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Capitulo 1 e 2 Baremblitt.

Movimento Institucionalista consiste num conjunto de escolas ou de tendências. Dentre as


características comuns dessas escolas/tendências, pode-se colocar os “ideais máximos”, os
ideais “últimos” do movimento. Tais ideais seriam os propósitos mais importantes, os objetivos
mais ambiciosos dessas escolas. Nesse sentido, as diferentes escolas se propõem apoiar e
propiciar nas comunidades, nos coletivos, nos conjuntos de pessoas, processos de auto-análise
e auto-gestão.

Em toda a história da humanidade, os processos de interação humana, os processos de


funcionamento social sempre foram complexos, mas essa complexidade atingiu seu auge na
civilização capitalista, tecnológica. Além de contar com uma grande diversidade e complicação
interna, as sociedades modernas têm experimentado um processo de produção de saber
muito intenso. Esse processo fomentou as evoluções/aplicações tecnológicas, levando a um
intenso e complexo progresso. Dentro dessa enorme produção de conhecimento, há aquelas
áreas que se dedicam aos estudos que abordam sobre a organização social em si mesma. Ou
seja, nossa civilização tem produzido conhecimentos acerca de seu próprio funcionamento, se
tornando um objeto de estudo. A partir disso, surgiram os profissionais, os intelectuais, os
experts, que são os “grandes” conhecedores da estrutura e do processo da sociedade em si/
do funcionamento da sociedade em que vivem. Esses conhecedores da estrutura e do
processo da vida social estão predominantemente a serviço das entidades e das forças que são
dominantes em nossa sociedade: o Estado ( entidade que representa o máximo da
concentração de poder e de controle) e as grandes organizações/empresas ( grandes entidade
proprietárias da riqueza e do poder social). Isso tem como consequência a desvalorização dos
conhecimentos acumulados, de uma forma geral, pela sociedade civil, que foram construídos
ao longo de muitos anos, a partir das experiências com seu próprio funcionamento. Quando
aparece o saber cientifico, tecnológico, esse saber acumulado pela sociedade civil fica
colocado em segundo plano, como se fosse rudimentar/primitivo/atrasado, insuficiente,
inadequado. Fica subordinado ao saber dos experts. Além do saber, os cidadãos da
comunidade civil têm perdido o controle sobre suas próprias condições de vida, ficando
alheios/privados/destituídos/alienados ao poder de gerenciar sua própria existência. Acabam
dependentes dos organismos do Estado, dos proprietários das grandes empresas, dos
conhecimentos e serviços dos experts. O autor se refere aos experts dos ramos produtivos, aos
especialistas de produção dos bens materiais indispensáveis à sobrevivência. Toda a produção
desses bens está gerenciada por especialistas. Mas, também existem os especialistas em
relação aos problemas de saúde, de educação, aos assuntos familiares. Os bens que
administram nesses territórios do conhecimento, sua quantidade, sua qualidade, sua
conveniência, tudo é decidido pelos experts, que são aqueles que supõe-se que sabem e
conhecem o assunto. Usam da força de persuasão/sedução.

Os experts conhecem e decidem predominantemente de acordo com os interesses das classes


e aos grupos dominantes aos quais pertencem parcialmente. Não é que haja uma intenção
deliberada dos especialistas nesse se ntido. Mas, acontece que o conhecimentos em si mesmo
já estão produzidos com instrumentos e resultados que privilegiam os interesses dos
detentores de poder na sociedade.

