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Agência subjetiva em rede e o primado das relações nas ciências sociais.

Resumo: O artigo discute a pertinência teórica de uma fusão entre os conceitos de agência,
subjetividade e rede, propondo a ideia de agência subjetiva em rede como ferramenta
intelectual capaz de incluir habitus e reflexividade. Parte de uma visão do relacionismo
sociológico em sentido amplo e plural, que possa incluir autores cujas divergências não nos
impedem de agrupá-los como relacionistas ou como autores que partem do relacionismo para
buscar ir além dele. O primado das relações como escopo geral parece-nos ainda ser um bom
ponto de partida para a teoria sociológica contemporânea. Partindo da virada praxiológica, o
artigo busca apresentar o arranjo conceitual agência subjetiva em rede como um modo de
problematizar a fronteira porosa e de interdependência mútua entre socialidade, subjetividade,
intersubjetividade e o espaço de objetivação histórica das relações sociais.

Palavras-chave: Agência. Subjetividade. Rede. Teoria sociológica.

Introdução

O artigo discute a pertinência teórica dos conceitos de agência, subjetividade e rede


para a sociologia contemporânea com o objetivo de propor uma fusão na figura conceitual de
agência subjetiva em rede. Em busca de uma maneira de pensar que inclua habitus,
reflexividade e descentramento dos sujeitos em redes, explora a perspectiva do relacionismo
sociológico em sentido amplo e plural, revisitando alguns aspectos da articulação da matriz
relacionista, baseada na figura nocional de “rede de relações”, presente em diversos autores, a
despeito de suas diferenças e conflitos sobre como temperar metateoricamente seu
relacionismo e, em alguns caso, buscando ir além dele, como ocorre no realismo crítico. O
ponto basilar em comum dos autores, em tudo mais diversos e até divergentes entre si, é a do
primado das relações como ponto de partida para o método sociológico.

A própria sociologia clássica nasceu de uma conexão entre o primado da existência e


uma teoria da práxis. De modo que o conhecimento humano para o método sociológico está
conectado pela origem, pela produção e pela validação à uma situação histórica e
sociocultural específica e concreta. Conhecimento enraizado na experiência histórica da vida
sociocultural. Na sociologia contemporânea, a virada praxiológica dos anos 1960 em diante
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foi uma nova fonte de inspiração para se pensar o campo das práticas como um regime de
historicidade. Ao propor o arranjo conceitual agência subjetiva em rede como uma ferramenta
intelectual orientadora para a problematização da relação entre processos de subjetivação e
objetivação de relações sociais, de poder, simbolicamente mediadas, implicando agências que
passam pela experiência subjetiva e intersubjetiva dos agentes sociais como forças de
estruturação do mundo sociocultural e histórico, mas também pelo modo como a agência está
instituída na e pela ordem sociocultural, buscamos contribuir pontualmente com o debate
pós-bourdieusiano sobre habitus, reflexividade e objetividade instituída do social.

Relacionistas são as abordagens que priorizam o caráter constitutivo da


relacionalidade e enfatizam a dimensão produtiva ou gerativa das relações sociais. O mundo
social é concebido como um espaço relacional, seja como rede, campo ou sistema social. As
ênfases dos autores podem flutuar entre o foco nos fluxos ou nas formas, nos acontecimentos
ou nas instituições desse espaço relacional, contudo parece haver uma sensibilidade comum
para analisar diferenças como relações que instauram seus próprios sistemas de delimitação
da própria realidade, essa atitude básica parece fazer parte de tal matriz de pensamento. Nesse
modo de pensar, os entes sociológicos são considerados como produzidos nas, pelas e a partir
das relações que lhes são coetâneas. A realidade social é concebida como dinâmica,
construída em parte pelas práticas de conhecimento dos agentes sociais em referência a um
complexo institucional mediador. Diz-se, nessa perspectiva, que os termos não preexistem às
relações. Os termos não estão reificados como se fossem entes isolados e preexistentes,
seriam pensados como elaborados historicamente nos e pelos processos nos quais emergem.
São contexto-dependentes ou, então, perspectivados na situação histórica que determina
parcialmente propriedades estruturais de agentes e de ações sociais. Os termos derivam de
processos de objetivação e subjetivação das relações sociais, que envolve uma dialética entre
determinação, subdeterminação e indeterminação do agir dos agentes em nome de uma ordem
estabelecida ou contra ela. Ademais, pensamentos relacionistas compartilham da ideia básica
de rede de relações para imaginar conceitualmente o funcionamento do mundo social como
regime de historicidade. Os mundos sociais são dinâmicos e incompletos. Estão por fazer. No
porvir.

Por conseguinte, as várias versões de relacionismo sociológico disponíveis nos


quadros da teoria contemporânea tanto rejeitam formas de realismo ingênuo ou de modos
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substancialistas de pensar o social, bem como uma tendência para promover o descentramento
do sujeito, ao situá-lo na rede, no campo ou no sistema. A situação de dependência mútua dos
agentes sociais os enraiza em campos de práticas ou em redes de dependência mútua ou
campos de relações de poder e sujeição, daí o risco de subestimar a capacidade reflexiva da
agência humana.

Considerando que as abordagens relacionistas exerceram a partir dos anos 1960 um


relevante papel questionador no campo dos debates teóricos, pense-se na teoria da prática e na
teoria da estruturação, sendo que esta última evita reeditar o neo-objetivismo da primeira,
considera-se neste texto que retomar esse fio de discussão é afirmar que tais abordagens são
ainda capazes de fazer prosperar e inspirar criativas formas de pesquisas empíricas nas
ciências sociais, levando, é claro, em consideração as críticas das novas sociologias a essas
abordagens. Agência e estrutura, nominalismo e realismo, subjetivismo e objetivismo,
individualismo e holismo, dialética e hermenêutica, fisicalismo e fenomenologia, dentre
outras oposições, formam a agenda dos debates teóricos nas últimas décadas. É no retorno
crítico a essas noções com que a sociologia se faz e se desfaz, mantendo-se jovem em suas
escaramuças.

A versão de relacionismo da teoria da prática de Pierre Bourdieu foi uma das mais
influentes e continua sendo um ponto de referência para o fazer sociológico, o que atesta a
importância da virada praxiológica para os debates pós-bourdieusianos. Ao longo do texto, os
leitores perceberão a presença dessa referência nas discussões. Sabe-se, por exemplo, que
mesmo uma sociologia da crítica em suas elaborações que propõem uma sociologia da crítica
não invalida o papel da sociologia crítica (Boltanski, 2016). Pode-se afirmar que o
relacionismo e a praxiologia funcionam como matrizes para os próprios críticos do
relacionismo e da teoria da prática, como é o caso em Archer (2004a). A re-emergência da
questão da prática para a reflexão sociológica atual nos faz retornar à matriz disciplinar do
campo das práticas para deslocá-lo em novos sentidos que permitam ir além do drama
pluralismo-racionalismo (Berthelot, 2000) ou do que diz respeito às divergências e
convergências entre pragmatismo, realismo crítico e construcionismo social em torno do
problema da objetividade do conhecimento sociológico (Archer, 2004b).
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Viradas epistêmicas e ameaças à teoria sociológica

As ciências sociais estão vivenciando um contexto de muitas viradas com novas


tendências na teoria sociocultural, como mostram Freire-Medeiros e Corrêa (2020) para quem
a segunda metade do século XX e o início do século XXI se tornaram ricos em viradas
epistêmicas que alteraram a paisagem intelectual desse campo multidisciplinar de
conhecimento. Viradas linguística, pragmática, pós-colonial, afetiva, das mobilidades, dos
estudos de religião e secularismo, anti-narcísica, enfim, uma infinidade de novas
sensibilidades sociológicas e antropológicas, como sumarizam os autores. Dentre tais viradas,
há uma que nos interessa mais diretamente neste texto, pois nela situamos a argumentação que
estamos propondo, trata-se da virada praxiológica.

Segundo Peters (2020), foi na segunda metade do século XX que ela ocorreu nas
ciências sociais com abordagens que “se ancoram todas em uma ontologia processual que
toma o mundo como domínio de práticas” (Peters, 2020, p.167). Como o autor relata, as
muitas vertentes da praxiologia incluem muitas viradas dentro da virada, pois seriam muitas
as “viradas internas”: existencial, culturalista, habitual, corporal, objetal, intersubjetiva,
multidimensional. Não apenas Giddens e Bourdieu fariam parte dessa virada praxiológica,
mas igualmente outros autores contemporâneos, formando um campo bem heterogêneo. Nela,
insiste-se na evitação do dualismo indivíduo-sociedade, trilhando uma problematização
relacional, nem individualismo, nem reificação coletivista. Nesse sentido, Elias, Bourdieu e
Giddens estão entre as tentativas mais importantes de “integrar teoricamente estrutura e ação”
(Giddens e Sutton, 2016, p.13).

