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Encontro ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO SOCIAL

Revista de Psicologia
COMUNITÁRIO
Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011

O romper de um ciclo

Marjorie Cristina Rocha da Silva RESUMO


Faculdades Integradas Einstein de Limeira
FIEL
Este trabalho visou discutir a importância da inserção do psicólogo na
silvamarjorie@yahoo.com.br
comunidade por meio de técnicas do grupo de reflexão, pautadas na
abordagem psicanalítica e social. Para tanto, foi realizado um grupo
com pais de alunos que participavam de um projeto social religioso em
Ariani Ragazzi Gigich uma cidade no interior de São Paulo. O grupo iniciou num movimento
Faculdades Integradas Einstein de Limeira de dependência e apresentando um funcionamento de não integração.
FIEL Com o passar dos encontros, o grupo começou a entrar em contato com
ariani_84@hotmail.com seus sentimentos demonstrando maior capacidade para reflexão e
busca de recursos internos para resolver suas dificuldades. Verificou-se
assim a possibilidade inicial de romper com um ciclo dos
comportamentos e funcionamentos repetidos baseados em experiências
passadas e que refletiam na educação dos filhos. Convém que sejam
realizadas outras pesquisas que possam também promover a inter-
relação entre as contribuições desses grupos de reflexão de orientação
psicanalítica e as práticas da área social comunitária.

Palavras-Chave: intervenção; grupos de reflexão; psicanálise.

ABSTRACT

This work aimed to verify the inclusion of psychologists in the


community through reflection groups techniques, based on social and
psychoanalytic approach. To this end, one group was conducted with
parents of students participating in a religious social project the interior
of the São Paulo. The group began a movement dependency and
presenting a non-functioning integration. Through the meetings, the
group began to show his feelings showing a greater capacity for
reflection and search for internal resources to resolve their difficulties.
So there was the initial possibility of breaking a cycle of repeated
behaviors based on past experience and that reflected in the education
of children. It’s important to conduct others researches that may also
promote inter-relationship between the contributions of these reflection
groups and psychotherapy practices in the social community.

Keywords: community; reflection groups; Psychoanalysis.

Anhanguera Educacional Ltda.


Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
rc.ipade@aesapar.com
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 08/01/2012
Avaliado em: 25/03/2012
Publicação: 04 de maio de 2012 63
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1. INTRODUÇÃO

Segundo Bleger (1995), é importante que o psicólogo vá a campo buscar intervir nos
processos psicológicos que agravam e afetam a estrutura da personalidade e qualidade de
vida. Nesse sentido, para entender um grupo é necessário pensar criticamente a realidade
social e ter consciência do papel e responsabilidades da atuação do psicólogo, para que
então compreender as possibilidades de trabalho junto às camadas populares (FREIRE;
GRANDINO, 1999). Para Bleger (1995, p.106), a saúde deve ser entendida “como um
aproveitamento mais eficiente de todos os recursos com que conta cada grupo para
mobilizar sua própria atividade na procura de melhores condições de vida, tanto no
campo material como no cultural, social e psicológico”.

Uma das técnicas que vem sendo utilizadas pelos profissionais no âmbito social e
comunitário está pautada no trabalho com grupos. Pesquisas científicas em psicologia
social evidenciam o espaço singular que os grupos ocupam no contexto sócio-histórico da
sociedade moderna (MOTTA et al., 2007).

É imprescindível buscar entender acerca do trabalho grupal, qual a sua


contribuição enquanto estratégia de trabalho na área da Psicologia Comunitária. Portanto,
cabe fazer algumas considerações a respeito da conceituação do grupo e os subsídios dos
enfoques psicanalíticos nessas práticas.

Zimerman e Osório (1997) ressaltam que os seres humanos possuem instinto de


se juntar e esse somente existe em função de seu inter-relacionamento nos grupos. Nesse
sentido “o grupo não é um mero somatório de indivíduos, pelo contrário, se constitui
como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos” (ZIMERMAN,
1999a, p. 90). Todo indivíduo é um grupo, no sentido em que são introjetados em seu
mundo interno personagens que interagem entre si. Do mesmo modo, todo grupo,
também pode agir com individualidade, podendo adquirir uma característica específica e
típica (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997)

Logo, também é necessário elaborar técnicas e modos de inserção grupal, de


desenraizamento de padrões, modelos e valores atuais, bem como conhecer a história e o
contexto da comunidade na qual será realizado um trabalho. A partir daí, pode-se dar o
início e a possibilidade de sentir e conhecer o contexto em si, começando os processos de
co-construção das intervenções (MORÉ; MACEDO, 2006).

