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PROCESSOS

GRUPAIS
Intervenção
grupal no contexto
da saúde
Lucrécia Aída de Carvalho

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Reconhecer o papel dos grupos na saúde.


> Identificar as possíveis demandas para intervenção grupal no contexto da
saúde.
> Exemplificar a intervenção grupal no contexto da saúde.

Introdução
A proposição de grupos no contexto da saúde é um tipo de prática terapêutica
com raízes no século XX (ZIMERMAN, 1997a). Nesse contexto, muitas contribuições
teóricas foram apresentadas para robustecer o referencial teórico e expandir
os horizontes de aplicação de grupos dentro de práticas clínicas e hospitalares.
Com isso em vista, é necessária a apreensão das noções de aplicação de
grupos em unidades de saúde, clínicas médicas e hospitais, a fim de relacionar a
prática psicoterapêutica dentro desse âmbito de atuação. Assim, oportunizar a
compreensão dessa temática é importante para a assimilação das atividades que
o profissional da psicologia pode desempenhar ao considerar a esfera da saúde.
Neste capítulo, você vai ver o papel dos grupos dentro do âmbito da saúde. Além
disso, vai conhecer as possíveis demandas para intervenção grupal no contexto
tratado. Por fim, vai estudar exemplos de intervenção grupal na área da saúde.
2 Intervenção grupal no contexto da saúde

Importância da intervenção grupal na saúde


Para compreender como se dão as intervenções grupais em ambientes re-
lacionados à saúde, é necessário entender as contribuições dos principais
autores que trouxeram consistência ao papel dos grupos nesse cenário. Assim,
conforme indica Zimerman (1997a), o médico tisiologista estadunidense Joseph
H. Pratt, em 1905, foi o pioneiro na elaboração de grupos terapêuticos com
pacientes acometidos de tuberculose.
O médico juntou um grupo de 50 pessoas em uma enfermaria, criando
intuitivamente o método de classes coletivas. Pratt ministrava aulas sobre
higiene pessoal e problemas relacionados à tuberculose. Após essa exposição,
os pacientes perguntavam sobre suas dúvidas e discutiam essa temática com
o médico, que premiava os pacientes que se engajavam na discussão e na
adoção das práticas higienodietéticas com a possibilidade de se sentar nas
primeiras filas da sala de aula (ZIMERMAN, 1997a).
Outro importante teórico da área da saúde que contribuiu para a com-
preensão dos fenômenos coletivos foi Sigmund Freud. O médico e psicanalista
alemão contribuiu com seus estudos seminais sobre a coletividade nos traba-
lhos As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica (1910), Totem e tabu
(1913), Psicologia das massas e análise do ego (1921), O futuro de uma ilusão
(1927) e Mal-estar na civilização (1930) (ZIMERMAN, 1997a). Esses cinco trabalhos
de Freud, de acordo com Zimerman (1997a), ajudaram na compreensão da
relação de ações do inconsciente com a prática social, estabelecendo noções
de poder institucional sobre as massas, forças que influenciam na coesão ou
desagregação de grupos e processos identificatórios (introjetivos e projetivos).
Além de Pratt e Freud, Jacob Moreno, médico romeno, foi o responsável
por introduzir a expressão “terapia de grupo” (ZIMERMAN, 1997a). Devido ao
seu amor pelo teatro, Moreno foi o responsável pela criação da abordagem
psicológica do psicodrama, o que conferiu um caráter maior de socialização
às práticas clínicas desempenhadas por atores da saúde (ZIMERMAN, 1997a).
Outros teóricos de viés psicanalítico contribuíram para as formulações
de contexto grupal, como o psicanalista britânico Wilfred Bion, pioneiro na
sistematização de dinâmicas de grupo. Contudo, foi Enrique Pichon-Rivière,
psiquiatra e psicanalista franco-suíço radicado na Argentina, quem abriu a
intervenção grupal para contextos diferentes dos de saúde, como para o
processo de ensino e aprendizagem (ZIMERMAN, 1997a). Assim, o psiquiatra
partiu de seu esquema conceitual-referencial-operativo (ECRO) para apro-
fundar o estudo de fenômenos psicológicos que surgem com a finalidade não
terapêutica, mas com o intuito de chegar a determinado objetivo.
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De acordo com o modelo teórico-metodológico de Wilfred Bion, o


