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ROGÉRIO SGANZERLA
Ideias e imagens de um dos cineastas mais
importantes do Brasil estão na Ocupação
Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú
Cultural, a exposição é uma oportunidade
de o público conhecer o universo criativo
da obra de Sganzerla, por meio de seus
filmes, documentos e roteiros originais
datilografados, marcados, reescritos à mão.
Anotações, referências aos artistas e aos
personagens que o inspiraram, além de fotos
e objetos pessoais, compõem a montagem.
Parte da exposição, esta publicação traz
textos atuais de críticos, pesquisadores
e daqueles que compartilharam com Rogério
Sganzerla sua energia, suas histórias de vida,
afeto, trabalhos, ideias, filmes. Com uma obra
enigmática, cuidadosa no que se refere ao som
e à construção de poesia em imagens, Sganzerla
reposicionou a história do cinema brasileiro
no mundo. Os caminhos e os percalços dessa
trajetória são contados nos relatos, na
entrevista, nas fotografias de acervo e nos
desenhos a seguir, numa homenagem afetiva ao
cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido
da Luz Vermelha, considerado pela Unesco um
Patrimônio Cultural da Humanidade.
1986
Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Trata-
se do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson
Welles ao Brasil (em 1942).
1990
Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Realiza dois
vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista
pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e
Incomum (sobre Antonio Manuel).
1991
Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles.
1992
Filmografia
Dirige o episódio Perigo Negro, que integra o
longa-metragem Oswaldianas, baseado em Documentário – 1967
Oswald de Andrade. O Bandido da Luz Vermelha – 1968
A Mulher de Todos – 1969
Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969
1998
Quadrinhos no Brasil – 1969
Lança o ensaio documental em longa-metragem Copacabana Mon Amour – 1970
Tudo É Brasil. Sem Essa, Aranha – 1970
Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista) – 1970
Fora do Baralho – 1971
2003
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da
Após muitas dificuldades, conclui O Signo do Caos, o França Antártica – 1976
último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles Ritos Populares, Umbanda no Brasil – 1977
ao Brasil, lançado e premiado no Festival de Brasília. É Abismu – 1977
Mudança de Hendrix – 1977
seu último filme.
Noel por Noel – 1980
Brasil – 1981
2004 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981
Falece no dia 9 de janeiro. Deixa uma obra extensa Irani – 1983
Nem Tudo É Verdade – 1986
de filmes e muitos escritos, na qual há roteiros não
Isto É Noel Rosa – 1990
filmados, como o do longa-metragem Luz nas Trevas Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991
– Revolta de Luz Vermelha. A partir desse roteiro, cinco Anônimo e Incomum – 1990
anos depois se iniciam as filmagens da continuação Linguagem de Orson Welles – 1990
América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992
da trajetória do Bandido da Luz Vermelha, sob a
Perigo Negro – 1992
direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. Atualmente, Deuses no Juruá –1997
encontra-se em fase de finalização. Tudo É Brasil – 1998
B2 – 2001
Informação H. J. Koellreutter – 2003
O Signo do Caos – 2003
Zonk! Crash! Boom!
Orson, Oswald, Noel e
João na Sganzerlândia
ou Tamanho Não É
Documento ou Um Pouco
de Loucura Previne um
Excesso de Tolice
Steve Berg
imagem: frame do filme B2
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
Ações
Mas O Bandido da Luz Vermelha Por aí. Tem essa força. A força também de uma atriz que
nem chegou a ir para Cannes. vinha sete anos antes dele vivendo isso, começando
O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes um movimento, mas de uma forma muito fresh, com
demora um pouco para acontecer. o Glauber, na Bahia. Na adolescência e na infância eu
me alimentava do cinema brasileiro, das chanchadas.
