Você está na página 1de 4

Curso: Direito Disciplina: Fundamentos Socioantropológicos

Docente: Edvaldo Oliveira


Discente: Michelly Cunha Turma: 1º Turno: Matutino

Fichamento de resumo

Direito e Antropologia: por uma Aproximação Necessária

Introdução
O texto descreve um trabalho que surgiu a partir de debates em uma disciplina de pós-
graduação em Direito sobre o devido processo legal em sistemas de justiça criminal. A partir
dos seminários apresentados, foi possível comparar os sistemas da civil law e da common
law, bem como analisar outros temas relacionados a justiça criminal. Antes de abordar esses
sistemas, foi necessário fazer uma introdução antropológica para entender como esse campo
de estudo contribui para o desenvolvimento de temas jurídicos. O foco do trabalho é
examinar a relação entre a antropologia e o Direito e como a antropologia pode contribuir
para o desenvolvimento do ramo jurídico.

O Direito como Ciência


O texto aborda a forma como o Direito é apresentado e estudado na academia, como uma
ciência que possui dogmas e paradigmas fixos. No entanto, questiona-se a adequação dessa
classificação para o Direito, visto que ele lida com situações fáticas concretas que não podem
ser replicadas de forma sistemática como nas ciências naturais. O texto sugere que a forma
como o Direito é ensinado acaba por desconsiderar a origem e evolução de certos institutos
jurídicos, o que pode levar a uma compreensão superficial e limitada do assunto. Assim, o
autor propõe uma reflexão sobre a natureza do Direito e o seu estudo, e como a abordagem
antropológica pode contribuir para uma análise mais profunda e crítica do Direito e seus
sistemas de justiça criminal. As ciências sociais possuem objetos cujas análises tendem a se
tornar mais complexas, impossibilitando que o estudo se dê da mesma forma como acontece
com o objeto estudado pelas ciências naturais. Enquanto nas ciências naturais, o cientista
pode isolar um ambiente e realizar a mesma observação da mesma maneira inúmeras vezes.
Fatores externos, como a cultura, influenciam diretamente nas consequências que um caso
poderia ter, seja no Brasil, ou em um dos países do Oriente Médio. Talvez seja essa a grande
problemática enfrentada pelos teóricos que ainda pretendem classificar o Direito como
ciência, já que parece haver uma força cogente que os induz a buscar uma categorização para
o Direito que necessariamente abarque o termo ‘ciência’, quando, a bem da verdade, o que se
vislumbra é que o Direito, enquanto instrumento de regulação da vida social, parece se afastar
cada vez mais do campo das ciências. Oportuna a menção feita por Roberto da Matta, que
afirma que “a matéria das ciências sociais, assim, são eventos com determinações
complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados tendo, por causa disso, a
possibilidade de mudar seu significado de acordo com o ator. "É preciso que essa primeira
advertência seja registrada. Deve haver uma indispensável diferenciação (ou distanciamento)
entre o Direito lecionado nas faculdades e cursos de Pós-Graduação e a necessidade de
classificá-lo como ciência, mormente porque, conforme demonstrado acima, ciência
pressupõe a existência de dogmas, há um consenso sobre determinado assunto, o que não
pode (ou não deveria) ser aplicado ao Direito, já que, conforme aduzido, as realidades onde
se verificam os ‘experimentos’ são (em grande parte dos casos) diferentes, o que conduz a
resultados também diferentes. O texto discute a complexidade da análise dos objetos
estudados pelas ciências sociais em comparação com as ciências naturais. Enquanto na
última, o cientista pode isolar um ambiente e realizar a mesma observação várias vezes, nas
ciências sociais, o estudo ocorre em "cenas" diferentes, com "atores" diferentes, e os
resultados são influenciados por fatores externos, como a cultura. O autor afirma que isso
decorre da impossibilidade de as ciências humanas serem exatas e previsíveis, pois há
dimensões fundamentais no humano que não permitem previsões ou quantificações. Por
causa disso, não se pode aplicar ao estudo do homem os mesmos métodos utilizados nas
ciências físico-naturais. É possível observar, ainda, a dificuldade de classificar o Direito
como ciência, uma vez que o Direito, enquanto instrumento de regulação da vida social,
parece se afastar cada vez mais do campo das ciências. O autor destaca a necessidade de
diferenciar o Direito lecionado nas faculdades e cursos de pós-graduação da necessidade de
classificá-lo como ciência, pois as realidades onde se verificam os experimentos são, em
grande parte dos casos, diferentes, o que conduz a resultados também diferentes.

