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Texto 7

Texto de referência para a aula  Professor José Knust


Natureza e Sociedade  Primeiro semestre

Texto 7A:
Robert Marks. “A Revolução Industrial e as suas consequências – 1750-1850”.
O Mundo Global: a história da época moderna. Lisboa: Clube do Autor, 2018.

Em 1750, quase todos os 750 milhões de pessoas do porque ele era de elevada qualidade e de preço inferior aos
mundo, independentemente do lugar onde habitavam ou têxteis produzidos internamente (em particular os de linho
do sistema político e econômico que tivessem, viveram e e de lã). O seu contacto com a pele era agradável, tomava-
morreram no antigo regime biológico. As necessidades da se leve no verão, aceitava ser tingido de cores vivas e,
vida – alimentação, vestuário, abrigo e combustível para acima de tudo, ficava menos dispendioso do que qualquer
aquecimento e cozinhar – provinham, na sua maioria, da outro tecido que os ingleses pudessem fabricar. De facto,
terra, do que podia ser recolhido dos fluxos anuais da por volta de 1700, a Índia era o maior exportador de têxteis
energia do Sol sobre a Terra. Também as indústrias, como de algodão do mundo e fornecia têxteis não só para suprir
os têxteis, o couro e a construção dependiam de produtos a procura inglesa, mas também de todo o mundo. O
da agricultura e das florestas. No antigo regime biológico, Sudeste Asiático, a África Ocidental e Oriental, o Médio
por exemplo, o ferro e o fabrico do aço dependiam do Oriente e a Europa eram grandes mercados de exportação,
carvão feito a partir da madeira. O antigo regime biológico além do enorme mercado interno indiano. (...)
estabeleceu assim limites não só à dimensão da população Alguns pensavam que isso se devia ao baixo nível de
humana como também à produtividade da economia. vida dos indianos ou por a maioria da população auferir
Esses limites começaram a ser levantados entre 1750 e salários baixos, mas todos estes motivos se revelaram
1850, quando algumas pessoas passaram a utilizar cada falsos: os trabalhadores indianos no século XVIII tinham
vez mais o carvão para produzir calor e a aproveitar esse um nível de vida igual aos dos trabalhadores britânicos.
calor para alimentar o movimento repetitivo das máquinas Portanto, se não era um baixo nível de vida que dava à
movidas a vapor que faziam o trabalho previamente índia a sua vantagem competitiva, o que era? Numa
realizado por músculos. Isto tornou-se num grande palavra: a agricultura. A agricultura indiana era de tal
avanço, retirando a sociedade do antigo regime biológico forma produtiva que a quantidade de alimentos produzida;
e lançando-a num regime novo já não limitado pelos e por isso o seu custo, era vendida a um preço
fluxos de energia solar. O carvão é a energia solar significativamente inferior ao da Europa. Na época pré-
armazenada, depositada há milhões de anos. A sua industrial, quando as famílias trabalhadoras gastavam 60 a
utilização nos motores a vapor libertou a sociedade dos 80 por cento do seu rendimento. na alimentação, o custo
limites impostos pelo antigo regime biológico, permitindo dos alimentos era o principal determinante dos salários
que a energia produtiva e o número de seres humanos reais. (...) Na Índia (e também na China e no Japão), a
crescessem exponencialmente. A substituição com o quantidade de cereais produzida a partir de uma dada
vapor gerado pelo carvão incandescente – do vento, da porção de sementes era na proporção de 20:1 (...),
água e dos animais – para moverem as máquinas enquanto em Inglaterra era, na melhor das hipóteses, de
industriais constitui o início da Revolução Industrial e 8:1. (...) Assim, embora, os salários nominais possam ter
equivale em importância para o curso da história à muito sido inferiores na Índia, o poder de compra – o verdadeiro
anterior Revolução Agrária. A utilização de combustíveis salário – era superior.
