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Resumo
Abstract
This article aims to analyze the origin and application of the term “Old
Guard”, used generically to broadly name a broad temporal period in the
history of urban Brazilian Popular Music, from its beginnings in the late
19th century to the Advent of Bossa Nova. The term comes to the present
day under the aura of tradition and nationalist purity, where they pontifi-
cate the orchestrations of Pixinguinha, phonographic symbols of the period,
and Almirante, pioneer in the dissemination by Radio of what he conside-
red authentic in popular music. The gears of the cultural industry, however,
demanded for their operation and subsistence a hybridity and standardiza-
tion of the product delivered to the public. The circumstances in which this
production occurred are an invitation for us to launch a new look, free of
nostalgic limits, on this important period of Brazilian popular music.
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Introdução
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popular, ao que foi plantado por Pixinguinha, Noel Rosa, Joubert de Car-
valho, Radamés Gnattali e outros.
Mas entre o sagrado e o profano há caminhos que podem ser longos
ou curtos, de acordo com a posição do observador. Neste artigo não propo-
mos sermos iconoclastas e desmistificar a aura do período; nem ao menos
negar as harmoniosas belezas musicais nele produzidas. Antes, propomos
um outro olhar, ligeiro, procurando analisar situações em que a músi-
ca brasileira da “Época de Ouro” navegou no sinuoso amálgama da en-
tão chamada música “séria” e da nascente música popular urbana e, por
fim, como a indústria cultural dela se apropriou, estereotipando-a e divul-
gando essa produção ao público consumidor, principalmente pelo rádio. O
produto, híbrido, mostrava a mão dupla de uma indústria que se servia,
desde seus primórdios, da produção popular de um modo muito mais sim-
ples e direto, mas já com vários intermediários a cobrarem seus quinhões
rumo ao sucesso. Por outro lado, vivia-se um momento em que o país con-
solidava sua população urbana em detrimento da rural, e o sistema po-
lítico tinha o rádio e o disco como ferramentas de união nacional. Dessa
forma, a indústria cultural também amoldava suas fontes, condicionando
-as e fazendo-as fornecer matérias-primas cada vez mais apetecíveis, pa-
dronizadas e repetitivas.
Nesse contexto, de que forma a indústria do disco formatou em chapas
de três minutos orquestrados a produção musical que brotava dos compo-
sitores populares? O maior nome do período, sem dúvida, foi Pixinguinha
(1897-1973). Seus ecos e sua imagem chegam até nós plantados, princi-
palmente, pelo trabalho do sempre diligente radialista Almirante (1908-
1980). E os velhos discos – aos quais vamos nos referir com frequência
por aqui – chegam aos nossos dias como peças documentais essenciais por
meio das quais podemos tentar entender melhor o período para além da
imagem extremamente nostálgica que dele se criou.
A velha guarda
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Noel Rosa soube sintetizar esse litígio musical muitas décadas antes,
já em 1933, em pleno palco dos acontecimentos, com a perspicácia de saber
observar o cenário de seu tempo e saber definir em versos o que os pesqui-
sadores demorariam a enxergar com clareza:
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O samba na realidade,
não vem do morro nem lá da cidade,
e quem suportar uma paixão,
sentirá que o samba então
nasce do coração
(Rosa, N.; Gogliano, O., 1933)
O período entre o fim dos anos 1920 e início dos anos 1930 conheceu
a fase da transição entre o que o pesquisador Ary Vasconcelos definiria
nos anos 1960 como “Fase Primitiva” e “Fase de Ouro” da Música Popular
Brasileira. Não por acaso, Donga era um legítimo representante primitivo,
enquanto Ismael Silva era da “Fase de Ouro”. As denominações temporais
de Vasconcelos foram uma forma bem-sucedida de não apenas nomear,
mas também criar uma imagem e alimentar os signos através dos quais
aqueles períodos seriam vistos e, principalmente, até hoje, lembrados.
Escrito em 1964, o livro de Ary Vasconcelos, “Panorama da Música
Brasileira”, abre seus dois grossos volumes com o texto:
Quem encontrar um disco de jazz em algum baú, tenha ele dez, vinte, trin-
ta, quarenta ou mais anos, pode estar certo de que sua identificação não re-
presentará trabalho maior. Se tiver uma boa biblioteca de jazz – e ela pode
ascender a quase trezentos livros – encontrará facilmente a ficha corres-
pondente (...). Se achar, porém, um disco de música popular brasileira seja
de que época for, mesmo dispondo de uma boa biblioteca especializada – e
ela se reduz a seis ou sete livros que abordam apenas aspectos da mesma e
a seis ou sete capítulos de obras não especializadas – não conseguirá saber
nada além do que está no rótulo do disco (...). Este é o ponto em que estão os
estudos de história da música popular brasileira entre nós. Estamos prati-
camente na estaca zero (VASCONCELOS, p. 9).
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Considerações finais
O período conhecido por “Velha Guarda” chegou até os nossos dias en-
volto em uma profunda imagem de “inocência” e “romantismo”, em que
compositores, músicos e radialistas exerceriam suas funções por diletan-
tismo. Foi cultuado por programas de rádio de sabor nostálgico, em que o
olhar saudosista desassociou a produção musical do período de aconteci-
mentos econômicos e políticos, sem levar em conta que, se o termo “Velha
Guarda” é usado genericamente para designar músicas antigas, o termo
“Época de Ouro” vai além de um tempo de genialidade musical. Seu espaço
de tempo (1929-1945), não por acaso, está compreendido entre dois marcos
temporais importantes: a Grande Depressão e o fim da Segunda Guerra
Mundial. Ambos os acontecimentos fizeram com que as multinacionais da
mídia (filmes, discos) voltassem seu olhar para o público consumidor da
América Latina; primeiro para obtenção de mercado (com a vinda de gra-
vadoras estrangeiras para o Brasil), depois com a sua consolidação (com o
envio de repertório norte-americano gravado e pronto para distribuição).
Nesse ínterim houve a necessidade de criar um padrão de produção musi-
cal de fácil assimilação, que mesclasse sem choques o que havia de folcló-
rico, popular e erudito, gerando um produto de grande aceitação.
O genial Pixinguinha fez parte desse processo de forma não inten-
cional. Embora fosse ligado às raízes tradicionais, não era um homem
saudosista, preso às glórias do passado. Nem tampouco um homem que
aspirasse ao futuro, que supusesse que suas composições e orquestrações
seriam cultuadas décadas e décadas depois. Esse culto teria suas bases
fundada por Almirante, que ajudou a criar o recorte e a imagem da ‘Velha
Guarda”. Pixinguinha foi sobretudo um homem de seu tempo, que ajudou
a criar um padrão sonoro pelo qual aquela época tornou-se conhecida e
lembrada. Não foi o único mas, sem dúvida, foi o melhor.
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