A Antropologia e o Conhecimento Antropológico


O texto discute a relação entre a antropologia e o direito, destacando a importância da
antropologia como ferramenta para a compreensão da sociedade e para a aplicação do direito.
É destacado que a antropologia, assim como o direito, pode ser dividida em áreas específicas
para o estudo de diferentes aspectos da sociedade, incluindo o homem e a cultura. No entanto,
o texto destaca que há uma imagem equivocada da antropologia na sociedade, muitas vezes
associada apenas à escavação de fósseis e objetos antigos. O texto também aborda a
etnografia como uma ferramenta de coleta de dados utilizada pela antropologia, através da
qual o antropólogo pode estudar uma cultura específica, levantar informações e confrontá-las
com sua própria realidade. Através desse processo, é possível comparar e contrastar
diferentes culturas e sociedades, o que pode ser útil para a aplicação do direito em diferentes
contextos. Por fim, é destacado que a formação dos antropólogos é uma vantagem para a
interação com diferentes culturas e sociedades, o que pode ser útil para a aplicação do direito
em diferentes contextos. Em resumo, o texto destaca a importância da antropologia para a
compreensão da sociedade e para a aplicação do direito, e apresenta a etnografia como uma
ferramenta útil para a comparação e contratação de diferentes culturas e sociedades. Pode-se
afirmar que a própria formação dos antropólogos possibilita maior interação desses com o
meio, o que ocorre de forma diferente nos cursos jurídicos em funcionamento no Brasil, onde
a integralidade das aulas é lecionada em salas de aula, sem um maior contato com a
‘realidade’, conforme adverte o professor Roberto Kant de Lima: “No curso de Direito a
didática se resumia a aulas expositivas, dadas pelos professores de maneira bastante formal,
sendo muito claro para todos os meus colegas que a profissão de advogado, sua técnica,
deveria ser aprendida em estágios, à época informais, em escritórios de advocacia, obtidos
mediante recomendações pessoais. Aqui os professores tinham uma relação muito mais
informal com os alunos, reafirmada em sucessivos encontros em suas casas, bares e
restaurantes, onde se complementavam os ensinamentos ministrados nas aulas da Faculdade.
Até mesmo as aulas tinham aparência informal, realizando-se muitas vezes sob a forma de
seminários ou de discussões em grupo”.