fósseis primeiro do carvão e depois do petróleo - não só No antigo regime biológico, a agricultura produtiva era
transformou as economias em todo o mundo, como a vantagem comparativa da Ásia, mesmo em relação à
também acrescentou gases com efeito de estufa à indústria. (…) A questão passa então a ser: como
atmosfera da Terra. (...) começaram os britânicos a inverter esta desvantagem
É ideia geral que a Revolução Industrial começou na comparativa? (...) A Guerra dos Sete Anos - ou mais
Inglaterra do século XVIII com a mecanização do precisamente, a vitória dos britânicos nas Américas e na
processo de tecer o fio e o pano de algodão. (...) O Índia - é importante para a história da Grã-Bretanha como
problema é que, enquanto a Inglaterra foi o primeiro país produtor, e não importador, de algodão. (...) O
país a revolucionar a manufatura do algodão Governo havia proibido a importação de têxteis indianos
utilizando a maquinaria movida a vapor, como e em 1707 com a finalidade de permitir o desenvolvimento
da sua indústria doméstica de algodão, o que se verificou
porque é que isso sucedeu só pode ser entendido num
nos arredores da cidade de Lancaster. Mas, (...) [ela]
contexto global. produzia sobretudo para o mercado interno britânico,
Nos finais do século XVI, os ingleses desenvolveram
sendo ainda superada no mercado mundial pelos têxteis
um apetite intenso pelos têxteis de algodão indianos,
indianos (...). Para que a indústria têxtil (...) britânica
vulgarmente conhecidos por calicós. (...) Os ingleses
crescesse era necessário mercados de exportação. E havia
importavam tanto algodão indiano por volta de 1700
um mercado em crescimento no Novo Mundo (...)
Até cerca de 1830, a história dos têxteis de algodão das plantações de algodão no Sul americano (...)
continua em grande parte a ser uma narrativa que se estimulando e sustentando o crescimento da indústria
desenrola dentro do velho regime biológico, ou seja, tudo têxtil do algodão do Lancashire. (...) Neste sentido, esse
nela dependia dos fluxos anuais da energia solar e do seu grande acontecimento na história mundial dependeu de
aprisionamento pelos seres humanos. De facto, as inúmeros fatores, incluindo as colónias americanas.
primeiras “fábricas” inglesas tinham começado a usar a Mas também o foi o desenvolvimento do novo
energia hidráulica, mas havia um limite de quanto essa complexo energético e industrial do carvão, ferro e vapor.
energia podia aumentar a produção têxtil de algodão. Na Para fazer arrancar os primeiros passos dessa combinação,
realidade, são vários os motivos para se pensar que teria foi necessário um conjunto de fatores adicionais,
alcançado sérios limites dentro do antigo regime especialmente os que criaram uma procura de ferro e
biológico, levando (...) a um impasse econômico, se não utilizavam diferentes formas da geração de vapor, além da
fosse o carvão, a máquina a vapor e a produção de ferro e mera bombagem de água das minas de carvão. (...) O
aço, que verdadeiramente lançaram a Revolução Industrial grande avanço surgiu, então, com a construção do
e permitiram aos ingleses escapar aos constrangimentos primeiro caminho de ferro movido a vapor. (...) As
impostos pelo antigo regime biológico. (...) máquinas a vapor também transformaram a indústria
Na realidade, entre 1400 e 1800, a dinâmica do antigo têxtil, aumentando grandemente a produção. (...)
