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A SOCIOLOGIA ALEMÃ À ÉPOCA DE MAX WEBER

(FICHAMENTO)

JULIEN FREUND

Devemos esperar que a sociologia cientifica seja capaz de integrar o que tem
valor na metodologia marxista, deixando ao domínio geral da política a tarefa de decidir do
futuro da Filosofia marxista.
Embora em seus primórdios a sociologia alemã fosse muito sensível às
influencias estrangeiras, ainda assim suas bases foram tanto de categorias próprias do
pensamento alemão em partículas, a distinção herdade de Hegel, entre o Estado e a
sociedade. O Estado é o campo no qual os cidadãos expressão livremente sua escolha, de
modo que, como instituição, ele é a fonte de toda a liberdade, enquanto a sociedade é o
campo da atividade econômica que constitui a fonte de dependência e servidão.
Se o psicologismo influenciou diretamente a concepção da sociologia
predominante na época, a influencia do historicismo só foi indireta na medida em que os
especialistas em Economia foram levados a focalizar sua atenção nos fenômenos sociais
para melhor compreender a evolução dos fatos econômicos. É de tradição alemã o fato de
distinguir Estado e Sociedade.

FERDINAND TÖNNIES (1855-1935)

Vontade orgânica é aquela que determina o pensamento, a vontade reflexiva é


determinada pelo sentimento. A vontade orgânica é a vontade profunda do ser, aquela que
expressa a espontaneidade e o movimento da própria vida. Como tal é a fonte de toda a
criação e de toda originalidade individual.
Vontade reflexiva, pelo contrario, expressa a capacidade do homem de produzir
um mundo artificial, seguindo as diretivas do pensamento, que concebe uma meta
abstratamente e ao mesmo tempo proporciona os meios adequados de sua realização.
Segundo Tönnies, essa distinção psicológica entre as duas vontades condiciona
as duas maneira pelas quais os homens forma grupos sociais: ou formam uma comunidade
baseada numa vontade orgânica, ou uma sociedade, baseada na vontade reflexiva. Essas
duas categorias constituem as idéias fundamentais daquilo que Tönnies chama de
sociologia pura. Isso deve entender como a teoria geral das duas maneiras possíveis pelas
quais os homens estabelecem relações entre si.
Ele explica que a comunidade atende as necessidades da “vida real e orgânica”,
ao passo que a sociedade se situa na ordem da “representação artificial e mecânica”, na
verdade, a comunidade é o lugar de confiança e da intimidade, ao passo que a sociedade é o
lugar daquilo que é publico e anônimo. A comunidade é a verdadeira e duradoura vida
comum; a sociedade é apenas temporária.
Tönnies considera a comunidade o lugar em que amoral é vivida de maneira
concreta e afetiva.
Nas palavras de Adam Smith, todos na sociedade são considerados
comerciantes. De qualquer modo, a sociedade é dominada pela razão abstrata, sendo
compreensível que nessas condições as formas supremas de abstração como ciência,
tecnologia e maquinaria sejam privilegiadas.
Considerando o ponto de vista político, a sociedade se fundamenta num
contrato, em convenções jurídicas e abstratas cuja unidade é feita pelo Estado. Do ponto de
vista econômico, a sociedade dá prioridade ao comercio, como todo o seu corolário; petição
mercado, troca e credito, tudo se reduz a um processo de compra e venda. Baseada na
divisão, a começar pela divisão do trabalho, a sociedade esta fadada a provocar outras
divisões, como, entre classes sociais. Seu principio não é a concórdia, mas sim a luta.
Ele considera o socialismo como a realidade da sociedade mercantil e
tecnocrata, e ao mesmo tempo como um apelo para um retorno à comunidade.

GEORG SIMMEL (1858-1919)

É um dos precursores da Psicologia Social. Simmel, embora seja um dos


fundadores da ciência ele a concebeu a sua maneira, sem jamais separa-la da Filosofia. No
fundo, a Sociologia era para ele uma nova maneira de Filosofia, porque abria novos
caminhos à reflexão metafísica. Foi um dos raros sociólogos de sua época, bem como da
nossa, a chamar a atenção para os aspectos sutis, impalpáveis e imponderáveis das relações
sociais, como a cortesia, a timidez, o vestuário, e fidelidade ou a gratidão. Ele criou de um
lado, uma teoria geral da Sociologia, conhecida como a Sociologia formal.