Uma questão chave é a da mediação simbólica nas relações dialéticas entre agência e
estrutura. Os agentes sociais socializados como agentes intencionais e competentes possuem
força de estruturação de novas estruturas e de deslocamento das existentes que os
determinam. A agência subjetiva do objeto social, configurada em rede, se torna um ponto
nevrálgico do modelo praxiológico de pensar o mundo social como um campo de práticas.
Uma teorização sociológica que não levasse em consideração a relação estrutura social e
agência como mediada culturalmente correria o risco de retroceder, pois “toda teoria social
geral tem de encontrar sua própria articulação entre a estrutura social, a cultura e a agência”
(Vandenberghe, 2016c, p.152).
5

Agência, subjetividade e rede social não são conceitos que esgotam o campo
semântico da própria teoria sociocultural, contudo, possuem, a nosso ver, como iremos buscar
argumentar, uma posição estratégica no acionamento das dimensões decisionais e históricas
do fazer sociocultural humano. E essa preocupação tem de certo modo acompanhado o
próprio desenvolvimento intelectual das ciências sociais.

Se as novas sociologias começaram a ser desenhadas com mais vigor nos anos 1980,
Bourdieu e Giddens, portanto, ocupam uma posição intermediária central e de transição.
Nesse plano intergeracional1, Elias viria a “ser o primeiro a abrir um novo caminho” (ELIAS,
2001, p. 84). Grosso modo, quando, nos anos 1950, Bourdieu e Giddens foram educados
como filósofos e cientistas sociais, estiveram mergulhados nos horizontes das disputas
nacionais do campo intelectual euroamericano, lidando com um pluralismo de abordagens
sociológicas e antropológicas. Parsons, Merton e Lévi-Strauss representavam as figuras
hegemônicas desse tabuleiro euroamericano. 2

De 1930 a 1960, as disputas entre teorias da ação e teorias da estrutura fisgaram o


imaginário sociológico de um modo duradouro. O funcionalismo estrutural se tornou um
normativismo exasperante de tão abstrato e puramente analítico (Joas e Knöbl, 2017). E a
síntese parsoniana funcionou como epicentro do debate na sociologia. Seria preciso esperar
Luhmann (2016) para uma retomada sofisticada e renovada da concepção sistêmica herdeira
de Parsons, mas em termos de uma decisiva e robusta antropologia da diferença, sob
inspiração de Lévi-Strauss.3

Não foi apenas na sociologia que essas discussões grassaram ao longo do tempo nos
meios acadêmicos. Na antropologia, desde os anos 1960, os embates teóricos entre
abordagens culturalistas, naturalistas, estruturalistas e economicistas ocupavam a cena

1
Apesar de fazer parte de uma geração mais longeva, o projeto teórico de síntese de Norbert Elias, foi precursor em termos
da superação dos dualismos. Mais tarde, o próprio Bourdieu reconhece a importância do trabalho de Elias. A entrevista que
Johan Heilbron (incentivado por Bourdieu) com Norbert Elias durante os anos de 1984 e 1985 e os convites de Bourdieu a
Elias para dar uma palestra no College de France e fazer uma ou duas palestras na École des Hautes Etudes en Sciences
Sociales (EHESS), demonstram parte deste reconhecimento tardio do pioneirismo do projeto teórico eliasiano.
2
Um tabuleiro que, mesmo quando se torna pós-social, continua a exercer a hegemonia intelectual até hoje na divisão
internacional do trabalho das ciências sociais. Ficamos com a impressão de que, entra ortodoxia, sai ortodoxia, de qualquer
modo, o poderio hegemônico do Norte global no âmbito da teoria, bem representado pelos nomes citados neste parágrafo,
continua a centralizar as condições sociais da circulação internacional das ideias da sociologia (Bourdieu, 2002).
3
Inclusive, isso nos dá ensejo para imaginar que outro artigo como este pode ser escrito, dedicando-se a Habermas, Luhmann
e Archer, pois seria não apenas desejável, mas imprescindível para complementar esse quadro plural que estamos propondo,
contudo, sem abrir mão do esforço de aproximação por semelhanças. Em vez de fragmentação, a aposta teórica das novas
sociologias pode se voltar mais uma vez para empreendimentos de síntese. A força do argumento de Luhmann (2016), quanto
a isso, continua como um convite em aberto. Bourdieu e Luhmann, nesse ponto, podem ser aproximados de modo criativo e
sinérgico (Pfeilstetter, 2012).
6

intelectual das ciências sociais, a discussões sobre a estreiteza do funcionalismo em lidar com
a historicidade e as práticas socioculturais permeavam tais discussões (Ortner, 2011). 4

Em paralelo, na década de 1970, os debates acadêmicos sociológicos avançaram com


criticismo em torno da relação opositiva de tipo dicotômico entre agência e estrutura,
tornando-se proeminentes nos ambientes intelectuais euroamericanos, principalmente de
língua inglesa. As divergências entre abordagens que privilegiam a ação social, com seus
atores movidos subjetivamente por objetivos, propósitos, preferências, cálculos, escolhas, de
um lado, e as abordagens que tendiam a se concentrar nas transformações estruturais da
totalidade e no modo como elas determinavam de cima para baixo a unidade de análise da
ação dos indivíduos dividiram o campo das ciências sociais. Inclusive, foi essa polarização
que esteve no centro da emergência do problema da agência (Archer, 2004a).

Ainda nos anos 1970, como relata Peters (2014), a fragmentação que se seguiu às
reações críticas que envolviam a contestação do funcionalismo estrutural de Parsons, como
ortodoxia internacional nas ciências sociais, foi a principal preocupação de autores que
buscavam novas sínteses, superação da fragmentação, sem recair nos vícios do antigo
consenso ortodoxo. Como argumenta o autor, em meio aos embates entre microssociologias
(interacionismo simbólico, fenomenologia, etnometodologia, interpretativismo, teorias da
ação) e macrossociologias neomarxistas, neoweberianas, autores como Bourdieu, Giddens e
Habermas buscaram reorganizar os esforços da sociologia geral capaz de superar essa
fragmentação micro-macro, agência-estrutura, subjetivismo-objetivismo,
nominalismo-realismo, dialética-hermenêutica, teoria-empirismo, dentre outros dualismos
fragmentadores. 5

Giddens e Bourdieu, por exemplo, vão alimentar projetos de superar a dicotomia


agência-estrutura pela proposição segundo a qual o campo das práticas opera como domínio
ontológico dos processos de subjetivação e objetivação das relações sociais (Peters, 2014,
p.129)6. Seja objetivamente como campo ou subjetivamente como habitus, as relações entre

4
Na antropologia, Clifford Geertz, Marshall Sahlins e Roy Wagner escreveram livros que lidaram com todos esses problemas
juntos. Culturalismo versus naturalismo sendo a oposição mais problematizada por eles, como discute Marcio Goldman
(2011), em torno do que poderíamos chamar de novas antropologias (interpretação, simbolização e invenção).
5
Também nos debates acadêmicos da antropologia, na década de 1970, essas polarizações foram significativas. Segundo
Sherry Ortner (2007), o interpretativismo com Geertz, o marxismo com Eric Wolf e o estruturalismo com Lévi-Strauss eram
os três grandes paradigmas em torno dos quais ocorria o embate contra o funcionalismo. A autora reconhece que Giddens e
Bourdieu foram decisivos para transformar a oposição agência-estrutura numa dialética em torno das práticas sociais.
6
Na teoria de Elias (2001, p. 61) se encontra também de forma clara uma preocupação em identificar, através de um olhar
cuidadoso sobre a prática, como se formam estruturas de campos sociais onde “relações de dependência em jogo” (2001,
7

agentes sociais e espaço social são produzidas por meio das práticas sociais, como produtos
agentivos de novas práticas sociais, o que, no caso de Bourdieu, revela uma trama intelectual
neo-objetivista, adotando “a praxiologia estrutural com estratégia de síntese” (Peters, 2013,
p.51). 7

Por outro lado, Brubaker (2005) explora a maneira como Bourdieu discute a dupla
natureza da realidade social para evitar a dicotomia entre objetivismo, que sustenta a
existência de uma realidade social independente da mente e do agente, e subjetivismo, que
reduz a realidade social à percepção da realidade social. Enquanto o subjetivismo tende a ser
idealista, individualista e culturalista, o objetivismo acaba recorrendo ao economicismo, ao
mecanicismo causal ou ao estruturalismo, segundo o qual o agente social não passa de um
portador de sentido e valor. De fato, Bourdieu e Giddens, cada qual a seu modo, estavam em
projetos que tinham em comum a superação de dualismos nos quadros de ontologias
relacionais de práticas, como problematiza Marín (2011). Mesmo que esse tipo de ontologia
relacional acabe por cair naquilo que Archer (2016) chama de conflação central, o
relacionismo mesmo assim é tido como ponto de partida para o realismo crítico (Archer,
2004a)8.

