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Psicologia Social II

1º bimestre
Aula Introdutória
→ Iremos estudar no primeiro bimestre:
- socialização, institucionalização e grupos
- estigmas e estereótipos
- preconceito e exclusão

Tema 01 - Socialização, Institucionalização e Grupos


→ Processo de Socialização
- Esse fenômeno possibilita o desenvolvimento no indivíduo de
atitudes, motivos, interesses e necessidades que influenciarão no
seu comportamento com as outras pessoas e com o mundo em
geral.
- Este conjunto de aspectos psicológicos permite-nos compreender, atribuir significado e
responder ao outro.
- Somos sujeitos sócio-históricos

→ Aspectos Psicológico da Socialização


- Para os sociólogos Peter Berger e Thomas Luckmann a sociedade é uma realidade ao mesmo
tempo objetiva e subjetiva.
- Ou seja, a sociedade é uma produção humana e o ser humano é uma produção social.
- Diferença entre o ser humano e outros animais: o primeiro não está restrito a sua construção
biológica.
- O ser humano termina o seu desenvolvimento físico ao nascer, no mundo externo, fora do corpo
materno. Isso significa que até mesmo biologicamente nos desenvolvimentos na relação com o
mundo.
- O corpo humano pode ser entendido como apenas um suporte para nosso desenvolvimento
histórico social cultural.
- “O ser humano em desenvolvimento não somente se correlaciona com o ambiente natural
particular mas também com uma ordem cultural e social específica que é mediatizada para ele
para os outros significativos que tem a seu cargo. Não apenas a sobrevivência da criança
depende de certos dispositivos sociais, mas a direção de seu desenvolvimento orgânico é
socialmente determinada " (Berger: Luckmann. 2003, p. 71).
- Ninguém nasce membro de uma sociedade mas sim com a predisposição para sociabilidade.
Interiorizamos um mundo objetivo já dotado de sentido produzido por uma coletividade.
- Participando de um campo de significação (mesma cultura), por meio dos discursos e práticas
discursivas, a subjetividade do outro é objetivamente acessível a mim tomando-se dotada de
sentido para mim.

→ Interiorização da Realidade
- Socialização primária: é a primeira socialização que um indivíduo experimenta na infância, em
virtude da qual torna-se membro da sociedade. Essa fase acaba quando o indivíduo torna-se
capaz de assumir papéis e atitudes "certas" sem necessidade de qualquer referencial
significativo. Exemplos de aparelhos de socialização primário: família e escola.
- Socialização secundária: é qualquer processo subsequente que introduz os indivíduos já
socializados em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade. Os novos conteúdos
sobrepõem-se aos já adquiridos, o que pode gerar problemas de coerência ou de valores
conflitantes. Exemplos de aparelhos de socialização secundária: empresas e profissões.
- A base da mudança social está na possibilidade de construção de outros mundos interiorizados a
partir da socialização secundária para além dos que foram interiorizados na socialização
primária.
- “A socialização nunca é total nem está jamais acabada” (Berger, Luckmann. 2003, p. 184).

→ Realidade Social
- Existem níveis que compõem a realidade social:
• Institucional
• Organizacional
• Grupal

→ Processo de Institucionalização
- Instituição: conjunto de normas que regem a padronização de um determinado hábito na
sociedade e que garantem a sua reprodução.
- O hábito fornece a direção e a especialização da atividade que faltam no sistema biológico do
indivíduo, oferecendo um fundamento estável, no qual a atividade humana pode avançar com o
mínimo de tomada de decisões durante a maior parte do tempo.
- A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação de ações habituais (padronização)
aceitas por determinado grupo.
- Em outras palavras, o processo de institucionalização começa com o estabelecimento de
regularidades comportamentais. As pessoas vão aos poucos descobrindo a forma mais rápida,
simples e econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano.
- Exemplo: Um grupo social que vivesse, fundamentalmente da pesca, estabeleceria formas
práticas que garantissem a maior eficiência possível na realização da tarefa.
- Pode-se dizer que um hábito se estabelece quando uma dessas formas repete-se muitas vezes.
- Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e das gerações,
transforma-se em tradição. E o que acontece? As bases concretas, estabelecidas com o decorrer
do tempo, não são mais questionadas.
- A tradição se impõe porque é uma
herança dos antepassados. Se eles
determinaram que essa é a melhor
forma, é porque tinham alguma razão.
- A tradição passa a ser vista não como
uma regularidade estabelecida para
uma certa funcionalidade, mas como
uma herança dos antepassados que deve ser respeitada.
- Quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde essa referência de origem (o
grupo de antepassados), dizemos, então, que essa regra social foi institucionalizada.
- Um exemplo de institucionalização pode ser a monogamia, antigamente o humano vivia em
relações poligâmicas e de acordo com o tempo, o hábito de ter
apenas um parceiro, por um motivo financeiro, aos poucos, de
geração em geração, se tornou uma tradição nos tempos
atuais.

→ O que é, então, uma instituição?


- A instituição é um valor ou regra social reproduzida no
cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão
ético para as pessoas, em geral.
- Quanto mais se reproduzem as regras institucionalizadas, menos se percebe que se trata de uma
construção social – como a monogamia, por exemplo.
- Somos subjetivados nesse processo e ficamos alienados nele, e só o percebemos quando as
regras instituídas são quebradas ou desobedecidas.
- Exemplos de instituições podem ser observadas na forma como entendemos:
• Família • Maternagem / Paternagem
• Casamento • Formação / Trabalho
• Monogamia • Religião / Teísmo
• Amor materno • Propriedade privada
→ Instituições
- Não são concretas, são ideais institucionalizados na sociedade
- A Instituição é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações, por ex:
• Quando você vai cumprimentar alguém, você não fica na dúvida de como cumprimentar
• Quando se inicia o namoro, não se pergunta se ele vai ser monogâmico ou não
• São coisa que estão tão inticionalizadas que a gente nem questiona como agir
- Porque vestimos certas roupas para certas ocasiões?
- Por que vestimos roupas?
- A institucionalização é a presença invisível da sociedade no dia a dia dos indivíduos. Representa
uma forma definida de normatização que ocorre na sociedade, mas não se coloca de forma
explícita para os grupos que sofrem essa normatização.
- As instituições são dinâmicas, pois dependem da forma como o processo histórico se constitui,
onde um elemento interfere no outro. Portanto, são permeadas pelo PODER.
- O processo de institucionalização da sociedade é uma forma de garantir sua reprodução, através
da realidade objetiva, ou seja, da organização (disposição material dos lugares e dos
instrumentos de trabalho, nos horários, nos conjuntos de autoridades).
- As institucionalizações geralmente são vistas como verdades e naturais pela sociedade, sempre
vai ter um ou outro que vai questionar mas não é assim que acontece na maioria das vezes.

→ Organização
- Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização.
- A família é uma organização, a faculdade é uma organização, a igreja é uma organização, é a
base concreta.
- As organizações representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da
sociedade.
- A organização pode ser um complexo organizacional – um Ministério, como, por exemplo, o
Ministério da Saúde; uma Igreja, como a Católica; uma grande empresa, como a Volkswagen do
Brasil; ou pode estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma creche de uma entidade
filantrópica.
- É o lugar onde o controle se apresenta de forma mais clara, como no caso do horário de entrada
e saída do trabalho nas fábricas ou o tipo de roupa que se deve usar em cada local.
- As instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Portanto, a organização
é o pólo prático das instituições.
→ Grupo
- É o lugar onde a instituição se realiza.
- Supõe um conjunto de pessoas num processo de relação mútua e organizado com o propósito de
atingir um objetivo imediato (ex: trabalho escolar) ou mais a longo prazo (ex: formar-se em uma
profissão da saúde).
- A realização do objetivo impõe tarefas, regras que regulam as relações entre as pessoas, num
processo de comunicação entre todos os participantes e o próprio desenvolvimento do grupo em
direção ao seu objetivo.
- O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras.
- É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade, ora
controlado, submetido de forma acrítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação,
da rebeldia, da produção do novo.

→ Instituição, Organização e Grupo


- Instituição: constitui o campo dos valores e das regras (portanto, um campo abstrato);
- Organização: é a forma de materialização destas regras através da produção social;
- Grupo: realiza as regras, promove os valores, mas também pode problematizá-las.

Tema 02 - Processo Grupal


→ Grupos
- São elementos que servem de intermediários entre o conjunto social mais amplo e o indivíduo.

- O grupo pode ser definido como um todo dinâmico (o que significa dizer que ele é mais que a
simples soma de seus membros), e que a mudança no estado de qualquer subparte modifica o
estado do grupo como um todo.
- O grupo se caracteriza pela reunião de um número de pessoas (que pode variar bastante) com
um determinado objetivo, compartilhado por todos os seus membros, que podem desempenhar
diferentes papéis para a execução desse objetivo.
- A importância do estudo dos Grupos na Psicologia:
• Os primeiros estudos sobre os grupos foram realizados no final do século 19 pela então
denominada Psicologia das Massas ou Psicologia das Multidões.
• O que se perguntava no campo da Psicologia era o que levaria uma multidão a seguir a
orientação de um líder mesmo que, para isso, fosse preciso colocar em risco a própria vida.
• Qual fenômeno psicológico possibilitaria a coesão das massas?
• Apesar de a Psicologia Social surgir com o estudo das massas, será com grupos menores, os
quais possuem objetivos claramente definidos, que se desenvolverá a pesquisa de grupos.

→ Dinâmica dos Grupos


- Solidariedade mecânica – afiliação a esse grupo independe da nossa vontade no que diz respeito
à escolha dos seus integrantes. Ou seja, é uma forma de convívio que não temos controle ou
poder para decidir quem fará parte. (ex: a sala de aula, você escolheu fazer o curso mas não
escolheu quem faria com você).
- Solidariedade orgânica – é a forma de convívio na qual nos afiliamos a um grupo porque
escolhemos nossos pares. (ex: as panelinhas que você forma dentro da solidariedade mecânica,
ou seja você não escolheu quem estaria na sua sala mas escolheu quem sentaria do seu lado).
- As pessoas vivem, em nossa sociedade, em campos institucionalizados.
- Em alguns casos, a institucionalização nos obriga a conviver com pessoas que não escolhemos.
No entanto, a afinidade pessoal é levada em consideração para a escolha do grupo também.
- Nos grupos em que predomina a solidariedade mecânica, geralmente formam-se subgrupos
que se caracterizam pela solidariedade orgânica, como é o caso das “panelinhas” em sala de
aula ou do grupo de amigos em uma fábrica ou escritório.
- Quando um grupo se estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar sobre as pessoas
individualmente e sobre o grupo, ao que chamamos de processo grupal.

→ Fenômenos Grupais
Coesão Grupal
- Pode ser definida como:
• A quantidade de pressão exercida sobre os membros de um grupo a fim de que nele
permaneçam.
• É a resultante de todas as forças que atuam sobre os membros para permanecerem no grupo. •
• Condições necessárias para a manutenção do grupo.
• É a “certeza” da fidelidade dos membros.
- Os grupos, de acordo com suas características, apresentam maior ou menor coesão grupal.
- Várias razões são capazes de levar uma pessoa a pertencer a um grupo:
• Atração entre seus componentes (atração por pessoa(s) do grupo);
• Atração pela tarefa a ser executada (fidelidade pela ideologia do grupo / conquista de uma
meta);
• Atração devido ao prestígio em pertencer ao grupo (poder).
• Motivos individuais e objetivos do grupo são elementos que garantem fidelidade e que estão
relacionados com a escolha que cada indivíduo faz ao decidir participar de um grupo.
• As individualidades serão admitidas pelo grupo desde que não interfiram nos objetivos centrais
do grupo, na sua ideia central ou nas suas características básicas.
- Quanto maior a coesão grupal:
• maior satisfação experimentada por seus membros;
• maior a quantidade de comunicação entre os membros;
• maior a quantidade de influência exercida pelo grupo em seus membros;
• maior a produtividade do grupo.
- Grupos com baixo grau de coesão tendem a se dissolver.
- Fatores como gratificações por estar no grupo, tempo que as pessoas estejam juntas em um
grupo, ameaças externas ao grupo e liderança podem aumentar a coesão.

Normas
- São padrões ou expectativas de comportamentos compartilhados pelos membros de um grupo.
- Qualquer tipo de grupo, grande ou pequeno, formais ou informais, se constitui a partir de
normas garantidoras de sua sobrevivência e, quando são desobedecidas, levam a penalização do
membro do grupo.
- As normas são aprendidas e constituem um dos mais importantes mecanismos de controle
social.
- Nesse sentido, os membros de um grupo utilizam tais padrões para julgar a propriedade ou
adequação de suas percepções, de seus sentimentos e de seus comportamentos.
- A formação de normas é relativa aos objetivos do grupo como um todo e de seus integrantes em
particular.
- Normas são funcionais, pois substituem o discurso do líder do grupo. Com o estabelecimento de
normas não é preciso que o líder esteja a todo momento se posicionando e exercendo poder.

Papéis
- O papel social é um conceito sistêmico, e se refere às expectativas de interação entre a pessoa
que ocupa uma posição em um grupo e as outras que lhe são complementares.
- De modo geral, todos os grupos têm papéis definidos, que constituem em expectativas
compartilhadas sobre como determinados membros devem se comportar.
Normas e Papéis
- Enquanto as normas especificam como todas as pessoas devem comportar-se, os papéis
determinam como deve ser o comportamento das pessoas que ocupam determinadas posições
dentro de um grupo.
- Normas sociais, assim como papéis desempenhados pelos membros, facilitam a interação social
fazendo com que, à princípio, as pessoas saibam mais prontamente o que esperar umas das
outras.

