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Instituição Baremblitt

EXPERRTS: E o progresso trouxe uma grande complexidade. Além desses


conhecimentos produzidos pelas ciências da natureza, ciências formais, aplicações
tecnológicas, existem disciplinas que versam sobre a organização social em si mesma. Ou seja,
nossa civilização tem produzido um saber acerca de seu próprio funcionamento como objeto
de estudo e tem gerado profissionais, intelectuais, experts que são os conhecedores dessa
estrutura e do processo dessa sociedade em si. Esses conhecedores têm-se colocado, em gérai,
a serviço das entidades e das forças que sào dominantes em nossa sociedade. A instituição que
representa o máximo da concentração de poder, o extremo de concentração de poder, o
extremo de concentração de controle e de hegemonia sobre a sociedade, que é o Estado.

Além disso, por outro lado, jâ dentro da sociedade civil, esses experts têm-se colocado
a serviço das grandes entidades proprietârias da riqueza, do poder, do saber e do prestigio,
que sào as organizaçôes corporativas, as empresas nacionais e multinacionais etc.

Esse saber, criado e acumulado pelas comunidades sociais durante tantos anos de
experiência vital, a partir do surgimento do saber cientifico e tecnolôgico, fica relegado,
colocado em segundo piano, como se fosse rudimentar e inadequado. Entâo, as comunidades
de cidadâos têm visto esse saber subordinado ao saber dos experts. Junto com seu saber, elas
têm perdido o contrôle sobre suas proprias condiçôes de vida, ficando alheias à espacidade de
gerenciar sua propria existência. Elas dependem, entâo, quase incondicionalmente, dos
organismos do Estado, empresariais, do saber e de serviços dos experts. E a quais experts
refiro-me? Aos dos ramos produtivos, primârios, secundârios e terciârios, aos especialistas de
produçâo de bens materiais, ou seja, comida, vestuârio, moradia, transporte: aqueles bens
materiaisindispensâveis à sobrevivência. Toda a produçâo desses bens esta dirigida,
gerenciada por "especialistas". Mas noutro piano, refiro-me aos problemas de saude, de
educaçâo, aos assuntos familiares, aos psicologicos e subjetivos, em gérai; as questôes
relativas ao lazer, às que atingem a comunicaçâo de massa, aos assuntos prôprios da religiâo.

em todas e em cada uma dessas organizaçôes que acabamos de descrever, a noçâo


das necessidades é produzida, assim como a demanda é modulada; isto é, aquilo que os povos
pensant que todos os membros de uma populaçâo e todos os povos do mundo précisant como
"minimo" nâo existe. Esse "minimo" é gerado em cada sociedade e é diferente para cada
segmente da mesma.

É, entâo, muito évidente que nossos coletivos estâo, atualmente, nas mâos de um
enorme exército de experts que acumulam o saber que lhes permite fazer com o que as
pessoas achem que precisam e solicitem aquilo que os experts dizem que precisam e que os
grupos e as classes dominantes lhes concedem.

AUTO-ANÁLISE e AUTO-GESTÃO: A auto-anâlise consiste em que as comunidades


mesmas, como protagonistas de seus problemas, necessidades, interesses, desejos e
demandas, possam enunciar, compreender, adquirir ou readquirir um pensamento e um
vocabulârio prôprio que lhes permita saber acerca de sua vida, ou seja: nâo se trata de que
alguém venha de fora ou de cima para dizer-lhes quem sâo, o que podem, o que sabem, o que
devem pedir e o que podem ou nâo conseguir.

Este processo de auto-anâlise das comunidades é simultâneo ao processo de


autoorganizaçâo, em que a comunidade se articula, se institucionaliza, se organiza para
construir os dispositivos necessârios para produzir, ela mesma, ou para conseguir os recursos
de que précisa para a manutençâo e o melhoramento de sua vida sobre a terra. Na medida em
que essa organizaçâo é conseqüência e, ao mesmo tempo, um movimento paralelo com a
compreensâo dada pela auto-anâlise, ela também nâo é feita de cima para baixo, nem de fora,
mas elaborada no prôprio seio heterogéneo do coletivo interessado.