Sabe-se que, na crise da sociologia nos anos 1970, os temas centrais passaram a ser
pluralidade e historicidade, pois os movimentos sociais dos anos 1960 tiveram um papel
decisivo em interpelar as ciências sociais no sentido de como lidar com o problema de criar
novos contextos a partir de contextos preexistentes, o tema da transformação social, o que
teve impacto profundo na própria reformulação da teoria sociológica pelas novas sociologias,
tendo Bourdieu e Giddens como grandes incentivadores desse processo (Alves, 2010)9.

p.61) entre os agentes são constituídas influenciando tanto o modo como poderes são distribuídos como as exigências sociais
são construídas e reproduzidas em uma perspectiva onde indivíduo e sociedade não tendem a ser abordados como objetos
separados.
7
Os estudos de Gabriel Peters sobre Bourdieu e Giddens não estão sendo formativos e preparatórios apenas para ele, o autor
fala sobre isso nas páginas finais de seu livro, mas também para seus leitores acadêmicos. Nesse sentido, estamos nos
valendo das aberturas teóricas promovidas pelo livro Percursos na teoria das práticas sociais (Peters, 2015), que tem
ajudado bastante na recepção crítica dessas abordagens praxiológicas no Brasil. O presente artigo se situa nesse campo de
recepção crítica da virada praxiológica no Brasil, como já deixamos claro no corpo do texto..
8
A aproximação entre Archer e Bourdieu em torno de uma teoria emergentista da ação é mais do que possível (Elder-Vass,
2007) e nos parece sugerida pela própria Archer como tarefa desejável.
9
Nesse contexto, a relação intelectual de Archer (2011) com os dois autores é exemplar, ao aproximar criticamente os
conceitos de habitus e reflexividade, bem como a de Ortner (2006) em relação a Geertz e Giddens, aproximando os conceitos
de agência, subjetividade e poder.
8

Na década de 1980, consolidou-se a ideia de um novo movimento teórico, para se usar


a expressão consagrada elaborada por Jeffrey Alexander (1987), centrado nas tentativas de
síntese de autores como Bourdieu, Giddens, Habermas e Luhmann, dentre outros (Véran e
Vandenberghe, 2016, p.9). Além desses autores, Archer, Alexander, Beck, Bhaskar, Collins,
dentre outros, também podem ser incluídos nesse movimento marcado pela procura de
“superar de maneira sistemática a oposição entre o micro e a macrossociologia que dividiu a
sociologia pós-parsoniana desde o pós-guerra (Vandenberghe, 2006, p.317). Os debates entre
fenomenologia, estruturalismo e dialética dominaram esse cenário que viria a ser o marco
para os subsequentes discursos pós-bourdieusianos das novas sociologias, de um modo ou de
outro, impactadas pelo legado da sociologia crítica de Bourdieu, formando uma família
disfuncional (Vandenberghe, 2016b) e acrescentaríamos, por vezes, ingrata diante das
contribuições deixadas pelos mestres, pois, afinal, como argumenta Robbins (2007), o projeto
de uma sociologia reflexiva, com seus esforços de desconstrução e construção do próprio
campo intelectual das ciências sociais, constitui uma herança filosófica, científica e
democrática considerável.

A re-emergência da questão da prática

Antes de detalhar o modelo conceitual de agência subjetiva em rede, torna-se


necessário reabrir a caixa-preta da questão da prática na teoria contemporânea. Admitindo-se
que as abordagens das ciências sociais são plurais e abertas à contestação e à objeção - quanto
mais contestação e objeções houver, melhor para os trabalhos - consideramos relevante
argumentar sobre a linha aqui sugerida baseada na tríade conceitual agência, subjetividade e
rede como tributária da virada praxiológica (Bourdieu e Giddens) e da influência que a
sociologia das configurações (Elias) exerceu sobre a teoria da prática em geral. Nesta seção
do texto, essa tríade teórica (Bourdieu, Giddens e Elias) representa uma espécie de “fio
condutor” para chegarmos ao nosso objetivo na próxima seção onde iremos propor os termos
do modelo interpretativo anunciado pelo título do artigo.

A morte de Pierre Bourdieu em 2002 é um divisor de águas para a sociologia


contemporânea. Foi uma perda para o campo intelectual das ciências sociais no contexto
internacional e principalmente em alguns países, como no Brasil, onde a recepção da obra de
Bourdieu foi decisiva para os rumos da formação teórica de gerações de cientistas sociais
(Bortoluci et al., 2015). Após sua morte, seu pensamento sociológico se consolida
9

internacionalmente como mainstream sociology, embora alguns elementos de sua teoria já


fizessem parte, desde a década de 1970, de uma established sociology. Contudo, leituras
alternativas de Bourdieu podem ainda ser estimuladas com deslocamentos e revisões críticas,
como sugerem Lopes (2013), Ortiz (2013) e Miceli (2003). Essa recepção brasileira reverbera
uma situação de recepção internacional na qual estudiosos da teoria social contemporânea
vêm rediscutindo o legado das realizações científicas deixadas por Bourdieu nos campos da
sociologia e antropologia (Wacquant, 2002; Catani, 2013, 2017). Surgem posições divergentes
em torno da herança teórica de Bourdieu, emergindo perspectivas e abordagens que
poderíamos classificar como as “com Bourdieu” e as “contra Bourdieu”, as “com e contra
Bourdieu”, dentre outras combinações possíveis, pois há também os anti-Bourdieu.
Práticas, redes, campos, sistemas sociais e historicidade da vida social são categorias
centrais nas produções destes autores e que ilustram bem como as produções deles ainda
podem ser entendidas como grandes referências para a sociologia hoje (o que pode ser
constatado até mesmo quando, ao serem abordadas como objetos de crítica10, estas geram
fecundas discussões teóricas, epistemológicas e metodológicas11) elas apontam para
perspectivas de análise que visam a superação da antinomia entre objetivismo e subjetivismo
como problema nevrálgico da teoria social e que parecem ter influenciado as apropriações e
os desdobramentos teóricos realizados por eles, abrindo também caminho às “novas
sociologias” (Peters, 2013).
Nesta mesma paisagem da teoria sociológica, sendo um integrante das gerações mais
velhas, Norbert Elias se destacou como um dos precursores na tentativa de problematizar a
antinomia entre indivíduo e sociedade, inclusive procurando demonstrar que é possível
analisar sociologicamente permanências e mudanças em diferentes contextos históricos
quando se busca investigar interdependência entre os sujeitos e equilíbrio flutuante das
tensões (cf. Chartier, 2001).

10
Para citar um exemplo de problematização de conceitos consagrados destes autores que dá origem a discussões fecundas,
destacamos a crítica que Bernard Lahire (2003) faz ao habitus em Bourdieu ao questionar seu valor enquanto ferramenta
para captar diferenças comportamentais em indivíduos de uma mesma origem social. Lahire propõe, para resolver o que
considera portanto um problema, um método próprio de coleta e análise de dados que se baseia em entrevistas feitas ao
mesmo indivíduo que duram horas, ocorrem no decorrer de semanas e abordam temas diferentes.
11
Críticas como as de Lahire (2003) ao conceito de habitus bourdieusiano geram reações que por sua vez trazem mais fôlego
ao debate teórico, como a de Louis Pinto (2009) que questiona se o objeto da sociologia não se encontra sob risco de ser
perdido ao se potencializar o que ele considera negativamente tendências de multiplicar infinita e inutilmente o indivíduo.
Pinto destaca ainda que o habitus conforme pensava Bourdieu nunca teve a pretensão de reduzir indivíduos a seres que não
apresentam diferenças de disposições ou diferentes intensidades em suas disposições.
10

Giddens figura como uma espécie de cânone na cena da sociologia contemporânea


trabalhando com um esquema teórico de síntese e mediação crítica frente aos dualismos
presentes nas tradições clássicas da teoria social. Giddens é reconhecido por sua renomada
elaboração analítica estritamente teórica oferecendo um importante arcabouço para investigar
“a continuidade ou transmutação de estruturas” (2003, p. 29). Em sua proposta, Giddens
compreende a constituição da sociedade a partir da noção de “dualidade da estrutura”, iremos
recorrer mais adiante ao entendimento desta significativa proposição que compõe o núcleo
central do projeto de abordagem teórica gidennsiano e que funciona como modo de
estruturação do social.
Desse modo, Bourdieu, Elias e Giddens são considerados autores da sociologia
pertencentes ao mesmo paradigma de ciência social relacionista, que se pensa a partir da rede
de relações. Primeiro porque eles partilham do interesse crítico nos “velhos” dilemas
presentes nos pressupostos epistemológicos da teoria social clássica. Segundo porque, como
já descrevemos, elaboram sínteses e objetivam uma análise alternativa à perspectiva dos
dualismos12: micro-macro; agência-estrutura; sujeito-objeto; individualismo-holismo. Terceiro
porque representam estilos de problematização e interpretação do mundo social que podem
ser apreciados tanto do ponto de vista dos movimentos de viradas epistêmicas como da
perspectiva de seus contrapontos e aproximações metodológicas.
A partir desse núcleo teórico que são os estudos da teoria social, conforme aponta
Hans Joas e Wolfgang Knöbl (2017), nos concentramos em compreender como a teoria social
contemporânea mobilizou os conceitos de rede, agência e subjetividade. Partimos do
pressuposto que como propostas teórico-metodológicas essas categorias inauguram modelos
analíticos de entendimento do mundo social e reelaboram perspectivas sobre a dinâmica
epistêmica de reflexividades no contexto de um novo paradigma no campo das ciências
sociais, assim como continuam contribuindo para pensar abordagens e perspectivas de
realização de pesquisa sociológica fundamentada na prática do raciocínio etnográfico como
modo de seguir as redes para onde elas levam (Beaud e Weber, 2015).
Consideramos que a ideia de agência humana só existe configurada e incorporada
pelos indivíduos no tempo-espaço (Elias, 1994; Bourdieu, 2011; Giddens, 2018). É por meio