As comunidades ou coletividades são invadidas pela ideia de que existem necessidades básicas
indiscutíveis e universais, as quais são colocadas por meio de demandas espontâneas, de
exigências de produtos e serviços. No entanto, isso é fortemente questionado pelo
institucionalismo, pois esse movimento tenta mostrar que ao longo de toda história da
humanidade, especialmente nos dias atuais, não existem necessidades básicas “naturais”,
demandas “espontâneas”, mas sim que as necessidades são produzidas e as demandas
moduladas pelos experts. As necessidades básicas, mínimas são geradas em cada sociedade e
torna-se diferente para cada segmento dela. As comunidades, os coletivos, a partir das
experiências ao longo do tempo, acumularam conhecimentos acerca de suas necessidades,
mas estes foram desqualificados com o surgimento do “saber científico”, de tal forma que os
cidadãos já não sabem mais o que precisam e não demandam o que querem, mas acreditam
que suas necessidades são as necessidades colocadas pelos experts. Até possuem a falsa
impressão de que pedem o que querem e como querem, mas, na verdade, os seus pedidos
estão modulados pelos dizeres dos experts. Nesse sentido, os coletivos estão subordinados,
dependentes dos conhecimentos dos experts, os quais possuem o poder de fazer com que as
pessoas achem que precisam e solicitam a partir do que é colocado em seus discursos
dominados pelos interesses das classes detentoras de poder. Então, os coletivos têm perdido,
têm sido destituídos do saber acerca de sua própria vida, do saber acerca de suas reais
necessidades, de seus desejos, de suas demandas, de suas limitações e das causas que
determinam estas necessidades e estas limitações. Assim, acabam perdendo de certa forma a
compreensão e o controle sobre os seus próprios recursos e sobre as formas de organização
que poderiam resolver seus problemas. Até mesmo porque, mal sabem quais são seus
verdadeiros problemas e o que é preciso para resolvê-los.

A partir do entendimento que os experts produzem as necessidades, as demandas


vistas como “espontâneas” ou “naturais”, desqualificando os conhecimentos acumulados
pelos coletivos a partir das experiências, podemos inserir os conceitos de auto-gestao e auto-
análise, que são os dois objetivos básicos do institucionalismo. O processo de auto-análise
consiste em incitar nas comunidades o protagonismo diante de seus problemas, de suas
necessidades, e de suas demandas, de tal forma que possam produzir conhecimento acerca de
suas condições de vida, de suas especificidades, de seus recursos, desejos. Seria isso ao invés
de se submeter à discursos externos sobre quem são, quais são as suas necessidades e
demandas, assim como problemas e recursos, sem desfrutar do que já possuem e que podem
possuir. Mas, para que a auto-análise seja praticada pelas comunidades, elas precisam se
organizar no sentido de construir as condições e os dispositivos necessários para que a
produção do conhecimento seja possível e, assim, conduza ao alcance dos recursos de que
necessita para melhorar a qualidade de vida. Nesse sentido, elas precisam se organizar em
grupos de discussão, em assembleias, além de permitir a colaboração dos experts com
conhecimentos uteis aos processos de auto-análise e auto-gestão. Sendo assim, são dois
processos simultâneos, concomitantes e articulados, pois não pode haver uma organização
sem um saber, assim como não pode haver um saber sem uma organização. Tudo que
descobrem no processo de auto-análise só torna-se efetivo à medida em que há a auto-
organização, com a intenção de construir e incitar as forças destinadas a transformar suas
condições de existência, a resolver seus problemas. Dessa forma, são dois os dois objetivos,
propósitos centrais do movimento institucionalista, os quais são compartilhados por todas as
tendências/escolas que o constitui.

Isso quer dizer que os conhecimentos dos experts não devem ser dispensados em sua
totalidade, pois, sem dúvida, muitos podem ser valiosos, já que não são todos alienados ou
distorcidos. Mas, de qualquer forma, os conhecimentos e instrumentos acumulados pelos
experts devem ser submetidos à um processo de análise crítica, de tal forma que seja possível
separar os que são produto de interesses dos dominantes sociais daqueles que podem vir a ser
úteis ao processo de auto-análise e auto-gestao, nos quais os segmentos dominados e
explorados são protagonistas. Mas, para efetuar esse processo de auto-crítica, os experts
precisam entrar em contato direto com os coletivos que estão sofrendo o processo de auto-
análise e auto-gestão, na intenção de fazer um trabalho conjunto com base numa relação
horizontal. O trabalho conjunto consistiria em integrar os conhecimentos dos experts aos
processos de auto-análise e auto-gestão dos coletivos. A partir disso, os conhecimentos dos
experts entrarão num processo permanente de reformulação enquanto se articula aos
processos incitados nas comunidades. Assim, poderão agregar aprendizados que podem ser
úteis nos futuros movimentos autogestivos e auto-analíticos.

