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Textos 1

Texto de referência para a aula  Professor José Knust


Natureza e Sociedade  Primeiro semestre

TEXTO 1A:
CHAKRABARTY, Dipesh. “O clima da História: quatro teses”.
Sopro - Panfleto PolíticoCultural 91, julho de 2013, p.3-22.

(...) O que os cientistas têm dito sobre a mudança sociedade e, certamente, [...] acelera ou atrasa tal processo.
climática põe em questão não só as ideias sobre o humano Mas sua influência não é a determinante, considerando que
que usualmente dão sustentação à disciplina da história, as mudanças e desenvolvimentos da sociedade ocorrem
mas também as estratégias analíticas que os historiadores incomparavelmente mais rápido que as mudanças no
entorno geográfico. No intervalo de 3000 anos, três
pós-coloniais e pós-imperiais têm utilizado nos últimos
diferentes sistemas sociais sucederam-se com êxito na
vinte anos, em resposta ao quadro de descolonização e Europa: o sistema comunal primitivo, o da escravidão e o
globalização do pós-guerra. sistema feudal... Durante este período as condições
A seguir, apresento algumas respostas à crise geográficas na Europa ou não se modificaram em absoluto
contemporânea do ponto de vista de um historiador. (...). ou mudaram de forma tão sutil que a geografia sequer
percebeu. Isto é completamente natural. Mudanças
Tese 1: As explicações antropogênicas da mudança significativas no entorno geográfico exigem milhões de
climática acarretam o fim da velha distinção anos para ocorrer, enquanto alguns poucos séculos ou um
humanista entre história natural e história humana. par de milênios são suficientes para modificar de forma
Os filósofos e estudiosos da história costumam mostrar substancial o sistema da sociedade humana.”
uma tendência deliberada de separar a história humana (...)
Apesar de seu tom dogmático e formulaico, esse trecho
da história natural, às vezes chegando a negar que a
de Stalin captura algo talvez comum entre os historiadores
natureza seja capaz de ter alguma história, no mesmo
de meados do século XX: o ambiente humano se
sentido em que os humanos a têm. (...)
modificava, mas o fazia de forma tão lenta que relacionar
A natureza, observou [o filosofo da história inglês
a história humana com seu entorno assumia uma
R.G.] Collingwood, não tem “interioridade”. “No caso da
característica quase atemporal, o que excluía essa relação
natureza, não aparece essa distinção entre o exterior e o
do domínio da historiografia. Mesmo quando Fernand
interior de um acontecimento. Os eventos da natureza são
Braudel publicou seu grande O Mediterrâneo e o Mundo
meros eventos, não ações de agentes cujos pensamentos o
Mediterrânico na época de Felipe II, declarando assim,
cientista se empenha em rastrear.” Por isso, “toda história
em 1949, uma rebelião contra o estado em que encontrara
propriamente dita é a história dos assuntos humanos”. A
a disciplina já em finais dos anos de 1930, era claro que
tarefa do historiador é “pensar-se em ação, para discernir
ele endereçava suas críticas principalmente aos
o pensamento do agente”. Portanto, é preciso fazer uma
historiadores que tratavam o meio ambiente simplesmente
distinção “entre ações humanas históricas e não históricas.
como um pano de fundo silencioso e passivo para suas
Na medida em que a conduta do homem é determinada
narrativas históricas.
pelo que se pode chamar de sua natureza animal, seus
O ambiente, neste sentido, tinha presença agentiva nas
impulsos e apetites, ela é não histórica; o processo dessas
páginas de Braudel, mas a ideia de uma natureza
atividades é um processo natural”. Assim, diz
essencialmente repetitiva (...). Não há dúvida de que a
Collingwood, “o historiador não está interessado no fato
posição de Braudel foi um grande avanço sobre o
de que os homens comem, dormem, copulam e assim
argumento de natureza-como-pano-de-fundo adotado por
satisfazem seus apetites naturais; mas está interessado nos
Stalin, mas partilhava com ele de uma suposição funda-
costumes sociais que eles criam por meio do pensamento
mental: a história do “relacionamento humano com o meio
como um arcabouço dentro do qual esses apetites
ambiente” seria tão lenta que a tornaria “quase atemporal.”
encontram satisfação segundo moldes sancionados pela
Em termos climatológicos atuais, poderíamos dizer que
convenção e pela moral”. Somente a história da construção
Stalin, Braudel e outros que partilhavam dessa suposição
social do corpo, não a história do corpo em si, pode ser
não tinham acesso a uma ideia que hoje se encontra
estudada. Dividindo o humano em natural e social ou
difundida na literatura sobre aquecimento global, ou seja,
cultural, Collingwood não viu necessidade de unir os dois.
a noção de que o clima, e consequentemente todo o meio
(...) Um exemplo influente [da mesma forma de pensar
ambiente, pode às vezes atingir um ponto máximo a partir
o humano e o natural] (...), seria Materialismo Dialético e
do qual sua condição de pano de fundo lento e
Materialismo Histórico, o livreto de filosofia marxista da
aparentemente atemporal se transforma com uma
história publicado por Stalin em 1938. Eis a forma como
velocidade tamanha que só pode ser desastrosa aos seres
ele coloca a questão:
humanos.