12
A nível introdutório neste ensaio e em tom provocador, vale ressaltar com relação à crítica aos dualismos, que Bourdieu
chamou de “totalmente fictícia” (BOURDIEU, P.; CHARTIER, R. , 2011, p. 58, tradução nossa) a “oposição entre indivíduo
e sociedade”, declarando ainda que desde sua juventude teve oportunidade de se “construir” às vezes com Sartre e às vezes
com Lévi-Strauss, dinâmica que lhe fez aprender a pensar com e contra os dois.
11

dessas elaborações teóricas e metodológicas que a teoria social contemporânea figura como
projeto científico que trabalha especialmente com o paradigma da (inter)subjetividade
humana. Seu ponto de partida e reflexão é um tipo de filosofia moderna como objeto de
crítica. Uma filosofia do “eu”, isto é, uma filosofia da consciência, mas também da ação
racional ligada à ideia de um sujeito isolado. Um remédio para esse problema foi a elaboração
a partir dos anos 1930 na teoria sociológica do “self” (Joas e Knöbl, 2017), não aceitando
mais essa ideia de um sujeito isolado.
O núcleo da composição das ideias apresentadas até aqui passa pelo reexame do que se
pode entender por agência. A agência pode ser entendida como a capacidade de atuação
humana de transformar contextos. É preciso considerar que, mesmo com as condições
objetivas que envolvem as determinações relativas das vidas dos indivíduos, se não existissem
possibilidades de transformação só haveria redundância sem inovação, o que não é factível. A
subjetividade, conceito que mantém uma relação muito próxima com o conceito de agência,
pode ser pensada como algo intersubjetivo, que se encontra enraizado em contextos históricos
de comunicação simbólica compartilhada por sujeitos interligados em redes.13
Esse modo de pensar nos aproxima de autores que propõem mais trocas intelectuais
que aproximam noções como mundo social, campo social e rede social (Bottero e Crossley,
2011), vendo nisso um passo além das visões que exageram nas incompatibilidades. A própria
sociologia genética do poder simbólico pode ser lida como um movimento em direção a
questões mais amplas atinentes às condições existenciais da vida social humana (Peters,
2012), escapando assim um pouco dos cativeiros do sociologismo que tanto nos atrapalham
na busca por uma concepção antropológica mais compreensiva (Velho, 1995, p.40).
Tanto a teoria do habitus de Bourdieu (2011), como a teoria da estruturação de
Giddens (2018), quanto a teoria da rede humana de Elias (1994) se chocam contra a ilusão do
individualismo do homo economicus, contestando a ideia de definir o sujeito como um
indivíduo racional autônomo, movido unicamente por suas preferências e escolhas próprias,
movido por autointeresse racionalizador. Para os sociólogos relacionistas, não há como pensar
um sujeito prévio, universal e a-histórico, preexistindo independentemente das relações
sociais constitutivas da própria individualidade humana, o que envolve poder, conhecimento e

13
Ou seja, os indivíduos existem e atuam dentro de fluxos contextuais que os enquadram e os constrangem, mas não são
entidades discretas específicas preexistentes às redes de relações que os produzem, sendo a relação entre o psíquico e a
socialidade de interpenetração. Por isso mesmo, Elias se preocupa em encontrar conexões entre “mudanças específicas na
estrutura das relações humanas e as modificações correspondentes na estrutura da personalidade” (ELIAS, 1993, p. 195).
12

conflito.14 Para os três pensadores, a estrutura do mundo social corresponde a uma rede de
relações numa dupla objetividade do social que é também uma dupla estrutura, onde o
relacional é a conexão entre duas emergências, a individualidade e a socialidade.15
A forma como estes teóricos dão ênfase ao tema das redes possuem particularidades.
Bourdieu, por exemplo, ao se ocupar com uma estrutura do espaço social entendida como
uma rede de relações, desenvolve a teoria dos campos sociais para lidar com a diferenciação
da modernidade em microcosmos (2011, p. 108). Isso o faz dedicar-se ao estudo de redes
conectadas entre si por uma estrutura da rede mais ampla, o espaço social. Em Norbert Elias,
para quem as redes são refletidas com maior ênfase em termos de uma sociologia histórica e
configuracional (1994, p.38), a rede não pode ser pensada sem um modelo do processo, o que
não significa recair no evolucionismo da teoria clássica. Assim, para além de uma rede de
indivíduos, a teoria de Elias ressalta a existência e o funcionamento de uma rede mais
complexa (uma rede entre redes), tendo se dedicado ao estudo de longa duração disso como
processo histórico, considerado como não linear, não intencional, multidimensional,
complexo e que poderia levar tanto a contextos de realização como de desrealização do social.
Seguindo uma linha de reflexão praxiológica, Bourdieu considera não procedentes as
oposições que dividem a ciência social entre o subjetivismo e o objetivismo, afirmando que
“uma ciência do mundo social não pode se reduzir nem a uma fenomenologia nem a uma
física social” (Bourdieu, 2011, p.43). De modo semelhante, Giddens afirma que “a tarefa
premente que confronta a teoria social hoje não é favorecer a eliminação do sujeito: mas, ao
contrário, promover uma recuperação do sujeito sem cair no subjetivismo” (Giddens, 2018,
p.54). Desta forma, ele considera que não se pode presumir que o sujeito seja inteiramente
determinado pelo objeto, pois assim o indivíduo apenas seria moldado pela sociedade, o que
reduziria a subjetividade social à condição de mero produto das forças sociais gerais e
estruturais. Ao mesmo tempo argumenta que não é razoável defender a ideia de que a
subjetividade seja algo garantido como característica inerente dos seres humanos, pois isso
levaria à conclusão de que o subjetivo não admite qualquer tipo de análise social (Giddens,

14
Pode-se dizer que tratam-se de três autores que estabelecem como pano de fundo de suas reflexões críticas a questão de
como superar a dicotomia entre determinismo sociológico e liberdade individual e cada um deles procura dar resposta a isso
seguindo estilos próprios de problematização.
15
Existem redes mais amplas, ligadas às determinações da história social de longa duração (como a do capitalismo histórico)
e existem redes de médio alcance ligadas às conjunturas dessas dinâmicas mais amplas que não se sustentam se não forem
movidas por contingências. Há também eventos de curto prazo que são intervenientes decisivos nas reestruturações do social.
Assim, seria “tarefa da sociologia” (ELIAS, 2001, p. 215) investigar como os indivíduos se ligam e “a partir de que motivos
o mecanismo das interdependências humanas assume determinada conformação específica em cada fase”.
13

2018, p.126). Desse modo, procurando entender o que é a sociedade, como ela se organiza e
se transforma, Elias (1994) recusa o modelo de explicação racional teleológico, mostrando as
limitações de uma teoria que busque explicar os processos sociais a partir, unicamente, das
decisões dos indivíduos, criticando também concepções teóricas de sociedade baseadas em
esquemas interpretativos que se aproximam das ciências naturais e tendem a ver a sociedade
como um organismo no qual a ação dos indivíduos não possui relevância na produção e
reprodução do social.
De acordo com o próprio Giddens (2018) o que o motivou a desenvolver a sua teoria
da estruturação foi um conjunto de problemas nas ciências sociais sobre a teoria da ação. O
autor critica concepções funcionalistas16 e estruturalistas por darem prioridade ao objeto sobre
o sujeito comprometendo uma compreensão da capacidade de agência humana ao
apresentarem a primazia da estrutura para a explicação da ação. Segundo Giddens (2018),
para se alcançar uma explicação mais completa e fundamentada sobre a conduta humana
deveria-se, em primeiro lugar, se apropriar metodologicamente de uma teoria do sujeito que
atua e situa a ação no tempo e no espaço, considerando a conduta como um fluxo contínuo, ao
invés de tratar razões e propósitos como algo agregado. Assim, seria possível relacionar uma
noção de “ação humana” a uma explicação estrutural na análise social, sendo necessário
desenvolver uma teoria do agente humano ou do sujeito que esteja relacionada com a
descrição das condições e das consequências da ação e que, simultaneamente, conduza a uma
interpretação da “estrutura” como algo que se articula tanto com as condições quanto com as
consequências.
Giddens (2018) rejeita a noção de estrutura como uma barreira à ação, preferindo vê-la
como algo que está fundamentalmente envolvido com a produção da ação, apontando assim
para uma relação de mútua dependência entre estrutura e ação. Dessa forma, por mais que
todo processo de ação possa ser entendido como a produção de algo novo, todo ato novo se
desenvolve em continuidade com um passado que fornece os meios para que seja possível um
novo início. A força social da presença do passado na ação e na conduta do indivíduo é algo
também enfatizado por Bourdieu, que entende o habitus como produto da história responsável
pela função de produzir “as práticas individuais e coletivas, portanto da história, conforme aos

