo Oriente, p. 207 e segs.
21
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa ao tempo do Império. Portugal/Brasil, p. 110.
22
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 181.
23
Margeret Kealing Gristina, “Prato”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. III, pp. 810-811.
24
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 44.
25
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 440.
26
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p.515.
27
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. 17.
28
Lourenço Correia de Matos, “Prato”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. III, p. 827.
29
José de Campos e Sousa, Loiça Brasonada, Porto, 1962; Luís de Mello Vaz de Sampaio,
“Solução de um problema de louça brasonada”, Armas e Troféus, Lisboa, 1982-1983,
V.ª série, tomos III e IV.
30
Jorge Forjaz & José Francisco de Noronha, Os luso-descendentes da Índia Portuguesa, 2.ª edi-
ção, Lisboa, 2003, vol. II, p 651 e segs.
31
David Howard & John Ayers, China for the West…., vol. II, p. 380.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 339
32
Maria Antónia Pinto de Matos, “Porcelanas de encomenda”, Oceanos, Lisboa, n.º 14, p. 53.
33
Lourenço Correia de Matos, “Vaso”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. III, p. 838.
34
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 188.
35
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 188.
36
João Alarcão de Carvalho Branco & Jorge de Brito e Abreu, “Simbologia Heráldica”,
pp. 93-94.
37
António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Lisboa, 1745, vol.
XI, pp. 163-169; Arnaldo Cardoso Pinto, A presença portuguesa em Roma, Lisboa, 2001,
p. 117 e segs.; José Benard Guedes Salgado, “Brasões de Armas de famílias portiguesas em
Roma”, Armas e Troféus, Lisboa, 1969, n.º 1-3, pp. 31-32.
38
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, pp. 517-518; Lourenço Correia de Matos,
“Vaso”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio, vol. III, p. 847.
39
Pedro de Azevedo, O Processo dos Távoras, Lisboa, 1921; José Cassiano Neves, Lisboa e a tra-
gédia dos Távoras, Lisboa, 1957; Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, pp. 424-425.
40
Pedro Dias, A Urbanização e a Arquitectura dos Portugueses em Macau, Lisboa, 2005.
41
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. 137-138.
42
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. 1-3; António Machado de Faria, Armorial
Lusitano, p. 216 e segs.
43
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. II, p. 652.
44
Manuel Augusto Rodrigues, A Universidade de Coimbra e os seus Reitores. Para uma História da
Instituição, Coimbra, 1990, pp. 144-146.
45
ANTT. Habilitações da Ordem de Cristo, Letra G, maço 4, n.º 4.
46
Alexandre Nobre Pais, “Os ciclos de produção da Real Fábrica de Louça”, (Catálogo da
Exposição) Real Fábrica de Louça do Rato, p. 196.
47
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 448.
48
Pedro Dias, “O Palácio dos Vice-Reis, em Goa; Prover de todo o mobiliário e necessidades”,
(Catálogo da Exposição) Goa e o Império Mogol, coordenação de Nuno Vassallo e Silva &
Jorge Flores, Lisboa, 2004, p. 68 e segs.
49
ANTT. Arquivo da Casa Fronteira, n.º de ordem 110; Filipe do Carmo Francisco, O Pri-
meiro Marquês de Alorna, restaurador do Estado Português da Índia (1744-1750), Lisboa, 2010.
50
Manuel Artur Norton, D. Pedro Miguel de Almeida Portugal, Lisboa, 1967, p. 296 e segs.
51
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. 3-4.
52
Luiz Ferros, nota CVI, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. IV-VI.
53
Arquivo da Universidade de Coimbra, Livros de Matrículas e Autos de Exames.
54
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, pp. 145-146.
55
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 744-745.
56
David Sanctuary Howard, Chinese Armorial Porcelain, p. 108 e p. 361.
57
Lourenço Correia de Matos, “Terrina”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. II, p. 623.
58
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. III, pp. 882-886; Martim de Albuquerque, “A loiça
brasonada portuguesa”, Oceanos, Lisboa, 1993, n.º 14. p. 66.
59
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, pp. 109-110.
60
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 311.
61
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 137.
340 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
62
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, p. 269.
63
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa ao tempo do Império. Portugal/Brasil, p. 117 e p. 126
64
Francisco Morais, “Estudantes da Universidade de Coimbra nascidos no Brasil”, Brasília,
Coimbra, 1949, suplemento ao vol. IV, p. 125.
65
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 20.
66
Luiz Ferros, nota VIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. V.
67
Pedro Dias, De Goa a Pangim. Memórias tangíveis da capital do Estado Português da Índia,
Lisboa, 2005, p. 314 e segs.
