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Ocupacao

ROGÉRIO SGANZERLA
Ideias e imagens de um dos cineastas mais
importantes do Brasil estão na Ocupação
Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú
Cultural, a exposição é uma oportunidade
de o público conhecer o universo criativo
da obra de Sganzerla, por meio de seus
filmes, documentos e roteiros originais
datilografados, marcados, reescritos à mão.
Anotações, referências aos artistas e aos
personagens que o inspiraram, além de fotos
e objetos pessoais, compõem a montagem.
Parte da exposição, esta publicação traz
textos atuais de críticos, pesquisadores
e daqueles que compartilharam com Rogério
Sganzerla sua energia, suas histórias de vida,
afeto, trabalhos, ideias, filmes. Com uma obra
enigmática, cuidadosa no que se refere ao som
e à construção de poesia em imagens, Sganzerla
reposicionou a história do cinema brasileiro
no mundo. Os caminhos e os percalços dessa
trajetória são contados nos relatos, na
entrevista, nas fotografias de acervo e nos
desenhos a seguir, numa homenagem afetiva ao
cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido
da Luz Vermelha, considerado pela Unesco um
Patrimônio Cultural da Humanidade.

Instituto Itaú Cultural


imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha
Pré-Ocupação
de um visionário
Joel Pizzini
Rogério está no ar, na tela e no papel. A Ocupação
Rogério Sganzerla pinta numa esquina de ponta da
Avenida Paulista, evoca os signos do caos, atravessa o
perigo negro do abismo e joga luz nas trevas através do
mistério da criação.

Não estava escrito em lugar nenhum qual o destino que


aguardava aquele guri, que até os 5 anos não falava, aos
7 já lançava um livro de contos e aos 11 aprontava
o primeiro roteiro de longa metragem.

Conta sua mãe, Dona Zenaide, que Rogério, lá em Santa


Catarina, quando criança, adorava brincar de mágica e
hipnotizar os amigos. O que ela não adivinhava, contudo,
é que seu filho ganharia o mundo, tirando “o cinema do
quarto de brinquedos” e revelando, em quatro filmes,
verdades e mentiras da passagem do mago Orson Welles
pelo Brasil.

A cinefilia de Sganzerla aflorou aos 13 anos, no Colégio


dos Irmãos Maristas em Florianópolis, onde o padre
Andreotti, ao perceber que seu aluno não tinha pendor
para atividades físicas, o estimulou a frequentar o
cineclube, que exibia um atrevido repertório de John
Ford e Rene Claire a Rossellini.

A escolha de Rogério pelo cinema se definiu em 1961, na


mudança para São Paulo, após sobreviver a um trágico
acidente de carro em Joaçaba. Decidiu se instalar
numa pensão na Pauliceia aos 15 anos e virou rato da
Cinemateca enquanto fazia direito no Mackenzie, curso
que abandonou dois anos depois, ao ser convidado por
Décio de Almeida para escrever no festejado Suplemento
Literário do Estadão. Através da crítica, fez cinema
com a máquina de escrever, não diferenciando o “escrever
sobre cinema do escrever cinema”.

Depois fundou, com Maurice Capovilla, uma página de


cinema no Jornal da Tarde, tornou-se, ainda, redator da
revista Visão, da Folha da Tarde e do Última Hora. Nesse
período conheceu Andrea Tonacci e realizou seu primeiro
filme de ficção, curiosamente chamado Documentário,
que conquistou o disputado Prêmio JB Mesbla. Entregue
pela atriz Helena Ignez, sua futura esposa e parceira,
o prêmio lhe rendeu uma viagem para Cannes, que ele
aproveitou para a cobertura do festival. Na viagem de
volta, escreveu no navio o roteiro de O Bandido da Luz
Vermelha. O resto é mar.

A trajetória errática de Rogério desse ponto em diante


todos conhecem: lançado em 1967, O Bandido provocou
enorme impacto, arrebatou vários prêmios no Festival de
Brasília, transformou-se em clássico outsider e, como
não bastasse, virou fenômeno de público, autenticando
a utopia de Oswald de Andrade – fabricar biscoito fino
para o deleite das massas. Antes de tudo, o filme
profetiza o AI-5 (“decretado o estado de sítio no país”,
brada a locutora de rádio) e inova na incorporação do
pop, do kitsch, de clichês, subgêneros e HQs.

E, quando todos pensavam que estacionaria na sombra


do próprio mito, Rogério apostou, em 1969, todas
as suas fichas no popular e sofisticado A Mulher de
Todos, um ousado modelo de indústria de Sganzerla para
o audiovisual brasileiro – conforme o sócio e amigo
Júlio Bressane.

Um primor de roteiro, A Mulher de Todos escancara o


talento de Helena Ignez, que revoluciona a arte de
interpretar, explodindo os limites do enquadramento.
Na sequência vem a radicalidade setentista da
produtora Belair, que transpôs o deserto vigente no
país e legou seis longas – marcantes viagens em apenas
três meses de estrada. Da lavra de Sganzerla, três
pérolas: Carnaval na Lama (desaparecido em mostra no
Jeau de Paume, em Paris, em 1992), Copacabana Mon
Amour e Sem Essa, Aranha.

Enquanto filmavam com olhos livres e rompiam nós


narrativos, o tempo se fechou e Rogério, Helena e
Júlio se viram forçados a se exilar no Velho Mundo,
onde concluíram parte dos filmes, que foram exibidos
em Londres.

Na volta ao trópico, no vácuo da contracultura, adotando


seu singular método pré-colombiano, Rogério lançou com
Helena o Abismu, salto no escuro que em 30 anos ainda
reverbera com frescor sob a fuselagem sonora de Jimi
Hendrix e a performance transcendental de Zé Bonitinho.

O sonho acabou? No embalo dos esquisitos anos 1980,


das aberturas políticas, da redemocratização e da
globalização à vista, só um cidadão pode nos salvar:
Welles. Ao lado, naturalmente, de três signos centrais
do cinema de Sganzerla: Hendrix (desde Abismu), Oswald de
Andrade (Perigo Negro) e Noel Rosa, inspirador de dois
filmes: Noel por Noel (1980) e Isto É Noel Rosa (1990).

Desse modo, Rogério Sganzerla dedica-se de corpo e


alma a compor uma tetralogia sobre a passagem entre
nós do cineasta norte-americano Orson Welles, nos anos
1940, quando It’s All True é abortado por contrariar
interesses de políticos brasileiros e norte-americanos
de suspeita vizinhança.

Na primeira sessão do copião de O Signo do Caos em


São Paulo foi que me aproximei mais de Rogério, que
conhecia desde 1980, nos tempos de universidade, em
Curitiba, quando apresentou seu seu estilo, características
filme Brasil, debatido, com a dos personagens e diálogos
presença dele, em nossa turma de marcantes. Trata-se de um
jornalismo. De lá pra cá, breves eixo central expositivo que
encontros, mas para mim intensos proporciona ao visitante uma
papos lunáticos. experiência sensorial que
pretende antes despertar o
Que mistérios tem Rogério? interesse pela retrospectiva
do diretor.
Enfant terrible,internaciona-
lista,cineasta com suingue que A exposição extrapola as
saiu determinado da província fronteiras do espaço e se
para desburocratizar mentes e prolonga no plano virtual,
desafinar o coro dos contentes criando uma rede de dezenas
com um corte cínico-utópico na de relatos através do site
cena audiovisual contemporânea. (www.itaucultural.org.br/
ocupacao), que permitirá uma
Para ser vista com olhos compreensão mais abrangente do
livres e sensibilidade atenta universo existencial e inventivo
(parafraseando Oswald de de Rogério, amplificando o
Andrade), apresentamos pela alcance de sua obra. Na fase
primeira vez em nosso país de prospecção e pesquisa,
parte significativa da vasta cerca de 4 mil imagens foram
produção intelectual-criativa digitalizadas do acervo
de Rogério Sganzerla, cuja familiar, de instituições
memorabilia é revisitada e de companheiros e amigos
e a vida-obra escancarada profissionais, para consequente
nos roteiros inéditos e nos seleção da curadoria. Os
caderninhos em que desde personagens “sganzerlianos”,
criança anunciava o crítico que com respectivos verbetes,
se afirmaria na adolescência. ganham destaque na mostra,
que revelará cenas familiares
A Ocupação Rogério Sganzerla é e exibirá o material bruto
composta de nichos-sequência de dois filmes do cineasta
que compõem a trajetória do catarinense: um inacabado, Fora
artista, homem e pensador. do Baralho (1971), rodado no
Sem cronologia rígida, a deserto do Saara, e Carnaval
montagem espelha a lógica na Lama (1970), desaparecido
cinematográfica, onde coabitam em uma mostra que homenageava
livremente tempos, ideias, Hélio Oiticica em Paris, em
formas, sons. Por se tratar de 1992. Outro achado precioso é A
um artista transgressor, que Alma do Povo Vista pelo Artista
permanentemente rompeu esquemas, (1991), filme-ensaio sobre a
decidimos sinalizar, ao invés arte de Newton Cavalcanti, cujos
de demarcar, resguardando assim originais estão desaparecidos,
a dimensão enigmática de seus mas uma cópia recém-encontrada
escritos e registros fílmicos. sem som será exibida.
Os espaços da exposição evitam
o tom saudosista e valorizam Os três signos medulares na
aspectos pictóricos e gráficos constelação de Rogério – Noel
recorrentes na obra do autor. Rosa, Orson Welles e Jimi
Hendrix – ganharão espaços
Uma projeção exibe em quatro específicos. Atenção para o
telas pequenos filmes que canto dedicado a Hendrix, que
buscam conexões na filmografia é o experimento interativo
de Sganzerla, evidenciando da mostra: uma guitarra com
dispositivo midi, disponível adolescente e onde produziu as
para qualquer visitante tentado obras-primas, O Bandido da Luz
a aguçar o imaginário musical Vermelha e A Mulher de Todos,
inerente ao cinema de RG. A que agora voltam reconhecidas
guitarra emitirá sons e imagens para inscrever sua luz própria.
em inesperadas combinações.
A Ocupação Rogério Sganzerla é
O mar, elemento significativo uma iniciativa sem precedentes
nos filmes de Rogério, inundará sobre um artista visionário que
uma tela sob forma de projeção, transita na terceira margem
que o espectador descortinará do cinema, intransigente em
ao incursionar no ambiente. seu ideário e que finalmente
O público estará, então, no recebe um tratamento à altura
interior de uma sala-tela- da contribuição para o cinema
caixa, onde o imaginário do brasileiro com que sonhamos
gênio protagoniza a cena, os (neste caso, sua vida vale o
personagens divagam e a luz sonho). Um evento de fôlego,
projeta signos e profecias que que proporcionará a fruição
refletem o novo milênio. de uma obra singular, radical
e ainda pouco acessível ao
Concebida sob uma perspectiva público, por dificuldades
contemporânea, a Ocupação de distribuição. Esperamos
Rogério Sganzerla persegue três que em breve este esforço
linhas de fuga: luz, abismo e lance sólidas bases para a
caos – nodais no universo do sistematização do inventário
autor. Sua plenitude da poética documental do artista, criando,
poderá também ser compartilhada assim, condições para um
em retrospectiva completa do diagnóstico que desencadeie uma
cineasta, debates com íntimos ação urgente e efetiva para a
conhecedores de sua trajetória restauração desse patrimônio
no Brasil e no exterior, por audiovisual sem limites.
meio de portal eletrônico,
livros e esta publicação: ecos
do espírito da mostra. Autor de Glauces (2001) e Helena Zero
(2006) – ensaio sobre Helena Ignez –,

imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha


Joel Pizzini é casado com Paloma Rocha,
Através da mobilização da enteada de Rogério Sganzerla. Ao lado da
família, que generosamente esposa, dirigiu Elogio da Luz (2003),
abriu seu acervo, de amigos e sobre a vida e a obra do cineasta.
Colaborou na montagem de Luz nas Trevas
colaboradores e entidades de (inédito), de Helena Ignez, com roteiro
preservação, e do envolvimento de Sganzerla. Diretor de 500 Almas
da equipe do Itaú Cultural, (2004) e vencedor de mais de 20 prêmios
ocupa-se, enfim, um espaço em festivais nacionais e internacionais,
Joel Pizzini é o curador da Ocupação
privilegiado para a expansão da Rogério Sganzerla.
linguagem de Rogério Sganzerla.
E justo na cidade que Rogério
filmou compulsivamente com
sua máquina de escrever desde
Quando palavra
e imagem
convergem
sobre o eixo
dos sentidos
Roberto Moreira S. Cruz
Mais uma vez o cinema está Foi nesse mesmo período que
exposto. No espaço e nas telas Sganzerla passou a se dedicar
desta Ocupação. E nada mais a uma vasta pesquisa sobre a
apropriado que o escolhido fosse presença de Orson Welles no
um realizador que em sua visão Brasil, fato que ele referenciou
vertical da realidade brasileira nos filmes-ensaio Nem Tudo É
construiu uma das mais originais Verdade, Linguagem de Orson
e criativas filmografias do Welles, Tudo É Brasil e O Signo
cinema nacional. do Caos. Com o mesmo olhar
crítico e criativo, contou a
Rogério Sganzerla é de uma história de Noel Rosa e celebrou
geração de artistas que Jimi Hendrix.
viraram do avesso os dogmas
estabelecidos das regras de Apesar do reconhecimento, a
conduta da cultura brasileira. obra de Rogério Sganzerla está
Realizou aos 22 anos, em plena pouco preservada na memória
época da ditadura, um filme audiovisual do país, e resgatá-
improvável e revolucionário em la nesta exposição significa
sua forma e conteúdo. O Bandido atualizar o que já se sabe
da Luz Vermelha é atemporal sobre sua cinematografia, mas
e, aos olhos congestionados fundamentalmente o que pouco
da cultura da imagem se mostrou e se pesquisou.
contemporânea, ainda brilha e Sganzerla era antes de tudo um
ofusca pela sua originalidade. homem da palavra e das ideias.
Foi crítico de cinema, colaborou
Em seguida produziu, em 1969, nos principais jornais do
A Mulher de Todos, filme feito país,1 deixou escritos roteiros
e perfeito para Helena Ignez, inéditos e refletiu de forma
sua companheira por 34 anos e brilhante sobre a necessidade de
com quem teve Sinai Sganzerla e pensar e de fazer um cinema que
Djin Sganzerla. Ao lado de Júlio fosse genuinamente brasileiro.
Bressane e da própria Helena
Ignez na experiência Belair, Quando começamos a trabalhar
uma produtora independente e no projeto desta exposição,
anarquista, que em três meses um tesouro foi imediatamente
produziu seis filmes, realizou revelado. O acervo particular
Copacabana Mon Amour, Sem do cineasta estava intocado
Essa, Aranha e Carnaval na Lama desde sua morte, em 2004. O
(filme desaparecido e cujos interesse em descobrir o que
negativos estão parcialmente estava guardado naquelas dezenas
deteriorados). Cinema como de caixas, pastas e arquivos
resultado da força criativa de de um cineasta da envergadura
uma geração interessada antes de de Sganzerla motivou o convite
tudo no exercício da liberdade para a família do cineasta
de criação. se aventurar na construção
coletiva desta exposição. Com
Exilado como tantos outros, a contribuição do curador Joel
viajou para a Europa e a Pizzini, de Helena Ignez, Sinai
África, onde filmou com a mesma Sganzerla, Djin Sganzerla e de
intensidade criativa o material uma equipe de pesquisadores,
bruto do projeto inacabado iniciou-se o processo de
Fora do Baralho. Ao regressar averiguação, manipulação e
ao Brasil, retornou ao cinema levantamento de milhares de
com Abismu (1977), filme que páginas, anotações, manuscritos,
reúne em atuações antológicas 1
Com o apoio do Itaú Cultural, a editora da Universidade Federal de Santa Catarina
Wilson Grey, José Mojica Marins, (UFSC) prepara uma edição especial em dois volumes das críticas e dos artigos
Jorge Loredo e Norma Bengell. publicados por Rogério Sganzerla nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
roteiros, cadernos, fotografias Mulher de Todos e Nem Tudo
e sequências de filme. À medida É Verdade é um exercício
que todo esse material era prazeroso e ao mesmo tempo
mexido e remexido, foi então desafiador, uma aventura da
se descobrindo um conjunto de leitura que evoca as imagens em
rascunhos e textos, muitos movimento e vice-versa!
deles desconhecidos da própria
família, com traços evidentes de Da mesma forma, reconhecer
que, para o cineasta, a escrita nos manuscritos os indícios
servia de guia para suas ideias de uma sequência ou a opção
e para a elaboração de suas por uma fala específica de um
imagens. O próprio Sganzerla personagem incita a percepção
reconhecia em seus depoimentos e a curiosidade de como
que a escrita era a primeira tantas ideias viraram filmes!
etapa para a constituição do E que filmes!
enunciado audiovisual. Como ele
próprio afirmava: “Fazer cinema Roteiros inéditos, originais
é como descrever um movimento de seus artigos e críticas,
impetuoso numa folha em branco fragmentos e material bruto
pegando fogo”. de filmes inacabados, objetos
e equipamentos utilizados na
Perceber as características realização de seus filmes
desses textos, a forma muitas constituem-se em referências
vezes aleatória e repetida com e signos de sua cinematografia.
que as ideias eram escritas
e anotadas, leva a supor A Ocupação Rogério Sganzerla
que uma análise mais detida é uma experiência multissen-
e metódica desses arquivos sorial, em que o cinema está
poderia revelar, sem dúvida expresso em sua dimensão plural
alguma, outra abordagem sobre de linguagens e sentidos. Em
a linguagem e a narrativa de que as imagens, as palavras e
seus filmes. Desconheço alguma os sons estão interpenetrados
argumentação crítica que tenha numa atmosfera sensorial e
se debruçado sobre a obra do reflexiva, envolvidos pela
cineasta a partir da hipótese força autoral e criativa de um
de aproximação de sua linguagem cineasta com “C” maiúsculo.
audiovisual com sua escrita.