Os processos de auto-análise e auto-gestão, concomitantes e complexos, exigem a existência


de hierarquias e de uma certa divisão de trabalho. Como os processos são muito complexos, é
preciso uma certa hierarquia de decisão, de deliberação. Mas, a existência de hierarquia
nessas condições não implica/ocasiona diferença de poder, ou seja, não há pessoa ou grupo
que possui a capacidade de impor a vontade de um sobre o outro. A divisão do trabalho e a
existência de uma certa hierarquia serve apenas para gerar especialização em algumas tarefas,
tendo em vista que as decisões de fundo são tomadas coletivamente. As categoriais
hierárquicas são categorias de executores de certas peculiaridades, que expressam a vontade
de todos, a vontade consensual. No entanto, considerando que o institucionalismo produz
conhecimentos, sabe-se que todo saber envolve, necessariamente, um poder. Este saber é
coletivo, produzido e disseminado dentro da vida coletiva. Então, existem certos elementos
desse saber que são essenciais e compartilhados por todos. Nesse sentido, quando esse saber,
produzido e compartilhado dentro dos coletivos, é concedido/delegado a alguns que se
especializam nessa questão, ainda é um saber produzido a partir dos interesses do coletivo,
articulado com as colaborações dos interessados nos benefícios desse saber e de suas
aplicações quando efetivados. Então, o saber delegado é a expressão dos interesses e do saber
essencial do coletivo. Além do mais, os coletivos possuem a capacidade e conhecimentos
suficientes para analisar se os especialistas estão exercitando seu poder a serviço do coletivo
ou influenciado por interesses outros que fogem da coletividade.

Os questionamentos do povo em direção à formas de organização da sociedade são


enfraquecidos à medida em que há a desvalorização do saber espontâneo. A grande reação
diante desses questionamentos é a alegação de que não sabem. Todas as coletividades
possuem o saber espontâneo acerca de quais são os problemas, quais são os recursos e como
devem ser solucionados ou trabalhados. Mas, esse saber espontâneo é permanentemente
desqualificado pelo saber acadêmico, cientifico, considerando que este está,
predominantemente, à serviços dos interesses das entidades sociais dominantes, que detém o
poder. Nesse sentido, o primeiro passo das comunidades deve ser revalorizar, requalificar o
saber espontâneo relativo aos seus problemas. E o segundo passo, não menos importante,
consiste em se articular com os experts para realizarem uma análise crítica dos saberes que se
colocam a serviço de interesses específicos e não coletivos. A partir do momento em que os
experts mostram-se efetivos colaboradores neste trabalho de reformulação, pode-se delegar a
eles algumas áreas do saber, com menos perigo de que eles o transforme em poder e não
numa potencia de colaboração com o coletivo. Isso não torna o processo ileso de problemas
de concentração de saber e de poder, até mesmo porque os processos de auto-análise e auto-
gestão são intermináveis. Trata-se de um movimento orientado por uma UTOPIA ATIVA. Nesse
sentido, trata-se de um esforço, de um “trabalho de formiguinha” com tentativas exercitadas
permanentemente, mas que pode gerar um “peso de elefante”. Vale dizer que os processos
auto analíticos e autogestivos são produzidos em condições altamente desfavoráveis, de tal
forma que nadam contra a corrente por incitarem a independência das comunidades em
relação às entidades dominantes. Estão sujeitos à importantes impedimentos, já que os
coletivos não são os detentores do saber, da riqueza, dos recursos, mas sim submetidos ao
poder dos organismos e entidades dominantes. Então, o alcance dos objetivos pode ser
impedido pela falta de recursos, ou num outro extremo, pela morte física. Dessa forma, o
sistema social combate estes processos, pois os movimentos instituintes possuem o grande
intuito de incitar o protagonismo dos coletivos diante da definição dos problemas, das
soluções, dos limites, assim como do conhecimento em relação ao que normalmente é feito
pelas instituições, organizações e saberes de grupos dominantes. Durante a história, as
tentativas têm se mostrado falhas por lutarem contra um conjunto de imensas forças sociais
tentando destruí-las. Nesse sentido, os objetivos ultimas nunca serão atingidos de forma
definitiva, mas no curso das tentativas, usufruem de ganhos que estão a procura.