68
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 142-143.
69
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. 16.
70
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 468; Lourenço Correia de Matos, “Molheira”,
Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio, vol. III, pp. 888-893.
71
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol.I, pp. 124-128.
72
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. XVIII.
73
Habilitações para o Santo Ofício, edição de António de Assis, Graça de Araújo da Rocha &
Luís Soveral Varella, Lisboa, 2003, vol. XXV, p. 74.
74
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 119.
75
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol.I, pp. 40-41.
76
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 723-724.
77
Regina Anacleto, História da Arte em Portugal. Neoclassicismo e Romantismo, Lisboa, (Edições
Alfa), 1987, vol. 10, pp. 38-39.
78
Luiz Ferros, nota LXXXVIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. XXVI; Lourenço
Correia de Matos, “Covilhete”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio, vol. III,
pp. 932-934.
79
Maria Beatriz Nizza da Silva, O Império Luso-Brasileiro. 1750-1822, Lisboa, 1986, p. 455 e segs.
80
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 128.
81
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 175.
82
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, p. 719.
83
Luiz Ferros, nota XVI, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. VIII
84
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 99-101.
85
ANTT. Habilitações da Ordem de Malta, Letra J, maço 6, n.º 1.
86
ANTT. Cartório da Nobreza, Processos de Justificação de Nobreza, maço 7, n.º 1.
87
Luiz Ferros, nota CLXII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. XVI.
88
Lourenço Correia de Matos, “Açucareiro”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comér-
cio, vol. II, pp. 651-652.
89
Maria Adelaide Pereira de Moraes, “Estes são os Dias de Meneses de Guimarães”, Armas e
Troféus, Lisboa, 1982-1983, V série, vol. III-IV.
90
ANTT. Habilitações do Santo Ofício, Manuel, maço 160, n.º 1674.
91
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. XIX-XX.
92
Pedro Dias, De Goa a Pangim. Memórias tangíveis da Capital do Estado Português da Índia,
p. 140.
93
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 154.
94
Luiz Ferros, nota CX, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. VII.
95
Jorge Forjaz & José Francisco de Noronha, Os luso-descendentes da Índia Portuguesa, vol. I,
pp. 421-422.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 341
96
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 114.
97
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 187 e p. 358.
98
Jorge Borges de Macedo, A situação económica no tempo de Pombal. Alguns aspectos, Lisboa,
1951; António Carreira, As Companhias Pombalinas, Lisboa, 1969.
99
António Carreira, As Companhias Pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Para-
íba, 2.ª edição, Lisboa, 1983, p. 271.
100
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. 105-106; António Machado Faria, Armorial
Lusitano, p. 34.
101
ANTT. Cartório da Nobreza, Livro 2 de Registo de Brasões, fls. 123 v.º a 124 v.º.
102
Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, Lisboa, 1990, vol. VI, p. 204.
103
Francisco Fortunato Queirós, A Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre em 1781, Portalegre,
1981.
104
António Carreira, As Companhias Pombalinas de Grão- Pará e Maranhão e Pernambuco e Para-
íba, p. 302.
105
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, pp. 108-109.
106
Maria Antónia Pinto de Matos, “169. Prato”, Presença Portuguesa na Ásia. Catálogo do Museu
do Oriente, p. 189.
107
José de Campos e Sousa, Loiça Brazonada, Lisboa, p. 299 e segs.; José de Campos e Sousa,
“Falemos de loiça brasonada”, Colóquio. Revista de Artes e Letras, Lisboa, 1970, n.º 57, p. 39
e segs.
108
Leilão de 27 a 29 de Setembro de 2006, do Palácio do Correio Velho, lote 98.
109
David Howard & John Ayers, China for the West…, vol. II, p. 555.
110
Leilão de 3 a 7 de Maio de 2006, do Palácio do Correio Velho, lote 218.
111
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 179-181
112
ANTT. Cartório da Nobreza, Processo de Justificação de Nobreza, maço 18, n.º 26.
113
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. XXVIII-XXIX.
114
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 701-702.
115
ANTT. Habilitações da Ordem de Cristo, Letra H, maço 2, n.º 6.
116
Gastão de Mello Matos & Luís Stubbs Saldanha Monteiro Bandeira, Heráldica, Lisboa,
1969, p. 158.
117
Lourenço Correia de Matos, “Covilhete”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comér-
cio, vol. II, pp. 630-635.
118
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. II, p. 532.
119
Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal. Concelho de Évora, Lisboa, 1966, vol. I.
120
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. IX
121
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 22.
122
Luiz Ferros, nota CLXVI, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. IX.
