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RESUMO
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Maria Helena Martins & Sílvia Henriqueto
ABSTRACT
Aging has been perceived as a period of decline and disability, and institutionalization is a
response to the unavailability of family members to take care of the elderly. In this sense, nursing
homes must be able to provide a good quality of life for their residents. Some studies document
that despite the losses that occur at this stage of life, many elderly people show good adaptation
and quality of life, satisfaction and resilience in the face of adversities in this process. Some
variables such as perceived health, subjective and psychological well-being and social support
are important variables for successful aging.
The main objective of this study aimed to analyze the relationships between resilience,
perceived health, subjective and psychological well-being and social support and its contribu-
tion to the adaptation to aging in institutionalized and non-institutionalized elderly. Through a
cross-sectional, descriptive, exploratory and correlational study, 184 elderly people (N = 184),
aged between 65 and 94 years (M = 76.0; SD = 8.12) participated in the study. Several instruments
were used to analyze the defined variables. The results revealed the relevance of resilience, pos-
itive health perception, subjective and psychological well-being in adapting to aging. There are
differences between institutionalized and non-institutionalized elderly.
Keywords: Resilience, Perceived health, Subjective and psychological well-being, Elderly, Institutiona-
lization.
1. INTRODUÇÃO
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 2 • 1 st july julho-31 st december dezembro 2021 • pp. 26-48
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Resiliência, Saúde percebida, Bem-estar Subjetivo e Psicológico e Suporte social em Idosos Institucionalizados
e Não-institucionalizados
Harper (2016), gerontologista diretora do Oxford Institute of Aging, propõe uma abordagem
diferente para a linguagem que utilizamos sobre o envelhecimento, sugerindo que as pessoas
com 60 anos e possivelmente 70 e 80 anos ainda deveriam ser consideradas adultos ativos.
De assinalar, no entanto, que por várias décadas, o envelhecimento tem sido percecionado
como um período de declínio, incapacidade e demência. Não obstante, a maior parte dos inves-
tigadores defendem a necessidade de ultrapassar os estigmas e perceções negativas presentes
no ageísmo, os muitos preconceitos face aos idosos, sendo geralmente considerados todos iguais,
não-produtivos e doentes (Akinola, 2020).
Considerando esta nova perspetiva na longevidade humana, uma série de investigações tem
vindo a ganhar espaço na agenda mundial, conduzindo a um aumento das preocupações com
os direitos dos idosos, com a sua saúde física e mental como garantia para um envelhecimento
saudável, ativo e com qualidade de vida (Hayat et al., 2016).
Apesar dos riscos e vulnerabilidades que a velhice predispõe, diversos estudos defendem
que muitos idosos passam por essa fase da vida apresentando capacidades que lhes permitem
superar as adversidades, demonstrando resiliência. Assim, a resiliência constitui-se como um
importante fator de proteção no envelhecimento, possibilitando ao idoso superar adversidades
normais nesta faixa etária (ou seja, alguns declínios) e apresenta-se como uma capacidade rege-
nerativa que ajuda a manter a saúde, apesar das perdas e doenças (MacLeod et al., 2016; Tay &
Lim, 2020; Zapater-Fajarí et al., 2021).
Nos últimos anos, diversas pesquisas mostraram que a resiliência está fortemente associada
a um processo de envelhecimento caracterizado por baixo risco de doenças e alto funcionamento
mental e físico (Zapater-Fajarí et al., 2021).
Embora não exista um claro consenso sobre a definição de resiliência nos idosos, atualmente
esta é definida como uma construção emergente, maleável, duradoura, e que pode ser desenvol-
vida e sustentada por uma interação dinâmica de aspetos biológicos, psicológicos, espirituais e
fatores sociais. Diversos investigadores como Tay e Lim (2020) defendem um modelo biopsicos-
social e espiritual a interagir para o desenvolvimento e manutenção da resiliência psicológica
nos idosos.
As principais características evidenciadas na literatura sobre a resiliência em idosos com
mais de 65 anos incluem fatores de saúde mental, social e fatores físicos. A pesquisa sugere que
estilos de coping adaptativo, otimismo e esperança, emoções positivas (Martin et al., 2015), apoio
social e envolvimento na comunidade, bem como independência nas atividades de vida diária
(AVD’s) e ser fisicamente ativo podem ter particularmente fortes associações com elevadas capa-
cidades de resiliência (Martins, 2015).
Alguns autores têm defendido ainda que a resiliência promove a mobilização ativa de recur-
sos em condições de adversidade. Em outras palavras, os idosos resilientes parecem empregar
estratégias de enfrentamento mais adaptativas, promovendo a sua satisfação com a vida (Zapa-
ter-Fajarí, 2021).
Ambriz et al. (2012) realizaram um estudo sobre resiliência e propuseram um modelo que
explica a relação entre stresse e recursos psicossociais que podem potencializar o ajustamento
positivo em todo o ciclo de vida. Assim, defendem que o processo de adaptação positiva é melho-
rado por um conjunto de recursos psicossociais que intervêm nos efeitos do stresse. De entre os
recursos psicossociais, o apoio social é um fator importante que pode reduzir os efeitos do stresse.
