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Instituições Políticas Instituições Políticas

BECK. U.; BECK-GERNSHEIM, E.lndividual/zation:


lidade ao longo de gerações, co1110 d Jido de uma perspectiva intencional, Ao agir em certos contextos institu-
institutionalized individualism 8nd its social and s
polftfcal consequences.london: Sage, 2002. processos formais estabelecidos Co e ue capte o sentido das relações huma- cionais, os indivíduos são informados
ELIAS, N. Asociedade dos Indivrduos. Rio de Janeiro:
propósitos muito específicos (corno: qaS a partir das ações que os próprios sobre o que é adequado fazer em cada
Zahar, 1994. regulação das relações familiares peI ~Ildil{íduos empreenderam com base situação, tendendo a se comportar
GJDDENS, A. Avida em uma sociedade pós-tradicional. In:
legislação). ' nas escolhas disponíveis. As institui- previsivelmente em contextos institu-
BECK, U.; GIDOENS, A.; LASH, S.Modernização reflexiva. São Enfim, há também instituições po~ ções são ~as mesmas construções q~e, cionais s~m~lha~tes. . .
Paulo: Editora Unesp, 1997. líticas, as quais, de alguma maneira, em primelCO lugar, resultam das açoes A soclahzaçao pela qual os mdlví-
JUNG, C. T/pi psico/ogici. Turim: Boringhierl, 1968. visam ao Estado ou dele fazem parte. humanas ao longo do tempo e, em se- duas passam dentro de uma dada ins-
KAUFMANN, J·C. Ego. Pour une sociologie de !'individuo Têm o Estado em vista, sem propria_ gundo, conformam a amplitude das tituição tende a moldar-lhes as prefe-
Paris: Hachette Uttératures, 2004. mente o integrar, os partidos politicos, escolhas e/ou decisões de indivíduos e rências, as ideias, as percepções e até
TOURAINE, A. Um novo paradigma. Para compreender o os grupos de pressão e Outras organi- coletividades, mas não -as determinam mesmo os afetos. Não somente insti-
mundo de hoje. Petrópolis: Vozes, 2006. zações sociais, que buscam operá-lo, de forma unívoca. Há considerável tuições presentes modulam a conduta
, influenciá-lo, tomá-lo ou reformá-lo. margem de variação para a ação au- individual, mas também instituições
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Todo Estado é também um conjunto tônoma de atores individuais ou cole- passadas - que, de alguma forma, per-
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ou um sistema de _instituições, como tivos, que, embora restringidos pelas _ ,manecem vivas nos indivíduos, mes-
as leis, os 6rgãos da burocracia pública instituições em Seus cursos de ação, mo que estes passem a atuar em outros
I.: e os ramos de governo. têm de tomar decisões - mesmo quan- contextos. Em uma situação em que
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I, Instituicões
, Políticas A abordagem conhecida como do são pouco refletidas ou baseadas indivíduos oriundos de certo ambiente
institucionalista caracteriza-se por ser em crenças e hábitos interiorizados. institucional passam a atuar em can-
CLAUDIO GONÇALVES COUTO amplo campo de reflexão que toma A perspectiva intencional se inscre- texto distinto, as lógicas de atuação
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as instituições ou predominantemen- ve no individualismo metodológico, herdadas e neles introjetadas entram
Instituições são estruturas social- te de forma descritiva, ou apenas em que embora seja comumente associa- em choque com as novas condições
I! mente construídas, perenes, que con-
I: dicionam a ação de indivíduos e de
seu funcionamento jurídico. Tal abor- do à teoria da escolha racional, é mais institucionais vividas. Assim, ou bem
dagem influenciou diversos ramos da amplo que ela. As novas abordagens um grande número de indivíduos (ou
grupos. Em um grau crescente de so- sociologia, da economia e da ciência institucionalistas (o neoinstituciona- indivíduos influentes no novo contex-
lidez, consideramos como instituições: política, especialmente em sua versão lismo) valem-se bastante da perspectiva to) logram conferir ao contexto suas
(1) as práticas interativas reiteradas, (2) estrutural-funcionalista, segundo a compreensiva, segundo a qual os indi- características herdadas, modificando-
as regras sociais de conduta, (3) as nor- qual as instituições determinam certoS víduos interpretam o contexto em que -o, ou bem precisam se adaptar, pas-
mas formais e (4) as organizações. papéis para os indivíduos, restando a agem, avaliando o curso mais adequa- sando por um aprendizado institucio-
Há instituições econômicas, tais eles uma amplitude de ação autônoma do de ação a ser seguido. Historica- nal e atuando de acordo com as nOvas
como os direitos de propriedade, que bastante reduzida. Leva-se assim ao rnente, essa perspectiva remonta a Max condições.
se mostram fundamentais para o de- extremo a ideia de que as instituições. Weber. Nas correntes contemporâneas Já no neoinstitucionalismo da es-
senvolvimento econômico por prover condicionam o comportamento dos da análise institucional, enquadra- colha racional (TSEBELIS, 2009),
os indivíduos de incentivos ao inves- indivíduos, sendo eles tomados como -Se no neoinstitucionalismo sociológico as instituições operam como uma es-
timento. Há instituições sociais, como subproduto da operação institucional. (PETERS, 1999), tendo como notáveis trutura de incentivos que permitiria a
a família, cujo desenvolvimento se dá Uma critica aguda ao estrutural- representantes contemporâneos os es- certos indivíduos (munidos da infor-
tanto em decorrência de processos in- -funcionalismo supõe que os fenôme- tudiosos da ação política em contextos mação necessária) optar pelos cursos
formais e pouco planejados de sociabi- nos sociais são mais bem compreen- organizacionais March e Olsen (1989). de ação mais eficientes, descartando
Institui ções Política s
Instituiç ões POlítica s