O movimento institucionalista apresenta uma gênese histórico-social e uma gênese conceitual.


A primeira refere-se às inúmeras tentativas coletivas da humanidade que exercitam um
institucionalismo espontâneo (experiências históricas que existiram no sentido do
institucionalismo). Um desses movimentos que possibilitaram a auto-análise e auto-gestao
seria o das comunidades eclesiásticas de base no Brasil e em outros países, ou a reforma dos
escravos, ou revolução francesa. Os experts tem aprendido que isso existe e que podem
colaborar com o seu desenvolvimento a partir das experiências históricas que já existiram
nesse sentido e das que estão existindo sem a sua colaboração. Por outro lado, a segunda, a
gênese conceitual refere-se ao campo das ideias, ao campo dos conceitos e da teoria que
produzem conhecimentos que podem fundamentar, servir de vase para as propostas
institucionalistas.

As diferentes escolas do institucionalismo se distinguem entre si pelas teorias, pelos métodos,


pelas técnicas a partir das quais introduzem esses objetivos últimos, máximos, e pelo grau de
realização com o qual se conformam. Há correntes com tendências mais reformistas e outras
com tendências mais revolucionarias, mas de alguma forma, se unem em torno desses
objetivos últimos.
Capítulo 2 –

Dentro do Institucionalismo, entende-se sociedade como forma organizada de associação


humana e História como o devir da Sociedade no tempo.

Dentro do Institucionalismo, entende-se sociedade como forma organizada de associação


humana, composta por uma rede de instituições que se articulam entre si para regular
atividades e interações humanas – para regular a produção e a reprodução da vida humana e a
relação entre homens. A partir disso, adota uma concepção mais ampla de instituição
(trabalha em um sentido mais amplo), afirmando que instituições são lógicas que, com base na
forma e no grau de formalização adotado, podem ser leis, normas, pautas, que orientam os
comportamentos e interações dos participantes de uma sociedade. Ou seja, nos informam
como devemos nos comportar em sociedade. As leis, normas e códigos, geralmente, estão
escritos, mas uma instituição não precisa, necessariamente, estar formalizada por escrito em
documentos. Nesse sentido, são entidades abstratas, mesmo que registradas em documentos
formais ou em tradições. Dentro dessas lógicas, há definições sobre o que deve ser, o que está
prescrito ( o que foi ordenado) e o que não deve ser, ou seja, o que está proscrito (o que é
proibido), assim como o que é indiferente. Mas, para que cumpram seu papel de regulação da
vida humana, as instituições precisam se concretizar, se materializar por meio das
organizações (dispositivos concretos). Ou seja, as instituições não se efetivariam, não teriam
realidade social se não fosse através das organizações. Mas, por outro lado, as organizações
não teriam sentido e nem objetivo, não teriam direção se não recebessem informações das
instituições. Por sua vez, uma organização é composta por unidades menores chamadas de
estabelecimentos, como as escolas, fábricas e conventos. Já os estabelecimentos, geralmente,
contam com equipamentos técnicos, como instalações, arquivos, aparelhos, maquinas. Então,
fica: instituição -> organização -> estabelecimento -> equipamento. Mas, é somente nas ações
humanas que é ativado todo esse conjunto de acessórios/unidades para gerar transformações
na realidade. Ou seja, tudo isso só adquire dinamismo, movimento através da prática dos
agentes, que são os seres humanos (práticas teóricas, técnicas, verbais ou não verbais).
Infelizmente, isso causa uma grande confusão entre leigos e institucionalistas, mas trata-se de
uma discussão essencial para construir uma linguagem mais ou menos universal e
compartilhada.

