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UEPB - Universidade Estadual da Paraíba

Disciplina: Antropologia jurídica

Docente: Esley Porto

Discente: João Felipe Santos Ferreira – 20222220042


FICHAMENTO DE RESUMO
Referência:
BÔAS FILHO, Orlando Villas. A ANÁLISE ANTROPOLÓGICA NO ÂMBITO DOS
ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS: aportes para a construção de um campo interdisciplinar.
Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 9-38, jul. 2018.

BÔAS FILHO, Orlando Villas. A constituição do campo de análise e pesquisa da


antropologia jurídica. Prisma Juridico, [S.L.], v. 6, p. 333-350, 31 jul. 2007. Universidade
Nove de Julho. http://dx.doi.org/10.5585/prismaj.v6i0.1149.

BÔAS FILHO, Orlando Villas. DESAFIOS DA PESQUISA INTERDISCIPLINAR: as


ciências sociais como instrumentos de ⠼vigilância epistemológica⠽ no campo dos estudos
sociojurídicos. Rei - Revista Estudos Institucionais, [S.L.], v. 5, n. 2, p. 530-558, 6 out.
2019. Revista Estudos Institucionais. http://dx.doi.org/10.21783/rei.v5i1.301.

BÔAS FILHO, Orlando Villas. O desenvolvimento dos estudos sociojurídicos. Revista da


Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, [S.L.], v. 113, p. 251-292, 5 ago. 2018.
Universidade de Sao Paulo. Agencia USP de Gestao da Informacao Academica (AGUIA).
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2318-8235.v113i0p251-292.