Nesse sentido, a Ocupação Roberto Moreira S. Cruz é gerente do


Núcleo de Audiovisual do Instituto Itaú
Rogério Sganzerla quer trazer Cultural desde 2001, onde organiza e
ao público essa dimensão coordena projetos nas áreas de cinema
sinestésica de seu cinema, em e vídeo. É mestre em comunicação e
que palavra e imagem convergem cultura pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em
sobre o eixo dos sentidos e se comunicação e semiótica pela Pontifícia
cruzam no campo da ambiguidade. Universidade Católica de São Paulo
Não é difícil notar que essa (PUC/SP), onde desenvolve pesquisa
confluência nebulosa e pouco sobre cinema, narrativa e projeções
no contexto da arte contemporânea. Foi
elucidativa entre imagem em professor assistente da Pontifícia
movimento, língua e fala está Universidade Católica de Minas Gerais
na própria atonalidade narrativa (PUC/MG) no curso de comunicação social
de seus filmes, carregados de entre os anos de 1989 e 2001.
maneirismos, irreverência e
contrastes estilísticos.

Ver e ler os roteiros e as


anotações de filmes como O
Bandido da Luz Vermelha, A
foto: arquivo da família de Sganzerla
Fluxo
ininterrupto de
energia criativa
Djin Sganzerla
João Gilberto, de quem meu Tive a oportunidade de
pai tanto gostava, cantou a rever Nem Tudo É Verdade,
saudade de forma singular. uma poesia em movimento. Um
É com esse sentimento que filme magistral, com absoluta
“não sai de mim”, misturado a originalidade e liberdade,
uma grande alegria, que vivo reconstrói a vinda do Orson
este ano de 2010. Um ano de Welles ao Brasil. Assistindo ao
reencontros e expansão. Um ano filme, me senti conversando com
que culmina nesta “ocupação”, meu pai, vendo-o transformar em
iniciativa belíssima do Itaú cinema tudo o que passava por
Cultural, com curadoria do Joel suas mãos, fluxo ininterrupto
Pizzini, em que o público terá de energia criativa.
a chance de conhecer melhor
essa personalidade, esse grande Depois da sessão, Quintin,
artista, escritor, cineasta crítico de cinema e ex-diretor
único, Rogério Sganzerla. do Bafici, veio emocionado
conversar conosco. Contou que,
Em abril estive com Helena em 2004, Roberto Turigliatto,
Ignez e Sinai Sganzerla então diretor do Festival
no 12o Festival de Cinema de Turim, perguntou se ele
Bafici, em Buenos Aires, onde conhecia a obra do Sganzerla,
Rogério recebeu uma importante que em sua opinião era maior
retrospectiva. Um festival que Godard. Quintin respondeu
instigante, de excelente que assistira apenas ao
curadoria, sua obra sendo Bandido e achou que havia no
“redescoberta” por um público comentário certo exagero. Mas
encantado, interessantíssimas agora, depois de acompanhar a
análises, salas lotadas, retrospectiva de Sganzerla,
diversos convites internacionais percebia que Turigliatto
– França, Alemanha, Áustria e estava certo, Rogério era
uma retrospectiva completa no maior que Godard.
Lincoln Center, a convite do
curador americano Scott Foundas, Assim tem sido seu reconhe-
que disse que seus filmes eram cimento. No ano passado, uma
absolutamente geniais. belíssima retrospectiva na
Índia, e meses antes na Itália,
em Trieste, entre tantas outras.
Agora, em junho de 2010,
Copacabana Mon Amour participa
do 28o Festival de Munique. Os
filmes seguem depois para a
França e para Viena.
fotos: arquivo da família de Sganzerla
No Brasil, o Itaú Cultural Hoje, em paralelo ao que mais
faz a mais completa das amo fazer na vida, que é atuar,
retrospectivas, como o próprio administro junto com minha mãe e
nome diz, uma Ocupação Rogério com Sinai a Mercúrio Produções
Sganzerla. Apresenta esse (em São Paulo). Em paralelo aos
multiartista em sua completude: projetos que criamos, vejo esse
roteiros originais ainda não nosso trabalho de difundir,
filmados, objetos pessoais, preservar e relançar sua obra
filmes, fotos de diversas fases como um serviço ao cinema
de sua vida, debates sobre a brasileiro, mantendo vivo o
obra etc. Somados a isso, o legado de um dos seus principais
relançamento do CD da trilha artistas. E ao mesmo tempo um
original do Copacabana Mon Amour hino de amor aos dois, pais
e a publicação de dois livros queridos, que tanto fizeram e
com artigos e críticas que fazem pela nossa cultura.
escreveu no Suplemento Literário
do Estado de S. Paulo, na Folha Revendo o material que foi
de S. Paulo e no Jornal da entregue ao Itaú Cultural
Tarde. Meu sincero e carinhoso para compor a Ocupação Rogério
agradecimento a Joel Pizzini, Sganzerla, encontrei cartas
esse curador/artista. magistrais que não conhecia,
como o cartão carinhoso que ele
Lembrei-me das nossas últimas enviou de Firenze para o Júlio
caminhadas pelo centro de São Bressane, mandando um beijo
Paulo, ele falando como filmaria para a “linda Helena”, então
o Bandido 2 (Luz nas Trevas), namorada do Júlio; como a carta
percebia como tudo ao seu redor que enviou à Sinai, que na época
era motivo de inspiração. Vimos tinha 9 anos, contando que
um rapaz que consertava uma estava em um festival e que iria
porta com um maçarico e meu encontrar ninguém mais, ninguém
pai logo comentou que criaria menos do que mister Welles...
uma cena do Bandido usando
um maçarico para acender um Quando me convidaram para
cigarro... Pouco tempo depois, escrever, pensei no que dizer.
no final de sua doença, comentou
que somente uma câmera poderia Lembro-me de um sonho que
salvá-lo. tive alguns meses depois de
sua partida; ele filmava,
filmava, com uma alegria, um
contentamento enorme, como um
menino em cima de uma árvore.
O próprio sonho parecia ser
enquadrado pela sua câmera.
Senti que ele estava fazendo,
onde quer que estivesse, o que
sempre mais gostou.

E as projeções de sua obra nós


fazemos aqui.
Bonisson
foto: Marcos

Djin Sganzerla é atriz, estreou no cinema no


longa-metragem O Signo do Caos, de Rogério
Sganzerla. Premiada pela Associação Paulista
de Críticos de Arte (APCA) como Melhor Atriz
de Cinema de 2008, pelo filme Meu Nome É
Dindi, de Bruno Safadi. Também recebeu, entre
outros, o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante
do 39o Festival de Cinema de Brasília, pelo
filme A Falsa Loura, de Carlos Reichenbach.
Trabalha ao lado da sua mãe e da irmã na
Mercúrio Produções, que lança neste ano o
Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz
Vermelha, filme em que faz a protagonista
feminina, Jane.
Cronologia 1970
Em parceria com Júlio Bressane e Helena Ignez, funda
a produtora Belair – que em apenas três meses realiza
1946 seis filmes. Sganzerla dirige três deles: Copacabana
Rogério Sganzerla nasce em Joaçaba, no interior de Mon Amour (com trilha original de Gilberto Gil), Sem
Santa Catarina, no dia 4 de maio. Essa, Aranha e Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a
Exibicionista), filmado, em parte, em Nova York. Exilado,
1964-1965 Rogério Sganzerla segue com Helena Ignez para
Muda-se para São Paulo para cursar as faculdades de Londres. Depois, para Marrocos, Argélia, Tunísia, Níger,
direito e administração. Inicia a atividade de crítico Nigéria, Daomé (atual Benin) e Senegal, onde o casal
de cinema no Suplemento Literário do jornal se estabelece por algum tempo.
O Estado de S. Paulo.
1971
1967 No deserto do Saara, filma o documentário
Estreia na direção com o curta-metragem inacabado Fora do Baralho.
Documentário, que recebe o Prêmio JB Mesbla de
Melhor Curta, o que lhe dá direito a ir ao Festival de 1972
Cannes. No retorno de navio ao Brasil, Rogério lê nos Em 25 de outubro nasce Sinai, sua primeira filha com
jornais brasileiros a bordo as notícias sobre um fora Helena Ignez.
da lei conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”,
que agia em São Paulo. Como vinha escrevendo um 1976
roteiro sobre um criminoso de traços semelhantes, Em 27 de fevereiro nasce Djin, sua segunda filha com
decide adaptar sua história à daquele personagem Helena Ignez. Realiza o curta-metragem documental
tão frequente na crônica policial da época. Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião
da França Antártica (Villegaignon), premiado pela
1968 Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro.
Realiza O Bandido da Luz Vermelha, seu primeiro
longa-metragem, um dos mais premiados filmes 1977
brasileiros de todos os tempos. Posteriormente, Dirige Abismu, primeiro longa após um considerável
na condição de clássico, é indicado pela Unesco intervalo. Na verdade, é o único lançado entre 1971
como Patrimônio Cultural da Humanidade. Na e 1985. No elenco, Zé Bonitinho, Wilson Grey e José
filmagem, inicia sua relação com Helena Ignez, atriz Mojica Marins.
considerada musa do Cinema Novo e que se tornou
sua parceira artística afetiva por toda a vida. 1978
Realiza o curta-metragem Mudança de Hendrix.
1969 Participa como codiretor e montador do filme Horror
Lança A Mulher de Todos, seu segundo longa- Palace Hotel, de Jairo Ferreira.
metragem, estrelado, entre outros, por Helena Ignez,
Paulo Villaça e Jô Soares. Sucesso de bilheteria. Ao 1980
apresentá-lo no Festival de Cinema de Brasília de Realiza o curta-metragem Noel por Noel, primeiro filme
1969, aproxima-se de Júlio Bressane, que exibia seu seu sobre Noel Rosa. Edita Um Sorriso, Por Favor, filme
O Anjo Nasceu. Realiza dois filmes com a codireção de de José Sette sobre o universo gráfico de Goeldi.
Álvaro de Moya: os curtas HQ e Quadrinhos no Brasil.
1981
Realiza o curta-metragem Brasil, com participação de
João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
1984
O documentário O Petróleo Nasceu na Bahia é lançado
e premiado nos Festivais de Caxambu e Gramado.

1986
Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Trata-
se do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson
Welles ao Brasil (em 1942).

1990
Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Realiza dois
vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista
pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e
Incomum (sobre Antonio Manuel).

1991
Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles.

1992
Filmografia
Dirige o episódio Perigo Negro, que integra o
longa-metragem Oswaldianas, baseado em Documentário – 1967
Oswald de Andrade. O Bandido da Luz Vermelha – 1968
A Mulher de Todos – 1969
Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969
1998
Quadrinhos no Brasil – 1969
Lança o ensaio documental em longa-metragem Copacabana Mon Amour – 1970
Tudo É Brasil. Sem Essa, Aranha – 1970
Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista) – 1970
Fora do Baralho – 1971
2003
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da
Após muitas dificuldades, conclui O Signo do Caos, o França Antártica – 1976
último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles Ritos Populares, Umbanda no Brasil – 1977
ao Brasil, lançado e premiado no Festival de Brasília. É Abismu – 1977
Mudança de Hendrix – 1977
seu último filme.
Noel por Noel – 1980
Brasil – 1981
2004 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981
Falece no dia 9 de janeiro. Deixa uma obra extensa Irani – 1983
Nem Tudo É Verdade – 1986
de filmes e muitos escritos, na qual há roteiros não
Isto É Noel Rosa – 1990
filmados, como o do longa-metragem Luz nas Trevas Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991
– Revolta de Luz Vermelha. A partir desse roteiro, cinco Anônimo e Incomum – 1990
anos depois se iniciam as filmagens da continuação Linguagem de Orson Welles – 1990
América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992
da trajetória do Bandido da Luz Vermelha, sob a
Perigo Negro – 1992
direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. Atualmente, Deuses no Juruá –1997
encontra-se em fase de finalização. Tudo É Brasil – 1998
B2 – 2001
Informação H. J. Koellreutter – 2003
O Signo do Caos – 2003
Zonk! Crash! Boom!
Orson, Oswald, Noel e
João na Sganzerlândia
ou Tamanho Não É
Documento ou Um Pouco
de Loucura Previne um
Excesso de Tolice
Steve Berg
imagem: frame do filme B2
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha

“Uma nação que negligencia as percepções de seus


artistas entra em declínio e depois de certo tempo cessa
de existir para apenas sobreviver.”
Ezra Pound

Rarissimamente exibidos e mais raramente ainda objetos


de qualquer reflexão crítica ou teórica dentro ou fora
do Brasil, não surpreenderá a ninguém que os 20 curtas
e médias-metragens dirigidos por Rogério Sganzerla ao
longo de 37 anos (quatro dos quais estão desaparecidos
ou em estado de deterioração) constituam a parte menos
conhecida de uma filmografia por si só (e por um período
de tempo quase obsceno) quase secreta. De Documentário
(1967) até Informação H. J. Koellreutter (2003), o que
salta aos olhos quando assistimos a esses filmes é sua
profunda coerência e inte(g)ração com o restante da obra
cinematográfica do autor [Eliot: “Em meu princípio está
meu fim”: dois anos antes da explosão do Bandido através
da fórmula Urânio=Mercury e 37 antes de O Signo do Caos,
Documentário já contém referências a Orson Welles – em
cartaz afixado à porta de um cinema, como integrante
do elenco de O Terceiro Homem (1949), e em portrait/
homage que ocupa toda a tela por um instante] – seja
pela mestria com a qual o autor navega por vasta gama
de gêneros, temas e formatos (ficção, documentário,
biografias romanceadas, musicais, institucionais e
didáticos em bitolas de 16 e 35 milímetros e em vídeo
com uso particularmente inspirado e dinâmico do table
top), seja pela autoria de um cinema que se INVENTA
apesar e por causa da precariedade de recursos,
constante exercício de profundidade reflexiva e verve
criadora raras na história do cinema brasileiro. Por esses
20 curtas e médias-metragens desfilam todas as grandes e
pequenas obsessões do cineasta (por enumeração caótica:
a história do Brasil, Orson Welles, Oswald de Andrade,
a questão da cultura, os quadrinhos, Noel Rosa, João
Gilberto, o FAZER artístico, a umbanda e o próprio cinema).
A poética

A) LOGOPOEIA (a dança do intelecto entre as palavras):


se o revolucionário Sem Essa, Aranha levou quase 40 anos
para chegar ao grande público por meio de lançamento
em DVD, o Sganzerla absolutamente clássico e seco (em
termos de vocabulário da imagem e do corte) de Perigo
Negro (1992), magistral filmagem do único roteiro
cinematográfico do imenso Oswald de Andrade, escrito
para integrar um dos três volumes inacabados de seu
romance mural Marco Zero (1943-1946), é uma OBRA-
PRIMA totalmente desconhecida de todos a não ser dos
mais devotos “sganzerlianos” – uma tragédia amarga e
cômica que só dói quando a gente ri e reitera o tema
da ascensão e queda do gênio precoce, encenada por um
incrível elenco de estrelas trouvées, que inclui desde
Helena Ignez até Abraão Farc, Paloma Rocha, Guará,
Conceição Senna, Ruddy, Paulo Moura, Jorge Salomão,
Antonio Abujamra e Sandro Solviatti, entre outros.