No entanto, devida a variedade de trabalhos com grupos é de extrema


importância conhecer alguns considerados como mais tradicionais. Para Zimerman e
Osório (1997), o grupo de auto-ajuda valoriza os fenômenos da sugestão para auxiliar as

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pessoas a resolverem seus problemas. Ou seja, o grupo de auto-ajuda procura auxiliar as


pessoas a resolverem seus problemas, decorrente do acometimento de doenças agudas,
crônicas, às incapacitações, traumas e causas existenciais.

Outra modalidade de destaque são os grupos operativos. Pichon-Rivière


desenvolveu uma teoria em que explicita sua forma de pensar no sujeito, na sua “relação
objeto” e no grupo, tendo como base a estrutura vincular modelando a sua intervenção em
grupo, atribuindo à técnica um caráter dinâmico e interdisciplinar (LUCCHESE; BARROS,
2002).

Para Zimerman e Osório (1997) são identificados três momentos de um grupo


operativo: Pré-tarefa, momento que o individuo está resistente às mudanças, que
predominam as ansiedades e os medos frente ao desconhecido. Tarefa, elaboração da
ansiedade e medos básicos produzidos pela resistência às mudanças. Projeto, o que surge
da tarefa, permitindo um planejamento futuro. Além disso, os integrantes desse grupo
aprendem a pensar, observar e relacionar suas opiniões com as dos demais integrantes,
aceitando pensamentos e ideologias diferentes das suas, proporcionando uma integração
com o trabalho em equipe (ASCHIDAMINE; SAUPE, 2004).

Outro grupo que merece destaque é chamado de Grupo de Treinamento.


Minicucci (2009) destaca que para haver a reformulação de comportamento grupal é
necessário descongelar atitudes, desaprender formas de agir, para então reeducar-se. Para
descongelar atitudes, ainda afirma que é necessário mudar a maneira de agir, e que então
nesse grupo intenta-se mudar os processos e prática dos membros..

O último grupo que será destacado por se tratar o foco dessa pesquisa é o Grupo
de Reflexão. Segundo Zimerman e Osório (1997), as abordagens técnicas têm como
objetivo remover dificuldades que o grupo tem na resolução de uma determinada tarefa
ou problemática. Essas dificuldades podem ser apresentadas em formas de conflitos
intensos, competições, elevadas ansiedades e paralisias das atividades.

A diferença de um grupo operativo para o grupo de reflexão é que último dá


ênfase para a tarefa, da operação a ação. Esse grupo enfatiza o pensar e visa orientação
para resolver a ansiedade que está ligada ao aprendizado das tensões originais. Quando
esses grupos são bem sucedidos eles acabam tendo efeito terapêutico (ZIMERMAN;
OSÓRIO, 1997). Os processos envolvem encontrar recursos internos que capacitem a criar
alternativas para solucionar seus problemas, e remete ao autoconhecimento do sujeito, o
qual exige tempo e disposição interna (FÁVERO; EIDELWEIN, 2004).

Nesse sentido, focando o grupo de reflexão, segue um exemplo prático da


importância da aplicação desses grupos. O trabalho envolveu a realização de grupos de

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reflexão com feirantes e entrevistas individuais, com o objetivo de compreender como a


Psicologia Comunitária pode se inserir e intervir em um ambiente cooperativo de geração
de trabalho e renda, oportunizando um espaço para eles falarem sobre seus anseios e
dificuldades. Neste estudo é citado que através do grupo, a Psicologia pode utilizar
métodos e processos de conscientização que possibilitam as pessoas assumir seu papel de
sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes sócio-políticos e ativos na
busca de soluções para seus problemas (FÁVERO; EIDELWEIN, 2004).

Em vista das perspectivas teóricas e do conhecimento sobre a comunidade em


que será realizada a presente pesquisa, este último grupo foi considerado mais pertinente.
Pensa-se nesse como um adequado instrumento de intervenção já que o objetivo principal
ao iniciar um grupo é de criar um espaço de reflexão e a partir desse, construir estratégias
numa vertente da Psicologia Social Comunitária, com o auxílio de um mediador nas
discussões e aprendizagens que possam ocorrer.

2. O PROCESSO GRUPAL NA PSICANÁLISE

A fundamentação teórica e as leis que regem a análise grupal segundo Zimerman (1999a)
são diferentes e variadas na finalidade para qual determinado grupo foi criado. Há vários
autores que contribuíram com as técnicas no processo psicanalítico, como por exemplo:
Bion, Melanie Klein e Winnicott, os quais serão citados a seguir.

Para Zimermam e Osório (1997), um fenômeno primordial que permeia a teoria


psicanalítica individual ou grupal é a transferência, que pode ser compreendida como
uma expressão de repetição de necessidades que não foram satisfeitas no passado. Esse
permite que o paciente tenha um novo espaço e oportunidade para reexperimentar suas
antigas e mal resolvidas experiências passadas, dirigidas ao analista.

