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Resumo: Este artigo fomentará uma discussão sobre o que é a História Ambiental, quais
são seus pressupostos e objetos. Levando em consideração uma possível exacerbação do
objeto de estudo e seus “limites”, que não foram bem definidos em debates historiográficos.
O objetivo central do artigo é usar/criar categorias de análise que dominem um estudo tão
vasto. Levando em conta os estudos de Donald Worster, faz-se necessário uma análise do
ambiente dado (natural) e do ambiente criado (modificado pelo homem). O intuito é
contribuir para o debate sobre uma História Ambiental mais rigorosa, que mesmo
possuindo certa pretensão a uma História Total pode ser feita de maneira mais
sistematizada e setorizada, distinguindo-se, assim, toda a sua interdisciplinaridade e
metodologia.
Obtendo essa explicação inicial do que seria História Ambiental, pode-se começar a
traçar linhas propositivas nesse debate. Segundo Worster (1991), essa área tomaria como
premissa à abrangência de narrativas e a vida dos seres humanos como parte integrante do
planeta; planeta esse que seria o seu ambiente. Ao aceitar-se como premissa o argumento
de que o planeta (enquanto organismo vivo), gera mudanças para seu próprio equilíbrio e
sobrevivência, o ser humano sendo parte integrante, pode ou não modificá-lo. Uma vez
modificando-o, o ser humano está praticando (individual ou coletivamente) aquilo que é o
modo de operar do próprio planeta, se equilibrando e sobrevivendo. Não é feita uma
discussão sobre “materialismo histórico 1 ” nesse momento, essa perspectiva poderá ser
adotada em suas subdivisões.
1
O trabalho teórico de Karl Marx está fundamentado no que ele chamava de concepção materialista da
história. O período em que ele viveu foi marcado pelas grandes mudanças causadas pelo crescente processo
de industrialização dos países europeus. Marx testemunhou o crescimento das indústrias e fábricas, o
inchamento dos meios urbanos e o consequente aumento vertiginoso das desigualdades sociais. De acordo
com a concepção materialista, fundamentada por Marx e Friedrich Engels, as mudanças sociais que se passam
no decorrer da história de uma sociedade não são determinadas por ideias ou valores. Na verdade, essas
mudanças são influenciadas pela realidade material, isto é, a situação econômica dos atores da sociedade em
questão. No materialismo histórico, as respostas para os fenômenos sociais estão inseridas nos meios
materiais dos sujeitos. Isso quer dizer que diferentes situações materiais, o que em uma sociedade capitalista
traduz-se em situação econômica, moldam diferentes sujeitos. Essa diferença seria, para Marx, vetor de
conflitos entre grupos de indivíduos submetidos a realidades materiais diferentes. (RODRIGUES, Lucas de
Oliveira. "Materialismo histórico"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/materialismo-historico.htm. Acesso em 07 de agosto de 2019.)
outro - é evidente a proposta de uma interdisciplinaridade. É necessário entender que, certa
hora, a linha entre espaço e tempo se entrelaçará. Então, esse é o momento propício para se
obter o objeto da História Ambiental.
Uma discussão faz-se necessária sobre ambiente e natureza. Muitas vezes esses dois
termos se entrelaçam em diversas análises, e é necessário adotar uma premissa para não
permitir dúvidas ao adentrar as categorias de análise. Ambiente é tudo aquilo que envolve o
homem e como História Ambiental propõe estudar esse ambiente (com o homem, que é
função da disciplina), logo a natureza é parte desse ambiente, independente da sua relação
com o homem. É improvável que haja uma boa inserção do termo natureza (como algo que
exclui o homem), primeiro porque tal exclusão torna o homem inexistente. Logo, a História
como disciplina perderia seu objeto, ou pelo menos a disputaria com outras áreas de
estudos historiográficos. Segundo, pois torna a própria proposta do autor (Worster, 1991)
confusa, já que ele parte da premissa que o homem é parte do planeta. Devemos ressaltar
que isso não significa que possa ser feita categorias de análises que separem ambos. De
acordo com Martins (2007), o trabalho de campo tem preponderância na análise da História
Ambiental, sendo as paisagens uma fonte para o historiador ambiental. Mas deve-se definir
a partir de qual perspectiva será observado o ambiente, seja ela econômica, sociocultural,
geográfica, biológica, etc. De fato as relações são essenciais para essa análise, segundo o
próprio autor:
Cabe fazer algumas colocações sobre a citação acima. Primeiro é delimitar quais
relações são essas, homem-homem, homem-ambiente (clima, espaço), homem-fauna,
homem-flora, enfatizando que ambiente abarcaria todas essas opções. Porém, é necessário
separar em algumas categorias para melhor analisar. Dependendo qual categoria se analisa,
é possível refletir sobre as mais várias perspectivas e até mesmo adentrar em outras
categorias - atenta-se ao caso “homem-homem”. Nessa categoria seria trabalhada as
relações sociais e econômicas, ou seja, submetendo as áreas da História Cultural,
Econômica a algo muito maior, nesse caso à História Ambiental. Essa “subordinação” de
outras áreas historiográficas já expostas em linhas preliminares, aponta para a necessidade
de se pretender uma História Total, onde copiosas narrativas, perspectivas, relações, se
encaixam de maneiras disformes. Um grande mosaico de interações, permitindo pinçar
profusas análises.