123
ANTT. Cartório da Nobreza, Livro 4 de Registo de Brasões, fls. 39 a fl. 40.
124
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 17.
125
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 150.
126
Miguel Metelo de Seixas, “Os ornamentos exteriores na Heráldica Eclesiástica como repre-
sentação da hierarquia da Igreja Católica”, Lusíada História, Lisboa, 2006, 2.ª série, n.º 1,
p. 68.
127
David Howard & John Ayers, China for the West…., vol. II, p. 382.
128
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. XXII-XXIII.
342 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
129
Luiz Ferros, nota CIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. IX
130
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 349.
131
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, pp. 110-111.
132
Jorge Forjaz & José Francisco de Noronha, Os luso-descendentes da Índia Portuguesa, vol. I,
pp. 352-353.
133
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 139.
134
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 178.
135
David Howard & John Ayers, China for the West…, vol. II, p. 556.
136
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 58, e nota de Luiz Ferros.
137
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, p. 412.
138
Publicadas pelo conde de Castro e Solla e, mais rcentemente, por Nuno de Castro, nas suas
duas edições.
139
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 171.
140
Luiz Ferros, notas, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 30.
141
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 367-368.
142
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 122-123.
143
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. II, p. 625.
144
Luiz Ferros, nota LXXXIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 153
145
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 511.
146
Pedro Dias, “Uma escultura de Diogo Pires-o-Velho em Vouzela”, Revista Portuguesa de His-
tória, Coimbra, 1978, vol. XVI, p. 343 e segs.
147
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 80.
148
Luiz Ferros, nota XLIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. XIII.
149
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 220
150
Luiz Ferros, nota I, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. III
151
Lourenço Correia de Matos, “Prato e molheira”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de
comércio, vol. II, pp. 660-661.
152
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. II, p. 580.
153
Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII, pp. 41-42, pp. 59-60, e p. 61 e segs.
154
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 2-4.
155
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 115.
156
Eduardo Campos de Castro & Azevedo Soares, Nobiliário da Ilha Terceira, Angra do Hero-
ísmo, 2.ª edição, 1944, II vol.
157
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 417.
158
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 89-94; Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal,
vol. II, pp. 689-691.
159
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 6-8.
160
Luiz Ferros, nota III, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. III
161
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. 83.
162
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 373-375.
163
Jorge Forjaz, Famílias Macaenses, Macau, 1996, vol. I, p. 409 e segs.
164
Luiz Ferros, nota CCIII, in Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. XXIII.
165
Maria Antónia Pinto de Matos, “Prato”, Presença Portuguesa na Ásia. Catálogo do Museu do
Oriente, p. 207.
166
Luiz Ferros, nota XLIX, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. XV.
4. HE RÁL DICA DA NO B RE Z A NA PO RCE L ANA DA DI NASTI A QI NG 343
167
António Machado de Faria, Armorial Lusitano, p. 130.
168
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 221.
169
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. II, pp. 739-740.
170
Luiz Ferros, nota XXVIII, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. X-XI.
171
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 48.
172
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 340.
173
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 214.
174
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 418.
175
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, pp. 412-414.
176
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 84-85.
177
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 68-69.
178
ANTT. Cartório da Nobreza, Livro 8 de Registo de Brasões, fls. 20 v.º a 22.
179
Maria Antónia Pinto de Matos, “Pratos”, Presença Portuguesa na Ásia. Catálogo do Museu do
Oriente, p. 208.
180
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. 11.
181
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, pp. 361-362.
182
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 502 e p. 526.
183
Lourenço Correia de Matos, “Prato e covilhete”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de
comércio, vol. II, pp. 668-670.
184
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 53 e p. 433
185
Lourenço Correia de Matos, “Prato”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. II, p. 674.
186
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 124.
187
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. II, p. 149.
188
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, pp. 361-362.
189
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 502 e p. 526.
190
Lourenço Correia de Matos, “Prato e covilhete”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de
comércio, vol. II, pp. 668-670.
191
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 228.
192
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 236.
193
Maria Antónia Pinto de Matos, “Prato”, Presença Portuguesa na Ásia. Catálogo do Museu do
Oriente, p. 212.
194
António Machado Faria, Armorial Lusitano, p. 53 e p. 433
195
Lourenço Correia de Matos, “Prato”, Portugal na Porcelana da China. 500 anos de comércio,
vol. II, p. 674.
196
Maria Antónia Pinto de Matos, “Prato”, Presença Portuguesa na Ásia. Catálogo do Museu do
Oriente, p. 215.
197
ANTT. Cartório da Nobreza, Processos de Justificação de Nobreza, maço 65, n.º 22; Jorge
Forjaz, Famílias Macaenses, vol. III, p. 543 e segs.