regime biológico, sobretudo nas áreas mais densamente Ecologicamente, as economias .do Velho Mundo (e do
povoadas, (...) não conduzia a um “mundo moderno” antigo regime biológico), desde a China até Inglaterra,
baseado na energia de combustíveis fósseis e de indústrias começavam a sofrer com a falta de terras devido ao
e casas eletrificadas, mas a um uso cada vez mais intensivo desbravamento das florestas para darem origem a
de recursos. Em parte, este resultado foi provocado por um explorações agrícolas e serem utilizadas como
aumento demográfico significativo no mundo, com a combustível para aquecimento. Um mercado de maior
população a subir de 380 para 950 milhões, grande parte dimensão e a divisão da mão de obra permitiram, tanto à
ocorrido no século que se seguiu à crise global do século China como à Inglaterra, por exemplo, dinamizar a
XVII, que levou. ao abate das florestas em busca demais economia do antigo regime biológico (isto é, sobretudo
terras aráveis (e alimentos para as pessoas). (...) agrário), mas que supria as carências de vida com toda a
Por todo o Norte da Europa, notavam-se sinais de terra necessária. Sem carvão nem colónias, os chineses
sobre-exploração da terra (...). Na China, apesar da viram-se obrigados a recorrer a maiores quantidades de
agricultura extraordinariamente produtiva, (...) [a inserção mão de obra e de capital para melhorar a produção da terra,
de novos cultivos vindo das Américas tornou] possível a enquanto os ingleses estavam libertos desse
exploração agrícola de terras previamente marginais nas constrangimento pelos recursos do Novo Mundo e pela
colinas, montanhas e áreas arenosas. (...) Estava iminente disponibilidade imediata do carvão. (...)
uma crise energética do antigo regime biológico conforme No decurso da história humana, a importância da
diminuíam os recursos que as pessoas haviam recolhido da Revolução Industrial é igual ou superior à da Revolução
natureza durante milhares de anos. Agrária. Enquanto a agricultura permitiu às pessoas
Esta crescente crise energética abrangeu a Inglaterra, e aproveitar os fluxos anuais energéticos do Sol,
os londrinos começaram a utilizar cada vez mais o carvão possibilitando o surgimento das populações humanas e o
para aquecer as casas e cozinhar as refeições. Em 1700, a florescimento das civilizações, embora dentro dos limites
população de Londres havia crescido para cerca de meio do antigo regime biológico, ao longo do tempo, a
milhão e o seu consumo de carvão correspondia a mais de Revolução Industrial tenha proporcionado à sociedade
metade da produção da Inglaterra. (...) Crescentemente, na humana escapar aos constrangimentos do antigo regime
Inglaterra do século XVIII, o carvão foi utilizado para fins biológico e construir economias e novas formas de
industriais, sobretudo para a queima de cal (a fim de organizar a vida humana baseadas nas fontes armazenadas
produzir um fertilizante destinado à agricultura), fabrico de energia mineral, em particular do carvão e petróleo. (...)
da cerveja, indústria vidreira e para ferver a água do mar a O estilo de vida no mundo que habitamos é tornado
fim de a dessalinizar. No princípio do século XIX, os possível pelo imenso aumento da produção material
fabricantes de ferro começaram a usar o carvão, em gerada pela Revolução Industrial.
substituição do cada vez mais raro carvão vegetal. A (...) Esses primeiros passos rumo ao mundo industrial
máquina a vapor e o “uso do carvão nas fábricas foram os deixaram vestígios na atmosfera global. Sabemos. agora
dois elementos-chave no novo complexo energético”. E que a queima dé combustíveis fósseis feita ao longo dos
esta combinação colocou a Inglaterra à beira de dar o salto últimos 200 anos libertou grandes quantidades de gases de
para a era industrial, arrastando depois o resto do mundo aquecimento global, em particular dióxido de carbono
com ela. Mas por quê? (CO2) e metano (CH4), para a atmosfera. Grande parte
Curiosamente, em Inglaterra podia ter-se verificado um desse aumento sucede a partir do final do século XIX,
destino agrário semelhante ao chinês, bem como noutras quando pressões competitivas globais conduziram à
partes da Europa. Ao invés, a Inglaterra viveu uma industrialização e ao enriquecimento de algumas zonas do
revolução industrial que mudou tudo no país, e também no mundo, criando em simultâneo as condições para um
mundo. Em parte, o motivo é que a Inglaterra tinha uma enorme fosso que progressivamente afastou outros que se
periferia “peculiar” no Novo Mundo: escravatura, iam tornando cada vez mais pobres.