A própria trajetória do Orson Welles Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. Me
não foi muito diferente da do divertia e tudo, mas não era o que eu queria fazer. Mas
Sganzerla em termos de realização de tinha uma força de uma criação ali que começou com
filmes. Pelo tempo de carreira deles O Pátio [o primeiro filme de Glauber Rocha, de 1959]
e pelo número de filmes realizados, e que depois foi distribuída em outros filmes, numa
tudo é muito proporcional. criação que tinha bastante autoria, mas que, de qualquer
Será? forma, era condicionada a um pensamento que nem
sempre era o meu. Depois disso encontrei com Rogério
Mas veja, Krzysztof Kieslowski exatamente a liberdade de me expressar completamente
foi descoberto em Cannes depois de como artista. Tinha tido um vácuo muito grande talvez
praticamente 20 anos de carreira antes dele, porque essa adolescência com o Glauber
como documentarista. O Heneke foi adoravelmente fértil e louca, e estragada por um
[Michael Heneke] ganhou Palma de casamento. Éramos dois meninos, com 19 anos, na
Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no Bahia. O casamento estragou aquela coisa e foi curto.
ano passado, sendo que o cara faz Mas teve um período antes dele em que eu encontrei
filmes desde a década de 1970. Mas essa efervescência toda. Então, quando eu encontrei
esses caras conseguiram sobreviver. Rogério, eu tinha já esse fogo, esse fogo dessa atriz e
Pois é. Godard conseguiu. Mas ele é um atleta, ele tem desse encontro com Glauber, uma forma glauberiana de
uma coisa física por trás. E é suíço, o que sempre é ser artisticamente, e isso encaixou, se tornou no cinema
melhor [risos]. que eu fiz como atriz com Rogério. No mais, foi uma
imensa paixão, um grande amor extraordinário, e que fez
Talvez se Glauber e Rogério inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu
fossem franceses, eles tivessem me afastar dele, talvez a carreira, talvez ambições nesse
resistido mais. sentido. Eu queria estar ali, participar daquele momento
Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas, não é? de criação magnífico, que era a nossa presença com
Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas, os filhos, isolados. Nós sempre fomos muito isolados. E
eu tenho outras porções. Mas tenho outra notícia muito então teve a ditadura, que nos baniu completamente, e
interessante, o diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, depois a Embrafilmes, que nos deixou fora de produção.
convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do Enquanto isso o Rogério escrevendo. Ele tem uma
festival deste ano, em sessão especial. Isso foi muito bom. produção literária extraordinária, que vai começar
também logo a aparecer, assim como os roteiros. E
Locarno sempre gostou dos nossos agora será publicado um livro com os trabalhos [como
marginais, não é? crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Paulo.
Acho Locarno realmente encantador. Éramos muito afastados do cinema, graças a Deus. O que
talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de
Como é que você vê esse encontro retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma
de duas pessoas excepcionais, intensidade de sempre. Retomar essa vontade de fazer
você e o Rogério, que criaram uma cinema. Essa vontade já tinha vindo anteriormente, eu
obra tão voraz? No caso, você fiz um curta, A Reinvenção da Rua, fui movida por uma
dando vida às personagens e ele indignação pela situação da parte mais desprovida
escrevendo essas personagens. da sociedade, que são os moradores de rua. Então fiz
Não sei como dizer, talvez dizer não dizendo. Mas, bom, se a primeira coisa como diretora, diretora no sentido
trata de pessoas. Eu, ele e esse encontro. de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer
aquilo. Eu não sou exatamente uma cinéfila. Eu adoro
completamente um autor de quem às vezes eu conheço
apenas um filme só, apesar de ele ter uma obra inteira. Eu
me interesso por poucas obras e me fixo nelas.
O Rogério já tinha mais isso, Sabe o que eu acho meio doido,
não, de ser mais cinéfilo? Helena, é que nas mostras
Ele era completamente conhecedor de cinema, com 17 anos internacionais os curadores
ele já conhecia todas as fichas de filmes clássicos, de todo estão vendo os filmes do Rogério
o cinema. Esses são o Rogério, o Glauber e o Júlio Bressane. como se tivessem sido lançados
Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são hoje, com o olhar da novidade.
cinéfilos. E tem o Carlão [Reichenbach] também. É incrível isso, e mostra que são filmes modernos acima
de tudo.
Como foi, na realidade, para
você, ver o Rogério vivendo E sobre a Belair, Helena, era
obsessivamente o trabalho do Orson inevitável esse encontro entre
Welles? Como era para você essa você, o Bressane e o Sganzerla, o
grande paixão dele pelo Welles e trio Belair?
pelos filmes, você entrou nessa Eu acredito que sim.
história de peito aberto?