Papéis
- Quando os papéis são claramente definidos, os membros tendem a se sentir mais satisfeitos e
ter melhor desempenho.
- Para o funcionamento harmonioso do grupo faz-se necessário que o papel atribuído a si pelo
próprio indivíduo seja coerente com o que dele se espera os demais membros.
- Normas e papéis ambivalentes podem conferir conflitos no grupo (exemplo: ser a pessoa mais
jovem e ser supervisora de uma equipe / ser psicóloga de uma clínica que faz abortamento
legalizado e ser católica).
- Idade, sexo, nível educacional, normas culturais, status, tipo de grupos etc. são exemplos de
fatores que influenciam no estabelecimento de papéis.
- As expectativas dos papéis a serem desempenhados pelos integrantes de um grupo variam à
medida que o grupo se reestrutura.
- A noção de papel social não implica um conceito estático, imutável e perene.

Liderança
- Força de convencimento exercida por um ou mais indivíduos sobre os outros e o tipo de
atividade exercida pelo grupo.
- Há teorias que entendem que inteligência, autoconfiança, sociabilidade, persistência, dominância,
criatividade são traços de personalidade que contribuem para o exercício da liderança.
- Porém, atualmente, não se fala de traços de liderança, mas sim que a liderança é um fenômeno
emergente, fruto da interação entre os membros do grupo e depende da atmosfera e das
finalidades do grupo.
- Para Kurt Lewin – os primeiros estudiosos sobre grupos – para que o clima do grupo seja
democrático ou autoritário depende da vocação do grupo e do estabelecimento de lideranças
que os viabilizassem.
- O importante desta classificação feita por Lewin foi a descoberta de que os grupos democráticos
são, a longo prazo, os mais eficiente
Liderança - Grupos Autoritários
- Os autoritários (ou autocráticos) têm uma eficiência imediata, na medida em que são muito
centralizados e dependem praticamente de seu líder.
- Contudo, são pouco produtivos, pois funcionam a partir da demanda do líder, e seus membros
são, geralmente, cumpridores de tarefas.
- Membros se mostram bastante submissos ao líder e reagem mais agressivamente quando
passam a ter um líder mais liberal.
- É mais frequente a agressividade entre membros e com o material de trabalho e em casos de
dificuldades, se apela para o líder.
- Os grupos democráticos exigem maior participação de todos os membros, que dividem a
responsabilidade da realização da tarefa com a sua liderança.
- Este tipo de grupo pode tornar-se mais competente ainda quando sua liderança for emergente,
isto é, quando se desenvolve de acordo com o objetivo ou tarefa proposta pelo grupo.
- Indivíduos se pautam na originalidade/espontaneidade.
- Há sentimento de coletividade e cooperação e os grupos se reúnem espontaneamente.
- Decisões são tomadas em conjunto, líderes e membros buscando uma solução que satisfaz a
todos.

Lideranças - laissez-faire
- Lewin também estudou um terceiro tipo de liderança: laissez-faire (liberal ou “delegador”).
- Líderes com esse perfil dão autonomia total para as pessoas dentro de um grupo, deixando as
decisões para seus membros.
- Lewin pontuou que esses grupos possuem mais chance de ficaram sem objetivo ou
direcionamento claro, causando discussões entre os membros e perda de controle do grupo.
- Entende-se que não é possível eleger uma liderança antes da interação do grupo.
- O líder deve emergir do processo relacional entre seus membros,
Tomada de Decisão
- Decisões tomadas em grupo tendem a ser mais arriscadas, mais audaciosas e menos
conservadoras que decisões tomadas individualmente. Isso se deve a difusão da
responsabilidade.
- A coesão de grupo também oferece mais segurança para os membros agirem levando em conta a
dimensão afetiva junto à dimensão racional.

→ Estudo dos Grupos em Psicologia Social


- A teoria de Kurt Lewin sobre grupos influenciou as pesquisas sobre Psicologia Organizacional e
do Trabalho e Recursos Humanos, a partir dos estudos das relações de trabalho.
- Empresas e forças armadas foram grandes financiadores deste tipo de pesquisas, buscando
descobrir o que leva o sujeito à motivação para o trabalho.
- A perspectiva lewiniana traz implícitos valores:
• harmonia;
• manutenção
• ideal de grupo coeso, estruturado acabado (onde não há lugar para o conflito e as relações são
horizontais e colaborativas)
• conflitos são vistos como algo ameaçador que deve ser resolvido a partir do consenso.
- Porém, os estudos mais atuais sobre grupos nos mostram que o grupo é:
• lugar onde as pessoas mostram suas diferenças;
• onde as relações de poder estão presentes e perpassam as decisões cotidianas ;
• onde o conflito é inerente ao processo de relações que se estabelecem;
• há uma convivência do diferente, do plural;
• busca-se discussão de suas ideias com outros e, no confronto, conciliar apenas o conciliável,
deixando claro as individualidades, o diferente.
• pessoas diferentes, com valores diferentes podem juntas construir o processo grupal.
- Grupos que tanto podem estar a serviço da transformação social quanto a sua manutenção. Os
grupos podem possibilitar a libertação, assim como fixar a posição de alienação da pessoa.
- É possível fazer do grupo o rompimento da relação de reprodução da dominação e alienação da
sociedade que nos rodeia, justamente entrando em contato com a singularidade de seus
membros e com a diversidade.
- Para isso é preciso pensar e explicitar situações que entravam no funcionamento do grupo,
elaborar e trabalhar as relações, colocando todos os membros na posição de sujeitos.
Tema 03 - Identidade Social
→ Teoria da Identidade Social
- A Teoria da Identidade Social (TIS) começou a ser desenvolvida na Inglaterra, pela chamada
Escola de Bristol, especialmente com os psicólogos Henri Tajfel (1919-1982) e John Turner
(1947-2011), com a intenção de pesquisar as relações intergrupais e a identidade, em um
âmbito além do individual.
- A identidade social pode ser definida como o conjunto formado pelo autoconceito do indivíduo,
sua pertença grupal e a valoração atribuída a esta pertença.
- A TIS entende a identidade social como a percepção de pertença a um grupo e de não
pertença a outro.
- A TIS envolve três principais conceitos:
• a identidade social;
• a categorização social;
• a comparação social.

Categorização Social
→ A categorização social se refere a um processo cognitivo – um sistema de orientação – necessário
para que os indivíduos organizem informações e definem seu lugar na sociedade.
→ Para Tajfel (1983, p. 290)1 , através deste processo “[...] se reúnem os objetos ou acontecimentos
sociais em grupos, que são equivalentes no que diz respeito às ações, intenções e sistemas de crenças do
indivíduo”.
→ Dessa maneira, um indivíduo define-se a si próprio e define os outros em função do seu lugar num
sistema de categorias sociais.
→ É um processo capaz de segmentar, classificar e ordenar o ambiente social.
→ Quando a identificação social se consolida, a pessoa tenta agir segundo as normas imersas no grupo

⤴️
social de pertencimento.
→ https://famapisco.files.wordpress.com/2013/12/categorizac3a7c3a3o.jpg - link da imagem

Comparação Social
→ A comparação social implica que, ao realizar comparações entre o seu próprio grupo (chamado de
ingroup, endogrupo ou intragrupo) e o grupo de relação/comparação (outgroup, exogrupo ou
extragrupo), os indivíduos tendem a atribuir características positivas ao seu grupo e negativas ao
outro grupo, a fim de manter sua autoimagem positiva.
→ Em meio aos processos de categorização e comparação sociais, há uma tendência a se fazerem
generalizações e hipersimplificação de certas categorias, constituindo-se os estereótipos sociais.
→ Estes estereótipos sociais também auxiliam os indivíduos na organização cognitiva do seu meio e na
proteção dos seus valores, através de três funções:
- Diferenciação positiva do endogrupo em relação ao exogrupo – atribuição de características
positivas ao endogrupo, para manter uma distintividade positiva;
- Função justificadora – que pode variar de acordo com o status do grupo. Caso seja um grupo
minoritário, auxilia na ressignificação de estereótipos negativos que possam ser relacionados a
este grupo. Caso seja de um grupo de status superior, fornece elementos para justificar a
superioridade deste grupo em relação a outro(s);
- Explicação causal – fornecimento de explicações que permitam simplificar o entendimento do
mundo em que se encontram os indivíduos.
→ Essas comparações entre diferentes grupos, associadas ao processo de categorização social e ao uso
de estereótipos, levam os indivíduos a realçarem diferenças entre o seu grupo e aquele(s) percebido(s)
como mais similares ao seu endogrupo, visto que, como afirma Tajfel (1983, p. 388), “somos o que
somos, porque eles não são como nós”.
→ Dentro dos grupos existem forças invisíveis extremamente potentes no sentido de enviesar a
percepção e o julgamento dos membros.
→ A pertença a um grupo, segundo o referencial da TIS, se refere a uma pertença psicológica, que se
dá a partir de:
- um aspecto cognitivo, segundo o qual os indivíduos se reconhecem como pertencentes a
determinado(s) grupo(s);
- um aspecto avaliativo, a partir do qual os indivíduos realizam avaliações (positivas ou
negativas) acerca do seu pertencimento a este(s) grupo(s);
- um aspecto emocional, referente aos sentimentos, afetos ou emoções que podem ser
conjugados às outras dimensões dessa pertença.
Teoria da Identidade Social
→ A noção de grupo, segundo esta teoria, é a de um grupo psicológico, sem a necessidade de relações
presenciais, face a face, que pressupõem uma relação objetiva e a divisão de espaços partilhados entre
alguns.
→ Além dos três aspectos (cognitivo, avaliativo e emocional), para que um grupo exista é importante
também que outras pessoas reconheçam a existência deste grupo – um reconhecimento “externo”.
→ Ambos os critérios, o “interno” e o “externo” são necessários para se definir uma identificação
grupal.
→ A diferenciação intergrupal não é um simples produto de um conflito de interesses, mas emerge da
necessidade principal de atribuir significado ao status intergrupal, de forma a fortalecer a identidade
social, aumentando as diferenças entre os grupos ou criando diferenças que, de fato, não existem.
→ Considerando-se a variedade de categorias e grupos sociais aos quais se pode pertencer, várias são,
também, as identidades que um indivíduo pode ter, de forma que a importância dessas pertenças pode
variar de acordo com o contexto em que se encontra e com o(s) grupo(s) de comparação em
determinadas situações.
→ A identidade social, enquanto “aquela parcela do autoconceito dum indivíduo que deriva do seu
conhecimento da sua pertença a um grupo (ou grupos) social, juntamente com o seu significado
emocional e de valor associado àquela pertença” (Tajfel, 1983, p. 290), se configura, portanto, como uma
construção social, sendo relacional, flexível e mutável.

Estratégias para a Identidade Social


→ A busca dos indivíduos por alcançar uma identidade social segura e positiva e manter a distintividade
positiva do seu endogrupo faz com que eles possam se utilizar de estratégias diversas para evitar uma
identidade negativa, o que depende das crenças que possuem acerca das relações intergrupais.
→ Assim, tanto os grupos de status social inferior quanto os de status superior podem sentir que sua
identidade está ameaçada e buscar fazer algo para recuperar a segurança.
→ Dentre as possíveis estratégias destacam:
- a mudança social;
- a mobilidade social.
→ Adotada especialmente entre grupos de status social inferior, a mudança social se refere a uma
estratégia coletiva, a partir da qual o grupo tenta mudar sua condição desfavorável.
→ Ela se baseia nas crenças de que a estratificação social existente é grande e ilegítima, e que é
possível tentar, enquanto grupo, mudar a situação.
Mudança Social

Mobilidade Social
→ A mobilidade social se constitui como uma estratégia individual, segundo a qual os indivíduos podem
tentar mudar de grupo a partir de um abandono psicológico ou objetivo do mesmo.
→ Baseia-se nas crenças de que as divisões entre os grupos são permeáveis e flexíveis e que é possível
tentar mudar para outro grupo de status superior, seja através de trabalho, sorte ou outra razão.
→ Ao adotar a estratégia da mobilidade social o estatuto do seu grupo anterior não muda, ou seja, é
uma estratégia individualista com o objetivo, pelo menos a curto prazo, de alcançar uma solução
individual e não uma solução grupal.

Considerações Finais
→ Compreender como os processos identitários se formam é de suma importância para desvendar
como tais processos estão na gênese dos movimentos de afirmação das mais diversas minorias, assim
como na resposta por vezes violenta de grupos “opostos”.
→ As regras e critérios que “formam” tais grupos são subjetivas e fluídas, não é algo exato, nada
contendo de naturalidade em si mesmas.
→ A formação de tais grupos é logo, primordialmente social, e por conseguinte, também histórica.

Tema 04 - Psicologia das Massas


Psicologia das Massas e Análise do Eu
→ A Psicanálise foi uma das primeiras a estudar os grupos levando em conta não só a influência do
grupo no indivíduo, mas os afetos envolvidos na relação entre membros dos grupos. Para Freud toda
psicologia é social.
→ “Quando se fala de psicologia social ou de grupo, costuma-se deixar essas relações (mais íntimas,
como as com os pais e o ser amado] de lado e isolar como tema de indagação o influenciamento de um
indivíduo por um grande número de pessoas com quem se acha ligado por algo, embora, sob outros
aspectos, possam ser-lhe estranhas" (Freud, 1921/1996, acréscimos nossos).