Para Winnicott, a transferência deve ser compreendida como uma nova relação,
um novo espaço que o paciente conquista para conseguir se relacionar com seu analista,
porém essa imagem no início estará mascarada pelos mecanismos de defesa, como
projeção e sentimento de posse do analista (MELLO FILHO, 1989; ZIMERMAN, 1999b).

Melanie Klein contribuiu explorando a posição depressiva, funcionamento


mental bastante importante também na relação grupal, e que consiste na união e
integração das partes do sujeito que estão dispersas. Tal funcionamento possibilita
permitir as perdas parciais, proporcionando a capacidade de tolerar frustrações,
privações, atrasos na gratificação na relação com o mundo exterior. Assim, o individuo

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deve ser capaz de reconhecer suas responsabilidades, culpas, suportar separações parciais
e fazer reparações verdadeiras (SEGAL, 1975; ZIMERMAN, 1999b).

Bion também cooperou para o entendimento do movimento grupal com três


suposições básicas: dependência, luta-fuga e acasalamento. Segundo o autor, esses
pressupostos permeiam as interações entre participantes e coordenador, e se baseiam na
forma como se estruturam os sentimentos, como amor e ódio, afeto e exclusão, decisão e
insegurança. Na fase da dependência, procura-se um líder para sentir-se protegido ou
orientado e o grupo se comporta como se um dos integrantes fosse capaz de tomar a
liderança e cuidá-lo totalmente. O grupo sente a necessidade de ser conduzido e de
receber gratificações grupais. Na fase de luta-fuga, o grupo representa inconsciente, a
convicção que tem que combater ou evitar algum inimigo do grupo; os integrantes podem
se comportar, defensivamente, agressivos ou até mesmo fugir de situações. Essa etapa é
marcada por momentos de tensões, confrontos e agressões, todavia, essa energia
destrutiva promove um elo que une a todos os integrantes. E na fase do acasalamento,
possui a crença de que os problemas dos grupos serão solucionados. Os participantes se
relacionam mais profundamente, expressam de forma mais livre suas ansiedades,
descobrindo os outros e compartilhado seus problemas. É necessário ressaltar que a
importância do coordenador ter uma postura diferente em cada etapa do grupo (MOTTA
et al., 2007; ZIMERMAN, 1995).

Dentro das suposições básicas citadas anteriormente, Bion denomina por


valência, a maior ou menor capacidade que cada indivíduo dentro do grupo possui em
relação a essas suposições. O autor afirma que todos têm certo grau de valência, que varia
a cada momento dependendo da circunstância (ZIMERMAN, 1995).

No processo grupal é importante verificar que também há a fase de não


integração e integração. Partindo dos conceitos de Winnicott, sobre a importância do
holding materno nos processos de integração e formação da identidade da criança, pode-se
entender que um grupo não integrado tende a apresentar várias dissociações, como por
exemplo, freqüentes ausências e formação de subgrupos. Em contrapartida um grupo
integrado e coeso, passa a ser um elemento fundamental para o auxilio no processo
terapêutico, os participantes ajudam uns aos outros, sendo uma função primordial no
setting analítico (MELLO FILHO, 1989; OSÓRIO, 1989).

Tais conceitos são essenciais quando se pensa que o papel do coordenador


também depende de qual técnica e grupo será trabalhado (SANTOS; ROS; CREPALDI;
RAMOS, 2006). Portanto, o coordenador do grupo deve conhecer aspectos da cultura do
grupo, que estão presentes na natureza simbólica e concreta. A cultura oferece o

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referencial de padrões a ser seguido, manifesta uma identidade que é construída ao longo
do tempo e passa a repassar todas as práticas, formando as representações mentais e um
sistema de significado que une os membros em torno dos mesmos objetivos: “A
mentalidade grupal significa que o grupo funciona como uma unidade, mesmo quando
seus membros não têm consciência disso. A cultura grupal, já é a relação entre a cultura
grupal e o desejo do indivíduo” (OSÓRIO, 1989, p. 58).

De acordo com as perspectivas teóricas apresentadas, percebe-se a importância


da atuação do psicólogo social comunitário nos grupos e no entendimento de suas
peculiaridades. Mais especificamente, entende-se ser importante compreender as
demandas e funcionamento grupal por meio da perspectiva psicanalítica, principalmente
relacionadas às vivencias individuais, transferências, vínculos, entre outros. Portanto, o
objetivo dessa pesquisa é levantar as demandas da comunidade local partindo de uma
perspectiva de observação participativa e intervir como mediador nas reflexões do grupo
quanto ao seu funcionamento, objetivos e papéis nos aspectos sociais e familiares, entre
outras questões que puderem ser pensadas e acolhidas.