B) MELOPOEIA (a ênfase no SOM): os dois filmes sobre


Noel Rosa (Noel por Noel e Isto É Noel Rosa, de 1980 e
1990, respectivamente). João Gilberto, Caetano Veloso,
Gilberto Gil e Maria Bethânia em Brasil (1981). Do
começo de Helena surge mais um fim (o último curta) –
da formação da atriz na Universidade Federal da Bahia
(UFBA) ressurge o professor, compositor e esteta
Koellreutter: depoimentos com música. MOTZ EL SON.

C) PHANOPOEIA (a poesia de IMAGENS VISUAIS), o lado


POP: metralhadora de imagens em table top e narração
nonstop em Histórias em Quadrinhos (Comics), de 1969.
O domínio total em que se fundem história e presente na
estratégia-mor “sganzerliana” de SELEÇÃO e COMBINAÇÃO
de imagens, quando a fotografia e o material de
arquivo cinematográfico SE VOLTAM SOBRE SI MESMOS,
obsessivamente, em eterno retorno, círculos concêntricos
de informação e possibilidade provindos de pedras/
provocações atiradas no espelho d’água da imagem da
memória nacional. Trechos de Umbanda no Brasil ressurgem
em Brasil. Linguagem de Orson Welles (1990) e Isto É
Noel Rosa dão sequência a um jogo de espelhos cósmico
– as mesmas imagens de arquivo que neles aparecem
reaparecerão, reordenadas, em Tudo É Brasil (1998). O
anti-institucional pós-tropicalista A Cidade do Salvador
(Petróleo Jorrou na Bahia) (1981) pertence a essa
categoria, bem como o martelo nietzschiano e as urnas
quentes de Antonio Manuel que integram Anônimo e Incomum
(1990), nas quais NADA e PIGMENTOS e TINTA se somam
às participações aforísticas de Helena Ignez e Nonatho
Freire e à fotografia das TELAS de Antonio Manuel –
comprovantes do olho colorístico do cineasta, bem como
ocorre em Deuses no Juruá (1997), com suas máscaras
gregas, seus índios e suas cores saturadas. No outro
extremo do espectro imagético, as cores delicadas dos
cartógrafos em Viagem e Descrição do Rio Guanabara por
Ocasião da França Antártica (1976) e os focos de luz e
fumaça de América: o Grande Acerto de Vespúcio (1992),
com interpretações icônicas e antológicas dos brilhantes
atores-fetiches Paulo Villaça, como Villegagnon, e
Otávio Terceiro, como Américo Vespúcio.

D) O cinema ESTILHAÇO de Irani (1983) coloca en robe


de parade o messianismo e a guerra santa no fragmento do
projeto não realizado sobre a Guerra do Contestado (como
filmar o conflito armado entre a população cabocla e os
representantes do poder estadual e federal brasileiro?).
O misterioso e igualmente inacabado Ritos Populares –
Umbanda no Brasil (1977-1986), no qual a câmera segue a
figura do pai de santo Woodrow Wilson da Mata e Silva,
o Mestre Yapacany da umbanda esotérica, narrando sua
própria trajetória e a criação da umbanda esotérica em
passeio por livraria e ruas do centro do Rio de Janeiro
enquanto um plano do rosto de Cristo num altar torna e
retorna e cenas de ritual na mata preparam seu próprio
retorno mais adiante em Brasil (1981).

Ações

Plano de estudo: rever os curtas e médias-metragens de


Rogério Sganzerla enquanto subsídios para investigação
sobre narração paramétrica (repetição + imagem não
significante + adição por subtração). O ESTILO alçado ao
nível de força MODELADORA do cinema.

Base do plano de estudo: geografia e (des)memória


cultural – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa
Catarina, Brasil. A Urca.

Plano emergencial “arqueologia do cinema”: localização e


restauro de Quadrinhos no Brasil, Mudança de Hendrix e
Newton Cavalcanti – A Alma do Povo Vista pelo Artista.

Não há outro modo de dizê-lo: os curtas e médias-


metragens de Rogério Sganzerla são simplesmente
magistrais, os mais ricos jogos de imagem, música e
significado. Visão, som e sentido. Procurem conhecer
melhor. VEJAM como fez o artista pra andar pra frente e
pensar em vertical. VER DE NOVO. MAIS LUZ.

Steve Berg é tradutor e pesquisador. Fez sua estreia literária na


Navilouca em 1972. Traduziu para o inglês o “Manifesto Antropófago”
de Oswald de Andrade e toda a produção textual de Hélio Oiticica
já publicada em língua inglesa, e é autor de ensaios sobre Douglas
Sirk, Helena Ignez e os filmes de Belair, entre outros. Organizou
retrospectivas de recortes da obra de John Ford e Fritz Lang, e foi
curador da mostra Rossellini TV Utopia. Também acredita que é preciso
tirar o cinema do quarto de brinquedos.
imagem: frame do filme A Mulher de Todos
Que mistérios
tem Helena?
Paolo Gregori e Pedro Jorge

Tarde no centro de São Paulo, escritório da Mercúrio Produções. Entre cartazes


de filmes, pastas vermelhas com páginas de roteiro e uma varanda repleta
de plantas, a atriz e diretora de cinema Helena Ignez concede esta entrevista.
Parceira criativa e companheira de Rogério Sganzerla, ela participou ativamente
da concepção de sua obra. Agora, como resultado de seu trabalho (ao lado das
filhas Sinai e Djin), o acervo do cineasta é cada vez mais ampliado e revelado ao
mundo, como conta ela nesta conversa – um encontro entre três cineastas que,
em comum, têm a paixão pela obra de Rogério Sganzerla e o desejo forte de
transformar ideias em cinema.
imagem: frame do filme A Mulher de Todos

Antes de entrar nos temas bons, quero falar de um ruim:


o cinema brasileiro.

É o balcão de favores do cinema brasileiro.

Como foi enfrentar 50 anos de cinema brasileiro? Um


cinema dominado por políticas e não raro por pessoas
egocêntricas e metidas a besta e, ao mesmo tempo, você
conseguir fazer um cinema que é o oposto disso, um
cinema revolucionário.

O momento é bom, e muito próximo ao começo. Parece estranho, não é? Também é


um momento de orgulho, de reunir forças. Realmente, é um momento extraordinário.
Por um lado, que é o lado magnífico dessa história, trata-se do que está acontecendo
em relação ao cinema de Rogério e o mundo. Há alguns anos atrás eu estive na Nova
Zelândia, levei O Bandido da Luz Vermelha. Ao mesmo tempo, a Weelington Film Society
deu a O Bandido da Luz Vermelha o título de um dos 50 melhores filmes do século XX.
Essa descoberta do mundo [em relação ao cinema de Rogério Sganzerla] realmente
explodiu com a morte dele. É como se tivesse destampado uma panela de pressão e
então o cinema de Rogério começou a ser distribuído pelo mundo. A minha filha Sinai
Sganzerla veio realmente conhecer o cinema do pai em 2006, numa casa lotada em
Turim, com pessoas sentadas no chão. Antes, ela não tinha podido conhecer a dimensão
do trabalho do pai no Brasil, e tinha feito com ele a trilha sonora de O Signo do Caos. Então,
é um momento extremamente radioso e importante. Ao mesmo tempo, esse cinema
de Rogério se torna popular na juventude. Em alguns lugares, como no Bafici [Buenos
Aires Festival Internacional de Cinema Independente, em abril deste ano], tivemos casas
lotadas. Rogério é muito mais visto fora do Brasil. Desde junho do ano passado tenho feito
constantes viagens para levar a obra dele. Temos ainda um trabalho difícil de recuperação
e de preservação de seus filmes. Mas considero que, apesar de tudo, o momento é muito
bom. O Nem Tudo É Verdade foi convidado para uma mostra, no ano que vem, no Lincoln
Center [em Nova York] e ainda há mais dois convites internacionais para este ano.

Foi preciso o Rogério morrer para acontecer tudo isso?


De alguma forma ele previa isso. Você sabe que só Strindberg lia Nietzsche quando ele estava vivo?
Isso é uma coisa doida e extremamente dolorosa.

Mas a loucura tem lugar no mundo?


Tem. Dos internacionais consagrados, por exemplo, um filme de que gosto muito é o Anticristo [de
Lars von Trier, 2009], e aquilo não tem pé nem cabeça.
imagens: frames do filme A Mulher de Todos
Uma paixão...

Mas O Bandido da Luz Vermelha Por aí. Tem essa força. A força também de uma atriz que
nem chegou a ir para Cannes. vinha sete anos antes dele vivendo isso, começando
O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes um movimento, mas de uma forma muito fresh, com
demora um pouco para acontecer. o Glauber, na Bahia. Na adolescência e na infância eu
me alimentava do cinema brasileiro, das chanchadas.
A própria trajetória do Orson Welles Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. Me
não foi muito diferente da do divertia e tudo, mas não era o que eu queria fazer. Mas
Sganzerla em termos de realização de tinha uma força de uma criação ali que começou com
filmes. Pelo tempo de carreira deles O Pátio [o primeiro filme de Glauber Rocha, de 1959]
e pelo número de filmes realizados, e que depois foi distribuída em outros filmes, numa
tudo é muito proporcional. criação que tinha bastante autoria, mas que, de qualquer
Será? forma, era condicionada a um pensamento que nem
sempre era o meu. Depois disso encontrei com Rogério
Mas veja, Krzysztof Kieslowski exatamente a liberdade de me expressar completamente
foi descoberto em Cannes depois de como artista. Tinha tido um vácuo muito grande talvez
praticamente 20 anos de carreira antes dele, porque essa adolescência com o Glauber
como documentarista. O Heneke foi adoravelmente fértil e louca, e estragada por um
[Michael Heneke] ganhou Palma de casamento. Éramos dois meninos, com 19 anos, na
Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no Bahia. O casamento estragou aquela coisa e foi curto.
ano passado, sendo que o cara faz Mas teve um período antes dele em que eu encontrei
filmes desde a década de 1970. Mas essa efervescência toda. Então, quando eu encontrei
esses caras conseguiram sobreviver. Rogério, eu tinha já esse fogo, esse fogo dessa atriz e
Pois é. Godard conseguiu. Mas ele é um atleta, ele tem desse encontro com Glauber, uma forma glauberiana de
uma coisa física por trás. E é suíço, o que sempre é ser artisticamente, e isso encaixou, se tornou no cinema
melhor [risos]. que eu fiz como atriz com Rogério. No mais, foi uma
imensa paixão, um grande amor extraordinário, e que fez
Talvez se Glauber e Rogério inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu
fossem franceses, eles tivessem me afastar dele, talvez a carreira, talvez ambições nesse
resistido mais. sentido. Eu queria estar ali, participar daquele momento
Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas, não é? de criação magnífico, que era a nossa presença com
Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas, os filhos, isolados. Nós sempre fomos muito isolados. E
eu tenho outras porções. Mas tenho outra notícia muito então teve a ditadura, que nos baniu completamente, e
interessante, o diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, depois a Embrafilmes, que nos deixou fora de produção.
convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do Enquanto isso o Rogério escrevendo. Ele tem uma
festival deste ano, em sessão especial. Isso foi muito bom. produção literária extraordinária, que vai começar
também logo a aparecer, assim como os roteiros. E
Locarno sempre gostou dos nossos agora será publicado um livro com os trabalhos [como
marginais, não é? crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Paulo.
Acho Locarno realmente encantador. Éramos muito afastados do cinema, graças a Deus. O que
talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de
Como é que você vê esse encontro retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma
de duas pessoas excepcionais, intensidade de sempre. Retomar essa vontade de fazer
você e o Rogério, que criaram uma cinema. Essa vontade já tinha vindo anteriormente, eu
obra tão voraz? No caso, você fiz um curta, A Reinvenção da Rua, fui movida por uma
dando vida às personagens e ele indignação pela situação da parte mais desprovida
escrevendo essas personagens. da sociedade, que são os moradores de rua. Então fiz
Não sei como dizer, talvez dizer não dizendo. Mas, bom, se a primeira coisa como diretora, diretora no sentido
trata de pessoas. Eu, ele e esse encontro. de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer
aquilo. Eu não sou exatamente uma cinéfila. Eu adoro
completamente um autor de quem às vezes eu conheço
apenas um filme só, apesar de ele ter uma obra inteira. Eu
me interesso por poucas obras e me fixo nelas.
O Rogério já tinha mais isso, Sabe o que eu acho meio doido,
não, de ser mais cinéfilo? Helena, é que nas mostras
Ele era completamente conhecedor de cinema, com 17 anos internacionais os curadores
ele já conhecia todas as fichas de filmes clássicos, de todo estão vendo os filmes do Rogério
o cinema. Esses são o Rogério, o Glauber e o Júlio Bressane. como se tivessem sido lançados
Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são hoje, com o olhar da novidade.
cinéfilos. E tem o Carlão [Reichenbach] também. É incrível isso, e mostra que são filmes modernos acima
de tudo.
Como foi, na realidade, para
você, ver o Rogério vivendo E sobre a Belair, Helena, era
obsessivamente o trabalho do Orson inevitável esse encontro entre
Welles? Como era para você essa você, o Bressane e o Sganzerla, o
grande paixão dele pelo Welles e trio Belair?
pelos filmes, você entrou nessa Eu acredito que sim.
história de peito aberto?
Era um enigma, essa convivência com o Rogério era Eu lembro que, quando vi o
uma grande viagem em mar revolto. Quando eu vi pela Copacabana Mon Amour, no Festival
primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na de Cinema Latino-Americana [2008,
mala tinha It’s All True, eu pensei “puxa, de novo”. Não em São Paulo], com uma cópia
era mais uma trilogia. Era o quarto filme. Em Locarno, restaurada, então a Djin apresentou
numa mostra sobre Welles, eu ouvi um curador dizer o filme dizendo “Ah, eles usaram
que sem os filmes de Rogério a obra de Welles não uma lente que foi do Fellini”.
seria completa. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é Vocês tinham essa magia que passa
um enigma, e é um trabalho explosivo de alguém com uma coisa que eu não vejo mais, uma
um espírito extremamente cristão, um cristão trágico coisa de ídolo, jovial.
com essa concepção de saber que todo o trabalho dele Era uma lente pesada, parecia um fundo de garrafa. Mas
só seria descoberto depois do trabalho final, fechando hoje é difícil manter essa jovialidade, não é? Mas eles
com O Signo do Caos, com o fogo da cremação. Um conseguiam fazer os filmes deles assim.
trágico total, desde A Mulher de Todos que ele trabalha
com a tragédia. Na verdade era um cinema
construtivo, que entrava na
No final de O Signo do Caos tem-se cabeça de seus ídolos.
uma repetição com a frase “acabou, (Pausa para uma conversa entre os entrevistadores
acabou, acabou”. E parece que era e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova
o fechamento da própria obra do geração de cineastas brasileiros, a exemplo do
Rogério. Isso foi muito assustador pernambucano Tião e seu filme O Muro.)
para mim.
Pois é, um fechamento dionisíaco, com fogo, com Mas vamos voltar ao assunto da
alegria, com vibração, “amém, amém”. Quando ele entrevista, que é falar do Sganzerla.
ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com É que falar da vida é muito interessante, e eu acho que
O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003], ele foi isso o que me preservou, um interesse múltiplo forte
ouviu da filha [Djin] esse anúncio. que tenho.
Você acha que o que aconteceu com muito engraçado, de um humor muito interessante, com
o Rogério por dentro foi um pouco falas extraordinárias shakespearianas, tudo isso muito
essa coisa obsessiva pelo cinema? entrelaçado em mais de 700 páginas. E no final ele se virou
Sim, essa obsessão artística nietzschiana das pessoas e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. E eu me vi com
anormais. Claro, porque eu acho que um gênio não é isso na frente, para organizar e criar e tudo isso dentro de
normal. Em toda a obra dele, mesmo no mínimo está um cinema brasileiro, sabendo de todas as dificuldades
contida a mesma qualidade em todos os filmes. E para que temos para filmar. E enfim o filme está pronto. No
mim o que me preservou foi ter conseguido arejar, sair. mais, é uma produção familiar, a produtora executiva é a
E talvez, não sei, mas de alguma maneira com isso eu Sinai Sganzerla, a Djin é a atriz protagonista, em um elenco
possa até ter preservado a vida de Rogério. Porque na maravilhoso, com grandes atrizes e atores, a exemplo do
família ele podia descansar, e talvez do contrário não André Guerreiro Lopes, que é também o meu genro, e
tivesse sido assim, talvez tivesse sido ainda mais difícil, do Ney Matogrosso, companheiro da minha geração, um
como pode ter sido para o Glauber. Mas o momento é ícone. Então tem essa estrutura familiar, com elementos
este, é de reconhecimento da obra de Rogério. E dessa que não são familiares, como a própria pessoa que eu
forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla, convidei para codirigir o filme comigo [Ícaro Martins], que
dirigido recentemente por Helena Ignez] é um filme que vem de uma concepção mais burocrática de cinema. E
abraça toda a obra de Rogério, é um filme que devora, se a grande vitória é que o filme não sofre essa influência
apodera antropofagicamente – como é da nossa família burocrática que é fazer um filme no Brasil, em absoluto. É
espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro filme. um filme radical, e radical na poesia.
É um filme interessante, rico e contraditório. Porque é
sobre a justiça, uma comédia criminal sobre a justiça, e
um filme gay, imensamente gay.
Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens, o último deles o
Como foi organizar esse roteiro? documentário A Vermelha Luz do Bandido, sobre a obra de Sganzerla.
Com a irmã, a diretora Mariana Jorge, codirigiu o documentário
Foi uma loucura. Eu estou num momento muito
América Brasil, que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge.
forte também, porque várias decisões estão em volta Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV,
desse filme e desse roteiro. Luz nas Trevas também foi dirigida por Kiko Goifman).
convidado para o Festival de Locarno, em competição
Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades
oficial. E é um filme que nasceu em 2003, pela
(1993) e Mariga (1995). Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25o
descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz, de Portugal (com
pastas vermelhas. E Rogério, que em toda a vida não o curta O Feijão e o Sonho, 1996). Seu curta-metragem Tropiabbas
deixou de perder o humor cáustico, um dia me disse teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais
de 20 países, enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai,
“Você abriu demais esse baú”. Porque exatamente
Hamburgo e Montevidéu. Atualmente finaliza seu longa-metragem
quando ele ia retomar esse trabalho, ele teve a notícia – Chuva. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na
apesar de estar com a saúde boa, normal – do câncer no Universidade Anhembi Morumbi.
cérebro. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor
está aqui, andando normalmente”. E ele perguntou Edição | Mariana Lacerda
“Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15
dias”. Em vez disso ele viveu oito meses, e foi exatamente
nesses oito meses que eu extraí força. E dentro daquele
momento terrível era de onde vinha a alegria; ela vinha
desse roteiro, da vida, das palavras dele, em um roteiro
fotos: arquivo da família de Sganzerla
foto: arquivo da família de Sganzerla
Investigações
sobre o cinema
(ou seja, o homem)
moderno:
Sganzerla crítico
Ruy Gardnier
Observando o século XX, fica difícil afirmar que o
crítico é um artista frustrado. São muitos os casos
anteriores ao século passado – Stendhal, Diderot,
Baudelaire e Machado de Assis, para mencionar apenas
quatro –, mas este século viveu uma proliferação
impressionante de artistas que exerceram a atividade
crítica, como Georges Bataille, Ezra Pound, T.S.
Eliot, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos,
todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard,
Truffaut, Rohmer, Chabrol, Rivette), Glauber Rocha,
Jonas Mekas, além de incontáveis livros teóricos
e manifestos que envolvem pensamento crítico
(Schoenberg, Messiaen, Klee, Kandinski).