os demais. Tais indivíduos calculam


como atingir seus objetivos maximi - grupos, ensejando regras não escritas de
Nenhum a instituição política opera institucionais tão reclamadas - como
zando utilidades e adotam uma racio- relacionamento e padrões de conduta;
eOl um vácuo: ela funciona em um con- as reformas políticas - dificilmente
nalidade estratégica para a consecução os resultados de SUa operação são não
[e:<(O mais amplo) que engloba mudan- ocorrem.
de fins. Nessa abordagem, as institui- antecipados, ainda que eventuais forma_
ças incontroláveis) deriva~a: de ou.tr~s A segunda relativização diz respeito
ções tendem a ser vistas Como «cons- lizações a postenori possam ajustá-las a
instituições ou de condlçoes SOCIaIS, às próprias restrições imtitucionais à mu-
truções com propósitos" (ORLA NDI, determi nadas preferências. Instituições
econômicas e culturais. Uma alteração dança imtitucional. Instituições condi-
1998, p. 15), que podem ser moldadas informais se desenvolvem inclusive no
institucional demorad a pode não surtir cionam não apenas o comportamento
com a finalida de de obter os compor- interior de instituições formais, COluo
OS efeitos esperados se ocorre em um dos atores para tomar decisões e agir no
tamento s individu ais desejados. Afi- em uma casa legislativa. que é Uma ins_
ambiente já modificado em relação ao seu interior, mas também a forma como
nal, se os indivídu os são racionais e as tituição política formal (organização),
previsto. Mudanç as ambientais fazem podem modificd-las. Em um contexto
instituiç ões lhes fornecem parâmet ros estrutur ada com base em um regimen_
-os atores notar as instituições de forma institucional. criar ou reformar insti-
para a ação, ao modificarem-se tais pa- to e na constituição (normas formais),
distinta. É o caso de partidos que na tuições significa comtruir ou reconstruir
râmetro s pela construção de novas ins- mas pode desenvolver costumes e tradi_ origem são organizações de oposição
ções que se tornam imperativos (práti- dentro de uma construção existente.
tituiçõe s ou pela reforma das existen- e tornam-se governo) ou vice-versa.
cas interativas reiteradas). As restrições institucionais à ação
tes) alteram-se os cálculos individuais Os propósitos inicialmente traçados
Instituiç ões surgem e modificam.:- dos atores são tema caro ao neoínsti-
e as ações deles decorrentes. -'deixam ,de fazer sentido no novo con-
-se por acidente , evolução e intenção tucionalismo histórico, sintetizado na
A perspectiva compreensiva, con- texto, ainda que a organização preser-
(GOOD IN, 1996, p. 24-25). Os dois ideia de path dependence, ou "depen-
tudo, não abdica de considerar os ve muito de seu modelo originário de
primeiro s modos correspondem às dência da trajetória": decisões tomadas
cálculos racionais dos indivíduos na funcionamento. De algum modo, ela
instituiç ões informa is; já o terceiro, às pelos atores no passado e cristalizadas
explicação de suas ações; apenas não passa por adaptações e transformações,
formais - «construções com propósi- em determi nadas estruturas limitam
os toma como explicação exclusiva, tal alterando seus objetivos.
tos". Estas resultam de decisões cons- as possibilidades de ação no futuro
qual o instituci onalism o da escolha Duas relativizações devem ser fei-
cientes de indivídu os e grupos que, de (PIERS ON, 2004, p. 17 e ss.). O pas-
racional. Se os atores avaliam contex- tas à criação ou à reforma de institui- sado captura o futuro mediante ins-
tualmen te qual o curso de ação ade- forma volUntária e/ou planejada, ela- ções como fruto da intencionalidade.
boram regimentos normativos, regras tituições herdadas) condicionando a
quado, podem conduir que o mais . Primeiramente, nas interações sociais
escritas e constroe m organizações. Os ação humana ao longo do tempo.
apropriado em uma situação seja a e, particularmente, nas po1fticas) não
resultad os prováveis de sua operação As restrições também são cruciais
ação racional-estratégica (a ação ra- há só uma lntencionalidade presente,
são antecipa dos, mas seus resultados para o neoinstitucionalismo empfrico
cional com relação a fins de Weber), lUas várias) correspondentes aos di-
efetivos nem sempre correspondem (PETER S, 1999, p. 123 e ss.), pteo-
ao passo que, em Contexto distinto , versos atores, que dissentem entre si.
ao esperado . Ê possível que reformas cupado em entende r como o desenho
a conduta adequad a é outra. Em al- MOdificações institucionais, se ocor-
instituci onais apresent em resultadOS de instituições governamentais mo-
guns ambient es institucionais (como lerem, resultarão de interações que
distinto s dos pretend idos por seus pro- dela a conduta dos atores políticos, e
a famIlia» a açao calculadora utilitária sUpõem conflitos e cooperação, con-
pugnado res. seja porque eles não fo- Ye • para o neoinstitucionalismo da escolha
pode-se mostrar bastante imprópr ia e J nClInento recíproco, barganh as etc.
ram capazes de calcular todos os possí- racional - ocupado com as estrutur as
até mesmo contraproducente. ~ a preservação de um status quo ins- instituci onais que obstaculizam a ação
Imtituiçóes informais resultam de veis efeitos das reformas) seja porque a titu·
ClonaI pode decorrer de que os ato- política (pontos de veto) ou com os
forma involuntária ou não planejada estas podem se agregar transformaço'es dres pol' . .
trlcos são lficapaze s de escapar atores institucionalmente habilitados
das interações sociais entre indivíduos e ocorrida s por acidente e evolução - oU e Um equilíbrio de interesses que lhes
seja, de modo informal. a fazê-lo (atores com poder de veto)
aprisiona. D a í
porque certas reformas (TSEBELIS, 2009).