“O entorno geográfico é sem dúvida uma das condições Se Braudel, em certa medida, abriu uma brecha no
constantes e indispensáveis para o desenvolvimento da binarismo história humana / história natural, pode-se dizer
que o surgimento da história ambiental no final do século até mesmo em histórias ambientais que consideravam as
XX alargou a brecha. Pode-se até mesmo argumentar que duas entidades em interação. Pois não está mais em
os historiadores ambientais na verdade avançaram no questão simplesmente se o homem tem uma relação
sentido de produzir o que se pode chamar de histórias interativa com a natureza. Isto os seres humanos sempre
naturais do homem. Mas há uma diferença importante tiveram ou ao menos é assim que o homem foi imaginado
entre a compreensão do ser humano no qual essas histórias na maior parte daquilo que em geral chama-se de tradição
se basearam e a agência do ser humano sendo agora ocidental. Agora alega-se que os seres humanos são uma
proposta pelos cientistas que escrevem sobre a mudança força da natureza num sentido geológico. Portanto, uma
climática. Posto de modo simples, a história ambiental, se suposição fundamental do pensamento político ocidental
não foi diretamente história cultural, social ou econômica, (e agora universal) foi desfeita nessa crise.
encarou os seres humanos como agentes biológicos.
Alfred Crosby Jr. (...) fez a seguinte colocação no prefácio Tese 2: O conceito de Antropoceno, a nova época
original de seu livro: “O homem é uma entidade biológica geológica na qual humanos existem como força
antes de ser um católico romano ou um capitalista ou geológica, modifica severamente as histórias
qualquer outra coisa”. (...) humanistas da modernidade/globalização
Estudiosos que escrevem sobre a atual crise da Como combinar a diversidade histórica e cultural
mudança climática estão de fato dizendo algo humana com a liberdade humana constitui uma das
significativamente diferente daquilo que os historiadores questões centrais subjacentes às histórias humanas escritas
ambientais haviam dito até então. Enquanto no período de 1750 até os anos da atual globalização. (...)
involuntariamente destroem a distinção artificial, mas Em discussões sobre a liberdade no período decorrido
respeitada, entre as histórias natural e humana, os desde o Iluminismo, nunca houve qualquer consciência do
cientistas do ambiente postulam que o ser humano se poder geológico que os seres humanos estavam adquirindo
tornou muito maior do que o simples agente biológico que simultaneamente aos e através dos processos intimamente
sempre foi. Os seres humanos agora exercem uma força ligados à sua aquisição da liberdade. (...) O período que
geológica. (...). mencionei, de 1750 até hoje, é também a época em que os
Agentes biológicos, agentes geológicos – dois nomes humanos substituíram a madeira e outros combustíveis
diferentes com consequências muito diferentes. A história renováveis pelo uso de combustíveis fósseis em grande
ambiental, para ficar com o levantamento magistral de escala – primeiro o carvão e depois o petróleo e a gasolina.
Crosby sobre as origens e a situação do campo em 1995, A mansão das liberdades modernas repousa sobre uma
tem muito a ver com biologia e geografia mas nem sequer base de uso de combustíveis fósseis em permanente
imaginava o impacto humano no planeta em escala expansão. A maior parte de nossas liberdades até hoje
geológica. Aquela era ainda uma visão do homem “como consumiu grandes quantidades de energia. O período da
prisioneiro do clima,” segundo a colocação de Crosby história humana geralmente associado ao que hoje
citando Braudel, e não do homem como o criador do concebemos como as instituições da civilização – os
clima. Chamar seres humanos de agentes geológicos é primórdios da agricultura, a fundação das cidades, o
ampliar nossa imaginação acerca do humano. Os seres surgimento das religiões que conhecemos, a invenção da
humanos são agentes biológicos, coletivamente e também escrita – iniciou-se há cerca de dez mil anos, quando o
como indivíduos. Sempre o foram. Nunca houve um ponto planeta passava de um período geológico, a última era do
na história humana em que os seres humanos não fossem gelo ou o Pleistoceno, para o mais recente e calorífero
agentes biológicos. Mas apenas histórica e coletivamente Holoceno. O Holoceno é o período em que supostamente
podemos nos tornar agentes geológicos, isto é, assim que estamos vivendo; mas a possibilidade de uma mudança
alcançamos números e inventamos tecnologias que sejam climática antropogênica levantou a questão de seu fim.