Quando um grande artista exerce a atividade crítica,


inevitavelmente ela se torna uma extensão de sua
personalidade e de sua força criativa, selecionando
as afinidades eletivas e afinando os processos de
pensamento para lapidar as bases de sua arte. Como a
crítica surge frequentemente nos períodos formativos
dos cineastas, geralmente antecipando e/ou coincidindo
com os primeiros roteiros, curtas e longa-metragem
de estreia, observar o trabalho de um crítico-futuro-
cineasta acaba sendo a mesma coisa que presenciar o
retrato do artista quando jovem. Com os primeiros
escritos de Rogério Sganzerla dá-se exatamente isso.

No período mais brilhante de sua crítica, 1964-1967,


Sganzerla é um jovem intelectual que tenta compreender
as modificações que o cinema sofreu ao longo da
década de 1950. Manifestando certamente uma série de
mutações no globo, o cinema foi do certo ao incerto,
do mastigado ao obscuro, do simples ao complexo. E o
jovem Sganzerla criou para si mesmo a tarefa de mapear
as características desses filmes que davam um sopro de
renovação ao cinema daquele momento. Onde muitos viram
gratuidades estilísticas, incoerências narrativas e
hermetismo esnobe, Sganzerla viu um novo cinema que
delineava uma nova relação com a imagem (e com os
personagens, com as tramas, com a duração dos planos
etc.) e que significava uma nova relação com o mundo.
Em resumo, o empenho do jovem Sganzerla era explicar o
cinema moderno.
“Moderno”, para ele, não é uma questão de afetação
ou de moda: é o cinema que exprime as inquietações de
seu tempo, no conteúdo e na forma. Vários conceitos
surgiram em artigos do Suplemento Literário do Estado
de S. Paulo: “herói fechado”, “câmera cínica”, “cinema
do corpo”, “tempo solto”, com recorrentes menções ao
cinema de Fuller, Godard, Resnais, Losey, Antonioni e,
como precursores, Welles e Hawks. Por trás dos nomes
“herói fechado” e “câmera cínica” está a ideia de que
o filme não tem mais a função de explicar o mundo e
os personagens, e sim a de evidenciar esse caráter de
incompreensão das coisas, em que tudo que o espectador
pode fazer é olhar. Isso claramente já antecipa todo
o fascínio dos personagens-ícones de Sganzerla,
figuras intencionalmente opacas que funcionam como
personagens de vaudeville num palco sem chão: no vazio
do entretenimento, o pitoresco se apresenta em seu furor
violento (e de cabo a rabo no cinema de Sganzerla há
uma forte violência do signo ligada à caracterização/
caricaturização dos atores).

Sganzerla memorialista

Nos anos 1980, outro período particularmente prolífico


de sua atividade crítica, certos questionamentos do
cinema moderno são retomados, mas a tônica geral é a
melancolia advinda do rompimento de laços do cinema
brasileiro com seu braço mais experimental. São
recorrentes – e altamente justificadas – as reclamações
de que o cinema brasileiro se rendeu à telenovela
e esqueceu o que havia de genial em sua tradição
experimental, prestigiando o “pornosoft” e o naturalismo
sem ousadias. Na ausência, a seus olhos, de um presente
vigoroso, Sganzerla transforma-se num memorialista,
evocando épocas do passado em que o Brasil tinha a
bossa. Como Ulisses cantando sua longínqua Ítaca, o
Sganzerla dos anos 1980 é um cineasta que olha para
o Brasil e vê seu adorado cinema moderno muito longe,
soterrado pela televisão. O antídoto? Dá-lhe Orson
Welles, dá-lhe João Gilberto, dá-lhe Noel Rosa, na
esperança da volta de modernidade e inteligência no
cinema exercido no Brasil.
no r a stro de sganzerla
uma antifotonovela
Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo
eu não falava e com
Nasci em Joaçaba (SC). Até os 5 anos
s infantis...
7 anos eu escrevi um livro de conto
Eu era um menino barulhento, diferente dos padrões catarinenses...

i a fazer roteiro
Com 10 anos comece atrás do outro...
de cinema. Fazia um
Não tinha cineclube, não tinha nada. Não
tinha meio nenhum de ir mais longe.
Nesta página: fotos do arquivo da família de Sganzerla; frame do filme Documentário; frames do filme O Bandido da Luz Vermelha

A partir daí foi um momento de primeiro encontro com o


cinema. Estudava no Mackenzie e de cara já não acompanhava
as aulas. Meu interesse era me envolver com cultura.

Resolvi sair.
Fui morar em
São Paulo...

Com 17 anos comecei a fazer crítica de cinema no


Suplemento Literário do Estado de S. Paulo...
Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi
dirigir. Mas gosto do que faço porque, enquanto pude,
fiz cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o
escrever sobre cinema do escrever cinema. Quando eu fui fazer cinema, tinha, apesar de uma
grande ingenuidade, uma malícia que os outros caras
não tinham. Fiz um curta-metragem e viajei para a
Europa...
Comecei o argumento do filme na evolução de um garoto no
mundo do crime...

No retorno ao Brasil, li nos jornais sobre um


bandido mascarado.

A onda de violência estava crescendo em São Paulo.

Fiquei pensando...

Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha, exceto a foto que Sganzerla está com a câmera (arquivo da família de Sganzerla)
E usei o título dos jornais:
O Bandido da Luz Vermelha

Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é,


fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma.

Decretado hoje estado de sítio no país. O dispositivo policial reforça todos os seus
órgãos de segurança...
Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele
já praticou.
Tá falando
com o campeão
de tiro ao alvo de
Cuiabá.

Janete Jane, a escandalosa!


Outro dia tive que
assistir o parto da
minha cunhada.
O bandido mascarado não respeita a mulher nem a propriedade
privada.

Vivo de pequenos
furtos, empréstimo dos
amigos... Posso dizer de
Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta adotado da boca cheia: eu sou um
Divina Providência, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... boçal!
Eu sou um BANDIDO NACIONAL... O BANDIDO DA LUZ VERMELHA.

E o Terceiro Mundo vai explodir e quem tiver de sapato não


sobra!
Janete Jane, a namorada do Luz Vermelha, descobre a verdadeira identidade do
pistoleiro mascarado.

JB da Silva, o maior. Candidato à presidência da


Boca do Lixo.
Que miséria, meu filho?
Um país sem miséria é um Até que saí bem no
país sem folclore. O que é retrato falado.
que a gente vai mostrar
pro turista? Hahaha!!
Que é que o
secretário pensa
da miséria?
Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha, exceto a foto que Sganzerla aparece encostado na parede (foto: Marcos Bonisson)

Prende esse
anão boçal! Fecha o cerco Estou esperando uma crítica inventiva, no nível do
e manda bala provável, e não da certeza idealista, das especu-
nesse sacana! lações sentimentais e das perspectivas do passado
Quem jogou e do provinciano, principalmente...
a gatinha lá
de cima?

Definitivamente, queria esquecer de uma vez, já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto
numa poeira... Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender.
Troquei a grande angular pela teleobjetiva. Meu novo filme é uma comédia
inspirada na chanchada, onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. Vampiro, você é um
bacana!
das dez
e Osso, uma
ais de Angela Carne
s sexu
As aventura aníacas.
mais megalom Aquela depravação de
novo? Antropófagos
invadem a Guanabara!
O que você quer, Flávio
Asteca? Quer Angela Carne
e Osso só pra você? Vamos
passar o fim de semana na
Ilha dos Prazeres? Sou o único negro
milionário do Brasil!

Será este o marido nacional do


século XXI? Do XVI ou do XXI? Dr. Plirtz, proprietário do truste das histórias em
quadrinhos do país, das minas de prata do Guarujá e
Angela, meu amor, a da rádio emissora El Dólar.
minha paixão por você
aumenta de 15 em 15
minutos. Sim, sou eu mesmo,
Dr. Plirtz, o grande
Me chama de bitolado!
bitolado. Vai, BI-TO-
hahaha!

Não quero mais


homem bacana. Só
Neste fim de sema- Angela, meu amor, dá trabalho. Não
na vou me dedicar é uma pena que dá pé!
aos boçais. vocês não podem
me dar nada porque
eu tenho tudo!

Mulheres, boa noite.


Homens, goodbye.

Nesta página: fotos de Sganzerla (Marcos Bonisson); demais imagens são frames dos filmes A Mulher de Todos e Abismu
Alô, garotas, eu sou
o Zé Bonitinho, pi-
rigote das mulheres,
e só entro em cena
ao rufo de tambo-
res!!!

Não sou batom, mas estou em


todas as bocas. Garotas, vou dar
para vocês um fiapo do meu beijo!
Engraçado, não, engraçado é um boi
de dentadura postiça fazendo fiu-fiu
para uma vaca no brejo!

O trem que o mundo espera apita. Só me interessa


a profecia.
Tudo é uma coisa só e isso é tudo! Sobretudo de uma coisa só vem
de tudo um pouco. Somos, fomos e criamos, que de tudo é uma só
mente universal. Para chegar à mente livre, percorri um grande cinema estranho.
Sinceramente, a solução mais
adequada para você é o
suicídio... Se mata, filho! Se a verdade estiver no fundo
de um poço ou de um abismo,
é preciso buscá-la, porque sem
O mundo é teu, boçal! De chute não há gol!
vosso recalque só pode vir a
maior boçalidade possível... No
abismo se desce ou sobe... Eu
subo!

Na caçapa de Joaçaba
eu aprendi duas coisas
em Tupi, firmeza e res-
peito é uma coisa só!
Primeiro mate o seu
ego, depois venha falar
comigo!

Eu acho que o Jimi Hendrix foi um pen-


sador, o homem que colocou nas letras,
concretamente, a frase “eu posso mudar
a sua mente”. Isso é a revolução.

Aqui no Brasil você


não precisa dormir
para sonhar!

Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.


Nesta página: frames do filme Abismu; Creative Commons (foto Hendrix e Welles); foto de Sganzerla (Marcos Bonisson)

Para evitar perguntas cretinas, devo dizer Todos os maus filmes já foram feitos. Os burocratas vêm
a todos que continuarei a seguir minhas liquidando o cinema. Meus filmes são uma propaganda da alma
diretrizes fundamentais, que são, nada e do corpo brasileiro.
mais nada menos, dar ao cinema uma
noção de tempo, espaço e profundidade.
Não sou um gênio... Nem tudo é verdade!

A máquina de filmar é o instrumento mais mentiroso


inventado pelo homem, disse alguém e tava certo!
Não deram nenhum tostão para
Noel Rosa. O primeiro livro que
minha mãe me deu foi
Sonhos de uma Noite de Mr. Welles, o que
Verão, de Shakespeare. acha da crítica?
Eu tinha 6 anos.

Sempre me considerei um Hahahaha!


vagabundo, um saltim- Detesto todo tipo de
banco, um outsider em parasitas!!!
qualquer lugar do mundo.

As pessoas são in-


críveis, me aplaudem
Os astros são meus até quando estou
únicos aliados. sóbrio!!!

O Brasil é o país
que produz o melhor
uísque falsificado do
mundo!

To see or not to
O cara vem filmar o see, that’s the
berço esplêndido, as question!
mulatas... Respeito é
manga de colete.

A imagem do caos é
o próprio CAAAAOS!

Nesta página: frames dos filmes Nem Tudo É Verdade, O Signo do Caos, Abismu e O Bandido da Luz Vermelha; foto de Sganzerla (Marcos Bonisson)
Podem recolher todo o material...

Para o fechamento, um antifilme.

O cinema não me
interessa, mas sim a
profecia!

Os cinco sentidos são


tão tolos como uma
criança, não sabem
distinguir ilusão da
realidade, o verdadeiro
do falso.

Acabou, acabou. Podem jogar tudo fora.

O cinema teria de ser escrito em uma folha em branco pegando fogo


para poder registrar esse movimento de captação do pensamento de
um filme durante sua realização. Por um cinema sem limite...

FIM.
imagem: a partir de frame do filme Histórias em Quadrinhos
O aroma de curry no
meu olfato
Álvaro de Moya
Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da
Tarde, onde eu era colaborador, ainda na sede antiga,
com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obra-
prima, O Bandido da Luz Vermelha, em citação reverente
ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Suas
escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores
prediletos, como Samuel Fuller.

Walter George Durst tinha feito um programa na TV Tupi


focalizando Silki. Ficara impressionado com alguém que
passava fome para comer. O faquir ficava num esquife
de vidro na Praça da Sé, sem se alimentar e sem
água durante dias, atraindo multidões dia após dia.
Tencionava fazer um filme, mas alguém se antecipou e
realizou um longa, para frustração de Durst, que não
gostou da versão. Também entrevistara o Bandido da
Luz Vermelha na prisão e queria fazer um longa. Ficou
chateado quando foi anunciada uma versão. Quando,
porém, viu o que Sganzerla realizara em seu Bandido
da Luz Vermelha, engoliu, pois reconheceu que dessa
feita resultara num grande filme. Na minha opinião, um
dos maiores e melhores longas-metragens da história do
cinema nacional, tal como A Margem, de Ozualdo Candeias.

