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TEORIA DO CONHECIMENTO I

Uma Abordagem histórica

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APRESENTAÇÃO

A Teoria do Conhecimento ou Epistemologia é uma disciplina extremamente


técnica. Se um calouro em filosofia ou um leigo curioso se deparar com os
livros e artigos recentes da literatura especializada, vai encontrar uma profusão
de argumentos abstratos e fortemente intrincados que podem fazer pensar que
ressurgiram, agora sobre outra forma, as tão criticadas discussões da idade
média sobre o sexo dos anjos ou a quantidade dessas entidades que possam
habitar a cabeça de um alfinete. Istoé claro, admitindo que aceitem esta
caricatura dos pensadores medievais, pois o nível de especificidade é tanta
que, ainda que seja possível reconhecer a pertinência lógica dos argumentos
usados na epistemologia, muitas vezes não é fácil ver a relevância filosófica
dos mesmos. Afinal, para que interessa resolver o dilema sobre se somos ou
não cérebros em cubas? Ou ainda, porque merece investigação a constatação
de que mesmo que alguém justifique logicamente suas crenças verdadeiras,
não obstante, não está autorizado a dizer que "possui" realmente
conhecimento? Encontrar o valor filosófico de muitas das questões hoje
debatidas, reconstruindo uma narrativa que permita mostrar a perspectiva
histórica na qual estas questões estão inseridas, parece ser o melhor caminho,
ao menos do ponto de vista didático. Esta é a proposta desse manual. Fazer
uma breve genealogia do conceito de conhecimento desde a origem de sua
análise na Grécia antiga até os dias atuais. Nessa empreitada, três autores
merecerão destaque, Aristóteles, Descartes e Kant. A escolha destes se dá
porque, principalmente, eles são os exemplos maiores de posturas otimistas
quanto à possibilidade do conhecimento. A partir deles o aluno encontrará
outros pensadores que, à sua maneira, concordam com este otimismo, bem
como aqueles que vão discordar severamente dele, ou seja, os céticos.

Obviamente, a economia de espaço nos obriga a fazer muitas simplificações.


Tendo essa limitação em mente, este manual pretende, em primeiro lugar, se
apresentar como um guia de leitura que desperte a curiosidade dos alunos

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para os temas e autores aqui desenvolvidos. Levando em conta que estamos
num programa de EAD, com as facilidades promovidas pelo grande oráculo
tecnológico (Google), contamos com a iniciativa dos alunos para navegarem na
web, procurando o aprimoramento das palavras chaves que serão destacadas
no texto. Ainda dentro desse propósito, será oferecido no final de cada capítulo
um repertório de questões para que o aluno tenha mais elementos que sirvam
de complemento ao texto. Que este pequeno livro sirva, portanto, como início
de uma aventura intelectual e não o fim dela.

Que o interessado no tema não pense que, apesar da orientação histórica


servir de roteiro, as questões técnicas serão totalmente omitidas. Mesmo não
igualando o nível de complexidade encontrado em obras recentes, não há
como evitar temas e autores que cobram alguma sofisticação conceitual. De
fato, toda a tradição ocidental sempre procurou dar conta da definição do
conceito de conhecimento delimitando um espaço preciso de investigação. No
caso, a parte da linguagem que estaria comprometida com nossa competência
de externar publicamente fatos da realidade. A parte que Aristóteles chamará
de domínio apofântico. Ou seja, sondar os elementos minimais da linguagem
que permitem a significação e atribuição da verdade do que afirmamos.
Especificamente, o domínio proposicional. Neste sentido, foge do interesse
dessa tradição tomar o conhecimento como um tipo de sentimento pessoal e
intransferível. Importa uma noção de conhecimento, se ele for possível, que
promova a intersubjetividade. Aquilo que pode ser partilhado por qualquer
indivíduo dotado de racionalidade. Dito de forma bem simplificada, o que pode
ser exibido e entendido claramente num texto, por exemplo. Portanto,
acepções místicas que sugerem ser o conhecimento um tipo de cognição
privada, intransferível - sem entrarmos em juízos de valor - não entram em
pauta. Então, sendo o desafio explicar o conhecimento dentro dessas
delimitações, questões técnicas serão inevitáveis. De fato algumas
concepções, como veremos, ultrapassaram o interesse histórico e
permanecem como tema nas discussões atuais. Um outro objetivo nosso,
portanto, pretende identificar a origem remota dessas discussões.

