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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO

ANA LUÍZA RIBEIRO

Trabalho Final da Disciplina: Fichamento da Introdução da obra


“Grundrisse”

Juiz de Fora,
2017.
ANA LUÍZA RIBEIRO

Trabalho Final da Disciplina: Fichamento da Introdução da obra


“Grundrisse”

Trabalho realizado como requisito total para


aprovação na disciplina obrigatória Teoria Social
e Sociologia Clássica ministrada pelo professor
Ronaldo Vielmi Fortes ofertada no Mestrado
Acadêmico em Serviço Social fornecido pela
Universidade Federal de Juiz de Fora.

Juiz de Fora,
2017.
Fichamento da Introdução da obra “Grundrisse”

Marx, criador da teoria social, foi um estudioso do capitalismo que esteve à serviço do
trabalhador e da revolução socialista, nunca à serviço da ordem burguesa. A questão do
método na teoria social é polêmica: da construção de manuais de pesquisa baseados num
suposto método dialético até afirmações categóricas de que não há método em Marx se
dividem as literaturas das ciências sociais. Tais problemas

[...] não se devem apenas a razões de natureza teórica e/ou filosófica: devem-se
igualmente a razões ideopolíticas – na medida em que a teoria social de Marx
vincula-se a um projeto revolucionário, a análise e a crítica da sua concepção
teórico-metodológica (e não só) estiveram sempre condicionadas às reações que tal
projeto despertou e continua despertando. Durante o século XX, nas chamadas
“sociedades democráticas”, ninguém teve seus direitos civis ou políticos limitados
por ser durkheimiano ou weberiano – mas milhares de homens e mulheres, cientistas
sociais ou não, foram perseguidos, presos, torturados, desterrados e até mesmo
assassinados por serem marxistas (NETTO, 2009, p.1-2).

Chasin (2009) propõe realizar uma análise imanente sobre os escritos de Marx a partir da
reflexão sobre esses mesmos escritos, ou seja, o autor busca compreender a consistência
autossignificativa dos elementos que compõem a obra de Marx para, a partir dela, evidenciar
as posturas por ele adotadas. Essa análise imanente se fez necessária devido a existência de
equívocos interpretativos sobre a obra de Marx, produzidos tanto por seus seguidores quanto
por seus adversários (NETTO, 2009).

Tais deformações nas interpretações dos escritos de Marx podem ser demonstradas a partir de
alguns exemplos: (1) os manuais metodológicos criados pelos próprios marxistas, que
buscaram reproduzir a lógica positivista de maneira a usar os conceitos de materialismo
dialético1 e materialismo histórico2 e transformá-los num passo-a-passo simplista e
reducionista de como conhecer a realidade; (2) afirmar que a dinâmica social, seja ela qual
for, tem como fim o socialismo; e (3) dizer que, para o autor, o fator econômico se sobressai
perante outros fatores, sejam eles culturais, sociais, etc., indicando uma espécie de teoria
monocausal (NETTO, 2009). Marx e Engels afirmaram apenas que “a produção e a
reprodução da vida real apenas em última instância determinavam a história” (NETTO, 2009,
p. 4). Para Lukács (1974), não é a predominância das causas econômicas que distingue o
marxismo da ciência burguesa, mas sim, o ponto de vista da totalidade.

Em consonância com a proposta elaborada por Chasin, este trabalho busca propor uma
interpretação da obra de Marx com base em seus próprios escritos e com base em autores que
buscaram desmistificar tais escritos, nos limites da compreensão e reflexão da autora. A obra
utilizada são os tópicos da Introdução do livro “Grundrisse: Manuscritos econômicos de
1857-1858: esboços da crítica da economia política”.