Sganzerla era extremamente criativo e seu filme


representa uma ruptura na linguagem brasileira –
equivalente ao que Jean-Luc Godard fez com o cinema
francês em Acossado. Na montagem, viu um rolo em 35
milímetros que era um teste de projeção com efeitos de
sons e imagens, achou legal e incluiu em seu filme.
Contou-me que, na montagem do som, num estúdio no bairro
do Sumaré, perto da casa de Hebe Camargo, ouviu tiros,
estranhou. Ele e o editor notaram que os tiros tinham
imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos
vindo de fora. Correram para filmáramos na véspera. Ele lia
a rua e viram um morto caído e achava ótimo, perguntava
no chão e duas crianças ao quem tinha escrito. “Eu”,
lado, com gente correndo. respondia, candidamente. No
Era um americano. Tinha dia seguinte, o mesmo diálogo,
sido fuzilado – depois de até ele acreditar que eu podia
julgado pelos terroristas, escrever sem citações.
segundo a imprensa – diante
de seus filhos que iam para a Quando filmamos uma vamp de
escola. Mais tarde, a revista Flash Gordon, de costas,
americana Time revelou que com um longo vestido preto,
ele era um agente do governo ele se impressionou com a
norte-americano, a mulher dele semelhança com uma mulher
não era sua esposa, mas uma mais velha do que ele com
agente também, e aqueles não quem tivera uma relação. A
eram seus filhos. Uma falsa mesma imagem de Alex Raymond
família hollywoodiana para que Hector Babenco mostrou
espionar a luta armada contra para Sonia Braga compor sua
a ditadura militar brasileira. personagem em O Beijo da
Mulher Aranha. Quando filmamos
Continuamos amigos e em alguns quadrinhos nacionais,
contato, mesmo quando não mais ele observou que era como
fez críticas escritas. Depois filmar Rolls-Royce e misturar
de algum tempo, procurou-me com um Aero Willys brasileiro.
e revelou que tinha direito Vamos fazer dois curtas, um
de usar a Oxberry da Jota Comics e outro Quadrinhos
Filmes, na Avenida General no Brasil. Escolhi Orpheu
Olimpio da Silveira, para Paraventi Gregori para fazer
fazer um table top e que a locução. Fomos para a Cia.
seu curta focalizaria os Cinematográfica Vera Cruz, ou o
quadrinhos. Convidou-me para que sobrara dela, para juntar
ser codiretor, redator e tudo. Ao entrar no terreno,
montar com ele a produção. Não o odor de curry vindo de uma
tínhamos nenhuma experiência. planta ficou na minha memória.
Levei um monte de livros e
revistas da minha coleção
particular e filmamos O
Fantasma. Ele me perguntou
quantos fotogramas e chutei um
número qualquer. Quando fomos
ver as primeiras tomadas na
Rex Filmes, tudo passou em
frações de segundos. Como uma
propaganda subliminar. Ficamos
perplexos. E aprendemos...
Escrevia em casa o texto,
passo a passo, sobre o que
Só falávamos de Orson Welles, ibérica após o término do
de Cidadão Kane. Eram tempos conclave. Gasca lamentou,
de crise. Íamos comer algo pois teria recebido um prêmio
na cidade de São Bernardo. internacional, seguramente.
Eu entrava numa loja de
móveis vazia de fregueses e Além disso, a diplomacia
fingia interesse numa mesa brasileira perdeu a cópia.
Luiz XV e perguntava se Ganhamos um prêmio em Manaus.
dava para fazer sob medida Rogério, vivendo no Rio,
aquelas pernas tortas com me telefonava e prometia
outro móvel incompatível. O uma cópia 16 milímetros e
vendedor aceitava absurdos, esquecia. Saiu em vídeo e
desde que concretizasse uma nada. Até hoje não tenho um

imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos


venda. Rogério se segurava Comics. Mas ficou na minha
para não rir e tirava sarro lembrança a felicidade
de mim, já na rua depois de daqueles momentos juntos e o
prometer voltar mais tarde aroma de curry no meu olfato.
com a patroa. O curta Comics,
por sorte, foi programado
para acompanhar o filme de Álvaro de Moya é jornalista,pesquisador
e escritor. Publicou o livro Shazam!
Pasolini Teorema e foi muito
(Perspectiva), considerado um clássico
visto. Levei uma cópia para o sobre a trajetória da HQ no Brasil. Foi
Salão de Comics, em Lucca, foi curador de exposições sobre quadrinhos,
bem recebido, o então diretor dirigiu ao lado de Rogério Sganzerla
os documentários História em Quadrinhos
do Festival de Cinema de San
(Comics) e Quadrinhos no Brasil.
Sebastian, Luis Gasca, sugeriu
que eu mandasse uma cópia
para a Espanha. Entreguei
ao Consulado Brasileiro na
Itália e chegou à península
imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha
Cinema
fora da lei

Manifesto de Rogério Sganzerla (escrito em 1968, durante


as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha)
1 – Meu filme é um far-west 3 – Orson Welles me ensinou a não
sobre o Terceiro Mundo. Isto separar a política do crime.
é, fusão e mixagem de vários
gêneros. Fiz um filme-soma; 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a
um far-west, mas também filmar tudo pela metade do preço.
musical, documentário,
policial, comédia (ou 5 – Em Glauber Rocha conheci
chanchada?) e ficção o cinema de guerrilha feito à
científica. Do documentário, base de planos gerais.
a sinceridade (Rossellini);
do policial, a violência 6 – Fuller foi quem me mostrou
(Fuller); da comédia, o como desmontar o cinema
ritmo anárquico (Sennett, tradicional através da montagem.
Keaton); do western, a
simplificação brutal dos 7 – Cineasta do excesso e do
conflitos (Mann). crime, José Mojica Marins me
apontou a poesia furiosa dos
2 – O Bandido da Luz Vermelha atores do Brás, das cortinas
persegue, ele, a polícia, e ruínas cafajestes e dos seus
enquanto os tiras fazem diálogos aparentemente banais.
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha

reflexões metafísicas, Mojica e o cinema japonês me


meditando sobre a solidão e ensinaram a saber ser livre
a incomunicabilidade. Quando e – ao mesmo tempo – acadêmico.
um personagem não pode fazer
nada, ele avacalha. 8 – O solitário Murnau me
ensinou a amar o plano fixo
acima de todos os travellings.
9 – É preciso descobrir o segredo 12 – Estou filmando a vida do
do cinema de Luís poeta e agitador Bandido da Luz Vermelha como
Buñuel, anjo exterminador. poderia estar contando os
milagres de São João Batista,
10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, a juventude de Marx ou as
Eisenstein e Nicholas Ray. aventuras de Chateaubriand. É
um bom pretexto para refletir
11 – Porque o que eu queria sobre o Brasil da década de
mesmo era fazer um filme mágico 1960. Nesse painel, a política e
e cafajeste cujos personagens o crime identificam personagens
fossem sublimes e boçais, onde do alto e do baixo mundo.
a estupidez – acima de tudo –
revelasse as leis secretas da 13 – Tive de fazer cinema fora
alma e do corpo subdesenvolvido. da lei aqui em São Paulo porque
Quis fazer um painel sobre a quis dar um esforço total em
sociedade delirante, ameaçada direção ao filme brasileiro
por um criminoso solitário. liberador, revolucionário também
Quis dar esse salto porque nas panorâmicas, na câmara fixa
entendi que tinha de filmar e nos cortes secos. O ponto de
o possível e o impossível num partida de nossos filmes deve
país subdesenvolvido. Meus ser a instabilidade do cinema –
personagens são, todos eles, como também da nossa sociedade,
inutilmente boçais – aliás, da nossa estética, dos nossos
como 80% do cinema brasileiro; amores e do nosso sono. Por
desde a estupidez trágica do isso, a câmara é indecisa; o
Corisco à bobagem de Boca de som fugidio; os personagens
Ouro, passando por Zé do Caixão medrosos. Nesse país tudo é
e pelos párias de Barravento. possível e por isso o filme pode
explodir a qualquer momento.
imagem: frame do filme Carnaval na Lama
Fragmentos
de Rogério
Hernani Heffner
Os filmes. Os filmes. Os filmes. Não nos conhecemos antes por
Rogério sempre falou de tudo causa dos filmes. Ou melhor, foi
– do cinema, das pessoas do por causa de filmes, mas não
cinema, das sacanagens do cinema os seus, que em geral levavam
–, mas nada ficou acima dos (poucos, no início) admiradores
filmes. Falava apaixonadamente, impactados a se aproximar
obsessivamente, dos seus e de dele. De certa forma, Rogério
todos os outros que considerasse foi se tornando familiar para
instigantes, quer isso mim por causa de relatos de
significasse Luís de Barros ou outras pessoas. Uma delas, José
Samuel Fuller. Quase tudo era Marinho, ator “sganzerliano”
importante em alguma medida. de primeira hora, foi meu
Bastava começar uma conversa em professor no curso de cinema da
torno do mais insignificante Universidade Federal Fluminense
dos filmes, da mais banal (UFF) no começo dos anos
das cenas, do mais reles dos 1980. “Tarzan” propagandeava
planos, que a fala surgia num a maestria do diretor de O
crescendo de frases rápidas, Bandido da Luz Vermelha. Outra
inacabadas, entrecortadas, pessoa foi Remier Lion, o mais
com verbos no subjuntivo ou antigo entusiasta, enaltecedor
no pretérito imperfeito. O e profundo admirador que conheci
pensamento tinha de escoar, da obra e do artista por trás
ganhar vida, apresentar-se de da obra que se erigira após o
forma sugestiva, mas não como sucesso daquele primeiro filme.
uma explicação ou uma lição Ele era um garoto quando pirou
de moral estético-histórica. com os filmes e foi atrás
A voz elevada, os braços do realizador daquilo que
agitados, a silhueta algo considerava mais do que uma
franzina agigantando-se num lição de cinema, uma lição de
aparente corpanzil que dominava arte e de vida. Ficaram amigos
o pedaço, queria dar conta do e fui absorvendo um pouco dessa
que transformava o inerte, o relação ao estreitar a minha
monótono, em picada estimulante. com o futuro programador,
Coisa de diretor de cinema pesquisador, realizador e globe-
atirado e incisivo que, diziam, trotter de cinema.
ele era.
Já tinha uma pequena ideia de determinada tradição do cinema
quem era Rogério. Conheci-o brasileiro, que esse grupo
antes de ele me conhecer, o reconheceu, resgatou
vira no programa Cinemateca, e incorporou.
transmitido pela antiga TVE do
Rio de Janeiro no final dos Tradição que significava diálogo
1970. Ele e José Carlos Monteiro com certas formas populares de
eram os debatedores de uma comunicação, de fazer artístico
emissão de A Marca da Maldade. e, mais do que isso, com
Não me lembro do que disse, certa estética que privilegia
mas a imagem desse programa o espontâneo, o básico, o
em particular ficou na minha imediato. A pantagruélica
memória. Não saberia dizer o precariedade não era uma
porquê. Vi um filme seu algum condição (subdesenvolvimento e
tempo depois, novamente na quejandos), mas uma expressão
televisão, antes de encontrá- em aberto, pronta a ser
lo pessoalmente já nos anos elaborada pelos constituintes
1990. Era uma exibição do cinematográficos. Naquele
Bandido perdida em algum momento, dentro do métier,
Corujão na Globo e não me apenas se prolongava a querela
deixou maiores marcas. Assisti com o Cinema Novo, transformada
mais porque era raro ver filme em uma dinâmica do tipo
brasileiro na televisão. algozes e vítimas, artistas e
comerciantes, com e sem acesso
Diálogo à Embrafilme etc. Acabaria me
encantando mais com a descoberta
A importância do momento (tardia) da sinceridade e da
do qual emergiu – ele não plasticidade de uma obra-prima
gostava dos termos “udigrúdi”, como Porto das Caixas do que com
marginal etc., que considerava o que me parecia a repetição da
ideologicamente perversos, estratégia formal de Terra em
alijando a si e aqueles com Transe retomada em Sem Essa,
quem mantinha afinidades do Aranha (a câmera na mão e a
reconhecimento de uma hegemonia mise-en-scène da trajetória
artística evidente – só foi dos intérpretes).
ficando clara para alguém
desavisado de uma geração Quando conversei com Rogério
posterior como eu ao longo sobre o filme “glauberiano”,
dos anos 1980. Um conjunto ele não o endeusou, mas
de textos, cursos e sessões categoricamente o colocou no
foi pavimentando a aceitação seleto clube das obras decisivas
um tanto beletrista daquela e artisticamente maduras.
experiência radical. Na Minha percepção estritamente
época não percebi que o mais formalista naquele momento
importante era o diálogo com mais antigo não me permitiu
imagens: frames dos filmes Copacabana Mon Amour, Carnaval na Lama e Sem Essa, Aranha

considerar uma revalorização do de sua intimidade a não ser


cinema brasileiro popular antigo quando Sinai, Djin e Helena
que sua geração realizara e uma me pediram que fosse ao seu
dimensão de “conteúdo” que já apartamento na Urca organizar os
tinha feito toda a diferença rolos de filmes que deixara e a
e que não deixava de ter uma documentação que pacientemente
(nova) presença conceitual. guardara durante toda a vida.
Foi tocante descobrir o carinho
Nós nos conhecemos de fato por que dedicara às três filhas – a
causa de um convite que Rogério terceira é Paloma –, preservando
fez a mim e a Lécio Augusto os trabalhos escolares e os
Ramos, como pesquisadores ligados desenhos infantis. Mas não me
à Cinédia, para que fossemos à senti à vontade quando comecei
sua casa conversar com um par a ler as doloridas cartas que
de estudantes norte-americanos. mandava para os pais em Joaçaba.
Isso foi por volta de 1994/1995. Não convivi com ele para
Os visitantes queriam checar reivindicar amizade e acessar
a possibilidade da existência sua vida privada. Desisti e
de uma cópia de Soberba, com a reconheci que não tinha mais
montagem do diretor, e não do alma de pesquisador. Minhas
estúdio, e que teria sido enviada lembranças, portanto, não passam
a Welles aos cuidados de Adhemar por aquele abuso típico do mundo
Gonzaga. Uma vez informado de das artes, onde todo mundo é
que aparentemente ela nunca amigo de todo mundo.
havia chegado por aqui, passamos
a conversar sobre o cinema A partir daquele primeiro
“wellesiano” e sobre seu projeto encontro passei a vê-lo mais
brasileiro abortado, tema de Nem constantemente, sobretudo na
Tudo É Verdade, minha primeira Cinemateca do Museu de Arte
incursão de fato ao universo Moderna do Rio de Janeiro (MAM/
sganzerliano, e de um filme que RJ), onde ingressei em 1996, e
estava preparando, o futuro Tudo nos arredores, como o Beco da
É Brasil, obra que mais aprecio Fome na Cinelândia (encontrei-o
de sua filmografia. algumas vezes no restaurante
Spaghettilândia, que, soube,
Não ficamos amigos no pleno frequentava bastante). Descobri
sentido da palavra, não privei o elo profundo que havia
entre ele e a instituição Veteranos – projeções privadas
que sustentara a primeira de clássicos das matinês de
apresentação pública dos filmes outrora feitas por Cosme para
da Belair. Era o mesmo espaço um seleto grupo –, e aqui e ali
que lhe proporcionava o prazer para conversar pelos corredores e
de revisitação aos clássicos do pelas salas do lugar, como quem
cinema ou, mais visceralmente, não tivesse mais nada para fazer.
ao próprio cinema e também Só retrospectivamente entendi o
lhe fornecia regularmente bem que lhe faziam os ambientes
materiais de arquivo para seus de cinema.
ensaios de montagem. A mais
significativa fotografia que Rogério era considerado
conheço de Rogério mostra o um diretor/depositante
futuro depósito de filmes da difícil, de gênio explosivo
Cinemateca, em 1979, entupido e temperamento inconstante.
de latas e ele sentado à la Em uma ocasião, conheci sua
Kane sobre elas, apresentando- fúria momentânea. Ligou me
se em sua Xanadu particular. acusando de ter vendido seus
filmes a produtores franceses.
Os contatos dele dentro do Era algo tão estapafúrdio, sem
arquivo começaram com Cosme Alves sentido, que não considerei
Netto nos anos 1970 e, na década de fato. Mesmo assim, endureci
seguinte, se transferiram para na hora e disse que passasse
Francisco Sérgio Moreira. Pode- na manhã seguinte, pois estava
se dizer que apenas me tornei despejando os filmes dele...
“herdeiro” dessa posição de Duas semanas depois nos
interlocutor, que eu descobriria encontramos e conversamos como
no fim do século passado, que se nada tivesse acontecido.
girava em torno do contato com Era reflexo da ida da única
este mundo: o acesso a materiais cópia de Carnaval na Lama para
de arquivo e da conservação de a França, para uma exibição no
negativos, cópias e sobras de Musée Jeu de Pomme, e que nunca
montagem da grande maioria de voltou ao Brasil.
seus filmes. Rogério aparecia
de vez em quando para as sessões Quando assumi a responsabilidade
regulares da Cinemateca, mais de cuidar do arquivo de filmes,
raramente para a chamada Ceia dos ele passou a tratar comigo
dos assuntos que envolviam ao Bandido original, que
suas criações futuras e seu utiliza criativamente trechos
acervo. E me procurou para saber de antigos filmes B norte-
das sobras do Bandido, pois americanos, italianos e
pretendia retomar o assunto japoneses, passam por filmes
e fazer uma sequência. Reviu como Mudança de Hendrix e
todo o material na moviola da atingem um paroxismo em Tudo
Cinemateca, junto com Remier. Os É Brasil. A manipulação do
dois também mexeram em uma cópia material de arquivo é sobretudo
de Copacabana Mon Amour, que um sofisticado exercício de
tinha chegado da antiga Líder, ressignificação, operado pela
onde ficara desde 1980. De ações montagem cinematográfica. A
como essas resultavam no mínimo sensibilidade para associações
novas versões ou ainda novas rítmicas e visuais, para
produções, caso de Bandido 2, raccords inusitados e para a
para o qual tive de conseguir emergência do tempo nos planos
uma imagem do criminoso real de outrora retrabalhados
sendo preso em 1966. demonstra a enorme capacidade
de Rogério em promover novas
Percebi nesse momento que sintaxes para um conjunto de
Rogério tinha muito pouco imagens que a rigor não mudou
recurso financeiro para fazer tanto assim sua natureza ao
frente aos custos desse tipo longo dos anos. A face mais
de trabalho e que buscava uma visível disso é o labirinto
receptividade à sua arte que lhe wellesiano. Hoje é muito comum
permitisse seguir em frente. falar em filmes construídos a
Usava, sobretudo, seus próprios partir de material de arquivo,
filmes como base para novos mas essa foi sua perspectiva
trabalhos, canibalizando sobras maior ao longo de quase toda a
e eventualmente os próprios carreira. Para mim essa sempre
negativos de filmes anteriores, foi sua grande arte.
caso de Fora do Baralho, que já
não existia como obra desde o Um último aspecto nos ligou
início dos anos 1990. mais diretamente. Tratava-se
da conservação de seus filmes,
Apesar do gesto desesperado, aspecto que passou a preocupá-
tudo era submetido a uma lógica lo quando teve acesso aos
e a um rigor que remontam negativos de Carnaval na Lama e
os trouxe para o Rio. Pediu que Hernani Heffner é conservador da
eu os examinasse e a descoberta Cinemateca do Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro (MAM/RJ) e professor
foi trágica. Era muito tarde para
de cinema da Pontifícia Universidade
fazer qualquer coisa. Olhamos Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio),
os outros filmes e muitos já da Fundação Getulio Vargas do Rio de
estavam comprometidos em alguma Janeiro (FGV/RJ) e da CineTV-PR, da
Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
medida, mas poderiam (e podem)
Coordena o projeto de restauração do
ser salvos sem maiores danos. acervo Cinédia e escreveu este texto ao
Sua obra pagou o preço de ser som de Carmen Miranda, Cat Power
pequena em produção de materiais, e Eliete Negreiros.
em geral negativos e umas poucas
cópias, às vezes uma ou duas,
de ser confeccionada a partir
de filmes virgens diversos, por
vezes vencidos e mal revelados
e lavados, e de ser alvo de um
processo de canibalização que
ora implica a não existência
de matrizes regulares, caso
de Mudança de Hendrix, ora o
desaparecimento parcial ou total
de obras mais antigas.