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As origens da definição de conhecimento.

Neste capítulo exploraremos as fontes que propiciaram aos gregos a tomarem


consciência da racionalidade humana. Os filósofos gregos passaram não
apenas a dar um maior destaque ao seu uso, como também a tomaram como
objeto de reflexão. Esse tipo de orientação pôs em relevo o conceito de
conhecimento. Veremos como Sócrates e Platão chegaram a uma primeira
definição desse conceito que estabelecerá a agenda de investigação de um
dos mais importantes temas da filosofia.

Os gregos não inventaram a razão, muito menos foram os primeiros a produzir


conhecimento. A humanidade já havia sedimentado a civilização por volta de 4
mil anos antes da Grécia clássica. Muito antes, culturas como a dos babilônios
e egípcios chegaram a resultados notáveis na astronomia e matemática, assim
como na arquitetura. Todas essas culturas articulavam linguagens ricas e
complexas. Além disso, existem fortes indícios de que a espécie humana,
desde muito, exibia um comportamento que nós chamaríamos de racional.
Certamente, muitos dos indivíduos desses povos deviam ser afligidos por
questões existenciais, diríamos hoje, tipicamente filosóficas. Tais inquietações,
quiçá, eram sanadas por práticas religiosas ou ritos de passagem. Entretanto,
Apesar desses fatos, qualquer introdução elementar à filosofia apresentará a
Grécia como seu berço histórico. O que faz, então, os gregos se distinguirem
dos povos que os precederam? Muitos são os fatores do dito "milagre grego".
Uma combinação de causas concorrentes, que vão desde a situação
geográfica do território grego, até sua diversidade de ilhas e intercâmbio
comercial entre suas cidades, bem como a criação da moeda como
instrumento de abstração nas trocas desse comércio em expansão. Mas se
quisermos eleger a característica decisiva como diferenciadora, devemos optar
pelo cenário político. O surgimento da cidade-estado com suas reformulações
das relações entre seus indivíduos permitiu, dentro de um "vácuo" de poder

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entre tiranias, fazer surgir um modelo político em Atenas que bastaria como
principal legado dos gregos ao mundo contemporâneo. Estamos falando da
democracia. Sabemos que a democracia de Atenas não era plena para seus
habitantes. Só os ditos cidadãos podiam exercê-la e isso excluía os escravos,
as mulheres e os estrangeiros. Mas apesar dessas restrições, a semente fora
lançada. Foi constituída a arena para discussão entre os cidadãos, e o critério
de decisão para os membros da assembleia era o voto da maioria. Em
princípio, o voto de cada um não deveria se pautar pela origem da proposta
apresentada a uma disputa. Idealmente, não deveria importar se o
representante de uma ideia fosse mais rico ou poderoso do que os eventuais
críticos a esta ideia. A capacidade argumentativa deveria pesar mais na
escolha Neste contexto, o discurso passou a ter poder político explícito
(provisoriamente tomaremos discurso, linguagem, logos e razão como
sinônimos). Tal poder colocou a racionalidade na vitrine, suscitando, desse
modo, que passasse a ser um (instrumento) de grande interesse. Realmente,
essa descoberta do logos já tinha atraído a adesão de muitos pensadores que
viam nela um instrumento que, além de sua capacidade de persuasão politica,
poderia ser aplicada ao mundo de forma distinta das explicações advindas da
tradição e calcadas no pensamento mágico ou religioso. Ou seja, pelo exercício
do logos era também possível inspecionar o mundo. Os primeiros filósofos
deram ênfase a tal diretriz e, num certo sentido, propiciaram a origem do que
chamaríamos de uma atitude científica perante o real. Por esta orientação, de
modo geral, são conhecidos como filósofos pré-socráticos (físicos). Mas há
outro modo pelo qual o logos exposto chamou a atenção. Exatamente
enquanto ele mesmo é tomado como objeto de investigação e o divisor de
águas para essa atitude é Sócrates. Com ele nossa forma de representar o
mundo passou a debruçar-se sobre si mesma e procurar entender suas origens
e limites. A razão (...) toma ela mesma como matéria de investigação (...) e o
logos enquanto linguagem passa a ser objeto de consideração, mas não num
sentido gramatical, e sim na força que ele possui em carregar conteúdos
possíveis, em outras palavras, sua possibilidade de significar (...). Tal virada
metodológica produziu uma estranheza cognitiva que se faz sentir até hoje.
Similar à estranheza que temos ao vermos o quadro de Rene Magritte onde
está pintado um cachimbo e cujo título é exatamente "Isto não é um cachimbo".