Psicologia Individual e de Grupo


→ Freud aponta desde o início a indiferenciação entre psicologia social e psicologia individual:
→ "O contraste entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo [...] perde grande parte de
sua nitidez quando examinado mais de perto. [..] contudo, apenas raramente e sob certas condições
excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os
outros. [) desde o começo, a psicologia individual, [ ]. é, ao mesmo tempo, também psicologia social”
(Freud. 1921/1996).
→ O EU é PLURAL
→ Ou seja, todas as pessoas têm alguma experiência grupal e em grupo passamos a funcionar conforme
uma mente grupal (ou alma coletiva, em traduções mais recentes).

Mente Grupal
→ Movido pela Mente Grupal, um indivíduo assume posições de sujeito (comportamentos, sentimentos,
ideais, valores, hábitos etc.) específicas que ocorrem quando inserido no grupo, mas não ocorrem quando
está sozinho ou em outros grupos.
→ Freud apoiou seu pensamento no trabalho de Gustave Le Bon principalmente em sua obra Psicologia
das Multidões [Psychologie des Foules]. de 1895.

Psicologia das Multidões


→ “Sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam
seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados
num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de
maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria
e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento. Há certas ideias e sentimentos que não surgem ou
que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um grupo. O grupo
psicológico é um ser provisório (...) que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por
cada uma das células isoladamente." (Le Bon).
→ Como responder ao fato de um indivíduo agir, dentro de um grupo/massa, de modo completamente
diferente do que agiria se estivesse sozinho?
→ Número de pessoas?
→ Por que estar em número maior leva o indivíduo a funcionar de modo diferente?
→ Da mesma forma que o indivíduo no grupo assume as características do grupo, ele também vai
"perdendo" as suas características individuais, e com muito menor frequência agirão de modo singular,
ou seja, em desacordo com a mente grupal.
→ Em um grupo, o número de motivações conscientes é baixo se comparado às motivações
inconscientes do indivíduo no grupo.
→ A razão disso está em três fatores diferentes:
- Poder
- Contágio
- Sugestionabilidade

→ PODER
- "O indivíduo que faz parte de um grupo adquire, unicamente por considerações numéricas, um
sentimento de poder invencível que lhe permite render-se a pulsões que, estivesse ele sozinho,
teria compulsoriamente mantido sob coerção. " (Le Bon)
- Número (quantidade de pessoas) = Poder
- Quanto mais pessoas, mais poder.
- "O indivíduo ficará ainda menos disposto a controlar se pela consideração de que, sendo um
grupo anônimo e, por consequência, irresponsável, o sentimento de responsabilidade que sempre
controla os indivíduos, desaparece inteiramente.” (Le Bon).
- Anonimato → Responsabilidade → Poder
- Quanto mais pessoas, o anonimato é maior, que gera uma diminuição da responsabilidade e
consequentemente aumenta o poder.

→ CONTÁGIO
- O contágio deve ser classificado entre aqueles fenômenos de ordem hipnótica.
- Num grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos em tal grau que o indivíduo
prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo.
- Ação bastante contrária ao modo como tendemos funcionar (pois quase sempre focamos nos
nossos interesses individuais).
- O fato é que a percepção dos sinais de um estado emocional é automaticamente talhada para
despertar a mesma emoção na pessoa que os percebe.
- Isso está relacionado à nossa capacidade empática.
- Um indivíduo pode ser colocado numa condição em que, havendo perdido inteiramente sua
personalidade consciente, obedece a todas as sugestões do operador que o privou dela e comete
atos em completa contradição com seu caráter e hábitos – tal como no estado hipnótico.
- O contágio é um efeito da sugestionabilidade
- Em um grupo, quanto maior for o número de pessoas em que a mesma emoção possa ser
simultaneamente observada, mais intensamente cresce essa compulsão automática.
- O indivíduo perde seu poder de crítica e deixa-se deslizar para a mesma emoção. Mas, ao assim
proceder, aumenta a excitação das outras pessoas que produziram esse resultado nele, e assim a
carga emocional dos indivíduos se intensifica por interação mútua.

→ SUGESTIONABILIDADE
- Para Freud, de longe a mais importante. Refere-se ao grau de abertura a sugestões que uma
pessoa ou grupo possuem.
- Determina nos indivíduos de um grupo características especiais que são às vezes inteiramente
contrárias às apresentadas pelo indivíduo isolado.
- “[...] um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação, cedo se descobre [...]
num estado especial, que se assemelha muito ao estado de ‘fascinação’ em que o indivíduo
hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador” (Freud, 1921/1996).
- Freud entende que o indivíduo sugestionado já não se acha consciente de seus atos.
- Em seu caso, como no do sujeito hipnotizado, ao mesmo tempo que certas faculdades são
destruídas, outras podem ser conduzidas a um alto grau de exaltação.
- Sob a influência de uma sugestão, empreenderá a realização de certos atos com irresistível
impetuosidade.
- Essa impetuosidade é ainda mais irresistível no caso dos grupos do que no do sujeito
hipnotizado, porque, sendo a sugestão a mesma para todos os indivíduos do grupo, ela ganha
força pela reciprocidade.
→ Em síntese, Freud, amparado em Le Bon, pontua que as características principais do indivíduo que
faz parte de um grupo são:
- desaparecimento da personalidade consciente;
- predominância da personalidade inconsciente;
- modificação por meio da sugestão e do contágio de sentimentos e ideias numa direção idêntica;
- tendência a transformar imediatamente as ideias sugeridas em atos.

→ Assim, em um grupo, o indivíduo não é mais ele mesmo, mas transforma-se em um autômato que
deixou de ser dirigido pela sua vontade.

Influência na Moralidade do Sujeito


→ “Pelo simples fato de fazer parte de um grupo organizado, um homem desce vários degraus na
escada da civilização. Isolado, pode ser um indivíduo culto; numa multidão, é um bárbaro, ou seja, uma
criatura que age pelo instinto” (Freud, 1921/1996).
→ O indivíduo experimenta redução da capacidade intelectual quando este se funde a um grupo.
→ Ao passo que a capacidade intelectual de um grupo está sempre muito abaixo da de um indivíduo, sua
conduta ética pode tanto elevar-se muito acima da conduta deste último, quanto cair muito abaixo dela.
→ “Em certas circunstâncias, os princípios éticos de um grupo podem ser mais elevados que os dos
indivíduos que o compõem, e que apenas as coletividades são capazes de um alto grau de
desprendimento e devoção” (Freud, 1921/1996).
→ Isso nos mostra que os grupos podem levar o indivíduo a portar-se “acima” ou “abaixo” de sua
condição moral se inserido dentro de um grupo, por anular sua disposições pessoais.

Mente Grupal e o Líder


→ Com relação a figura de líder, Le Bon entende que, assim que seres vivos se reúnem em certo
número, sejam eles um rebanho de animais ou um conjunto de seres humanos, se colocam
instintivamente sob a influência de um chefe.
→ Para Le Bon, um grupo é um rebanho obediente, que nunca poderia viver sem um senhor.
→ Algumas características de um líder:
- deve ser fascinado por uma intensa fé (numa ideia), a fim de despertar a fé do grupo;
- tem de possuir vontade forte e imponente, que o grupo, que não tem vontade própria, possa dele
aceitar;
- possui prestígio.
→ O líder evoca poder (prestígio): espécie de domínio sobre o grupo, exercido por um indivíduo, um
trabalho ou uma ideia, gerando admiração e respeito, além de criar uma relação de respeito à sua
autoridade de modo inquestionável – faculdade crítica diminuída.
→ Desperta um sentimento como o da ‘fascinação’ na hipnose.
→ O prestígio depende do sucesso e se perde em caso de fracasso.

Síntese sobre os Grupos (Le Bon)


→ Resumidamente, segundo as concepções de Le Bon sobre grupos, podemos dizer que:
- o grupo é uma unidade e não uma soma de indivíduos;
- um grupo está unido por laços afetivos;
- é característico que um indivíduo, quando inserido em um grupo, pode agir de modo bastante
diferente do que agiria se estivesse sozinho.
→ As afirmações de Le Bon referem-se a grupos de caráter efêmero.

Características dos Grupos Efêmeros


→ ACRÍTICO: Ações não são premeditadas ou programadas. Não possui faculdade crítica.
→ ONIPOTENTE: Tem um sentimento de onipotência: para o indivíduo num grupo a noção de
impossibilidade desaparece. Um grupo é extremamente crédulo; e o improvável não existe para ele, de
maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza.
→ INFLUENCIÁVEL: pela figura do líder, seja uma pessoa, uma ideia, uma ideologia, e a concordância
com a realidade nem sempre é razoável.
→ IMPULSIVO: Tendência a transformar ideias/emoções em ações (passagem ao ato) – um traço de
antipatia se transforma em ódio furioso rapidamente.

Grupos Organizados
→ Grupos podem, também, se reunir de modo organizado, autônomo, racional e com clareza de
objetivos.
→ Para entender esse tipo de grupo, Freud apoiou-se nos estudos de William McDougall, principalmente
no seu livro The Group Mind, de 1920.
→ McDougall pontua cinco condições principais para a “elevação da vida mental” coletiva a um nível
mais alto (grupos organizados):
- Deve haver certo grau de continuidade da existência do grupos (no tempo, por posições fixas
formalizadas e ocupadas pela sucessão de membros);
- Cada membro deve desenvolver uma posição emocional com o grupo como um todo, tendo
clareza das funções, composição, capacidades do grupo;
- O grupo deve ser colocado em interação (talvez sob a forma de rivalidade) com outros grupos
semelhantes, mas que dele difiram em muitos aspectos.
- O grupo deve possuir tradições, hábitos e rituais que determinem a relação dos membros uns
com os outros;
- Grupo deve ter uma estrutura definida, expressa na especialização e diferenciação das funções
entre seus membros, que podem ser modificadas em acordo comum consciente.
→ De acordo com McDougall, se essas condições forem satisfeitas, afastam-se as desvantagens
psicológicas das formações de grupo.
→ A redução coletiva da capacidade intelectual é evitada retirando-se do grupo o desempenho das
tarefas intelectuais e reservando-as para alguns membros dele.
→ Segundo Freud, um grupo funcionar a partir de tais características permitiria manter características
positivas de um grupo e garantir que um indivíduo no grupo mantenha sua autonomia, sua
autoconsciência, sua própria continuidade e seus costumes próprios (singularidade).

Laços de um Grupo: Libido


→ Mas, em teoria, a expressão das diferenças entre os membros seria motivação para dispersão do
grupo. Como resolver o impasse?
→ Freud irá dizer que para manter um grupo unido com a presença da singularidade dos membros é
preciso: Libido
→ Freud entendia a libido como a essência da mente grupal.
→ “Damos esse nome [libido] à energia [...] daqueles instintos [pulsões] que têm a ver com tudo o que
pode ser abrangido sob a palavra ‘amor’. [...] em qualquer caso, tem sua parte no nome ‘amor’ —, por um
lado, o amor próprio, e, por outro, o amor pelos pais e pelos filhos, a amizade e o amor pela humanidade
em geral, bem como a devoção a objetos concretos e a ideias abstratas” (Freud, 1921/1996).

Tema 05 - Preconceitos e Estereótipos


→ Preconceito
- Refere-se a atitudes hostis ou negativas direcionadas a indivíduos ou grupos, baseados em um
julgamento e afetos prévios que são mantidos mesmo diante de fatos que o contradigam.
- O preconceito é tão velho quanto a humanidade e de difícil erradicação.
- Vários são os males que se escondem por trás do preconceito e de suas consequências, que se
apresentam ora sutis, ora extremamente violentas.
- Os efeitos do preconceito podem apresentar níveis distintos em termos da agressividade exibida.
Exemplos:
• Inexistência de uma unidade e identidade nacional;
• Agressões entre grupos pertencentes ao mesmo país;
• Tentativa de extermínio de povos;
• Percepções distintas com relação ao acusado em um julgamento;
• Desigualdade em termos de acesso a bens, educação, oportunidades etc.

- Qualquer grupo social – e não apenas as minorias – pode ser alvo de preconceito.
- Mão dupla: pode ocorrer sentimentos hostis entre minorias e maiorias.

→ História do Estudo do Preconceito


- A ideia de se encarar o preconceito como um construto científico emergiu apenas ao longo do
século 20, relacionado principalmente a questão racial.
- Até então, e basicamente durante todo século 19, especificamente no que se refere à questão
racial, quase toda a comunidade científica americana e europeia não se preocupava com a
questão, porque partia da premissa de que realmente havia diferença entre as raças, sendo umas
inferiores a outras.
- Foi nos anos de 1930 para cá que se fizeram sentir mudanças na visão do preconceito, passando
este a ser encarado como:
• irracional ou injustificado;
• fruto de defesas inconscientes;
• expressão de necessidades patológicas;
• influenciado por normas sociais;
• manifestação de interesses grupais;
• consequência do processo de categorização social (respostas discriminatórias contra o grupo
que não é o seu).

→ Componentes do Preconceito
- O preconceito, enquanto uma atitude intergrupal, apresenta elementos cognitivos, afetivos e uma
predisposição comportamental.
1. Os sentimentos negativos (raiva, ódio, medo, nojo...) correspondem ao componente afetivo;
2. A discriminação se refere ao componente comportamental;
3. O componente cognitivo são os estereótipos.