3. MÉTODO

Sujeitos
Os voluntários da pesquisa foram pais e responsáveis de alunos que participavam de um
projeto social cristão em uma cidade do interior do estado de São Paulo/SP. Houve uma
variação de participantes nos encontros realizados, porém observou-se uma média de
nove sujeitos. Dezesseis integrantes participaram de pelo menos um encontro, porém
apenas quatro compareceram regularmente. A idade variou entre 21 a 55 anos (M=32;
DP=8,4) e a maioria do gênero feminino (N=14). Pode-se observar que 44% dos
respondentes têm Ensino Fundamental Incompleto e mais da metade nasceu no estado de
São Paulo (55,6%). Em relação ao estado civil, 77% são casados ou amasiados, e somente
22% solteiros.

Também foi verificado que 44% dos pais ou responsáveis integrantes do grupo
têm três ou mais filhos participando do Projeto (M=2,3; DP=1,3). Em relação ao tempo de
participação no projeto, 44% (N=4) participam até 1 ano (M=3,0; DP=2,6). A maioria dos
participantes acredita que o projeto serve para aprender muitas coisas, como a palavra de
Deus e auxiliar na educação dos filhos. Além disso, apontam que o projeto contribui para
melhorar o desempenho das crianças e na resolução de problemas de aprendizado
familiar. Esperam que o psicólogo oriente-os, auxiliem em suas dificuldades e
aprendizado, e ajude no relacionamento grupal. Também em relação à expectativa quanto

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ao grupo de reflexão, a maioria incluiu questões sobre o desejo de aprender algo novo
para amadurecer e melhorar o relacionamento com a família.

Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada em um projeto de cunho social com vínculo religioso executado
nas instalações de uma escola municipal, de uma cidade no interior de São Paulo. No
entanto, este projeto não possui nenhuma atividade fixa com os pais, sendo, portanto, um
dos objetivos convidá-los a participar da pesquisa como voluntários.

Materiais e técnicas utilizadas


Foi utilizado um questionário socioeconômico e técnicas de vivência grupais, a fim de
promover a reflexão das vivencias individuais e grupais. O grupo reflexivo dá ênfase na
reflexão e não na atividade em si, entendendo que a resolução da atividade é uma
conseqüência da ansiedade trabalhada. O coordenador tem o papel de facilitador nas
reflexões, levando o grupo a repensar e indagar os conflitos, tensões e ansiedades que
dificulta para resolver uma problemática (MOTTA et al., 2007). Esta técnica utilizada tem
como base a abordagem psicanalítica e social, e possibilita um espaço de fala e de
experiências compartilhadas, tendo em vista o movimento transferencial, possibilitando o
grupo a assumir o papel de sujeitos da própria história (COUTINHO; ROCHA, 2007).

Procedimento
O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número 10-
06/114. Os participantes receberam em suas residências um convite por escrito que foi
entregue pela pesquisadora. Neste convite foi solicitada a presença dos convidados no
projeto a fim de receberem maiores informações sobre a pesquisa.

Inicialmente foi explanado sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


(TCLE) e aplicado o questionário socioeconômico, em que foram levantadas as
expectativas e percepções dos sujeitos nas relações grupais, na comunidade e nas funções
familiares. Após isso, foram propostos os encontros grupais semanais com duração de
aproximadamente 45 minutos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fim de facilitar a visualização das informações, os resultados e discussão dos mesmos


serão apresentados de acordo com a ordem cronológica dos encontros.

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1° Encontro
No primeiro encontro, alguns pais foram ao projeto com o intuito de participarem do
grupo e outros apenas com o objetivo de levarem seus filhos e foram convidados a
permanecerem. Havia no total nove participantes, dois homens e sete mulheres, sendo
todos pais ou responsáveis de alunos que participavam do Projeto. O grupo iniciou com a
apresentação da pesquisadora (coordenadora), que explicou o funcionamento dos
encontros grupais e foi dito sobre a importância do espaço grupal, a escuta e o momento
do compartilhar, podendo grupo falar o que quisesse.

Os integrantes também se apresentaram e puderam compartilhar suas


expectativas sobre os encontros. Alguns disseram que gostariam de prestigiar o trabalho
do Projeto, outros que esperavam que os encontros ajudassem em casa, família e até
mesmo no trabalho. Um exemplo desta percepção pode ser dado pelo relato do integrante
(11): “Acredito que os encontros possam me ajudar em casa e na criação de meus filhos”.

Neste primeiro encontro os integrantes do grupo pareciam reservados e tímidos.


