TEXTO: Transparência e responsabilidade na gestão pública
Autora: Maria Coeli Simões Pires Fonte: Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, v. 81, n. 4, Belo Horizonte: out/nov/dez, 2011, pags. 60 a 74.
QUESTÕES:
1. Contextualize a democracia participativa no denominado “Estado em rede”?
2. Entre os princípios de organização do Estado em rede destaca-se o da
“transparência administrativa”. Na sua opinião, o que significa esse princípio? Qual a sua importância? Há diferença entre publicidade e transparência? Fundamente a sua resposta.
RESPOSTAS
Aluno: Marcus Vinícius Andrade Dolabela
Questão 01
De acordo com a autora, “Estado em rede” é estruturado a partir de redes
articuladas de governança e participação pública, de modo que ocorra a difusão do poder decisório, fazendo com que mais atores, pessoas e movimentos sociais participem do processo decisório. Nas palavras da autora: O Estado em Rede, sob denominações diversas, é uma arquitetura político-administrativa de difusão do poder decisório da esfera pública em uma rede articulada de governança, na qual o ente estatal compartilha sua autoridade internamente e com instituições, instâncias, organizações e atores diversos, conexionados por pontos nodais que sustentam múltiplas relações de distensão do poder em lógica pluricêntrica. (PIRES, 2011. Pág. 61).
Para se contextualizar a democracia participativa no Estado em Rede, é
necessário ter em mente alguns pilares de sustentação deste, que seriam: pressupostos sociológicos, baseado na sociedade em rede (conceito elaborado pelo sociólogo Manuel Castells); pressupostos jurídicos, baseados nos Direitos de Quarta Geração (proposto pelo filósofo Noberto Bobbio); pressupostos de interpretação jurídica (deliberação, esfera pública); pressupostos político- democráticos e pressupostos fáticos (desafios do Estado em Rede). A democracia participativa se associa com o Estado em Rede principalmente nos pressupostos de interpretação jurídica e político-democráticos. No pressuposto de interpretação jurídica, é importante ressaltar a influência da Teoria da Ação Comunicativa de Habermas e da Teoria Crítica do Direito, em que se propõe a criação e desenvolvimento de um ambiente de diálogo, deliberação e discurso democrático visando à interpretação jurídica e a tomada de decisão político-administrativa no Estado em Rede. No pressuposto político-democrático e jurídico-constitucional da administração pública brasileira, a Constituição de 1988 teve como objetivo alterar o sistema centralizado de tomada de decisão para abrir espaço à maior participação no processo decisório. De acordo com a autora: Assim, inverte-se o programa tecnocrático vigente no Estado Social, no qual a Administração Pública era tratada como uma esfera estranha e fechada aos cidadãos, para uma perspectiva de concepção, implementação e controle de políticas públicas em cujo ciclo se privilegiam a participação e o poder reivindicatório da cidadania no âmbito de uma esfera pública adensada. (PIRES, 2011. Pág. 65).
Portanto, a democracia participativa (associado ao Estado em Rede),
representa uma mudança de paradigma, pois no contexto anterior o processo de decisão era centralizado na estrutura do Estado, baseado em levantamentos exclusivamente técnicos, e no contexto atual, se procura cada vez mais democratizar e tornar mais acessível o processo decisório, levando em conta a participação dos cidadãos e da sociedade civil, se tornando um princípio essencial do Estado em Rede. Para concluir, cito o exemplo do Orçamento Participativo, que é um mecanismo direto de participação popular. Através dele, a população dialoga e toma decisões sobre o orçamento público e as políticas públicas, a partir do levantamento das necessidades da sua área ou bairro para discutir as prioridades de acordo com o orçamento do município.
Questão 02
O princípio da Transparência Administrativa, em minha opinião, significa
uma prática de governança que pressupõe a divulgação e disponibilização de informações, tornadas públicas de maneira eficiente, na medida em que todas as pessoas conseguem acessá-las; e de maneira simples, direta e didática, em que todas as pessoas conseguem interpretá-las e entender o que significa e como uma determinada informação (números da dívida pública, por exemplo) pode afetar diretamente sua vida. A importância do princípio da Transparência Administrativa, a meu ver, segue dois caminhos convergentes: o primeiro caminho seria a prevenção da corrupção, pois ao tornar as contas, legislações e tomadas de decisões públicas, previne que o servidor público toma decisões com base em interesse próprio e que seja contra o interesse dos cidadãos. O segundo é a possibilidade da sociedade civil analisar e discutir, com mais propriedade e racionalidade, a situação do Estado, para assim tomar decisões mais assertivas que proporcionem um bem maior para os cidadãos. Estes caminhos se convergem na medida em que força o agente público a tomar decisões com mais clareza e força uma participação mais engajada da sociedade civil no processo decisório. No meu ponto de vista, tendo em base os estudos feitos até o momento, existe uma diferença entre publicidade e transparência. O princípio da publicidade pressupõe a divulgação de informações sem uma preocupação com a forma de como elas são divulgadas, podendo ser divulgada com termos técnicos e sem clareza. A transparência vai além da publicidade, além de ser um princípio, é uma prática de governança que tem por objetivo a divulgação de informações em que o público geral possa interpretar e compreender essas informações, tornando mais acessível o debate público e a tomada de decisão mais democrática.