Relacionamentos próximos podem aumentar a autoestima e constituir-se como um importante
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amortecedor contra a ansiedade da morte, enquanto a rutura de tais relacionamentos pode levar
a depressões, perda do élan vital e preocupações sobre a morte.
Atualmente, a institucionalização constitui-se uma importante resposta que a sociedade
apresenta para os idosos. Alguns estudos revelam, contudo, que nem sempre as necessidades dos
indivíduos institucionalizados são respeitadas (por exemplo, privacidade, respeito), assim como
as suas diferentes personalidades e modos de vida. Estes aspetos, somados às normas e regula-
mentos da instituição, às perdas que esta potencia, e ao facto de o idoso não aceitar de bom grado
a institucionalização, podem fazer com que esta seja percecionada como uma mudança dramá-
tica. Estudos assinalam que quando os idosos apresentam expectativas positivas em relação à
institucionalização, esta não é tão encarada pelo idoso como negativa. Ao contrário, quando o
idoso tem uma imagem negativa da institucionalização, considera essa etapa como sinónimo de
isolamento, declínio e final de vida (Azeem & Naz, 2015).
Assinale-se o estudo desenvolvido por Azeem e Naz (2015), com o objetivo de analisar a
resiliência, a ansiedade de morte e depressão entre idosos institucionalizados e não institucio-
nalizados. Os resultados revelaram que os idosos não institucionalizados apresentavam maior
resiliência, enquanto os institucionalizados apresentavam mais ansiedade de morte e sintomas
depressivos. Os investigadores referem ainda que não houve diferenças significativas no género,
embora os homens idosos apresentassem uma maior resiliência face às mulheres idosas. Não
encontraram também diferenças na ansiedade face à morte, no entanto, as mulheres idosas apre-
sentaram níveis mais elevados de depressão, sendo que também os idosos solteiros evidenciaram
mais ansiedade face à morte quando comparados aos casados e viúvos.
A literatura da área documenta ainda que não ter filhos e ser solteiro pode gerar mais isola-
mento na velhice. O estado civil constitui-se como uma variável importante, sendo que o apoio
social e a autoestima apresentam-se superiores entre os idosos que vivem na comunidade do que
entre os institucionalizados (Azaiza et al., 2006).
Investigadores defendem que o bem-estar psicológico na velhice está relacionado com o fun-
cionamento psicológico positivo do indivíduo e pode ser conceituado em três fatores: insatisfa-
ção solitária (ou seja, uma avaliação subjetiva do ambiente e redes de apoio), atitudes em relação
ao próprio envelhecimento (ou seja, um equilíbrio entre vida passada e atual) e agitação (ou seja,
comportamentos de ansiedade ou falta dela) (Lawton, 1975; Paúl, 1992).
Entre vários estudos sobre a influência do bem-estar psicológico no envelhecimento, pode
referir-se o estudo realizado por Silva (2009) com idosos, com idades compreendidas entre os
65 e 92 anos que concluiu que à medida que a idade aumenta, o nível de bem-estar psicológico
e a qualidade de vida tendem a diminuir. Por sua vez, o nível de escolaridade apresenta uma
correlação significativa e positiva com o bem-estar psicológico e com a qualidade de vida. No
que diz respeito ao género, são os homens que apresentam os melhores resultados na subescala
de atitudes frente ao envelhecimento. O sexo feminino apresenta pontuações mais elevadas nas
subescalas agitação e insatisfação solitária. Em relação à análise do estado civil, os autores cons-
tataram que os idosos casados apresentam maior bem-estar psicológico em relação aos viúvos
(Silva, 2009).
Também o estudo desenvolvido por Paúl et al. (2005), indica que para os idosos casados a
relação com seu cônjuge é o melhor preditor de satisfação com a vida e também a principal fonte
de apoio e suporte. Em relação ao bem-estar psicológico dos idosos, estes investigadores referem
que, em geral, os idosos apresentam certa solidão e insatisfação, manifestam atitudes negativas
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2. METODOLOGIA
2.2. Amostra
Participaram no estudo 184 idosos (N = 184), com idades entre 65 e 94 anos (M = 76.04 anos;
DP = 8.12). A maioria dos participantes é do género feminino (61.9%; n = 114) enquanto 38.1%
(n = 70) é do género masculino. Relativamente ao estado civil, 66.3% (n = 122) são viúvos e 33.7%
(n = 62) são casados. No que respeita à escolaridade, 42.5% (n = 78) concluiu o 4.º ano, 18.5% (n =
34) tem o 6.º ano, 15.2% (n = 28) tem o 9.º ano, 10.3% (n = 19) tem Ensino Superior, 7% (n = 13) tem
o 12.º ano e 6.5% (n = 12) não concluiu o 4.º ano de escolaridade.