16
Nesse sentido, vale lembrar que já na década de 1930, quando começou a elaborar sua concepção de sociedade com base
em teias de interdependência que constituíam figurações, Elias teceu consideráveis críticas ao modelo teórico de Talcott
Parsons, destacando o sociólogo americano como o nome mais eminente daquelas que chamou de “teorias sociológicas
predominantes” (2001, p. 56) da época e acusando Parsons de ter feito um “abismo imaginário entre o indivíduo e a
sociedade” e sem criar “nenhum modo de atravessá-lo”.
14

esquemas engendrados pela história”, garantindo assim “a presença ativa das experiências
passadas” (Bourdieu, 2011, p.90). Em correspondência a essas ideias, a discussão de Norbert
Elias assinala “que cada ser humano é criado por outros que existiam antes dele”, embora
“isso não significa nem que o indivíduo seja menos importante do que a sociedade, nem que
ele seja um ‘meio’ e a sociedade um ‘fim’ ”(Elias, 1994, p.19).
Visando superar dois dualismos que estavam tradicionalmente estabelecidos na teoria
social (um, o dualismo do indivíduo e da sociedade ou do sujeito e do objeto e o outro o
dualismo entre os modos conscientes e inconscientes de cognição), Giddens propõe a troca
destes pelo conceito de dualidade da estrutura, no qual a estrutura, ao mesmo tempo em que
influi na constituição dos agentes e das práticas sociais, atua nos momentos em que é gerada
essa constituição. Essa compreensão dual da estrutura permite evitar análises sociais que se
restringem de forma específica na consciência ou atividades do indivíduo (sujeito), assim
como, de modo específico nas que se limitam a considerar apenas as características da
sociedade (objeto). Para a teoria giddensiana, “desprezar a reprodução de regularidades na
prática torna impossível determinar como as propriedades estruturais resistentes são geradas e
mantidas”, ao passo que, “inversamente, desprezar as propriedades estruturais torna
impossível determinar as circunstâncias que os agentes requerem para reproduzir tais
regularidades” (COHEN, 1999, p. 418).
Na teoria de Bourdieu, a categoria de habitus traduz no nível teórico o significado do
tema da agência em alternativas ordinárias, como “do determinismo e da liberdade, do
condicionamento e da criatividade, da consciência e do inconsciente ou do indivíduo e da
sociedade” (2011, p. 91). Vale salientar, que o próprio Giddens (2018, p. 212) aponta uma
aproximação entre seu conceito de dualidade da estrutura e o conceito de habitus, o qual
tende a ver as estruturas objetivas como produto de práticas históricas que seriam
constantemente reproduzidas e transformadas através de práticas sociais realizadas pelos
agentes por meio de conhecimentos práticos compartilhados por um grupo de indivíduos ou
por uma comunidade mais ampla de agentes. Assim, surge a famosa expressão teórica do
habitus como “estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes”
(Bourdieu, 2011, p.87). Também nesse sentido, Elias destaca que a “interdependência dos
15

valores restringe a possibilidade de que um homem singular cresça sem que os juízos de valor
da sociedade venham a fazer parte de seu próprio ser” (2001, p. 94)17.
Na teoria giddensiana, o sujeito deve ser pensado a partir do que ele chama de modelo
de estratificação da personalidade, o que resulta em três conjuntos de relações que podem ser
desenvolvidas: inconsciente, consciência prática e consciência discursiva. Dessas três, se
considera a consciência prática um aspecto essencial da teoria da estruturação, pois “os
agentes sociais estão bem informados sobre os sistemas sociais que constituem e reproduzem
em sua ação” (Giddens, 2018, p. 16). Este conhecimento dos sistemas sociais pode existir de
modos diferentes, seja, por exemplo, na forma de fontes inconscientes de cognição (embora
este autor critique concepções que no seu entender exageram no papel do inconsciente como
fator explicativo das ações humanas, ele ressalta que os componentes de motivação da ação
congregam aspectos conscientes e inconscientes de cognição e de emoção), na forma de
consciência prática ou na forma de consciência discursiva (Giddens, 2018, p.73).
É possível visualizar uma aproximação mais evidente entre o pensamento de Giddens
e o de Elias, quando o primeiro discute o problema do poder. Assim como em Elias, em
Giddens, o poder é entendido como algo que se constitui através de uma rede de relações
entre os indivíduos, que os capacita a agir em rede, tendo como característica o princípio da
dualidade. Ou seja, mesmo considerando que um indivíduo esteja bastante subordinado em
uma rede de relações, o fato deste mesmo indivíduo estar envolvido nesta rede de
interdependências figuracionais também o coloca em situações de práticas de exercícios de
poder sobre outros atores sociais e sobre si mesmo. O exercício do poder deve ser entendido
como capacidade transformadora e criativa, que está ligado “às tentativas dos atores de
fazerem com que os outros se conformem aos seus desejos” (Giddens, 2018, p. 100). Para
Giddens, além de incorporar o poder como parte integrante da constituição das práticas
sociais, uma teoria da ação necessita desenvolver uma teorização das instituições e fazer
18
também a incorporação da temporalidade na compreensão da atuação humana. Em Elias

17
Segundo Elias, não é possível que “um homem saudável” apresente em algum ponto uma “discrepância absoluta entre a
imagem que ele faz de seus valores, ou dos valores a que seus esforços se dirigem, e o fato de essa imagem ser ou não
confirmada pela atitude de outros homens” (2001, p. 94). Para ele, é o foco do pesquisador nos processos sociais que pode
ajudar a entender que as figurações não constituem estados de repouso da sociedade, estando esta sempre em movimento e
jamais podendo ser compreendida como algo estático e isolado dos indivíduos (Elias, 2011, p. 214).
18
Bourdieu (2011) também enfatiza que tempo e espaço são elementos fundamentais para a compreensão da construção das
práticas e a análise destas sem levar em conta a ação do tempo pode acabar reduzindo os agentes a suportes da estrutura. Para
Bourdieu (2012), a experiência de um espaço social está situada tanto em estruturas espaciais como em estruturas mentais em
homologia, que são produtos de uma história incorporada e de um lugar já nomeado mas que pode nomear. Nesse sentido, os
espaços são fisicamente objetivados e refletem a ordem das relações sociais inscritas em jogos de reconhecimento e poder.
16

(2018), poder e agência se relacionam e precisam ser pensadas dentro das redes de relações
entre os atores, considerando diferentes possibilidades de ação que derivam das posições que
cada um ocupa dentro de uma configuração. Embora Elias utilize frequentemente conceitos
marcantes de sua própria autoria, esta forma de visualizar a relação entre agência e poder
indica aproximação considerável com o pensamento de Giddens, já que na teoria do
britânico “os modos pelos quais os agentes aplicam seu conhecimento a respeito da
manipulação dos recursos a que têm acesso para reproduzir a sua autonomia estratégica
relativamente às ações dos outros” se dão dentro de um “entrelaçamento de regras e recursos
na conduta institucionalizada” (COHEN, 1999, p. 433).
Com base no que aqui foi exposto, pode-se afirmar que os três autores supracitados
apresentam teoricamente esquemas interpretativos sobre a possibilidade de transformação na
sociedade procurando situar o agente dentro de contextos históricos e sociais, dando ênfase a
perspectivas de sociedade que superem, como já ressaltamos, os dualismos entre “sujeito” e
“objeto” e procurem utilizar uma ótica social que permita compreender a dinâmica do social a
partir das redes de relações, o que diz respeito à ontologia relacional da síntese teórica de
Bourdieu com seu primado da relação também em termos epistemológicos (Vandenberghe,
1999).
A tarefa intelectual por trás da elaboração das categorias de agência, rede e
subjetividade se traduz como esforço que busca ampliar o horizonte teórico da teoria.
Conforme aponta Taylor (2007), os aspectos que estão implicados na noção de agência
humana dizem respeito à capacidade que uma pessoa possui de reflexão, avaliação e exercício
de vontade. Estruturando-se a partir de um campo de motivações, desejos e preferências.
Nessa perspectiva, a capacidade de avaliar desejos é essencial à agência humana. O agente
humano é aquele dotado de uma habilidade de reflexividade e de programar e avaliar seus
desejos de primeira ou de segunda ordem.
Pensar na contemporaneidade na categoria de agência é fundamental na medida que,
como sujeitos sociais , somos todos em alguma medida avaliadores, observadores e agentes.
Todos desenvolvemos, no meio social em que atuamos, o exercício de avaliação e
autoavaliação reflexiva (Taylor, 2007). Bourdieu, afirma que a realidade do mundo social é
constituída por condutas práticas sustentadas por atos de julgamento e classificação das
próprias práticas próprias e alheias. Nessa perspectiva, o julgamento social configura-se como
17

uma das principais características da agência humana, entendendo que a agência é a


capacidade humana de agir sobre situações e definir escolhas.19
Bourdieu propôs uma teoria da agência a partir do esforço de ampliação do conceito
de habitus20. Com a noção de habitus, o autor propõe uma dialética entre as duas formas de
objetividade do social, a instituída e a incorporada. Bourdieu (2011) argumenta de forma
emblemática que as práticas sociais dos agentes incorporam a “dialética do opus operatum e
do modus operandi, dos produtos objetivados e dos produtos incorporados da prática
histórica, das estruturas e dos habitus” (Bourdieu, 2011, p. 87). Nesse contexto, a agência
humana produzida pelo habitus é estruturada mediante esquemas de percepção, de
pensamento e de ação.
Bourdieu (2011) pensa os agenciamentos dentro do campo decisional sem recorrer ao
mesmo tipo de filosofia weberiana da consciência, pois praticados por um processo de
“interiorização da exterioridade”, que em outras palavras, é o que permite que uma força
extrínseca atue sobre os indivíduos de modo subjacente21. Entretanto, esse poder exterior é
exercido de acordo com a lógica inerente aos sujeitos nos quais essas estruturas foram
incorporadas. Dito de outro modo, esses esquemas de “estruturas estruturadas” que
constituem a unidade do “habitus”, não são estruturas “mecanicistas”, são estruturas
estruturadas que funcionam como “estruturas estruturantes” atuando de forma duradoura e
sistemática. Mediante essa perspectiva, Bourdieu tece críticas ao “determinismo mecânico”
que pensa a ação absoluta das estruturas sobre os agentes. O “habitus” constitui-se como
princípio gerador de práticas (Bourdieu, 2011, p.91). Mas não se deve confundir a crítica de
Bourdieu ao objetivismo estruturalista com a sua defesa teórica do determinismo sociológico
(Peters, 2014).

