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A Poesia de Rolando Toro

Rolando Toro, criador da Biodanza, também era poeta, com vários livros editados. No final do ano
fizemos uma seleção de algumas de suas poesias para ler durante a aula do grupo de arte
identidade. Aqui estão elas.

A essência da Biodanza está na poesia de Rolando. Todos que apreciam a Biodanza vão identificar a
dança nestas palavras.

Para ilustrar, algumas fotos de minha autoria.

Myrthes Gonzalez.

Argila
Entrando a tatear na argila
como um cego no começo do mundo.

Apalpando as entranhas úmidas de toda a


flor o escultor revela um sonho.

As formas se aglomeram
no pano de fundo dos primeiros atos.

A caricia é resgatada Foto por Myrthes Gonzalez


do caos esterno.

Uma beleza desenfreada


mostra suas entranhas
pela primeira vez.

Poesia de Rolando Toro Araneda dedicada a Dorli Signor


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A Mulher Comum

A mulher tal como é


não nos parece perfeita.
Então procuramos a Mulher-Yeti
a Top Model
a Virgem
a Prostituta Sagrada.

Assim as fêmeas humanas


estão a salvo, seguras
no mecanismo infernal
da caixa dos sonhos.

No entanto, a única
Mulher perfeita
é a mulher comum.

Poesia de Rolando Toro Araneda

2
Página
Abundância
Abundância do coração
tigre selvagem Abundância do beijo
vento de fúria caminho do filho.
verdes pupilas de
infinito. Abundância em Viviana de 9 anos,
Abundância do mar na desova em sua alegria de despertar,
da origem na alegria do pássaro sobre a maçã
refletindo a tartaruga o doce aroma de tua boca.
refletindo as espiral do amonites
no fundo do abismo. Abundancia de paraísos desconhecidos,
pavorosos de encanto e mistério.
Abundância da terra nos estertores
da gênesis. Abundância na donzela, fruto selvagem
Abundância dos primeiros gira sóis em suas tetas plenas
saudando a recém-casada. e na criança iluminada.
Abundância no ventre que cresce
com o filho em estado de graça, Abundância do coração
na insônia do amor e da esperança. Que a cada dia te reconhece
pela primeira vez.
Abundância em meus olhos
que podem verte leve e esplendida Abundância na mais pequena flor.
no ardente precipício do tempo.
Poesia de Rolando Toro Araneda
Genitais oferecidos, contatos mais
íntimos
e o néctar do pêssego.

Abundância no ar
com migrações de
canto e furacões
com cantos de Bach
no decorado do céu.

Sem limites teu desejo


sem fronteiras tua
necessidade
em terra de oferendas
3

em terra de mensagens
Página

de amor
Viver Assim

De onde vem
a luz da fascinação
a obscuridade no fundo dos olhos,
a tempestade de violetas selvagens?
Onde encontramos a mãe incestuosa?

Viver assim
unido à placenta de Possibilidade
perfeita, ao sonho de sensualidade
irresistível.

O fio finíssimo que nos amarra.


O fio que é olhar no gemido do êxtase.
O fio que me leva a lucidez...
Labirinto esplêndido!

Viver assim
ligado ao ventre de Demeter
unido a prostituta invisível
ao delírio de cada noite.

Enquanto Ela
Caminha pela
mão de Deus.
E ninguém pode cortar o fio.

Poesia de Rolando Toro Araneda


4
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Busca o Lugar que te Ama

Não te acostumes a viver na cidade.


Busca o lugar que te ama.
Recebe a oferenda de sol e sombra,
A pedra secreta que esperou por ti.

Busca a árvore que te da sua presença verde


Sua torção e sua força.

Neste pequeno espaço sem limites


Entrega-te.
Retorna ao dourado holograma
fora do tempo.

Inventa ali, tua liberdade.

Poesia de Rolando Toro


Araneda

5
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Foto por Myrthes Gonzalez

Onde se esconde a sabedoria?

Sob a chuva suave para pintar a brisa do inverno...


Su Tung P’o tirava rochas e bambus
de seu fígado e
pulmões.

Lao Tzu-jan ensinou o ch’i. O pintor de cavalos faz um gesto


Descobriu em seu corpo o pulso da sobre as folhas de papel arroz.
montanha De seu tremor extrai
e aprendeu com o tigre e o ganso as crinas ao vento e o
selvagem esplendor
a maestria das artes marciais. nervoso da besta
interior.
Onde se esconde a sabedoria?
Onde se esconde a sabedoria?
No tom íntimo da pincelada, na
respiração Poesia de Rolando Toro Araneda
na paixão sutil da água e a tinta
6
Página
Ser Alguém

Já era tempo de que eu chegasse a ser alguém.


Já era tempo de que aparecera dentro de mim
o tigre, a criança e a abelha.
Chego a hora de ser um rio
Águas fluidas, entregues ao destino.
Já era tempo, depois
da Era do Triunfo, depois que os Diques
secos da dor, depois
do Medo de ser Abandonado, cheguei
ao tempo dos Jasmins.
Já era hora de que eu chegasse
a ser alguém.
Tão anônimo, tão leve
como as canas de bambu.

Poesia de Rolando Toro Araneda

7
Página
Revelações

Basta viajar ao interior de uma rosa


Para entender que nunca houve Bing-Bang.

Basta olhar uma criança, brincar


No elevador
na velha estação
dos viajantes
para saber que o Poder é
ambição de idiotas.

Basta sair caminhando por uma rua


Na tarde de outono, com suave chuva
Para saber que não necessitamos de psiquiatras.

Basta olhar aos olhos,


Estender uma ponte
ao infinito.

Poesia de Rolando Toro Araneda

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Página

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