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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE ECONOMIA
MESTRADO EM GESTÃO/EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO

A KIXIKILA COMO FACTOR DE EMPODERAMENTO DA


MULHER RURAL E A SUA INFLUÊNCIA NO COMPORTAMENTO
ECONÓMICO

POR

MANUEL JOÃO BENGUI

ORIENTADOR: Prof. Doutor AFONSO CLEMENTE ZINGA

LUANDA

2019

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DEDICATÓRIA

Dedico esta Dissertação aos meus pais Sebastião


Malungo e Teresa Samba, pela educação e o amor
á escola e à família que recebi deles.

Aos meus filhos e aos meus sobrinhos.

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AGRADECIMENTOS

A Jeová Deus pelo fólego de vida. O seu nome seja louvado para todo o
sempre;

Ao Professor Doutor AFONSO CLEMENTE ZINGA pela motivação,


coragem e determinação em dar início ao presente estudo;

À minha amada esposa IRACELMA MANUEL JOÃO BENGUI, Pela


coragem, motivação e interesse que sempre demonstrou por este
trabalho. Pelo seu grande amor.

A todos os meus professores e aos meus colegas do curso de


Gestão/Empreendedorismo e Inovação da Faculdade de Economia da
Universidade Agostinho Neto;

À todos os que directa ou indirectamente me apoiaram até a conclusão


da presente Dissertação.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1.1. Relevância do estudo


1.2. Objectivos
1.2.1. Objectivo geral
1.2.2. Objectivos específicos
1.3. Formulação do problema
1.4. Formulação de hipóteses
1.5. Limitação e delimitação do campo de estudo
1.5.1. Limitação
1.5.2. Delimitação do campo de estudo
1.6. Estrutura do trabalho
1.7. Dificuldades

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. ROSCA
2.1.1. Conceito, significado e origem
2.1.2. Modo de funcionamento, impacto económico e social das ROSCA
2.2. A Kixikila
2.2.1. Conceito, origem e significado
2.2.2. Elementos da noção de Kixikila e seu funcionamento
2.2.3. A Kixikila como uma forma de contrato e de negócio jurídico
2.2.3.1. Características do Contrato de kixikila
2.2.3.2. Direitos e obrigações no âmbito da kixikila
2.2.3.3. Natureza dos efeitos do contrato de kixikila
2.2.4. Finalidade da Kixikila
2.2.4.1. Requisitos para integrar um grupo de Kixikila
2.2.4.2. Fases do acordo
2.2.4.3. Prazos de vigência, realização das contribuições e atribuição de
fundos

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2.2.5. Função económica e social da kixikila
2.2.6. Vantagens e desvantagens da kixikila
2.2.6.1. Vantagens
2.2.6.2. Desvantagens
2.3. ..

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Caracterização do estudo


3.2. Métodos, população e amostra
3.3. Material e procedimentos
3.4. Resultados e discussão
3.5. Conclusões
3.6. Sugestões para pesquisas futuras

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1. INTRODUÇÃO

O financiamento desempenha um papel de capital importância para o


desenvolvimento das actividades económicas. Das iniciativas de negócio até
ao fomento e a alavancagem de actividades económicas de pessoas singulares
e de empresas o financiamento tem o seu lugar e muitas vezes serve de factor
condicionante para a execução de planos de negócio à todos os níveis. Porém,
nem sempre os agentes conseguem financiar as suas actividades económicas.