grupo se movimenta em dois planos: o grupo de trabalho e o grupo
de pressupostos básicos. No grupo de trabalho, verifica-se o plano da ação
consciente voltada a um objetivo específico. No grupo de pressupostos básicos,
indica-se o plano da ação inconsciente, ou seja, são as manifestações clínicas
de pulsões e fantasias inconscientes que operam na lógica do dinamismo de
cada sujeito da interação (ZIMERMAN, 1997a).

De acordo com Pichon-Rivière (2005), os estudos de intervenção grupal


partiam de um conhecimento lógico-formal, e isso gerou um certo binarismo
nas análises psicoterapêuticas. Em trabalhos contemporâneos, acrescentou-se
a lógica dialética como método de análise das intervenções, o que permitiu a
verificação de processos contínuos e não excludentes. Nesse ensejo, é possível
verificar o processo de exposição de teses e antíteses vindas de grupo, o que
resulta em sínteses que darão abertura para novas teses e antíteses, criando
um panorama espiralado de alcance de objetivos grupais. Isso significa que,
ao analisar um grupo, é possível verificar certos comportamentos inconsis-
tentes ou paradoxais entre os participantes, mas esses comportamentos são
acolhidos e é escolhido um objetivo em comum entre o grupo, aceitando o
resultado advindo desse contexto.
Além disso, com sua teoria, Pichon-Rivière foca no vínculo trabalhado
no contexto grupal. Isso significa que do vínculo surgirá o instrumento ade-
quado para apreender a realidade dos objetos. Assim, o vínculo se constitui
como uma estrutura complexa em um sistema que contém transmissor e
receptor, mensagem, canal, símbolos e ruído. O ponto nevrálgico nessa
estrutura é a similitude no esquema conceitual, referencial e operativo
entre transmissor e receptor, de modo que os integrantes do grupo te-
nham o mesmo contexto para conseguir alcançar os objetivos pretendidos
(PICHON-RIVIÈRE, 2005).
No contexto de saúde, Pichon-Rivière (2005) aponta que é necessário
desconstruir a noção de patologia, visto que essa perspectiva retoma a ideia
binária de sujeito saudável e sujeito adoecido. Para tanto, o trabalho proposto
pelo psicanalista passa pela adaptação ativa à realidade, para que se possa
ter a aprendizagem por parte do indivíduo. Assim, para que a aprendizagem
ocorra, é necessário o confronto, o manejo e a solução integradora dos con-
flitos. Para Pichon-Rivière (2005), a saúde mental consiste nesse processo,
e a rede de comunicações é constantemente reajustada. Isso acontece para
que possa haver a elaboração do pensamento crítico e propício de diálogo
com o outro e de confronto com a mudança.
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Com base nas considerações de Pichon-Rivière, é possível verificar que


a interação do indivíduo com o grupo possibilita a resolução de questões
clínicas. Assim, o grupo exerce um papel importante na recuperação de
determinadas situações consideradas patológicas do ponto de vista médico.
A condução do grupo de forma dialética propicia a assimilação dos confron-
tos existentes e a possível síntese advinda desse processo. De acordo com
Pichon-Rivière (2005), é nesse contexto que é possível sanar as questões
dos partícipes, propiciando novas aprendizagens e novas possibilidades de
analisar futuros confrontos.
Nesse contexto, os grupos operativos são uma formulação proposta
por Pichon-Rivière (2005), que estruturou e sistematizou a estrutura teórica
desse constructo. Assim, Fiscmann (1997) aponta que todo grupo operativo
é terapêutico, mas nem todo grupo terapêutico é operativo.
Segundo Pichon-Rivière (2005), o grupo operativo é um instrumento de
trabalho que, em última instância, cumpre uma função terapêutica. O autor
aponta a grande importância do vínculo criado dentro do grupo, além de
enunciar alguns conceitos, como porta-voz, depositário, depositante e de-
positado. A história pessoal do indivíduo é considerada até o momento de
sua afiliação ao grupo, e a história social desse grupo é considerada até o
momento em que ele se desenvolve.