→ Estereótipo
- É a base cognitiva do preconceito.
- São as crenças sobre
características pessoais que
atribuímos a pessoas ou grupos.
- O termo surgiu provavelmente em
1798.
- Antes dos psicólogos sociais, os psiquiatras já usavam a palavra "estereotipia" para descrever a
frequente e quase mecânica repetição de um mesmo gesto, postura ou modo de falar, comuns
em certos tipos de distúrbios mentais graves.
- Apesar de haver várias definições de estereótipo na literatura, todas elas compartilham alguns
traços centrais, como a referência a crenças compartilhadas acerca de atributos – geralmente
traços de personalidade – ou comportamentos costumeiros de certas pessoas ou grupos de
pessoas.
- Mais especificamente, podemos dizer que seja através de uma representação mental de um
grupo social e de seus membros, ou de um esquema – uma estrutura cognitiva que representa o
conhecimento de uma pessoa acerca de outra pessoa, objeto ou situação – tendemos a enfatizar
o que há de similar entre pessoas, não necessariamente similares, e a agir de acordo com
esta percepção.
- Os estereótipos frequentemente são meios de simplificar e “agilizar” nossa visão de mundo –
economia cognitiva.
- Assim, as pessoas utilizam atalhos ou heurísticas para evitar dispêndios desnecessários de
tempo e de energia para o entendimento do complexo mundo social que nos rodeia – isso acaba
por nos conduzir à formação de estereótipos.
- É possível que, no estereótipo, um membro de um grupo possa se identificar com várias
características, mas dificilmente se identificará com todas – outros se identificarão com quase
nada.

→ Pesquisa: Estereótipo do estudante de Psicologia

→ Pesquisas sobre estereótipos


- Pesquisadores acreditam que hoje em dia o preconceito – no que diz respeito aos estereótipos –
estaria sendo expresso não mais pela atribuição de traços negativos, e sim, pela negação de
atributos positivos a um grupo alvo.

→ Estereótipos
- Estereótipos podem ser corretos ou incorretos. E também positivos, neutros ou negativos.
- O fato de, num primeiro momento, facilitarem suas reações frente ao mundo, esconde a
realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar generalizações incorretas e
indevidas, principalmente quando você não consegue "ver" um indivíduo com suas
idiossincrasias e traços pessoais, por trás do véu aglutinador do estereótipo.
- Gordon Allport – The Nature of the Prejudice (1954): estereotipar é fruto da “lei do menor
esforço” – optamos por economizar energia e tempo cognitivos, desenvolvendo atitudes
baseadas em conhecimentos que nos satisfaçam na tentativa de entender o mundo que nos
cerca.
- Negligenciamos alguma informações para reduzir o excesso de oferta cognitiva, ou utilizando
informações mais presentes e acessíveis (como aquelas que são repetidas cotidianamente)

→ Ativação Automática e Controlada de Estereótipos


- Ativação automática de estereótipos: Nessa situação, não temos controle. Crenças muito
disseminadas culturalmente nos sobrevém a mente assim que nos deparamos com certas
pessoas em dadas circunstâncias.
- Ativação controlada de estereótipos: após a ativação automática, uma pessoa pode
conscientemente checar e refletir sobre o que acabou de pensar sobre aquele membro de um
grupo que não o seu e, consequentemente, reavaliar sua primeira avaliação.
- Esta ativação controlada, colocaria um freio no processo de discriminação, impedindo de seguir
adiante.

→ Estereótipo - Rotulação
- A rotulação pode ser entendida como um caso especial dentro do ato de estereotipar.
- Em nossas relações interpessoais, facilitamos nosso relacionamento com os outros se
atribuirmos a eles determinados rótulos capazes de fazer com que certos comportamentos
possam ser antecipados.
- Assim, por exemplo, quando um gerente rotula um empregado de "preguiçoso", ele "prevê"
determinados comportamentos que este empregado deverá exibir frente a certas tarefas.
- A atribuição de um rótulo a uma pessoa nos predispõe a pressupor comportamentos compatíveis
com o rótulo imputado; nossas percepções são distorcidas e isto pode acarretar uma ou duas
consequências importantes:
• por um lado, em virtude de nossas tendências à consistência cognitiva, faz com que
comportamentos que não se harmonizem com o rótulo imposto tendem a passar despercebidos
ou sejam deturpados para se adequarem ao rótulo;
• por outro lado, as expectativas ditadas pelo rótulo podem nos fazer agir não consciente e
consistentemente, de modo a induzir o rotulado a se comportar da maneira que esperamos, tal
como é preconizado pelo fenômeno da profecia auto realizadora.
- Uma vez atribuído, nós tendemos a perceber os comportamentos da pessoa a luz do rótulo.
- Tal tendência, embora comum, é perigosa e pode levar a injustiças e erros de julgamentos
graves.
- Ideologia inconsciente: conjunto de crenças que aceitamos implícita e não conscientemente,
porque não conseguimos sequer perceber a possibilidade de concepções alternativas (ex: certos
papéis de gênero, como um homem “dono de casa”).

→ Estereótipo - Gênero e Raça


- Pesquisa realizada por Goldberg (1968)4 . Foi solicitado a alunas universitárias que avaliassem
artigos acadêmicos em termos de competência, estilo, profundidade etc.
- Foi entregue para a análise um mesmo artigo. Para algumas participantes o artigo aparecia
assinado por uma mulher (Joan T. McKay), enquanto que, para outras, por um homem (John T.
McKay).
- Apesar de o artigo ser o mesmo para os dois grupos, aquele assinado por uma mulher era
invariavelmente menos elogiado que o supostamente escrito por um homem.
- Experimento conduzido por Clark e Clark (1947) mostrou que crianças negras já aos três anos
exibiam preferência por bonecas de cor branca.
- Neste experimento, especificamente, pedia-se às crianças que indicassem, por exemplo, qual a
boneca mais bonita, branca ou preta.
- A maioria das crianças optou pela branca, endossando de alguma forma a superioridade desta
sobre a outra. Desta maioria, cerca de 70% eram crianças negras.
- Quando o oposto era solicitado – qual a boneca feia ou má – quase 80% das crianças negras
apontavam para a boneca de cor preta.
- Quando o estereótipo é suficientemente forte, até os membros do grupo alvo tendem a aceitá-lo.
- Diminuição da autoestima decorrente de estereótipo pode começar cedo na vida de uma pessoa.
- Uma pessoa com a autoestima abalada pode se convencer de que não merece uma educação de
bom nível, trabalhos decentes, moradias idem, além de um perverso e difuso sentimento de
inferioridade – gerando culpa, desânimo e sofrimento. Estereótipo – Gênero e Raça
- Pesquisas recentes indicam que os estereótipos negativos relacionado a mulheres e negros
estejam diminuindo.
- Questiona-se se a diminuição do preconceito seja real ou se tornou apenas sutil.
- Racismo moderno (também conhecido como racismo sutil ou racismo envergonhado) – as
pessoas pressionadas por normas sociais mais liberais e que pregam maior tolerância para com
as diferenças, podem abrandar seu comportamento discriminatório, mas internamente, mantém
seus preconceitos.
- O resultado é uma aparente mudança na direção de uma sociedade menos discriminatória.
- Porém, um clima diferente, onde estas mesmas pessoas se sintam mais seguras para externar
seus sentimentos, o preconceito e a discriminação voltarão a seus níveis anteriores.

→ Estereótipo e Atribuição
- Atribuição de causalidade – quando observamos uma pessoa realizando uma ação, tendemos a
fazer deduções acerca dos motivos que possam ter causado aquele comportamento. O
preconceito influencia nessa percepção.
- Diante de situações ambíguas as pessoas fazem atribuições consistentes com suas crenças ou
preconceitos.
- Exemplo: sucesso profissional de uma mulher – atribuir a uma capacidade fora do comum em
termos de motivação ou a sorte.

→ Discriminação
- É o componente comportamental do preconceito.
- Discriminação é o nome que se dá para a conduta/ato que viola os direitos das pessoas
(geralmente com base em critérios injustificáveis, tais como raça, classe social, sexo, gênero,
orientação sexual, religião etc.).
- Os grupos considerados inferiores tornam-se objeto de distinção, exclusão, restrição ou
violência em diversos níveis.
- Sentimentos hostis somados a crenças estereotipadas desaguam numa atuação que pode variar
de um tratamento diferenciado a expressões verbais de desprezo e atos manifestos de
agressividade.

→ Causas do Preconceito
- O preconceito é inata ou adquirido?
- “[...] em que pesem os argumentos defendidos pelos sociobiólogos (que aventam a possibilidade
de o preconceito estar ligado a mecanismos de sobrevivência, inerentes à história da
humanidade e com uma função protetora do grupo a que pertencemos), cremos que a
aprendizagem pode ser responsabilizada em grande parte por este fenômeno, ainda que a
facilidade com que o adquirimos levante suspeitas sobre a existência de uma possível
predisposição inata” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSI, 2009).
- É fácil a aprendizagem do preconceito.
- Pode-se classificar as causas do preconceito em quatro grandes categorias:
• competição e conflitos políticos e econômicos;
• o papel do “bode expiatório”;
• fatores de personalidade;
• causas sociais do preconceito (aprendizagem social, conformidade, categorização social).

- Competição e conflitos políticos e econômicos


• Conflitos ligados a competição por status social, ao poder político, econômico ou recursos
limitados são elementos para o desenvolvimento do preconceito.
• Por um lado refere-se a condição de busca de centralização do poder, e por outro lado, quando
na escassez de recursos (materiais ou subjetivos), surge a competição e consequentemente a
hostilidade.
• Ou seja, se desenvolve em situações de desigualdade e competitividade.
• Conflito Grupal Realista – a reboque de objetivos conflitivos, advirão tentativas de depreciar o
grupo adversário, inclusive através da estimulação de crenças preconceituosas.
• Aparentemente, é mais fácil atacar um grupo adversário quando este possui um estereótipo
negativo.

- O papel do “bode expiatório”


• Quando a causa real do sofrimento é muito vaga, grande ou poderosa, é comum que aqueles
que estejam frustrados (indivíduos ou grupos) utilizem do recurso do bode expiatório (grupos
minoritários).
• A hipótese do bode expiatório prega que indivíduos, quando frustrados ou infelizes, tendem a
deslocar sua agressividade para grupos visíveis, relativamente sem poder e por quem nutrem, de
antemão, sentimentos de repulsa.
• Pesquisa: Hovland e Sears (1940)6 fizeram uma análise correlacional entre:
✓ a) o preço do algodão nos estados sulinos americanos entre 1882 e 1930 (a exportação do
algodão era a principal fonte de renda desses estados);
✓ b) o número de linchamentos de negros no mesmo período.
• Resultado: Quando o preço do algodão caía, aumentava o número de linchamentos, e
vice-versa.
• Outro exemplo: Na Alemanha nazista, os judeus foram responsabilizados pela inflação, pela
recessão e pelos sentimentos de frustração então existentes entre os alemães.
• Mesmo em um nível microssocial, procuramos transferir nossos sentimentos de raiva ou
inadequação, colocando a culpa de um fracasso pessoal em algo externo ou sobre os ombros de
uma outra pessoa.
- Fatores de Personalidade
• Há pessoas mais propensas a se tornarem preconceituosas do que outras.
• Adorno e colaboradores (1950)7 partem do pressuposto que algumas pessoas, em função da
educação e das relações familiares, estariam mais predispostas a se tornarem preconceituosas. •
Outros autores pontuam que filhos de pais preconceituosos tendem a se identificar com eles, e
por aprendizagem, a imitar seu comportamento, independente do tipo de educação que tiveram.
• Personalidade autoritária (Adorno et al., 1950)– conjunto de traços adquiridos que tornariam
uma pessoa:
✓ mais rígida em suas opiniões;
✓ intolerante para com quaisquer demonstrações de fraqueza, em si ou nos outros;
✓ pronta para adotar valores convencionais;
✓ desconfiada;
✓ propensa a adotar ou pregar medidas de caráter punitivo;
✓ propensa a dedicar respeitosa submissão a figuras de autoridade de seu próprio grupo;
✓ clara rejeição aos que não pertencem aos seu ciclo restrito de relações.
• Adorno e colegas acreditavam que pessoas enquadradas como fortemente autoritárias estariam
mais propensas a perseguir quaisquer grupos minoritários.
• Origem dessa personalidade:
✓ Quando crianças, tais pessoas teriam sido duramente disciplinadas, com seus pais sendo
muito punitivos, usando ainda do artifício de manipular manifestações de afeto para obter
respostas de obediência por parte delas.
✓ Isto tornaria as crianças inseguras, dependentes e muito ambivalentes para com os próprios
pais: amando-os e odiando-os concomitantemente.
✓ O ódio reprimido, inconsciente, mais tarde aflorava, só que dirigido a grupos minoritários e
desprotegidos.

- Causas sociais do preconceito


• Teoria da Aprendizagem Social: Essa teoria enfatiza que os estereótipos e preconceitos fazem
parte de um pacote maior de normas sociais.
• Estas, por sua vez, seriam o conjunto de crenças de uma dada comunidade acerca dos
comportamentos tidos como socialmente corretos, aceitáveis e permitidos.
• Estas são aprendidas nas relações (família, escola, religião, artes, colegas etc.) e passada de
geração a geração.
• As crianças estariam adquirindo simplesmente adquirindo determinados preconceitos da
mesma maneira que aprendem outras atitudes e comportamentos, partilhados pela sociedade
como um todo.