legislação colonial mercantilista e, mais tarde, a expansão
Texto 7B:

Wiltold Zmitrowicz, “O processo de urbanização”


https://mac.arq.br/wp-content/uploads/2016/02/O-Processo-de-Urbaniza%C3%A7%C3%A3o.pdf

Os seres humanos, para a sua subsistência, sempre informações e pessoas. Nas áreas urbanas, eles são
retiraram matéria e energia, e utilizaram informações manipulados ou produzidos pelos moradores, e influem
colhidas do meio ambiente. No início podia ser uma uns nos outros de forma intensa, se entrecruzam e se
simples coleta de elementos vegetais, depois a caça e a transformam.
pesca. Mas, à medida que a velocidade da reposição Do ponto de vista dos habitantes, esses inter-
natural foi-se tornando insuficiente para compensar a relacionamentos de fluxos são simplesmente as atividades
destruição dos elementos consumidos, o “homo sapiens” exercidas nos ambientes urbanos, internos ou externos.
passou a criar ambientes para facilitar e acelerar a sua Atividades urbanas normalmente não se deslocam, mas se
reprodução. A agricultura e a criação de rebanhos processam no espaço, subdividido física e não físicamente,
ensejaram a especialização de funções e o início de em ambientes adequados, formando os usos do solo, cujo
diversas atividades correlatas e intermediárias que foram conjunto se propaga ou se reduz, evoluindo à medida que
se tornando cada vez mais importantes dentro do sistema é produzido, atraído ou afastado por certos elementos, e é
de funcionamento da sociedade. Além da produção, havia contido por outros. A proximidade de sistemas de
necessidade de troca, de organização e de previsões em transporte ou a possibilidade de sua implantação, as infra-
relação a situações futuras. Territorialmente, os ambientes estruturas e sistemas viários regionais, o zoneamento, e
para a produção eram fixados em função das condições mesmo a localização de certas atividades específicas
favoráveis dos solos e do clima; para as outras funções podem ser elementos condicionadores da evolução
eram importantes a facilidade de informação, espacial dos usos urbanos.
comunicação, transporte e deslocamento, além de Durante milênios a população viveu na maior parte em
ambiente de segurança para todos os participantes. regiões rurais, onde era intensa a sua utilização como mão
Os caminhos, que são criados em função dos de obra. Neste sentido a produtividade se mantinha
deslocamentos periódicos dos indivíduos ao longo de bastante baixa e pouca gente podia ser sustentada com os
traçados que permitem a sua efetuação mais fácil, excedentes agrícolas. (...)
constituem faixas privilegiadas em relação ao restante do [Contudo,] A população mundial, especialmente a
território, tanto em termos de transporte como de localizada em centros urbanos, tem crescido rapidamente
comunicação e informação. E as vantagens locacionais se ao longo dos dois últimos séculos. As razões iniciais de tal
multiplicam nos cruzamentos dos caminhos e pontos de fenômeno têm sido as mudanças surgidas na tecnologia
transferência entre diversos modos de transporte. É nessas agrícola, que aumentaram a produtividade e reduziram as
áreas que acabam se concentrando as atividades que não necessidades de mão de obra em áreas rurais, fazendo com
dependem diretamente da fertilidade ou da riqueza do solo que levas de camponeses se deslocassem em direção às
ou de questões climáticas, e que facilitam a vida dos áreas urbanas, onde a sobrevivência parecia menos difícil.
indivíduos pelo intercâmbio que possibilitam. Contatos A seguir, a revolução industrial, ao aproveitar como mão
humanos assumem localmente importância maior que os de obra a população que se concentrava, passou a criar
contatos com a natureza. A troca de idéias e de empregos nas cidades.