Dos 184 idosos, 51% (n = 94) encontram-se institucionalizados em diversos lares residenciais
do Algarve e do Alentejo e 49% idosos (n = 90) não estão institucionalizados. No grupo dos idosos
institucionalizados, 52.1% (n = 49) estão em Lar, e 47.9% (n = 45) em Centro de Dia. Relativamente
ao tempo de institucionalização, varia entre 3 meses a 15 anos, sendo que 68% (n = 64) dos idosos
se encontram institucionalizados entre 1 a 5 anos. No que respeita aos idosos que frequentam
Centro de Dia, 48.8% (n = 22) vivem com o(s) filho(s), 35.5% (n = 16) vivem sozinhos e 15.7% (n = 7)
vivem com o(a) esposo(a). Quanto aos idosos não institucionalizados, 74.4% (n = 67) vivem com
o(a) esposo(a), 16.6% (n = 15) vivem sozinhos e 9% (n = 8) vivem com os filhos.
Inquiridos sobre a sua situação económica 50% (n = 92) dos idosos inquiridos consideram-na,
satisfatória, 28% (n = 51) referem que não é satisfatória nem insatisfatória, 15.6% (n = 29) estão
muito insatisfeitos e 6.4% (n =12) muito satisfeitos.
Todos os inquiridos estão reformados, sendo o número de anos da reforma compreendido
entre 1 e 53 anos. Assinale-se que cerca de 6.5% (n =12) dos idosos não se recorda precisamente do
ano em que se reformou. Relativamente às suas profissões antes da reforma, 21.3% (n = 39) foram
operários não qualificados, 20.1% (n = 37) trabalhadores rurais, 29.3% (n = 54) professores, 16.8%
(n = 31) domésticas, 7% (n = 13) costureiras, 5.5% (n = 10) empresários.
No que se refere à perceção subjetiva da sua saúde, esta foi avaliada como média para 50.0%
dos idosos (n = 92), 25.5% (n = 47) consideram-na como má e 24.4% (n = 45) como boa. Saliente-se
que 75.5% (n = 139) dos idosos indicaram doenças, que foram agrupadas em cinco categorias.
Assim, 50.3% (n = 70) dos idosos afirmaram ter doenças crónicas (e.g., diabetes), 23% (n = 32)
doenças cardiovasculares (e.g., problemas na tensão arterial), 15.9% (n = 22) indicaram doenças
respiratórias e 10.8% (n = 15) doenças psicológicas (i.e., depressão).
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e Não-institucionalizados
2.3. Instrumentos
Os dados foram recolhidos com recurso a um Questionário Sociodemográfico com questões
referentes à idade, género, escolaridade, estado civil, profissão, institucionalização e regime de
institucionalização (apenas para os idosos institucionalizados), e perceção do estado de saúde
(autoavaliação).
Para avaliar a resiliência selecionámos o Inventário Measuring State and Child Resilience de
Hiew (1998), adaptado para a população portuguesa por Martins (2011). Consiste em duas escalas,
com formato tipo likert (Discordo a Concordo totalmente), a Measuring Child Resilience (MCR), que
avalia as características da resiliência desenvolvidas na infância, composta por 18 itens (α = .79)
e a Measuring State Resilience (MSR) que descreve as características atuais da resiliência, com 14
itens (α = .74) (Martins, 2011).
Para avaliar o suporte social utilizou-se o Questionário de Suporte Social – versão reduzida
(SSQ6), de Sarason et al. (1987), adaptado à população portuguesa por Pinheiro e Ferreira (2002).
Esta escala está estruturada em 6 itens, sendo que cada item é avaliado através de duas variáveis
(α = .90). A primeira parte do item avalia o número de pessoas que o indivíduo considera ter dis-
poníveis (i.e., a quantidade do suporte) e a segunda parte do item avalia o grau de satisfação com
esse suporte disponível (i.e., a qualidade do suporte). Relativamente à primeira dimensão de cada
item, foram modificadas as alternativas de resposta, tendo em atenção a população em estudo,
os idosos, ficando: “Cônjuge/Companheiro(a), Filho/Filha, Neto/Neta, Irmão/Irmã, Vizinho(a),
Amigo/Amiga, Colaborador da Instituição, Idoso da Instituição, Outra pessoa (especifique)”.
Para avaliar a dimensão afetiva do bem-estar subjetivo foi utilizada a Escala de Afetividade
Positiva e Afetividade Negativa (PANAS) de Watson et al. (1988), adaptada por Galinha e Ribeiro
(2005). É uma escala tipo Likert (Nada ou muito ligeiramente a Extremamente), composta por 20
itens (10 relativos a afetos positivos – α = .86 e 10 a afetos negativos, α = .89) (Galinha & Ribeiro, 2005).
A Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), de Diener et al. (1985) avalia a dimensão cognitiva
do bem-estar subjetivo, adaptada e validada por Simões (1992). A escala tem 5 itens (α = .87), tipo
Likert (Discordo muito a Concordo muito) (Simões, 1992).