• Conformidade: Um caso especial do fenômeno da aprendizagem social.


• As pessoas, ao perceberem e vivenciarem recorrentemente relações de desigualdade entre
grupos, passam a considerar tais tratamentos diferenciados como naturais.
• Na conformidade, cedemos à pressão social para sermos aceitos, não sofrermos punições, ou
por realmente acreditarmos na veracidade das teses disseminadas no meio cultural no qual
vivemos.
• A mídia e as artes possuem grande papel para o fortalecimento ou enfraquecimento do
conformismo, perpetuando ou combatendo estereótipos e preconceitos.
• Categorização Social: A mera percepção de pertencer a um entre dois grupos distintos é
suficiente para deflagrar discriminações intergrupais, a partir do favorecimento do próprio
grupo.
- Entendendo a categorização social como um processo cognitivo normal e natural – com a função
de simplificar e deixar inteligível o complexo mundo social que nos rodeia – o preconceito
intergrupal é visto como consequência praticamente inevitável dentro desse fenômeno
psicológico.
- A comparação social surge como consequência da categorização social com o propósito de
aumentar a autoestima do indivíduo.

→ Redução do Preconceito
- Pesquisa realizada por Sherif et al. (1961)8 .
- Em um acampamento de férias de verão, um grupo de meninos entre 11 e 12 participavam
inadvertidamente de um experimento em um setting natural acerca da origem da coesão grupal,
bem como dos conflitos grupais e de sua possível redução.
- O divididos em dois grupos, os meninos que não se conheciam de antemão formaram laços de
amizades fruto de inúmeras atividades lúdicas em comum.
- Na segunda parte do experimento, os dois grupos eram colocados em situação de competição e
conflito. A ideia era que, se dois grupos possuem objetivos conflitantes e metas que só podem
ser atingidas à custa do fracasso do grupo rival, seus membros se tornariam hostis entre si.
- De fato, neste sentido, os experimentos foram coroados de êxito. Insultos, perseguições, ataques
e destruição de bens foram observados, assim como criação de apelidos difamatórios e atitudes
preconceituosas de comportamentos efetivamente discriminatórios.
- A terceira fase dos estudos consistia na busca da eliminação das tensões intergrupais através de
atividades de cooperação objetivos comuns e prazerosos que só podiam ser alcançados caso
todos os integrantes se unissem para um trabalho conjunto.
- Foi possível restabelecer através desta estratégia de interdependência uma boa dose de
harmonia entre os até então "inimigos".

- Hipótese do Contato: aumentando-se o contato entre os grupos diferentes é possível a


diminuição do preconceito.
• Experiência não sucedida: negros inserido em escola para brancos nos anos 1950 – aumento
das tensões e conflitos.
• Experiência sucedida: brancos e negros ocupando moradias no mesmo projeto residencial –
diminuição do preconceito.
- Um fator é determinante para que a redução do preconceito ocorra, pois a simples interação não
é suficiente, como mostram as pesquisas. É preciso um contexto de igualdade (condições
econômicas semelhantes, necessidade de ajuda mútua para alcançar uma meta atraente para
ambos os grupos etc.).
- Gordon Allport pontuou em sua obra The Nature of Prejudice:
"O preconceito pode ser reduzido em contatos entre grupos majoritários e minoritários, desde que
os mesmos se deem em condições de igual status social, e na busca de objetivos comuns. Este
efeito pode ser aumentado se os contatos forem apoiados institucionalmente (leis, costumes,
condições locais), e enfatizada a consecução de interesses comuns entre os membros dos dois
grupos”.

2º bimestre
Tema 06 - Preconceito, Exclusão e relações de poder
→ Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE)
→ Pesquisa realizada pelo IBGE
→ Participantes: 11,8 milhões de estudantes, de 13 a 17 anos, entrevistados em 2019
→ Outros dados da pesquisa
- Já sofreram violência sexual
✓ Meninas – 20,1%
✓ Meninos – 9%
- Relataram ter sofrido bullying
✓ Meninas – 26,5%
✓ Meninos – 19,5%

→ Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)


- Violência Autoprovocada
✓ Ideação suicida
✓ Automutilação
✓ Tentativas de suicídio
✓ Suicídio
- 67% das vítimas desses registros eram mulheres.
- Os homens foram responsáveis por 76% dos suicídios em 2016 (OMS).
- Negros se suicidam mais do que outras raças.

→ Documentos da OMS - Prevenção do Suicídio: Um manual para profissionais da saúde em atenção


primária

→ Gênero
- Termo utilizado para designar a construção social do sexo biológico.
- Este conceito faz distinção entre a dimensão biológica e associada à natureza (sexo) da dimensão
social e associada à cultura (gênero).
- O gênero se refere à organização social da relação entre os sexos e expressa que homens e
mulheres são produtos do contexto social e histórico (e, portanto, mutável) e não resultado da
anatomia de seus corpos.
- Ele inclui papéis e expectativas que a sociedade tem sobre comportamentos, pensamentos e
características que acompanham o sexo atribuído a uma pessoa.

Tema 07 - Patriarcado, Machismo e Sexismo


→ Esse tema é dos mesmos slides da última aula
→ O patriarcado é definido dentro das teorias feministas como um sistema sociopolítico que coloca os
homens em situação de poder.
→ Em sociedades patriarcais o gênero masculino e a heterossexualidade estão hierarquicamente em
posição superior aos demais e, assim, usufruem de privilégios.
→ O machismo pode ser definido como comportamento que rejeita a igualdade de condições sociais e
direitos entre homens e mulheres.
→ O sexismo é a discriminação de gênero e a objetificação sexual, quando se reduz alguém ou um
grupo apenas pelo gênero ou orientação sexual.
→ O sexismo fundamenta-se no pressuposto ideológico de que há um grupo superior, a do homem
heterossexual, e que os demais são inferiores, o que inclui as mulheres, lésbicas, gays, transexuais,
travestis, intersexos, queers, dentre outras.

Violência Contra a Mulher


→ A violência contra a mulher constitui-se em fenômeno social persistente, multiforme e articulado por
facetas psicológica, moral e física.
→ Suas manifestações são maneiras de estabelecer uma relação de submissão ou de poder, implicando
sempre em situações de medo, isolamento, dependência e intimidação para a mulher.
→ É considerada como uma ação que envolve o uso da força real ou simbólica, por parte de alguém, com
a finalidade de submeter o corpo e a mente à vontade e liberdade de outrem.
→ A qualificação e a análise da problemática da violência contra a mulher ocorreram à medida que
pensadores e o movimento feminista desconstruíram a ideia corrente de que o aparato sexual era
inerente à natureza das mulheres e dos homens, colocando as concepções acerca dos sexos fora do
âmbito biológico e as inscrevendo na história.
→ Por sua vez, desconstruiu-se a ideia de que a violência contra a mulher está ligada aos significados
atribuídos, de modo essencializado, à masculinidade, à feminilidade e à relação entre homens e mulheres
em nossa cultura.
→ Para se aprofundar no tema, foi fundamental a construção da noção de gênero – distinta da de sexo –,
sob a qual se dava no senso comum, a associação do feminino com fragilidade ou submissão, e que até
hoje ainda serve para justificar preconceitos.
→ A violência ocorre motivada pelas expressões de desigualdades baseadas na condição de sexo, a qual
começa no universo familiar, onde as relações de gênero se constituem no protótipo de relações
hierárquicas.
→ Os estudos apontam que historicamente a centralidade das ações violentas incide sobre a mulher,
quer sejam estas violências físicas, sexuais, psicológicas, patrimoniais ou morais, tanto no âmbito
privado-familiar quanto nos espaços de trabalho e públicos.
→ As relações violentas existem porque as relações assimétricas de poder permeiam a vida rotineira
das pessoas.

Origens da Violência Contra a Mulher


→ O pensamento acadêmico, ao tentar explicar a violência de gênero, se defrontou com uma diversidade
de explicações conceituais e metodológicas, que, grosso modo, podem ser resumidas em algumas linhas
de indagações:
- a) a hegemonia do poder masculino, que permeia as relações entre homens e mulheres;
- b) a condição de subalternidade feminina, baseada na hierarquia de gênero;
- c) a reprodução das imagens de homem e mulher e dos papéis a ambos atribuídos por meio da
construção social da violência;
- d) a existência disseminada e, ao mesmo tempo, invisibilizada das violências nas relações
familiares e sociais;
- e) a presença das dissimetrias organizadoras das normas e regras sociais em relação aos
comportamentos de homens e mulheres.

→ A violência de gênero, gerada na intimidade amorosa, revela a existência do controle social sobre os
corpos, a sexualidade e as mentes femininas

Heteronormatividade
→ Termo criado em 1991 pelo teórico social norte-americano Michael Warner, um dos fundadores da
teoria queer.
→ “Por heteronormatividade entendemos aquelas instituições, estruturas de compreensão e
orientações práticas que não apenas fazem com que a heterossexualidade pareça coerente – ou seja,
organizada como sexualidade – mas também que seja privilegiada. Sua coerência é sempre provisional e
seu privilégio pode adotar várias formas (que às vezes são contraditórias): passa despercebida como
linguagem básica sobre aspectos sociais e pessoais; é percebida como um estado natural; também se
projeta como um objetivo ideal ou moral” (Berlant; Warner, 2002, p. 230).
→ Pode-se compreender o termo heteronormatividade como aquilo que é tomado como parâmetro de
normalidade em relação à sexualidade, para designar como norma e como normal a atração e/ou o
comportamento sexual entre indivíduos de sexos diferentes.
→ São reforçados o binarismo e estereótipos do que é ser homem e mulher, bem como a distinção de
uma identidade heterossexual e homossexual.
→ Em uma sociedade heteronormativa os padrões de comportamentos heterossexuais são os
dominantes, e todos aqueles que se desviam desses padrões são estigmatizados (condição de menos
valor).
→ Sociedades heteronormativas apresentaram condutas socialmente validadas de heterossexismo.
→ O heterossexismo pode ser compreendido como um sistema ideológico que nega, difama e
estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento, identidade, relacionamento ou
comunidade.
→ Esse sistema ideológico produz privilégios para pessoas que seguem as normas heterossexuais e
exclui aquelas que não as seguem.
→ Esses privilégios incluem direitos civis para casamentos entre heterossexuais, tratamento social não
estigmatizado em razão de sua sexualidade, entre outros.
→ Isso pode ser percebido quando aos casais homossexuais se nega o direito ao casamento ou a adoção
de crianças.
→ A construção do heterossexismo inclui preconceitos individuais e institucionais anti-homossexuais,
bem como um comportamento que pode se manifestar em atitudes violentas contra homossexuais.
→ A heteronormatividade se funda na ideia de que as pessoas devem organizar suas vidas de acordo
com o modelo heterossexual.
→ Aqui, não importa se a pessoa mantém práticas heterossexuais ou não.
→ Ao contrário, ela pode até ser homossexual, o que ela precisa é viver como um heterossexual, ou seja,
manter “coerência” entre sexo e gênero.
→ Coerência essa segundo a qual as pessoas com genitália masculina devem se comportar como
machos, másculos, e as com genitália feminina devem ser femininas, delicadas.
→ Na impossibilidade de se orientar de forma heterossexual, o indivíduo precisa, pelo menos, “parecer”,
“agir” e “se comportar” como um.

Raça
→ É a materialidade do corpo expressa pelo fenótipo.
→ Atualmente, aceita-se que características fenotípicas, etnia e pertencimento a um grupo social são
fatores de distinção entre as raças.
→ As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial,
ancestralidade e genética.
→ Há um amplo consenso entre antropólogos e geneticistas humanos de que, do ponto de vista
biológico, raças humanas não existem.
→ Com o desuso pela Biologia, a Sociologia apropria-se do termo raça e a ressignifica como um
conceito para expor as desigualdades, as discriminações, as segregações e as violências sofridas por
grupos sociais em função de suas características físicas e posição social, bem como um dos elementos
acionados como via de acesso às políticas públicas no Brasil (como cotas raciais e a questão indígena, por
exemplo).
→ A raça passa a ser entendida como uma construção social.

Etnia
→ Etnia refere-se ao âmbito cultural.
→ Um grupo étnico é uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e, em
vários casos, genéticas. Essas características em comum geram em seus integrantes sentimento de
pertencimento e de distinção dos demais grupos.
→ Esses agrupamentos encontram-se sujeitados, em virtude de questões históricas, a instituições,
organizações políticas, costumes, tradições ou ideias comuns.
→ Essas comunidades, geralmente, reclamam para si uma estrutura social, política e um território.
→ O termo foi introduzido nas ciências sociais por Georges Vancher de Lapouge (1854-1936) e forjado
para dar conta de uma solidariedade de grupo específica, diferente daquelas pretensamente produzidas
pela organização política (nação) ou pela semelhança antropológica (raça).
→ Características como religião, língua, história, símbolos, território que ocupam e traços fenotípicos
são exemplos de pontos que podem servir de diferenciação entre etnias.

Racismo
→ O racismo é uma ideologia essencialista que postula a divisão da humanidade em grandes grupos
chamados raças contrastadas que têm características físicas hereditárias comuns, sendo estas últimas
suportes das características psicológicas, morais, intelectuais e estéticas e se situam numa escala de
valores desiguais.
→ Visto deste ponto de vista, o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente
hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural.
→ Ou seja, a raça no imaginário do racista não é exclusivamente um grupo definido pelos traços físicos.
→ A raça na cabeça dele é um grupo social com traços culturais, linguísticos, religiosos etc. que ele
considera naturalmente inferiores ao grupo a qual ele pertence.
→ O racismo é um dos principais organizadores das desigualdades materiais e simbólicas que há no
Brasil.