As dificuldades de financiamento ocasionadas pelas crises e por outros


factores conexos e as excessivas regras que as instituições financeiras, os
bancos, impôem às pessoas sigulares e colectivas como critérios para
disponibilizarem recursos financeiros para a implantação dos seus projectos
são um factor importante a considerar, sobretudo quando se trata do sector
informal. Para dar volta a situação, as pessoas recorrem muitas vezes a
iniciativas próprias criando grupos os informais de financeiamento. São os
“Saving Groups” que de acordo com a literatura anglófona, são considerados
como os grupos informais que visam providenciar serviços essenciais e que
ajudam a resolver as necessidades económicas e financeiras e gerir o
quotidiano das vidas das pessoas. De acordo com estudos feitos “mais de
cinco milhões de pessoas pobres ao redor do mundo fazem parte dos Saving
Groups” (Ledgerwood & Rasmussen, 2011). Os Saving Groups são
caracterizados como grupos de entreajuda operados entre indivíduos que de
forma regular e com regras flexíveis financiam-se umas as outras para
facilitarem a resolução das mais variadas necessidades do dia-a-dia.

De acordo com Siwan Anderson, Jean-Marie Baland e Karl Ove Moene (2008),
alguns saving groups têm o carácter rotativo, o que os atribui a forma de
associações rotativas de poupança e crédito (2016) ou simplesmente ROSCA,
Rotating Savings and Credit, segundo a Association Ardener e Burman (citados
por Paulo C. P. Da Costa, 2011). Os ROSCA são considerados associações
informais de crédito mais frequentemete encontrados no actual mundo em
desenvolvimento, com “taxas excepcionalmente altas de participação” (2008).

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Fritz Bouman (1977) citado por Jean-Marie Baland e Karl Ove Moene relata
taxas de adesão entre 50% à 95% da população adulta em países como a
República Democrática do Congo, a Libéria, a Costa do Marfim, o Togo, a
Nigéria e os Camarões, essencialmente em áreas rurais onde estas
associações constituem a única instituição de poupança e crédito. E, o volume
anual de capitais mobilizados nessas associações ascende os 8% a 10% do
Produto Interno Bruto (PIB) na Etiópia e cerca de 50% da economia nacional
dos Camarões.

O ROSCA conheceu ao longo dos anos vários sinónimos que variam de acordo
com as regiões do mundo. Por exemplo, autores francófonos designam o termo
tontine como sinónimo de ROSCA, em Moçambique, é xitique, na República
Democrática do Congo, os sinónimos do ROSCA são diversos: ikelemba,
kitemo, osassa e temo (Low, 1995, p. 25). “Em Angola, o termo usado para
designar os grupos informais de poupança e crédito é Kixikila” (COSTA, 2011,
p. 20).

A kixikila é um mecanismo de financiamento informal. Neste quadro é


importante realçar que é “no sector informal que as mulheres encontraram o
caminho para a sobrevivência, à sua e à de suas famílias” (AFONSO, 2013).
Daí que a Kixikila atribui a mulher o poder aquisitivo, que se resume
na capacidade que ela ganha de adquirir um valor maior de bens num intervalo
de tempo. Este poder aquisitivo “está relacionado com os rendimentos
monetários” (Significados, 2019) da mulher.

Agregamos aos conceitos recorridos como fundamentos do estudo a teoria do


Empoderamento e do Comportamento Organizacional, pois que os grupos das
kixikila também podem assumir o carácter de organizações informais.
Uma organização informal designa o conjunto de relações ou interacções que
surgem espontaneamente entre os seus membros e que não são previstas ou
formalizadas pela organização formal (MAFALDA RIBEIRO, 2015). Trata-se de
um campo de estudo em que o impacto de indivíduos, grupos e estruturas têm
instigado o comportamento a fim de melhorar a eficácia dos processos e das
organizações. Entenda-se que as informações sobre as boas práticas que

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levam a organização a mudança e a melhoria de condições podem ser
estendidas a muitas outras. O comportamento organizacional é um campo que
estuda três determinantes do comportamento das organizações: indivíduos,
grupos e estrutura. Aplica o conhecimento obtido sobre indivíduos, grupos e o
efeito da estrutura no comportamento, com o objectivo de melhorar
funcionamento nas organizações e dos grupos.

