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Walter Salles
O cinema era uma matéria viva, que merecia ser compartilhada. Ao longo
dos 22 anos em que Saulo esteve à frente do Arquivo Mário Peixoto, sempre
ao lado de Ayla, companheira de vida, cerca de cem teses de mestrado ou
doutorado foram escritas a partir da fortuna crítica que ele amealhou. Editou
toda a obra poética de Mário Peixoto e o seu romance “O inútil de cada um”,
com a ajuda preciosa de Roberta Gnatalli. Fazia questão de tornar
disponíveis todos os livros que falassem de “Limite” — bem ou mal, não lhe
importava. Roberta lembra como Saulo “gostava de distribuir seus achados,
suas ideias e teorias, e fazia isso largamente”.
Foram mais dez anos de trabalho, com o apoio da Film Foundation de Martin
Scorsese e da Cinemateca de Bolonha, até reencontrar o mesmo contraste em
nitrato, que só Saulo conhecia. Ele era, àquela altura, a memória viva do
filme. Quando Saulo aprovou o restauro digital, no último dia de trabalho,
Patricia lembra que “ele antecipava cada plano, dizendo o que seria
importante notar no próximo — e no próximo e no próximo.... foi uma
provação de duas horas. Não era em nitrato, mas o grão estava ali, as altas e
baixas luzes e os meios tons também”.
E então houve a batalha dos créditos. “Saulo foi muito generoso em querer
nossos nomes junto ao dele na cartela de créditos. Insistimos que apenas ele
deveria ser creditado”, lembra Patricia. “Saulo respondeu com uma cartinha
inspirada na famosa frase da peça ‘Henrique V’, de Shakespeare: ‘We few,
we happy few, we band of brothers’... E assim foi. Nós poucos e contentes,
bando de irmãos, vencendo o combate.”
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