O objetivo desses artigos é trazer uma discussão a respeito da antropologia jurídica, onde
tem seu inicio, seu objeto de estudo e sua metodologia, também uma discussão a respeito da
interdisciplinaridade da antropologia e das ciências jurídicas.
Inicialmente de acordo com o artigo ―A ANÁLISE ANTROPOLÓGICA NO
ÂMBITO DOS ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS: aportes para a construção de um campo
interdisciplinar.‖ Podemos fazer as seguintes afirmações:
É possível afirmar que a antropologia jurídica seria uma espécie de ―produto cultural
do ocidente moderno‖ Como observa Norbert Rouland, seria ―filha da história‖ do direito.
século, desenvolvendo-se em um contexto internacional.(apund BOAS FILHOS, 2018).
O colonizado aparece, no imaginário europeu da época, como uma espécie de amálgama
indefinido composto de tudo o que, em geral, se opõe à civilização. O europeu é, enfim, o
que funda e sustenta a própria identidade europeia. E deve-se notar que esse processo de
produção depreciativa do outro encontrará na nascente antropologia, talvez, um dos mais
influentes mecanismos de sustentação.
A relação da antropologia, em sentido genérico, com o processo de colonização,
resultante da expansão imperialista europeia, revela-se fundamental para a compreensão.
Wendy James e Talal Asad (apund BOAS FILHO, 2018), por exemplo, enfatizam a
dependência dos antropólogos dos agentes coloniais, o que implicou uma situação
duplamente ambivalente para a antropologia no contexto da dominação colonial.
A antropologia do século XIX mostrou uma clara prevalência de uma dimensão
instrumental, dedicada à gestão das populações. É verdade que, ao longo de seu
desenvolvimento, a antropologia se afastou progressivamente dessas características de
origem. No entanto, não se pode ignorar que, surgindo em uma época marcada pela
violência e pela espoliação, a antropologia reforçou as relações de assimetria que o
Ocidente impôs a outros povos.
A antropologia estaria condenada a lutar em si mesma contra si mesma, escreve o
autor. Seria incapaz de implementar uma crítica epistemológico-política, pautada pelo
descentramento e alteridade, do etnocentrismo. É, portanto, dotado de importantes
ferramentas analíticas para a compreensão da regulação jurídica nas sociedades ocidentais
modernas.
Este artigo argumenta que, devido à especificidade da pesquisa jurídica e à
particularidade (incluindo a formação) de quem a implementa, a abordagem antropológica
nela inserida não pode ser levada em conta. A pesquisa antropológica pretende figurar,
sobretudo, como instrumento de ―vigilância epistemológica‖ especialmente voltada para a
crítica do etnocentrismo.
Sob o mesmo ponto de vista, o autor no artigo ‖ DESAFIOS DA PESQUISA
INTERDISCIPLINAR: as ciências sociais como instrumentos de ―vigilância
epistemológica‖― e do artigo ―O desenvolvimento dos estudos sociojurídicos‖. Da
continuidade ao pensamento do primeiro artigo a respeito da abordagem antropológica nas
ciências jurídicas e suas interdisciplinaridades.
O texto tem seu o inicio com a perspectiva do Jacques Commaille onde ele alude à
necessidade de promover uma ―cultura da ciência social‖ em vez de divisões disciplinares
convencionais. Apesar de suas evidentes virtudes, a pesquisa interdisciplinar ainda é, em
linhas gerais, bastante limitadas e, quando existe, marcada por certo ecletismo e
dificuldades de implementação. (apud BOAS FILHO, 2018)
É verdade que a interdisciplinaridade não deve ser confundida com a abertura
indiscriminada de diferentes campos disciplinares. Arnaud (apud BOAS FILHOS, 2018) era
refratário a soluções unificadoras artificialmente e a sincretismos teóricos. Insistia, portanto,
no fato de que o desenvolvimento desse tipo de pesquisa demandaria, entre outras coisas,
novos fundamentos epistemológicos.
Como a interdisciplinaridade é uma prática com benefícios irrefutáveis, é importante
considerar como ela pode ser efetivamente implementada em termos de "estudos
sóciojurídicos" — razão pela qual esse assunto é extremamente importante. Os estudos
críticos do Brasil cresceram significativamente nos últimos anos; portanto, é necessário
considerar uma perspectiva interdisciplinar ao estudar seus temas.
As dificuldades da pesquisa interdisciplinar são particularmente destacadas por
André-Jean Arnaud (apud BOAS FILHO,2018). Para ele, o problema fundamental nessa
área consiste no fato de que pesquisadores de diferentes disciplinas tendem a constituir o
objeto de acordo com o cânone de suas respectivas áreas de origem. Em vez de diálogo, o
que normalmente se observa é o embate de monólogos, ou seja, barulho.
Apesar de seu caráter fecundo, a interdisciplinaridade não deve levar a desconsiderar
a especificidade das perspectivas postas em interação. É preciso notar que a possibilidade de
a pesquisa interdisciplinar resultar em cacofonia ou caricatura decorre das dificuldades
inerentes a essa empreitada. Antoine Bailleux e François Ost (apud BOAS FILHO, 2018)
enfatizam que a prática interdisciplinar sempre pode ser distorcida quando uma das
disciplinas em interação assume uma posição central.
Por mais que o jurista se torne capaz de explorar e se apropriar dos estudos das
ciências sociais, isso não implica que ele reproduza o tipo de pesquisa desenvolvida nessas