A Universidade Federal de Uberlandia, dentro dessa visão institucionalista, não é uma


instituição, mas sim um estabelecimento concreto que faz parte de uma grande organização,
provavelmente do Ministério da Educação, que, por sua vez, tenta materializar a instituição da
educação, que é uma lógica, uma série de prescrições ou leis.

TIPOS DE INSTITUIÇÕES:

Uma das instituições da comunidade humana é a instituição da linguagem, a qual agrega um


conjunto de leis e normas que determinam e orientam a organização da combinação de
fonemas. Com essa instituição, podemos formar um infinito número de mensagens
compreensíveis para qualquer falante ou ouvinte da língua. Nessa instituição, não está posto o
que perde ou o que ganha o uso correto ou incorreto da língua, que é atribuição de outras
instituições, mas desconhecer ou transgredir essa instituição gera um alto custo, que é a
incapacidade de se comunicar dentro do universo humano no qual está inserido. Dessa forma,
linguagem é uma instituição básica de qualquer sociedade, desde que essa sociedade seja
humana. Outra exemplo são as instituições de regulamentação do parentesco, que definem os
lugares a serem ocupados por determinadas pessoas numa teia social, tais como: pai, mãe,
filho, nora, etc. Essas instituições prescrevem/dizem quem pode se relacionar com quem e
ainda qual tipo de relação se daria entre as diferentes posições. (entre quais membros podem
surgir uma união). Apresenta prescrições, ou seja, indicações do que pode acontecer, mas
também proscrições, ou seja, o que é proibido; assim como o que é indiferente ou não
abrangido por essa lógica. Contamos também com a instituição da divisão do trabalho
humano. O trabalho humano está dividido com base nos momentos e as especificidades de
cada tipo de produção e tarefa. Essa divisão vem acompanhada por uma hierarquia que institui
diferenças de poder, prestígio e lucro., não necessariamente justificadas pela importancia
produtiva daqueles que detém esses lugares. Por exemplo: trabalho manual e intelectual, do
campo e da cidade, assalariados e autônomos. Temos também as instituições da educação, ou
seja, leis, normas e pautas que definem como deve ocorrer a socialização do saber acumulado
pela humanidade aos futuros cidadãos que irão reproduzir a sociedade. Nesse sentido amplo,
a UFU não é uma instituição, mas sim um estabelecimento que tenta concretizar a instituição
da educação. Também temos a instituição da religião, que é responsável por regular as
relações entre homem e espiritualidade.

Em toda e qualquer instituição, há o atravessamento de forças instituintes e forças


instituídas.

É muito difícil ou praticamente impossível descobrir a origem das instituições. No entanto,


torna-se evidente que uma sociedade só pode existir se tiver, no mínimo, as seguintes
instituições: instituição da linguagem, das relações de parentesco, da religião e da divisão do
trabalho. Todo e qualquer coletivo humano é regido por estas instituições e são essas
instituições que dão existência aos coletivos humanos. De qualquer forma, uma instituição
supõe outra, depende da outra e o conjunto de instituições é o que forma uma civilização ou
uma sociedade humana. Então, mesmo que não seja possível identificar a origem dessas
grandes instituições, podemos encontrar em todas uma potência, um movimento de
transformação constante que tende a ocasionar modificações em suas características.
Geralmente, não estamos presentes na fundação de uma instituição, mas temos a
oportunidade de observar momentos de revolução de uma instituição, de profundas
transformações de uma instituição. Então, as forças que impulsionam a fundação ou a
transformação das instituições podem ser chamadas de instituintes (são as forças produtivas
de códigos institucionais). Sendo assim, instituinte seria o processo mediante o qual a
instituição sofre transformações. Mas, esse processo constante de produção e transformação
de instituições apresente um resultado, que é o instituído. Ou seja, o instituído é o efeito da
atividade instituinte. Nesse sentido, o instituinte aparece como um processo e o instituído
aparece como um resultado, o que concede ao primeiro conceito um caráter dinâmico,
enquanto que para o segundo, um caráter estático.