19
Giddens se alinha a Bourdieu ao afirmar que todo agente também se constitui em seu mundo social como “teórico prático”
dado sua capacidade recursiva que se realiza mediante o acionamento de capitais (Bourdieu, 2011), ou nas palavras do
próprio sociólogo britânico, de estoques de conhecimento que incidem sobre monitoramento reflexivo da conduta (Giddens,
1996; 2018).
20
O habitus em Bourdieu (2011) é uma história incorporada de esquemas de percepção, avaliação e ação, que implica os usos
sociais de um sistema de regras e normas aberto às contingências a partir das experiências e aprendizados passados. No
esquema disposicional, estão inscritas tanto forças exteriores aos indivíduos como forças agentivas que podem ser entendidas
como as motivações inconscientes e conscientes que surgem em determinadas situações sociais.
21
Neste sentido é possível encontrar proximidades entre o conceito de habitus em Bourdieu e a teoria de Elias, haja vista que
este último defende que a “interdependência constitutiva dos juízos de valor emitidos por muitos indivíduos numa sociedade
torna difícil, senão impossível, para os homens singulares a busca de consumar seus esforços e empenhos” (Elias, 2001, p.
94) de uma forma em que “não lhes ofereça oportunidade alguma, no presente ou no futuro, de gerar recompensas na forma
de atenção, reconhecimento, amor, admiração, em suma, na forma de uma confirmação e elevação de seus valores aos olhos
dos outros.”
18

A ideia de habitus em Bourdieu (2011) confere um olhar mais complexo sobre a teoria
da prática pela qual se apreende o que há de melhor tanto na “abordagem objetivista” quanto
na “subjetivista”, produzindo uma compreensão de tipo dialético e reflexivo, sendo o habitus
aquilo que opera como matriz disposicional de uma arte de inventar nas margens da
elasticidade estrutural do campo, há relações de tensões e conflitos inerentes a essas margens
(fronteiras simbólicas). O habitus é o que atribui à prática uma dependência relativa. Nesse
sentido, Bourdieu pensa a constituição da agência a partir da definição de uma relativa
autonomia, mediada por essa espécie de matriz histórica que é o próprio habitus como campo
social feito corpo (Bourdieu, 2011, p.93), desfazendo as querelas da falsa oposição entre
agente e estrutura e explicando que existem “duas objetivações da história, a objetivação nos
corpos e a objetivação nas instituições ou, o que dá no mesmo, dois estados de capital,
objetivado e incorporado” (Bourdieu, 2011. p. 93). Dessa forma, o investimento de Bourdieu
integra de forma paradigmática uma “dialética das disposições expressivas e dos meios de
expressão instituídos” (Bourdieu, 2011. p. 94). 22
A agência é constituída também pelo trabalho de aquisição de capitais simbólicos. É
importante acrescentar que toda história incorporada é também a história de um campo de
relações de poder. O campo é o espaço social onde ocorrem as disputas e lutas sociais e
relações de poder entre os agentes, sendo o lugar dos agenciamentos, das concorrências, dos
jogos de poder e das disputas e lutas simbólicas (Bourdieu, 2011). Com a agência alicerçada
agora também na noção dos campos sociais, pode-se afirmar segundo Bourdieu que é
mediante a estrutura social do campo, como microcosmo do espaço mais amplo, que os
agentes lutam e reconhecem o poder da aquisição dos capitais simbólicos (Bourdieu, 2011,
p.196)23.

22
No cerne da questão da agência em Bourdieu, encontra-se também a ideia de hexis. Para Bourdieu é central compreender a
prática tomando a hexis corporal como locus de estrutura de disposições. É, sobretudo, a partir das expressões corporais dos
agentes, dos seus atos, posturas, gestos e movimentos que é possível realizar um real estranhamento das estruturas
socioculturais historicamente naturalizadas. É na movimentação dos corpos e em seus jogos de linguagem que reside a
reativação prática da prática, sua produção e reprodução. O corpo é objeto de investimento dos esquemas de percepção,
avaliação, pensamento e ação. É nele de modo geral, assim como em determinadas partes dele, que é “capitalizado” ou
incorporado uma série de esquemas de estrutura (técnicas, recursos, traços, delineamentos, táticas, programas), ou seja, o
corpo é arranjo disposicional, lugar e condição de realização ininterrupta da própria agência que se constrói a partir de
processos de inculcamento (Bourdieu, 2011).
23
A teoria dos campos de Bourdieu ajuda a dissipar compreensões do habitus como algo que determinaria a agência, haja
vista que o próprio sociólogo francês explica que os conceitos se relacionam e se influenciam na prática, pois “o
funcionamento de um habitus não depende só de sua natureza intrínseca, mas também do lugar no qual ele é exercido; e que,
se o campo é outro, o mesmo habitus produz efeitos diferentes" (BOURDIEU, P. ; CHARTIER, R., 2011, p. 79, tradução
nossa).
19

Em vista disso, pode-se falar do capital simbólico como um tipo de capital de honra,
um capital de reconhecimento por meio do qual se torna possível agenciar e ser agenciado nas
lutas classificatórias. É também com esse recurso de um sistema simbólico em uso que os
agentes sociais forjam e tecem as redes (Bourdieu, 2011, p. 198). Em consonância com o
conceito de redes de Elias também baseado na ideia de que aquilo que é moldado socialmente
também é capaz de moldar (Elias, 1994, p.52). O que Elias propõe a partir desse modelo de
reflexão é a tentativa de pensar os modos de socialidade humana como construções
autointegrativas que se constituem simultaneamente24.
Elias trabalha com a ideia de configurações das relações sociais a partir da figura das
redes. Para Elias é fundamental, nesta discussão, compreender que existe um processo de
formação histórica das sociedades humanas. Pensar, portanto, nos processos civilizadores
constitui um dos pontos centrais porque permite ao pesquisador empreender uma
macroanálise das transformações socioculturais, na medida que se pode também adotá-la
como uma orientação e estratégia metodológica, com a qual é possível realizar uma
“sociogênese” das práticas culturais, das mudanças dos habitus de classe e das formações de
novas estruturas da personalidade. Percebendo o indivíduo nas figurações sociais, o esquema
teórico de Elias nos ajuda no esforço de construção de nossos objetos de estudo em redes de
relações, em configurações e em movimentos de mudança interna e externa. Longas e médias
cadeias temporais e processuais. Indicando com isso que os cientistas sociais precisam
inscrever a construção de seus objetos sociológicos nos movimentos processuais, a partir da
articulação de uma sociogênese e de uma psicogênese.
As redes (no plural) para Elias (1994) dão o próprio suporte ao social. Elas são
mediadoras dos fluxos de ações e relações sociais. É a partir delas e com elas que estamos
inseridos em uma dinâmica de figurações e funções de interdependência. Não há, portanto,
indivíduo totalmente desvinculado do social, assim como, não há um social fora dos
indivíduos, sendo ambos indissociáveis. De acordo com Elias (1994, p.22) as estruturas
sociais e as estruturas da personalidade individual estão intrinsecamente articuladas.
Ou seja, as redes com as quais estamos vinculados, são redes de interdependência.
Elas são, nesse sentido, uma teia de relações humanas que estão alinhavadas
permanentemente por pontos de conexão que formam o tecido social. A rede, portanto, é a

24
O que lembra bastante a teoria do sistema autorreferencial de Luhmann (2016), mas isso seria assunto para um outro artigo.
20

trama que circunda o próprio social em atividade contínua. Com a noção de rede, Elias
apresenta uma nova possibilidade metodológica para compreender a complexidade da vida
social, sendo a rede o lugar da trama social. Em A Sociedade dos Indivíduos (1994), Elias
considera o conceito de rede como uma primeira tentativa para romper e desfazer o simulacro
do pensamento que insiste em pensar indivíduo e sociedade de modo como se fossem
realidades ou fluxos estruturais isolados e divergentes um do outro (Elias, 1994, p.35).
O que Elias quer exemplificar, a partir da noção de redes, é um modelo teórico mais
flexível. Nesse sentido, podemos pensar o social como configurações de rede de
interdependências mútuas. Uma teia de indivíduos em situações de codependência. A rede é,
nessa perspectiva, uma nova forma de compreender relacionalmente a complexidade do
social. Ela é uma configuração aberta e reticular. O espaço social é uma rede de redes e por
isso, o conceito de “rede de relações” pode ser tomado como paradigmático porque a rede
torna viável pensar nos arranjos criativos e nas “gambiarras” que podem ser feitas nesse
sistema. Desse modo, é importante ressaltar que a teoria da rede humana se caracteriza como
um dos sofisticados modelos conceituais de acesso ao estudo do real. Ela é, antes, uma das
construções possíveis de acesso à complexidade do real perfilado por redes de redes que estão
localizadas no tempo-espaço como formas configuracionais de vida.
Em diálogo com a caracterização das redes, Anthony Giddens (2018) nos fornece
valiosas contribuições para refletir sobre essa relação tempo-espaço onde se estruturam as
formas de vida social em coletividades e redes. De acordo com suas constatações, a teoria
social não alcançou de modo satisfatório uma análise das interfaces de tempo-espaço.
Segundo Giddens, em termos analíticos, não é satisfatório mobilizar a teoria social apenas
com a noção de uma temporalidade, mas é preciso considerar que toda atividade social se
expressa no entrelaçamento do tempo-espaço, sendo fundamental pensar a vida social e a
conduta dos indivíduos em uma observação circunstanciada e contextualizada no tempo e no
espaço. É nas escalas de tempo-espaço onde a rede de interações e encontros sociais ocorrem
e de fato se realizam. Portanto, é indispensável a investigação sociológica, que tem como
unidade de análise a agência humana incorporar tal perspectiva.
A teoria social tem tomado tempo-espaço como ambiente de encenação das ações
sociais. Giddens (2018) assinala que é necessário posicionar tempo e espaço como núcleo
central da teoria social. Portanto, a agência não é meramente situada no tempo e no espaço,
mas é através do tempo-espaço que se realiza a construção das habilidades agentivas dos
21