de uma escala suficientemente grande para causar impacto Agora que os humanos – graças à nossa numerosa
no próprio planeta. população, à queima de combustíveis fósseis e a outras
Caracterizar-nos como agentes geológicos é atribuir- atividades afins – nos tornamos agentes geológicos no
nos uma força de escala igual àquela liberada nas vezes em planeta, alguns cientistas propuseram que reconheçamos o
que houve extinção em massa das espécies. Parece que início de uma nova era geológica, na qual os humanos
estamos passando por essa fase. A atual “taxa de perda de agem como o principal determinante do ambiente do
diversidade de espécies”, os especialistas argumentam, “é planeta. O nome cunhado para esta nova era geológica é
parecida, em intensidade, ao evento de cerca de 65 milhões Antropoceno. (...)
de anos atrás, quando os dinossauros foram aniquilados”. Então, será que o período de 1750 até agora foi o da
Nossos rastros no planeta nem sempre foram tão grandes. liberdade ou o do Antropoceno? Será que o Antropoceno
Os seres humanos começaram a adquirir esse tipo de é uma crítica das narrativas de liberdade? O poder
agência apenas desde a Revolução Industrial, mas o geológico do homem é o preço que temos a pagar pela
processo realmente tomou impulso na segunda metade do busca da liberdade? Em certos aspectos, sim. (...) Mas a
século XX. Os seres humanos se tornaram agentes relação entre os temas iluministas da liberdade e a
geológicos muito recentemente na história humana. Nesse conjunção entre as cronologias geológica e humana parece
sentido, podemos dizer que apenas recentemente é que ser mais complicada e contraditória do que um simples
entrou em colapso a distinção entre as histórias humana e sistema binário admitiria. É verdade que os seres humanos
natural – da qual, ressalte-se, muito tinha sido preservado nos tornamos agentes geológicos através de nossas
próprias decisões. O Antropoceno, poder-se-ia dizer, é razão e que tem a ver com a forma mais comum que a
uma consequência não intencional das escolhas humanas. liberdade assume nas sociedades humanas: a política. A
Mas também é claro que, para a humanidade, qualquer política nunca foi baseada apenas na razão. E a política na
consideração sobre a saída desta nossa dificuldade atual era das massas e em um mundo já complicado por sérias
não pode senão referir-se à ideia do exercício da razão na desigualdades entre e dentro de nações é algo que ninguém
vida coletiva e global. (...) consegue controlar. (...) Não é de surpreender, então, que
Logicamente, então, na era do Antropoceno, a crise da mudança climática produza ansiedades
precisamos do Iluminismo (isto é, de razão) ainda mais do precisamente acerca de futuros que não conseguimos
que no passado. Há uma consideração, entretanto, que visualizar. (...)
introduz reservas sobre esse otimismo sobre o papel da

TEXTO 1B:
DOMANSKA, Ewa. “Para além do antropocentrismo nos estudos históricos”
Expedições: Teoria da História & Historiografia 4, nº 1, 2013. (adaptado por José Knust)

Eu vejo o crescente interesse em seres não-humanos Wolfe, o editor de uma série de livros intitulados “pós-
(estudos sociais sobre animais, plantas e coisas) dentro do humanidades”, não há intenção, de forma alguma, de
contexto de um paradigma emergente das ciências rejeitar o humanismo como tal e os valores relacionados a
humanas não-antropocêntricas, e eu gostaria de considerar ele. A intenção é antes considerar como esses valores
certos problemas e questões que eu vejo como (justiça, tolerância, igualdade, dignidade, direitos
fundamentais para o tipo de conhecimento orientado para humanos, etc) tornaram-se uma parte da definição de
o futuro que estas novas tendências pressagiam. singularidade e excepcionalidade da espécie humana.