A reconsideração artística de sua


obra nos últimos anos acabou por
consagrá-lo como o grande nome
do cinema brasileiro junto às
novas gerações. É uma referência
inconteste e um ídolo. Falta
a sustentação desse fato pelas
próximas décadas, algo que só
pode ser obtido com a preservação
integral e benfeita de sua
filmografia completa. É o desafio
que nos cabe e ao futuro.
Nos meus filmes os atores contribuem
com novo estilo de interpretação,
de desincorporação, uma nova técnica
de reinvenção.
Rogério Sganzerla

Helena Ignez
Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando iniciou um
dueto histórico com Rogério Sganzerla, inaugurando uma forma de
interpretar autoral, antinaturalista, a partir de A Mulher de Todos (1969),
protagonizando Angela Carne e Osso, a “inimiga número 1 dos homens”.
Em 1970, fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora
independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses,
sendo Sem Essa, Aranha, Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia
Silk, a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba, “a
exibicionista”). Participou como atriz em outros filmes de Rogério, como
Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003),
passando para a direção no mesmo ano, com Reivenção da Rua (montado
por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz
nas Trevas (2010), com roteiro inédito de Sganzerla. Casada com Rogério
por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla, Helena é
mãe de Paloma Rocha, com quem contracenou em Perigo Negro (1992).

Paulo Villaça
Rogério Sganzerla encontrou
em Paulo Villaça o tipo ideal
para viver o Bandido da
Luz Vermelha nas telas: “ele
tinha uma voz grave e a face
de um Humphrey Bogart
acaboclado e lembrava muito
o próprio Bandido”. Atuou
logo em seguida em A Mulher
de Todos (1969), na pele de
um impagável toureiro gay, e
em Copacabana Mon Amour
(1970), como Doutor Grillo. Pagano Sobrinho
Em O Bandido da Luz
Vermelha, encarna o
personagem JB da Silva,
político corrupto, gângster
e populista que propaga
soluções cínicas para as
mazelas do povo. Dessa
forma, JB da Silva transforma-
se no Rei da Boca, defensor
da miséria como forma de
salvaguardar o folclore.
Jô Soares
Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um
truste de histórias em quadrinhos, casado com a
insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez), em A
Mulher de Todos (1969). As figuras do filme parecem
saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio
Doktor Plirtz, que traz um componente nazista no
figurino e na postura, vigiando e enredando a mulher
em jogos eróticos extravagantes.
Otávio Terceiro
Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla,
Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme, O Signo do Caos
(2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no
Brasil. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de
“agente do caos”, cujo modus operandi é o espírito de transação.

Antonio Pitanga
Rogério Sganzerla propôs a Antonio
Pitanga viver um milionário negro que
é seduzido por Angela Carne e Osso
em A Mulher de Todos (1969). Pitanga
trabalhou com ele novamente em
Nem Tudo É Verdade e interpretou
Justino, personagem do último
roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas
(2010), dirigido por Helena Ignez e
Ícaro Martins, em fase de finalização.

Guará
Ator em Copacabana Mon Amour
(1970), técnico de som em Sem
Essa, Aranha (1970), realizou Perigo
Negro (1992) e legitimou o antifilme
O Signo do Caos. Em Copacabana
Mon Amour, Guará é um malandro
que tenta a todo custo ser o cafetão
de Sonia Silk, cercando turistas e
gringos na Avenida Atlântica. Aos
pulos diante de dois marinheiros
na orla de Copacabana, Guará grita:
“Money, please, money, please...
American friends... O que estamos
fazendo aqui na Terra? Qual é o
destino do homem?”.

Maria Gladys
Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta
uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal, vestida de
verde-amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo
filme, em plano-sequência antológico, canta desvairadamente um tema
inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla, com quem
fez, ainda, Carnaval na Lama (1970).
Norma Bengell
Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma
das personagens mais interessantes de Rogério
Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva
vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se
ícone do cinema brasileiro dos anos 1970.

Othoniel Serra
“Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir
dopado de sol, de cachaça e de magia.” Othoniel Serra interpreta Vidimar, o
irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana Mon
Amour (1970); tresloucado, uma espécie de médium esfarrapado. Segundo o
argumento do filme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo
Villaça), a quem mata, com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”.

Wilson Grey
Ator de mais de 150 filmes, na maior
parte como coadjuvante, Wilson Grey
interpreta em Abismu (1977), com viés
expressionista, o papel de secretário de
Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado
de José Mojica Marins, como Doutor
Pierson, persegue um egiptólogo que
detém um manuscrito com pistas de um
antigo tesouro.

Moreira da Silva
ilustração: João Pinheiro

Em Sem Essa, Aranha (1970), Moreira da Silva, o rei da malandragem, aparece


em uma única sequência, cantando e sambando. Sua presença se enquadra
incrivelmente na mise-en-scène delirante do filme, em que Zé Bonitinho dá
as cartas, constatando: “Essa é a pior das épocas!”. Uma alusão ao fantasma da
ditadura, que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez.
Luiz Gonzaga
Em travelling circular e vertiginoso, a câmera acompanha Luiz
Gonzaga e sua sanfona em Sem Essa, Aranha. O ambiente é
suburbano, o quintal de uma casa e chão de terra batida. Ao
som do baião, Helena Ignez, em plano-sequência, vomita um
dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é
de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho
metido a besta!”.

Zé Bonitinho
Personagem marcante em
Sem Essa, Aranha (1970), em
que vive Aranha, o último
José Mojica Marins capitalista do país, e no
Em Abismu (1977), José Mojica Marins filme Abismu (1977), como o
faz o “elogio à boçalidade”, na pele Médium Um, Jorge Loredo
do Doutor Pierson. Personagem foi convidado por Rogério
caracterizado como o Zé do após a consagração de seu
Caixão, está envolvido numa trama personagem Zé Bonitinho
arqueológica, perseguindo um na televisão brasileira. Nesses
egiptólogo com um supertelescópio, filmes, Zé Bonitinho ocupa
na busca de tesouros e elos perdidos um espaço central, com
com civilizações ancestrais. Autor de monólogos quase metafísicos,
mais de 40 filmes e ator em cerca de que conferem relevo à sua
20, José Mojica Marins manteve um figura e o transformam por
diálogo criativo com Sganzerla, Júlio vezes em alter ego do próprio
Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti Rogério Sganzerla.
e Neville de Almeida.

Grande Otelo
Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986), o ator Grande Otelo foi
a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro
filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo
Brasil. Interpretando a si próprio, Sebastião Prata, pode ser visto além da
chanchada, como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o
comediante das chanchadas, o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson
Pereira dos Santos, e a representação de Otelo, o único protagonista negro
de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo.
Programação na Suíça, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s
Homage, em Roma, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos
Ocupação Rogério Sganzerla CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidada oficial do
22o Festival de Cinema de Turim, em 2004.

visitação 20h debate 1


quarta 9 junho a domingo 18 julho 2010 com Helena Ignez, Joel Pizzini, Júlio Bressane e
terça a sexta 9h às 20h Roberto Turigliatto
sábado domingo feriado 11h às 20h

quinta 10 14
O Itaú Cultural apresenta
a filmografia de Rogério 17h30 sessão 1
Sganzerla. Serão exibidos
B2
os trabalhos produzidos Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, 11 min, 2001, p&b, 35 mm
pelo diretor no período Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; elenco: Paulo
de 1968 a 2003, além de Villaça, Helena Ignez, Lanny Gordin, Gal Costa e Jards Macalé
obras que contam com sua Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido
participação e retratam seu da Luz Vermelha e Carnaval na Lama, traz um material que
evidencia o método de trabalho de Sganzerla, calcado
universo criativo. em técnicas singulares de montagem. Exibido no 23o
Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla,
quarta 9 na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB,
no Rio de Janeiro, em 2005; e convidado do 20o Festival
18h sessão 1 Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006.