sujeitos criativos e atuantes. Tempo e espaço não funcionam apenas como estrutura que
delimita e restringe a ação dos indivíduos, mas que capacitam o agir (Giddens, 2018).
Admitir a existência dessas intersecções exige também considerar que as práticas
socioculturais dos agentes estão localizadas nesses cortes de fluxos de feixes de relações. É
uma estrutura entrecruzada (temporal, paradigmática e espacial) reflexiva e propositiva. Nessa
direção, argumentamos mais uma vez que a perspectiva de Giddens, também como síntese,
propõe primeiro, o abandono do dualismo para forjar uma teoria da agência fundamentada na
noção de dualidade da estrutura. Nesse caminho, o sociólogo britânico pensa a ação e a
atuação social dos agentes como “um fluxo contínuo de conduta”, definindo ação como “[...]
algo que envolve uma corrente de intervenções efetivas ou visualizadas de seres corporais no
processo contínuo de eventos-no-mundo” (Giddens, 2018. p. 65). Desse modo, Giddens
elabora uma teoria contemporânea da ação que articula a agência individual com as
dimensões estruturais da vida social. Nessa perspectiva, o conceito de “estruturação” de
Giddens envolve o de dualidade de estrutura, sendo esta um modo de mudança e construção
da vida social (Giddens, 2018, p.78-79).
A teoria da estruturação de Giddens pode ser entendida como uma teoria social do
agente humano. Sua tese central reside na ideia de que a estrutura é partícipe, ao mesmo
tempo, da construção da personalidade dos indivíduos e das propriedades e princípios da
sociedade. Conforme mostramos anteriormente, agência e atuação estão dialeticamente
conectadas com as estruturas sociais. De acordo com a proposição teórica de Giddens (2018),
todo ator social é dotado de uma capacidade reflexiva e recursiva no meio social que atua e
que se estabelece como uma consciência prática acessada em situações cotidianas. Isso seria o
que Giddens chama de “monitoramento reflexivo da conduta”. Que pode ser ou não
discursivamente elaborado, e que se encontra muitas vezes não estruturado pela lógica de
racionalização da ação. A ação reflexiva é uma ação incorporada. A construção das práticas
socialmente situadas ocorre, portanto, mediante ao uso e reuso dos estoques de conhecimento
que se configuram como um conhecimento mútuo fruto das interações, organizações e
sistemas sociais. Dessa forma, o autor indica que é necessário se debruçar sobre os modos de
consciência prática e consciência discursiva que estão intrinsecamente presentes nas ações,
como já apontamos anteriormente.
A teoria da prática, ao incluir a questão da ação e da agência, é uma teoria para a qual
a dimensão intersubjetiva está inscrita nos fluxos e estruturas do real como contexto de
22

interação que promove mudanças, pois há uma força de estruturação do mundo social que se
realiza pela internalização pelo agente do próprio mundo social em sua incompletude básica.
Nessa perspectiva, a teoria social contemporânea, que se desdobra a partir da década de 1960
com Elias, e, sobretudo, posteriormente com Bourdieu e Giddens, persegue a tentativa de
articular produção, reprodução e transformação como conjunto de uma mesma proposta
analítica. Agência, subjetividade e rede são as categorias que tornam possível identificar e
elaborar uma análise dessas dimensões que envolvem os agentes como sujeitos engajados em
determinados contextos de mundos sociais que os produzem. A matriz disciplinar focada na
análise do domínio das práticas trouxe mais complexidade para a pluralidade de paradigmas25.
Nesse sentido, não existe uma teoria social contemporânea sem pensar na
subjetividade, e nas lutas subjetivas incorporadas pelos agentes. Rede, agência e subjetividade
se revelam como ferramentas metodológicas que imbricadas podem possibilitar novos
investimentos para a pesquisa sociológica. O esforço de organização e sistematização da
teoria social contemporânea hoje se constitui como um dos desafios, tanto às experientes
como às mais novas gerações de cientistas sociais que se lançam em tentativas de construção
de uma artesania sociológica na condução de seus trabalhos de campo, utilizando, sobretudo,
tais aportes teóricos na premissa de construção de abordagens criativas de seus problemas de
pesquisa. Neste sentido, acreditamos que, integradas, essas teorias possibilitam não apenas
uma composição metodológica, mas um modelo interpretativo que permanece válido do ponto
de vista dos seus pressupostos à construção de pesquisas sociológicas preocupadas com as
questões centrais da teoria social, sendo tomados como arranjos epistemológicos que fazem
pensar sociologicamente o real como práticas efetivas, como fluxos de desejo e de crenças.26

Um modelo interpretativo

O desenvolvimento de um modelo interpretativo que seja sensível às questões


entrelaçadas da agência humana, dos processos de subjetivação e da objetivação das relações
sociais e a uma ontologia histórica processual, relacional, baseada na noção de redes de

25
Paradigma no sentido de Kuhn (2013), que marca a história das ciências humanas e sociais.
26
Além disso, esse raciocínio permite ao observador sociológico conhecer e participar de formas de vida a fim de
compreender os jogos de linguagens, as relações de poder, alcançando uma explicação da produção, reprodução e
transformação da sociedade como resultado da atividade social humana e entendendo as estruturas não apenas como
coercitivas, mas como habilitadoras da ação dos indivíduos. Por fim, gostaríamos de pontuar que a perspectiva relacional da
complexidade, da incerteza e das crises sistêmicas passam a caracterizar os princípios que estruturam a episteme da teoria
contemporânea e que esses aportes teóricos (redes, agências e subjetividades) se constituem como ainda como fecundas
ferramentas de pesquisa, o que nos põe na esteira das instigantes provocações de Luhmann (2016), ainda não superadas.
23

relações é uma das mais importantes contribuições dos autores aqui discutidos para a teoria
social contemporânea. Para tanto, todos esses autores tiveram que pensar o entrelaçamento no
contexto da pesquisa face às figurações de relações sociais que se enredam em tramas que
envolvem, por sua vez, (inter)subjetividade, socialidade em rede e ação significante referida a
práticas no espaço heterogêneo da vida social, o conjunto sendo extremamente sensível às
contingências.27

A noção de relacionismo sociológico com a qual estamos operando neste texto é


suficientemente abrangente para incluir autores como Lévi-Strauss, Pierre Bourdieu, Anthony
Giddens, Norbert Elias, Niklas Luhmann, Michel Foucault, Erving Goffman, Gregory
Bateson, Tim Ingold, Marilyn Strathern, Margaret Archer e Bruno Latour. O leitor pode então
se perguntar para que serve uma noção dessas, se ela inclui autores tão diferentes entre si,
díspares e, em alguns casos, antípodas como Bourdieu e Latour, por exemplo. Ao longo do
texto, mostramos que a coerência geral das epistemologias e ontologias relacionais está
centrada na noção de rede de relações. É certo que Latour não concorda com o
neoestruturalismo de Bourdieu, propondo redes num sentido pós-social, e que Archer faz a
crítica da conflação central do relacionismo sociológico de Giddens e Bourdieu e que há
problemas entre a teoria geral do sistema social de Luhmann e a teoria da estruturação de
Giddens em torno da questão da agência e assim por diante. Se juntássemos especialistas
nesses autores citados, dificilmente aceitariam essa extravagância. Tentamos argumentar,
contudo, a favor da produtividade dessa generalização metateórica. Não para neutralizar ou
apagar diferenças e divergências intelectuais da teoria sociocultural contemporânea, mas para
incitar o exercício que é o objetivo do artigo, a saber, elaborar uma imaginação conceitual em
torno do arranjo que nomeamos de agência subjetiva em rede.

A capacidade humana de fazer nascer novos contextos a partir de condições históricas


e socioculturais que determinam de modo apenas relativo o campo do agir (ARENDT) é o
núcleo central da noção articulada aqui como agência subjetiva em rede. A agência envolve
capacidades de se emocionar para o agir, mas também de sentir, imaginar, perceber,
memorizar, fazer, criar, pensar, falar, conversar e também sentir medo (ORTNER), pois as

27
A própria Ortner é um exemplo disso, quando articula agência subjetiva aos modos de percepção, de afeto, de desejo, de
pensamento, mas também de medo diante das formações socioculturais (Ortner, 2006, p.107). Lahire e Archer também
seguem um caminho semelhante, buscando trazer as dimensões de estruturação do social para o plano de uma sociologia em
escala individual (Vandenberghe, 2016a). Já do ponto de vista do relacionismo levado a suas últimas consequências, não se
pode deixar de considerar o esforço tremendo da antropóloga Marilyn Strathern (2016).
24

conflitualidades fazem parte das exigências requeridas para negociar o sentido da vida social
por meio de experiências intersubjetivas com suas estratégias discursivas (BOURDIEU;
HERZFELD).