É evidente que o instituído apresenta um papel histórico muito importante, pois as


leis, normas, pautas, padrões construídos vigoram para regular as atividades sociais, essenciais
à vida humana. No entanto, o processo de mudanças sociais é permanente na história da
humanidade e, para que os instituídos continuem úteis para a vida social, eles precisam estar
acompanhando ( em confluência) as transformações da vida social para que haja a produção
de novos instituídos que se tornam adequados à nova condição instalada. As forças instituídas
tem uma tendência de manter as coisas como estão (uma tendência à resistência), enquanto
as forças instituintes apresentam a tendência à transformação, à revolução, mas as forças
instituintes só recebem sentido se houver a materialização dos instituídos. Por outro lado, os
instituídos não seriam uteis, funcionais se não estiverem permanentemente aberto à potência
instituinte. O problema reside no exagero de uma das partes, pois esses dois tipos de forças
são interdependentes e somente se tornam efetivos com a presença do outro.

Isso também ocorre à nível organizacional, pois há uma força permanentemente crítica
e transformadora, que é chamada de organizante, e há uma outra força que tende à
resistência, à fixação, à imobilização, que é chamada de organizado. O famoso organograma
ou fluxograma pode ilustrar, retratar o que é chamado de organizado.

A vida social está em permanente transformação e sua tendência é ir em direção ao


aperfeiçoamento, à maior felicidade, a maior realização de todos os membros. Mas, vale dizer
que sua existência só é possível com a presença de instituições e organizações que a regula,
além de ser essencial ter nessas instituições e organizações uma relação e uma dialética entre
instituído e instituinte, entre o organizante e o organizado permanentemente flexíveis, fluidas
e permeáveis.

Função está associada a forças organizadas e forças instituídas. Funcionamento está


associado a forças instituintes e forças organizantes. Processo orientado por uma utopia ativa
que não está colocada num futuro longe, mas sim em cada ato do cotidiano

Nas civilizações e nos coletivos humanos, ou até mesmo na vida humana de uma
forma geral, há uma tendência a adquirir características históricas que comprometem esse
objetivo utópico ativo. Essas caraterísticas, que variam conforme o tempo histórico e lugar
onde se estabelecem, podem ser resumidas em três grandes situações conhecidas
mundialmente: os processos de exploração (atos da pessoa são apropriados para o bel prazer),
de dominação (impor vontades pessoais) e de mistificação (desinformação ou engano). Estas
características históricas são deformações do percurso da vida social e de suas utopias, ou
seja, da forma como uma sociedade tenta, deseja e deseja chegar a ser. Trata-se dos seus
objetivos e finalidades mais nobres. ENTÃO: Existem características históricas, moduladas pelo
tempo histórico e pelo lugar onde se estabelecem, que comprometem o percurso da vida
social e seus objetivos utópicos e, por isso, podem ser vistas como deformações/perturbações
das civilizações e coletivos humanos, os quais tem essa tendência de adquiri-las. Essas
características podem ser resumidas em três situações amplamente conhecidas no mundo: os
processos de exploração ( se apropriar da potência e dos resultados produtivos de uns por
parte de outros); dominação ( imposição da vontade de uns sobre os outro e não respeito à
vontade coletiva, compartilhada) e mistificação ( deformação de informações). Existem
diferentes configurações das utopias sociais, dependendo da sociedade. A utopia da Revolução
Francesa pode ser usada como exemplo. Sendo assim, em toda e qualquer sociedade, em seus
aspectos instituintes e organizantes, existe uma utopia, uma orientação histórica de seus
objetivos, que é desvirtuada ou comprometida por essas características adquiridas ao longo do
tempo. Geralmente essas utopias são traídas.