O que eu chamo aqui de antropocentrismo é a atitude O conhecimento é relativo e toda teoria é criada em um
que apresenta a espécie humana como o centro do mundo, determinado tempo e lugar, como resultado de
desfrutando de sua hegemonia sobre os outros seres e necessidades particulares, e, portanto, devem ser
funcionando como mestres de natureza que existe para constantemente verificados. Mas eu penso que, neste
atender às suas necessidades. Essa atitude leva ao momento, as teorias das ciências humanas e sociais estão
“especismo” (atribuição de valores ou direitos diferentes um passo atrás do que está acontecendo no mundo
para dos outros seres a partir da relação destes com a sua contemporâneo em termos de cataclismos ambientais, a
espécie) e está relacionada com o tipo de discriminação crise da mudança climática e, em termos de tecnologia,
que é praticada pelo homem contra outras espécies. engenharia genética e nanotecnologia (mais a expansão do
Idealmente, um paradigma não-antropocêntrico procura capitalismo global). Portanto, essas teorias devem levar
descentrar seres humanos e focar em não-humanos como em consideração as novas situações e fenômenos.
sujeitos da pesquisa (muitas vezes, para além de suas O que precisamos para este paradigma não
relações com os seres humanos). antropocêntrico? Eu diria que, para falar sobre ir além do
Eu definiria “humanidades não-antropocêntricas” ou antropocentrismo ou sobre pós-humanismo não é escolher
pós-humanidades como um conjunto institucionalizado de um tema fantasia, não é considerar uma abordagem
tópicos de pesquisa, técnicas e interesses que deriva seu epistemológica, mas é, principalmente, uma escolha ética
ethos do movimento intelectual e da postura ética orientada para o futuro. Observando os resultados da crise
chamadas de pós-humanismo. Esta postura ética pode ser ecológica, o rápido progresso tecnológico e
entendida como uma variedade de abordagens que principalmente conquistas recentes da engenharia
continua o legado das ciências humanas para além do genética, biotecnologia, neurofarmacologia e
humanismo, buscando linhas não- ou antiantropocêntricas nanotecnologia, estou convencida de que, como
de investigação. O problema do pós-humanismo é muito historiadores e intelectuais devemos pensar novamente
complexo, porque não há tendências, estilos de sobre as "grandes questões", sobre questões globais.
pensamento ou orientações filosóficas singulares e Na década de 1970, um estudioso polonês, Henryk
homogêneas que podem ser relacionados a este termo. O Skolimowski, introduziu o conceito de eco-filosofia, que
espectro desta perspectiva vai de discussões sobre o questionou o valor de sobrevivência do tipo de
tratamento ético dos animais, através das fronteiras de conhecimento científico que levou a física com sua
identidade da espécie, transgênicos e cruzamento de racionalidade restritiva e objetividade como seu
espécies híbridos para biometria. Não há dúvida, porém, paradigma. "Nosso conhecimento", ele escreveu em 1974,
que uma base comum de todas essas orientações e "e nunca devemos esquecer isso - é um instrumento
tendências é a problematização, crítica e/ou rejeição do supremo em ajudar as espécies em vias de sobrevivência".
antropocentrismo. Mas, o conhecimento tem que evoluir e mudar junto com
Três problemas-chave da pesquisa abordados pelas a evolução das espécies e de acordo às necessidades
pós-humanidades incluem: as fronteiras entre as cognitivas da espécie humana. Skolimowski apontou que,
identidades das espécies; as relações entre o ser humano no interesse da preservação da espécie humana, nós não
com a tecnologia, o meio ambiente, os animais, as coisas precisamos de conhecimento abstrato, mas um
(isto é, com os não-humanos); e questões de biopoder, conhecimento que contribui para a sua sobrevivência.
biopolítica e biotecnologia. Como salientado por Cary
Apesar da confiança iluminista no conhecimento como do dualismo ontológico da natureza e da cultura, e do
um "instrumento supremo" julgo esse argumento bastante corpo e da mente, que são características do pensamento
convincente. Então, se nós perguntamos: que tipo de ocidental. O mundo nessa abordagem é heterárquico ao
humanidades que precisamos hoje em dia? Eu poderia invés de hierárquico. "Eu me relaciono, logo existo",
responder que precisamos do tipo de conhecimento, escreve Bird-David, descrevendo os compromissos
cognição e ciência humana que têm valor de sobrevivência íntimos dos nativos com o meio ambiente.
e podem ajudar na proteção e continuação da espécie. Estudiosos influenciados por Bruno Latour estão
Proteger a vida é um projeto "paternalista" e nós temos interessados em como os seres humanos e não-humanos
que estar muito consciente de seus resultados. Alguns interagem através de vários processos de mediação e
estudiosos chamariam isso de "antropocentrismo efetivamente de modelos coletivos; como através de vários
iluminista" de tal maneira que leva em consideração a cruzamentos eles trocam suas propriedades. O termo
natureza e os não-humanos e pressupõe que o nosso "epistemologia relacional" também é usado por Latour.