A doutrina dos três princípios, solidariedade, confiança e cooperação entre os


seus intervenientes da Kixikila apresentados Nadine (…) é relacionado
singularmente a cada indivíduo, ao seu carácter e ao comportamento individual
do sujeito em relação aos outros associados da mesma causa. Os princípios
propostos não se revelam como a regra de funcionamento dos ROSCA,
entenda-se a Kixikila. Pelo grau de infuência que exercem factores como os
incumprimentos, as desistências, mortes de membros, alterações de
circunstâncias e de demais situações de força maior, propõem-se agregar aos
actuais, novos Princípios de Funcionamento da Kixikila os quais podemos
descreve:

1) a solidariedade,

2) o compromentimento,

3) a honestidade e

4) a inviolabilidade do ciclo.

O empoderamento da mulher é uma temática da actualidade, sobretudo no que


concerne a problemática da igualdade de géneros muito discutida nos dias de
hoje, no contexto da sua família e na comunidade rural em que está inserida.
Empoderar a mulher rural significa conceder “o poder de participação social às
mulheres” (Idem) no seu posicionamento em todos os campos sociais, políticos
e económicos. Neste sentido a kixikila atribui ganhos à mulher dando-a a
liberdade para fazer as suas escolhas económicas e financeiras, desenvolver
as suas capacidades pessoais sem a interferência ou limitação de estereótipos
assim como motivar o seu comportamento e o poder de decisão ou de voz na
família e na sociedade. Assim, a kixikila é um meio de emporamento da mulher

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rural e de influência do seu comportamento, passando ela mesma a tomar as
suas decisões no universo económico e financeiro e tomar o lugar especial na
familia, na sua comunidade e na sociedade em geral.

O trabalho tem como foco de abordagem o estudo do papel dos grupos


informais de poupança e crédito rotativo, ROSCA ou simplesmente KIXIKILA,
no empoderamento da mulher rural e vai analisar até que ponto o
empoderamento influencia o comportamento da mulher e as suas decisões na
família, na comunidade e na sociedade em geral. É um estudo que se delimita
as comunidades rurais de Angola tendo como amostras as mulheres rurais de
zonas suburbanas de algumas cidades como Uige e Luanda. Formula-se como
principal objectivo estudar a influência dos ROSCA na motivação da mulher
rural, passando pela necessidade específica de entender o perfil desta
população especial, tendo como foco os factores direcção, intensidade e a
persistência do comportamento; Entender a influência do empoderamento da
mulher rural no seu poder decisório, no seu comportamento social e
económico; e avaliar o impacto do poder financeiro da mulher rural na
economia da sociedade em que está inserida.

A razão da escolha desta população rural é o facto de ser a franja comunitária


que mais adere a prática da kixikila no seu meio social e por apresentar-se
sempre empenhada na procura dos meios de sobrevivência.

É formulada como questão central que guia o estudo quê papel exerce a
kixikila no empoderamento da mulher rural e que influência exerce no seu
comportamento económico. Para alcançar os resultados preconizados o estudo
vai utilizar as procedimentos metodolólogicos da pesquisa bibliográfica e
documental baseada no estudo das fontes primárias e secundárias e de
publicações já realizadas em torno da matéria, medir e entender a influência do
factor poder económico na variável comportamento da mulher rural e
estabelecer as relações que permitam perceber o problema.

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1.1. OBJECTIVOS

O objectivo de um trabalho científico é aquilo que se pretende alcançar, ou


seja, a meta que se estabelece com o estudo a realizar. No presente trabalho é
são estabelecidos o Objectivo geral e os objectivos específicos.

1.1.1. Objectivo geral

Estudar o papel dos grupos informais de poupança e crédito rotativo, ROSCA


ou simplesmente KIXIKILA, no empoderamento da mulher rural e analisar a
sua influência no comportamento económico, nas suas decisões na família, a
comunidade e na sociedade em geral.

1.1.2. Objectivos específicos

 Estudar a influência dos ROSCA na motivação da mulher rural,


passando pela necessidade específica de entender o seu perfil, tendo
como foco os factores direcção, intensidade e a persistência do
comportamento;
 Entender a influência do empoderamento da mulher rural no seu poder
decisório e no comportamento económico;
 Avaliar o impacto do poder financeiro da mulher rural na economia da
sociedade em que está inserida.