Era um enigma, essa convivência com o Rogério era Eu lembro que, quando vi o
uma grande viagem em mar revolto. Quando eu vi pela Copacabana Mon Amour, no Festival
primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na de Cinema Latino-Americana [2008,
mala tinha It’s All True, eu pensei “puxa, de novo”. Não em São Paulo], com uma cópia
era mais uma trilogia. Era o quarto filme. Em Locarno, restaurada, então a Djin apresentou
numa mostra sobre Welles, eu ouvi um curador dizer o filme dizendo “Ah, eles usaram
que sem os filmes de Rogério a obra de Welles não uma lente que foi do Fellini”.
seria completa. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é Vocês tinham essa magia que passa
um enigma, e é um trabalho explosivo de alguém com uma coisa que eu não vejo mais, uma
um espírito extremamente cristão, um cristão trágico coisa de ídolo, jovial.
com essa concepção de saber que todo o trabalho dele Era uma lente pesada, parecia um fundo de garrafa. Mas
só seria descoberto depois do trabalho final, fechando hoje é difícil manter essa jovialidade, não é? Mas eles
com O Signo do Caos, com o fogo da cremação. Um conseguiam fazer os filmes deles assim.
trágico total, desde A Mulher de Todos que ele trabalha
com a tragédia. Na verdade era um cinema
construtivo, que entrava na
No final de O Signo do Caos tem-se cabeça de seus ídolos.
uma repetição com a frase “acabou, (Pausa para uma conversa entre os entrevistadores
acabou, acabou”. E parece que era e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova
o fechamento da própria obra do geração de cineastas brasileiros, a exemplo do
Rogério. Isso foi muito assustador pernambucano Tião e seu filme O Muro.)
para mim.
Pois é, um fechamento dionisíaco, com fogo, com Mas vamos voltar ao assunto da
alegria, com vibração, “amém, amém”. Quando ele entrevista, que é falar do Sganzerla.
ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com É que falar da vida é muito interessante, e eu acho que
O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003], ele foi isso o que me preservou, um interesse múltiplo forte
ouviu da filha [Djin] esse anúncio. que tenho.
Você acha que o que aconteceu com muito engraçado, de um humor muito interessante, com
o Rogério por dentro foi um pouco falas extraordinárias shakespearianas, tudo isso muito
essa coisa obsessiva pelo cinema? entrelaçado em mais de 700 páginas. E no final ele se virou
Sim, essa obsessão artística nietzschiana das pessoas e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. E eu me vi com
anormais. Claro, porque eu acho que um gênio não é isso na frente, para organizar e criar e tudo isso dentro de
normal. Em toda a obra dele, mesmo no mínimo está um cinema brasileiro, sabendo de todas as dificuldades
contida a mesma qualidade em todos os filmes. E para que temos para filmar. E enfim o filme está pronto. No
mim o que me preservou foi ter conseguido arejar, sair. mais, é uma produção familiar, a produtora executiva é a
E talvez, não sei, mas de alguma maneira com isso eu Sinai Sganzerla, a Djin é a atriz protagonista, em um elenco
possa até ter preservado a vida de Rogério. Porque na maravilhoso, com grandes atrizes e atores, a exemplo do
família ele podia descansar, e talvez do contrário não André Guerreiro Lopes, que é também o meu genro, e
tivesse sido assim, talvez tivesse sido ainda mais difícil, do Ney Matogrosso, companheiro da minha geração, um
como pode ter sido para o Glauber. Mas o momento é ícone. Então tem essa estrutura familiar, com elementos
este, é de reconhecimento da obra de Rogério. E dessa que não são familiares, como a própria pessoa que eu
forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla, convidei para codirigir o filme comigo [Ícaro Martins], que
dirigido recentemente por Helena Ignez] é um filme que vem de uma concepção mais burocrática de cinema. E
abraça toda a obra de Rogério, é um filme que devora, se a grande vitória é que o filme não sofre essa influência
apodera antropofagicamente – como é da nossa família burocrática que é fazer um filme no Brasil, em absoluto. É
espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro filme. um filme radical, e radical na poesia.
É um filme interessante, rico e contraditório. Porque é
sobre a justiça, uma comédia criminal sobre a justiça, e
um filme gay, imensamente gay.
Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens, o último deles o
Como foi organizar esse roteiro? documentário A Vermelha Luz do Bandido, sobre a obra de Sganzerla.