A agência da subjetividade humana está localizada no espaço relacional de um


conviver cooperativo e conflitivo. Não há um sujeito individual isolado, mas sujeitos que se
constituem na mutualidade, na reciprocidade, na moralidade e na normatividade de uma
socialidade baseada em diferença cultural, atravessada de ponta a ponta pela comunicação
simbólica complexa (LÉVI-STRAUSS), o que implica em uma biossemiótica peculiar
(BATESON), como seres biossociais (INGOLD), implica que os agentes sociais busquem
conservar no espaço relacional com outros seres vivos, com as plantas e outros animais
(DESCOLA), as mudanças configuracionais das redes socioculturais e socionaturais que
habitam, nas quais produzem a si mesmos como organismos, sistemas psíquicos e sistemas
sociais (LUHMANN). Como seres vivos, biossociais, os agentes humanos são orientados de
modo biocultural por seus desejos, preferências, gostos e escolhas (MATURANA).

A experiência subjetiva da corporalidade dos agentes humanos envolve pensamento


simbólico e comunicação linguísticamente mediada em um num processo de
autossocialização em redes de interação e de relações sociais. A escolha do agente social
individual depende da incorporação dos princípios de sentido e valor que orientam as
condutas possíveis de uma rede específica de relações sociais instituída (BOURDIEU). Essas
redes podem ser entendidas como compostas de variados elementos, inseridas em processos e
estruturas históricos, envolvendo sistemas dinâmicos marcados pela conservação do seu viver
na fluidez da sua vida histórica. Isso quer dizer que a experiência subjetiva é
institucionalmente mediada, gerando o caráter duplo da vida social humana (DURKHEIM28;
BOURDIEU).

O social difuso pelos corpos que o descrevem e o social instituído pelas rotinas de
campos de práticas que exigem interações reiterativas e recursividade emocional, cognitiva e
normativa. De um modo resumido, é essa a visão teórica que orienta a discussão que este
texto propõe realizar.

28
Embora Durkheim afirme que a sociologia pode ser definida como “a ciência das instituições, de sua gênese e de seu
funcionamento” (2019, [1895], p. 31) e ele entenda por instituição “todas as crenças e todos os modos de conduta instituídos
pela coletividade”, vale destacar que para ele “ainda que as crenças e as práticas sociais nos penetrem a partir de fora, nem
por isso as recebemos passivamente e sem lhes causar alguma modificação” porque “ao assimilá-las, nós as
individualizamos, damos-lhes mais ou menos nossa marca pessoal”.
25

Os autores que abordamos se interessaram em pensar as interpenetrações de agências


subjetivas no campo de práticas onde a agência do objeto sociológico é condição de sua
própria realização, como autoprodução e autossocialização29. As abordagens relacionistas têm
interesse pelos mundos sociais ou sistemas sociais em relação com o mundo que sejam
pensados como perpassados de agentividades intersubjetivas em redes mais ou menos
flexíveis, o que envolve agência, estruturação e mediação simbólica, sem esquecer as
propriedades estruturais de interação entre os próprios campos em transformação.

Foi a partir de tais intuições gerais que imaginamos ser possível propor, como um
ponto de partida para a pesquisa sociológica, dentre outros possíveis, a vitalidade teórica de
um modelo praxiológico que promove a interpenetração entre as noções de agência,
subjetividade e rede em uma mesma estratégia metodológica de pesquisa, que nunca será a
única, nem deterá o monopólio da escolha30. A retomada de alguns pontos do pensamento
desses autores funciona como pretexto para a construção de uma argumentação que pretende
ir ao núcleo da abordagem sugerida pelo título do trabalho.

Nesse sentido, o núcleo do argumento aqui apresentado pode ser resumido da seguinte
maneira: agentes sociais são corporalidades falantes entre outros corpos falantes e um agente
social individual não existe de modo isolado, é um tipo de eu relacional; na perspectiva
relacionista, os agentes interagem em redes, há redes de indivíduos em situação de
codependência, mas há também redes de redes e uma noção mais ampla ainda de rede de
relações; as agências subjetivas dos indivíduos envolvem potências de agir, capacidades de
criar novos contextos, novas regras que transformam e atualizam as concepções e valores que
não preexistem à performatividade da ação simbólica dos agentes sociais; há nesse jogo social
um duplo processo de subjetivação de relações de poder e de dessubjetivação de relações
sociais; agências subjetivas como efeitos das redes que as produzem são capazes de rearticular
em sentido transformador os modos de existência conectados às redes que passam a ser
estruturadas pela força de estruturação de agências subjetivas posicionadas em condições de
fazer o deslocamento para as novas regras; os agentes sociais como objeto das redes atuam

29
Como diria Luhmann (2016), um autor, a nosso ver, injustiçado quando acusado de desconsiderar a agência em seu
modelo, a questão é que há agência sistêmica, mas isso é uma pista para outro texto.
30
Neste sentido, compactuamos com Elias quando este afirma que “nenhuma teoria e nenhum modelo, em qualquer campo
de pesquisa, pode ter a pretensão de ser definitivo e absoluto” (ELIAS, 2001, p. 59). Não pretendemos apresentar um modelo
completo, total ou final, o que seria contraproducente e entraria em contradição com a própria abordagem discutida, mas
alimentar a problematização e a imaginação conceitual de cientistas sociais para a produtividade da apropriação intelectual
em torno de tais ideias. Pensamos que estamos mais realizando uma propedêutica para alimentar discussões.
26

como agências subjetivas de reprodução/transformação das redes, ou seja, como


intersubjetividades em redes socioculturais e políticas, que podem ser pensadas como
configurações, mundos sociais, campos sociais implicando os mais variados contextos de
interação social entre agentes e seus agenciamentos de poder, desejos, crenças e moedas. Esse
seria um resumo do modelo interpretativo que consideramos provocativo ainda hoje.

Refletir, portanto, sobre a articulação entre as noções de agência, subjetividade e rede


nos quadros da sociologia contemporânea, propondo-a como metodologicamente relevante
por oferecer uma sofisticada ferramenta conceitual para a pesquisa empírica, é uma linha de
raciocínio dentre várias possíveis e potencialmente interligadas no universo plural da teoria
sociológica. Deste modo, vale ressaltar que discutir agência, subjetividade e rede não exclui
discutir interação, organização e sistema, por exemplo. Estas são discussões que se
pressupõem no quadro mais amplo da teoria social.

Estamos argumentando igualmente a favor da produtividade de uma ferramenta


metodológica capaz de guiar esforços de pesquisa para lidar com agentes em redes de relações
que envolvem compartilhamento intersubjetivo de conhecimentos práticos e teóricos no
contexto da interação social, da organização e do espaço social mais amplo. Apresenta-se uma
imagem sobre como articular esses níveis de observação e análise, partindo de uma estratégia
interpretativa baseada no relacionismo sociológico e na abordagem praxiológica.

Considerações finais
Os autores de teoria sociológica contemporânea, que foram mobilizados neste artigo,
como inspirações conceituais, para o desafio de pensar agência subjetiva em rede, podem
confluir analiticamente a despeito das diferenças teóricas que os distinguem. Se aferrar à
hiperespecialização na teoria sociocultural seria impeditivo e contraproducente, pois
transformaria o conjunto de autores das ciências sociais em quadros incomunicáveis de
pensamento. Entendemos que pensar, nessa confluência de autores, a categoria composta de
subjetividade agentiva na objetividade do social, ou seja, como uma espécie de pano de fundo
das práticas sociais como campo de historicidade, é uma tarefa intelectual válida. Abordagens
dialéticas, fenomenológicas, hermenêuticas, estruturalistas, pós-estruturalistas, dentre outras,
estão enredadas em disputas teóricas que não nos impedem de transitar criticamente entre
elas. Seriam as práticas de subjetivação entendidas como objetivações sociais em um sentido
27

recursivo e dialético à questão central da análise da agência do objeto, ou seja, da agência nos
sistemas sociais. No entanto, não se trata, necessariamente, de um movimento de substituição
das estruturas objetivas pelas estruturas subjetivas, mas em uma articulação mediadora dessas
instâncias simultaneamente constituidoras e constituintes do social. Bourdieu, Elias e Giddens
compreendem a existência de dimensões complexas no estudo da sociedade moderna e
contemporânea. Foi nesse sentido que esses autores ampliaram os pressupostos teóricos e
metodológicos da teoria, tendo em vista elucidar o problema da subjetividade humana. As
subjetividades são derivações/produções da ordem simbólica e figuram como uma
objetividade da ordem simbólica, ou como diria Bourdieu, faz parte de um sistema de
classificação, um sistema simbólico. Todavia, a intersubjetividade, mesmo como um campo já
nomeado na objetividade do social, não perde sua capacidade de estruturação desse próprio
campo, tem capacidade performativa, agentiva, criativa e contestadora.

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