Ser Negro no Brasil


→ Imagem hipersexualizada.
→ Vistos como mais violentos e bandidos.
→ Jovens negros de baixa renda e baixa escolaridade compõem a maior parcela da população carcerária
brasileira (Departamento Penitenciário Nacional, 2014).
→ As jovens negras são as mais violentadas e as mais associadas à imagem de prostitutas e “amantes”.
→ As mulheres negras são as que menos se casam, sobretudo, as mulheres pretas, que, além de
apresentarem maior índice de celibato, estabelecem relação matrimonial, casam-se mais tardiamente.
Níveis do Racismo
→ Para melhor compreender o racismo, este tem sido comumente dividido em três níveis:
- racismo institucional (racismo estrutural);
- racismo interpessoal;
- racismo pessoal.

→ Eles são articulados, interdependentes, mutuamente determinantes.

→ Racismo Institucional
- O termo cunhado e divulgado pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras, Stokely
Carmichael e Charles Hamilton, em 1967.
- Racismo Institucional refere-se às prioridades e escolhas de gestão que privilegiam ou
negligenciam determinados aspectos, infligindo condições desfavoráveis de vida à população
negra e indígena e/ou corroborando o imaginário social acerca de inferioridade dessa população,
e, na contramão, atua como principal alavanca social para os brancos.
- Efetivada em estruturas públicas e privadas do país, essa prática é marcada pelo tratamento
diferenciado entre as populações, sendo vista como a principal responsável pelas violações de
direitos dos grupos raciais subalternizados.
- Há um entendimento entre os estudiosos da temática de que a população negra enfrenta
diariamente a insegurança de uma maior exposição à violência, à injustiça social, à intolerância e
ao desrespeito.
- As pessoas negras que estejam tanto no topo quanto na base da hierarquia de renda convivem
com racismo, déficit salariais e tratamento diferenciado quando comparado com brancos do
mesmo nível social.
- O racismo institucional possibilita a não percepção real do racismo, sobretudo, porque o Brasil
constituiu-se sobre o mito da democracia racial.
- Alguns efeitos do racismo institucional:
✓ sub-representação de negros e indígenas em cargos de poder formal (políticos,
empresariais, entre outros);
✓ não investimento no combate a doenças e agravos mais prevalentes na população negra e
indígena;
✓ nas aulas de história pouco se fala e se reconhece as lideranças e as diversas formas de
resistência negra à escravidão;
✓ o número de pessoas negras na universidade é inversamente proporcional a seu quantitativo
populacional.
→ Dados do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil (2007)
- Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - Dois “países” diferentes:
✓ Brasileiros brancos – índice médio equivalente à 44ª melhor posição do mundo.
✓ Brasileiros negros – índice médio equivalente ao 104º lugar

→ Racismo Interpessoal
- Também conhecido como Racismo Intersubjetivo, versa sobre os processos de desigualdade
política com base na raça/cor que ocorrem entre os sujeitos em interação.
- Frequentemente, o tratamento diferenciado não é explicitamente atribuído ao fenótipo negro, já
que, de modo geral, as pessoas costumam negar que a raça/cor seja o motivo das atitudes em
questão.
- Contudo, a forma sistemática como essas situações ocorrem, bem como a ausência de outros
fatores que poderiam explicá-las, indica racismo.
- O racismo interpessoal ocorre por meio de ações diretas explícitas ou sutis:
✓ Quando usuários negros de serviços de públicos e privados de saúde recebem tratamento de
menor qualidade do que usuários brancos, incluindo o tempo de consultas.
✓ Quando profissionais negros são considerados menos competentes por outros funcionários
da instituição ou mesmo pelo usuário.
✓ Quando agentes de saúde com atribuições de realizar visita domiciliar não entram por
preconceito em terreiros de religiões de matriz africana, não atendendo à população que ali
reside.
✓ Quando profissionais em cargos de chefia exigem que profissionais negros devam prender o
cabelo mas a função realizada não exige cabelo preso e outros profissionais não negros não
recebem a mesma orientação.
✓ Vizinhos negros menosprezados por vizinhos brancos.
✓ Amigos ou conhecidos com piedade de pessoas negras pelo fato de serem negras.
✓ Não apresentação pública por parte da pessoa branca de relacionamentos amorosos/sexuais
que envolvam pessoas negras.
✓ Não reconhecimento formal ou afetivo ou menosprezo do filho negro por parte do progenitor
não negro.
✓ Quando no processo educativo crianças negras recebem menor investimento por parte de
educadores.
✓ Quando psicólogos e escolas não reconhecem o racismo como elemento gerador de
sofrimento psíquico e de dificuldades acadêmicas.
→ Racismo Pessoal
- Também conhecido como Racismo Internalizado, é o processo de interiorização dos modos de
pensar e agir de cunho racista via processo de socialização.
- A internalização faz com que as pessoas (tanto dos grupos privilegiados quanto dos
discriminados) apresentem, muitas vezes, condutas que alimentam no imaginário social a
representação de superioridade e inferioridade entre as raças.
- Evidentemente, o modo como negros e brancos sustentam esse cenário é substancialmente
diferente.

→ Racismo Pessoal ou Internalizado - Possíveis efeitos psicossociais do racismo para a vítima


- Crescimento e questionamento:
✓ O sujeito, apoiado, por exemplo, em construções culturais e políticas contra o racismo, em
laços familiares e amistosos, percebe o impacto do racismo vivido e constrói recursos psíquicos
e sociais para enfrentá-lo.
✓ Esse é o caso, por exemplo, daqueles que escolhem lutar contra o racismo.
✓ Para enfrentá-lo e propor mudanças estruturais é preciso ter consciência dele, saber que se
trata de uma estratégia de dominação e, sobretudo, sentir-se habitante e pertencente ao seu
corpo, bem como valorizar as histórias e expressividades culturais da sua origem racial.

- Utilização de mecanismos psíquicos defensivos contra o racismo:


✓ Há sujeitos que, afetados pelo impacto da dominação racista, numa tentativa de não
enfrentar a discriminação vivida, fazem uso de mecanismos de defesa (por exemplo, negação e
identificação com o agressor) para que haja a manutenção de certa integridade psíquica e
intersubjetiva.

- Dilaceramento psíquico:
✓ Há aqueles em que o efeito do racismo é vivido como catastrófico.
✓ Esses precisam de uma gama variada de apoio para se refazer do trauma vivido, o que pode
incluir terapia individual, familiar, acesso a políticas públicas reparadoras etc.

- A utilização de mecanismos psíquicos defensivos contra o racismo e do dilaceramento psíquico,


em função do jugo racista, como defesa a esse jugo, o sujeito negro, pode tentar afastar-se de
situações que possam aproximá-lo de sua negritude, seja do contato com outros negros, seja dos
sinais corpóreos que indicam sua condição racial-fenotípica.
- Esse processo é uma defesa contra a humilhação política racista historicamente vivida, isso é,
contra uma angústia que é de origem política e é persistente.
Tema 08 - Comportamento Antissocial
Agressão
→ Agressão em Psicologia Social é qualquer comportamento que tem a intenção de causar danos,
físicos ou psicológicos, em outro organismo ou objeto.
✓ Deve haver intencionalidade da ação por parte do agressor.
✓ Não é necessariamente física, pode ser simbólica.
✓ Não se limita a alvos humanos, podendo também ser dirigida a objetos inanimados.

→ Intencionalidade:
✓ Papel do inconsciente: ser agressivo sem se dar conta que está sendo.
✓ O que consideramos violência é localizado na história e sociedade.

→ Os psicólogos sociais costumam distinguir diferentes tipos ou formas de agressão humana em


função do motivo ou intenções que, presume-se, estão subjacentes a tais comportamentos:
✓ Agressão hostil: deriva de estados emocionais fortes, como a raiva, e tem por objetivo básico causar
dano a uma pessoa ou objeto a fim de satisfazer impulsos hostis.
✓ Agressão instrumental: visa prejudicar, ferir ou magoar alguém apenas como um meio de atingir a
outro objetivo.
→ As duas formas não se excluem mutuamente.

→ Agressão sancionada
✓ É aquela que a sociedade julga aceitável ou mesmo imperiosa.
✓ Exemplos: legítima defesa para se defender a si ou a outros; soldado que mata um inimigo em uma
guerra.
✓ É entendida como uma forma de agressão instrumental.
→ Agressão legitimada
✓ Os perpetradores da agressão consideram que os fins que norteiam a ação são legítimos, podendo,
ainda, ser visto como um comportamento altruísta.
✓ Exemplo: atos terroristas de 11 de setembro de 2001.

→ Dependendo da percepção de cada uma das partes envolvidas, um ato pode ser interpretado como
agressão ou altruísmo.

→ Qual a Origens da Agressão Humana


- As inúmeras formas de responder essa questão podem agrupar-se em três categorias gerais de
explicação:
a) a agressão é tão intrinsicamente associada à natureza humana que ela, inevitavelmente, terá
que encontrar uma forma de expressão.
b) a agressão é uma resposta natural à frustração, e a ideia subjacente é a de que a resposta
agressiva deriva de um impulso básico provocado por condições externas.
c) a agressão é aprendida, resultando, portanto de normas sociais e culturais e de experiências
de socialização.

Explicações Biológicas
→ Psicanálise
- Os seres humanos estão, de alguma forma, “programados” para a violência por sua natureza
biológica.
- A agressão deriva, principalmente, da pulsão de morte.
- Parte da pulsão de morte participa da constituição do superego, que se torna tanto mais severo
quanto mais renunciarmos à agressão aos outros.

→ Etologia
- A agressão resulta de um instinto de luta herdado que os seres humanos compartilham com
muitas outras espécies, na qual gerou benefícios:
✓ Dispersar populações por áreas vastas, assegurando o máximo de recursos naturais;
✓ Seleção de parceiros sexuais, em que se garantiu que os mais fortes transmitissem seus
genes para as futuras gerações.
- Agressividade seria instintiva e não aprendida e, se não descarregada periodicamente, cresce até
explodir ou até ser “aliviada” por um estímulo apropriado.

→ Sociobiologia
- Baseado na teoria evolucionista de Darwin, entende que todos os aspectos do comportamentos
humano em sociedade podem ser entendidos em termos da evolução das espécies.
- A agressão desenvolveu-se por sua adaptabilidade. Por haver vantagens biológicas na agressão,
ela foi transmitida geneticamente para as gerações seguintes. Exemplos de vantagens da
agressão:
✓ Habilidades de adquirir e proteger recursos;
✓ Habilidades de proteger a prole.

→ Explicações Biológicas
- Psicólogos Sociais criticam as explicações unicamente biológicas.
- Argumentam que as bases biológicas que tentam explicar a agressão não explicam as variações
da violência de pessoa para pessoa e de cultura para cultura.
- Entendem que, se fossem genéticas na espécie humana, seriam constantes.
- Psicólogos Sociais não negam que possam haver influências de base biológica (instintual,
hormonal ou mesmo pulsional) na deflagração de atos de violência, porém, consideram mais o
papel da sociedade na construção de sujeitos, entendendo que é justamente onde a intervenção
psi é possível.

→ Explicações Psicológicas
Aprendizagem Instrumental e Observacional
- O comportamento agressivo é aprendido com outros seres humanos.
- Aprendizagem Instrumental
✓ Qualquer comportamento que seja reforçado ou recompensado tem maior probabilidade de
ocorrer no futuro.
✓ Há uma variedade de reforços para provocar comportamentos agressivos (ex: aprovação
social ou aumento de status, dinheiro [adultos], doces [criança], evidência de sofrimento da
vítima para uma pessoa que foi extremamente provocada)
- Aprendizagem Observacional
✓ Podemos aprender novos comportamentos pela observação das ações de outras pessoas,
designadas como modelo.
✓ Ex: crianças convivendo com um modelo de adulto violento tendem se tornar mais
agressivas. ✓ Estudos indicam que a influência da modelação se daria mais entre as idades de
8 a 12 anos, passando a decrescer após essa idade.

Hipótese da Frustração-Agressão
- A hipótese propõe que a agressão é uma das respostas possíveis à frustração.
- A frustração geraria um impulso, cujo objetivo básico primário seria atingir ou causar dano em
alguma pessoa ou objeto (especialmente a fonte de frustração).
- No entanto, a expressão da agressividade depende de uma série de condições pessoais, sociais e
ambientais para que o comportamentos ocorra.

→ Fatores Sociais Desencadeadores da Agressão


Efeito das Armas
- Objetos violentos alimentam pensamento violento, o que aumenta a chance de um
comportamento agressivo.
- As armas não só propiciam a agressão, elas podem estimulá-las.
- A exibição ou uso livre de armas perigosas envolve um risco inerente e potencial.
Provocação Direta
- O ataque direto – físico ou verbal – constituem uma das influências mais óbvias sobre o
comportamento agressivo, já que a provocação tende a gerar na vítima um sentimento de
reciprocidade.
- No entanto, a resposta à provocação direta é intermediada pela forma como a vítima interpreta
os motivos para ação do agressor.
- Muitas vezes, as crenças sobre a previsibilidade e a intenção do agressor são mais importantes
do que o próprio dano sofrido para determinar uma resposta agressiva

Obediência à Autoridade
- O perpetrador de agressão se isenta da responsabilidade, se entendendo como um mero executor
da agressão.
- Nesses casos atribuem a agressão a ordens de superiores ou a uma causa que consideram
legítima.