A discussão sobre a adoção de grupos operativos é um tema em


constante construção. A obra O processo grupal, de Enrique Pichon-
-Rivière (2005), apresenta as sistematizações propostas pelo autor e oferece
um maior arsenal teórico para o processo de intervenção grupal.

Conforme aponta Fiscmann (1997), para que um grupo evolua no propósito


da resolução da tarefa pretendida, é necessária a explicitação das fantasias
universais, para possibilitar que o processo de mudança aconteça. Assim,
Fiscmann (1997, p. 96) afirma que “quanto mais plásticos forem os papéis,
mais saudável é o grupo, e quanto mais estereotipados forem esses mesmos
papéis, mais patológico ele se torna”.
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Assim, os grupos operativos se dão pela troca entre os participantes, em


que cada um traz à tona suas vivências e cria vínculos com os demais. Ainda,
na assunção de uma tarefa clara, os indivíduos são direcionados à finalização
e ao alcance do objetivo proposto. Ao final da intervenção grupal, os sujeitos
são convidados a tomar as ações até então desenvolvidas em retrospecto,
observando claramente os sucessos alcançados por cada um. A possibilidade
de atuação profissional em grupos operativos é grande, e essa prática é eficaz
no tratamento em diversas situações.
Nesta seção, vimos a importância dos grupos no contexto da saúde e
conhecemos alguns dos principais autores que teorizaram sobre essa questão.
Entre as questões estudadas, destaca-se o referencial teórico-metodológico
de Pichon-Rivière, que apresenta contribuições significativas para a despa-
tologização no contexto da saúde.

Demandas por intervenções grupais no


âmbito da saúde
Seguindo os pressupostos de Pichon-Rivière (2005), o profissional pode iniciar
grupos operativos em contextos relacionados à saúde pública, hospitais e
clínicas particulares. Existem algumas demandas que podem requerer um
olhar mais atento aos indivíduos, por isso a constituição do grupo deve ser
analisada individualmente, considerando cada caso.
Em geral, há algumas demandas recorrentes no contexto de saúde. De
acordo com Zimerman (1997a), os casos relacionados a álcool, drogas, tabaco,
transtornos mentais, obesidade e enlutamento são algumas possibilidades
de intervenção do psicólogo. Veja a seguir como algumas dessas demandas
são trabalhadas dentro das intervenções grupais.

Álcool e drogas
Uma das demandas mais comuns é a relacionada ao abuso de álcool. Segundo
o Ministério da Saúde, o atendimento de maior prevalência nos Centros de
Atenção Psicossocial (Caps) em 2021 foi em relação ao abuso de álcool e
drogas. Em relação ao ano de 2020, houve um aumento significativo de 12%
dessa população dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) (QUEIROZ, 2022).
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O grupo internacionalmente conhecido como Alcoólicos Anônimos


(AA) é uma irmandade que congrega portadores de alcoolismo. O AA
foi criado na década de 1930, em Akron (Ohio), nos Estados Unidos, pelo corretor
da bolsa de valores de Nova York Bill W. e pelo cirurgião Dr. Bob S. O AA, apesar
de não se vincular a qualquer religião ou seita, acredita ser impossível vencer o
alcoolismo sem a proteção de um ser superior ou de um ente supremo que ajude
o alcoolista a manter a sobriedade. Assim, o AA tem procedimentos específicos
e delimitados aos indivíduos que fazem parte do grupo. Os mediadores das
reuniões geralmente são pessoas que passaram pelo procedimento do AA e estão
sóbrias por tempo suficiente para serem reconhecidas perante a comunidade
(O INÍCIO do AA..., [2022]).