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Abstrai-se o conteúdo do discurso e se examina as estruturas que permitem a
significação. Nesta perspectiva, o alvo de pesquisa de Sócrates é sobre uma
parte muito específica do logos, a saber, os conceitos e o uso que deles
fazemos. Quando o filósofo avança sua análise, ele está envolvido na
clarificação dos mesmos, mais propriamente, querendo explicitar o
entendimento que deles temos e o caminho é estabelecer a definição destes
conceitos - ou das ideias, se seguirmos o jargão de Platão (como é notório,
Sócrates não escreveu nenhum livro. O que conhecemos dele provém da pena
de seu discípulo Platão). Muitos são os conceitos que nós usamos no dia a dia
e grande parte deles, quanto àsua significação, não são problemáticos. Por
exemplo: temos a definição e aplicamos sem dificuldade o conceito de "cão",
sendo fácil identificar-lhe instâncias. Mas quanto aos conceitos de "bem",
"beleza" ou mesmo "justiça", não temos a mesma segurança sobre seu pleno
entendimento. Somos capazes de lhes fornecer definições claras? Sócrates era
visto como aquela figura impertinente que se aprazia em questionar os que se
apresentavam como sábios em determinado assunto para justamente expor a
ignorância dos mesmos. Como não poderia deixar de ser, Sócrates volta-se
para um dos conceitos mais preciosos da filosofia e que está enraizado na
origem etimológica da palavra (...) (amor á sabedoria), o conceito de
conhecimento. Essa iniciativa funda a Teoria do Conhecimento, também
nomeada como epistemologia.

Como já foi dito, o pensamento de Sócrates nos é apresentado na letra de


Platão e o conceito de conhecimento é utilizado e subentendido em muitas
passagens nos diálogos do discípulo de Sócrates. Contudo, nos deteremos em
dois diálogos emblemáticos onde este conceito é o alvo principal. O Teeteto e o
Menon.

Existem várias e divergentes leituras do Teeteto convivendo (...) na literatura


contemporânea. Algumas sugerem, inclusive, que o diálogo não cumpre sua
intenção de apresentar uma definição cabal para o conceito de conhecimento.
Seja como for, o texto é seminal e permanece relevante nas suas intenções de
reprovar algumas noções candidatas a revelar o real significado do conceito em
questão. Após algumas digressões, ao fazer associações com exemplos de
atividades que o supõem (como a geometria e a carpintaria), Sócrates

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abandona esse expediente, objetando que está a procura, então, do que há de
comum entre tais atividades distintas, permitindo caracterizá-las como saberes
genuínos. Quer, assim, a unidade oculta na diversidade dos exemplos. Então o
personagem Teeteto sugere que a fonte do conhecimento seria a percepção. A
partir deste parecer, vemos o diálogo tomar uma direção crítica, colocando em
relevo as doutrinas de Protágoras (então em moda) e outro pensador que as
inspira, Heráclito. Em ambos podemos obter teses relativistas quanto à
verdade e, consequentemente, ao conhecimento. Para eles a explicação está
enraizada no fato deque a fonte primeira de nossos conhecimentos provém da
percepção que temos do mundo sensível. O problema é que o mundo da
percepção é um mundo inconstante e fugidio. O que parece muito doce para
uma pessoa pode parecer não ser tanto para outra. O que parece azul para
um, parece verde para outro. Mesmo para uma mesma pessoa as percepções
são por vezes indefinidas. Por exemplo, os gregos sabiam das ambiguidades
perceptivas que um indivíduo, diante de três potes de água com temperaturas
distintas, pode passar. Um pote no centro com água na temperatura ambiente,
outro, ao lado de sua mão direita com água quente, e o terceiro com água fria,
ao lado da mão esquerda. O indivíduo que tirar a mão esquerda do pote de
água fria e colocar no pote do centro terá a sensação que o pote contém água
quente. Inversamente, tirando a mão do pote com água quente e colocando no
mesmo pote central, terá a sensação que o pote contém água fria. Então
teremos um objeto simultaneamente quente e frio. Motivado por ideias
similares e pelo permanente movimento do mundo, Protágoras conclui que
todas nossas afirmações são provisórias e, portanto, relativas aos agentes que
as declaram. Daí sua máxima: o humano (homem)é a medida de todas as
coisas (...). Com efeito, a verdade e o conhecimento dependem do que é
humano, e assim estão confinados no ato de percepção. Por exemplo, embora
a percepção de Sócrates do gosto do vinho dependa de ele estar enfermo ou
não, ao prová-lo,é verdadeiro que ele sentirá de um modo quando enfermo e
de outro modo quando saudável. No decorrer do diálogo Sócrates aponta uma
série de dificuldades envolvidas nessa tese, para começar, se tudo o que
experimentamos é produto da percepção, fica difícil explicar a realidade dos
sonhos, pois estes parecem ser independentes dela. E de outra , de modo mais
dramático ainda poderíamos perguntar: e se nossas vidas forem como um