Não surgiram muitas queixas, o grupo parecia expor seus relatos de uma forma
superficial, não demonstrando estar à vontade. No entanto, este é um movimento natural
do grupo de não integração, sendo necessário que o terapeuta utilize da empatia e
intuição auxiliando a conter as necessidades do grupo e os sentimentos mal suportados
(OSÓRIO, 1989). Como o objetivo do grupo de reflexão é remover as dificuldades que um
grupo tem na resolução de uma determinada tarefa (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997), neste
primeiro momento a maioria dos participantes apresentaram como queixa principal, a
educação dos filhos e as ansiedades associadas.

2° Encontro
No segundo encontro, havia oito integrantes, cinco novos e seis faltaram. Como proposta
de integração foi aplicada uma dinâmica com o grupo para que os mesmos pudessem
interagir e refletir sobre a tarefa desenvolvida. Após a dinâmica, alguns integrantes
falaram sobre a percepção da atividade realizada e como se sentiram, como por exemplo,
o integrante (7): “Podemos levar isso para casa, ás vezes nos dedicamos muito, fazemos o que está
ao nosso alcance, mas depois acaba acontecendo algo que dá tudo errado e ficamos com a sensação de
derrotados e frustrado, mas não podemos desistir e sim começar de novo, pois alguém já conseguiu
antes”.

Em geral, pode-se notar que o grupo pareceu receoso, verbalizaram em vários


momentos que a tarefa proposta na dinâmica não poderia ser realizada, e alguns
integrantes não interagiram. Nesse sentido, Zimerman e Osório (1997) destacam que é

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comum um momento inicial em que os participantes se mostram mais resistentes às


mudanças, predominando as ansiedades e os medos frente ao novo. Pode-se observar a
valência de cada individuo, ou seja, diferentes capacidades para participar das suposições
básicas do grupo (OSÓRIO, 1989). Porém, o grupo ainda estava em processo de integração
e para Winnicott, tende a apresentar dissociações, como formação de subgrupos e
freqüentes ausências (MELLO FILHO, 1989).

3° Encontro
No início do terceiro encontro, foi reforçado sobre o espaço dos participantes e que eles
poderiam falar o que quisessem. A integrante (1) iniciou falando sobre a história que
ouviu de que um psicólogo havia ajudado um menino. A mesma falou demasiadamente
dando pouco espaço para os outros integrantes. Ao terminar, continuou dizendo que era
muito nervosa, mas que após um tratamento psicológico melhorou. A participante (2)
também disse ter iniciado psicoterapia recentemente, porém, ficou em silêncio não
demonstrando interesse em compartilhar naquele momento. Também, a integrante (3)
relatou ser muito nervosa e que seu marido também diz que ela precisa de um psicólogo.
Os participantes pareceram relatar tanto uma série de fantasias sobre o que se refere o
tratamento psicológico, quanto suas angústias em depositar suas dificuldades em outro,
seja esse psicólogo ou o próprio grupo ali formado.

A integrante (1) ao mesmo tempo em que demonstrou interesse de tentativa de


vínculo com a coordenadora, também apresenta algumas atitudes de desconfiança e
defensiva, como pode ser observado através de sua fala: “Tudo o que o psicólogo ouve ele tem
que guardar para ele, acho que até o psicólogo precisa de um psicólogo”. Enquanto a participante
(3) falava, a integrante (1) disse que quem precisa estar ali não estava, falando de outra
participante. Neste momento, os integrantes começaram a falar dessa outra integrante e
de seu relacionamento familiar, especialmente com o filho.

Percebeu-se que o assunto mais abordado foi em relação à criação dos filhos, no
entanto, o grupo teve dificuldade para nomear que exemplos que poderiam ser dados na
educação de seus filhos; e de assumir suas próprias dificuldades, às vezes projetando-as.
Nesse sentido, se caracteriza a projeção como mecanismo de defesa primitivo do ego,
através da expulsão que o sujeito faz de aspectos intoleráveis, projetando no outro,
servindo como recurso para se proteger da angustia. O grupo demonstrou ainda não
conseguir entrar em contato com seus sentimentos, apresentando um funcionamento
geral de dependência e defesa (SEGAL, 1975; ZIMERMAN, 1999b).

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Até este momento o grupo apresentou uma necessidade de relatar o quanto


precisava de ajuda psicológica e esperava dos encontros. Para Bion, conforme citado por
Osório (1989), na fase da dependência, o grupo procura um líder para se sentir protegido
e cuidado, sentindo a necessidade de receber gratificações grupais.