Documentário 14 Sem Essa, Aranha


Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm
Numa tarde de ócio nas ruas de São Paulo, dois jovens Roteiro: Rogério Sganzerla; assistentes de direção: Kleber
com pouco dinheiro e sem rumo falam sobre o que Santos e Ivan Cardoso; produção: Júlio Bressane e Rogério
fazer tendo sempre como motivação o próprio cinema. Sganzerla; realização: Belair; fotografia e câmera: Edson Santos
A produção recebeu o prêmio JB Mesbla – Viagem a e José Antonio Ventura; montagem: Rogério Sganzerla e Júlio
Cannes em 1967, foi exibida na Mostra Cinema do Caos Bressane; som: Guará Rodrigues; elenco: Jorge Loredo, Helena
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005, e convidada oficial Ignez, Maria Gladys, Luiz Gonzaga, Moreira da Silva e Aparecida
do 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Considerada obra radical, Sem Essa, Aranha inovou
Sganzerla, na Itália, em 2004. tecnicamente aspectos que dizem respeito à interpretação e
à direção, pautadas, sobretudo, pelo improviso. O filme reflete,
A Mulher de Todos 16 por meio de planos-sequência, a realidade brasileira em
Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm 1970. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de
Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter Overbeck; Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB,
cenografia: Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci; montagem: no Rio de Janeiro, em 2005; e no 23o Festival Internacional de
Rogério Sganzerla e Franklin Pereira; música: Ana Carolina Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e foi
Soares; produção: Alfredo Palácios e Rogério Sganzerla; convidado do Festival de Taormina, na Itália, em 1998.
realização: Servicine e Rogério Sganzerla Produções
Cinematográficas; som: Julio Perez Caballar; elenco: Helena 20h debate 1
Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga, com Antonio Urano, Helena Ignez, Hernani Heffner e
Abrahão Farc, Renato Corrêa e Castro, Thelma Reston, Silvio Maria Gladys
de Campos Filho, José Carlos Cardoso, Antonio Moreira e José
Agrippino de Paula
Angela Carne e Osso é uma ninfômana casada com o sexta 11
Doutor Plirtz, ex-carrasco nazista e dono do truste das
histórias em quadrinhos no Brasil. Entediada com sua vida, Elogio da Luz 14
passa o tempo colecionando homens no retiro idílico da Joel Pizzini e Paloma Rocha, 54 min, 2003, p&b/color., vídeo
Ilha dos Prazeres. A obra recebeu os prêmios de Melhor Produção: Canal Brasil
Montagem e Melhor Atriz (Helena Ignez) no 4o Festival de Filme-ensaio sobre Rogério Sganzerla cuja narrativa coloca
Brasília; o de Melhor Filme no 1o Festival do Norte do Cinema às avessas a cronologia de seus trabalhos, revelando
Brasileiro; e o de Melhor Filme no Festival de São Carlos. Foi as relações entre seu processo criativo e sua trajetória
exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, como pensador do cinema. Conta com depoimentos
de personalidades que conviveram com o cineasta na narrador: W.W. da Matta e Silva; realização: Tupan Filmes
intimidade e nos sets de filmagem. O registro de um depoimento de Woodrow Wilson da
Matta e Silva (fundador da Umbanda Esotérica, em 1940)
Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 é alternado com cenas de transe e de rituais filmadas na
José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Tenda Umbandista Oriental, em Itacuruçá. A produção foi
Montagem: Rogério Sganzerla; direção de arte: Fernando exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to
Tavares; produção: Mário Drumond; som: João Vargas; edição de Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema
som: Eliseu Visconti; cenografia: Osvaldo Medeiros do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
O espírito e o universo gráfico do desenhista e gravador
brasileiro Oswaldo Goeldi. Sem se ater a preocupações Copacabana Mon Amour 18
biográficas ou didáticas, o filme discute o conteúdo artístico Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm
e cinematográfico em relação ao movimento expressionista. Roteiro: Rogério Sganzerla; assistente de direção: Guará Rodrigues;
Recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Filme produção: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; fotografia
no Festival de Brasília em 1981. e câmera: Renato Laclete; montagem: Mair Tavares e
Gilberto Santeiro; trilha sonora original: Gilberto Gil; elenco:
Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da 14 Helena Ignez, Paulo Villaça, Otoniel Serra, Lilian Lemmertz,
França Antártica Joãozinho da Goméia, Laura Gallano e Guará Rodrigues;
Rogério Sganzerla, 17 min, 1976, p&b/color., 16 mm realização: Belair
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Paulo Sérgio; Sonia Silk, uma mulher perturbada por visões de espíritos,
montagem: Ramon Alvarado; diretor de produção: Wilson perambula por Copacabana com o sonho de ser cantora
Monteiro Filho; elenco: Paulo Villaça da Rádio Nacional. É o primeiro filme brasileiro em
Inspirado em Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, o cinemascópio, rodado, em boa parte, nas favelas cariocas.
curta-metragem acompanha a trajetória do aventureiro Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de
Nicolas Durand de Villegagnon e a formação da colônia Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos
francesa no Rio de Janeiro no século XVI. Filmado nos locais CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o e no 23o Festival
onde se sucederam os episódios históricos, como o Forte de Cinema de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to
Coligny, na Ilha das Cabras, recebeu o prêmio da Secretaria Rogério Sganzerla; e no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s
de Cultura do Rio de Janeiro no concurso Uma Data para Homage, em Roma, em 2005.
Lembrar e foi exibido no 23o Festival de Cinema de Turim –
Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra 17h sessão 2
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Informação H. J. Koellreutter
14
20h sessão 2 Rogério Sganzerla, 18 min, 2003, color., vídeo
Fotografia: Marcos Bonisson; montagem: Marina Weis;
Histórias em Quadrinhos (Comics) 14 mixagem: Ricardo Reis; trechos de composições utilizadas:
Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya, 7 min, 1969, p&b/color., 35 mm “Tanka II”, de H.J. Koellreutter
Produção: Elyseu Visconti; música: Rogério Sganzerla; Um retrato de Hans-Joachim Koellreutter, aluno de Paul
montagem: Milton da Silva; narração: Orfeu P. Gregori; table Hindemith e mestre de diversos músicos, como Cláudio
top: Paulo Pichi; imagem: Rex; som: Vera Cruz Santoro, Guerra Peixe e Edino Krieger. A produção foi
Primeiro documentário em curta-metragem de Sganzerla, aborda exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg,
o universo dos quadrinhos. Guiada pelo texto de caráter histórico na Suíça, em 2006; no 23o Festival de Cinema de Turim –
do especialista Álvaro de Moya, a câmera passeia pelos traços de Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra
artistas como Will Eisner, Milton Cannif, Alex Raymond e Al Capp. Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério
Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, América, o Grande Acerto de Vespúcio 14
no Rio de Janeiro, em 2005. Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., beta e vídeo
Câmera: Carlos Otávio Jubé; elenco: Otávio Terceiro e
A Mulher de Todos 16 funcionários do Teatro Carlos Gomes
Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm Nesta obra experimental que conjuga cinema e
teatro, Sganzerla recorre a um aparato técnico
mínimo para deixar o ator Otávio Terceiro exercer o
sábado 12 papel de Américo Vespúcio. Baseado em uma carta
do navegador, intitulada “Novus Mundus”, relato
15h sessão 1 do descobrimento da América, o vídeo traz um
monólogo singular. Recebeu o prêmio de Melhor
Ritos Populares – Umbanda no Brasil 14 Ator (Carlos Otávio Jubé) no CineEsquemanovo, em
Rogério Sganzerla, 18 min, 1977, color., 16 mm. Porto Alegre, em 2007, e foi exibido no 23 o Festival de
Documentário inacabado Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Tony Ferreira; Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no
técnico de som: José Sette; montagem: Denise Fontoura; Rio de Janeiro, em 2005.  
Anônimo e Incomum 14 Melhor Filme, Direção, Montagem, Diálogo e Figurino
Rogério Sganzerla, 13 min, 1990, color., vídeo no 3o Festival de Brasília, em 1968; o prêmio Governador
Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson; do Estado de São Paulo, na categoria especial; o INC
trilha sonora original: Fernando Moura; elenco: Helena Ignez (Instituto Nacional do Cinema); e o Roquette Pinto. Foi
e Nonatho Freire; realização: Tupan Filmes convidado oficial do Festival de Turim em 2004 e do 3o
O artista plástico Antonio Manuel apresenta seu DLA Film Festival, em Londres, em 2004, e exibido na
trabalho em cenários como seu ateliê na Rua Alice e a Weelington Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; na
Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. As obras do artista se Auckland Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; no
alternam com tomadas de telas coloridas, pintadas à 9o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte,
época da filmagem, e com cenas dramáticas estreladas em 2007; no 20o Festival Internacional de Cinema de
por Helena Ignez e Nonatho Freire. A produção foi Fribourg, na Suíça, em 2006; no Barbican Center, em
exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Londres, em 2006; no 16o Festival Internacional de
Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema Bobigni, em Paris, em 2005; no Tekfestival – Rogério
do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; na Mostra
Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no
Isto É Noel Rosa 14 Internacional Film Museum Festival, na Áustria, em 2005;
Rogério Sganzerla, 43 min, 1990, color., 35 mm no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério
Montagem: Sylvio Renoldi; fotografia: Dib Lufti; produção Sganzerla, na Itália, em 2004; no III Discovering Latin
executiva: Diana Eichbauer; arquivo: Jorge Pereira Vaz; America Film Festival, em Londres, em 2004; no MoMa,
imagens: Marcelo Marsilac, Sergio Arena, Newton Gomes e em Nova York, em 1999; e no Festival de Cinema de
José Sette; design: Edmundo Souto; arte-finalista: Ana Rita; Taormina, na Itália, em 1998.
figurinos: Diana Eichbauer; som direto: Joaquim Santana;
voz: João Gilberto e Gal Costa; elenco: João Braga
Após Noel por Noel (1980), o sambista carioca é domingo 13 14
novamente retratado por meio de imagens documentais.
Parte delas mostra o músico em uma caminhada trôpega, 15h sessão 1
já tomado pela tuberculose, pelas ruas do Rio de Janeiro
durante o Carnaval. A produção foi apresentada no 80o Noel por Noel
aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie Rogério Sganzerla, 10 min, 1980, color., 35 mm
Nationale du Jeu de Paume, em Paris, em 1993, e exibida Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Renato
no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Laclete; table top: Edson Lobato; som: Nel-Som; realização:
Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas
Rio de Janeiro, em 2005; e no 22o Festival de Cinema de Ensaio visual sobre o compositor e sambista carioca, com
Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004. imagens de arquivo do ambiente musical e histórico
da época, incluindo aspectos pitorescos de Vila Isabel.
20h sessão 3 Recebeu o prêmio do Público e de Melhor Montagem
no Festival de Brasília em 1981 e foi exibido na Mostra
Documentário 14 Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm
Tudo É Brasil
O Bandido da Luz Vermelha
14 Rogério Sganzerla, 82 min, 1998, p&b/color., 35 mm
Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; edição: Hugo Mader, Mair Tavares,
Roteiro e música: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter Sylvio Renoldi; produção executiva: Rojer Garrido de Madrugo;
Overbeck e Carlos Ebert; cenografia: Andrea Tonacci; som: Sylvio Renoldi
montagem: Sylvio Renoldi; som: Júlio Perez Caballar, Mara Um aprofundamento da pesquisa de Sganzerla sobre
Duvall; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Sérgio Hingst, a estada de Orson Welles no Brasil, em 1942, para a
Pagano Sobrinho, Sergio Mamberti, Luiz Linhares, Sonia realização de It’s All True, projeto boicotado pelos estúdios
Braga, Ítala Nandi, Renato Consorte, Antonio Lima, Maurice de Hollywood. Nele, fragmentos de imagens que registram
Copovilla, Ozualdo Candeias, Roberto Luna, José Marinho, Welles no Rio, em Salvador e em Fortaleza são sobrepostos
Carlos Reichenbach, Marie Caroline Whitaker, Renata Souza por gravações em áudio de alguns depoimentos
Dantas, Ezequiel Neves e Lola Brah; realização: Rogério radiofônicos e de composições interpretadas por artistas
Sganzerla Produções Cinematográficas como Carmen Miranda e Herivelto Martins. Recebeu os
Segundo Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha é “um prêmios de Montagem, Pesquisa Histórica e Crítica no
far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem Festival de Brasília em 1998; o prêmio de Montagem da
de vários gêneros [...] um filme-soma; um far-west, mas Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); e o prêmio
também musical, documentário, policial, comédia Marché du Film, do Festival de Cannes, em 1998. Foi
ou chanchada [...] e ficção científica”. O longa traça exibido no Museu Guggenheim em Nova York em 1999;
um panorama do Brasil por meio da trajetória de um no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério
foragido da polícia em crise de identidade, compondo Sganzerla, na Itália, em 2004; e na Mostra Cinema do
um painel apocalíptico do país. Recebeu os prêmios de Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidado
pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles quarta 16 14
Conference, sobre a carreira de Orson Welles.
17h sessão 1
17h sessão 2
Helena Zero
Olho por Olho Joel Pizzini, 34 min, 2006, p&b/color., vídeo
Andrea Tonacci, 13 min, 1966, p&b, 16 mm Roteiro: Joel Pizzini; assistente de direção: Sinai Sganzerla;
Roteiro e fotografia: Andrea Tonacci; montagem: Rogério câmera e fotografia: Eryk Rocha; som: Bruno Espírito Santo;
Sganzerla; elenco: Francisco Arruda, Ronaldo Ferraz, Sérgio edição de som: Alexandre Gwaz e Robson Rumin; montagem:
Frederico, Daniele Gaudin, Franco Ogassawara e Fábio Sigolo Joel Pizzini e Robson Rumin; produção executiva: Paloma
Um grupo de amigos da classe média circula de carro pela Rocha; realização: Canal Brasil; música: Jorge Mautner e
cidade de São Paulo, reagindo ao sentimento de impotência e Nelson Jacobina; elenco: Helena Ignez, Gal Costa, Jorge
frustração que lhes invade a vida. Mautner, Jards Macalé e Lanny Gordin
Ensaio documental sobre o universo criativo da atriz e
Belair cineasta Helena Ignez, que, por meio de um ritual de tai chi
Bruno Safadi e Noa Bressane, 80 min, 2009 , p&b/color, 35mm chuan, evoca e reinventa sua memória.
Documentário resgata a trajetória da produtora
cinematográfica Belair Filmes – dos cineastas Júlio Bressane A Reinvenção da Rua
e Rogério Sganzerla –, que realizou seis filmes em três meses. Helena Ignez, 27 min, 2003, color., vídeo
Os cineastas, censurados pela ditadura militar, saíram do país; Roteiro, produção e produção executiva: Helena Ignez;
os filmes ainda hoje são pouco conhecidos. fotografia: Marcos Bonisson; câmera: Rogério Sganzerla,
Marcos Bonisson e Eduardo Barioni; montagem: Rogério
20h sessão 3 Sganzerla; edição de som: Rogério Sganzerla; música: Walter
Smetack; elenco: Vito Acconci; realização: Mercúrio Produções
Irani Primeiro filme de Helena Ignez como diretora,
Rogério Sganzerla, 8 min, 1983, color., 16 mm homenageia o arquiteto e artista contemporâneo norte-
Roteiro: Rogério Sganzerla americano Vito Acconci.
Filmagens registram uma festa popular relacionada a uma
batalha travada na cidade de Irani, marco inicial da Guerra Perigo Negro
do Contestado, em Santa Catarina, em outubro de 1912. A Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., 35 mm
produção foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio Adaptação, produção e diálogos adicionais: Rogério
de Janeiro, em 2005. Sganzerla; argumento original: Oswald de Andrade; fotografia
e câmera: Nélio Ferreira Lima; montagem: Sylvio Renoldi;
O Signo do Caos música: Paulo Moura; instrumentação: Edson Maciel;
Rogério Sganzerla, 80 min, 2003, p&b/color., 35 mm consultoria musical: Otávio Terceiro; elenco: Abrahão Farc,
Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson Helena Ignez, Antonio Abujamra, Tita, Paloma Rocha, Betina
e Nélio Ferreira; montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; Viany, Conceição Senna, Guará Rodrigues, Bayard Tonelli,
trilha sonora: Sinai Sganzerla; direção de arte: Sérgio Reis; elenco: Sandro Solviat Ninho de Morais e Paulo Moura; realização: Tupan
Otávio Terceiro, Sálvio do Prado, Helena Ignez, Guará Rodrigues, Filmes, para a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo
Freddy Ribeiro, Djin Sganzerla, Camila Pitanga, Giovana Gold, A trajetória do jogador Perigo Negro, que, em
Eduardo Cabus, Gilson Moura, Felipe Murray, Vera Magalhães, franca ascensão, tem sua carreira sabotada por um
Anita Terrana e Ruth Mezek cartola inescrupuloso. Adaptação livre de um roteiro
Ao tratar indiretamente da temporada de Orson Welles no cinematográfico escrito por Oswald de Andrade, Perigo
Brasil para filmar It’s All True, Sganzerla, em O Signo do Caos, seu Negro faz parte do projeto Oswaldianas, que também
último filme, prova mais uma vez ser um inovador da linguagem conta com episódios assinados por outros diretores (entre
cinematográfica com essa reflexão sobre os percalços do cinema eles Júlio Bressane). A produção foi exibida no 20o Festival
no Brasil. A produção recebeu os prêmios de Melhor Direção e Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006;
Melhor Montagem no Festival de Brasília em 2003; o de Melhor no 23o Festival de Cinema de Los Angeles, em 2005; na
Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005;
em 2006; e o prêmio Especial do Festival do Rio em 2003. Foi e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998; e
convidado oficial do 20o Festival Internacional de Cinema de representou o Brasil na 19a edição do Latin American Film
Fribourg, na Suíça, em 2006, e exibido no 9th Film Fest of Mar del Festival, em 2005.
Plata, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em
Roma, em 2005; no Festival Internacional da Procida, na Itália, em 20h sessão 2
2005; no 58o Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça,
em 2005; no Presénce et Passé du Cinéma Brésilien, em Paris, em A Miss e o Dinossauro 2005 – Bastidores da Belair
2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; Helena Ignez, 17 min, 2005, color., super-8
no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, Roteiro: Helena Ignez; câmera: Rogério Sganzerla, Júlio
na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Trieste, na Itália; e no Bressane, Ivan Cardoso e Helena Ignez; montagem: André
Festival Internacional de Cinema de Roma, em 2004. Guerreiro Lopes; produção executiva: Ester Fér; edição de
som: Pedro Noizyman; vozes em off: Rogério Sganzerla e Ficção futurista adaptada livremente do conto homônimo
Helena Ignez; pesquisa: Helena Ignez e Ester Fér; seleção do escritor Ray Bradbury, metaforiza a situação política do
musical: Helena Ignez; elenco: Helena Ignez, Maria Gladys, Brasil, então sob ditadura militar.
Guará Rodrigues, Jorge Loredo, Aparecida, Kleber Santos, Bety
Faria, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Neville 20h sessão 2
d’Almeida; realização: Mercúrio Produções
Ao registrar o making of de Cuidado, Madame e Sem Essa, Aranha, Brasil 14
duas produções simultâneas da Belair, Helena pretendia fazer um Rogério Sganzerla, 12 min, 1981, color., 35 mm
documentário à época de lançamento dos filmes, o que não foi Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; elenco: João Gilberto,
possível. Finalizado em 2005, o projeto tem narração em primeira Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia
pessoa da atriz e diretora sobre as gravações. O registro dos bastidores da gravação do disco Brasil, de
João Gilberto, de 1981, com a presença de Caetano Veloso,
Canção de Baal Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. Dorival Caymmi,
Helena Ignez, 77 min, 2008, color., digital Ary Barroso, Grande Otelo e Eros Volúsia, em performances
Roteiro: Helena Ignez (inspirado em Baal, de Bertolt Brecht); raras, e Orson Welles, no Carnaval do Rio, completam
produção: Sinai Sganzerla, Patrícia Godoy e Ana Oliveira; este curta, que apresenta uma imagem singular do país.
música: Roberto Riberti e Carlos Carega; fotografia: André A produção foi exibida no International Film Museum
Guerreiro Lopes e Aloysio Raolino; edição: Ricardo Miranda, Festival, na Áustria, em 2005; na Mostra Cinema do Caos
Júlia Martins e Guta Pacheco; elenco: Felipe Kannenberg, CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de
Djin Sganzerla, Beth Goulart, Michele Matalon e Marcelo Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália,
Lazzaratto; realização: Mercúrio Produções em 2004; e no III Discovering Latin America Film Festival,
Baal é um poeta e cantor que recebe de Meck um em Londres, em 2004.
convite para jantar. Lá, ele se torna sarcástico com os
demais convidados, escandalizando-os ao cortejar a Copacabana Mon Amour 18
mulher do anfitrião. Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm

sexta 18 14
quinta 17
16h sessão 1
17h sessão 1
Linguagem de Orson Welles
Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 Rogério Sganzerla, 15min, 1990, p&b/color., 35 mm
José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Montagem: Severino Dadá; música original: João Gilberto; som:
Roberto Leite; elenco: John Huston, Edmar Morel, Grande Otelo
Horror Palace Hotel 14 Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre
Jairo Ferreira, 41 min, 1978, color., super-8 a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para
Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla; narração, filmar It’s All True, a obra trabalha com material documental
montagem e finalização: Jairo Ferreira; depoimentos: José (recortes de jornal, fotos etc.) similar ao que seria usado em
Mojica Marins, Francisco Luis de Almeida Salles, Rogério Tudo É Brasil, oito anos depois. A produção foi selecionada
Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Neville d’Almeida, Rudá e apresentada na categoria Especial na 46a (1993) e na
de Andrade, Elyseu Visconti, Bernardo Vorobov, Dilma Loes, 58a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno,
Renato Consorte e Satã na Suíça, convidada pela Cinemateca de Munique para
Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978, cineastas a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im
como Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Elyseu Visconti e Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23o Festival de
José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. Destaque Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália,
para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de
entrevistado por Sganzerla. Janeiro, em 2005.