O bem-estar psicológico foi avaliado pela Escala de Ânimo Geriátrico de Philadelphia de
Lawton (Philadelphia Geriatric Center Morale Scale – PGCMS, Lawton, 1975) adaptada por Paúl
(1992). Composta por 14 itens, com resposta dicotómica (sim/não) e avalia três aspetos do bem-
-estar psicológico dos idosos, nomeadamente a Solidão/Insatisfação (α = .75), Atitudes face ao
próprio envelhecimento (α = .71) e Agitação (α = .71) (Paúl, 1992).
2.4. Procedimentos
Os instrumentos e procedimentos foram objeto de análise e aprovação pelo Gabinete de
Proteção de Dados na Universidade do Algarve. Foram selecionadas as instituições às quais foi
solicitada autorização para a coleta dos dados, tendo sido previamente explicitados os objetivos
da pesquisa, bem como o grau de confidencialidade e anonimato. O estudo cumpriu os critérios
éticos de anonimização e de participação voluntária, tendo os participantes assinado o consenti-
mento informado. A recolha de dados da amostra de idosos institucionalizados foi realizada em
Lares de Idosos, Centros de Dia e Casas de Saúde. A amostragem de idosos não-institucionaliza-
dos foi realizada em Universidades Seniores e ainda por convites diretos a idosos nas áreas geo-
gráficas do Algarve e Alentejo. Quanto à técnica de amostragem, trata-se de uma amostragem não
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3. RESULTADOS
A análise descritiva dos resultados obtidos nas diversas escalas permite constatar que os ido-
sos do presente estudo apresentam valores elevados de resiliência, quer na escala MSR (M = 4.28;
DP = .53), quer na escala MCR (M = 4.18; DP = .48). Relativamente à dimensão cognitiva do bem-
-estar subjetivo, esta é também positiva (M = 3.42; DP = .94). Assinale-se, contudo, que, no que res-
peita à dimensão afetiva do bem-estar subjetivo, os resultados indicam, quer uma baixa presença
de afetos negativos (M = 1.71; DP = .56), como dos afetos positivos (M = 2.78; DP = .85). Quanto ao
bem-estar psicológico, não obstante, os idosos apresentem boas atitudes face ao envelhecimento
(M = 1.46; DP = .34), constituindo-se indicador positivo de bem-estar psicológico, apresentam
indicadores negativos de bem-estar psicológico, com valores elevados na solidão/insatisfação (M
= 1.52; DP = .35) e na agitação (M = 1.45; DP = .33).
Em relação ao suporte social, no que respeita ao número, ou seja, a quantidade de suporte
que percecionam, constata-se que este é muito baixo (M = 1.49; DP = .87), apesar do grau de satis-
fação face à qualidade do suporte ser elevado (M = 5.27; DP = 1.09). Estes resultados indiciam que
os idosos estão satisfeitos com o suporte social que recebem, embora este seja proporcionado por
poucas pessoas (Tabela 1).
TABELA 1
Análise descritiva da resiliência, satisfação com a vida, bem-estar subjetivo, bem-estar psicológico e do
suporte social
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A saúde dos idosos foi avaliada de forma subjetiva, ou seja, foi uma autoavaliação da perce-
ção que os idosos têm sobre a sua saúde. A análise descritiva indica que 50.0% (n = 92) considera
a sua saúde como “média”, 25.0% (n = 46) como “ruim” e 25.0% (n = 46) como “boa”.
A análise das correlações entre as variáveis em estudo e a idade revela alguns resultados
estatisticamente significativos (Tabela 2) Relativamente à idade, não foram encontradas diferen-
ças estatisticamente significativas em relação à resiliência e à dimensão cognitiva do bem-estar
subjetivo. Verificaram-se, contudo, algumas correlações negativas sendo que conforme a idade
aumenta, os afetos positivos tendem a diminuir (r = -.282; p = .014), os idosos apresentam menor
número de suporte social (r = -.384; p < .001) e, ainda, apresentam atitudes menos positivas face
ao envelhecimento (r = -.234; p = .036).
Assinale-se que, com o aumento da idade, aumenta a solidão e insatisfação (r = .445; p < .001).
Por outro lado, a idade correlaciona-se positivamente com os afetos negativos, ou seja, os afetos
negativos aumentam juntamente com a idade (r = .245; p = .029).
TABELA 2
Análise correlacional entre as variáveis em estudo e a idade
*p<.05, **p<.01
A análise revelou não existirem diferenças relativamente ao género em qualquer das variá-
veis em estudo. Assinale-se, que também não foram encontradas diferenças estatisticamente sig-
nificativas ao nível da resiliência e do bem-estar psicológico, nem no bem-estar subjetivo, em
função do estado civil, com exceção dos afetos negativos da dimensão afetiva do bem-estar sub-
jetivo (F(3.84) = 2.89; p = .042), e da quantidade de suporte social (F(3.84) = 3.47; p = .021).