A Relação entre Direito e Antropologia


O artigo discute a contribuição da antropologia para o aprimoramento dos institutos jurídicos
utilizados no Direito. O autor ressalta que a aproximação entre a antropologia e o direito já é
um fato notório e se concretiza através dos trabalhos desenvolvidos no INCT-InEAC,
instituto de estudos comparados em administração institucional de conflitos. O principal
desafio a ser superado é o método de trabalho desses dois campos, enquanto a antropologia
busca estudar determinados institutos através da etnografia, o Direito apenas repete as
informações já constantes em determinado livro ou material parecido, sem se debruçar sobre
a efetiva origem daquele instituto. O autor defende que a contribuição da Antropologia pode
ser mais bem aproveitada, não só nos programas de pós-graduação em Direito, mas também
nas grades curriculares dos cursos de graduação, através da inclusão de metodologias de
trabalho focadas na empiria e no etnocentrismo. O autor cita o trabalho do pesquisador Nivio
Caixeta do Nascimento como exemplo de como a antropologia pode contribuir para o estudo
do direito. Nascimento comparou as instituições policiais do Distrito Federal e de Ottawa, no
Canadá, através da forma de administração de conflitos dessas duas instituições. Ele utilizou
o trabalho de campo, a comparação e a etnografia para estudar as instituições de segurança
pública do Distrito Federal e o comportamento das delegacias ao prender diferentes
"meliantes" em diferentes casos. O texto aborda a importância da pesquisa de campo no
campo do direito, destacando trabalhos de pesquisadores brasileiros que utilizaram a
etnografia para comparar a aplicação de conceitos jurídicos em diferentes culturas. O autor
destaca que a pesquisa de campo é fundamental para compreender a aplicação prática do
direito, e cita exemplos de pesquisas realizadas em Ottawa, no Canadá, e no Brasil, que
demonstraram diferenças na aplicação de conceitos jurídicos em diferentes contextos. O texto
também aborda a importância da comparação entre conceitos como igualdade formal e
igualdade material em diferentes culturas, destacando a obra de Luís Roberto Cardoso de
Oliveira, que realizou uma análise comparativa desses conceitos no Brasil, no Quebec e nos
Estados Unidos. O autor destaca que a pesquisa de campo é fundamental para compreender
as diferenças na aplicação desses conceitos em diferentes contextos culturais. Outro trabalho
mencionado no texto é o de Bárbara Lupetti, que utilizou a pesquisa de campo para verificar
a aplicação do princípio da oralidade no sistema judiciário brasileiro. O autor destaca a
importância dessa pesquisa para verificar se as previsões legais são efetivamente aplicadas na
prática. por fim, o autor destaca o trabalho de Marco Aurélio Ferreira Gonçalves, que
realizou um estudo comparativo entre o devido processo legal no Brasil e o due process of
law nos Estados Unidos. O autor destaca que a pesquisa de campo é fundamental para
compreender as diferenças na aplicação desses conceitos em diferentes contextos jurídicos e
culturais. O texto conclui destacando a importância da pesquisa de campo no campo do
direito e alertando para a necessidade de se evitar a importação acrítica de conceitos jurídicos
de outras culturas sem uma análise aprofundada de sua aplicação prática. O autor destaca que
a produção científica nessa área deve ser conduzida por pesquisadores e cientistas sociais, e
não apenas por operadores do sistema jurídico. O texto discute as diferenças entre o sistema
de justiça criminal da Common Law e o sistema brasileiro. No sistema da Common Law, o
due process of law é um direito garantido às pessoas acusadas de um crime, enquanto no
Brasil é uma obrigatoriedade, uma obrigação do Estado de instaurar um processo penal todas
as vezes que é verificada a prática de uma infração penal. Outra diferença importante é a
presunção de inocência absoluta na Common Law, enquanto no Brasil, a presunção de
inocência é popularmente adaptada como "todos são culpados até que se prove a inocência".
O sistema da Common Law também tem um julgamento rápido, mas sem um prazo definido,
enquanto no Brasil há prazos fixos para atos processuais, como a conclusão do inquérito
policial e o oferecimento da denúncia. Outra diferença está na defesa do acusado, onde no
sistema da Common Law o acusado tem o "Day in court" para expor suas razões e
argumentos de defesa, enquanto no Brasil ele apenas se manifesta sobre fatos pré-
constituídos em fase anterior. O autor destaca que é importante buscar a realidade estrangeira
para compará-la com a realidade nacional e não buscar semelhanças, mas sim realizar uma
pesquisa por estranhamento para que a análise seja imparcial e efetivamente busque as
diferenças entre os sistemas de justiça criminal.

Considerações finais
O texto discute a relação entre a antropologia e o direito, destacando a importância da
antropologia para a desconstrução de conceitos jurídicos dogmáticos e a consequente
compreensão mais ampla e clara desses conceitos. O autor argumenta que, enquanto o direito
busca certificar verdades pré-estabelecidas, a antropologia busca relativizar verdades e
compreender os contextos históricos, culturais e sociais que influenciam a formação desses
conceitos. Para exemplificar essa relação, o autor analisa a diferença entre os conceitos de
"devido processo legal" e "due process of law". Ele argumenta que, ao aplicar uma
abordagem antropológica para estudar esses conceitos, foi possível desconstruir a falsa
percepção de que ambos eram sinônimos ou tinham a mesma origem. O autor defende que
essa abordagem antropológica pode contribuir para o desenvolvimento do direito de forma
mais clara e compreensível. Por fim, ele destaca a importância de uma maior abertura por
parte do direito para a contribuição da antropologia.

Você também pode gostar