Descrever o histórico do movimento institucionalista, assim como seus
conceitos principais além designar os marcos de interseção entre a análise institucional, a esquizoanálise e a socioanálise.
O ser humano criou as instituições na tentativa de encontrar amparo, pois nos
instituímos a partir da própria necessidade do processo civilizatório. Nos encontramos desamparados, inseridos em desordem, caos e percebidos em um lugar de desgoverno das contingências ao nosso redor. Diante disso, elaboramos estruturas que nos sirva de referencial e apoio. “As instituições são instâncias de saber que permitem a todo tempo recompor as relações sociais, organizar espaços e recortar limites.” (PEREIRA, 2007). As instituições são feitas por pessoas. As pessoas são seres de desejo. Desejo é sintoma de privação de falta. Diante da falta, produzimos e nos movimentamos. Para que exerça a função de servir a humanidade, o desejo deve ser institucionalizado.
Nessa trama destaca-se o instituinte, instituído e o processo de
institucionalização. Esses agentes possuem entre si inúmeras dinâmicas e especificidades, no qual “o instituinte não deve ser pensado como força que resulta em instituído, mas como relação de forças permanente, que comporta tanto o poder como as singularidades de resistência e produção de novos sentidos” (PEREIRA, 2007).
O conceito de instituição é polissêmico, é ainda utilizado em inúmeras áreas
com diversos significados. Pereira (2007) traz que as instituições funcionam sob a heterogestão, ou seja, geridos por outrem. Além disso, existe uma estrutura de poder nas instituições que tenta minimizar o sujeito. O movimento institucionalista posiciona- se em busca dos princípios básicos de autogestão e auto-análise, que são conceitos fundamentais para compreendê-lo. A auto-análise parte da crença na autonomia do grupo, fundamentada na participação, no saber, na experiência particular, estabelecendo assim formas próprias de se manter, dirigir, criticar. A autogestão se manifesta na opção política e escolha dos agentes, mudanças das relações de poder, saber, prazer e prestígio. Um sistema autogestivo não é um lugar sem lei, mas um sistema cuja lei é autogerida, proporcionando o direito de desejar.
O arcabouço que fundamenta o movimento institucionalista tem recebido
contribuição de diversos setores, sejam eles populares ou acadêmicos. No campo da religião cristã identifica-se uma busca pelo retorno da experiência comunitária dos primeiros cristãos e a vida religiosa mendicante; no campo da filosofia, o institucionalismo se inspirou em autores dos primórdios da filosofia grega à filosofia moderna; na área educacional defendeu-se a autonomia na instituição de educação, compromissada com uma escola crítica e com as classes populares; na saúde mental houve no pós-guerra um movimento de questionar e debater o papel das instituições psiquiátricas; além disso, é importante destacar os novos movimentos sociais que se alinham aos princípios do movimento institucionalista, que anteriormente reprimimos, ganham a condição de atores: mulheres, gays, negros, índios, favelados. (PEREIRA)
O artigo de William Cesar Castilho Pereira destaca duas correntes do
movimento institucionalista: a Análise Institucional e a Sociopsicanálise. A primeira é a mais difundida no Brasil, “que assume a tarefa de pesquisa, questionar e analisar a história, os objetivos, a estrutura e o funcionamento da organização, além dos dispositivos, práticas e agentes grupais.” (PEREIRA). Essa abordagem tem como proposta a exteriorização do “não-dito”, através de dispositivos analisadores colocados e incentivados pelo analista com participação ativa dos membros da organização. Além disso, é importante destacar a contradição envolvida no que se refere ao teor instituinte abarcado pela Análise Institucional, algo a ser identificado e quebrado pela intervenção. A segunda abordagem, a Sociopsicanálise propõe um entrelaçamento entre a psicanálise de Freud e o materialismo histórico de Marx. Pensando nas instituições, que estão inseridas no modo de produção capitalista. Na perspectiva que há nas organizações indivíduos desapossados de poder. A Sociopsicanálise vai buscar trazer à tona o caráter político na instituição e analisar os processos que impendem o funcionamento dessa dimensão.