→ Fatores Sociais Desencadeadores da Agressão


Desindividuação
- Quando as pessoas não podem ser identificadas, elas são mais propensas a exibir condutas
antissociais.
- Os graus de individualização de uma pessoa variam dependendo da situação (na família é maior
do que em multidões).
- A desindividuação reduz as preocupações com as avaliações dos outros, enfraquecendo os
controles normais que se baseiam na culpa, na vergonha e no medo.
- Em estados de desindividuação há duas razões importantes para ocorrer o aumento a incidência
de atos agressivos:
✓ a menor probabilidade de os indivíduos serem reconhecidos;
✓ a redução geral da capacidade ou tendência de terem preocupações sociais.
- Camuflagem, máscara, pouca iluminação e ausência de uma figura de autoridade presente são
exemplos de elementos que influenciam a desindividuação.
- A repetição sistemática de um ato agressivo pode gerar uma desindividuação autoinduzida

Família
- Crianças cujos pais adotam práticas punitivas, físicas ou verbais, tendem a usar esses mesmos
recursos quando interagem com outras pessoas.
- Esses pais servem de modelo e, muitas vezes, passaram pela mesma experiência na infância.
- Estudos sugerem correlação entre ausência da figura paterna e maior incidência de
comportamentos agressivos.
Normas Sociais
- As normas sociais são aprendidas por todos e prescrevem os tipos de comportamento que as
pessoas devem adotar em situações específicas.
- As normas sociais especificam as agressões que são aceitas e permitidas em uma sociedade e
em que contextos.
- As normas também inibem a violência, sendo mais efetiva quando as pessoas pertencem ao
mesmo grupo.

→ Fatores Ambientais Estimuladores de Agressão


Calor
- Pesquisas verificaram correlação entre calor e agressividade:
✓ Estudantes que estiveram em uma sala incomodamente quente relataram sentir-se mais
cansados, agressivos e com maior hostilidade à estranhos do que alunos de uma sala com
temperatura normal (Griffitt, 1970)1 .
✓ Entre 1967 e 1971 ocorreram mais rebeliões em cidades norte-americanas nos dias quentes
do nos frios (Anderson, 1989)2 .
✓ Crimes violentos ocorrem mais em estações quentes (Anderson, 1989).
- Importante pontuar que a correlação não implica em causalidade.

Superlotação
- Crowdind – sentimento subjetivo de falta de espaço, provocado pelo excesso de pessoas em um
ambiente.
- A experiência de se sentir sufocado em um ônibus extremamente cheio ou de se sentir apertado
em um ambiente pequeno com muitas pessoas é estressante e pode diminuir o senso de
controle de certas pessoas.

→ Fatores Pessoais Instigadores da Agressão


- Além de fatores sociais e ambientais, características individuais podem concomitantemente
atuar como desencadeadores da agressão.
- Padrão de Comportamento Tipo A – possuem os seguintes traços:
a) são extremamente competitivos;
b) estão sempre com pressa;
c) são irritadiços e hostis.

- Tendenciosidade Atribuicional Hostil – propensão a perceber intenção hostil nas outras pessoas
mesmo quando ela não existe.
- Quanto maior, maior a chance de uma resposta agressiva quando a pessoa é provocada.

Gênero
- Homens utilizam-se mais da agressão física do que mulheres;
- Mulheres utilizam-se mais de agressões indiretas do que homens (espalhar boato, rejeitar
publicamente uma amizade antiga, ignorar uma pessoa na frente de outras pessoas);
- Homens sentem menos culpa e ansiedade quando se envolvem em comportamento agressivo,
enquanto que as mulheres apresentam maior preocupação quanto a retaliação.
- Questionamento: as diferenças dos gêneros é decorrência da biologia ou da socialização?

→ A influência de filmes e programas de televisão violentos na manifestação da agressividade


- Apesar de não haver consenso dentro do campo científico, há elementos que sugerem que a
mídia influencia na agressividade.
- Estudos que investigaram exposição de crianças a programas com violência verificaram
correlação entre esta e a manifestação da agressividade tanto na infância quanto na vida adulta.
- Banalização da violência e aprendizagem social estão entre as justificativas.
- Com relação ao gênero meninos possuem mais predileção por personagens violentos do que as
meninas.
- Apesar de considerarem que crianças estariam mais propensas a imitar o comportamento
violento do que os adultos, há estudos que indicam que estes, também, podem ser influenciados.
- Algumas explicações para o impacto da mídia para o comportamento violento:
✓ Fonte de excitação fisiológica;
✓ As visões de violência as legitima e desinibe;
✓ As imagens da mídia evocam imitação;
✓ Dissemina novas técnicas de ataque e de maus-tratos aos outros. Uma vez adquirido esses
comportamentos, tendem a ser usados em contextos apropriados;
✓ Exposição prolongada pode gerar dessensibilização;
✓ Primazia de pensamentos e lembranças violentas;
✓ O mundo ficcional da televisão pode moldar a concepção de mundo real das pessoas.

→ Prevenção e Controle da Agressão


- As linhas de pensamento que acreditam em uma visão mais essencialista da agressividade
(psicanalistas, etólogos e sociobiólogos) são céticas com relação a eliminação da agressão.
- Nesse caso, a agressividade sempre existirá, sendo a melhor estratégia canalizá-la para
comportamentos socialmente aceitáveis (como atividades físicas e competições esportivas).
- As linhas de pensamento que acreditam em uma visão sociopsicológica entendem que, se fatores
ambientais e sociais são capazes de controlar a aquisição e manutenção de comportamentos
agressivos, mudanças apropriadas nessas condições levariam a decréscimo da agressão.
- Aprendizagem Observacional:
✓ Introdução de mais modelos não agressivos no ambiente.
- Aprendizagem Instrumental:
✓ Não reforçamento a respostas agressivas;
✓ Estimular a empatia entre as pessoas;
✓ Pedido de desculpas e de perdão;
✓ Punição de comportamentos agressivos
- Condições para a punição ser eficaz:
✓ a punição deve ser previsível;
✓ deve seguir-se imediatamente ao comportamento agressivo;
✓ deve ser legitimada por normas sociais vigentes;
✓ as pessoas que administrarem as punições não devem ser vistas como modelos agressivos.

Tema 09 - Comportamento Pró-Social: Altruísmo


→ Comportamento Pró-Social
- O comportamento pró-social é geralmente entendido como ações que possuem a finalidade de
beneficiar outras pessoas.
- São exemplos desse tipo de conduta: dividir e doar recursos, ajudar e dar assistência aos outros,
voluntarismo, cooperação e conforto aos demais.
- Sua definição conceitual é mais abrangente do que apenas a ausência de manifestação de
comportamentos agressivos e/ou antissociais.
- Comumente, está associado ao bem-estar e à adaptação saudável dos indivíduos, e são eventos
fundamentais para promover sociedades mais cooperativas e harmoniosas.
- Há várias teorias que tipificam, de formas distintas, os comportamentos pró-sociais.

→ Tipos de Comportamento Pró-Social


- O psicólogo Gustavo Carlo, juntamente com Brandy Randall, propuseram uma tipologia de seis
formas comumente investigadas de comportamentos pró-sociais:
✓ Altruísta ✓ Solícito ✓ Emocional ✓ Público ✓ Catastrófico ✓ Anônimo
- Altruísta – Ações que beneficiam os outros sem expectativa de recompensa, podendo, ainda,
gerar prejuízo ao benfeitor. Ex: um trabalhador que ajuda seu colega de serviço, mesmo sendo
em sua hora de almoço.
- Emocional – Ações de auxílio em resposta a situações afetivamente intensas e desagradáveis. Ex:
Indivíduos que acolhem pessoas que estejam em sofrimento após uma perda.
- Catastrófico – Ações que beneficiam outras pessoas em situações de emergência. Ex: voluntários
que dão auxílio a vítimas de uma enchente.
- Solícito – Ações em resposta a um pedido direto de assistência. Ex: uma pessoa que apresenta
essa tendência, geralmente, se coloca à disposição quando alguém lhe pede auxílio.
- Público – Ações de auxílio que ocorrem somente na frente de uma plateia. Ex: pessoas que
gravam e postam suas boas ações em rede social, esperando serem exaltadas por seus feitos.
- Anônimo – Ações pró-sociais sem o conhecimento de outras pessoas. Ex: pessoa que doa
dinheiro para uma instituição de caridade anonimamente.

→ Altruísmo
- Características:
✓ Descreve tanto um tipo de comportamento pró-social quanto um tipo de motivação;
✓ Condutas que beneficiam pessoas ou têm consequências sociais positivas;
✓ Intrinsecamente motivadas e que não buscam nenhuma recompensa;
✓ Realizadas de forma voluntária ou intencional;
✓ Trazem custos pessoais para aquele que ajuda

- Discute-se se realmente existe um verdadeiro altruísmo:


✓ No fundo estaremos buscando sempre algum benefício pessoal?
✓ Ou seríamos capazes de total desprendimento e renúncia de nós mesmos?
- Alguns psicólogos denominam os atos generosos com motivações autocentradas de
comportamentos de ajuda, enquanto o altruísmo seria apenas aqueles motivados
exclusivamente pelo desejo de aliviar o sofrimento da vítima pela preocupação com seu
bem-estar.

→ Porque as pessoas ajudam? Teoria Psicológicas Tradicionais


Psicanálise
- Entende a natureza humana como basicamente egoísta e agressiva.
- Assim, Freud concebe o comportamento pró-social como um meio de nos defendermos no
campo social e de conflitos internos.
- Essa abordagem parece negar que tenhamos qualquer interesse genuíno pelos outros.
- Comportamentos pró-sociais são, segundo essa perspectiva, autosservidores, ou seja, motivados
mais para atender nossas necessidades interiores do que por uma preocupação real com o outro.
- Alguns psicanalistas acreditam que experiências positivas da socialização podem tornarmos
menos egoístas.

Teorias de Aprendizagem
- Reforçamento – repetimos e fortalecemos os comportamentos que resultam em consequências
positivas para nós. Assim, as crianças aprendem a ajudar os outros quando são recompensadas
por seus comportamentos pró-sociais.
- Modelação – as pessoas também aprendem a ajudar através da observação de modelos
altruístas.
- Críticas a teoria do reforço: como explicar o altruísmo, visto este, em geral, ser associado a
consequências negativas como custo?
- Esse questionamento faz com que alguns teóricos da aprendizagem considerem, assim como
Freud, que altruísmo não exista. O que aparentemente é altruísmo, de forma sutil, gera alguma
recompensa (ex: sentir-se melhor internamente).

Sociobiologia
- Para psicólogos desse campo, muitos tipos de comportamento pró-social têm raízes genéticas e
os indivíduos que possuem certos genes são mais propensos a exibir tais comportamentos.
- Para os evolucionistas, tais comportamentos são importantes para o processo adaptativo do
sujeito e para a propagação e, consequentemente, a sobrevivência de seus genes.
- Isso seria uma das justificativas do porquê um sujeito possui maior tendência em prestar auxílio
a familiares com genética compartilhada e a pessoas vistas como semelhantes a ele.
- Alguns sociobiólogos explicam a existência do comportamento altruísmo através de três
mecanismos básico:
✓ seleção de pares; ✓ reciprocidade; ✓ aprendizagem de normas sociais

→ Cultura e Altruísmo
- Em oposição a visão da sociobiologia, alguns autores propõem que a evolução cultural pode ser
mais importante que a evolução biológica para explicar o comportamento pró-social.
- Segundo esses autores, se as sociedades funcionaram melhor e foram mais bem-sucedidas em
sua adaptação quando desenvolveram formas de socializar seus membros no sentido do controle
de seus impulsos egoístas, elas podem ter evoluído em direções pró-sociais através dos tempos.
- Ou seja, quanto mais nos tornamos seres sociais (de vínculos), mais nos direcionados ao
reconhecimento do outro.
→ Evolução Cultural

→ Cultura e Altruísmo
- Há diferenças entre as culturas.
- Condutas altruístas são mais fortemente estimuladas nas chamadas culturas coletivistas
(sul-americana e asiática, por exemplo) do que nas de culturas individualistas (norte-americana
e canadense).
- Nas primeiras o bem-estar do grupo prevalece sobre os desejos individuais ao passo que nas
últimas enfatiza-se mais a liberdade em buscar objetivos pessoais do que a responsabilidade
individual pelo bem coletivo.

→ Porque as pessoas ajudam?


Teoria da Troca Social
- Essa teoria concebe as interações humanas como uma troca de recursos sociais, psicológicos ou
materiais, orientada por uma “economia social”.
- Ou seja, em nossas relações interpessoais, trocamos não apenas bens materiais, mas também
bens sociais e afetivos como: amor, informação, status, serviços, atenção, cuidado.
- Estratégia “minimax” – minimizamos os custos e maximizamos as recompensas.
- Se a relação interpessoal for suficientemente benéfica para ambas as partes, ela se mantém, caso
contrário, será rompida.
- Exemplo: Se eu converso com uma pessoa e sou atencioso, espero que, ao falar, a pessoa
também me dê atenção. Se ela não me der atenção, há a possibilidade de rompermos a conversa.
- De forma sutil, uma pessoa avalia os ganhos (retribuição futura, aliviar desconforto emocional,
aprovação social etc.) e os custos (risco físico, tempo dispendido etc.) antes de decidir por um
comportamento pró-social.
- Levando em conta esses dois fatores, a teoria da troca social prediz que as pessoas ajudam
outras quando as recompensas são maiores que os custos – ou seja, são motivados pelo
autointeresse.