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Insulam ento Burocrá tico
,
1\1 i

Instituições se consolidam ao ga- MARCH, J. G.; OLSEN, J. P. Rediscavering institutions:


nhar perenidade, resistindo aos de- lhe organizational basis of pofitlcs. New York: The Free
safios à sua sobrevivência. Há certa Press,1989.
circularidade nisso, pois se a institui- ORLAND!, H. (Comp.), Las instituciones po/fticas de
ção é uma estrutur a social perene, ela gobierno. Buenos Aires: Eudeba, 1998.
se consolida justamente quanto mais PETERS, B. G. fi nuevo institucionalismo: teoria
institucional en dencia polrtica. Madri: GedJsa, 1999.
perene se torna, menos sujeita a rup-
turas, ao desaparecimento e mais ca- PIERSON, P.Pa//tics in time: hislory, inslilutions, and socIal
analysis. Princetofl: Princeton University Press, 2004.
paz de sobreviver de forma autônoma.
TSEBEUS, G.Atores com pOder de veta:como funcionam as
Uma instituição, ao consolidar-se e
instituições polfticas. Rio de Janeiro: Editora fGV, 2009.
passar a ser vista por seus membros
como tendo valor em si mesma, cria
condições de adaptação aos desafios
do ambiente, redeFinindo seus fins
i'.: de a<;ordo com as novas condições. "A
organização triunfa sobre sua função"
Insulamento Burocrático
'Ii"
(HUNT INGTO N, 1975, p, 27), MARIA RITA LOUREIRO
Instituições poUticas afetam não só
o compor tamento imediato dos indi- A expressão insulamento burocrá-
víduos, mas os resultados de sua inte- tico costuma ser usada na literatura es-
L,:! ração. Se diferentes instituições geram pecializada para exprimir uma situação
produtos distintos, evidencia-se a po-
'I:!
:.j!: tencial não neutralidade dos desenhos
em que altos funcionários do governo
envolvidos com o processo decisório
I,". institucionais. Tal fato torna a mudan- de políticas públicas encontram-se
'I" ça institucional uma estratégia menos protegidos (ou insulados, como em
'li!,
i
I!,'
custosa e certamente mais efetiva do
que tentar alterar as preferências dos
uma ilha) por uma autoridade política
superior. Por exemplo, quando o ple~
indivíduos para com isso modificar os sidente da República ou um ministro
resultados do processo poHtico. forte os isola de eventuais pressões do
restante do sistema político (padamen~
Ver: Economia Polltica; Estado; Governo; Partidos tares, partidos, governadores etc.).
Polfticos; Sistema Polftico Duas ideias estão implícitas nO iw
sulamento burocrático. A prlm , e1ra
' é
, Referências Bibliográficas que a alta burocracia precisa ser pro~
li tegida contra pressões porque elas são
I: GOODIN, R. E. The theoryof institutianal designo
Cambridge: Cambridge University Press, 1996. ilegítimas, originando-se de grupOS
HUNT1NGTON, S. Aordem polftica nas sociedades em privados ou "clientelas" que esperafll
mudança. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975. receber recompensas de políticos oU

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