Bom Jesus da Lapa – O Salvador dos Humildes 14 Nem Tudo É Verdade


Elyseu Visconti, 14 min, 1970, color., 35 mm Rogério Sganzerla, 95 min, 1986, p&b/color., 35 mm
Fotografia e produção: Elyseu Visconti; montagem: Rogério Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Edson Batista, Victor
Sganzerla; pesquisa: Ana Tereza Ramos; texto: Ipojuca Pontes Diniz, Carlos Ebert, José Medeiros, Edson Santos e Afonso
O documentário registra a romaria realizada anualmente Viana; montagem: Severino Dadá e Denise Fontoura; direção
às margens do Rio São Francisco, na Bahia, em devoção ao de arte e figurinos: Raul Williams; música original: João
Bom Jesus da Lapa. Gilberto; som: Roberto de Carvalho; elenco: Arrigo Barnabé,
Grande Otelo, Helena Ignez, Nina de Pádua, Mariana de
O Pedestre 14 Moraes, Vânia Magalhães, Abrahão Farc, Otávio Terceiro, José
Otoniel Santos Pereira, 25 min, 1966, p&b, 16 mm Marinho, Geraldo Francisco, Mário Cravo e Nonatho Freire
Fotografia e câmera: Andrea Tonacci; montagem: Primeiro filme de Sganzerla a tematizar a vinda de Orson
Rogério Sganzerla Welles ao Brasil, em 1942, para filmar It’s All True, projeto
boicotado por Hollywood. Arrigo Barnabé interpreta o diretor 17h sessão 2
de Cidadão Kane, até então desfrutando como nunca do
status de maior gênio precoce do cinema. A produção A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia)
recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Rogério Sganzerla, 9 min, 1981, p&b, 16 mm
Trilha Sonora no 14 o Festival de Gramado, em 1987; Montagem: Rogério Sganzerla; coprodução: Fundação
o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu, Cultural do Estado da Bahia e Cepoc
em 1986; o prêmio da Associação Brasileira de Filme-documento sobre as relações de poder entre classes,
Cineastas; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. O no contexto sociocultural da Bahia, com base na história
filme foi convidado pela Cinemateca de Munique, na da exploração do petróleo no estado. Recebeu o prêmio
Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira de Melhor Filme no Festival de Caxambu em 1985; o
cinematográfica de Orson Welles, foi convidado oficial prêmio Incidental e de Melhor Montagem no Festival de
do 22 o Festival de Turim, na Itália, em 2004, e exibido Gramado em 1987; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em
no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, 1985. Foi exibido no Seattle International Film Festival;
na Suíça, em 2006; no 22 o e no 23 o Festival de Cinema no Melbourne Film Festival em 1987; na Mostra Cinema
de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e nas redes
Sganzerla; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de televisivas BBC (Londres), em 1986, e TF-I (Paris), em 1985.
Janeiro, em 2005; no Seattle International Film Festival
em 1987; no Melbourne Film Festival em 1987; no Sem Essa, Aranha
Festival Internacional de Cinema de Chicago em 1986; Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm
no Festival Internacional de Cinema de Berlim; e nas
redes de TV BBC (Londres) e TF-1 (Paris), em 1986 e 20h sessão 3
1985, respectivamente.
Deuses no Juruá
Rogério Sganzerla, 15 min, 1997, color., digital
sessão 2 Roteiro, imagens e edição: Maria Maia; música: Villa-Lobos
Trechos de Floresta do Amazonas, do compositor Heitor
It’s All True: Based on an Unfinished Film by Orson Welles Villa-Lobos, pontuam uma montagem sonora da língua
Bill Krohn, Myron Meisel, Norman Foster, Orson Welles e Richard grega e das línguas indígenas pano e aruaque. Os índios
Wilson, 89 min, 1993 do Juruá e os deuses gregos se confundem e confluem
Produção: Régine Konckier, Richard Wilson, Bill Krohn, Myron nesta obra.
Meisel e Jean-Luc Ormieres; produtor associado: Catherine
Benamou; fotografia: Gary Graver; edição: Ed Marx; música: Jorge Abismu
Arriagada; narração: Miguel Ferre; elenco: Jeanne Moreau, Orson Rogério Sganzerla, 80 min, 1977, color., 35 mm
Welles e Carmen Miranda Roteiro, produção e montagem: Rogério Sganzerla; direção
Documentário realizado a partir de cenas recuperadas e de produção: Ivan Cardoso; música não original: Jimi
reconstituídas de It’s All True, de Orson Welles, cujas filmagens Hendrix; fotografia: Renato Laclete; som: Dudi Gupper;
no Brasil, em 1942, foram interrompidas. Originalmente elenco: Norma Bengell, José Mojica Marins, Wilson Grey,
composto de três histórias sobre a ordem sociopolítica da Jorge Loredo, Edson Machado, Mário Thomar, Mariozinho
América Latina (My Friend Bonito, The Story of Samba e Four de Oliveira e Satã
Men on a Raft), o filme de Welles contrariou interesses dos Inscrições em algumas das cavernas da Pedra da Gávea,
governos brasileiro e norte-americano, sendo, então, boicotado. que remontam ao período pré-colonial, são o ponto de
partida para este tributo a Jimi Hendrix e ao poder de
debate com Bill Krohn, Catherine Benamou, Ismail Xavier Mu, divindade fenícia celebrada pelo personagem Zé
e Samuel Paiva Bonitinho. Este filme marca o retorno de Sganzerla ao
longa-metragem após um longo período de ausência.
Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de
sábado 19 14 Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos
CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de
15h sessão 1 Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália,
em 2004; no Festival de Cinema de Roma em 2004; e no
A Vermelha Luz do Bandido Festival de Cinema de Trieste, na Itália, em 2004.
Pedro Jorge, 16 min, 2009, color., beta
Este documentário radialístico-científico-experimental analisa
o filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, Filmes inacabados de Rogério Sganzerla que não
realizado em 1968, além de refletir sobre a atual indústria entraram na mostra:
cinematográfica brasileira.
Carnaval na Lama
O Bandido da Luz Vermelha Fora do Baralho
Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm Mudança de Hendrix
Newton Cavalcanti: a Alma do Povo Vista pelo Artista
Biografia dos debatedores

Antonio Urano Helena Ignez


Mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas Formada pela Escola de Teatro da Bahia, participou
(FGV), especializou-se em promoção comercial, atuando de montagens de Bertolt Brecht e August Strindberg.
na América Latina por vários anos. Ocupou diversos Estreou no cinema com O Pátio (Glauber Rocha, 1959);
cargos na Embrafilme; empreendeu dezenas de mostras integrou o elenco de A Grande Feira (Roberto Pires,
nacionais na América Latina; organizou a participação 1961), O Grito da Terra (Olney São Paulo, 1964), Assalto
do cinema brasileiro em eventos como o mercado do ao Trem Pagador (Roberto Farias, 1962) e O Padre e a
filme de Cannes, de Berlim e de Milão; participou do Moça (Joaquim Pedro de Andrade, 1965). Casou-se com
esforço pioneiro de comercialização dos direitos de Rogério Sganzerla e, nos anos 1970, fundou, ao lado do
filmes brasileiros para países do Leste Europeu e da Ásia; marido e de Júlio Bressane, a Belair; em 2005 lançou-se
formulou projetos para a distribuição e a promoção como diretora com Reinvenção da Rua, montado por
internacional das produções do país; foi consultor de Sganzerla; celebrou o cinema do diretor em A Miss e o
vários festivais de cinema; e por três anos foi diretor Dinossauro (2008), seu segundo filme. Nesse mesmo
comercial da Riofilme. ano, o longa-metragem Canção de Baal (livre adaptação
de Brecht) marcou sua estreia na ficção e lhe rendeu
Bill Krohn o prêmio da crítica no Festival de Gramado. Em 2009,
Crítico e ensaísta norte-americano, publicou os livros filmou seu segundo longa, Luz nas Trevas, ainda não
Hitchcock at Work e Luis Buñuel – Chimera. Foi codiretor lançado – com roteiro inédito de Sganzerla.
de It’s All True (1993) e colaborador de Cahiers du Cinéma
e The Economist. Manteve uma interlocução criativa com Hernani Heffner
Sganzerla, a quem define como “um cineasta para o Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte
novo milênio”. Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) desde 1996, é
professor de cinema na Pontifícia Universidade Católica
Catherine Benamou do Rio de Janeiro (PUC/RJ), na Fundação Getulio Vargas
Formada pela Universidade de Nova York, é professora (FGV/RJ) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), além
no Departamento de Estudos Étnicos da Universidade de coordenador do projeto de restauração do acervo
de Michigan, especialista na obra de Orson Welles e Cinédia. Trabalha, desde 1986, com pesquisa histórica
em teoria do documentário e autora de Rediscovering em cinema brasileiro. Publicou vários textos, entre eles
Orson Welles e It’s All True, uma Odisseia Pan-Americana. mais de uma centena de verbetes para a Enciclopédia do
Admiradora do cinema de Rogério Sganzerla, cultivou Cinema Brasileiro; atuou como entrevistador no Museu
com ele permanente diálogo, o qual se nutriu do da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ); realizou
mútuo interesse na passagem de Welles pelo Brasil. curadorias e participou de mostras apresentadas pelo
Integrou o projeto de restauração das imagens CCBB do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília, pela
produzidas por esse realizador. Caixa Cultural e pelo Serviço Social do Comércio de São
Paulo (Sesc/SP).

Ismail Xavier
Crítico, mestre em teoria literária, professor de cinema da
Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor
visitante na Universidade de Nova York (1995), na
Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III –
Sorbonne Nouvelle (1999). É autor de obras referenciais
– entre elas O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a
Transparência; Sétima Arte: um Culto Moderno; Sertão Mar:
Glauber Rocha e a Estética da Fome; e Cinema Brasileiro
Moderno; é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde
1977. Publicou, como coordenador da Coleção Cinema,
Teatro e Modernidade (Cosac Naify), O Olhar e a Cena –
Melodrama, Hollywood, Cinema Novo e Nelson Rodrigues
e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo,
Tropicalismo, Cinema Marginal, em que analisa a obra de
Rogério Sganzerla.
Joel Pizzini
Autor de ensaios documentais premiados
internacionalmente, conquistou com os longas 500
Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor
Filme, Som e Fotografia, o prêmio Especial do Júri e o de
Melhor Montagem, nos festivais do Rio, de Mar del Plata
e de Brasília. É conselheiro da Escola do Audiovisual de
Fortaleza; professor da Faculdade de Artes do Paraná
(FAP); curador da restauração da obra de Glauber Rocha;
codiretor, com Paloma Rocha, dos documentários
extras dos DVDs do cineasta; e diretor do novo filme
Olho Nu (Ney Matogrosso), coproduzido pelo Canal
Brasil, para quem produziu Elogio da Luz. Foi curador das
retrospectivas Faces de Cassavetes, Festival Jodorowsky e
Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci; e colaborou na
montagem de Luz nas Trevas, de Helena Ignez (inédito),
com base em roteiro de Sganzerla.

Júlio Bressane Roberto Turigliatto


Estreou na direção com o curta Bethânia Bem de Crítico de cinema italiano, é um dos fundadores
Perto, em parceria com Eduardo Escorel; em 1967, do cineclube Movie Club. Entre 1989 e 1991,
apresentou, no Festival de Brasília, seu primeiro foi o responsável pela programação da sala
longa-metragem, Cara a Cara. Foi premiado em Museu Nacional de Cinema, em Turim. Teve
outras edições do evento com Tabu (1982), Filme de atuação destacada como um dos promotores
Amor (2003) e Cleópatra (2007). Com Matou a Família e programadores do Torino Film Festival desde
e Foi ao Cinema e O Anjo Nasceu, ambos produzidos sua criação, em 1982, sendo ainda codiretor do
em 1969, inaugurou o chamado cinema marginal. evento nas edições de 2003 a 2006. Nesse período,
Fundador da Belair em 1970, exilou-se durante a organizou mostras retrospectivas de Rogério
ditadura na Europa, onde rodou Memórias de um Sganzerla e Júlio Bressane. A partir dos anos 1990,
Estrangulador de Loiras (Londres, 1971); e no Marrocos colaborou como curador na Mostra Internacional
filmou Fada do Oriente (1972). Como ensaísta, do Novo Cinema de Pesaro, no Festival de Taormina
publicou os livros Alguns (1996), Cinemancia (2000) e em várias edições do Festival de Veneza. Desde
e Fotodrama (2005). Com A Erva do Rato (2008), seu 1991, escreve para o programa diário Fuori Orario,
trabalho mais recente, participou da Seção Horizontes do canal de televisão italiano RAI3, para o qual já
do Festival de Veneza, a exemplo de Cleópatra (Melhor concebeu centenas de noites temáticas dedicadas
Filme em Brasília em 2006). ao cinema. Integra o comitê de seleção do Festival
Internacional de Locarno.
Maria Gladys
Iniciou a carreira no teatro, com Gianni Ratto, e atuou Samuel Paiva
nos teatros Jovem, Mesbla e Dulcina. Nos anos 1960, Professor do Departamento de Artes e Comunicação
trabalhou em Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) e Todas as da Universidade Federal de São Carlos (DAC/UFSCar),
Mulheres do Mundo (Domingos de Oliveira, 1967). onde atua como coordenador no curso de graduação
Radicalizou sua linguagem nos anos 1970, com Sem e no programa de pós-graduação em imagem e som.
Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, Cuidado, Madame É doutor em ciências da comunicação pela Escola de
e Família do Barulho, de Júlio Bressane. Entre os anos Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
1970 e 1990, seguiu sua parceria com Bressane (Gigante (ECA/USP), autor da tese “A figura de Orson Welles
da América e Brás Cubas); atuou com Paulo Cezar no cinema de Rogério Sganzerla”, e colaborador em
Saraceni (Anchieta e Natal da Portela) e Walter Lima Jr., revistas e publicações de cinema e história.
fez telenovelas e filmou com jovens realizadores, como
Bruno Safadi, em Meu Nome É Dindi (2008).
Expediente revista Ocupação Rogério Sganzerla

Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção), Kety Fernandes Nassar
(organização e concepção), Yoshiharu Arakaki (direção de arte), Mariana Lacerda (edição), Jahitza Balaniuk
(produção editorial e concepção), André Seiti (edição de programação),  Jader Rosa (ideias). Participam: Joel Pizzini,
Roberto Cruz, Ruy Gardnier, Hernani Heffner, Djin Sganzerla, Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos), além de
Paolo Gregori, Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse
dos filmes, junto com Steve Berg). João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens, enquanto Pedro Jorge e
Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. A revisão foi feita por Rachel Reis.

Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar, Joel Pizzini, Maria Flor Brazil, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena Ignez,
Polyana Lima e Mercúrio Produções.  

Ficha técnica Ocupação Rogério Sganzerla

Idealização e organização Comunicação visual e produção gráfica


Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural

Museografia Produção e montagem do espaço expositivo


Valdy Lopes Jn. Núcleo de Produção do Itaú Cultural

Curadoria Produção do site


Joel Pizzini Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural

Assistência de curadoria Captação de depoimentos para site


Djin Sganzerla Fernanda Miranda
Sinai Sganzerla
Parcerias
Apoio à curadoria
Maria Flor Brazil

Acervo
Família Sganzerla

Desenho sonoro
Edson Secco Agradecimentos especiais
Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Zenaide
Pesquisa Sganzerla, Albino Sganzerla, Paloma Rocha e Associação
Lucio Branco (RJ) Amigos do Tempo Glauber
Anna Karinne Ballalai (RJ)
Sérgio Silva (SP) Agradecimentos
Mercúrio Produções, Polofilme, Carlos Magalhães, Bernardo
Produção (Rio de Janeiro) Oliveira, Bruno Safadi, Camila Val (CCBB/SP), Carlos Ebert,
Sara Rocha Cristiane Rezende (CCBB/RJ), Débora Butruce (CTAV), Dib Lufti,
Hernani Heffner (Cinemateca MAM), José Marinho, José Quental
Assistência (São Paulo) (Cinemateca MAM), Lécio Augusto Ramos, Marcos Bonisson,
Vani Fatima Maria Maia, Mislene Martins (CCBB/SP), Noa Bressane, Remier Lion,
Natalia Meira Rosa Dias, Ruy Gardnier, Rodrigo Lima, Rosângela Sodré (CTAV),
Sérgio Pedrosa (CTAV), Sidnei Pereira (CCBB/RJ), Vani Silva, Acervo/
Edição de imagens Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida
Claudio Tammela
O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez, Sinai Sganzerla e
Assistência de edição de imagens Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na
Renata Catharino realização deste projeto
Leonel Barcelos

Fotografia e imagens do mar Ficha técnica mostra de filmes e debates


Kim Castro
Produção
Programação técnica guitarra Maria Flor Brazil
Tommy Terahata Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural

Edição e programação midi para guitarra Assistente de produção


Gianni Toyota Halina Agapejev
imagens: frames dos filmes O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos; desenho feito por Rogério Sganzerla

entrada franca
itaú cultural avenida paulista 149 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br | itaucultural.org.br | twitter.com/itaucultural | youtube.com/itaucultural

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