Hipótese Empatia-Altruísmo
- A ação puramente altruísta pode ocorrer com segurança, sempre que for precedido por um
estado psicológico específico, designado por preocupação empática pelo outro.
- Preocupação empática – reação emocional caracterizada por sentimentos como compaixão,
ternura, generosidade e comiseração. O sujeito se coloca no lugar do outro.
- Nossa predisposição geral em ajudar é influenciada tanto por considerações autocentradas
(tensão pessoal) quanto por considerações não egoístas (tensão decorrente da tomada de
perspectiva do outro).
- Nessa perspectiva, o altruísmo genuíno só existe, então, quando sentimos empatia pelo
sofrimento do outro.
- Quando, por qualquer razão, não sentimos essa empatia, passam a prevalecer as considerações
relacionadas ao autointeresse, preconizadas pela teoria da troca social.
- Críticas a essa teoria: como podemos garantir que a empatia foi o único fator que influenciou o
comportamento pró-social?

- Resumindo:
➢ Levando em conta as abordagens apresentadas, o mais provável parece ser que forças
biológicas e forças culturais interajam no sentido de favorecer comportamentos altruístas (elas
são complementares).
➢ Para alguns teóricos, os motivos para o comportamento pró-social são, em última análise,
egoístas; para outros, a motivação genuinamente altruísta, baseada na empatia por outros seres
humanos, é possível.
➢ Alguns defendem que o altruísmo faz parte da natureza biológica do ser humano, enquanto
outros sustentam que as tendencias biológicas para o egoísmo podem ser controladas por
fatores sociais que promovam o comportamento pró-social.

Abordagem Normativa
- Muitas vezes, os indivíduos ajudam os outros por conta de certas normas da sociedade, que
prescrevem o comportamento apropriado em determinadas situações.
- As normas constituem expectativas sociais que orientam como deve-se agir quando alguém
precisa de auxílio.
- Através dos processos de socialização, os indivíduos aprendem e incorporam as normas e
passam a se comportar pró-socialmente, seguindo seus ditames implícitos.
- Três normas sociais, em particular, são consideradas importantes para promover o
comportamento de ajuda:
✓ norma da reciprocidade
✓ norma da justiça social
✓ norma da responsabilidade social
→ Norma da Reciprocidade
- Prescreve que devemos retribuir os benefícios e favores que recebemos de outros.
- De acordo com essa norma, nós geralmente ajudamos quem já nos ajudou ou quem esperamos
que nos ajude no futuro.
- É entendida como uma norma universal, essencial para a manutenção de relações estáveis entre
as pessoas e se aplica a todas as esferas sociais.
- Nas interações entre pares ou iguais, a norma da reciprocidade é mais fortemente evocada.

→ Norma de Justiça Social


- Inclui as regras que regulam a distribuição dos bens e recursos sociais entre os indivíduos,
sendo eles materiais (econômicos) ou não materiais (afeto, prestígio etc.).
- Equidade: duas pessoas que contribuem igualmente para uma tarefa comumente devem receber
recompensas iguais – quando isso não ocorre, busca-se restaurar o equilíbrio.
- Cotidianamente, as crenças relativas à ideia de “ajudar os necessitados” parecem ser motivadas
pelo desejo de promover a equidade.

→ Norma da Responsabilidade Social


- Prescreve que devemos ajudar as pessoas que dependem de nós ou que são incapazes de
ajudarem-se a si próprios.
- Essa norma opera mais frequentemente nas relações sociais mais próximas (ex: pais com os
filhos e professores e alunos).
- No entanto, ela se aplica também à sociedade mais ampla, sugerindo que os mais aptos têm o
dever e a obrigação de assistirem àqueles que necessitam de ajuda, como os idosos, os jovens e
os doentes.

→ Por que as pessoas ajudam?


Abordagem Normativa
- Críticas a abordagem normativa:
✓ São muito gerais, não prescrevem situações específicas;
✓ Não explica as diferenças individuais de ajuda;
✓ Não explica a inconsistência do comportamento com certas normas prevalentes em um
determinado meio social.
- Baseado na abordagem normativa, o psicólogo Shalom Schwartz e colaboradores propuseram um
modelo teórico denominado normas pessoais.
- Normas pessoais: sentimentos individuais de obrigação moral para agir de uma determinada
forma em uma dada situação.
- Ela é compostas de cognição (expectativas sobre o próprio comportamento baseado em valores)
e emoção (sentimentos antecipados de satisfação ou insatisfação dependendo de como se age).
- Obedecemos a normas sociais para agradar a sociedade (processo de normatização), enquanto
aderimos a normas pessoais porque essas fazem sentido para nós (construção singular).
✓ Normas sociais: “ajudo porque todo mundo espera que eu ajude”.
✓ Normas pessoais: “ajudo porque faz sentido para mim”.
- Tendemos a nos organizar e agir segundo nossas normas pessoais porque elas fazem sentido
para nós, enquanto as normas da sociedade, ainda que obedeçamos, nem sempre fazem sentido.
Quando não tem sentido, é fácil não aderir.

→ Fatores Situacionais do Comportamento Altruísta


Ambiente Rurais e Urbanos
- Moradores de cidades pequenas e de áreas rurais são mais prestativos e generosos do que os
moradores de grandes cidades.
- Pesquisas em vários países encontraram correlação negativa entre tamanho de cidade e grau de
ajuda em diversas situações:
✓ um estranho que acidentou na rua;
✓ criança perdida;
✓ orientar pessoa que pediu informação sobre o lugar;
✓ devolver carta extraviada.
- Uma das explicações seria a aprendizagem social.
- Pessoas que crescem em cidades pequenas aprendem certos valores prósociais, como serem
mais cooperativos e solidárias e terem um espírito mais comunitário, o que os torna mais
confiáveis e altruístas.
- Já nas cidades maiores aprende-se a não confiar nos estranhos e que cada um deve cuidar da
sua própria vida.
- Outra explicações seria a hipótese da sobrecarga urbana, conceito proposto pelo psicólogo
Stanley Milgram em 1970.
- As pessoas que habitam as grandes cidades são bombardeadas por tantos estímulos que
necessitam selecioná-los para serem capazes de processar as informações recebidas do
ambiente.
- Dessa forma, muitos estímulos são ignorados, como os pedidos de ajuda.
- Pesquisadores acreditam que o ambiente urbano, por si só, reveste-se de características
peculiares que constituem em fontes de pressão sobre os indivíduos e que podem funcionar
como inibidores ou impeditivas do desejo ou disponibilidade para prestar ajuda.
- Por uma questão de autopreservação, o cidadão urbano adotaria para defender-se dos excessos
de estimulação ambiental uma atitude blasé, calculista, impessoal, reservada e intelectualizada.

Efeito do Circustante/Espectador
- Proposta pelos psicólogos sociais John Darley e Bibb Latané, tal teoria diz que a presença de
outras pessoas diminui a probabilidade de que um indivíduo ajude.
- Em outras palavras, quanto maior o número de pessoas potencialmente capazes de ajudar em
uma situação de emergência, menor e mais lenta a ajuda que será dada à pessoa em necessidade
(princípio da difusão de responsabilidade).
- Darley e Latané criaram, também, um modelo que apresenta os passos que um indivíduo faz
antes da tomada de decisão em ajudar:
1) Perceber/notar o evento ou a situação de emergência;
2) Interpretar o evento como uma emergência;
3) Assumir a responsabilidade de ajudar;
4) Saber como ajudar;
5) Implementar/decidir prestar ajuda.

Presença de Modelos
- Modelos pró-sociais promovem o altruísmo.
- A observação de outras pessoas prestando auxílio em uma dada situação estimula a imitação do
comportamento – processo de modelação.

Natureza das Relações Interpessoais


- Quando as pessoas se conhecem, elas parecem se preocupar mais com os benefícios a longo
prazo que a ajuda possa proporcionar do que com os seus benefícios imediatos.
- Benefícios imediatos – e, normalmente, com valor equivalente – prevalecem nas relações entre
estranhos.
- Nas relações onde há afeto, a maior preocupação de quem ajuda pode ser apenas ver o
bem-estar daquele que foi auxiliado e não receber um benefício.
- Pesquisas sugerem que ajudamos mais parentes e amigos do que estranhos em coisas que não
são relevantes para nós.
- No entanto, quando alguma coisa é importante para nós, a tendência se inverte.
- Uma explicação seria porque é doloroso para nós ver um amigo próximo se sair melhor do que
nós quando se trata de uma área que valorizamos muito e, portanto, algo que é central em nossa
autoestima.
Características de Personalidade
- A maior parte dos estudos não conseguiu encontrar correlação entre comportamento altruísta e
traços de personalidade.
- Os poucos estudos que encontraram alguma evidência sugerem que indivíduos com alto grau de
emocionalidade, empatia e autoeficácia tendem a ser mais altruístas.

Estados Emocionais
- Apesar de carecer de consistência empírica, pesquisas encontraram os seguintes dados.
- Estado de afeto negativo:
✓ propicia menor ajuda em crianças;
✓ provoca maior ajuda em adultos;
✓ a culpa parece ser a emoção negativa mais relacionada ao ato altruísta;
✓ a tristeza, aumenta a possibilidade de ajuda, pois as pessoas aprendem durante a infância
que o ato de ajudar contribui para a superação de estados psicológicos negativos (o altruísmo é
autogratificante).
- Estado de afeto positivo:
✓ pessoas felizes são mais altruístas, qualquer que seja a razão e qualquer que seja a idade;
✓ pessoas felizes são ainda mais motivadas para ajudar quando sua atenção está focalizada
mais em coisas boas para si mesmas do que para os outros.
- Os pesquisadores acreditam que um estado emocional agradável induz pensamentos positivos e
autoestima positiva, o que predispõe a comportamentos pró-sociais.

Diferenças de Gênero
- Na maior parte das situações utilizadas em pesquisas sobre comportamento de ajuda, não houve
diferença na ação tendo como parâmetro o gênero.
- No entanto, alguns dados foram verificados:
✓ Homens revelam-se mais altruístas em situações de emergência e de risco, que requerem
ações mais heroicas;
✓ Mulheres mostram-se mais propensas a prestar ajuda e apoio emocional nas situações mais
tradicionais relacionadas a expectativas sociais, como cuidar de crianças e de idosos.
- A justificativa para essa diferença seria o aprendizado das normas culturalmente associadas ao
papel de homem e mulher.
Características da Pessoa em Necessidade
- Merecimento e responsabilidade da vítima:
✓ A ajuda depende dos julgamentos que fazemos sobre o merecimento da vítima e de nossas
inferências em relação às causas de seu infortúnio.
✓ A ajuda torna-se pouco provável se considerarmos a pessoas negligente ou responsável pela
sua situação.
- Similaridade:
✓ As pessoas auxiliam mais indivíduos vistos como semelhante a elas do que aqueles que são
diferentes (sentimento de vinculação e pertencimento).
- Perspectiva do recebedor da ajuda:
- ✓ Pessoas estão mais ou menos propensas a aceitar ou a pedir ajuda dependendo do quanto
isso afetará sua autoestima.

→ A Influência Conjunta da Pessoa e da Situação no Altruísmo


- Estudos sugerem que apesar das pessoas altruístas apresentarem maior grau de ajuda quando
não há qualquer compensação, estes também apresentam menor tendência a ajudar quando há
compensação.
- Características de personalidade também influenciam no Efeito do Circunstante e no cálculo do
custo em prestar ajuda em uma dada situação.

→ Como podemos desenvolver o altruísmo na sociedade?


- Smith e Mackie (1995)2 resumem algumas das principais possibilidades:
1) Reduzir a ambiguidade da situação:
✓ Muitas vezes, as pessoas deixam de auxiliar por não perceberem claramente que outros
precisam de ajuda.
✓ As pessoas que precisam ou desejam serem auxiliadas devem tornar explícitas suas
necessidades e expectativas.

2) Integrar no autoconceito o componente da generosidade:


✓ Estímulo de uma motivação intrínseca.
✓ As pessoas que fazem boas ações por motivos internos, ao invés por recompensas externas,
são mais propensas a se verem como genuinamente altruístas e a desenvolverem preocupação
em ajudar os outros.
✓ Pessoas se julgarem generosas e solidárias, leva a ajudarem mais.
3) Promover a identificação com quem precisa de ajuda:
✓ Sentimento de similaridade entre altruísta em potencial e a pessoa necessitada alimenta a
empatia e a predisposição em ajudar.

4) Ativar as normas de ajuda:


✓ As normas sociais de ajuda – reciprocidade, responsabilidade social e justiça social – têm
que ser ativadas mentalmente para que possam orientar o comportamento.

5) Focalizar a responsabilidade em pessoas específicas:


✓ Isso é necessário, visto que, as pressões normativas em favor da ajuda fortalecem-se do
mesmo modo que a difusão de responsabilidade entre as pessoas enfraquece os sentimentos
individuais de obrigação de ajudar.

6) Promover o altruísmo na infância:


✓ Experiências iniciais de vida possuem grande importância para que a pessoa apresente
preocupação autêntica para com os outros.
✓ Recompensa (não exagerada): elogios e carinhos após ações pró-sociais.
✓ Modelos: Pais e a própria igreja possuem grande influência.

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