Assim como a História é filha de seu tempo, buscando assim jogar luz aos processos
que estão inteiramente ligados a vida cotidiana, a História Ambiental tem o papel de
mostrar processos ainda mais complexos das interações no ambiente, interações essas que
expuseram problemáticas atuais, mas que é possível demonstrar suas raízes na longa
duração.
É proposto até aqui o que Worster (1991) colocou como premissa para se estudar
História Ambiental, abrangência de narrativas e homem como parte do planeta. Porém, o
esforço é feito no sentido de dar base científica para área pretendida, demonstrando por
meio das diversas perspectivas, disciplinas, áreas historiográficas, até então expostas. A
partir daqui será feita uma breve discussão sobre a função da História Ambiental de
compreender debates acerca do idealismo2 e materialismo dialético3 em sua construção.
2
Do latim tardio idealis. Em sentido geral, “idealismo” significa dedicação, engajamento, compromisso com
um ideal, sem preocupação prática necessariamente, ou sem visar sua concretização imediata. Ex.: o
idealismo de fulano. O termo “idealismo” engloba, na história da filosofia, diferentes correntes de pensamento
que têm em comum a interpretação da realidade do mundo exterior ou material em termos do mundo interior,
subjetivo ou espiritual. Do ponto de vista da problemática do conhecimento, o idealismo implica a redução do
objeto do conhecimento ao sujeito conhecedor; e, no sentido ontológico, equivale à redução da matéria ao
pensamento ou ao espírito. O idealismo radical acaba por levar ao solipsismo. (JAPIASSÚ, Hilton e
MARCONDES, Danilo. 2008)
3
Tudo o que existe é material ou depende da matéria para existir. Visão marxista de que os acontecimentos
políticos e históricos resultam do conflito social e deriva das necessidades materiais e podem ser encarados
como uma série de contradições e suas resoluções. (LEVENE, L. 2013)
como idealismo gera a dúvida de como utilizar, o materialismo também partilha dessa
mesma preocupação. Talvez seja melhor utilizar enquanto perspectiva, assim como é feito
com tantas outras ferramentas que não são próprias da História Ambiental.
É impossível dar conta de toda a realidade humana, todo o artigo tem proposto um
novo sentido em estudar História Ambiental, sentido de demonstrar os processos e suas
diversas perspectivas, ou seja, reorganizar os estudos historiográficos e seus limites. As
mudanças do ambiente ficaram bastante evidenciadas a partir da revolução industrial, isso é
um fato. Tanto História Econômica, Cultural, Política, respondem em suas respectivas
perspectivas o fato e seus processos, mas não conseguem perpassar a barreira que limita
suas áreas, muito menos conseguem adentrar os limites de outras áreas.
Braudel é o principal historiador que esboçou uma ideia de História Total, esse
esforço tende ao diálogo com as diversas áreas acadêmicas e historiográficas.
O objetivo da História Ambiental é exatamente o que foi descrito até aqui; levantar
diversos documentos, dados, narrativas, respondendo as novas questões relacionadas a
mudança do ambiente. Esse estudo vai gerar dificuldades e deve gerar mudanças em
algumas dinâmicas humanas, como a do trabalho e do extrativismo por exemplo. Esse é um
trabalho que requerer método e trabalho em equipe, isso ficou claro na proposta da História
Ambiental como História Total.
O artigo buscou dar novos horizontes de análise para História Ambiental, pautando
algumas mudanças na dinâmica do estudo dos historiadores ambientais. Evidente que esse é
somente um esboço de proposta, que alarga a possibilidade para que mais adiante, tais
ideias sejam trabalhadas em profundidade através de discussões que tem profundas raízes
nos conflitos ambientais atuais.
Conclui-se que é possível fazer História Ambiental, mas essa enquanto moldura que
tenta juntar as mais diversas perspectivas, sejam historiográficas ou interdisciplinares. As
ferramentas existem, basta o historiador ambiental ir buscá-las e utilizá-las. A História
Ambiental é ampla, logo, é trabalho do historiador ambiental melhorar os métodos e traçar
novas categorias de análise que sejam capazes de esclarecer o objeto dessa nova história.
Referencias