É ôbvio que autogestâo e auto-anâlise sâo dois processos simultâneos e articulados.


Por quê? Porque auto-anâlise, para as comunidades, significa a produçào de um saber, do
conhecimento acerca de seus problemas, de suas condiçôes de vida, suas necessidades,
demandas etc., e também de seus recursos. Mas até para que a auto-anâlise seja praticada
pelas comunidades, elas têm que construir um dispositivo no seio do quai essa produçào seja
realizâvel. Mas nâo pode haver uma organizaçâo sem um saber; nâo pode haver um saber sem
uma organizaçâo. Sâo dois processos diferenciados, mas eles sâo concomitantes, simultâneos,
articulados

INSTITUIÇÃO:

As instituições são lógicas, podem ser leis, podem ser normas e, quando nâo estâo
enunciadas de maneira manifesta, podem ser habites ou regularidades de comportamentos.
Uma instituiçâo nâo nécessita de tal formalizaçâo por escrito: as sociedades agrafas também
têm codigos, so que eles sâo transmitidos verbal ou praticamente, nâo figurando em nenhum
documento.

Um exemplo de uma instituiçâo: a instituiçâo da linguagem. Ela caberia nesta definiçâo


que formatâmes quando a pensamos em termes gramaticais. A gramâtica nâo é nada mais que
um conjunto de leis, de normas que regem a combinatoria de elementos fônicos, de unidades
de significaçâo na linguagem.

Um tecido de instituiçôes que se interpenetram e se articulam entre si para regular a


produçâo e a reproduçâo da vida humana sobre a terra e a relaçâo entre os homens.

E em que elasse materializam? Em dispositivos concretos que sâo as organizaçôes. As


organizaçôes, entâo, sâo formas materiais muito variadas que compreendem desde um grande
complexo organizacional tal como um ministério - Ministério da Educaçâo, Ministério da
Justiça, Ministério da Fazenda etc- até um pequeno estabelecimento. Ou seja, as organizaçôes
sâo grandes ou pequenos conjuntos de formas materiais que concretizam as opçôes que as
instituiçôes distribuera e enunciam. Uma organização está composta em unidades menores: os
estabelecimentos, como, por exemplo, os estabelecimentos. Estabelecimentos seriam as
escolas, um convento, uma fâbrica, uma loja, um banco, um quartel. Hâ diversos tipos de
estabelecimentos, de caractensticas muito diferentes. Mas é um conjunto de
estabelecimentos o que integra uma organizaçâo. Os estabelecimentos, em gérai, incluem
dispositivos técnicos cujos exemples mais bâsicos sâo a maquinaria, as instalaçôes, arquivos,
aparelhos. Isso recebe o nome de equipamento. O equipamento pode ter uma realidade
material que coincide com o estabelecimento, ou seja, as mâquinas de um estabelecimento -
ou pode ter uma realidade muito mais ampla, de maneira que forme um grande sistema de
mâquinas, um grande equipamento.

INSTITUÍDO E INSTITUINTE: Em uma instituiçâo podem-se distinguir duas vertentes


importantes. Uma é a vertente do instituinte, e outra a do instituido. Entâo, a esses momentos
de transformaçào institucional, a essas forças que tendem a transformar as instituiçôes ou
também a estas forças que tendem a fundâ-las (quando ainda nâo existem), a isso se chaîna o
instituinte, forças instituintes. Sâo as forças produtivas de lôgicas institucionais.

O instituido é o efeito da atividade instituinte. O instituinte aparece como um


processo, enquanto o instituido aparece como um resultado. O instituinte transmite uma
caracteristica dinâmica; o instituido transmite uma caracteristica estâtica, estabilizada.