Sociologia Formal

Simmel parte de três observações. A primeira é que os indivíduos agem por


diversos motivos: interesse, paixão, vontade de poder, ect. A analise desses fenômenos
pertence à Psicologia. A segunda observação é que o individua não se explica apenas por
referencia a si mesmo, mas em relação à interação com outros também, seja influenciando-
os ou sendo por eles influenciando. A terceira observação é que as atividades humanas se
desenvolvem em formas, dentro de configurações sociais como o Estado, a Igreja ou a
escola, ou segundo formas gerais como imitação, competição, estruturas hierárquicas etc. o
objetivo da Sociologia é a analise dessas formas.
Toda ciência selecionada da realidade, criando, em conseqüência, uma
abstração. A sociologia não evita conteúdo nem repudia o elo inevitável entre forma e
conteúdo, mas, em virtude de sua abstração seletiva, não é Psicologia.
De certo modo, a sociedade é criação dos homens, já que “só existe quando
muitos indivíduos interagem”, mas ao mesmo tempo essas interações só se podem
expressar através de um limitado numero de formas, embora historicamente variáveis.
Em toda sociedade conhecida, há um grande numero de formas que nos unem,
isto é, nos socializam. E mesmo que uma delas caia em desuso, a sociedade continua de pé.
Mas na ausência de todas as formas, a sociedade não existiria, é nesse sentido que a
sociologia é a “ciência que analisa abstratamente as formas sociais, compreendendo que
elas não só fazem a sociedade, como são a sociedade”.

MAX WEBER (1864-1920)

Weber ultrapassou rapidamente o historicismo, no sentido restrito da palavra,


não só porque desejava desenvolver uma teoria da Sociologia tão sistemática quanto
possível, como se vê em Economia e Sociedade.
Ele repetiu com freqüência que todo o trabalho cientifico, por mais prestigioso
que seja, esta fadada a envelhecer e a ser substituído. Isso significa que a Sociologia
também esta ligada ao processo histórico indefinido e que, em conseqüência, ninguém pode
inventa-la novamente, no sentido de que um sociólogo pudesse inventar, de maneira
original e pioneira a verdadeira e única ciência sociológica. Weber escreveu coisas
fundamentais sobre as relações entre a Política e a Moral, a Política e a religião, a Política e
a Ciência, a Religião e a Economia, o Direito e a Economia, etc.
Podemos então analisar de maneira pela qual a Política ou a Religião
condicionou as outras atividades, ou alguns de seus aspectos, e finalmente a maneira pela
qual a economia condiciona a política e a religião, ou algum de seus aspectos. Esse
esquema se aplica a analise sociológica de qualquer atividade. Isso significa que para weber
não há atividade que, do ponto de vista cientifico, seja em ultima analise a base das outras.
Seu rompimento com o marxismo, sob este aspecto, é total. Na verdade, essa posição
pertence à demonstração cientifica. Pertence a fé ou a ideologia.

Epistemologia Sociológica

Max Weber, antes de abordar o problema teórico da metodologia, ele já havia


realizado um importante estudo de campo. Alem disso a metodologia não foi a sua maior
nem sua primeira preocupação, foi baseado em sua experiência de trabalho de campo que
ele examinou a questão da metodologia sociológica. Weber introduziu o método
interpretativo ao quais certos historiadores da Sociologia se referem mesmo como sua
“Sociologia interpretativa”. Mas é com o método compreensivo que Weber considera como
sendo a melhor formula possível para a elucidação do significado de uma atividade.
Conseqüentemente, quando um fenômeno político, econômico, religioso ou outro foi
explicado causalmente, ainda resta algo que não é abrangido por essa explicação. Isso
acontece porque a atividade humana baseia-se numa vontade, numa capacidade de previsão
ou resistência, que nos leva alem das simples condições materiais. O homem não age
simplesmente sob o efeito de um estimulo mecânico, mas porque quer alguma coisa por
certas razoes. Assim a tarefa do método compreensivo é preencher as lacunas deixadas pela
simples explicação em questão relativa às relações humanas.
O maior mal entendido em atribuir a Weber a idéia de que a explicação e o
entendimento são métodos absolutamente autônomos mesmo opostos quando ele nunca se
cansou de repetir que soa complementares e podem ser usados concorrentemente ou mesmo
simultaneamente. Ele diz que o entendimento permite que as relações causais se tornem ao
mesmo tempo relações significativas. Outra contribuição de Weber para a metodologia é
seu conceito de pluralismo causal, ele complementa seu método compreensivo que rejeita
como insuficiente o esquema da causalidade mecânica e unilateral. Ele mostra que a
acumulação de capital não pode ser considerada como a única causa do capitalismo
moderno, com exclusão da racionalização ascética da vida econômica. Rejeita tanto a idéia
que busca explicar a Reforma exclusivamente pelos fatores econômicos como a idéia de
que o espírito da Reforma é o único responsável pelo nascimento do capitalismo.
Embora a considerações de Weber sobre a metodologia nas Ciências Sociais
sejam essenciais, sua realização principal na área da teoria do conhecimento relaciona-se
com uma matéria negligenciada com freqüência pelo sociólogo a conceptualizacao
sociológica. Uma ciência é valida não só devido aos seus métodos, mas também devido aos
conceitos que desenvolve. Weber procurou encontrar meios pelos quais a sociologia
pudesse superar essa deficiência, que lhe é bastante nociva, o tipo ideal e a referencia aos
valores. Segundo Weber, o tipo ideal é precisamente uma dessas construções mentais que
permitam, nas ciências, a mais rigorosa abordagem possível da realidade, mas é sempre
limitada a um, ou há uns poucos, aspectos dessa realidade. Sua definição do tipo ideal não
deixa duvida sobre a questão, na medida em que ele a vê como uma imagem mental pura,
ou uma utopia.
Para Weber, o tipo ideal não era uma metodologia exclusiva, mas apenas uma
entre outras usadas para chegar a conceitos rigorosos e cientificamente validos, que podiam
ser usados por pesquisadores cujas preferências pessoais, em Política, Economia ou
Religião fossem diferentes. É inútil esperar que a sociologia se torne uma ciência no
sentido pleno do termo, enquanto os especialistas rejeitarem a disciplina de uma
conceituação rigorosa.
Para construir o tipo ideal é necessário selecionar as características significativas
na realidade e combina-las num quadro mental homogêneo.