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sonho? Então todas as percepções serão enganosas por definição. Além
desses embaraços para a tese da percepção, o filósofo sugere ainda nossa
competência linguística como sinal de que exercemos conhecimento sem a
percepção. Compreender um idioma é mais do que perceber os sons. Se
dependesse apenas de perceber os sons, entenderíamos qualquer língua.
Como coroamento dessa discussão Sócrates arremata apontando o problema
nuclear na tese de Protágoras, a saber, que se ela for verdadeira, então será
também falsa. Entretanto, se é verdade que todas as declarações são
provisórias, a própria afirmação que diz isso será, igualmente, provisória,
colapsando o que se queria afirmar de início. De fato, o paradoxo apontado
por Sócrates continua a manter o poder de desqualificar qualquer tese
relativista que pretenda ser universal, ainda que nem todos os tipos de
relativismo endossem posturas tão extremas. Finalmente, Teeteto aceita que
deve haver no conhecimento um componente intelectual independente da
percepção. Em especial, nossa capacidade de gerar pensamentos. Tal
capacidade pode estar certamente atrelada às percepções quando julgamos,
por exemplo, que o cão do nosso vizinho está velho. Mas também podemos
constituir pensamentos sobre coisas matemáticas sem nenhum traço sensível.
Contudo, ainda que Sócrates esteja seduzido com o rumo que a "dialética"
toma na conversa com Teeteto, chama a atenção que restam lacunas. Não
basta termos ou produzirmos pensamentos a esmo. Posso, por exemplo,
pensar que os Marcianos são verdes, entretanto ninguém diria que com apenas
isso eu expressaria conhecimento. A verdade deve, consequentemente, estar
atrelada ao pensamento. Realmente quando eles atingem essa conclusão
deparam-se com uma visão que pode concordar com o senso comum, na
medida em que o conhecimento seria exibido na linguagem segundo as
declarações às quais podemos agregar os fatos correspondentes. Ainda assim,
Sócrates não está satisfeito. Embora a verdade seja uma condição necessária
para o conhecimento, ela não é suficiente, afinal, o verdadeiro pode ser obtido
por mero acaso. Imagine alguém que nunca estudou geografia e num sorteio
retire um bilhete com a frase "Cabul é capital do Afeganistão"e a afirme
publicamente. Ninguém diria que ele expressa autêntico conhecimento. Desse
modo, os pensamentos verdadeiros precisam estar articulados, fixados com
algo mais, com outros pensamentos verdadeiros de modo que não os usemos

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arbitrariamente. Exigir isso é exigir que forneçamos razões para eles. Esta é a
novidade apresentada por Sócrates. Além das crenças (pensamentos)
verdadeiras, cláusulas (...) bastante intuitivas, agora temos a cláusula decisiva
que marca a originalidade do pensamento grego. O conhecimento solicita
JUSTIFICAÇÃO. Não basta apenas a verdade. Não basta igualmente constatar
os fatos. O conhecimento cobra a explicação dos fatos em consonância com a
verdade das afirmações que deles fazemos. Cobra, então,a justificação. Em
outras palavras,a necessidade de se apresentar o PORQUÊ da verdade.