4° Encontro
A integrante (1) começou a falar que gostaria que uma amiga participasse do grupo
devido ao envolvimento dos filhos dela com as drogas. O grupo compartilhou o medo
que sente que seus filhos se envolvam. Após isso, o grupo tratou sobre a importância da
orientação e atenção dos pais. A coordenadora perguntou qual o tipo de atenção deveria
ser dado para os filhos, porém, o grupo permaneceu em silêncio, com dificuldade para
explicar, principalmente em relação ao afeto; e mudaram de assunto.

A coordenadora pediu alguns exemplos de afeto e o grupo iniciou uma conversa


sobre incesto e do castigo de Deus, quando uma criança nasce com alguma deformidade.
Cada um contou uma história que conhecia e das crenças pessoais sobre o castigo divino.
O grupo compartilhou algumas experiências da gravidez, menos a integrante (1). No
término, a integrante (1) disse que só estava ouvindo e (2) se mostrou aliviada, suspirou e
disse: “Como é bom ter um lugar para conversar”.

Na hora do café, (1) fez várias perguntas para a coordenadora. Pode-se notar que
a mesma se mostrou muito angustiada com as questões que envolvem a maternidade,
tentando de várias formas desviar o próprio grupo desse assunto. Mas pode-se inferir sua
necessidade de se sentir a “filha privilegiada” ao comentar que seria a única a estar ali
nesse encontro e após, tentar vínculos individuais com a coordenadora.

Neste encontro, o grupo começou entrou mais em contato com seus sentimentos,
a falar sobre suas experiências, e assim se apresentaram inquietos e defensivos, ao mesmo
tempo em que começaram a se vincular, demonstraram um movimento denominado por
Bion como luta-fuga, forma defensiva inconsciente de se comportar, agressivos ou até
mesmo fugir de situações. Essa etapa foi marcada por momentos de tensões, todavia, que
promovem um elo entre os integrantes (OSÓRIO, 1989). O grupo demonstrou ainda
utilizar mais elementos Beta, com dificuldades para simbolizar suas experiências
emocionais, e nomear formas de carinho e afeto (SCHNEIDER, 2009).

A coordenadora grupal tentou entender o movimento do grupo e atuar como


facilitadora, a fim de diminuir os conflitos. Verificou-se tratar-se de uma tarefa difícil,
visto que o grupo parecia contraditório e ambivalente; ao mesmo tempo em que
começavam entrar em contato com seus sentimentos, mostravam-se muito defensivos.

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5° Encontro
Neste encontro, a coordenadora trabalhou com o grupo o quanto percebeu dificuldades
deles em falar sobre sentimentos e afeto. O grupo concordou e compartilhou estórias
pessoais. A participante (1) relatou dificuldades em demonstrar carinho e o quanto se
culpa por isso: “Era muito rigorosa, sempre trabalhei, e falhei muito na questão do carinho. Batia
muito nos meus filhos, às vezes me culpo por isso”. A integrante (3) diz se sentir rejeita pela
mãe, pois sente a diferença de tratamento com as outras irmãs, fala que sua filha também
sente isso quando vai à casa da avó.

A integrante (1) relatou ter um carinho diferenciado com um neto, ao qual se


sente mais apegada, e conta um episódio em que ele deu atenção a mesma, demonstrando
novamente seu vazio e desejo de ser cuidada. O grupo movimenta-se nesse sentido e
falam sobre a importância do carinho, porém ainda não conseguem dar exemplos.
Quando a coordenadora pedia para que nomeassem algo que gostariam ou sentiam, os
mesmos fugiam do assunto ou interrompiam a fala da coordenadora.

A integrante nova (20) permaneceu quieta o tempo todo, no final (1) pediu para
(20) falar sobre suas queixas. A mesma falou que sofre com a morte de seu filho que se
suicidou. A coordenadora explicou que aquele espaço ela poderia se expressar e falar mais
sobre seus sentimentos e angustias com a perda do filho. E que através da troca de
experiências de cada integrante, um poderia acrescentar ao outro.

Assim como citado por Coutinho e Rocha (2007), verifica-se que diante das
angústias individuais, o grupo de reflexão oferece um espaço para os integrantes falem
sobre seus anseios e dificuldades. Além de ser uma forma de compreender como a
Psicologia Comunitária pode se inserir na sociedade.

Neste momento pode-se observar o funcionamento do grupo, citado por Fávero e


Eidelwein (2004), pois os integrantes começam a encontrar recursos internos para criar
alternativas para resolver suas dificuldades. Assim, o grupo começa a ter oportunidade
para se conhecer melhor como individuo e como grupo.

6° Encontro
O grupo começou a contar suas experiências de demonstração de carinho, no entanto, não
conseguiu fazer a conexão das histórias compartilhadas, quanto as suas semelhanças e
diferenças. A integrante (3) relatou que teve que orientar sua filha, pois a mesma aceitou
dinheiro de estranhos, a repreendeu, conversou, conseguindo conversar e não bater. A
coordenadora devolveu para o grupo que através das histórias compartilhadas, cada um

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contou sua forma de demonstração de carinho e que eles pareciam ter refletido sobre os
encontros anteriores.