Com a irmã, a diretora Mariana Jorge, codirigiu o documentário
Foi uma loucura. Eu estou num momento muito
América Brasil, que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge.
forte também, porque várias decisões estão em volta Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV,
desse filme e desse roteiro. Luz nas Trevas também foi dirigida por Kiko Goifman).
convidado para o Festival de Locarno, em competição
Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades
oficial. E é um filme que nasceu em 2003, pela
(1993) e Mariga (1995). Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25o
descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz, de Portugal (com
pastas vermelhas. E Rogério, que em toda a vida não o curta O Feijão e o Sonho, 1996). Seu curta-metragem Tropiabbas
deixou de perder o humor cáustico, um dia me disse teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais
de 20 países, enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai,
“Você abriu demais esse baú”. Porque exatamente
Hamburgo e Montevidéu. Atualmente finaliza seu longa-metragem
quando ele ia retomar esse trabalho, ele teve a notícia – Chuva. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na
apesar de estar com a saúde boa, normal – do câncer no Universidade Anhembi Morumbi.
cérebro. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor
está aqui, andando normalmente”. E ele perguntou Edição | Mariana Lacerda
“Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15
dias”. Em vez disso ele viveu oito meses, e foi exatamente
nesses oito meses que eu extraí força. E dentro daquele
momento terrível era de onde vinha a alegria; ela vinha
desse roteiro, da vida, das palavras dele, em um roteiro
fotos: arquivo da família de Sganzerla
foto: arquivo da família de Sganzerla
Investigações
sobre o cinema
(ou seja, o homem)
moderno:
Sganzerla crítico
Ruy Gardnier
Observando o século XX, fica difícil afirmar que o
crítico é um artista frustrado. São muitos os casos
anteriores ao século passado – Stendhal, Diderot,
Baudelaire e Machado de Assis, para mencionar apenas
quatro –, mas este século viveu uma proliferação
impressionante de artistas que exerceram a atividade
crítica, como Georges Bataille, Ezra Pound, T.S.
Eliot, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos,
todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard,
Truffaut, Rohmer, Chabrol, Rivette), Glauber Rocha,
Jonas Mekas, além de incontáveis livros teóricos
e manifestos que envolvem pensamento crítico
(Schoenberg, Messiaen, Klee, Kandinski).
Sganzerla memorialista
i a fazer roteiro
Com 10 anos comece atrás do outro...
de cinema. Fazia um
Não tinha cineclube, não tinha nada. Não
tinha meio nenhum de ir mais longe.
Nesta página: fotos do arquivo da família de Sganzerla; frame do filme Documentário; frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
Resolvi sair.
Fui morar em
São Paulo...
Fiquei pensando...
Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha, exceto a foto que Sganzerla está com a câmera (arquivo da família de Sganzerla)
E usei o título dos jornais:
O Bandido da Luz Vermelha
Decretado hoje estado de sítio no país. O dispositivo policial reforça todos os seus
órgãos de segurança...
Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele
já praticou.
Tá falando
com o campeão
de tiro ao alvo de
Cuiabá.
Vivo de pequenos
furtos, empréstimo dos
amigos... Posso dizer de
Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta adotado da boca cheia: eu sou um
Divina Providência, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... boçal!
Eu sou um BANDIDO NACIONAL... O BANDIDO DA LUZ VERMELHA.
Prende esse
anão boçal! Fecha o cerco Estou esperando uma crítica inventiva, no nível do
e manda bala provável, e não da certeza idealista, das especu-
nesse sacana! lações sentimentais e das perspectivas do passado
Quem jogou e do provinciano, principalmente...
a gatinha lá
de cima?
Definitivamente, queria esquecer de uma vez, já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto
numa poeira... Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender.
Troquei a grande angular pela teleobjetiva. Meu novo filme é uma comédia
inspirada na chanchada, onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. Vampiro, você é um
bacana!
das dez
e Osso, uma
ais de Angela Carne
s sexu
As aventura aníacas.
mais megalom Aquela depravação de
novo? Antropófagos
invadem a Guanabara!
O que você quer, Flávio
Asteca? Quer Angela Carne
e Osso só pra você? Vamos
passar o fim de semana na
Ilha dos Prazeres? Sou o único negro
milionário do Brasil!
Nesta página: fotos de Sganzerla (Marcos Bonisson); demais imagens são frames dos filmes A Mulher de Todos e Abismu
Alô, garotas, eu sou
o Zé Bonitinho, pi-
rigote das mulheres,
e só entro em cena
ao rufo de tambo-
res!!!