Encontramos no diálogo Ménon outra imagem reveladora dos propósitos de


Platão na voz de Sócrates. Numa certa altura da discussão em que está em
pauta a vantagem da ciência (ter conhecimento), em comparação à opinião
verdadeira, Sócrates lança a seguinte analogia:

SÓCRATES – Sabes de onde vem a tua perplexidade? Ou queres que eu


diga?

MÊNON – Sem dúvida quero.

SÓCRATES – É porquenão observaste bem as estátuas de Dédalo. Ou,


talvez, não tenhas tais coisas em tua terra?

MÊNON – Por que te referes agora às estátuas de Dédalo?

SÓCRATES – Porque elas, se não forem fixadas, escapam e fogem, mas,


"amarradas", ficam.

MÊNON – E daí?

SÓCRATES – Daíque possuir uma obra de Dédalo semtê-la presa é como ter
um escravo fujão: é não ter nada, é algo que nada vale, porque, livres,
ambos fogem, mas uma estátua bem atada vale muito, porque grande é sua
beleza. Por que mereferi às estátuas de Dédalo? Com que intenção?
Pensando nas opiniões certas. Pois estas, da mesmaforma,
enquantopermanecem, valem um tesouro e só produzem o que é bom; mas
não consentem em permanecer muito tempo na alma dos homens, e não
demoram muito a escapar, a fugir, o que faz com que não tenham muito valor
até o instante em que o homem as amarra, as encadeia, as liga por um

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raciocínio de causalidade. Ora, caro Mênon, não faz muito que ficamos de
acordo em que a reminiscência oferece esta base racional. E assim, pois,
quando as opiniões certas são amarradas, transformam-se em ciência,
emconhecimento, e, comoconhecimento, permanecemestáveis. Por
essemotivo é que dizemos ter o conhecimento mais valor do que a opinião
certa: o conhecimento sedistingue da opinião certa por seu encadeamento
racional.

MÊNON – Por Zeus Sócrates, como é interessante o que dizes!

Assim como é melhor para nossa apreciação da beleza das estátuas de


Dédalos que elas fiquem fixadas num lugar, pois lá elas estarão estáveis de
maneira que quando desejarmos vê-las,bastará seguir o caminho certo até as
encontrar, assim interessa que fiquem nossos pensamentos verdadeiros
encadeados, de sorte que o uso que deles fazemos não seja fortuito. O que
significa exatamente dizer que os pensamentos devam ficar encadeados ou
fixados? Significa que a verdade neles expressa não pode ficar descolada de
outras proposições verdadeiras. Deve fazer parte de uma estrutura em que ela
apareça de forma estável. Em outras palavras, deve poder fazer parte de um
argumento. Tomemos o exemplo padrão nos manuais. Alguém afirma a
verdade de que os gregos são mortais. Podemos perguntar por que? Quais são
as razões dessa verdade? Este alguém responde. Bem, porque "os gregos são
homens" e por sua vez sabemos que "os homens são mortais". Ou no caminho
inverso, porque "os homens são mortais" e "os gregos são homens"é razoável
concluir que os gregos são mortais. Assim ele, com um argumento, dá as
razões da verdade questionada. Portanto, quando podemos "amarrar" a
verdade de um pensamento como uma conclusão de um argumento específico,
essa verdade ganhará status de conhecimento. As reflexões de Sócrates,
mediadas no texto de Platão inauguram, então, a forma paradigmática (para o
acordo ou crítica) da definição de conhecimento. Ou seja, conhecimento é ter a
possede crenças, verdadeiras e - agora o grande diferencial - justificadas.
Veremos que essa formulação, ainda que marque a história, trará uma série de
aperfeiçoamentos e dificuldades.

Questões para pesquisa suplementar.

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1 Procure elucidar porque Sócrates adota o procedimento dialético para
alcançar as definições dos conceitos ao invés de declará-las dogmaticamente.

2 investigue em que sentido Platão afirma que o conhecer é recordar.

3 A astrologia e a homeopatia seriam exemplos de conhecimento segundo


Platão? Por quê?

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