198
Afonso Zuquete, Nobreza de Portugal, vol. III, p. 316.
199
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 250.
200
Jorge Forjaz, Famílias Macaenses, vol. II, pp. 414-415.
201
Nuno de Castro, A porcelana Chinesa e os brasões do Império, p. 251.
5. HERÁLDICA DAS ORDENS
RELIGIOSAS
D
o primeiro período de fabricação de porcelana na vigência das
Dinastia Qing, foram feitas para clientes europeus, e sobretudo para
os portugueses, milhares de peças com simbologia religiosas, a
maioria com cenas que representavam momentos da Vida de Cristo
ou de santos da Igreja de Roma, mas também, para outros mercados, como o
alemão, com personagens da Igreja Reformada.
Porém, o que nos interessa neste estudo são as peças de porcelana que
ostentam as armas das ordens religiosas que estiveram ao serviço de Portugal,
sob o manto protector e impulsionador do Padroado Português, e também
de certas casas, isoladamente, como aconteceu com o convento do Carmo de
Lisboa e com São Vicente de Fora, também na capital do Reino.
Mesmo depois, de instaurado o sistema republicano na China, e antes da
instauração do Comunismo, continuaram a produzir-se jarras e pequenas pias
de água-benta para os cristãos locais, e já não para exportação para a Europa e
para outras partes do Oriente, embora admitamos que, ocasionalmente, isso
pudesse ocorrer; porém, não temos qualquer prova.
Outra questão sobre a qual temos hoje poucas dúvidas é a de que o sím-
bolo, o anagrama da Companhis de Jesus continuou a ser pintado, mesmo
depois desta ordem ter sido banida de Portugal e dos seus domínios de Além-
-Mar, pois as populações interpretavam esssa simbologia como se fosse apenas
do Cristianismo que professavam, sobretudo onde os jesuítas tinham tido maior
peso, o que aconteceu praticamente em todas as cidades, fortalezas e territórios
onde espalharam a sua Fé.
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COMPANHIA DE JESUS
A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola e por outros cole-
gas que com ele compartilharam o seu quarto em Paris, e teve aprovação papal
em 1540, dada pelo pontífice romano Paulo III. Foi o espírito de reforma que
uniu jovens universitários dos colégios parisienses e bordaleses, entre os quais se
contava Francisco Xavier, que os fez entrar nesta grande aventura de evangelizar
o Oriente. Foi ordem religiosa que mais se distinguiu pela sua acção na Índia,
na China e no Japão, muito valendo a presença do já citado São Francisco
Xavier, que atingiu as ilhas nipónicas1. Ricas e numerosas as residências, colé-
gios e igrejas paroquiais que foram vigariadas pelos jesuítas fizeram desde o
século xvi muitas encomendas de vasos de porcelana ostentando as suas armas
e outros símbolos cristãos.
Como temos visto, Goa era um local onde muito facilmente se encomen-
davam coisas da China. A verdade é que a designação de paulistas aplicava-se
genericamente a todos os jesuítas, o que pode induzir em erro, nalguns casos,
mas se virmos quais são efectivamente as invocações das igrejas e dos colégios,
essas hipóteses diminuem significativamente: em Diu era também de São Paulo;
mas em Cochim e Macau era da Madre de Deus; em Damão das Onze Mil Vir-
gens; em Margão do Espírito Santo; etc., e no Reino, de São Roque, de Jesus,
Igreja do Convento
de São Domingos de Macau.
NOTAS
1
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Reynos e Províncias da Índia Oriental, Coimbra, 1957-1962; Francisco de Sousa, Oriente Con-
quistado, Lisboa, 1710.
2
Frei Manuel da Esperança & Frei Fernando da Soledade, História Seráfica da Ordem dos
Frades Menores da Ordem de São Francisco da Província de Portugal, Lisboa, 1656-1720.
3
Frei António da Purificação, Chronica dos Eremitas de Santo Agostinho, Lisboa, 1642 e
1656.
4
Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, p. 180.
5
Luiz Ferros, nota CCVI, Castro e Solla, Cerâmica Brazonada, vol. I, pp. XXIV-XXV.
6. BIBLIOGRAFIA
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374 H ER Á LD ICA P ORT U G U ES A N A P OR CE L ANA DA CHINA Q ING
NOTA
1. NOTA PRÉVIA 5
6. BIBLIOGRAFIA 369
PEDRO DI AS
P E DRO DIAS
H E R Á L D I C A
PORTUGUESA
NA PORCELANA
HERÁLDICA PORTUGUESA