Para concluir, osinstituintes-instituidos, organizantesorganizados que constituera a


malha, a rede social, nâo atuam separadamente, mas sim em conjunto. E essa atividade em
conjunto pode ser enunciada com uma formula pedagôgica: cada um deles atua no outro, pelo
outro, para o outro, desde o outro.
ATRAVESSAMENTO E TRANSVERSALIDADE: Esta interpenetraçâo acontece ao nivel da
funçâo e ao nivel do funcionamento; ao nivel da produçâo e ao nivel da reproduçào; ao nivel
daquilo que funcionarâ a favor da utopia e ao nivel daquilo que esta contra. Entâo, essa
interpenetraçâo ao nivel da funçâo, do conservador, do reprodutivo, chama-se
atravessamento. Essa interpenetraçâo ao nivel do instituinte, do produtivo, do revolucionârio,
do criativo chama-se transversalidade.

PSICOLOGIA INSTITUICONAL: Para dizê-lo de outra maneira, penso que não se pode
ser psicólogo se não se é, ao mesmo tempo, um investigador dos fenômenos que se querem
modificar e não se pode ser investigador se não extraem os problemas da própria prática e da
realidade social que está vivendo em uma dado momento, ainda que transitoriamente e por
razões metodológicas da investigação, isolem-se momentos do processo total

A psicologia institucional abarca, então, o conjunto de organismos de existência física


concreta, que têm um certo que tem um certo grau de permanência em algum campo ou setor
específico da atividade ou vida humana, para estudar neles todos os fenômenos humanos que
se dão em relação com a estrutura, a dinâmica, funções e objetivos da instituição. Com esta
definição, quero sublinhar que à psicologia institucional não correspondem, por exemplo, as
leis enquanto instituições e sim os organismos em que concretamente se aplicam ou
funcionam (tribunais, prisões, etc) ditas leis em sua forma específica.

Em psicologia institucional, interessa-nos a instituição como totalidade; podemos nos


ocupar de uma parte dela, mas sempre em função da totalidade. O cumprir dois papéis
diferentes no mesmo lugar implica uma superposição e confusão de enquadramento com
situações que se fazem muito difíceis de avaliar e manejar.

Cada instituição tem seus objetivos específicos e a sua própria organização, com a qual
tende a satisfazer ditos objetivos. Ambos (fins e meios) têm que ser perfeitamente conhecidos
pelo ou pelos psicólogos, como ponto de partida para decidir seu ingresso como profissional
na instituição.

Estes fatos não invalidam, não impossibilitam a função do psicólogo, e sim que já são
as circunstâncias sobre as quais justamente se tem que agir. Este deve saber que sua
participação numa instituição promove ansiedades de tipos e graus diferentes e que o manejo
das resistências, contradições e ambiguidades forma parte, infalivelmente, de sua tarefa.

Em todos os casos, o objetivo do psicólogo no campo institucional é um objetivo de


psico-higiene: conseguir a melhor organização e as condições que tendem a promover saúde e
bem-estar dos integrantes da instituição. O psicólogo institucional pode se definir, neste
sentido, como um técnico da relação interpessoal ou como um técnico dos vínculos humanos e
pode se dizer também que é o técnico da explicação do implícito. Ajuda a compreender os
problemas e todas as variáveis possíveis dos mesmos, mas ele próprio não decide, não resolve
nem executa.

A PSICOLOGIA COMO INSTITUIÇÃO:

A psicologia institucional não é uma área de atuação profissional, mas um modo de


fazer concretamente a psicologia, um modo de produzi-la na interface com outras
modalidades de conhecimento;

Demonstrar a viabilidade de pensar a psicologia como instituição e dai derivar a ideia


de que onde e como quer que se a exerça, estaremos de algum modo reafirmando esse seu
caráter; estaremos produzindo e ou/ reproduzindo uma prática, um conjunto de relações, que
reconhecemos legítima e naturalmente ser psicologia

Com a entrada e a consolidação da psicologia nas organizações, multiplicaram-se os


modos de intervenção e de compreensão dos fenômenos psicossociais; Em parte, deriva dessa
diversidade, no limite da indiferenciação, uma vantagem para o exercício da psicologia:
multiplicaram-se iniciativas e tentativas de alargar os horizontes do pensamento e do fazer
concreto, extrapolando os já distantes limites legais e provocando os psicólogos a abandonar
determinadas certezas cristalizadas em suas modalidades de atuação, para abraçar desafios
ainda muito tensos e informes.