Nas instituições, organizações, estabelecimentos, agentes, práticas, pode-se distinguir


uma função e um funcionamento.
As instituições, organizações, estabelecimentos, agentes e práticas apresentam uma
função que está sempre a serviço das formas históricas de exploração, da dominação e da
mistificação. Mas, raramente essa função se apresenta como ela realmente é, justamente por
conta da mistificação. Então, ao estar deformada, a função aparece como objetivo natural,
desejado, eterno, lógico das instituições e organizações. Ou seja, não se exprimem claramente
a nível de do instituído e do organizado, pois estes, os instituídos e organizados apresenta,
predominantemente, funções a serviço da exploração, da dominação e da mistificação, que
aparecem como “naturais”, “desejáveis” e “eternas”. Por outro lado, o instituinte e o
organizante estão sempre a serviço dos objetivos utópicos, o que leva o nome de
funcionamento. Então, o funcionamento é sempre instituinte, transformador, é sempre
justiceiro e tende à utopia, enquanto a função tende à cristalização, ao conservadorismo.

O instituído, o organizado são necessários à medida em que são produtivos, expressões


apropriadas, recursos operante dos instituinte. Mas, rapidamente, tendem a fugir do seu
sentido de funcionamento para adotar a característica da função, uma vez que a caracterisitca
essencial do instituinte, do organizante e dos seus produtos operantes é serem propícios à
produção, que é a geração do novo, daquilo que se direciona à utopia. Funcionamento é
sinônimo de produção. E Função é sinônimo de reprodução: tentativa de repetir o igual, de
perpetuar o que já existe, aquilo que não é operativo para acompanhar as transformações
sociais. -> instituinte e instituído, organizante e organizado, produção contra reprodução,
função contra funcionamento.

Como se dá a análise de uma instituição, de uma organização? Como intervir para propiciar
nas instituições e organizações a ação do instituinte e do organizante?

Os instituídos, organizantes-organizados que constituem a teia social não atuam


separadamente, mas sim em conjunto, sendo que cada um deles atua NO outro, PELO outro,
PARA o outro, DESDE o outro. Isso quer dizer que há um ENTRELAÇAMENTO, uma
INTERPENETRAÇÃO entre todos os instituintes e instituídos, entre todos os organizantes e
organizados. Essa interpenetração, esta articulação acontece a nível da função e a nível do
funcionamento; a nível da produção e a nível da reprodução; a nível daquilo que funcionará a
favor da utopia e a nível daquilo que está contra. Então, esta interpenetração a nível da
função, do conservador, do reprodutivo, se chama ATRAVESSAMENTO. E a interpenetração a
nível do instituinte, do produtivo, do transformador, se chama TRANSVERSALIDADE. Os efeitos
da transversalidade caracterizam-se por criar dispositivos que não respeitam os limites das
unidades organizacionais formais, gerando assim movimentos e configurações alternativos às
estruturas oficiais e consagradas. Qualquer instituição tem atravessamento e transversalidade,
o tempo todo. Por exemplo: a escola é um estabelecimento das organizações de ensino, que
por sua vez, tentam concretizar a instituição da educação. Mas, nela não estão presentes
apenas os objetivos manifestos do organizado e do instituído, já que pode ser atravessada por
uma fábrica, por um quartel, por uma prisão, ou seja, por outros estabelecimentos que
abarcam outros objetivos voltados ao instituído, ao organizado. Atravessada por outras
organizações, a escola contribui para a reprodução do que está, tal como está, e dessa forma,
para a perpetuação da exploração, da dominação e da mistificação. Mas, a escola também se
constitui como um espaço onde os alunos podem aprender, por exemplo, a lutar pelos seus
direitos e, dessa forma, a adquirir habilidades para concretizar as forças instituintes,
produtivas, aprendendo a lutar contra exploração, dominação e mistificação. Uma escola tem
um lado instituinte, um lado organizante. Nesse sentido, também tem um funcionamento
articulado, interpenetrado com muitas outras organizações, instituições, com muitos outros
instituintes e organizantes da sociedade que atuam nela, através dela, para ela, por ela. Essa
interpenetração a nível instituinte, produtivo, pode ser chamada de transversalidade,
enquanto a que se encontra a nível da função, da reprodução, chama-se atravessamento.

trabalhados também em seu espaço.

Exemplo de um caso de atravessamento de funções a nível organizacional:

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