Algumas ações podem ser realizadas para que o tratamento da população


que sofre com o alcoolismo e o abuso de drogas seja satisfatoriamente abran-
gido dentro do sistema de saúde. Além das instituições mais conhecidas, como
AA ou Narcóticos Anônimos (NA), que estão relacionadas a uma metodologia
específica com preceitos religiosos que centram as ações, existem pesquisas
de grupos de intervenção que conseguem atender a essa população.

Tabaco
Assim como no caso de álcool e drogas, grupos operativos para a abstinência
de tabaco também são possíveis dentro do contexto da saúde. De acordo
com García-Gómez et al. (2019), o tabagismo é responsável pela morte de 8
milhões de pessoas por ano. Além disso, a dependência à nicotina é um fator
preponderante em aproximadamente 50 doenças incapacitantes e fatais.

De acordo com o site do Instituto Nacional de Câncer José Alencar


Gomes da Silva (Inca), o Inca:
[...] é o órgão do Ministério da Saúde responsável pelo Programa Nacional de Controle
do Tabagismo (PNCT) e pela articulação da rede de tratamento do tabagismo no
SUS, em parceria com estados e municípios e Distrito Federal. A rede foi organizada
seguindo a lógica de descentralização do SUS para que houvesse o gerenciamento
regional do programa tendo como premissa a intersetorialidade e a integralidade
das ações. Cabe lembrar que desde 1989, o Inca desenvolve ações voltadas para o
tratamento do tabagismo (TRATAMENTO do tabagismo, 2022, documento on-line).
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Para atuar com pessoas dependentes de nicotina, é possível criar grupos


operativos para a psicoeducação e conscientização do uso dessa substância,
de modo a tornar as pessoas capazes de manter uma abstinência ativa sobre
o tabaco.

Outras demandas de atuação


De acordo com dados do Ministério da Saúde, a hipertensão é uma doença
crônica que atinge cerca de 38 milhões de pessoas no país (PAGNO, 2021). Ainda,
há dados que demonstram que, em 2019, foram realizadas mais de 28 milhões
de consultas na atenção primária e registradas 52 mil internações relacionadas
à hipertensão (PAGNO, 2021). As iniciativas para o tratamento dessa doença
perpassam pelo reforço dos cuidados em relação à adoção de hábitos saudáveis.
Já o levantamento de uma plataforma de saúde mental aponta a prevalência
de estresse extremamente severo em 37% das pessoas e de depressão em 59%
delas. Ainda, segundo os dados da International Stress Management Association
(Isma-BR), 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do estresse,
um dos primeiros sinais da síndrome de burnout (PASSOS, 2019).
Onde há demanda psicológica, há a possibilidade de atuação em grupos.
De acordo com Zimerman (1997a), existem grupos de ajuda para o tratamento
de ansiedade e estresse, o que auxilia na contenção desses transtornos e
melhora a qualidade de vida das pessoas. Para além dos grupos de ajuda, o
profissional da psicologia pode desenvolver grupos operativos com o viés de
promoção de saúde e psicoeducação da população que necessita de amparo.
Os campos de atuação são vastos, e nesta seção citamos apenas algumas
das inúmeras possibilidades de intervenção grupal no contexto da saúde.
Vale ressaltar que a atuação psicológica não se restringe à intervenção sobre
fenômenos psicológicos, podendo também ser usada para fenômenos ligados
ao abuso de substâncias e ao estilo de vida de quem necessita de atendimento.

Processo de atuação do psicólogo da saúde


em intervenções grupais
A intervenção grupal é uma prática que requer planejamento e compreensão
do contexto em que os indivíduos da ação estão inseridos. Os ambientes de
intervenção são diversos, incluindo a saúde pública, os hospitais e as clínicas
particulares. Além disso, como vimos, as demandas levantadas também são
diversas: álcool, drogas, tabaco, transtornos mentais, hipertensão, enluta-
mento, etc.
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A intervenção de grupos operativos é a prática mais comum referente à


atuação de psicólogos (ZIMERMAN, 1997a). No entanto, segundo a autora, além
dos grupos operativos, há outros grupos que podem ser formados, como os
de autoajuda, terapêuticos, comunitários, entre outros.