A análise post-hoc, através do teste de Tukey, revelou que as diferenças ao nível dos afetos
negativos resultam da comparação entre os participantes viúvos com os casados/união de facto
(MD = .36; p = .047), ou seja, os idosos que apresentam maior número de afetos negativos são os
viúvos. Em relação à quantidade de suporte social, quando comparados os participantes casados/
união de facto com os viúvos (MD = .55; p = .046), a diferença recai a favor do primeiro grupo, ou
seja, são os idosos casados/união de facto os que apresentam maior quantidade de suporte social.
No que se refere à situação económica, constata-se que quanto menos satisfatória é a situação
económica, maior é a presença de afetos negativos (r = -.508; p = .002), sendo ainda que, quanto
mais satisfatória é a situação económica, maior o bem-estar subjetivo, relativamente à dimensão
cognitiva (r = .428; p = .002). Assinale-se que, relativamente ao bem-estar psicológico, quando a
situação económica é percecionada como mais satisfatória, maiores os níveis de solidão/insa-
tisfação (r = .479; p = .003) e de agitação (r = 384; p = .010), ou seja, menor o bem-estar psico-
lógico. Verifica-se, contudo, que as atitudes face ao envelhecimento são mais positivas quanto
mais satisfatória é a situação económica (r = .298; p <. 001), sugerindo níveis mais elevados de
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bem-estar psicológico. A análise relativa ao suporte social, permite constatar que, quanto mais
satisfatória é a situação económica, maior a quantidade de suporte social percecionado (r = .421;
p = .002). A resiliência não apresentou relação com a situação económica.
No que concerne à avaliação da saúde, verifica-se que esta não se encontra relacionada com
a dimensão cognitiva do bem-estar subjetivo, mas encontra-se significativamente relacionada,
quer com os afetos positivos (r = .284; p = .002), como com os afetos negativos (r = -.374; p = .001),
sendo que nos afetos negativos a relação é inversa. Neste sentido, os idosos que percecionam a
sua saúde como melhor apresentam mais afetos positivos, e menos afetos negativos. A análise à
resiliência, revela que a escala MSR está relacionada com a perceção de saúde, isto é, a resiliên-
cia tende a apresentar valores mais positivos quando há uma perceção mais positiva também da
saúde (r = .324; p = .004).
Relativamente ao bem-estar psicológico, constata-se que, quanto melhor a perceção de
saúde, mais positivas são as atitudes face ao envelhecimento (r = .427; p < .001), indicando
maior bem-estar psicológico. De assinalar, contudo, quanto melhor a perceção da saúde, maio-
res são, também, os sentimentos de solidão, insatisfação (r = .387; p < .001) e de agitação (r =
.322; p = .001), ou seja, o bem-estar psicológico é menor. A análise permite ainda assinalar que
a perceção da saúde é tanto mais positiva quanto maior é a quantidade de suporte social per-
cecionado (r = .321; p = .010).
A análise às relações entre a resiliência e o fator institucionalização, revela que a resiliência
desenvolvida na infância (MCR) se relaciona negativamente com a institucionalização (r = -.283;
p = .003), sugerindo que os idosos que apresentam valores mais elevados de resiliência são os ido-
sos que estão institucionalizados (Tabela 3). Relativamente à componente cognitiva do bem-estar
subjetivo, os resultados demonstraram uma correlação positiva e significativa com a institucio-
nalização (r = .344; p = .002), indicando que os indivíduos não institucionalizados revelam maior
satisfação com a vida (Tabela 3).
TABELA 3
Análise correlacional da Resiliência, Bem-estar subjetivo, Bem-estar psicológico, e Suporte social em
relação à institucionalização e regime de institucionalização
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Resiliência, Saúde percebida, Bem-estar Subjetivo e Psicológico e Suporte social em Idosos Institucionalizados
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p < .001), ou seja, os idosos institucionalizados apresentam mais afetos negativos. No que respeita
ao bem-estar psicológico, a dimensão das atitudes face ao envelhecimento revela uma correlação
positiva e significativa (r = .321; p = .004), indicando que são os idosos não-institucionalizados que
apresentam atitudes mais positivas, ou seja, têm níveis mais elevados de bem-estar psicológico.
Também, a dimensão da solidão/insatisfação apresenta, uma correlação positiva e significativa
(r = .522; p < .001), indicando, inversamente, que são os idosos não-institucionalizados que apre-
sentam maiores níveis de solidão e insatisfação, ou seja, menor bem-estar psicológico.
Os resultados demonstraram que a quantidade de suporte social se encontra correlacionada
positivamente com a institucionalização (r = .439; p < .001), indicando que os idosos que apresen-
tam maior suporte social são os idosos não-institucionalizados.
De assinalar, que no que se refere ao regime de institucionalização (i.e., se os idosos estão
institucionalizados em Lar ou em Centro de Dia), se verifica uma correlação significativa e posi-
tiva com os afetos positivos da componente afetiva do bem-estar subjetivo (r = .387; p = .006),
indicando que os idosos que frequentam Centro de Dia apresentam mais afetos positivos que os
idosos que estão institucionalizados no Lar.