Neste encontro, pode-se observar o fenômeno transferencial do grupo com a


coordenadora. Entende-se o novo espaço que o grupo estava tendo para reexperimentar
suas experiências passadas, relacionando com o analista, porém marcada pela projeção e
sentimento de posse. O grupo neste encontro permanece mais em silêncio, podendo ser
uma forma de luto pelo final do processo. No grupo de reflexão, as dificuldades que o
grupo possui para resolver as tarefas, podem ser apresentadas como forma de conflitos
competições e ansiedades (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997).

7° Encontro
Nesse encontro, o grupo falou sobre experiências que tiveram de empregos anteriores e o
quanto se sentiram humilhados por não serem reconhecidos pelo trabalho e esforço. O
grupo pôde refletir sobre o sentimento de ira e dificuldade de sentir-se dependente de
alguém. Disseram que não gostam de pedir ajuda, pois quem quer ajudar não é necessário
que se peça, no entanto contam histórias nas quais pediram ajuda e foram socorridas. A
integrante (20) diz que o fato é mais para quem se pede ajuda. A integrante (1) relatou que
ajudou uma idosa indicando uma pessoa para cuidar dela, porém ajudou desconfiando,
pois não conhece as pessoas. Ela disse sentir isso com a maioria das pessoas, até mesmo os
mais próximos, dizendo que “quem garante se a coordenadora não está pensando mal dela ou se
ela mesma não está pensando mal”.

A coordenadora volta para o grupo e pergunta o que acharam disso. A


participante (1) continua dizendo que viu na TV um caso que um avô estuprou a própria
neta e que antes de descobrirem, este avô passou na TV chorando, ressaltando aspectos
persecutórios e de medo da dependência dos outros.

Esse encontro foi marcado por um movimento de luto e separação ao final do


grupo, de forma que os membros se mostram mais persecutórios. Este movimento
também de desconfiança pode demonstrar também a resistência à mudança que implica
no processo de cura, podendo aparecer o medo da perda do sintoma e seus benefícios
secundários ou o medo do desconhecido a situações novas que o individuo não está
acostumado a manejar, surgindo às ansiedades persecutórias, e quando essas ansiedades
são elevadas é determinada a resistência às mudanças (Zimerman, 1999b).

Apesar das angústias e possíveis resistências, o grupo pareceu estar mais


integrado e com maior capacidade de tolerância à frustração. Esse movimento de
integração pode ser notado, por exemplo, na integrante (1) ao dizer: “Temos que aproveitar

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o que é bom, nós mastigamos tanta coisas amarga e temos que aproveitar as rosas quando tivermos
oportunidade, se deixasse, ficaria aqui até amanhã”.

8° Encontro
A coordenadora explicou aos integrantes que seria o último encontro, porém foi
questionada. Neste dia, estavam ansiosos, falavam em demasia e em alguns momentos
interrompiam a coordenadora. Todos compartilharam sobre a experiência no grupo. A
integrante (1) disse que assumiu o compromisso e que gostou de ir para conversar e
compartilhar experiências. A integrante (3) relatou que aprendeu muito afirmando: “O
grupo me ajudou a ser mais paciente com minha filha, consegui conversar sem bater”. A
integrante (20) disse apenas que foi bom e não compartilhou suas experiências.

A coordenadora relatou que percebeu um amadurecimento no grupo, pois


demonstraram interesse, respeito e preocupação com os integrantes. Além daquele
espaço, ser um momento de troca de experiência foi um momento de escuta, reflexão e
crescimento. Neste ultimo encontro, apesar do grupo parecer ansioso e falar em demasia,
apresentou um movimento de maior integração. Esse funcionamento foi enfatizado por
Winnicott que dizia que um grupo integrado é um grupo coeso, coerente e único, em que
os participantes se entendem e podem um ajudar o outro, produzindo modificações no
funcionamento grupal (OSÓRIO, 1989).

Verifica-se que o analista além de conter as necessidades dos pacientes, pode


aceitar seus sofrimentos e estruturas pessoais, favorecendo uma aliança terapêutica.
Assim, um grupo integrado é um elemento fundamental no processo terapêutico, os
participantes ajudam uns aos outros (OSÓRIO, 1989). Neste momento, o grupo
demonstrou transitar pela posição depressiva, reconhecendo suas responsabilidades e
angústias na tentativa de fazer reparações (ZIMERMAN, 1999b).