Na caçapa de Joaçaba
eu aprendi duas coisas
em Tupi, firmeza e res-
peito é uma coisa só!
Primeiro mate o seu
ego, depois venha falar
comigo!
Para evitar perguntas cretinas, devo dizer Todos os maus filmes já foram feitos. Os burocratas vêm
a todos que continuarei a seguir minhas liquidando o cinema. Meus filmes são uma propaganda da alma
diretrizes fundamentais, que são, nada e do corpo brasileiro.
mais nada menos, dar ao cinema uma
noção de tempo, espaço e profundidade.
Não sou um gênio... Nem tudo é verdade!
O Brasil é o país
que produz o melhor
uísque falsificado do
mundo!
To see or not to
O cara vem filmar o see, that’s the
berço esplêndido, as question!
mulatas... Respeito é
manga de colete.
A imagem do caos é
o próprio CAAAAOS!
Nesta página: frames dos filmes Nem Tudo É Verdade, O Signo do Caos, Abismu e O Bandido da Luz Vermelha; foto de Sganzerla (Marcos Bonisson)
Podem recolher todo o material...
O cinema não me
interessa, mas sim a
profecia!
FIM.
imagem: a partir de frame do filme Histórias em Quadrinhos
O aroma de curry no
meu olfato
Álvaro de Moya
Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da
Tarde, onde eu era colaborador, ainda na sede antiga,
com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obra-
prima, O Bandido da Luz Vermelha, em citação reverente
ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Suas
escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores
prediletos, como Samuel Fuller.
Helena Ignez
Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando iniciou um
dueto histórico com Rogério Sganzerla, inaugurando uma forma de
interpretar autoral, antinaturalista, a partir de A Mulher de Todos (1969),
protagonizando Angela Carne e Osso, a “inimiga número 1 dos homens”.
Em 1970, fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora
independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses,
sendo Sem Essa, Aranha, Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia
Silk, a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba, “a
exibicionista”). Participou como atriz em outros filmes de Rogério, como
Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003),
passando para a direção no mesmo ano, com Reivenção da Rua (montado
por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz
nas Trevas (2010), com roteiro inédito de Sganzerla. Casada com Rogério
por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla, Helena é
mãe de Paloma Rocha, com quem contracenou em Perigo Negro (1992).
Paulo Villaça
Rogério Sganzerla encontrou
em Paulo Villaça o tipo ideal
para viver o Bandido da
Luz Vermelha nas telas: “ele
tinha uma voz grave e a face
de um Humphrey Bogart
acaboclado e lembrava muito
o próprio Bandido”. Atuou
logo em seguida em A Mulher
de Todos (1969), na pele de
um impagável toureiro gay, e
em Copacabana Mon Amour
(1970), como Doutor Grillo. Pagano Sobrinho
Em O Bandido da Luz
Vermelha, encarna o
personagem JB da Silva,
político corrupto, gângster
e populista que propaga
soluções cínicas para as
mazelas do povo. Dessa
forma, JB da Silva transforma-
se no Rei da Boca, defensor
da miséria como forma de
salvaguardar o folclore.
Jô Soares
Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um
truste de histórias em quadrinhos, casado com a
insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez), em A
Mulher de Todos (1969). As figuras do filme parecem
saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio
Doktor Plirtz, que traz um componente nazista no
figurino e na postura, vigiando e enredando a mulher
em jogos eróticos extravagantes.
Otávio Terceiro
Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla,
Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme, O Signo do Caos
(2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no
Brasil. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de
“agente do caos”, cujo modus operandi é o espírito de transação.
Antonio Pitanga
Rogério Sganzerla propôs a Antonio
Pitanga viver um milionário negro que
é seduzido por Angela Carne e Osso
em A Mulher de Todos (1969). Pitanga
trabalhou com ele novamente em
Nem Tudo É Verdade e interpretou
Justino, personagem do último
roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas
(2010), dirigido por Helena Ignez e
Ícaro Martins, em fase de finalização.
Guará
Ator em Copacabana Mon Amour
(1970), técnico de som em Sem
Essa, Aranha (1970), realizou Perigo
Negro (1992) e legitimou o antifilme
O Signo do Caos. Em Copacabana
Mon Amour, Guará é um malandro
que tenta a todo custo ser o cafetão
de Sonia Silk, cercando turistas e
gringos na Avenida Atlântica. Aos
pulos diante de dois marinheiros
na orla de Copacabana, Guará grita:
“Money, please, money, please...