I. Produção, consumo, distribuição, troca (circulação)

1) A produção em geral
a) A produção material

1
“(...) uma espécie de saber total, articulado sobre uma teoria geral do ser” (NETTO, 2009).
2
Especificação da teoria geral do ser em face da sociedade (NETTO, 2009).
Quanto mais fundo voltamos na história, mais o indivíduo, e por isso também o
indivíduo que produz, aparece como dependente, como membro de um todo maior:
de início, e de maneira totalmente natural, na família e na família ampliada em tribo
[Stamm]; mais tarde, nas diversas formas de comunidade resultantes do conflito e da
fusão das tribos. Somente no século XVIII, com a “sociedade burguesa”, as diversas
formas de conexão social confrontam o indivíduo como simples meio para seus fins
privados, como necessidade exterior. Mas a época que produz esse ponto de vista, o
ponto de vista do indivíduo isolado, é justamente a época das relações sociais
(universais desde esse ponto de vista) mais desenvolvidas até o presente. O ser
humano é, no sentido mais literal, um Von politikón, não apenas um animal social,
mas também um animal que somente pode isolar-se em sociedade. A produção do
singular isolado fora da sociedade – um caso excepcional que decerto pode muito
bem ocorrer a um civilizado, já potencialmente dotado das capacidades da
sociedade, por acaso perdido na selva – é tão absurda quanto o desenvolvimento da
linguagem sem indivíduos vivendo juntos e falando uns com os outros. [...] Para
Proudhon, entre outros, é naturalmente cômodo produzir uma explicação histórico-
filosófica da origem de uma relação econômica, cuja gênese histórica ignora, com a
mitologia de que Adão ou Prometeu esbarrou na ideia pronta e acabada, que foi
então introduzida etc. Não há nada mais tediosamente árido do que as fantasias do
locus communis (MARX, 2011, p. 55-56).

Em última instância, os fatores decisivos na história são a produção e a reprodução da vida


imediata, que podem ser divididos em dois aspectos: a produção e reprodução de meios de
existência da espécie humana, como alimentos e moradia, e a produção e reprodução da
própria espécie humana. Essas condições elementares para a vida são influenciadas pela
família e pelo grau de desenvolvimento do trabalho. Quanto menos desenvolvido for o
trabalho, menores são os recursos de produção e reprodução da vida. Em vista disso, a família
desempenha um papel fundamental pois, a produtividade no trabalho aumenta a partir de uma
estrutura social baseada nos laços de parentesco (ENGELS, 1984). Junto ao desenvolvimento
do trabalho e da estrutura familiar, também

(...) desenvolveram-se a propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza, a


possibilidade de empregar força de trabalho alheia e com isso a base dos
antagonismos de classe: os novos elementos sociais, que no transcurso de gerações
procuram adaptar a velha estrutura da sociedade às novas condições até que, por
fim, a incompatibilidade entre estas e aquela leve a uma revolução completa
(ENGELS, 1984, p. 3)

As sociedades pré-capitalistas eram fundamentadas nas uniões por tribos, onde vigorava o
direito materno, visto que não era possível estabelecer a descendência se não fosse pela
linhagem feminina. Isso ocorria porque o modelo de família que prevalecia permitia que o
homem mantivesse relações sexuais com várias mulheres e que a mulher mantivesse relações
sexuais com vários homens, sem nenhuma violação de moral, impedindo assim de se saber
acertadamente sobre a paternidade da criança gerada. Este modelo de sociedade antiga dá
lugar a um novo modelo de sociedade organizada por territórios ao invés de tribos, regida por
um Estado e com famílias subordinadas a relações de propriedade. É nesse novo modelo que
se tornam cada vez mais evidentes as contradições de classe (ENGELS, 1984).

Referências
CHASIN, J. Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo, 2009.

ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 9. ed. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1984.

LUKÁCS, G. História e consciência de classe. Porto: Escorpião, 1974 [edição brasileira: São
Paulo: Martins Fontes, 2003].

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da


economia política. Tradução Mário Duayer, Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo; Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.

NETTO, J. P. Introdução ao método na teoria social. Serviço Social: direitos sociais e


competências profissionais. Brasília: CFESS/Abepss, 2009.

Oi Ana Luíza
acerca da ontologia em Lukács a literatura não é tão vasta. é mais comum aos lukacsianos
essa temática. Penso que as referências são as mais tradicionais: Chasin e o José Paulo Netto.
Talvez, para fazer o trabalho de minha disciplina o melhor seja um bom fichamento da
introdução dos Grundrisse. A esse propósito ambos os autores citados ajudam bastante,
principalmente o Chasin. Lukács também faz uma discussão a respeito no tomo I de sua
ontologia. Está na seção 2 do capítulo sobre Marx.

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