ANÁLISE INSTITUCIONAL: A análise institucional, por sua vez, é o nome dado a um


movimento que supõe um modo específico de compreender as relações sociais, um conceito
de instituição e um modo de inserção do psicólogo que é de natureza imediatamente política;

As práticas e as relações sociais são a base da constituição da nossa subjetividade; Os


lugares institucionais definem um conjunto de expectativas e ações que podemos ter,
definindo também as possibilidades de subjetivação; O analista institucional é um analista das
práticas e das relações sociais que produzem os sujeitos, que produzem subjetividade.

As instituições são um “conjunto de relações sociais que se repetem e que, nessa


repetição, legitimam-se”. Essa legitimação se dá em ato, pelos efeitos de reconhecimento de
que essas relações são óbvias e que naturalmente sempre foram assim. Dá-se, ao mesmo
tempo e complementarmente, pelos efeitos de desconhecimento de sua relatividade.
“Epistemologia do armário”.
Seria possível pensar a ignorância como um efeito de um modo específico de
conhecer?

“À medida que a ignorância é ignorância de um modo de conhecimento... ela é


produzida como parte de um regime de verdades específico”. O ocultamento como forma de
ser e como forma de vida é produzido por efeitos de um conhecimento hegemônico. Toda
instituição constitui um objeto (imaterial, impalpável): é aquilo em nome de ela se faz, e cujo
monopólio é reivindicado numa delimitação de Âmbito de ação com outras instituições.

Relação entre agentes institucionais e clientes das instituições; uma relação de poder,
portanto, um jogo de forças poder/resistência, que não se dá senão no e pelo discurso.

Com mIchel Foucault, tomamos o discurso como ato, dispositivo, instituição, que
define, para um determinado momento histórico e para uma região geográfica, as regras da
enunciação.

Os discursos são dispositivos-ato, por que supõem para seu exercício uma posição, um
lugar prenhe de palavras para ouvir para falar; com os feitos que isto pode ter sobre a ação de
um e outro em relação, num determinado contexto.

Isso significa que os psicanalistas, ora mais e ora menos diretamente, aprederam das
mesmas fontes teóricas, leram e creditaram os mesmos autores; ou seja, comungam as
mesmas teorias e se autorizam a dizer em nome dos mesmos mestres. Também, isso implica
um modo de pensar o que devem fazer como analistas, o que é análise, “quem” é o paciente,
porque sente o que sente, até onde se pode ir num determinado processo.

Tudo isso se dá por um sutil enlaçamento dos efeitos das práticas de formação aos da
própria repetição cotidiana dos atendimentos. Sutil, porque o reconhecimento que fazemos da
teoria que aprendemos, como verdade sobre uma pessoa concreta que nos procura, é
legitimação, naturalização muda do conhecimento constituído. E tudo isso se passa à revelia
de nossas consciências.

Podemos tomar o exercício da psicologia como discurso que produz e reproduz


verdades,, num jogo de forças de poder-resistência. O objeto da psicologia: as relações, mas
não aquelas imediatamente observáveis, e sim, tal como percebidas, imaginadas, por aqueles
que concretamente as fazem.

A análise institucional é portanto, oriunda de uma posição com relação a como se


constitui a subjetividade; Se considerarmos o objeto institucional da psicologia como sendo as
relações tal como reconhecidas, imaginadas peplos que as fazem, onde quer que trabalhemos
daremos foco à subjetividade que nessas relações se constitui.

Quando se fala em mudança em análise institucional, supõe-se que ela ocorra


fundamentalmente na postura e na perspectiva do psicólogo; e não, como se costuma
imaginar, que o psicólogo; e não, como se costuma imaginar, que o psicólogo deva
transformar a realidade, como se fosse dele o lugar predestinado à crítica e alteração dos
outros.

Até porque, se ao fazer sua psicologia ele se dispõe a constantemente repensar o que
o que e como se move nas relações instituídas, estará mobilizando um campo de forças e
forçando um caminho na contramão das repetições e automatismos característicos das
instituições. É asso, que o desenho da profissão se diferencia. E, como faz parte das práticas
institucionais, estas se alteram.

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