American friends... O que estamos
fazendo aqui na Terra? Qual é o
destino do homem?”.
Maria Gladys
Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta
uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal, vestida de
verde-amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo
filme, em plano-sequência antológico, canta desvairadamente um tema
inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla, com quem
fez, ainda, Carnaval na Lama (1970).
Norma Bengell
Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma
das personagens mais interessantes de Rogério
Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva
vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se
ícone do cinema brasileiro dos anos 1970.
Othoniel Serra
“Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir
dopado de sol, de cachaça e de magia.” Othoniel Serra interpreta Vidimar, o
irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana Mon
Amour (1970); tresloucado, uma espécie de médium esfarrapado. Segundo o
argumento do filme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo
Villaça), a quem mata, com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”.
Wilson Grey
Ator de mais de 150 filmes, na maior
parte como coadjuvante, Wilson Grey
interpreta em Abismu (1977), com viés
expressionista, o papel de secretário de
Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado
de José Mojica Marins, como Doutor
Pierson, persegue um egiptólogo que
detém um manuscrito com pistas de um
antigo tesouro.
Moreira da Silva
ilustração: João Pinheiro
Zé Bonitinho
Personagem marcante em
Sem Essa, Aranha (1970), em
que vive Aranha, o último
José Mojica Marins capitalista do país, e no
Em Abismu (1977), José Mojica Marins filme Abismu (1977), como o
faz o “elogio à boçalidade”, na pele Médium Um, Jorge Loredo
do Doutor Pierson. Personagem foi convidado por Rogério
caracterizado como o Zé do após a consagração de seu
Caixão, está envolvido numa trama personagem Zé Bonitinho
arqueológica, perseguindo um na televisão brasileira. Nesses
egiptólogo com um supertelescópio, filmes, Zé Bonitinho ocupa
na busca de tesouros e elos perdidos um espaço central, com
com civilizações ancestrais. Autor de monólogos quase metafísicos,
mais de 40 filmes e ator em cerca de que conferem relevo à sua
20, José Mojica Marins manteve um figura e o transformam por
diálogo criativo com Sganzerla, Júlio vezes em alter ego do próprio
Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti Rogério Sganzerla.
e Neville de Almeida.
Grande Otelo
Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986), o ator Grande Otelo foi
a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro
filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo
Brasil. Interpretando a si próprio, Sebastião Prata, pode ser visto além da
chanchada, como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o
comediante das chanchadas, o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson
Pereira dos Santos, e a representação de Otelo, o único protagonista negro
de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo.
Programação na Suíça, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s
Homage, em Roma, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos
Ocupação Rogério Sganzerla CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidada oficial do
22o Festival de Cinema de Turim, em 2004.
quinta 10 14
O Itaú Cultural apresenta
a filmografia de Rogério 17h30 sessão 1
Sganzerla. Serão exibidos
B2
os trabalhos produzidos Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, 11 min, 2001, p&b, 35 mm
pelo diretor no período Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; elenco: Paulo
de 1968 a 2003, além de Villaça, Helena Ignez, Lanny Gordin, Gal Costa e Jards Macalé
obras que contam com sua Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido
participação e retratam seu da Luz Vermelha e Carnaval na Lama, traz um material que
evidencia o método de trabalho de Sganzerla, calcado
universo criativo. em técnicas singulares de montagem. Exibido no 23o
Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla,
quarta 9 na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB,
no Rio de Janeiro, em 2005; e convidado do 20o Festival
18h sessão 1 Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006.
sexta 18 14
quinta 17
16h sessão 1
17h sessão 1
Linguagem de Orson Welles
Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 Rogério Sganzerla, 15min, 1990, p&b/color., 35 mm
José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Montagem: Severino Dadá; música original: João Gilberto; som:
Roberto Leite; elenco: John Huston, Edmar Morel, Grande Otelo
Horror Palace Hotel 14 Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre
Jairo Ferreira, 41 min, 1978, color., super-8 a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para
Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla; narração, filmar It’s All True, a obra trabalha com material documental
montagem e finalização: Jairo Ferreira; depoimentos: José (recortes de jornal, fotos etc.) similar ao que seria usado em
Mojica Marins, Francisco Luis de Almeida Salles, Rogério Tudo É Brasil, oito anos depois. A produção foi selecionada
Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Neville d’Almeida, Rudá e apresentada na categoria Especial na 46a (1993) e na
de Andrade, Elyseu Visconti, Bernardo Vorobov, Dilma Loes, 58a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno,
Renato Consorte e Satã na Suíça, convidada pela Cinemateca de Munique para
Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978, cineastas a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im
como Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Elyseu Visconti e Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23o Festival de
José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. Destaque Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália,
para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de
entrevistado por Sganzerla. Janeiro, em 2005.