O movimento grupal mostrou a possibilidade de reflexão, de questionamento


das tensões que impedem o grupo de resolver tarefas cotidianas e ansiedades que tem
ligação aos conflitos originais (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997). Como no estudo de Baú
(2007), o espaço terapêutico permitiu que as ansiedades fossem trabalhadas e possibilitou
desenvolver outras capacidades, como percepção, maior aproximação do ideal com o real,
identificação de limitações, além da habilidade para apreender as diferenças em relação
aos demais integrantes do grupo.

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76 Atuação do psicólogo social comunitário: o romper de um ciclo

5. CONCLUSÃO

Como se pode perceber ao longo dos encontros, o grupo começou num movimento de
dependência, demonstrando o quanto esperava do processo e da coordenadora. Possuíam
dificuldades de refletir e predominava um movimento de não integração. Após este
momento de dependência, apresentaram-se ambivalentes, ao mesmo tempo em que
tentavam se vincular, demonstrando interesse pelo processo, evidenciaram movimentos
defensivos e de recusa em entrar em contato com seus sentimentos; predominando a
suposição de luta e fuga.

Com o passar dos encontros, o grupo começou a entrar mais em contato com
sentimentos, apresentando maior capacidade para refletir os temas abordados, e recursos
internos para resolver as dificuldades, possibilitando assim autoconhecimento. Nos
últimos encontros, o grupo pareceu mais resistente, demonstrando a angústia relacionada
à perda, provavelmente devido à finalização do processo.

No último encontro, o grupo mostrou-se mais integrado e coeso, os integrantes


conseguiram ajudar uns aos outros. Esses achados estão em concordância com o trabalho
realizado por Baú (2007), que concluiu que o grupo de reflexão é um instrumento útil
quando se quer compreender a dinâmica emocional e possibilitar a diminuição gradativa
de ansiedades e integração grupal.

O tema central do grupo trabalhado foi à questão da educação dos filhos, o afeto
e seus benefícios. No geral, foram compartilhadas dificuldades enfrentadas no passado e o
quanto essas refletiram na educação dos filhos. Além disso, ao ouvir as experiências dos
outros, conseguiram visualizar seu próprio funcionamento e limitações; movimento
importante, porém gradual, que foi acontecendo ao longo dos encontros. Tais questões
são coerentes com os destaques de Zimerman (1999a), de que o campo grupal é uma
galeria de espelhos, em que cada integrante pode refletir e ser refletido pelos outros.

Neste estudo, também se verificou a importância dos conceitos teóricos


(especialmente sobre o dinamismo grupal muita vezes inconsciente), e o quanto eles se
difundem e se completam. A junção dos aspectos teóricos e as observações e vivências
práticas permitiram a generalização do conhecimento e uma experiência rica e singular
por parte da pesquisadora. Neste sentido, para Zimerman (1999a), todos os elementos
teóricos do campo grupal apenas têm sentido e validade na ligação da técnica e da prática
grupal, quando ambos se interagem e também evoluem.

O presente trabalho atingiu seu objetivo, em que através da escuta e mediação do


psicólogo dentro da comunidade, foi possível propiciar um espaço para os integrantes

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repensarem suas dificuldades, vivências e papéis assumidos nessa realidade,


contribuindo na busca da identidade grupal e individual. Verificou-se assim, a
possibilidade de romper com um ciclo dos comportamentos e funcionamentos repetidos
baseados em experiências passadas, e que refletiam na educação de seus filhos. Como no
estudo de Baú (2007) o fator terapêutico maior se deu a partir do relato compartilhado de
um conjunto de experiências afetivas sobre as situações cotidianas e emocionais de âmbito
pessoal e grupal. Assim, nota-se que trabalhos como o que foi proposto permitem mais do
que resultados de pesquisa, um caráter interventivo e terapêutico para os evolvidos.

Dada a importância dos trabalhos na área da psicologia social comunitária, a


leitura psicanalítica se propõe a contribuir para o entendimento diferenciado e menos
elitizado do funcionamento e vivências grupais. Assim, entende-se ser necessário que
outras pesquisas sejam realizadas a fim de promover a inter-relação entre as contribuições
dos grupos de orientação psicanalítica e as práticas nessa área.

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Marjorie Cristina Rocha da Silva


Psicóloga, mestre e Doutora em Psicologia pela
Universidade São Francisco com ênfase em
construção, validação e padronização de
instrumentos psicológicos e educacionais. É
pesquisadora do Laboratório de Avaliação
Psicológica e Educacional - LabAPE. Docente das
Faculdades Integradas Einstein de Limeira (FIEL).

Ariani Ragazzi Gigich


Psicóloga pelas Faculdades Integradas Einstein de
Limeira (FIEL).

Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 63-78

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