A análise entre as variáveis psicológicas e o tempo de institucionalização, não revelou
nenhuma correlação significativa, evidenciando que, neste grupo amostral, o tempo não influen-
cia a resiliência, o bem-estar e o suporte social dos idosos (Tabela 3).
Da análise às correlações entre as várias variáveis em estudo, constata-se que os idosos com
valores mais elevados de resiliência na escala MCR (resiliência desenvolvida enquanto criança)
apresentam mais afetos positivos (r = .352; p = .001). Por sua vez, os idosos que apresentam valo-
res mais elevados na escala MSR (resiliência atual), demonstram maior satisfação com a vida
(r = .428; p < .001), apresentando mais afetos positivos (r = .548; p < .001) e menos afetos negativos
(r = -.284; p = .001).
No que se refere à dimensão cognitiva do bem-estar subjetivo encontra-se significativamente
correlacionada negativamente com os afetos negativos da componente afetiva, ou seja, os idosos
que apresentam valores elevados de satisfação com a vida, apresentam menos afetos negativos
(r = -.340; p = .001).
Relativamente ao suporte social, nomeadamente à dimensão da quantidade, correlaciona-se
positivamente com a escala MSR, sendo que, quanto maior o número percecionado de suporte
social, maior a resiliência (r = .346; p = .001). No mesmo sentido, constata-se que uma quantidade
maior de suporte social se correlaciona com níveis elevados da dimensão cognitiva do bem-estar
subjetivo (r = .382; p < .001). No que concerne à dimensão afetiva do bem-estar subjetivo, assina-
la-se uma relação positiva com o suporte social relativamente aos afetos positivos (r = .299; p =
.004) e uma relação negativa no que se refere aos afetos negativos (r = -.253; p = .003), ou seja, os
idosos que apresentam uma maior quantidade de suporte social apresentam mais afetos positi-
vos e menos afetos negativos.
No que se refere à dimensão da qualidade do suporte social, constata-se a presença de cor-
relações estatisticamente significativas e positivas com a escala MSR da resiliência (r = .323; p =
.003), com a dimensão cognitiva do bem-estar subjetivo (r = .234; p = .001) e com os afetos positi-
vos da dimensão afetiva do bem-estar subjetivo (r = .299; p = .004). Estes resultados sugerem que,
quanto maior a perceção da qualidade do suporte social recebido, maiores são os valores ao nível
da resiliência, mais bem-estar subjetivo e mais afetos positivos os idosos apresentam.
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TABELA 4
Regressão linear múltipla
Coeficientesa
Coeficientes não Coeficientes t Sig.
padronizados padronizados
B Std. Error Beta
(Constant) 2.488 .697 3.534 .001
PANAS Afetos positivos .279 .063 .456 4.484 .000
PANAS Afetos negativos -.179 .101 -.198 -1.772 .082
SWLS .088 .064 .158 1.392 .173
SSQ6 Quantidade .058 .063 .095 .896 .377
SSQ6 Qualidade .020 .048 .038 .373 .718
PGCMS Solidão/Insatisfação .141 .238 .095 .585 .569
PGCMS Atitudes envelhecimento .152 .189 .098 .796 .437
PGCMS Agitação -.128 .178 -.084 -.727 .478
Idade .012 .008 .168 .1.582 .126
Género -.134 .106 -.114 -1.272 .210
F 6.543
R2a .488
A análise individual dos contributos dos preditores revela que apenas uma variável é estatis-
ticamente significativa, nomeadamente os afetos positivos da componente afetiva do bem-estar
subjetivo (β = .456, p < .001). Assim, é possível concluir que, na presente amostra de idosos os
afetos positivos predizem a resiliência (Tabela 4).
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4. DISCUSSÃO
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No que diz respeito à situação económica, os resultados indicam que quanto mais os indi-
víduos se encontram satisfeitos com a sua situação, maiores níveis de bem-estar subjetivo (i.e.,
componente cognitiva). Este resultado é corroborado por Argyle (2003), que indica que a satisfa-
ção com a vida é influenciada pela satisfação com a situação económica. Assinale-se ainda que
os idosos que percecionam a sua situação económica como mais insatisfatória, tendem a apre-
sentar mais afetos negativos. Ainda neste âmbito, verificou-se que os idosos que percecionam a
sua situação económica como mais satisfatória apresentam, também, atitudes mais positivas face
ao envelhecimento.
Quanto à avaliação subjetiva que os idosos fazem da sua saúde, verificou-se que quanto mais
positiva for a perceção de saúde, maior a presença de afetos positivos, resultado corroborado por
Fredrickson (2003) que chama a atenção para que as emoções influenciam, ainda de que forma
indireta, a saúde. Os resultados do presente estudo também mostraram, em sentido oposto, que
quanto mais positiva é percecionada a saúde, menor a presença de afetos negativos.