Pesquisa Sociológica

A pesquisa de Weber na Sociologia Política referiu-se essencialmente a quatro


pontos: o primeiro diz respeito às relações entre a violência e o Estado. A racionalização do
Estado moderno constituiu no confisco do direito de violência dos indivíduos e grupos
subordinados (senhores feudais), em seu próprio beneficio. O segundo, ele analisou o
fenômeno da dominação primordialmente do ponto de vista da legitimidade; isto é, as
razoes que levaram os governos a terem confiança no poder político. O terceiro ponto
consiste na analise dos partido políticos de que Weber foi um dos pioneiros, foi
particularmente inovado ao estabelecer a distinção entre partido de elite e partido de massa.
A principal contribuição de Weber ao quarto ponto foi ter desenvolvido uma Sociologia da
Burocracia, que esta na origem de toda sociologia das Organizações.
Weber sabe que o desenvolvimento do capitalismo se deve em grande parte a
uma dinâmica interna da economia, seja devido à acumulação de capital no final da Idade
Media, ou à separação entre orçamentos doméstico e empresarial.
Weber no campo da sociologia do Direito, ele lutou para esclarecer, do ponto de
vista sociológico, a função dos vários tipos de direito: o privado e o publico, o positivo e o
natural, o subjetivo e o objetivo, o formal e o material. Também seguiu as varias fases do
desenvolvimento, do Direito irracional para o racional, sempre no espírito que domina seu
pensamento sociológico: ressaltar o crescimento da racionalização nas sociedades.

Os Limites da Sociologia

É impossível, portanto de forma peremptória a superioridade de um valor sobre


outros. Um determinado valor só pode se preferido por um individuo ou uma maioria à base
da fé. Portanto, Weber não acredita na harmonia preestabelecida ou feita pelo homem.
Nisso reside à base do que ele chama de neutralidade em relação aos valores.
A ciência não é totalmente impotente no campo da ação. Na verdade, o
estudioso pode sugerir a um futuro de ação se seu projeto é coerente, não pode, porem, ir
mais longe sem perverter a ciência. A escolha depende da vontade e da consciência de cada
um: “Um a ciência empírica não pode ensinar a ninguém o que deve fazer, apenas o que
pode fazer”. O principio da neutralidade em relação aos valores adquire, assim, seu
significado pleno. Significa que toda ciência, inclusive a Sociologia, tem limites; isto é, que
uma proposição cientifica é valida por motivos científicos e não por motivos externos de
violência, moral ou retidão ética. E tal como a ciência só é competente dentro de seus
próprios limites e não no domínio de atividades apreciativas como política, arte e religião,
essas atividades não são competentes no domínio cientifico.
Pode-se criticar Weber por não ter respeitado sempre os imperativos da
neutralidade em relação aos valores. Na verdade, é difícil a um pensador não ultrapassar os
limites de sua competência, especialmente no discurso. Na realidade, a neutralidade em
relação aos valores é mais um principio regulador do comportamento do cientista do que
um princípio constitutivo da própria ciência. O principio da neutralidade tem, portanto, um
duplo significado: pede ao erudito que tenha consciência dos limites de sua disciplina, bem
como dos limites da ciência em geral.

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