1.2. JUSTIFICATIVA

Para Lionel Robbins, em seu tempo, a Economia encontrava-se em crise. Uma


crise desfraldada pelo afastamento da teoria do mundo em que vivemos.
Robbins entendia que se dava atenção excessiva para as características
económicas dos problemas de sua época e tentava solucioná-los basicamente
através dos dogmas de uma Economia pura, amplamente matemática. Assim
deixando de lado factores interdisciplinares igualmente importantes (RAMOS,
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1993). Aqui neste trabalho concordamos que esta crise da matéria económica
perdura, a Economia dos livros textos de nossa época perdeu a holística e
interdisciplinaridade de outrora. A Economia defendida pelas principais
correntes teóricas encontrou seu limite de explicação e previsão dos factos
económicos. Esta pesquisa é o fruto da necessidade de reencontrar a
interelação da Psicologia comportamental e os conceitos da origem
interdisciplinar da Economia, pois se percebe uma deterioração na
confiabilidade das leis económicas, juntamente com a moral dos economistas.
Ademais, com o avanço na Psicologia e nas Ciências Sociais, a matéria
económica pode contar com conceitos mais sofisticados destas áreas. Não se
pode continuar dependendo de conceitos fechados de uma Economia
dogmática, pois o comportamento humano é um conceito em constante
mutação, adaptando-se às variações do meio em que vive. Concepções de
comportamento estático como defendido pela ortodoxia económica são
insuficientes para entender a faceta dinámica da humanidade.

1.3. METODOLOGIA

Esta pesquisa qualitativa é do tipo exploratório, naturalmente situado em uma


aproximação para a compreensão do fenómeno observado. O início desta
pesquisa utilizará a triangulação metodológica bem como a triangulação de
dados. Quanto à triangulação metodológica, isso resultará no acoplamento de
dois métodos de procedimento, sendo o estudo de caso múltiplo e o método
descritivo. A multiplicidade do caso, porque trata-se de duas cidades angolanas
estudadas, nomeadamente as cidades de Luanda e do Uige. A Implantação
Metodológica de estudo de caso passará pela modalidade de comparação
constante. O uso desta modalidade de comparação justifica-se porque com a
comparação pretendemos identificar as semelhanças e diferenças da
caracterização da população inquerida nas duas localidades escolhidas. A
investigação documental, a observação passiva, a amostragem não aleatória
por quotas assim como a entrevista semi-directivas foram seleccionadas como
principais técnicas de recolha de dados. O cruzamento de dados tem a ver com

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a existência de duas fontes a explorar, sendo os grupos informais da kixikila de
uma cidade e os grupos informais da kixikila de outra cidade. Da mesma forma
a amostra composta por agentes do ramo possibilitará trabalhar distintamente
com os dois grupos de actores quer na cidade de Luanda quer no Uíge.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALMEIDA, Aldair W. F. F. de, Indicadores de empreendedorismo na


economia angolana, no contexto das economias emergentes, tendo como
base a informação do global entrepreneurship monitor, Bragança, 2017

2. ANDERSON, Siwan, BALAND, Jean-Marie, MOENE, Karl Ove:


Enforcement in informal saving groups, Journal of Development
Economics 90, 2009;

3. CARLOS, Joaquina Nadine Marques, kixikila – um contrato de


financiamento informal análise e enquadramento jurídico, Lisboa, 2014;

4. COSTA, Paulo César Pereira e: Kixikila e o Desenvolvimento Local em


Angola, Instituto Universitário de Lisboa, 2011;

5. CUNHA, Miguel Pina e et all; Manuela de comportamento organizacional


e gestão, 6ª edição – Revisada e actualizada, editora RH, Lda, Lisboa,
2007;
6. MANUAL DO EMPREENDEDOR, IAPMEI – StartUp, EUROPA, 2016.

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