Uma perceção positiva da saúde relaciona-se também com a resiliência (escala MSR) e com a
quantidade de suporte social, sendo que, quanto maior o suporte social percecionado pelo idoso,
mais positiva é a perceção que este faz da sua saúde, resultado que vai ao encontro do defendido
por Fontes et al. (2015), que afirmam que o apoio social tem a capacidade de produzir efeitos
benéficos na saúde (quer física, quer mental). A perceção positiva da saúde também se relaciona
com valores mais elevados de resiliência, o que é corroborado por Gooding et al. (2012) e Fontes
et al. (2015), que referem que perceções mais baixas do nível de saúde preveem resultados igual-
mente mais baixos na resiliência. A avaliação positiva da saúde relaciona-se, ainda, com atitudes
mais positivas face ao envelhecimento, o que se constitui como um índice positivo de bem-estar
psicológico.
A análise aos resultados obtidos permite concluir que os indivíduos não institucionalizados
apresentam uma maior satisfação com a vida (i.e., componente cognitiva do bem-estar subjetivo),
atitudes mais positivas face ao envelhecimento, ou seja, mais bem-estar psicológico e, ainda,
maior número de suporte social. Contudo, são também os idosos não institucionalizados os que
apresentam maiores níveis de solidão/insatisfação e consequente menor bem-estar psicológico,
o que poderá indicar que os outros idosos da instituição contribuem para a diminuição do senti-
mento de solidão/insatisfação. Por sua vez, os idosos institucionalizados apresentam mais afetos
negativos (i.e., componente afetiva do bem-estar subjetivo).
Desta forma, a institucionalização, embora possa trazer alguns aspetos positivos, no presente
estudo, pode ser encarada como um fator de algum risco, uma vez que são os indivíduos não ins-
titucionalizados que apresentam resultados mais positivos. Com efeito, Paiva (2008) afirma que
a institucionalização tende a desfazer alguns dos laços que o idoso mantinha com a sociedade,
o que poderá explicar o facto de que são os idosos que não se encontram em situação de institu-
cionalização que apresentam um maior número de suporte social. De igual modo, a instituciona-
lização pode acarretar um conjunto de perdas que podem contribuir para o aumento dos afetos
negativos, o que se verifica no presente estudo.
Relativamente à resiliência, verificou-se que esta apenas se relaciona negativamente com a
institucionalização na subescala MCR, o que indica que os idosos que apresentam valores mais
elevados na resiliência são os idosos que se encontram institucionalizados. Este resultado poderá
ser justificado no sentido em que, não obstante a institucionalização funcione como fator de
risco, a resiliência que estes idosos desenvolveram parece permitir-lhes que, não obstante mais
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estas adversidades se apresentem como resilientes. Assinale-se que estes idosos apresentam uma
maior resiliência do que os não institucionalizados, o que está também de acordo com a teoria da
resiliência que afirma que esta se desenvolve a partir de situações de risco (Martins, 2015).
Refira-se ainda as principais conclusões relativas ao regime de institucionalização, em que
os idosos que frequentam Centro de Dia apresentam mais afetos positivos que os idosos que fre-
quentam a valência de Lar. Com efeito, também Azeem e Naz (2015) sublinham o facto de a ins-
titucionalização ser uma transição de vida extremamente importante para o idoso, pois exige a
adaptação a novos papéis, relações e espaços.
Em relação ao tempo de institucionalização, apesar da amostra recolhida apresentar uma
grande variedade relativamente a este aspeto (i.e., varia de 3 meses a 13 anos), este não se mos-
trou significativamente relacionado com nenhuma das variáveis psicológicas em estudo. Este
resultado vai ao encontro do estudo realizado por Carvalho e Dias (2011), que concluíram, igual-
mente, que o tempo de permanência na instituição não se encontra relacionado com uma boa ou
má adaptação.
De acordo com a análise das variáveis que influenciam positivamente e predizem a resiliên-
cia nos idosos, podemos concluir que das variáveis consideradas em equação, os afetos positivos
(da componente afetiva do bem-estar subjetivo) são o único preditor da resiliência dos idosos em
estudo. Assim sendo, os idosos resilientes apresentam mais afetos positivos, apresentando estes
uma influência direta sobre o seu nível de resiliência.
Atendendo a que a resiliência pode ser conceptualizada como um processo que permite ao
indivíduo ultrapassar as adversidades de modo bem-sucedido (Martins, 2015), existindo duas
componentes essenciais para que a resiliência se desenvolva, os fatores de risco e fatores de pro-
teção poderemos concluir que a afetividade positiva se constitui como um importante fator de
proteção que contribui para o desenvolvimento da resiliência.
Nesta linha de pensamento, é de referir o estudo de Wiles et al., (2012), que demonstraram
que o envelhecimento resiliente se relaciona, entre outros fatores, com uma atitude positiva. Com
efeito, o presente estudo identificou os afetos positivos como os preditores de resiliência neste
grupo de idosos.
Não obstante, torna-se importante refletir sobre a importância do suporte social, uma vez
que na literatura científica da área, esta variável é apontada como relevante, no sentido de que
quanto maior o suporte social, maiores os resultados ao nível da resiliência (Ferreira et al., 2012).