Fundamentos técnicos para a intervenção grupal


As intervenções têm caráter polimorfo e com múltiplas possibilidades de
atuação. Contudo, Zimerman (1997b) pontua que há alguns fundamentos
técnicos comuns às mais diversas atuações. Inicialmente, o profissional deve
realizar um planejamento. Segundo a autora, o profissional (ou o grupo in-
terdisciplinar de intervenção) deve responder às seguintes questões, por
exemplo.

„ Quem será o coordenador?


„ Para o que e para qual finalidade o grupo será composto?
„ Para quem ele se destina?
„ Como ele vai funcionar?
„ Onde, em que circunstâncias e com quais recursos o grupo vai se
desenvolver?

O segundo critério a ser considerado é o de seleção e agrupamento. Zimer-


man (1997b) aponta que alguns grupoterapeutas preferem aceitar qualquer
pessoa para a formação do grupo, mas outros preferem adotar uma postura
um pouco mais rígida na seleção dos indivíduos. Assim, é importante estar
atento às indicações e contraindicações do grupo, verificar o grau de moti-
vação dos participantes e verificar possíveis impactos em caso de algumas
pessoas abandonarem o grupo (ZIMERMAN, 1997b).
Em seguida, deve-se considerar o enquadre do grupo, que se caracteriza
por ser a “soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e
possibilitam o funcionamento grupal” (ZIMERMAN, 1997b, p. 35). Isso significa
considerar, por exemplo, o local das reuniões, os horários, a periodicidade,
os honorários (caso seja aplicável), o número médio de participantes, etc.
Além disso, deve-se considerar o manejo dos aspectos de transferências.
O coordenador do grupo deve estar atento aos quatro níveis de transferência
grupal: do indivíduo para com seus pares; de cada integrante em relação à
figura do coordenador; de cada um para o grupo como uma totalidade; e do
todo grupal em relação ao coordenador (ZIMERMAN, 1997b).
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Adiante, os proponentes do grupo devem considerar o manejo dos actings.


De acordo com Zimerman (1997b), os actings (ou atuações) são comuns no
contexto da intervenção grupal. Cabe ao coordenador reconhecer os actings
como a representação de determinado comportamento que acontece como
substituição de sentimentos não manifestos no plano consciente.
Depois, deve-se ter atenção à comunicação. Nesse sentido, Zimerman
(1997b) aponta que não é apenas a linguagem verbal que importa, mas também
os gestos, os tipos de roupa, os maneirismos, as somatizações, os silêncios,
os choros, entre outras ações.
Outro ponto a ser considerado é a atividade interpretativa. Essa noção
requer que o coordenador do grupo esteja preparado para identificar os
pontos subjetivos que emergirem durante a intervenção, o que requer atenção
ao contexto (ZIMERMAN, 1997b).
As funções do ego também são pontos relevantes para a compreensão
do coordenador. Assim, Zimerman (1997b) aponta que o coordenador deve
estar atento às capacidades de percepção, pensamento, conhecimento, juízo
crítico, discriminação, comunicação e ação dos integrantes do grupo.
Os papéis e os vínculos são pontos de compreensão técnica da intervenção.
Assim, deve-se perceber os papéis que os indivíduos estão desempenhando
no momento da ação, bem como a vinculação que esse ato proporciona aos
participantes (ZIMERMAN, 1997b).
Por fim, deve-se considerar o término da atividade. De acordo com Zimer-
man (1997b), o coordenador do grupo precisa ter clareza do desenvolvimento
das atividades e do progresso que se teve nessa trajetória.
Considerando que a intervenção por meio de grupos operativos é a prática
mais comum no meio da saúde, veja a seguir alguns exemplos de atuação de
profissionais da psicologia. Vamos estudar algumas das principais pesquisas
mais recentes sobre a intervenção grupal e a aplicação no contexto da saúde.