Ismail Xavier
Crítico, mestre em teoria literária, professor de cinema da
Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor
visitante na Universidade de Nova York (1995), na
Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III –
Sorbonne Nouvelle (1999). É autor de obras referenciais
– entre elas O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a
Transparência; Sétima Arte: um Culto Moderno; Sertão Mar:
Glauber Rocha e a Estética da Fome; e Cinema Brasileiro
Moderno; é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde
1977. Publicou, como coordenador da Coleção Cinema,
Teatro e Modernidade (Cosac Naify), O Olhar e a Cena –
Melodrama, Hollywood, Cinema Novo e Nelson Rodrigues
e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo,
Tropicalismo, Cinema Marginal, em que analisa a obra de
Rogério Sganzerla.
Joel Pizzini
Autor de ensaios documentais premiados
internacionalmente, conquistou com os longas 500
Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor
Filme, Som e Fotografia, o prêmio Especial do Júri e o de
Melhor Montagem, nos festivais do Rio, de Mar del Plata
e de Brasília. É conselheiro da Escola do Audiovisual de
Fortaleza; professor da Faculdade de Artes do Paraná
(FAP); curador da restauração da obra de Glauber Rocha;
codiretor, com Paloma Rocha, dos documentários
extras dos DVDs do cineasta; e diretor do novo filme
Olho Nu (Ney Matogrosso), coproduzido pelo Canal
Brasil, para quem produziu Elogio da Luz. Foi curador das
retrospectivas Faces de Cassavetes, Festival Jodorowsky e
Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci; e colaborou na
montagem de Luz nas Trevas, de Helena Ignez (inédito),
com base em roteiro de Sganzerla.
Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção), Kety Fernandes Nassar
(organização e concepção), Yoshiharu Arakaki (direção de arte), Mariana Lacerda (edição), Jahitza Balaniuk
(produção editorial e concepção), André Seiti (edição de programação), Jader Rosa (ideias). Participam: Joel Pizzini,
Roberto Cruz, Ruy Gardnier, Hernani Heffner, Djin Sganzerla, Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos), além de
Paolo Gregori, Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse
dos filmes, junto com Steve Berg). João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens, enquanto Pedro Jorge e
Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. A revisão foi feita por Rachel Reis.
Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar, Joel Pizzini, Maria Flor Brazil, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena Ignez,
Polyana Lima e Mercúrio Produções.
Acervo
Família Sganzerla
Desenho sonoro
Edson Secco Agradecimentos especiais
Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Zenaide
Pesquisa Sganzerla, Albino Sganzerla, Paloma Rocha e Associação
Lucio Branco (RJ) Amigos do Tempo Glauber
Anna Karinne Ballalai (RJ)
Sérgio Silva (SP) Agradecimentos
Mercúrio Produções, Polofilme, Carlos Magalhães, Bernardo
Produção (Rio de Janeiro) Oliveira, Bruno Safadi, Camila Val (CCBB/SP), Carlos Ebert,
Sara Rocha Cristiane Rezende (CCBB/RJ), Débora Butruce (CTAV), Dib Lufti,
Hernani Heffner (Cinemateca MAM), José Marinho, José Quental
Assistência (São Paulo) (Cinemateca MAM), Lécio Augusto Ramos, Marcos Bonisson,
Vani Fatima Maria Maia, Mislene Martins (CCBB/SP), Noa Bressane, Remier Lion,
Natalia Meira Rosa Dias, Ruy Gardnier, Rodrigo Lima, Rosângela Sodré (CTAV),
Sérgio Pedrosa (CTAV), Sidnei Pereira (CCBB/RJ), Vani Silva, Acervo/
Edição de imagens Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida
Claudio Tammela
O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez, Sinai Sganzerla e
Assistência de edição de imagens Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na
Renata Catharino realização deste projeto
Leonel Barcelos
entrada franca
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