conhecimentos, a procura do prestígio e a concorrência A industrialização foi uma das grandes alavancas do
permitem o desenvolvimento de novas técnicas e maior crescimento das grandes aglomerações que começaram a
eficiência nas atividades. Formam-se então sociedades surgir a partir do século passado. O desenvolvimento
com maior diversificação de recursos, o que lhes dá maior tecnológico determinou grandes transformações nas
probabilidade de sobrevivência diante das mudanças estruturas e funcionamento das aglomerações urbanas. As
bruscas do meio externo. indústrias utilizaram inicialmente a energia hidráulica
Chamamos de rurais aqueles territórios em que são fluvial, e a seguir a máquina a vapor. Da beira dos rios, a
retirados da natureza os elementos necessários para o produção começou a se deslocar para áreas ao longo das
consumidor humano. Neles encontramos usos estradas de ferro, que surgiam como o principal meio de
agrícolas/hortifrutigranjeiros, de indústria extrativa e transporte tanto das matérias primas como do carvão, que
pecuária. E chamamos de urbanas as áreas onde as passou a ser a principal fonte de energia. A divisão
atividades apenas se assentam sobre o solo, que constitui organizacional entre a produção e a administração levou à
um elemento de construção dos espaços que as abrigam, e separação espacial entre a fábrica, contendo atividades de
se interligam umas às outras através de complexos produção, e o escritório, com atividades de administração
sistemas de vias, cabos, dutos e canais. Sistemas que se e controle, interligados por linhas telefônicas. A
estendem às regiões rurais, pois estas formam, junto com concentração de escritórios administrativos nas áreas
as áreas urbanas um único todo, que deve funcionar com urbanas centrais foi reforçada pela expansão do setor
certa harmonia para permitir a sobrevivência das varejista e dos serviços.
populações. Desde o final do século XIX, com o crescimento das
A forma mais abstrata de se conceber a cidade em populações que formam a mão de obra das indústrias, ao
operação seria como o conjunto de espaços contendo inter- mesmo tempo barata, descartável e perigosa para as
relacionamentos de fluxos de matéria, energia, classes dominantes, estas passam a residir
progressivamente em bairros segregados, projetados com o tempo, mesmo o comércio e a indústria a utilizam
conforme os ditames das demandas. As residências de cada vez menos. Surgem, então, as atividades informais,
luxo deixam de constituir, como no passado, pontos focais exercidas por indivíduos autônomos, inclusive
de áreas organizadas hierarquicamente, com funções “ambulantes” que utilizam espaços públicos, em geral não
econômicas e sociais complementares agregadas, e se enquadrando nos sistemas previdenciários. Cresce a
formam extensas áreas homogêneas, em que os ambientes quantidade de pessoas desempregadas e desabrigadas que,
não são perturbados pela vizinhança de outras atividades quando não conseguem ser atendidas por serviços de
urbanas, a não ser aquelas ligadas ao lazer ou assistência social mantidos pelos governos, acabam
eventualmente a atividades religiosas. marginalizadas dos quadros da sociedade.
As indústrias se estabelecem em áreas compactas nas Os deslocamentos de pessoas e cargas, se são fáceis nas
periferias das cidades, em função das vias e transportes pequenas aglomerações, começam a apresentar problemas
disponíveis, bem como do custo das glebas existentes, nas à medida que elas crescem, não tanto devido às distâncias
suas proximidades surgindo bairros operários, cada vez a serem percorridas, quanto aos congestionamentos de
mais distantes dos bairros antigos, já servidos por bondes veículos nas vias, sobrecarregadas em determinados
ou mesmo pelas primeiras linhas de metrô. A partir da períodos do dia. Os espaços podem ser utilizados de forma
segunda década do século XX, essas áreas habitacionais mais eficiente através do transporte coletivo,
dispersas passam a ser servidas por linhas de ônibus. principalmente o sobre trilhos, reduzindo-se entretanto a
E as indústrias perdem o seu vínculo obrigatório com sua flexibilidade e conforto, obrigando a percursos a pé ou
as estradas de ferro, ao passarem à utilização da energia a utilização de outros veículos em viagens
elétrica e dos combustíveis originados do petróleo. complementares. Nas grandes cidades as viagens diárias
“Embora as cidades continuassem a crescer em tamanho, entre residências e locais de trabalho acabam consumindo
foi em extensão de área que a expansão foi mais dramática. períodos de tempo significativos na vida dos habitantes,
Por exemplo, entre 1919 e 1936, a Grande Londres principal fator a limitar as dimensões das aglomerações
aumentou em população de seis para oito milhões, mas em humanas.