Intervenções na área da saúde


Nos últimos anos, é possível encontrar estudos de caso que apresentam as
principais ações tomadas por mediadores e coordenadores de grupo. Nesse
contexto, o estudo de Faria, Almeida e Moraes (2018) mostra que a intervenção
proposta pelos autores com grupos de 10 pessoas resultou em melhora no
tratamento do uso de álcool e drogas, além de empoderar os indivíduos a
tomarem decisões conscientes e mais adequadas aos objetivos pessoais de
cada integrante.
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Outro estudo, conduzido por Sousa et al. (2021), considerou grupos de 19


pessoas que foram atendidas em uma unidade de acolhimento. De acordo
com os autores, os resultados foram positivos, considerando a implemen-
tação do grupo operativo. Foram pontos relevantes os relatos dos sujeitos
que participaram da intervenção e a mudança de comportamentos que ela
gerou no grupo.
O estudo de Souza et al. (2021) demonstra, por meio de grupos operativos,
a atuação com pessoas dependentes de nicotina que desejam fazer parte das
intervenções. Os autores verificaram melhoras expressivas nos indivíduos,
que conseguiram entender medos e ansiedades relacionadas à dependência
e refletir ações e pensamentos diante do grupo.
Outro estudo sobre grupos operativos, proposto por Pacheco et al. (2019),
foi feito com uma população específica de dependência à nicotina. Os autores
identificaram que, apesar da baixa adesão ao programa, a atuação do grupo
foi eficaz na educação, promoção e recuperação de saúde.
Martins et al. (2019), por exemplo, apresentam um estudo de caso sobre
vivências socioeducativas para a promoção da saúde em idosos. Nesse con-
texto, os autores obtiveram resultados positivos, como ganhos para a saúde
dos idosos, suporte emocional, mais disposição e energia dos participantes
e autopercepção.
Em outro estudo da área da saúde, Carneiro et al. (2020) apresentam um
relato de caso em ação de cuidado em saúde para estudantes e profissio-
nais da saúde no contexto da pandemia de covid-19. Nessa intervenção, os
profissionais propuseram um grupo operativo no formato on-line, e os re-
sultados apresentados tiveram bons indicadores. Essa perspectiva, contudo,
foi desafiadora, pois grupos realizados à distância ainda são um objeto de
estudo de diversos profissionais da área da saúde.
Silva et al. (2018) apresentam uma ação proposta em um grupo operativo
para primigestas, ou seja, para mulheres que experienciam sua primeira
gravidez. As autoras desenvolveram esse trabalho em uma Unidade Básica de
Saúde em Sobral, no Ceará. O grupo operativo se mostrou uma boa estratégia
de educação e pedagogização no contexto de saúde da família, promovendo
bem-estar nas participantes e orientação em relação às questões referentes
à gravidez.
O trabalho proposto por Melgaço et al. (2021) demonstra que grupos ope-
rativos podem ser usados na atenção primária para pessoas hipertensas. Os
indivíduos que participaram desse grupo tiveram grande benefício em relação
à mudança de hábitos e à educação sobre estratégias de enfrentamento da
hipertensão.
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Em geral, conforme apresentado, é possível encontrar diversas pesquisas


e estudos de caso sobre a atuação profissional no contexto da saúde. Esse é
um campo em que psicólogos e profissionais da saúde podem exercer o papel
de agentes promotores de saúde, garantindo a psicoeducação e estratégias
específicas para o contexto em que o grupo está inserido.

Referências
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12 Intervenção grupal no contexto da saúde

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Leituras recomendadas
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www.aaonline.com.br/ver.php?id=137&secao=2. Acesso em: 17 maio 2022.
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https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/tratamento.
Acesso em: 17 maio 2022.

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