Neste sentido, pode referir-se que um dos três principais fatores na definição de envelhecimento
bem-sucedido é a manutenção do relacionamento social. Efetivamente, também na presente
investigação os resultados indicam que, quanto maior o suporte social percecionado (quer ao
nível da quantidade, quer da qualidade), mais resiliência os idosos apresentam. Não obstante,
ao analisar o modelo preditivo, verificamos que o suporte social não apresenta resultados esta-
tisticamente significativos na predição da resiliência dos idosos, o que se poderá justificar na
medida em que, apesar de estas variáveis se relacionarem mutuamente, não existe uma relação
de influência entre elas, ou seja, o suporte social, por si só, não prediz uma maior resiliência, o
que também está em consonância com as teorias sobre a resiliência que postulam que esta tem
na sua base um conjunto diversificado de diversos fatores de proteção que equilibram os fatores
de risco (Martins, 2015; Shoaib et al., 2011).
Importa, ainda, referir a Teoria do Desenvolvimento e do Envelhecimento de Baltes (life-s-
pan) (Baltes & Smith, 2009), e as atuais teorias contextuais desenvolvimentais que defendem que
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O presente estudo teve como principal objetivo analisar as relações entre a resiliência, a
perceção de saúde, o bem-estar subjetivo e psicológico e o suporte social e a sua contribuição na
adaptação ao envelhecimento em idosos institucionalizados e não-institucionalizados. Quatro
importantes conclusões emergiram deste estudo, nomeadamente:
– Idosos com maiores níveis de resiliência apresentaram atitudes mais positivas em relação
ao envelhecimento (bem-estar psicológico);
– Idosos com uma perceção mais positiva da sua saúde, revelaram níveis mais elevados de
resiliência e atitudes mais positivas perante o envelhecimento;
– À medida que a idade aumenta, os idosos apresentam atitudes menos positivas em relação
ao envelhecimento, maiores sentimentos de insatisfação solitária e uma perceção menos
positiva da sua saúde;
– Os idosos não institucionalizados revelaram atitudes mais positivas face ao envelheci-
mento e perceções mais positivas sobre sua saúde.
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e Não-institucionalizados
necessário ainda um investimento no estabelecimento das relações sociais, tanto dentro da ins-
tituição, quanto na comunidade e sobretudo na família, sendo que os idosos institucionalizados
e não institucionalizados precisam de ambientes onde possam continuar a desenvolver-se e a
viver a sua vida, mantendo-se ativos e saudáveis, encorajando a sua contribuição na comunidade
(Chisholm et al., 2020; Fullen et al., 2018).
Diversas limitações do presente estudo devem ser destacadas. Em primeiro lugar, a nossa
pesquisa foi conduzida apenas na região sul de Portugal. Embora haja uma especificidade cul-
tural de configurações de lares de idosos, há que ter atenção o generalizar os nossos resultados.
Foram utilizados instrumentos respondidos pelos idosos, de autorrelato, sendo que estes não
estão isentos de limitações, como relatos imprecisos e viés de desejabilidade social. Outra impor-
tante limitação advém do menor número de participantes do género masculino impedir análises
baseadas em subgrupos de género. Outra limitação está relacionada com a amplitude de idades,
sendo que o número de sujeitos pelas diferentes idades dificultou a organização de grupos por
intervalos etários. Importa ainda referir que, embora tenhamos hipotetizado relações causais no
modelo por nós definido, a natureza transversal do estudo dificultou apresentarmos conclusões
causais. A última limitação é que não foi efetuada uma análise mediacional. Teria sido impor-
tante analisar algumas variáveis que podem funcionar como mediadoras de uma maior resiliên-
cia e maior satisfação face ao envelhecimento e institucionalização, sugerindo-se o seu estudo
em pesquisas futuras. Aliás, é nosso entender que pesquisas futuras devem ter em atenção as
limitações identificadas.
Não obstante tal, os resultados encontrados encorajam o desenvolvimento de novas formas
de pensar a vida nos lares de idosos, ressaltando o importante papel que estes devem ter, assu-
mindo intervenções que apoiem o desenvolvimento de comportamentos de promoção de saúde
e qualidade de vida, otimizando os recursos emocionais, psicológicos e institucionais para o
desenvolvimento da resiliência e qualidade e satisfação com a vida no envelhecimento.
Fundamental ainda a promoção de iniciativas e práticas que visem reduzir a prevalência e o
impacto das doenças crónicas e da redução das capacidades físicas e mentais nas pessoas idosas,
melhorando o acesso aos serviços de saúde e de cuidado; incentivar o desenvolvimento de ini-
ciativas para a promoção da autonomia das pessoas idosas, através de uma educação e formação
ao longo do ciclo de vida focando a promoção da literacia em saúde. Importa ainda incentivar a
criação de ambientes físicos e sociais protetores e potenciadores da integração e participação das
pessoas idosas, apoiando o desenvolvimento de iniciativas e práticas que visem a promoção do
bem-estar e segurança das pessoas idosas e fomentar a investigação científica na área do enve-
lhecimento ativo e saudável.
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