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Estudo dirigido para N2 – Psicologia de grupos

1) Como Pichon-Rivière começou a desenvolver suas práticas de grupos


operativos? Quais foram as principais conclusões que ele pôde tirar de suas
práticas iniciais?

R: Pichon-Rivière, que trabalhava como psiquiatra no interior do Hospital de


Las Mercedes em Buenos Aires, ao deparar-se com uma greve de
profissionais da enfermagem, buscou soluções para garantir que os
pacientes continuassem a receber seus tratamentos. Desta forma, elaborou
um trabalho no qual os pacientes mais experientes e comprometidos com
seus tratamentos pudessem auxiliar os pacientes menos experientes e
comprometidos. Com esta prática, pôde perceber que estas parcerias
levaram estes pacientes a maiores colaborações e identificações entre eles,
promovendo sua integração. Este processo contribuiu para o fato de que os
pacientes poderiam aprender uns com os outros e engajar no tratamento de
maneiras novas.

2) Qual o principal objetivo visado no interior dos grupos operativos? Quais


são os fatores envolvidos no trabalho dos grupos operativos que
potencializam este objetivo?

R: O principal objetivo dos grupos operativos é o de promover a mudança,


através da transformação de si, dos outros e do contexto em que o grupo
ocorre. A mudança, que aparece como sinônimo de aprendizagem, significa
uma nova elaboração de conhecimentos sobre si e sobre os outros, e este
processo envolve necessariamente a comunicação e a interação. Ao
estarmos inseridos no grupo, podemos construir objetivos comuns, a partir
da construção de vínculos entre nós, potencializando o sentimento de
pertencimento à ele, e possibilitando a criação de soluções pertinentes e
criativas para os diversos desafios que vão surgindo nestes processos.

3) O que seria a “interação triangular” a partir da teoria do vínculo de Pichon-


Rivière?

R: A partir da nossa interação com outras pessoas, internalizamos o outro e


o outro nos internaliza, sendo esta uma relação mútua. Nos construímos
por meio destas interações, criando histórias vinculares entre nós. Estas
interações, que acontecem entre o eu e o outro, trazem consigo outros
personagens com os quais nos vinculamos, que influenciam nestas
relações. No interior dos grupos isso é importante para que possamos
entender como nos relacionamos e nos vinculamos com as pessoas.

4) No interior dos grupos operativos, ocorre o processo de estruturação,


desestruturação e reestruturação, a partir do aparecimento dos sentimentos
de medo e ansiedade nos membros. Como ocorre este processo e como
ele contribui para o desenvolvimento dos grupos?

R: Um grupo, quando se forma, vai se organizando e estabelecendo formas


de se estruturar, a partir da criação de suas próprias normas e formas de
interagir. Este é o processo de estruturação do grupo. À medida que o
grupo se desenvolve, os membros apresentam, de diferentes maneiras,
medos e ansiedades com relação a este processo, que podem proporcionar
desestruturações no seu interior, e abalar concepções que pareciam já
estar estabelecidas. Este é o processo de desestruturação. Mas se o grupo
consegue, na interação, colocar estes medos e ansiedades na busca de
lidar com eles, é possível se reconstruir, pensar soluções novas e criativas,
reestruturar a forma como vinham se organizando. Este movimento de
discutir os problemas que surgem no interior dos grupos, pensando novas
soluções e perspectivas, abraçando o novo, é o movimento necessário para
atingir a mudança e o aprendizado.

5) Quais as diferenças entre as fases da “pré-tarefa” e da “tarefa” no interior


dos grupos?

R: A fase da “pré-tarefa”, no interior dos grupos operativos, expressa as


resistências dos integrantes do grupo em entrarem em contato uns com os
outros e consigo mesmos, impedindo que ele se desenvolva em torno de
objetivos comuns e atinjam um estado de mudança. Quando o grupo consegue
elaborar as ansiedades básicas e o medo que surge no momento da pré-tarefa,
ele consegue, de fato, buscar desenvolver objetivos comuns, e daí entra na
fase da tarefa.

6) Qual o papel do coordenador no interior dos grupos operativos?

R: O coordenador dos grupos operativos tem como tarefa problematizar os


medos e ansiedades que vão surgindo nas interações entre os membros,
intervindo sempre que necessário para trazer os aspectos da resistência
que muitas vezes estão implícitos. O coordenador deve ter uma escuta
qualificada, indagar as falas dos participantes, direcionando o grupo para a
tarefa comum.

7) Explique o que seria a verticalidade e a horizontalidade no interior dos


grupos operativos.

R: No interior dos grupos operativos, cada membro se faz presentes com


suas características, histórias, personalidades e necessidades, trazendo
sua individualidade para aquele contexto. Os aspectos individuais que os
membros trazem para o interior dos grupos é o que se caracteriza enquanto
verticalidade. A horizontalidade é construída no interior dos grupos, à
medida em que se torna possível construir características, histórias e
necessidades comuns, que todo o grupo vai compartilhar entre si.

8) No interior dos grupos, existem diferentes papeis que os membros podem


assumir, sendo que estes não são fixos. Que papeis são estes e quais suas
características?