respectivas áreas. Para ser sólida, a construção de um campo de estudos interdisciplinar que
tenha como objeto a regulação jurídica precisa levar em conta o terreno pantanoso sobre o
qual se apoia.
Antoine Bailleux e François Ost, conforme citado por BOAS FILHOS, 2018, criticam
as perspectivas teóricas que concebem a realidade como composta por domínios
previamente estabelecidos. Nessa perspectiva, tanto o ―direito‖ quanto a ―sociedade‖
seriam considerados imanentes à realidade e, portanto, dotados de certa essencialidade a ser
apreendida pelas abordagens científicas. Os mesmos propõem o que chamam de ―modelos
críticos‖ de monodisciplinaridade e interdisciplinaridade. Na visão desses autores, o que
diferencia fundamentalmente os modelos ―ingênuos‖ dos ―críticos‖ é o construtivismo
radical que caracteriza este último.
Uma abordagem consistente dessa questão exigiria a tematização dos fundamentos
epistemológicos necessários à passagem de modelos ―ingênuos‖ para ―críticos‖, o que, no
entanto, exigiria digressões incompatíveis com os limites e propósitos deste artigo. Como
mera referência, vale notar que André-Jean Arnaud resume com maestria o que está
implícito em tal passagem.(apud BOAS FILHO, 2018).
Hugues Dumont e Antoine Bailleux (apud BOAS FILHOS, 2018), enfatizando as
contribuições indispensáveis das ciências sociais para a compreensão do fenômeno jurídico,
propõem o que chamam de ―esboço de uma teoria das aberturas interdisciplinares
acessíveis aos juristas‖. , filosofia, história, ciência política e sociologia para enriquecer sua
própria concepção de regulação jurídica.
Dumont e Bailleux (apud BOAS FILHO, 2018): A ―ciência do direito‖ por eles
defendida deve assumir uma metodologia crítica e interdisciplinar. Tal empreendimento
exigiria a colaboração entre juristas, filósofos, cientistas políticos, sociólogos etc. Seria,
portanto, uma abordagem que, para os autores, remeteria um ―ponto de vista externo‖ a
uma finalidade essencialmente cognitiva e não prática.
Sendo assim, a interdisciplinaridade não é algo simples de implementar, diz
AndréJean Arnaud.(apud BOAS FILHOS, 2018) O maior problema seria a dificuldade que
pesquisadores de diferentes campos disciplinares teriam em chegar a um acordo sobre o que
é o Direito como objeto. Essa situação, explicada por Arnaud, infelizmente prevalece no
Brasil de hoje, onde, quando existe, o que se observa é, geralmente, uma
―interdisciplinaridade barata‖. Dessa forma, os ―estudos sociojurídicos‖ poderiam ser
caracterizados como uma espécie de ―mercado comum entre as ciências sociais‖, como
proposto há mais de meio século pelo historiador Fernand Braudel (apud BOAS FILHOS,
2018). A interação equilibrada dessas diferentes perspectivas tornaria, como resultado, a
pesquisa sociojurídica mais sofisticada.
Entende-se que o escopo dos ―estudos sociojurídicos‖ é muito mais amplo do que
aquele englobado pela pesquisa jurídica convencional. Assumindo a distinção entre
―direito‖ e ―sistemas jurídicos‖, bem como o pressuposto de que estes estão em interação,
muitas vezes conflitantes e competitivos, em um ―campo jurídico vulgar‖ (champ juridique
vulgaire). Sob essa perspectiva, encontramos um ponto de conexão com o primeiro
artigo quando no artigo fala sobre a possibilidade de pesquisas interdisciplinares realistas
implica que os juristas sejam capazes de se apropriar consistentemente de estudos
desenvolvidos em outras áreas. Isso significa que mobilizar contribuições de outras áreas
não converte o jurista em antropólogo, economista, filósofo, historiador, cientista político
ou sociólogo. Ele simplesmente permite que você desenvolva uma ―vigilância
epistemológica‖ da lei.
As ciências sociais teriam um papel ativo na construção crítica dos critérios para o
estabelecimento da legalidade. Isso permitiria a superação do ―dogmatismo estéril‖, da
―teorização pura‖ e da contaminação pelo ―saber espontâneo‖ dos juristas. O papel
desempenhado pelas ciências sociais nos ―estudos sociojurídicos‖ é fundamental na própria
estruturação do empírico.
O ‗direito‘ não é um objeto estabelecido a priori, dotado de certa substancialidade
natural. Quando interagem no âmbito dos ―estudos sociojurídicos‖, concebidos como um
campo aberto para a pesquisa interdisciplinar torna-se fundamentais. Assim, seu status
muda: de auxiliares, como considerado anteriormente, para central.
Por fim, o ultimo artigo ―A constituição do campo de análise e pesquisa da
antropologia jurídica‖ faz uma analise sobre o campo de analise e pesquisa da antropologia e
como teve influencia do colonialismo e imperialismo, esse texto também traz um
complemento do primeiro artigo.
Dessa forma, É importante examinar o contexto em que se forma e quais são os
condicionamentos históricos, culturais e sociais da formação da antropologia jurídica. O que
precisa ser destacado consiste na conexão da antropologia social, em sentido geral, com o
imperialismo europeu, em particular, com o colonialismo. Em uma era de política de massa,
havia a necessidade de angariar apoio popular para a expansão imperialista, especialmente
do grande contingente de descontentes. A ideia de superioridade racial, nesse contexto, será
uma das ferramentas mais eficazes para legitimar a expansão imperial. No imperialismo do
século XIX, os não-europeus eram cada vez mais tratados como inferiores, indesejáveis,
fracos e atrasados.