cuidado ético pela natureza e não-humanos advém do Referindo-se a um coletivo de seres humanos e não-
nosso cuidado e responsabilidade aos humanos. Essa ideia humanos, essa epistemologia - como é na abordagem de
seria rejeitada por estudiosos que trabalham no paradigma Bird-David - rejeita a visão positivista de objetos ou atores
da "ecologia profunda", ou a teoria de Gaia, que afirmam como fechados e separados do mundo, existindo em si
que a natureza ou a terra vai se auto cuidar. Os próprios mesmos, antes de qualquer participação em redes
historiadores também expressam toda a sua consciência ecossociais e semióticos de interações.
deste problema durante a indagação: "Quantas vezes nós A necessidade de uma tal abordagem nos estudos
consideramos o fato ecológico indesejável, mas inevitável históricos tem sido observada também pelos próprios
que, embora a vida na Terra possa sobreviver muito bem historiadores, especialmente aqueles que estão
sem os seres humanos, sem formigas todo a criação interessados em história ambiental. Por exemplo, Ted
desagregar-se-á?” Steinberg está ciente de que "precisamos de uma visão
Tendo em mente as limitações do paradigma de menos antropocêntrica e menos arrogante" do conceito de
sobrevivência, vamos desenvolver a seguinte hipótese: o agência humana, enquanto Richard D. Foltz, em um modo
desafio as pesquisas de hoje não estar tanto em perguntar “latouriano”, afirma que a História é sobre as interações e
novas questões e propor novas teorias ou métodos de interconexões e não devemos limitá-los a ligação entre os
análise, o que poderia brotar das tendências atuais de seres humanos uma vez que "muitas das nossas interações
pesquisa em ciências humanas, mas colocar a própria históricas mais significativas têm sido e continuam a ser
investigação no contexto do paradigma emergente do com não-humanos". Apelando para a integração da
conhecimento não antropocêntrico ou pós-humanista. história ambiental com a história mundial, ele afirma que
Andrew Pickering chamou esta estratégia de "a história mundial, se feita corretamente – expandindo o
"deslocamento pós-humanista dos nossos esquemas tema das interações para incluir todos os atores, e não
interpretativos". É claro que a questão não é eliminar o ser apenas os humanos – não é apenas boa sabedoria, ela pode
humano a partir de nossos estudos, mas - como eu ser vital para salvar o planeta!" O projeto da sociologia
mencionei acima - para deslocar o sujeito humano do crítica de Latour, que é um ponto de referência para muitos
centro de estudos históricos, arqueológicos e estudiosos interessados em transcender o
antropológicos. antropocentrismo, é principalmente o estudo do coletivo
Nossa reflexão sobre o passado deve se estender a esses de humanos e não-humanos, especialmente a evolução das
seres não-humanos que foram recentemente estudados por suas relações, bem como o surgimento e transformação de
várias disciplinas. Coisas, plantas e animais não-humanos novas associações.
também devem ser incorporados à História como algo Hoje, a abordagem predominante para os não-humanos
diferente de receptores passivos de ações humanas. em termos de sua alteridade (animais, plantas e coisas
Gostaria de sugerir que, diante de uma crise ecológica e da consideradas como "outros") é conservadora e não
transformação radical do que significa ser humano, progressiva. Ela ainda implica o domínio humano e as
causado pela engenharia genética e psicofarmacologia, relações de hierarquia, mas pressupõe uma certa
precisamos de conhecimentos variados, cognição e da responsabilidade não só para com os outros seres
ciência humana, que possuem valor de sobrevivência e irá humanos, mas também para com os seres não-humanos.
ajudar na proteção e continuação da espécie. Assim, a Nesta abordagem, as pessoas agem em nome dos não-
grande questão para o desenvolvimento de um estudo humanos cumprindo assim um contrato de proteção. Tal
histórico “amigável ao futuro” seria: que tipo de abordagem ainda promove um discurso de colonização em
indagações para pesquisa, materiais de investigação, que o não-humano é tratado como o outro frágil e
teorias e abordagens devemos promover a fim de vitimizada em uma veia similar à de mulheres, crianças e
fortalecer o valor de sobrevivência do conhecimento pessoas com deficiência. No entanto, mesmo no âmbito
produzido pela reflexão sobre o passado? convencional da pesquisa humanística, colocar o
O que precisamos é estabelecer uma relação humano- problema de um sujeito não-humano significa desafiar a
não-humano com base em uma abordagem não posição antropocêntrica e, assim, dar o primeiro passo
antropocentrica e em uma epistemologia relacional. Como para parar a "máquina antropológica" - para usar o termo
o antropólogo Nurit Bird-David mostrou, pensando como de Giorgio Agamben.
a epistemologia relacional é marcada por uma superação

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