área expandiu cinco vezes. A expansão externa foi O abastecimento em energia e em gêneros alimentícios
facilitada, e na verdade encorajada, pelo desenvolvimento não se baseia hoje na produção de áreas rurais próximas.
das redes de transporte público”. (...) Sistemas complexos envolvendo regiões longínquas
Um novo fator começou a influir no crescimento situadas em outros municípios, estados e países garantem
demográfico das cidades: o progresso da medicina e a o atendimento de altas demandas desde que assegurados
melhoria das condições de higiene, proporcionada sistemas de transporte adequados e rendas que permitam à
principalmente pelo desenvolvimento da “Engenharia população participar do mercado. Baixos níveis de renda
Sanitária”. No passado, como no presente, os seres e marginalização de grupos de população podem criar
humanos, que convergem para as cidades em busca problemas, cuja solução requer ação de governos e da
de sobrevivência e empregos, abrigam-se em casebres, própria sociedade. O abastecimento de água muitas vezes
cortiços e conjuntos de habitações precárias, cuja obriga à utilização de reservas de regiões vizinhas, criando
densidade de ocupação logo ultrapassa as previsões problemas políticos na disputa dos recursos existentes.
iniciais e cria condições prejudiciais à saúde das pessoas. A poluição do ar causada pelas indústrias e
Na década de 30 do século XIX, surgiu na Europa o cólera, principalmente pelos motores de propulsão dos veículos
que, à semelhança das antigas pestes, se ajuntou às alcança níveis preocupantes, principalmente nas áreas
doenças que já assolavam as cidades. A descoberta da metropolitanas, criando problemas para a saúde dos seus
existência e do papel dos micróbios, a atenção crescente a habitantes. A poluição das águas, agravada por vezes pela
questões de higiene, consubstanciadas pelo “Public Health insuficiência de tratamento dos esgotos, cria problemas
Act” (1848), na Inglaterra, começaram a ser difundidas em longas faixas dos rios a jusante, e internamente às
pelo mundo, documentadas nos congressos de higiene. A cidades por ocasião de inundações causadas por
água para abastecimento das cidades deixou de ser tirada deficiências nos sistemas de drenagem e pela
diretamente dos rios que as atravessavam, foi aperfeiçoada impermeabilização excessiva do solo criada pela
a fabricação de canos de ferro que substituíram os dutos urbanização. O descarte do lixo, além das questões
de madeira e chumbo, deu-se início à filtração de água, técnicas, cria problemas de disponibilidade e de uso de
começaram a ser construídas as primeiras redes de esgotos espaços, bem como de custos de transporte.
em grande escala, jogando os dejetos e detritos humanos e
industriais nos próprios rios, a jusante das áreas urbanas.
(...)
Vários problemas têm afligido e ainda afligem as áreas
urbanas. (...) As discrepâncias entre os níveis de renda da
população têm aumentado no mundo, principalmente em
países em desenvolvimento. (...) A perda de empregos no
campo e a consequente migração para as cidades traz para
estas grandes contingentes de mão de obra potencial mas
despreparada. Num período inicial tal mão de obra é aos
poucos absorvida principalmente pelas indústrias, mas,

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