A construção negativa de outros não europeus é, enfim, o que funda e sustenta a


própria identidade europeia. Esse processo, em meio ao qual a alteridade não é dada, mas
produzida, encontrará na nascente antropologia, talvez, um dos mais influentes mecanismos
de sustentação. Conforme citado por (BOAS FILHOS, 2007).
A antropologia jurídica desenvolveu-se como uma espécie de subproduto do
expansionismo imperial do século XIX. Além de justificar as políticas expansionistas no
âmbito das potências europeias, a antropologia também forneceu aos agentes coloniais
conhecimentos úteis para o exercício da dominação. Vale a pena notar que o
desenvolvimento desta área dependeu, em certa medida, da existência de dominação
colonial. A relação da antropologia, em sentido genérico, com o processo de
colonização, decorrente da expansão imperialista europeia, revela-se fundamental para
compreender não só as diretrizes conceituais das primeiras escolas de antropologia jurídica,
mas também o desenvolvimento da antropologia como disciplina . A história do direito teria
surgido na segunda metade do século XIX, a partir da atividade de alguns ―pais
fundadores‖. A necessidade de conhecer os povos colonizados para melhor dominá-los
está intimamente relacionada à questão da colonização. A forma de colonização imperialista
britânica, caracterizada pela dominação indireta, exigia maior aceitação dos usos e costumes
das populações dominadas. Isso fez com que, a princípio, a antropologia britânica se
desenvolvesse muito mais do que a francesa, pois a França tinha um perfil de colonização
direta e voltado para a assimilação dos povos dominados.
A antropologia moderna, enraizada na consciência burguesa, apresentou contradições e
ambiguidades ao longo de seu desenvolvimento. É inegável que o conhecimento
antropológico serviu à dominação, especialmente durante o século XIX. Mas a relação entre
antropologia e dominação colonial é complexa e ambígua e, portanto, não se reduz apenas à
simples instrumentalização da primeira pela segunda.
O antropólogo, mesmo sendo um ―radical frustrado‖, não deixou de ser, em diversas
situações, um crítico da dominação colonial. Embora tenha contribuído indiretamente para a
dominação colonial, a antropologia, nesse período, também se caracterizou por posturas
críticas.
Sendo assim podemos concluir que antropologia do século XIX revelaram um claro foco
instrumental. Estava focado na gestão da população e no estudo da cultura. Como o
etnocentrismo é um sistema de crenças que nasceu do período colonial, que levou à
espoliação e dominação de muitas culturas, muitas pessoas acreditam que a antropologia é
uma ciência na qual não se pode confiar. Essas pessoas consideravam a antropologia
etnocêntrica e tendenciosa por causa de suas origens. No entanto, a antropologia moderna
desde então se afastou dessas origens e agora é uma ciência imparcial.
Embora o mundo ocidental tenha sido imposto de forma assimétrica a outras culturas, o
conhecimento antropológico proporcionou uma perspectiva mais objetiva sobre os
comportamentos humanos. Isso se deveu ao fato de que uma parte da humanidade via a outra
como um objeto a ser visto, enquanto as outras partes da humanidade as viam como um
objeto a ser usado. Claude Lévi-Strauss afirmou isso bem em seus escritos. (apud BOAS
FILHO, 2007)

Palavras chaves: Antropologia; sociojurídico;


interdisciplinaridade; direito; colonialismo.

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