R: Os diferentes papeis que os membros podem assumir no interior dos


grupos são os de porta-voz, que acontece quando uma pessoa explicita um
sentimento que até então estava implícito no interior do grupo, o papel de
bode-expiatório, que ocorre quando um membro explicita um sentimento
que não tem concordância do grupo e não condiz com o que está ocorrendo
naquele momento, e o papel de líder da mudança, que ocorre quando algo
explicitado por um membro é aceito pelo grupo e o coloca em movimento
de mudança, em torno de um objetivo comum.

9) O que seriam “fatores terapêuticos” para Yallon?

R: Fatores terapêuticos, para Yallon, são o conjunto de experiências


humanas que se mostram cruciais para o processo de mudança, que se
interrelacionam ao longo do processo para potencializar o caráter
terapêutico dos grupos.

10) Em grupos homogêneos compostos por pacientes acometidos com uma


mesma doença grave, existem fatores que podem potencializar o processo
terapêutico. Cite três destes fatores, descrevendo de quais formas eles
podem contribuir para este processo no interior dos grupos.
R: Em grupos homogêneos, em que todos dividem muitas características
em comum, o fator da universalidade se faz extremamente importante, pelo
fato de que, no compartilhamento de experiências semelhantes, os
membros do grupo perdem o sentimento de solidão e isolamento. O
isolamento é algo que pode causar grande adoecimento psíquico,
impedindo que a pessoa possa confidenciar e ser acolhido por outros, e
trazendo a sensação de que os problemas são um fardo muito pesado.
Para os pacientes, entenderem que existem outras pessoas com problemas
semelhantes que podem ouvi-lo, entende-lo e acolhê-lo é um fator
terapêutico importante. Também, no processo de compartilhamento de
outras perspectivas, é possível que haja a instilação de esperança, fazendo
com que os pacientes percebam novas possibilidades e tenham
perspectivas mais positivas e engajadas para o processo do tratamento da
doença. Outro fator terapêutico importante neste processo pode ser o de
compartilhamento de informações sobre o tratamento, sintomas, técnicas
de manejo e enfrentamento, que contribuem para o sentimento de mais
autonomia e empoderamento para estes pacientes. (também é possível
citar fatores de altruísmo, de comportamento imitativo, etc).

11) O que seria o fator do “altruísmo”? Como ele pode ser terapêutico? Como
psicólogos podem atuar para que este fator seja potencializado no interior
dos grupos?

R: O altruísmo diz respeito ao processo, no interior dos grupos, de não só


receber ajuda de outras pessoas, mas também de oferecer ajuda. O
altruísmo é um fator terapêutico porque, muitas vezes, o adoecimento vem
do sentimento de não ter nada a oferecer ou contribuir com outras pessoas,
o que causa também o isolamento. Oferecer ajuda a outros contribui para
que os pacientes possam se sentir mais renovados, aumentando sua
autoestima, ensinando que todos temos obrigações com aqueles que
desejamos receber cuidados, nos possibilitando emergir em outras pessoas
ou situações. O psicólogo pode contribuir, no interior dos grupos,
incentivando que as pessoas ouçam as histórias que estão sendo
compartilhadas, buscando construir juntos alternativas de como lidar com
as situações vividas. Também pode ensinar como oferecer este
acolhimento das melhores formas, incentivando o comportamento imitativo
daqueles que não sabem ainda como oferecer este acolhimento.

12) Por que a “recapitulação corretiva do grupo de família” pode ser um fator
terapêutico?

R: Muitas vezes, no interior dos grupos, podemos observar certas


dinâmicas entre os membros que dizem respeito à dinâmicas construídas
no interior do grupo familiar, que estão sendo reproduzidas em um novo
contexto. É importante que os pacientes tenham a possibilidade de
reproduzir estas dinâmicas, mas compreendendo como elas ocorrem, no
sentido de buscar construir dinâmicas novas, corrigir os aspectos
disfuncionais e construir soluções novas. Isso pode ser terapêutico porque
dá a chance de proporcionar a mudança de padrões adoecidos que foram
construídos ao longo da história familiar e resolver conflitos antigos que
ainda interferem nos processos de saúde mental dos membros.

13) O fator terapêutico do aconselhamento direto, muito comum no início de


grupos, pode auxiliar no desenvolvimento e potencializar o fator terapêutico
do altruísmo, e promover o desenvolvimento de técnicas de socialização.
Como este processo pode ocorrer?
R:O fator terapêutico do aconselhamento direto é diz respeito ao movimento
que membros fazem de tentar aconselhar outras pessoas, sugerindo o que
estas podem fazer em determinadas situações. Muitas vezes este
aconselhamento direto traz em si a perspectiva da pessoa que aconselha,
podendo não ser nada útil para a pessoa que está recebendo o conselho. É
importante ressaltar que o conteúdo do conselho não é a questão mais
importante a ser ressaltada, e sim o ato de querer oferecer algum suporte
ou ajuda para outra pessoa. Oferecer ajuda a outros, mesmo que não seja
útil naquele momento, tem grande importância na promoção do fator do
altruísmo, porque diz respeito à busca de acolher e dar suporte para outras
pessoas e não só a si mesmo. Buscar ouvir, compreender e acolher outras
pessoas, aprendendo formas diferentes de aconselhar e construir soluções,
também ajuda a desenvolver técnicas de socialização, porque vamos
aprendendo a nos comunicar com diferentes pessoas vivendo em diferentes
situações, adaptando nossa forma de linguagem para contribuir de formas
cada vez mais eficazes na busca de novas soluções.

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